Capítulo 2
Os Weasley nunca se impressionam. Os Weasley nunca se impressionam.
Ecoando na mente, o mantra de sua família esnobe. Ginevra sempre tivera muita dificuldade para não impressionar-se, mas naquela noite fora impossível não ficar boquiaberta.
Sua família era obscenamente rica, e seus membros não tinham escrúpulos em ostentar a fortuna incalculável. Mas aquilo... Ela nunca vira tanta riqueza exposta com tanto bom gosto.
O príncipe Harry sorriu e Ginevra suspirou. Nenhum homem merecia ser tão bonito. Pecaminosamente sensual. Era como podia descrevê-lo. Tudo nele sugeria realeza. O nariz aristocrático, os maxilares proeminentes e as feições delineadas eram suavizados pelos lábios cheios, pelos cílios espessos e a covinha na face esquerda, acentuada quando ele sorria. O contraste era devastador.
Com os olhos da cor verdes, os cabelos negros como a noite, o príncipe era, sem dúvida, um dos homens mais bonitos que conhecera.
E o melhor partido, também.
Tanto pior que era um príncipe cujos passos eram seguidos pela imprensa, pela curiosidade pública e pelas fãs ardorosas. Mas aquela parecia mesmo uma noite especial.
A presença da imprensa era restrita, e, nem mesmo os paparazzi haviam conseguido furar o bloqueio dos seguranças.
Ginevra deu de ombros. Ela poderia ser a Cinderela do baile do príncipe, e não se importaria de tornar-se manchete dos tablóides, por uma noite.
Por uma noite, ela poderia esquecer-se da dura realidade da vida.
— Está se divertindo, srta. Weasley?
A voz veio de alguém às suas costas. Voltando-se, ela se deparou com o conselheiro do príncipe parado junto a uma mesa. Seu sorriso não revelava nada, mas ele deveria tê-la visto olhando para o príncipe como um cãozinho amestrado. Talvez ele pretendesse salvá-la daquela situação embaraçosa. Ela endireitou o corpo.
— Sim, estou.
— Sou Ronald, conselheiro do príncipe. Fomos apresentados ainda há pouco.
Lembrando-se do incidente com a armadura, ela riu.
— Sim, é verdade.
Aproximando-se, Ronald apontou para a direita.
— A senhorita já experimentou o anel?
— Não. — O anel descansava sob um pequeno pedestal forrado de veludo negro. Se ela não estivesse tão ocupada, perdendo-se em olhares para o príncipe, teria notado a jóia. — Que anel é este?
— É o anel de noivado real. — Ronald retirou o anel de dentro do estojo. Um brilho multicolorido refletia-se de todas as facetas da pedra central, um diamante imenso.
— Todas as noivas de Potter já o usaram.
Tão bonito quanto todas as jóias da coroa expostas na torre de Londres, o diamante brilhava sob as luzes do salão. O anel era um modelo medieval, com rubis, esmeraldas e safiras, incrustadas num aro de filigrana, que abrigava a pedra magnífica.
— Deslumbrante — murmurou ela.
— Experimente-o.
— Não acho uma boa ideia.
— Por favor — insistiu ele com firmeza. — Todas as mulheres presentes são requisitadas para experimentar o anel. O príncipe Harry ficará aborrecido se não o fizer.
Ginevra não queria aborrecer o príncipe, mas também não gostaria de provocar outro acidente. Depois da luva da armadura, ela conseguira manter-se longe do problemas. Não queria abusar da sorte. Recuou alguns passos.
— Por favor, srta. Weasley — Ronald insistiu. — Temos que ver se serve.
Ela sorriu.
— E se servir? Eu ganho algum prêmio ou coisa assim?
Ronald sorriu também.
— Ou coisa assim.
Voltando-se, Ginevra olhou para o príncipe. Seria interessante experimentar o anel. O anel dele. Uma chance de ouro. A chance de tornar-se realmente a Cinderela do baile. Não, não estaria se envolvendo em problemas, uma vez que o próprio conselheiro do príncipe estava insistindo para ela provar o anel. Nem mesmo seu pai a recriminaria por isso. Além disso, o anel parecia pequeno demais. Duvidava que entrasse em seu dedo! Após alguns momentos de hesitação, ela estendeu a mão esquerda.
— Ok.
Ronald levou o anel até o dedo dela. Estranho, mas Ginevra teve a sensação de calor emanando do aro de ouro. Devia ser de Ronald. Os homens eram muito quentes. Quando o anel tocou sua pele, foi como se uma descarga elétrica atingisse seu braço. Ela gemeu, mas Ronald continuou colocando o anel no seu dedo.
Quando ele soltou-lhe a mão, Ginevra arregalou os olhos. Não acreditava. O anel servira!
Ela olhava espantada. Lindo. Algum dia, teria seu próprio anel de noivado. Nada tão espetacular. Uma simples aliança de ouro já estaria muito bom. Tudo o que queria, era encontrar um homem que a amasse pelo que ela era, que quisesse as mesmas coisas que ela queria, crianças, cachorros e uma varanda com cadeira de balanço. Uma vida normal, uma família normal.
Não mais glamour. Não mais fotografias, nem manchetes, ou notas em colunas sociais. Não mais páginas e páginas de contratos pré-nupciais para proteger uma herança que ela nem queria.
Ronald franziu as sobrancelhas.
— A senhorita está bem?
— Sim — respondeu Ginevra, entorpecida e febril. Sol demais, champanhe demais, sensualidade demais em torno do príncipe Harry.
O relógio secular bateu as doze badaladas da meia-noite. Hora para acabar o encanto da Cinderela.
— Obrigada por permitir que o provasse. É maravilhoso.
Ela puxou, mas o anel não saiu de seu dedo.
Ronald inclinou-se.
— Algum problema, srta. Weasley?
Ginevra tornou a puxar o anel, mas os dedos deslizavam sobre o aro de ouro. O anel sequer girava ao redor do dedo anular.
— Parece grudado!
— Deixe-me tentar, senhorita. — Ronald puxou com força até Ginevra quase gritar de dor. — Realmente, parece que grudou mesmo!
Ela não entendia o motivo de Ronald estar sorrindo. Ele deveria estar preocupado.
— Tenho que tirar este anel. Se meu pai descobrir, ele me mata! O príncipe, então...
Um rápido olhar revelou que o príncipe estava absorto demais numa conversa e não reparara no que acontecia com o anel real. Ginevra queria livrar-se logo da jóia.
— Eu posso ir até o toalete e tentar removê-lo com água e sabonete?
Por algum estranho motivo, Ronald parecia feliz da vida. Os olhos azuis cintilavam, o sorriso alargara-se. Ele parecia mesmo exultante.
—Não creio que vá sair.
—Por favor — ela pediu. Como permitira que aquilo acontecesse? Já não se envolvera em apuros suficientes para uma única noite? — Eu gostaria de tentar.
Com o canto dos olhos, Harry viu Ronald aproximar-se. Já não era sem tempo! Não suportava mais ouvir comentários inócuos sobre as famílias reais européias.
—Podemos conversar um instante, Alteza? — Ronald perguntou.
—Claro. — Harry inclinou levemente a cabeça. — Com licença, senhoras. — Assim que se viu longe dos ouvidos das convidadas, ele suspirou. — Obrigado por ter vindo em meu socorro, Ron. Eu estava me sentindo como um coelho rodeado por um bando de lobos. Estava ansioso para que você esquecesse o bendito anel para salvar-me. — Harry olhou para o pedestal. Para o pedestal vazio. Nem guardas, nem anel. — Onde está o anel?
O sorriso radiante de Ronald respondeu à pergunta.
Não. Não poderia ter acontecido.
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