Aclarações:

Itálico– 'esclarecimentos' de Harry. Pensamentos dele. POV's Harry. Ou ênfase em alguma palavra, ou frase.

Negrito – 'esclarecimentos' de Hermione. Pensamentos dela. POV's Hermione.

Disclaimer: Harry Potter não me pertence, blablabla. Tudo é da J. K. Rowling e da Warner, whatever.

Capítulo 16

Parvati animadamente cumprimentou Harry antes de abraçar Hermione dolorosamente. –Yeahhh.

Harry forçou a si mesmo a não rir quando Hermione o fitou em confusão. "Eu te avisei" comentou casualmente.

-O que? Tão cedo e essa troca obscena de olhares já começou? – Parvati perguntou.

Hermione suspirou, preferindo ignorá-la. – Eu pensei que estivesse chateada, comigo? – acrescentou quando a outra jovem a encarou franzindo o cenho em descrença.

-Chateada? Oh! Ontem sobre amor e verdades absolutas – Parvati deu de ombros. – Me dei conta de que não é meu direito pressioná-la. Só Harry deveria fazê-lo. Certo, Harry? – Parvati piscou encantadoramente e sua voz se tornou mais doce ao dizer aquilo. – Você sabe, contra a parede, contra armários de vassouras, contra o armário dos troféus...

Hermione voltou sua cabeça imediatamente para a amiga, fitando-a em horror. Depois, encarou Harry que parecia ter perdido o dom da fala enquanto fixava a atenção firmemente em seu mingau. Parvati riu feliz.

-Oh Merlim, nunca vou cansar de fazer isso! – murmurou para si mesma ao passo que fazia seu prato. – Mas falando sério, amor, está tudo bem. Eu quis dizer isso. Não sou eu quem deve colocar coisas em sua cabeça. Mesmo que esteja certa.

-Eu não acredito que-

Antes que elas voltassem a brigar, decidi agir; apertando um beijo insistente na bochecha de Hermione e cingindo sua cintura em aviso. Após o beijo, ela se voltou imediatamente pra mim com um ar preocupado. Sei exatamente o que está pensando e procuro apaziguá-la.

Ergui a sobrancelha com ironia. Por favor, não é como se eu fosse enlouquecer em pleno salão principal e colocá-la em meu colo enquanto tento encontrar suas amídalas com minha língua. Não é como se já não me sentisse suficientemente culpado pela noite passada. Pensei que tínhamos um acordo tácito que diz respeito a comentários – ou a falta deles.

Tudo não deveria estar morto e enterrado ao raiar do dia? Seus olhos alarmados quebram a regra do esquecimento. Não posso lidar com isso. Eu não saberia como proceder nesse tipo de situação. Provavelmente estragaria tudo na primeira oportunidade – como em tantas outras ocasiões. Eu diria o que não devo e então nossa amizade iria para o ralo.

Pensei que, ignorando tudo, as coisas podiam ser mais fáceis. Mas parece que há muita sujeita indo para baixo do tapete... E agora é só questão de tempo até Hermione decidir agir, posso ver nos olhos dela a insatisfação.

Não estou preparado. Não sei se um dia posso estar.

Cuidadosamente Hermione encarou Parvati, esta sorria deliciada pela demonstração de afeto de Harry. Suspirando, Hermione deixou seu argumento de lado. Não vale a pena. O rapaz, por sua vez, mais que rapidamente retirou sua mão da amiga.

-x- Miosótis -x-

A primeira vez que fiquei realmente, realmente aterrorizada com essa tradição foi quando percebi o que havia feito à nossa amizade. Como se eu tivesse tirado uma peça fundamental da base de um castelo de cartas e tudo ruísse diante de meus olhos.

E então houve toda essa mudança brusca em minha personalidade... como se eu fosse uma versão tensa de Cho Chang, pelo menos – e Deus, sim, isto é muito ofensivo.

Mas quando percebi o limite da tradição, quando vi o quadro completo... não era terror. Fui tomada por uma resignação tão plena que sentia meu corpo letárgico. Penso que finalmente o cansaço se apossou do meu corpo.

-x- Miosótis -x-

Eu vi os olhos de Hermione em branco quando ela finalmente notou o casal a nossa frente, há duas cadeiras de nós, melhor dito. Quis tirá-la do transe e não soube como, ela os olhava fixamente, como se não pudesse desviar o olhar.

Sinto-me tão inábil. E cheio de culpa; sentimento mais que conhecido.

Porque, se eu soubesse apenas um pouco mais sobre o mundo que escolhi, nada disso estaria acontecendo. Hermione e Ron ainda seriam um casal e ele não a estaria machucando de propósito.

Por que ele não consegue ver o que eu vejo? Parece que estamos sempre batendo da mesma tecla. De tempos em tempos, tenho de provar que não estamos numa disputa, que eu não quero lhe roubar qualquer mérito ou bem, ou, principalmente: sua namorada.

Não entendo como, ainda que me veja como seu melhor amigo, se sinta tão ameaçado. Como pode não confiar em mim? O que ele tanto inveja? Meus pais mortos? Minha vida miserável ao lado de tios que sempre deixaram claro que estavam me fazendo um imenso favor? Ter sido marcado como um gado por Voldermort ainda bebê?

Meu dinheiro, minha fama, meus feitos... tudo que tenho ou sou é fruto de sacrifícios feitos por outros ou por golpes de sorte e pura teimosia. Não entendo como pode desejar minha vida.

De toda forma, lá está ele, agindo como um soberano. Entrelaçado aos quadris de Lilá Brown, sorrindo marotamente, lhe arrancando beijos vez ou outra. No Salão principal. Isso não é bom.

-Sério, amo a Lil, do fundo do meu coração eu o faço – Parvati murmurou. – Mas eu juro, não entendo como ela pode gostar assim dele, depois de tudo que a fez passar. Como não pode ver que a está usando? "Seu" garoto é uma criança, Hermione. Sinceramente sinto pena de você por gostar tanto dele.

Hermione piscou e se voltou para a morena. – Desculpe?

Parvati mordeu o lábio inferior. – Ah Merlin, sinto muito, você sabe que eu não posso conter minha língua.

Hermione deixou a cabeça pender para o lado. – Qual é o problema?

-Sério? Vamos fingir que nada está acontecendo? Nem você pode ter um nível tão incrível de negação, Mione – Parvati estalou os dedos próximos ao rosto da outra moça. – Acorda. Ronald e Lilá. No maior amor. Sem nenhuma noção... Pra não dizer 'patético' – encolheu os ombros e ergueu a mão com sarcasmo, esperando uma reação.

-Eu... não sei. Preciso – a morena se moveu e Parvati a segurou.

-Você não pode sair agora! Todos vão pensar que está afetada por essa ceninha! – e então virou os olhos. – Deixe-me ser mais clara: não importa se seu coração está todo quebrado, não dê o gosto a ele!

-Não me importo. Só preciso de um tempo. Por favor, solte-me.

A seriedade de Hermione não a comoveu, mas seus olhos tinham... Parvati sequer entendeu o que era aquela emoção, então lentamente a libertou. Hermione se voltou para Harry, quem se levantava para acompanhá-la.

-Por favor, não.

Harry se sentou com uma expressão machucada.

-x- Miosótis -x-

Eu não podia ser imparcial em qualquer coisa que diz respeito a Harry, mas de repente posso ver com uma clareza cristalina tudo sobre Ron. Eu sabia que ele ainda estava irritado – para dizer no mínimo – com aquela pequena frase "eu só tenho olhos para você"... Quando quase estávamos voltando às boas (ao que parecia). E o quanto ele simplesmente não pensava quando estava magoado. Tinha certeza de que voltar para Lilá era uma tentativa desesperada de chamar a minha atenção e me ferir o quanto pudesse.

E nada disso me fazia diferença.

Eu parecia um furação enquanto corria para meu quarto. Podia ver alguns rostos atordoados com minha atitude em meu caminho e eu realmente, ao momento, só me importava com uma única coisa.

Fechando a porta atrás de mim, andei ao encontro do meu baú de livros e retirei de lá aquele das tradições. Eu o folheei cuidadosamente até atingir a página que procurava.

A mão sustentando a cabeça enquanto meus olhos perpassavam linha após linha, procurando justificativas que me permitissem acreditar que não estou ficando louca.

(Continua)

N/A: Finalmente postado! Obrigada por todos os comentários!