Segunda carta de Hermione



Meu amor,


Desta vez permiti-me a mim mesma entregar-me a esta loucura. Entregar-me a este amor que tu dizes ainda existir. Por isso te respondo a esta carta… pelo simples facto de haver tanto e no fundo nada a perder. Eu lembro-me de quando éramos jovens e sorrio. Oh Draco eu sorrio como já há muito tempo não conseguia fazer. Diariamente me pergunto, onde e quando comecei a gostar de alguém como tu, de onde surgiu esse amor que contrariou toda minha existência. Eu simplesmente deixei-me levar por esse teu olhar tão claro, por esse perfume tão doce…


Hoje eu e o Ron discutimos. É esse o problema de namorarmos com o nosso melhor amigo… é que eles nos conhecem demasiado bem. E o Ron é assim. Porque ele conhece-me em toda a parte daquilo que sou. Ele notou o meu olhar, o meu constrangimento junto dele. Porque custa tanto Draco, custa estar com ele pensando que és tu que ali estás… Custa e mói. E quando eu lhe falei em stress do casamento e ele percebeu que eu mentia… foi uma discussão feia. Eu ouvi-o gritar e no final… no final eu vi a cena mais comovente da minha vida e que está a fazer com que ao escrever esta carta me sinta a pessoa mais horrível do mundo. Porque ele agarrou-me com força abraçando e pediu-me… não Draco, ele não pediu, ele implorou que eu ficasse junto dele. E eu chorei com ele e disse que nunca o abandonaria mesmo não acreditando nisso. E é isto que a guerra faz as pessoas… porque por mais fortes que o trio maravilha possa ser somos apenas isso mesmo… o trio maravilha. Como um triângulo, se lhe tirares um lado ele deixa de existir ou passa apenas a existir sob a forma de uma mera figura sem equilíbrio. Hoje chove lá fora e o Ron saiu… ele ainda estava zangado por eu não lhe dizer nada. Estou preocupada… afinal ele é meu amigo… mas mesmo assim continuo a pensar em ti e na porta que me separa de ti. Uma porta que eu posso abrir á vontade para correr na tua direcção. Uma porta aberta mas que parece fechada a mil cadeados como uma prisão.


E hoje neste dia tudo em mim grita por ti, por entre essa chuva que parece chorar comigo e me acompanha neste desespero, mas mesmo assim deixo-a cair e levar as minhas lágrimas, deixo-a encher a minha alma e afogar a minha tristeza por não te poder ter. Choro por estar presa por vontade. Choro porque quero sair mas algo em mim diz-me que não o posso fazer…


Mas eu quero que saibas que a luz eterna dos seus olhos ainda brilha na minha mente, um brilho que temo não mais voltar a ver, porém faço dele a luz que ilumina meu caminho e me ensina a viver sem ti... Porque eu sinto tanto a tua falta. Porque fotografias e jornais não matam a saudade de te ver, de te ter… Porque “saudade é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já. Saudade é amar um passado que ainda não passou, é recusar um presente que nos magoa. Saudade é sentir que existe o que não existe mais...”


Porque cada micro segundo em que te odeio opõem-se a toda a eternidade em que te amo..


Amor, o que seria? A obsessão de te ter perto de mim? O desejo incontrolável do teu toque, a incrível e maldosa solidão que sinto sem ti? Tu fizeste da minha existência uma coisa patética, tornaste-me viciada, viciada nessa droga ridícula e invisível que és tu.  Eu confesso que sou fraca, que estou a desistir. Eu fui Eva e tu a Serpente, a tentação que acabou com o meu mundo perfeito... Eu ainda me lembro de cada beijo e abraço as escondidas, de cada palavra doce e cada mágoa. E não há mais sorriso nos meus lábios, nem ao menos me lembro o que seria isso, não há mais apetite no meu estômago. Eu sou apenas um pedaço de matéria que ocupa lugar e procura forças para terminar de expressar o quão desprezível se tornou o fardo de viver. Gostaria de saber o que aconteceu com a minha sanidade, com a minha muralha existente em volta do coração?


E porque raio é que as lágrimas continuam a cair? Porque são lágrimas pelo que poderia ter sido, e não foi. Pelo que teria acontecido e não aconteceu. Mas eu temo que hoje seja tarde de mais. Porque apesar de eu te amar, o nome Granger traz algo colado a si. A racionalidade. Aquela racionalidade que eu não consigo suportar mas que ponho sempre em prática. E olhando para nós sou obrigada a admitir que nós não passamos de mais do que um amor condicional. Eu sempre odiei condições e agora odeio-me por viver condicionalmente. Porque em cada dia eu penso como seria se eu não fosse tão racional? Teria cometido mais erros? Teria sido a melhor amiga do Harry? Teria demorado tanto tempo a admitir que tu não me eras indiferente? Teria prestes a casar com o Ron? Teria?


Nós amamo-nos mas infelizmente amor não chega. Porque seria preciso empregar muitas condições, sonhar muito. Porque eu preciso de estabilidade Draco. Eu preciso de alguém que me oiça pacientemente, depois de um dia cansativo de trabalho, a falar sobre como é indignante as condições dos elfos com que me deparo no trabalho. Preciso de alguém que me saiba ajudar a contar aos meus filhos, quando eles me perguntarem, tudo o que se passou na guerra. O que nós lhe contaríamos Draco? Eu diria que fui a melhor amiga de Harry Potter, aquela que sacrificou a vida todos os anos desde o 1º ao 7º em prol do lado bom. E tu? Que lhes diríamos? Que fostes tu que trouxeste os Devoradores da Morte para Hogwarts? Que acabaste mesmo que não directamente com a vida de Albus Dumbledore? Eu preciso de alguém que seja aceite pelos meus amigos. Alguém com quem eu possa organizar grandes jantares com toda a família e amigos. Como vês Draco… apenas amor não chega!


Mas se não chega porque é que aquela porta me chama tanto? E escrevo também por isso… porque ao escrever olho menos para ela. Mas a verdade é que ao escrever sinto ainda mais vontade de sair…  E eu quero-te. Quero-te de todas as formas que alguém pode querer outra pessoa. Eu quero viver só de amor… mas sei que não posso. Eu peço-te que esperes apenas mais um pouco. Porque isto não é um não. É apenas um… “preciso de mais tempo”. E eu sei que o tempo se escassa para mim. Sei porque olho para o vestido de noiva que repousa agora aqui junto a mim e as lágrimas me caem. E talvez este adiamento de uma resposta seja apenas mais um acto de cobardia mas é algo que eu preciso. Porque eu nunca precisei tanto de pensar. Sinto-me livre ao pensar em ficar contigo. Ir contra tudo e contra todos. Contra todos os limites que todos me impuseram e até contra aqueles que eu impus a mim própria.


Assim eu me despeço com a esperança que esperes apenas mais um pouco, assim como eu esperei durante dois dolorosos anos.


Beijos da tua eterna apaixonada,


Hermione Granger

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