Capítulo 3





A lenda não era verdade, não era. A lenda dizia que ele tinha que casar-se com a mullier, em cujo dedo o anel servisse, dentro de uma semana, ou então abdicaria ao trono. Ele não faria nem uma coisa, nem outra.


—Alguém sabe? Minha mãe?


—Não, mas podemos anunciar...


—Não diga a ninguém. — Harry precisava de tempo para pensar, tempo para elaborar um plano. Não permitiria que superstições e mitos influenciassem a decisão mais importante de sua vida, afastando-o cada vez mais do processo de moder­nização do país. — Onde está... o anel?


— No toalete das senhoras — Ronald disse. — Com a srta. Weasley.


Ela não. Por favor, ela não.


— Posso sugerir uma linha de ação, Alteza?

Harry apertou os dentes.


— Não. Você já fez bastante.


Ginevra ensaboou vigorosamente as mãos, mas não havia meio de o anel sair de seu dedo. Na verdade, não conseguira movê-lo nem um milímetro sequer. Como bem dissera, parecia grudado em sua pele. Abriu a torneira e deixou a água escorrer nas mãos, eliminando toda a espuma.


Olhando para o anel no dedo vermelho e inchado, conteve a vontade de gritar. Deveria ter dito "não" quando sua mãe insistira para que ela acompanhasse o pai à festa do príncipe de San Montico. Na hora, parecera-lhe tão simples fazer a mãe feliz. Mas agora...


Ginevra desapontaria seus pais. De novo. Por mais que se esforçasse, nunca seria capaz de contentá-los. Mas, contra sua vontade, dissera "sim". E só causara constrangimentos. A ela mesma, à sua família, ao seu país. Era só esperar até a mãe dela descobrir...


E se não conseguisse tirar o anel? Ginevra flexionou a mão. Não acreditava que lhe cortassem o dedo fora. Era uma artista. Precisava de todos os seus dedos. Suspirou fundo. Era hora de ensaboar as mãos novamente.


Talvez estivesse exagerando um pouco. Mas estava numa pequena ilha no Mediterrâneo, governada por um príncipe, e não nos Estados Unidos da América. Duvidava que San Montico obedecesse às leis dos Direitos Internacionais. Deveria ter suas próprias leis, olho por olho, dente por dente, mão pela mão. Passou sabonete em volta do anel.


Talvez seu pai pudesse fazer alguma coisa para compensar. Abrir uma fábrica, construir um hotel de luxo, pagar as dívidas do país. Talvez o príncipe entendesse e relevasse. Ou, quem sabe, sua vida terminava ali.


Ensaboou mais o dedo, porém, o anel continuava fixo.


Sentiu uma pontada no estômago, depois outra. Contorcen­do-se de dor, inclinou-se sobre a pia de mármore e gemeu.


— Ah, meu Deus! O que vou fazer?

Um homem pigarreou.


— Com licença.


No espelho, Ginevra viu a imagem do príncipe Harry, de braços cruzados e expressão impenetrável. Parecia mais um pirata do que um príncipe. Um pirata terrível. Seria demais esperar pela compreensão dele.


— Eu bati, mas ninguém respondeu.


Ela se voltou, sem saber o que dizer. A altura dele e os ombros largos tornavam o banheiro minúsculo.


— Alteza, eu...


Ronald entrou no banheiro, sorrindo.


— O anel serviu, Alteza.


As narinas do príncipe Harry se dilataram. Os lábios gros­sos praticamente tornaram-se uma linha, de tão apertados.


Furioso. Oh, Deus!, ele estava furioso. Ginevra não ima­ginava como sairia daquela enrascada.


— Deixe-me ver sua mão.


Ela estendeu-lhe a mão meio ensaboada.


— Talvez, se eu tentar com alguma loção...


— Quieta.


O tom áspero da voz dele calou-a. Ginevra estremeceu. O Príncipe Encantado desaparecera. As linhas clássicas do rosto, de repente, tornaram-se duras, cruéis, nada bonitas. O queixo parecia arrogante, nada confiável. Se ela pudesse atrasar o relógio e voltar ao baile...


O príncipe Harry tirou as luvas. Segurando-lhe a mão, puxou o anel até as lágrimas brilharem nos olhos de Ginevra. Ela mordeu a língua para não gritar.


— Serve, Alteza — Ronald afirmou com um sorriso triunfante.


— Não serve. — Desistindo, o príncipe lavou e enxugou as mãos. — Está emperrado. É pequeno demais.


— A lenda diz...


— Lave as mãos, srta. Weasley — ordenou ele, antes que Ronald falasse demais.


— Que lenda? — perguntou Ginevra.


— Lave as mãos — Harry repetiu. — Não vou mandar de novo.


— Sim, Alteza. — Ginevra murmurou, sentindo-se uma criança repreendida pela mãe, depois de uma traquinagem. Ela enxaguou as mãos, mas não conseguiu tirar todo o sabonete infiltrado na filigrana.


— Encontre o sr. Weasley — ordenou o príncipe, de novo, — Preciso falar com ele imediatamente.


Ronald parou na porta do banheiro.


— Alteza, talvez...


— Agora não, Ron. — Assim que a porta se fechou atrás do conselheiro, o príncipe Harry entregou a Ginevra as luvas brancas. — Coloque-as.


As luvas eram, no mínimo, dois números maiores.


— São grandes, Alteza.


— Não estamos num desfile de modas, srta. Weasley. Coloque-as e não discuta. Não quero que minha mãe a veja usando esse anel. Nem a imprensa.


A imprensa. O príncipe Harry tocara o ponto crítico. Ela vestiu as luvas.


Harry caminhou até a porta.


— Venha comigo.


Incerta e meio assustada, Ginevra hesitou.


— Vamos. Agora.


Ela ergueu o queixo, tentando reunir sua coragem para perguntar:


— Aonde, Alteza?


— Para um lugar reservado, onde não seremos perturbados.

       O palácio que parecera um castelo de sonhos, de repente, começava a transformar-se num pesadelo. Certamente, o pa­lácio teria um calabouço com uma câmara de tortura. Ela seguiu o príncipe Harry por um corredor estreito e pouco iluminado.


— Onde, exatamente, fica esse lugar, Alteza?


— No meu quarto.











N/A: olhar ai mais dois capítulos.


 


Patty Black Potter e Dani W. Potterobrigada pelos comentários.


 


Beijos e até!

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.