Capítulo 1



—  Sua Alteza sabe que ela quase pôs fogo na Casa Branca? — perguntou, bai­xinho, Ronald.


Sua Alteza Sereníssima, príncipe Harry James Potter de San Montico observou a jovem com rosto em formato de coração e radiantes olhos cor de chocolate. O corpete justo do vestido verde, realçava a cintura fina, e os cabelos encaracolados e vermelhos caindo pelos ombros, bri­lhavam sob a luz dos lustres de cristal.


Caminhando pelo Great Hall, ela seguia lentamente a fila de cumprimentos, fazendo reverências e lançando sorrisos des­lumbrantes aos dignitários e membros da realeza.


— Quem é ela?


— Ginevra Weasley, Alteza — Ronald respondeu em voz baixa.


Ronald sabia tudo sobre os convidados para o baile de ani­versário do príncipe. Entre outras tantas, essa era também sua função, como conselheiro real.


Harry queria saber mais a respeito de Ginevra Weasley. Tinha certeza de que nunca tinham se encontrado antes, apesar da aparência familiar. Reparando no cavalheiro de ca­belos grisalhos que a acompanhava, lembrou-se.


— Weasley? O bilionário patriarca da segunda família mais importante da América?


— Sim, Alteza.


Harry conhecia bem mulheres como Ginevra. Ele já es­tivera noivo de uma! Filha de milionários que ainda usava o cartão de crédito do papai! Rica, mimada, candidata em po­tencial ao título de princesa.


Ele cerrou as mãos enluvadas.


— Eu pedi à minha mãe para não convidar nenhuma ame­ricana. Você sabe o que elas pensam a respeito da... realeza.


— Creio que sua mãe não teve escolha, considerando as contribuições generosas que a Weasley International faz periodicamente às obras assistenciais do palácio. — Ronald hesitou por um instante, depois acrescentou: — Nem todas as mulheres americanas são como...


— Isso não tem nada a ver com ela... Absolutamente nada — Mas pelo modo como Harry contraiu os maxilares, Ronald percebeu que não era verdade.


Recuperando o controle, ele baixou o tom de voz.


— É o meu aniversário. Eu deveria ter sido consultado sobre a lista de convidados.


— A julgar pela qualidade das mulheres presentes, acredito que a princesa Lilian escolheu muito bem, mesmo sem a sua supervisão. — Ronald sorriu. — Se Sua Alteza permitir-me, Ginevra Weasley parece uma princesa. Ela é muito bonita e graciosa. Com sua educação e a influência da família...


— Ela não é nada mais do que uma herdeira americana — Harry o interrompeu.


— A lenda não faz restrições...


— A lenda, Ron? — A simples menção da palavra "lenda", Harry sentiu um gosto amargo na boca. — Você acredita mesmo que o anel real servirá no dedo de uma dessas mulheres, e que encontraremos o amor verdadeiro e a felicidade eterna? E que esse casamento trará prosperidade à nossa ilha?


— Acredito,Alteza.

       A lenda.


Harry não queria participar dela. Ele acreditava na lenda tanto quanto acreditava em contos de fadas e amor à primeira vista. Talvez em séculos anteriores, as lendas tinham certo sentido, mas nunca nos dias atuais.


Estava realizando a vontade do pai e levando San Montico para o presente. Porém, essa era uma tarefa monumentalmente lenta e difícil. Cada passo rumo ao progresso era uma batalha contra a maioria que resistia às mudanças.


Quanto mais Harry promovia o progresso, mais o povo reforçava as barreiras. Os habitantes da ilha apegavam-se aos mitos e às tradições, como os náufragos agarram-se a tudo o que significa uma chance de viver.


E eram com esses costumes antigos, como a Lenda do Anel, que o povo impedia que San Montico caminhasse para frente. Só com a desmistincação dessas superstições, o progresso teria lugar.


Uma vez que Harry provasse que a lenda não passava de um conto de fadas, San Montico poderia dar um salto gigante rumo à modernização. Seria o melhor para o país, o melhor para ele próprio.


—A lenda é pura fantasia, Ron, e eu vou provar isso. Assim que o relógio tocar meia-noite, tudo estará terminado.


—Talvez seja apenas o começo. A lenda já se cumpriu no passado, Alteza.


Harry não acreditava.


— Foi apenas a realização de uma profecia. A lenda tornou-se verdadeira porque os meus ancestrais, incluindo meus pais, decidiram torná-la verdadeira. Eu decidi desmistificá-la.


Lançou um olhar irritado para o conselheiro, que além de primo, era seu melhor amigo.


— Por que você não se casa e me deixa em paz?

Ronald suspirou.


— Esqueceu-se de que, segundo a tradição, só poderei ca­sar-me depois de Sua Alteza?


Outro costume estúpido. O estado civil de Harry não de­veria ter nada a ver com seu conselheiro. Se pelo menos Ronald não estivesse tão empenhado em seguir os velhos hábitos...


—Eu devia ter adivinhado que existia outro motivo para você insistir tanto para eu me casar!


—Meu único motivo é visar os interesses do nosso país. Sua Alteza precisa encontrar uma esposa.


—Estou tentando, Ron.


Harry estava fazendo o possível para destruir a lenda. Ele marcara encontro com todas as mulheres que conhecia. Até seis meses antes, acreditara ter encontrado a mulher ideai, mas decepcionara-se. Depois disso, embora disposto a encontrar outra, decidira não abrir o coração para mais ninguém.


—Não tenho medido esforços. Acho que isso conta, não?


—Mas nenhum dos seus esforços foi... bem-sucedido, Alteza. Ainda está solteiro, e San Montico precisa de um herdeiro.


Harry estava cansado de ouvir o que San Montico esperava dele. Ele sabia. Fora instruído desde o dia em que nascera. Ajeitou as luvas.


— Posso providenciar um herdeiro sem ser casado!

 Ronald rilhou os dentes.


— Alteza...


Harry não conteve um sorriso.


— Teremos que deixar esta discussão para mais tarde, Alteza — murmurou Ronald. — Aí vem o sr. Weasley e sua filha.


Harry concordou com gesto quase imperceptível de cabeça. O elegante e altivo Arthur Weasley inclinou-se diante dele.


— Alteza, permita-me apresentar minha filha Ginevra Weasley.

      Atraente, sim. Fibra de princesa, não. O rosto corado e os olhos arregalados revelavam que ela estava impressionada com Harry. Um pouco intimidada também. O que mais poderia esperar de uma americana? Quando decidisse se casar, esco­lheria uma mulher que o visse como homem, não como príncipe. Ele forçou um sorriso.


— É um prazer conhecer sua adorável filha.

      Ela fez uma reverência.


— Feliz aniversário, Magnífico... isto é, Alteza.

 Harry conteve-se para não fazer uma careta.


— Obrigado, srta. Weasley. — Ele segurou-lhe a mão trémula e beijou-a. A pele era macia e quente sob seus lábios. Ele sentiu o cheiro de óleo de amêndoa na pele bronzeada. Quem sabe, ela não teria tomado banho de sol de topless?  — Estou feliz que tenha vindo.


Quando Harry soltou-lhe a mão, ela deixou cair a bolsa. Ele se inclinou para pegá-la. Ginevra fez o mesmo, batendo a cabeça na testa dele. Assustada, a moça perdeu o equilíbrio. Num movimento rápido, o pai segurou-a, salvando-a de uma queda memorável.


— Desculpe-me. — Ela tocou no braço de Harry, quebrando o protocolo real. Ele se enrijeceu. — Sua Alteza está bem?


Quanto mais rápido se livrasse dela, melhor. Ignorando a dor de cabeça, Harry entregou-lhe a bolsa.


— Estou.


Antes que Ginevra dissesse mais alguma coisa, Arthur Weasley empurrou-a para fora da fila de cumprimentos.


— Alteza, minha esposa lamenta muito por não ter vindo à sua festa de aniversário, mas ela tinha um compromisso inadiável.


Harry inclinou levemente a cabeça e, com o canto dos olhos, viu Ginevra afastar-se em direção ao salão de baile, e observou o suave movimento do seu vestido.


Parecia um anjo rodeado de nuvens. Um anjo, ela não era. A batida na cabeça fora mais forte do que ele imaginara. Ele friccionou a testa, e ela se voltou para olhá-lo.


Seus olhares se encontraram, por um instante. Ao mesmo tempo, ela esticou o braço para apertar a mão de... Não.


Contendo o impulso de gritar, Harry cerrou os dentes. Ginevra apertou a mão, não de um homem, mas de uma armadura! Um das luvas blindadas caiu ao chão, deixando a valiosa peça sem mão.


Droga! Nem mesmo a mais sangrenta das batalhas travadas para preservar San Montico dos invasores espanhóis e fran­ceses, haviam conseguido destruir a armadura. Mas aquela mulher, a americana...


Os músculos de Harry se retesaram, a pressão sanguínea subiu. Mais uma dor para sua já dolorida cabeça. Ginevra olhava para a luva com expressão horrorizada. Depois, tentou escondê-la atrás da armadura.


Arthur Weasley resmungava um pedido de desculpas, que Harry aceitou com um sorriso protocolar.


Não era momento de mostrar emoções. Não, com o palácio repleto de convidados. Precisava manter-se calmo, impassível. Era apenas uma luva, uma luva blindada que pertencia à fa­mília dele havia séculos. Olhou para Ginevra.


— Precisa de ajuda, srta.Weasley?

Ela ergueu a luva e sorriu.


— Parece que encontrei uma mão extra.


Pelo menos, a americana tinha senso de humor. E não in­cendiara o palácio. Harry suspirou aliviado.


— Ninguém pode ter mãos demais.

 Os olhos dela brilharam.


— O que devo fazer com... bem, com isto?


— Ronald, por favor, ajude a srta. Weasley.


— Sim, Alteza. — Ronald aproximou-se dela e pegou a luva blindada. — Lamento pela inconveniência.


— E eu lamento tê-la quebrado — desculpou-se Ginevra.


— A senhorita não a quebrou — Ronald apressou-se em esclarecer. — É... antiga.


Como todas as demais peças insubstituíveis e valiosas do pa­lácio. Harry fora prevenido. A bela americana quase pusera fogo na Casa Branca. Ele não permitiria que o mesmo acontecesse ali. Teria o cuidado de manter Ginevra Weasley bem longe até mesmo de sua vela de aniversário! A noite já seria suficien­temente longa, sem nenhum inesperado espetáculo pirotécnico.















N/A: Nem um desses personagens me pertence, a fic é uma adaptação de um romance.


Beijos e até!




Sua Alteza Sereníssima (S.A.S.) é um tratamento que foi usado por membros de famílias nobres alemãs (até 1917) e por membros cadetes das dinastias da França, Itália e Rússia (durante as monarquias destes três países).


Hoje, o título é utilizado por membros das famílias principescas de Mônaco e Liechtenstein.

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