Hogwarts e Hogsmead
Capítulo 5 – Hogwarts e Hogsmead
* “INTERESSANTE!” exclamou Snape em seus pensamentos. Já haviam se passado horas desde o incidente do sonho e Snape não conseguira dormir. Estava pensando em tudo que ocorreu, nos poderes visionários da mulher ao seu lado, se eles seriam verdadeiros ou só mais uma farsa como Sibila, (mas achava difícil devido aos machucados da moça), na petulância com que ela o tratava, no mistério de seus olhos lilases, em sua pele... “Chega!!!” Ele se levantou da cama, reduziu seu tamanho com um gesto de varinha, olhou pela janela, não havia ninguém lá fora.
O dia estava nublado, “Melhor assim” pensou Snape. Desceu as escadas já completamente vestido. Não fez questão de entrar na cozinha e falar com mais ninguém, cruzou com Shacklebolt no corredor e saiu batendo a porta sem cumprimentá-lo, ele o fizera passar a noite em claro por motivos banais.
Aparatou.
*O sono ainda dominava seu corpo quando Victoria se espreguiçou estendendo os braços pela cama, abriu levemente os olhos e não viu Severus, “Ótimo” pensou ela, e logo em seguida também pensou “Mal educado... ops, mal educada, eu nem agradeci por ele ter cuidado de mim” mas com sorte ou azar provavelmente o veria ou hoje ou no dia seguinte.
Desceu as escadas com Scessi a seguindo nos calcanhares e entrou na cozinha, todos estavam de pé, hoje era o dia da audiência de Potter no Ministério, desejou não ter descido, sentia pena pelo menino. Tomou café, comeu algumas torradas e já ia saindo do aposento quando virou-se para o garoto:
-Sorte Sr. Potter – não era dada a afetos, mas mesmo assim recebeu o sorriso do menino e devolveu com outro. Já bastava, virou-se e saiu do aposento, entrou no seu quarto e foi direto para o banheiro. Encheu a banheira e jogou uns sais na água, tudo que precisava era relaxar.
Faltavam apenas duas semanas para as férias terminarem quando Dumbledore a chamou para ir para Hogwarts. Victoria sentia-se aliviada. Não havia mais se encontrado com Severus e Potter havia sido deliberado inocente em seu julgamento. Tudo parecia correr extremamente bem.
Chegando a Hogwarts a moça foi recebida com a notícia de que não mais seria a professora de DCAT, pois o ministério havia “indicado” alguém para o cargo e a “indicação” aparentemente não poderia ser contestada. Mas ainda sim seria guardiã da escola, sentiu-se completamente frustrada quando descobriu que isso significava patrulhar corredores em turnos alternados com Argus Filch o zelador da escola e monitorar alguns alunos em especial. Porem, de certa forma, não ter que conviver com adolescentes era de algum alívio para ela, estava acostumada a ter apenas a companhia constante da cobra rara que carregava consigo.
Foi levada aos seus aposentos pela professora Minerva, ficavam na Torre de Astronomia da escola, quase que em seu patamar mais alto. Os aposentos eram claros e arejados, “Claros demais” pensou Victoria. Assim que foi deixada sozinha fez sua própria decoração em seu quarto. As cortinas creme passaram a ser negras, abriu sua mala, colocou os livros na estante, arrumando-os pela ordem e assunto. Mas todos se tratavam basicamente da mesma coisa “Feitiços de defesa”, “Defesa contra as Artes das Trevas”, “Contra ataque”, “A prática dos feitiços mudos”, “Oclumência”, “Legilimencia”, etc. Alguns livros trouxas que eram tidos como seus livros prediletos de comédia, pois muitos tratavam do mundo sobrenatural. Colocou suas roupas no grande armário que ficava no canto do cômodo, coisas importantes, valiosas e sigilosas dentro de um baú protegido pelos melhores feitiços que pudera pensar, mudou a cor também da roupa de cama, roxo, bem escuro.
-O quarto combina com a cor de seus olhos – a voz fria lhe invadiu os ouvidos causando um estranho arrepio por sua pele. Severus estava parado a soleira da porta ainda escancarada. – Já estava assim?
-Obrigada, sim, já estava arrumado quando cheguei – mentiu ela com descaso se virando para olha-lo – Que faz aqui?
-Ahm, - meditou ele – Dumbledore pediu que eu me fizesse útil – disse a ultima palavra com ardil. Victoria sabia que ele estava contrariado em ter que colocar-se a disposição.
-Claro – estava rindo-se por dentro
-Precisa de algo? Qualquer dúvida sobre o castelo, Hogsmead, alunos... – disse ele parecendo recitar algo que Dumbledore havia lhe dito, impaciente.
-O que seria Hogsmead?
-Um povoado bruxo perto de Hogwarts, algumas lojas – revirava seus olhos com impaciência, desejava se afastar dali o mais rápido possível, mas nem ao menos conseguia explicar o por que a si mesmo.
-Ótimo, onde fica?
-Creio que Severus não fará objeção em lhe acompanhar no próximo final de semana até lá – Dumbledore chegara à porta com um sorriso zombeteiro nos lábios.
-Não farei... – repetiu Snape incrédulo de suas palavras – se me dão licença – e saiu andando, esvoaçando a capa preta a cada passo.
Victoria se jogou na cama, contendo os risos.
-Por que faz isso comigo Dumbledore? – perguntou assim que conseguira se recompor diante dos olhinhos curiosos do diretor.
-Ora, minha cara, o castigo não é para você – disse dando uma piscadinha e se retirando. Victoria retirou o restinho de sorriso do rosto imediatamente. Seria tão letal a Snape um pouco de contato com alguém? Ou ele realmente a odiava tanto quanto parecia odiar?
-Humf – bufou a guardiã fechando a porta brutalmente – Com certeza eu sou mais agradável que ele. Homenzinho insuportável – resmungava sozinha enquanto Scessi a observava, se pudesse revirar os olhos, com certeza a cobra o faria.
A semana passou lentamente, Lews passava muito tempo na biblioteca, pesquisando sobre coisas do mundo bruxo e tentando aprender mais do que já sabia. Afinal no castelo enorme aquele era um dos melhores passatempos que poderia encontrar, uma boa leitura.
O Sábado chegou, Snape e Victoria se levantaram ambos de mau humor, mas ela ainda tinha a perspectiva de fazer compras e seu dia melhorar. Não levaria a cobra dessa vez, Scessi parecia cansada e com fome, de modo que a moça a soltou no jardim, combinando de pegá-la a noite quando a caçada terminasse. Ás onze horas como Dumbledore havia lhe dito, se dirigiu ao portão da escola, onde um Snape carrancudo a aguardava. Resolvendo provocar, Lews superou o mau humor e colocou um sorriso nos lábios.
-Dia Sr. Snape – disse quando estava próxima a ele.
-Dia – respondeu ele secamente, impaciente, ela havia se atrasado três minutos. – Vamos precisar aparatar para Hogsmead. – provocou o bruxo, esperando a reação.
-Tenho certeza que você ficara muito honrado em nos aparatar para lá– disse a moça imitando o tom de Dumbledore.
-O que você é? Aborta? Trouxa? – disse Snape secamente sem esperar resposta.
-Ora, não seja ridículo!
Sem que se passasse um segundo para que ela pudesse esperar uma reação, Snape segurava em seus braços, os corpos colados. A sensação de ser puxada pelo umbigo e eles estavam parados ao longo de uma rua com casinhas muito bonitinhas e lojas com vitrines arrumadas impecavelmente.
No ímpeto de se livrar dos braços forte de Snape, Victoria quase haviam caído no chão da rua, ao que Snape revirava os olhos para ela a segurando antes que chegasse ao chão.
-Obrigada – disse se desvencilhando do bruxo. Apesar de fazer frio a sua volta, Victoria e Snape sentiam as faces pegando fogo assim como os corpos. Mas ainda sim esforçaram-se para projetar pensamentos de escárnio um sobre o outro.
-Vamos - disse Snape se adiantando alguns passos – Está frio aqui.
Entraram no Três Vassouras e ambos pediram um Uísque de Fogo a Rosmerta. Estavam sentados de frente um para o outro e novamente se encaravam medindo quem abaixaria o olhar primeiro. Nada aconteceu durante alguns minutos e então Rosmerta quebrou o silêncio trazendo as bebidas.
-Professor Snape – chamou Lews apreensiva lembrando-se que ainda lhe devia algo – Eu... não tive a oportunidade de lhe agradecer oportunamente pelo... por...
-De nada – responde Snape poupando-a de terminar a frase, e mesmo assim a presunção do bruxo a incomodou. – Ainda monitorando o Lord das Trevas? – perguntou Snape que parecia estranhamente concentrado em analisar a cor de seu Uísque.
-Alguns sonhos – respondeu ela, não queria falar daquele assunto – Voldemort dando ordens na maioria das vezes. – disse o nome com um descaso que provocou arrepios em Snape.
-Desnecessário – respondeu ele após alguns segundos.
-O que professor?
-Dumbledore – ele mediu as palavras para não dizer que ele a estava usando – usando seu dom para espionagem – sentia-se traído, ia a todas as chamadas de Voldemort, contava tudo que sabia e ainda sim precisavam de alguém de olho nele.
-Nem sempre você saberá de tudo – disse ela que sabia exatamente o que ele estava pensando, não precisava ler sua mente para ver que a presunção dele se abalava ao pensar no trabalho dela, “Isso” pensou ela “porque ele ainda não sabe de nada”.
-Bobagem – disse ele, olhando pela vitrine. Algo passava por sua mente, e se o Lord das Trevas... engoliu em seco – Ele pode te machucar.
-Preocupado comigo professor? – disse ela fazendo graça e ao mesmo tempo surpresa com as palavras dele.
-Morrendo – disse Snape sarcástico girando os olhos.
Fizeram o passeio pelo vilarejo, ela comprou algumas coisas e ele a acompanhando impaciente, pensando quanto tempo mais o martírio duraria. Saiam da última loja, a tarde já estava acabando, o sol ia descendo no horizonte. Victoria de certa forma se divertia com a impaciência de Snape. Ao caminharem pela rua principal, chegaram ao ponto do qual resolveram aparatar.
Snape veio em sua direção, mas ela ao perceber falou:
-Eu sei onde devo desaparatar prof... – suas palavras não terminaram, Snape estava com o corpo junto ao seu quando a sensação veio.
*Ele viu os olhos da moça se fecharem a poucos centímetros de seu rosto. Sabia o que ia acontecer, podia prever. Uma palavra sussurrada saiu dos lábios de Victoria, ele a segurou em seus braços.
-Voldemort – ela havia dito poucos milésimos antes de desmaiar.
Ele a segurou firme, desaparatando no portão de Hogwarts. A tinha em seu colo, esquecendo-se do uso da magia. Não, o corpo parecia não lhe fazer peso algum. Correu o mais rápido que pode encurtando a distancia até o castelo. Seu coração batia forte e nem ao menos sabia por que. O cheiro que sentia inebriava sua mente. O calor que o corpo dela provocava, como uma queimadura onde encostava em seu corpo. “Não” pensou Snape consigo mesmo “Pare imediatamente” disse a si mesmo.
Chegara no castelo, o mais rápido era fazer o caminha até o escritório de Dumbledore. Começou a andar para o lado certo quando se lembrou da pequena viajem que o diretor fizera. “Droga, droga, droga”... Lembrou se do quarto da moça, “Longe demais”... “Masmorras”. Corria pelos corredores com o corpo inerte, mole, desfalecido de Victoria em seu colo dando graças a Merlin por ainda serem férias e não haverem alunos por perto.
Chegou aos seus aposentos nas masmorras. Deitou-a sobre a cama.
-O que? – perguntou em voz alta a si mesmo, não tinha idéia do que fazer – Acorde – falou baixo para o corpo, sentando-se ao seu lado na cama. – Srta. Lews, acorde. – disse ainda desnorteado. A fraqueza que pela segunda vez demonstrava a ele não combinava com sua expressão decidida e forte. Não gostava de vê-la frágil, como uma boneca de porcelana, branca, gelada, deitada sob sua cama imóvel.
* Sentiu Snape se aproximando, mas foi dominada por um torpor e uma imagem lhe surgiu na mente, sua voz fraca conseguiu projetar-se segundos antes de mergulhar na cena.
-Quem está ai? – a voz era a mais ameaçadora que ela já havia ouvido, mas dessa vez como ela pode perceber não estava mais em um corpo de outra pessoas, andava pela sala livremente.
Um ambiente escuro e assustador, a figura sentada em uma cadeira no centro da sala olhava para o nada.
-Sei que você está aqui em algum lugar – a voz cortou o quarto, seu estomago se embrulhou, queria sair dali, mas não conseguia mover-se – Eu vou descobrir, e quando eu descobrir... – uma risada fria e tenebrosa invadiu todo o aposento.
Alguns minutos se passaram, mas pareciam anos, até que uma voz soando longe a fez retornar.
Um som forte da respiração de Victoria tomou o quarto quando ela emergiu de seus sonhos. O mesmo som que uma pessoa que se afoga faz quando lhe retorna o oxigênio em seus pulmões. Respirava descompassada, levantara o tronco rápido demais e estava sentada na cama, a respiração de Snape em sua nuca, o perfume misterioso do professor ardia em suas narinas.
-Onde estou? – perguntou com a voz entrecortada, virando-se para encará-lo nos olhos, mas se arrependeu, os olhos negros a esquadrinhavam, sentia-se envergonhada, sabia o que tinha acontecido, e reparando pela decoração só podia imaginar estar nos aposentos dele.
-Meus aposentos. Não se levante – disse com rispidez ao vê-la tentando inutilmente não fraquejar ao levantar da cama, caindo sentada de novo ao seu lado. Agora mais próxima. Vira o rosto da mulher enrubescer. – O que exatamente foi isso?
-Monitoramento – sentia seu rosto arder – Mas foi estranho dessa vez, parecia que... que ele sabia que eu estava lá, em algum lugar. – tentava controlar o medo em sua voz.
-Já aconteceu acordada mais alguma vez?
-Raramente – seus olhos contemplavam o nada.
-Como acha que ele sabia que estava lá?
-Dessa vez não tomei parte na mente de ninguém, era eu mesma e ele não podia me ver, mas me sentiu, foi como se ele tivesse me chamado. Falava comigo sem me ver, disse que vai descobrir quem eu sou e quando ele descobrir... – engoliu em seco.
-Você esta protegida em Hogwarts – disse ele desconfortável ao ver as lágrimas que antes lutavam para não brotar nos olhos de Lews e que agora rolavam livremente.
E com o mais inesperado gesto de desespero Victoria envolveu seus braços na cintura de Snape, enterrou sua cabeça em seu pescoço e chorou livremente.
Snape que não esperava por esse tipo de demonstração, não tinha a menor idéia do que fazer com suas mãos. “Afaste-a” disse uma voz em sua cabeça. Mas seu corpo não sentia a menor vontade de afastá-la de si. Colocou uma de suas mãos nas costas da moça, levemente e outra passou em seus longos cabelos castanhos, novamente sentia o perfume dela invadir-lhe, fechou os olhos para senti-lo melhor.
Ao sentir as mãos de Snape desengonçadamente tentado ser gentis, Victoria se lembrou de onde estava em com quem estava, levantou um pouco a cabeça, sem afastar os corpos, sentados na cama e abraçados desconexamente. E mais uma vez os olhos dos dois se encontraram, contrastando o lilás e o preto. Apenas centímetros separavam os rostos. Snape com a mão enterrada em seus cabelos já não mais lutava contra seus impulsos, puxou-a para si, os lábios se tocaram levemente, e não havendo recusa por parte da moça, sentiu os lábios dela nos seus como veludos, beijou-a intensamente, a língua ávida pelo contato com a dela, e era correspondido, a sincronia do beijo, as mãos dela agora entravam por baixo de seus cabelos, sentiu um arrepio extremamente gostoso quando sentiu as unhas se arrastando levemente por sua nuca, os dedos entrando em seus cabelos, ela o puxava com avidez para sua boca.
Não sabiam quantos minutos já haviam se passado quando o beijo cessou. Se olhavam novamente, tentado respirar mais compassadamente. A ficha caiu novamente para Victoria, que com dificuldade de controlar suas pernas bambas, não sabia se pelo beijo ou pelo sonho, “PELO SONHO” sua mente lhe gritava. Saiu pela porta, sem que Snape, ainda olhando para o mesmo lugar onde há segundos estava sua boca, sequer a olhasse partir.
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