My Own Prision - Cicatrizes
*** Capítulo 27 – My Own Prision – Ato 2: Cicatrizes
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IMPORTANTE: Leitores, assim como no capítulo anterior, os acontecimentos aqui narrados se dividem em passado e presente, sendo que o tempo passado é de acordo com a óptica das lembranças de alguns personagens específicos. Enfim... Boa leitura a todos!(^^)
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“A Corte está em sessão, um veredicto será dado
Nenhuma apelação no Tribunal hoje
Apenas o meu próprio pecado
As Paredes são frias e pálidas
A Gaiola feita de ferro
Gritos enchem a sala
Sozinho eu caio e me ajoelho
Silencia agora o som...”
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Memórias:
A movimentação exagerada do lugar estava deixando-o mais agitado do que o normal. Havia uma grande concentração de aurores ao seu redor, e para alguém como ele, isso era algo inédito. Nunca em sua vida pensou que poderia ser interrogado por aurores do ministério.
Uma gota de suor escorreu por sua face, fazendo-o engolir sua saliva de forma nervosa. Ele não era culpado, mas se parecesse culpado, eles o pegariam, sabia como isso funcionava, tinha que se acalmar, ou tudo estaria perdido...
- Senhor Mendes! – Gritou o auror encarregado de interrogá-lo. A impaciência do homem era palpável, uma vez que Erick perdia o foco a cada pergunta que lhe era feita. – Se concentre no que eu lhe perguntei!
- Ah! É! Então. A tatuagem... – O homem não sabia por onde começar.
- Nós recebemos uma queixa formal do professor Malfoy, dizendo que o senhor possuía uma tatuagem com a mesma inscrição que havia no livro do aluno Peter Dragon. Com o senhor pode explicar isso? – Repetiu um outro auror, mais jovem, pela terceira vez.
- Ai... É que... Bom... – “Não pareça culpado.” Era o mantra que Erick repetia mentalmente, tentando reorganizar seus pensamentos, para responder de forma adequada. – Bom... Eu não sei ao certo, sobre runa no livro do aluno...
- Nós não dissemos que era uma runa. – Pontuou o auror encarando-o. Um brilho de satisfação surgindo em sua face.
Erick engoliu a saliva nervoso.
- É... É que a minha tatuagem... Bem ela é uma runa... Eu achei que...
- Já chega. Tragam a poção. – Pontuou o auror irritado.
Ele sabia que aquilo iria acontecer mais cedo ou mais tarde, os aurores não demorariam a usar a poção da verdade. Pensar nisso o fez suar. Não podia se recusar a tomar a poção. Porém não conseguia simplesmente dizer algo tão embaraçoso na frente de tantos homens.
- Beba. – O auror lhe estendeu o copo, onde havia uma espécie de suco e certamente a poção.
- Isso é mesmo necessário? – Choramingou com um fio de esperança. Mas a carranca que o auror lhe fez, foi mais do que suficiente como resposta. Sem titubear, virou completamente o copo. Os aurores esperaram por alguns segundos, e refizeram a pergunta.
- Então. Senhor Mendes, nos fale sobre a sua tatuagem. Queremos saber o porquê do senhor a ter.
- Eu... Eu.. – Erick ainda tentou resistir, mas não foi eficaz, a poção agiu como previsto. – Eu fiz essa tatuagem pois era um símbolo de amor entre eu e minha ex-namorada! Ela me disse que era isso! Eu não sabia o que significava! Porque eu nunca fiz aula de runas! Se bem que o desenho não ficou muito parecido com o original... Nós fizemos essa loucura em um dia de farra, sabe como é. – Ao ver o auror fazer uma carranca, ele voltou a se concentrar na tatuagem. - Mas eu acreditei no que ela dizia! Eu a amava! – O jovem completou tudo rapidamente, sem pausas entre suas falas, visivelmente nervoso. - Eu a amava e a desgraçada me deixou para ficar com aquele outro! Como ela pode fazer isso comigo!? Nós juramos amor eterno! – Comentou com certa raiva. – Nós íamos pescar no lago perto da casa dela! Nós tínhamos planos de ficar velhinhos juntos... E ela me deixou... E eu não queria dizer nada... Porque tinha vergonha... – O relato do rapaz terminou em ruidosas lágrimas. Já não capaz de se conter ao compartilhar sua dor.
Os aurores se entreolharam, sem saber ao certo, que reação ter. O estagiário, figura exemplar de boa conduta, estava ali, diante deles, chorando como uma criança.
- Er... Bom. Acho que isso encerra esse assunto. – Concluiu o auror encarregado do interrogatório, visivelmente contrariado com o desfecho daquela situação. O auror mais jovem entregou um lenço a Erick, que ainda chorava, compreendendo sua situação.
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Um baque surdo o fez voltar para a realidade, trazendo-o para o presente, na cúpula ministerial, onde a apelação final da acusação era feita por meio de um inflamado discurso do promotor, que insistia em bater com o punho fechado sobre a mesa, causando um alto barulho, que servia apenas para intimidar as alunas, principalmente Kayla Drummond, que pulava em sua cadeira, toda vez que o homem repetia o movimento. “Pobrezinhas...” Pensou Erick, compreendendo até certo ponto, o quão era difícil passar por aquele tipo de situação, afinal, de certa forma, já havia estado no lugar delas. Suspirando de forma cansada, o homem se perguntou mais uma vez como o professor Malfoy poderia saber de sua tatuagem...“Deve ter sido a professora Hermione quem contou para o Malfoy, só ela tinha visto o desenho na minha mão... Mas por que ela faria isso? E logo com ele? Pelo que eu soube eles sempre foram inimigos...” Divagou, sobressaltando-se em seguida, ao chegar aos seus ouvidos o som alto de mais um golpe sobre a mesa, o que definitivamente, chamou a sua atenção.
- Jovens talentosas sim, isso sem dúvidas, mas também é inegável o fato de que todo esse talento é usado para o mal...Quero dizer, olhem para elas! Tão novas, e aparentemente inocentes... Qualquer um acreditaria nisso, e é justamente por esse motivo que são tão perigosas, porque ninguém desconfiaria de que essas meninas são sim capazes de executar com maestria poderosos feitiços das trevas! – Exclamou o promotor enraivecido. – E isso senhores, por mais perturbador que possa ser, é a mais pura verdade, afinal, inúmeras são as provas que atestam, a participação dessas garotas em diversos incidentes supostamente sem explicações. E não foi uma ou duas vezes, que outras pessoas se feriram por conta das atitudes, por que não, planejadas dessas alunas... Por isso, eu rogo a vocês, membros da corte, não permitam que essas jovens continuem com a sua rotina de malevolência, e assim, talvez, posemos salvá-las, disciplinando-as e corrigindo-as, para que não sejam mais um perigo não só para a sociedade, mas também para si mesmas... Embora, eu sinceramente não acredite na salvação de almas, que mesmo ainda tão novas, são capazes de virem até aqui, e se postarem diante de todos, sem o menor remorso, mesmo após terem matado de forma cruel uma outra aluna...
Involuntariamente, Molly, que assistia ao julgamento, deixou que um gemido dolorido escapasse de sua garganta, ao ouvir o conteúdo ferino das palavras ditas pelo promotor, forçando-a se lembrar, não de momentos de paz e alegria, como gostaria, mas sim, de dias cheios de dor e amargura...
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Memórias:
O céu estava nublado, deixando o dia ainda mais triste e cinzento, pintando os campos de Hogwarts com cores apagadas e sem vida, tornando toda a atmosfera que envolvia o lugar, ainda mais pesada, para todos os presentes que se reuniam para o funeral da diretora Minerva McGonagall e da professora Sibila Trelawney, que acontecia de forma simples, sem luxo ou ostentação, assim como ambas gostariam... Arthur Weasley, fez questão de comparecer a solenidade, não como o ministro da magia, mas sim como amigo, para que pudesse prestar a sua homenagem aquelas duas mulheres, que mesmo tão diferentes, possuíam igual valor, transformando o simples discurso do homem, em uma verdadeira exaltação às memórias de Minerva e Sibila, tornando impossível para os presentes, não lamentarem por perdas tão trágicas... Hagrid, abraçado a sua toalha, chorava sem se conter, sendo amparado por seus amigos, incluindo Molly, que dava batidinhas amigáveis no ombro do meio gigante, tentando passar-lhe força, força essa, que nem mesmo ela, sabia ainda ter... Suspirado pesadamente, a mulher do ministro olhou ao redor, em busca de auto-controle, entretanto ela notou, surpresa, a presença da figura pálida de Malfoy, que acompanhava o funeral à distância. “Minerva foi com certeza uma grande mulher!” Pensou ela, ao se recordar de todos os feitos não só de coragem, mais também de fé e esperança, tais como o voto de confiança que a diretora havia dado a Draco, quando decidiu contratá-lo para o corpo docente de Hogwarts. “Todos merecem uma segunda chance.” Havia dito a senhora, e agora ao vê-lo ali, Molly não pode deixar de se sentir feliz por ela... “É minha amiga, você tinha razão” Sussurrou ela, enquanto acompanhava o fogo lamber o que um dia fora, a morada de um espírito por demais valoroso...
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- Que Merlin permita uma segunda chance a essas meninas. – Suplicou a Senhora Weasley ao voltar de sua lembrança para o presente.
Andando de um lado a outro, o promotor continuava com seu efusivo discurso, disposto a conseguir a condenação daquelas garotas, sem se preocupar, portanto, com o desconforto que as suas palavras hostis causavam nas rés, embora essas mantivessem no rosto, uma expressão de contrariedade e até raiva, muito contrária do olhar de culpa, que ele esperava encontrar...
- Sei que posso estar parecendo rude, principalmente por estar me referindo a crianças... – Disse ele com sabedoria. – No entanto, eu quero que enxerguem, assim como eu, acima de qualquer aparência ou, me atrevo a dizer, sentimento, afinal, como podemos nos deixar levar por tais coisas, quando elas mesmas parecem não se importar... Como podemos acreditar nas palavras delas, quando a única coisa que fazem é acusar outras pessoas, ao invés de explicarem as próprias atitudes... Não senhores, não se deixem levar por seus corações diante dessas figuras supostamente frágeis, não se permitam enganar, não cometam esse erro... – Suspirou. – Ouçam, a única coisa que eu peço é justiça... Justiça por aqueles que não estão mais entre nós para defenderem-se, peço por aqueles como Minerva McGonagall, que esta menina teve a capacidade de tirar de nós... – Comentou com pesar, indicando o seu dedo em riste para Sarah, que involuntariamente, encolheu-se em sua cadeira, enquanto lutava ao máximo contra a própria imaginação, que insistia em fazer de si mesma uma grande vilã. – Essa grande mulher, que lutou bravamente ao lado de Harry Potter e outros heróis, foi impedida de continuar não só com o seu magnífico trabalho em Hogwarts, mas também foi privada da tão apreciada paz pela qual batalhou, e tudo isso porque ficou no caminho dessas crianças... – O homem vez uma pausa em seu discurso, esperando que suas palavras causassem o impacto necessário nas pessoas ao redor, o que de fato conseguiu. – Pensem... – Continuou após o burburinho da sala silenciar. – Vocês realmente querem os seus filhos e netos, estudando no mesmo lugar que essas meninas, que mesmo ainda tão novas, já apresentam tal crueldade comparada apenas a vocês-sabem-quem!?
Com um suspiro cansado, Sarah se deu por vencida, não tinha como lutar contra aquilo, por isso, permitiu-se fugir, deixando que suas memórias vagassem, afinal, qualquer coisa seria melhor do que ficar ali, ouvindo todas aquelas acusações...
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Memórias:
O lugar estava escuro e silencioso...
Fazia dias que Sarah chegara ali, e ainda assim tudo se encontrava exatamente da mesmo forma, desde quando ela tinha se jogado na cama, onde permaneceu imóvel e silenciosa, perdida em seu emocional completamente em frangalhos. A Sonserina não queria falar com ninguém, não queria ver ninguém, já estava ruim o suficiente, conviver consigo mesma, enquanto os dias se arrastavam, fazendo-a assistir o seu próprio mundo desmoronar pouco a pouco de forma dolorosa.
- Sarah? – Ouviu a voz de seu pai lhe chamar incerto. Ela não respondeu, não queria que seu pai a visse naquele estado. – Sarah? – Dessa vez a voz de Draco soou mais decidida. Os olhos habituados à escuridão o levaram diretamente a cama, onde pôde ver a menina encolhida no canto.
Sem pensar duas vezes, ele foi até a filha, acolhendo-a em seu colo. Sarah ofereceu resistência inicialmente, porém ao sentir o calor dos braços do pai, esqueceu-se de tudo e simplesmente se deixou levar.
Por algum tempo, ambos ficaram em silêncio, se abraçando. O homem tentava passar segurança para ela, porém isso se tornou difícil de fazer ao vê-la desmanchar em lagrimas. Lhe partia o coração ter sua filha em tal estado.
- Sarah... Vai ficar tudo bem. – Falou por fim tentando acalmá-la.
- Desculpa pai, mas eu não consigo acreditar nisso... – Tornou em meio às lágrimas.
- Sarah, me escuta. Eu vou te tirar daqui! Ouviu? – A voz do homem saiu energética, enquanto ele erguia sua filha, fazendo-a encará-lo. – Eu vou te tirar daqui. Isso é uma promessa!
- Pai... – Ela interrompeu incerta. A garota queria muito acreditar naquilo, porém não iria se iludir com esperanças...
- Shiii... Eu sei o que estou dizendo! – Disse urgente. - Você é a pessoa que eu mais amo. Se algo lhe acontecer, eu perco tudo que tenho. – Confessou com uma fragilidade quase palpável, totalmente atípica a sua personalidade.
- Pai... Eu...
- Ouça. Eu vou fazer o impossível para te inocentar. Mas se o pior acontecer. Eu irei te tirar de Azkaban com minhas próprias mãos. – Pontuou decidido.
- Pai... Se o senhor fizer isso, vai se tornar um criminoso... – Por mais critica que fosse a situação, aquelas palavras a fizeram se sentir leve. Por um segundo, ela esqueceu o que realmente estava acontecendo.
- Eu não me importo de ser um criminoso! Quem liga? – O homem sorriu, como um menino travesso que compartilha seu plano com um amigo. – Depois que escaparmos, nós fugimos para um país bem longe.
- Longe? Tipo o que? – A menina havia entrado na brincadeira do pai, ele estava conseguindo deixá-la menos tensa.
- Tipo, sei lá... Tipo o Brasil. Vamos para o Brasil, ficamos o dia inteiro na praia, ficamos bronzeados e ninguém vai descobrir que não somos naturais de lá... – Divagou se sentindo melhor, por ver sua garotinha esboçar um sorriso.
- Obrigada pai... – Sarah disse por fim, ela reconhecia o esforço que o homem a sua frente estava fazendo para lhe deixar melhor. – Então vou incluir um biquíni bem indecente na minha mala para Azkaban... – Zombou.
- Não vai não mocinha. – Repreendeu sério. – Quer saber... Pelo menos uma coisa de bom há de haver em tudo isso... – Ponderou Draco. – Ted Lupin não vai nos alcançar no Brasil. – Comentou em tom mordaz.
- Pai... Isso não é hora para dizer uma coisa dessas. – A menina falou chateada, voltando a expressão vazia.
- Hum... – Ele não sabia o que dizer, se esforçara tanto para que sua filha voltasse a sorrir, e agora ela havia voltado ao estado de antes, tudo por conta de um comentário tolo...
- Pai. – Chamou. – Se o Ted quiser vir aqui. Por favor. Não o deixe entrar...
- Tem certeza? – Era visível a confusão formada na face de Draco.
- Tenho. – Taxou com convicção.
- Tudo bem então. – Era uma surpresa para o homem receber tal pedido dela, mas ainda assim era uma satisfação atender aquele desejo.
E como era previsível de acontecer, o filho mais velho do professor de DCAT, na primeira oportunidade que teve, dirigiu-se aos aposentos da Sonserina... Na verdade, ele esperava encontrá-la no salão comum durante os horários de visita, mas já que aparentemente ela se recusava a sair do quarto, era óbvio que o ex-grifinório teria que honrar a casa ao qual havia pertencido, e ir atrás dela, ele mesmo...
- Como assim eu não posso entrar!? – Questionou o rapaz confuso, ao ser barrado.
- Foi isso que eu disse Lupin. – Garantiu o auror que vigiava a entrada do quarto onde Sarah Malfoy estava.
- Foi Draco Malfoy quem deu essa ordem? – Perguntou contrariado.
- Não, foi a Sarah. – A voz de Draco soou divertida por detrás dele.
- Professor Malfoy. – Sibilou Ted, em um falso cumprimento, deixando que seu olhar corajoso recaísse sobre o homem a sua frente.
- Saia daqui. Ela não quer ver você.
- Eu não posso acreditar nisso. – Falou mantendo o olhar.
- Lupin, é verdade. – Pontuou o auror que permanecia a porta do quarto.
- Não. Eu quero entrar! Eu quero falar com ela. Isso não pode ser verdade! Por que ela não quer me ver?! –Falou olhando de um para o outro, fazendo sua voz se elevar um pouco a cada palavra, à medida que perdia a paciência.
- Ted? – Todos ouviram a voz incerta chamar por detrás da porta trancada.
- Sarah. – Respondeu o ex-grifinório indo de encontro à porta, colocando sua mão sobre a maçaneta na intenção de abri-la, mas essa estava trancada.
- Já passou da hora de visitas Lupin, a porta se tranca automaticamente e você não vai conseguir abrir. – Informou o auror.
Suspirando com pesar, o rapaz culpou-se por não ter chegado antes, quando a pesada porta, não poderia ser uma barreira entre eles. Sarah estava logo do outro lado, tão perto, mais ainda assim tão distante... Queria vê-la, tocá-la, mas não podia.
- Ted... – A voz da Sonserina morria em um sussurro. – Vá embora.
- Não! – Respondeu ele com fervor, batendo na porta com o punho fechado. A menina do outro lado estremeceu junto com seu escudo de madeira. – Eu não vou embora! Por que você está pedindo isso!? – Ted gritava com a porta, como se ao invés disso estivesse falando com a própria Sarah. Querendo não acreditar que aquilo não era mais uma brincadeira de mau gosto de Draco.
- Porque eu não quero ver você! – Do outro lado da porta, a garota fazia o mesmo, gritava como se fosse o rapaz e não a porta a sua frente.
- O que?! – O choque transpassou sua voz. – Sarah... Para com isso.
- Não... Sinto muito... – Estava difícil repetir aquelas palavras. – Mas eu não quero você por perto Ted. Só dificulta as coisas...
- Eu dificulto as coisas?! – Mais uma vez, as emoções transpassavam por sua voz, deixando toda sua incredulidade beirando o desgosto ir de encontro à porta que os separava, espalhando-se também por seu cabelo, que do sombrio preto, passou para o cinza pálido.
- Ted, eu não quero ter que me sentir culpada, é muito ruim, esse sentimento... – A mão de Sarah, pousou na porta. – Eu não quero ter que olhar pra você, pensando que pode ser a última vez...
Ted ficou sem palavras, não sabia o que responder a ela. Queria dizer que ia ficar tudo bem, e no que dependesse dele ficaria, mas não dependia. A situação em que foram postos, era injusta! Ele nada podia fazer por ela.
- Agora você entende? Agora você pode ir embora? – Choramingou, esperando que ele se fosse.
- Sarah. Como você pode me pedir isso? Me deixe ficar do seu lado... Te apoiar! – Era sua última suplica, não sabia mais o que dizer.
- Ted... Vai embora. Você só dificulta as coisas. – Sua voz falhou, mas manteve firme a sua decisão. – Vá.
- Eu vou te esperar! Quando o julgamento acabar! Eu vou estar lá Sarah! – Novamente Ted se viu socando a porta. – Vocês vão ficar bem! Todas vocês! – Ele repetiu mais para si, do que para qualquer outra pessoa.
Ela ficou em silêncio, com a testa apoiada na porta, esperando pacientemente que Ted se fosse. Sentia seu peito doer, ao fazer tal coisa, mas precisava, não suportaria passar dias que julgava serem, possivelmente seus últimos de liberdade, olhando-o. Não poderia fazer isso. Melhor seria ficar somente com as boas lembranças que tinham...
- Sarah?! – Gritou Ted batendo mais uma vez na porta.
- Que? – Respondeu em um muxoxo.
- Eu vou fazer o que você está me pedindo. Mas no dia do julgamento, eu vou estar lá, esperando para abraçar você quando tudo acabar. Me ouviu bem?! Você não vai fugir de mim! – Ele não estava pedindo.
Sarah sorriu. Ficava feliz por ouvir aquelas palavras. – Eu sei Ted. – Fungou findando a conversa.
A menina ouviu o som dos passos de Ted se afastar e resignada se deixou cair diante da porta, aceitando sua atual condição. Porém, não sem antes, desejar mais uma vez que tudo acabasse bem...
*
No dia em que fora interrogada, Sarah sentiu pela primeira vez o medo sobrepor sua racionalidade. Naquele dia, perante os aurores que a questionavam, constatou de fato a grandiosidade de seu medo. Medo esse que a incapacitou de manipular a verdade ao seu favor, coisa que sempre fizera. Porém sem ninguém ali para apoiá-la, sem seu pai para lhe dizer que ia ficar tudo bem, se sentia frágil e incapaz, por isso, todas as respostas que dera foram, rápidas e simples, pois temia se complicar. Na verdade, seus piores temores estavam se ampliando naquele momento, enquanto, de volta a seu quarto depois de voltar de seu interrogatório, Sarah ainda sentia sua espinha gelar e sua cabeça doer, ao mero vagar de seu inconsciente ao maldito dia do julgamento que se aproximava cada vez mais.
Sentando-se na cama, por puro nervosismo, a garota começou a revirar uma pilha de livros que seu pai trouxera dias antes, ansiosa por poder encontrar algo que a fizesse esquecer as últimas horas. Foi então, que do meio dos livros, o pergaminho esquecido do mapa do maroto caiu diante dela, despertando a sua curiosidade, fazendo-a se lembrar de um comentário que Kayla fizera, sobre uma pessoa não identificada pelo mapa. “Será que isso é possível?” Pensou. Intrigada, ela abriu o mapa, porém logo soltou um muxoxo ao recorda-se de que precisaria de uma varinha para ativá-lo. Ao se concentrar nisso, lembrou do ataque que sofrera de Daniel, onde, naquela ocasião, havia conseguido por um momento fazer um feitiço sem varinha. Sarah não saberia dizer ao certo o que lhe permitira fazer aquilo, apesar de ter algumas teorias em mente que pudessem explicar tal fenômeno. Porém essas teorias precisavam de alguns testes, o que afinal deu a ela algo para fazer, afinal, que modo mais adequado de se passar o tempo poderia existir ali!?
Olhando fixamente para o pedaço de pergaminho, Sarah se concentrou, enquanto apontava a sua mão para ele, muito desejosa de que realmente pudesse fazer algo. No inicio nada aconteceu, entretanto na terceira tentativa o feitiço ativou o mapa, diante do olhar curioso e satisfeito da Sonserina.
E então, durante aquela tarde, a menina nada fez além de monitorar o mapa, que mostrava uma Hogwarts tranqüila, vazia, a não ser pelo vai e vem dos aurores e professores ainda residentes ali. Porém nenhum sinal da tal pessoa não identificada... Ainda assim, de qualquer forma a filha do professor de poções se via em euforia por poder se concentrar em uma tarefa, além de olhar para as paredes, o que acabou por transformar aquele pequeno ato, em um costume.
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O clima pesado que pairava no local era algo novo para elas, que mesmo estando em uma situação não favorável, sempre se mantinham um pouco alheias, agindo na maior normalidade possível. Sarah achava aquilo estranho, porém, vê-las quietas agora, era algo que a Sonserina achava ainda pior.
Todas estavam reunidas, como habitual, para tomar café, embora se mantivessem todas caladas e quietas... Kayla e Estelar permaneciam ao lado de Melanie, apoiando-a, enquanto Sarah permanecia mais afastada, olhando desinteressada para seu café, pensando. Ela podia ouvir algumas das poucas palavras que as outras diziam, mas não suas frases em si, o que de uma louca maneira, a fazia sentir falta do costumeiro falatório de antes... Decididamente, a ausência de animação já fazia falta.
A menina ergueu a cabeça e observou as outras, remoendo internamente a pena que sentia pela Lufa-lufa, afinal, se fosse ela naquela situação, admitia que não saberia como agir alias nem sequer queria pensar em tal possibilidade... Sarah não percebeu que estava olhando fixamente para as outras, enquanto se perguntava se deveria ou não se levantar e ir até lá para prestar a sua solidariedade, ou se permanecia em sua constante indiferença, apenas por não saber o que fazer. Entretanto, quando deu por si, se deparou com o olhar curioso de Estelar, encarando-a, ao mesmo tempo em que exibia um sorriso gentil, de canto de boca, sorriso esse que fez Sarah fechar a cara irritada, se levantando e saindo rapidamente, irritada pela Grifinória quase sempre ser capaz de lhe adivinhar os pensamentos...
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O som repetitivo do bater do martelo contra a bancada do ministro despertou Sarah, trazendo-a de volta de sua fuga particular.
- Encerramos, portanto, as alegações finais da acusação. – Anunciou o Senhor Weasley.
E inevitavelmente, não só a Sonserina, mas também todas as outras três garotas, puderam respirar com mais tranqüilidade. “Finalmente...” Agradeceu a filha do professor Malfoy, sabendo que mais alguns minutos daquela tortura poderiam levá-la a loucura...
- Quem será que fará a nossa defesa? – Perguntou Kayla em um cochicho.
- Eu não faço a menor idéia... – Respondeu a Grifinória no mesmo tom. – E olha que eu cheguei a perguntar para a minha mãe, mas ela não...
- Silêncio vocês duas. – Ralhou Sarah, embora controlasse a própria voz. – Sabem que não podemos conversar aqui... Fiquem quietas.
Estelar e Kayla trocaram olhares contrariados, entretanto, ainda assim seguiram o conselho da outra e guardaram silêncio, afinal, o olhar reprovador dos aurores ao redor, não encorajava nenhum pouco aquele tipo de atitude, por mais curiosas que pudessem estar.
- Atenção! – Pigarreou o ministro, interrompendo o burburinho que havia se formado após as alegações do promotor. – Eu chamo agora o responsável pela apelação final da defesa, o Senhor Daniel Power.
- Tá de brincadeira!? – Exaltou-se Estelar, sem conseguir se conter. – Ai...- Resmungou ela, ao receber em suas costelas um dolorido cutucão de Sarah.
- Fica na sua Estelar... – Sibilou a menina.
- Não! Eu não vou aceitar isso. – Protestou com veemência, apontando o seu dedo em riste, na direção do homem que havia acabado de entrar. – Eu não quero que esse cara...
- Senhorita Lupin! – Cortou Arthur com autoridade. – Ou você se comporta, ou serei obrigado a retirá-la da sala, ouviu bem!? – Ameaçou. – Ótimo... – Continuou ao ver a Grifinória assumir uma postura resignada. – Devemos então prosseguir com o julgamento. Senhor Power, por favor... – Chamou com um gesto de mão, mostrando-o o centro da cúpula ministerial.
O homem caminhou com elegância até o lugar indicado, sem se importar com os olhares, que se dividiam entre a surpresa, a incredulidade, e por fim, a contrariedade. “O vô Arthur caducou de vez... Que tipo de merda ele estava pensando quando colocou esse cara para defender a gente?” Resmungou em pensamento a filha do professor de DCAT, enquanto cruzava os braços sobre o peito, fazendo questão de deixar clara a sua insatisfação.
- Mas o que significa isso!? – Surpreendeu-se Ted.
- Calma meu filho... Vamos confiar no Senhor Weasley, tenho certeza de que ele sabe o que está fazendo. – Tranqüilizou Ninfadora, dividindo-se entro o filho e o marido, que estava pálido, parecendo prestes a desmaiar.
Hermione, que estava junto da família Lupin, olhou ao redor, em busca de algum tipo de apoio, e de um jeito quase irônico, seus olhos se dirigiram e se encontraram com os de Malfoy, que parecia tão surpreso quanto ela, embora mantivesse um discreto sorriso em seus lábios, o que de certa forma, levou até ela uma clareza de pensamentos... “É, talvez isso dê certo.” Supôs a mulher, vendo o professor de poções se inclinar na cadeira, atento aos movimentos de Power, levando-a a fazer o mesmo. “Isso pode realmente dar certo...” Concluiu, por fim admirando a ousada estratégia do ministro.
- Senhoras e Senhores... – Começou Daniel em seu tom cortez. – Hoje, após quase um mês inteiro de investigações, depoimentos e tudo mais que foi apresentado aqui, neste tribunal, eu venho até vocês membros da corte, expor não só a minha fraqueza, mas também a minha falha como educador, homem e pessoa, que de uma forma lamentável, me tornei cego perante todos os avisos ao decorrer desse ano, de que algo estava terrivelmente errado... – Suspirou. – Muitas foram às vezes que essas garotas foram vítimas de ataques inexplicáveis, cheios de tamanha crueldade, que talvez nem os senhores pudessem ser capazes de suportar... Entretanto, ainda assim, elas se mantiveram fortes, e por inúmeras vezes tentaram nos alertar, mas a única coisa que fizemos foi ignorá-las, então, eu me pergunto, de quem é a culpa pelas coisas estarem onde estão agora? Nossa, Senhoras e Senhores, pois é nosso dever defender as crianças de qualquer mal que possa infligi-las, e não fizemos isso, pelo contrário... Elas foram presas, acusadas e humilhadas, tudo por tentarem apenas se defender, enquanto estavam sozinhas e amedrontadas... Hunpf, que tipo de monstros nós somos? – Perguntou ele cheio de indignação. - Ouçam, eu melhor do que ninguém, posso garantir que muitas das atitudes dessas meninas foram influenciadas, afinal eu estive na mesma situação, e acreditem, não existe nada mais apavorante do que saber que não temos controle sobre o nosso próprio corpo. E não estou falando de um feitiço como o “IMPERIUS”, não, eu estou me referindo a algo muito pior... Estou falando de alguém dentro da sua mente, agindo por você, matando pessoas com as suas mãos, enquanto você assiste a tudo impotente... – Ofegou ele com pesar. – Sei exatamente pelo que passaram. – Continuou o homem dirigindo-se agora às quatro garotas. – Por isso estou aqui, disposto a defendê-las. – Sorriu.
- Babaca fedorento... – Resmungou Estelar, para que só as meninas ao seu redor pudessem ouvir, fazendo-as sorrir com deboche, entretanto, passando a todos os que assistiam ao julgamento, a impressão de cumplicidade para com o professor.
- Vou lhes dar um exemplo do bom caráter dessas meninas. – Continuou Power. – Não é segredo para ninguém aqui, que Estelar Lupin é um lobisomem, embora eu tenha a certeza de que nem todos sabem o quão especial isso a torna. Um momento, um momento, eu vou explicar... – Disse ele, assim que um falatório começou. – Diversas vezes, aqui neste tribunal, tentaram usar esta condição contra ela, o que seria até razoável se ela não fosse exatamente quem é...Escutem, eu testemunhei com os meus próprios olhos, essa menina, ainda tão nova, lutar e vencer a maldição, mostrando um auto-controle admirável, sendo um exemplo não só de fé em si mesma, mas também de companheirismo desmedido, afinal, ela só permitiu que a transformação acontecesse, transformando-se em lobo, quando a vida da Senhorita Malfoy esteve ameaçada, e ainda assim, garanto aos Senhores, que em nenhum momento ela tentou algo além do que somente parar aquele que comandava o meu corpo... Alias, cada uma delas, só mostrou qualquer tipo de atitude mais ofensiva quando se tratou de defender uma as outras, quando não havia mais ninguém... – Daniel olhou ao redor, observando as diferentes reações ao seu discurso até então emocionado. – Essas crianças não passam de vítimas, que controladas com maestria, por alguém perverso, passaram a vilãs perante todos nós, nos cegando para o que realmente importa... Quem faria isso? E por que? – Perguntou, calando-se em seguida, deixando que o peso de suas palavras recaíssem sobre os presentes. – Bom, infelizmente, é óbvio que ninguém aqui sabe quem está realmente por trás de toda essa série de atrocidades, caso contrário não estaríamos aqui... Entretanto, posso dizer aos Senhores com cem por cento de certeza, o porque dessas meninas estarem tão envolvidas. – Garantiu, enquanto caminhava em círculos dentro da sala de julgamentos, diante dos olhares curiosos dos membros da corte. – No pergaminho que receberam, está transcrito o que foi dito pela professora Sibila Trelawney, que descanse em paz, diante de várias testemunhas, entre elas alunos, professores e até aurores, no dia de sua morte, quando avistou essas quatro garotas... Como podem ver, é clara a existência de uma profecia, o que me traz o dever de lembrar que essa não seria a primeira feita por essa Senhora, que anos atrás profetizou os acontecimentos entre o tão respeitado herói Harry Potter e aquele-que-não-deve-ser-nomeado o que me atrevo a dizer, valida totalmente a veracidade dessa segunda, colocando essas quatro, mais uma vez, como vítimas, pois é óbvio que é sobre elas que essa nova profecia se refere. Quatro são as casas... Quatro são as marcas... Corvinal, Sonserina, Lufa-lufa e Grifinória. – Falou Daniel, apontando para cada uma das meninas à medida que mencionava a casa a qual pertenciam. – E cada uma delas carrega no corpo uma marca, recebida por meio de sonhos, que poderiam ser facilmente considerados frutos de uma forte invasão mental... – Suspirou. – Senhoras e Senhores, as provas estão aí, para aqueles que quiserem vê-las... E por mais que seja duro admitir, depois de tantos anos de tranqüilidade, assim como disse Sibila na profecia, um novo mal se levanta, mas nós temos aqui, diante de nossos olhos, a aliança que poderá devolver a todos os bruxos e bruxas do bem, os tão apreciados dias de paz... – Sorriu ele esperançoso. – Agora pergunto a vocês, o que faremos a respeito? Vamos realmente condenar e prender a nossa única esperança de salvação, ou vamos deixar que essas crianças façam aquilo que nasceram para fazer? – O professor olhou ao redor, esperando por qualquer tipo de reação dos presentes, mas nada aconteceu. – Nós não podemos cometer o mesmo erro que a sociedade bruxa cometeu anos atrás, quando ao invés de apoiar o grande Harry Potter, o julgou e condenou, deixando assim, que o pior bruxo das trevas tomasse seu espaço para agir e criar o caos. É exatamente isso que estamos fazendo aqui! Estamos prestes a cometer o mesmo erro. Julgando essas alunas, sem lhes dar o crédito, sem lhes dar o beneficio da dúvida! Se as condenarmos agora, não estaremos condenando quatro crianças, estaremos condenando todo o mundo bruxo! Uma ameaça eminente está diante de vossos narizes, e asseguro, de que se essas meninas forem condenadas, injustamente é claro, não só os presentes nesse tribunal, mas toda a sociedade se lembrará daqueles que ergueram suas mãos para julgá-las culpadas. – Ele fez uma pausa, como se o ar tivesse lhe faltado, devido à energia empregada em suas palavras. – Compreendo que os senhores não desejem que seus filhos e netos sofram, e por isso queiram protegê-los, mas estarão cometendo um erro, achando que estão protegendo quem amam, condenando-as. Pelo contrário, estarão retirando a chance de seus entes queridos terem um futuro de paz, tal qual, nós tanto almejamos. Os senhores querem mesmo, enviar para Azkaban as nossas “Harry Potter’s?”- Enfatizou o homem, cada palavra meticulosamente proferida, com voracidade, encarando de olhar por olhar, todos os componentes do júri. O silêncio tomou conta da cúpula ministerial, enquanto todos permaneciam parados, alguns até chocados diante de tais palavras, incluindo as quatro, que pela primeira vez, compreendiam o peso da responsabilidade que de repente era jogada sobre elas... – Lembrem-se do desfecho que a batalha de Hogwarts, há vinte anos teve. E vejam senhores, que está em vossas mãos, dar um desfecho melhor ao que pode está para acontecer. Eu encerro por aqui Senhor ministro. – Informou Power, com um meio sorriso, satisfeito consigo mesmo.
- É... Hum... – Engasgou-se Arthur. – Pois bem, eu declaro encerradas as apelações finais. O jure irá se retirar para deliberar agora, e em dentro de duas horas, será dado o veredicto. – Concluiu o senhor, batendo o martelo, apressando-se para sair da sala o mais rápido possível.
Aos poucos, as pessoas foram se retirando, deixando que o som das muitas vozes preenchessem o ambiente enquanto discutiam, estarrecidos, a respeito de mais aquela novidade, que até então era um segredo mantido apenas pelo corpo docente de Hogwarts.
- Ai gente, isso foi tão apavorante, não acham!? – Choramingou Kayla. – Todo esse papo de profecia, marcas e mal que se levanta... Credo, acho que nunca mais vou conseguir dormir sem ter um pesadelo.
- Eu não estou nem aí para esse blábláblá. – Resmungou a Grifinória dando de ombros. – O que me incomoda de verdade é que foi o Power que nos defendeu no fim das contas... – Completou com mau humor.
- Isso não importa, afinal, ele tendo alguma coisa ou não com tudo isso, a única coisa que eu quero é colocar as minhas mãos na pessoa responsável e acabar com ela. – Taxou Melanie, ao mesmo tempo em que apertava o passo para sair da sala, sendo seguida de perto por um dos aurores que as escoltava.
- Andando garotas. – Ordenou Pietro, dirigindo-se as demais.
Resignadas, sem ter a chance de dizer nada, as outras alunas apenas trocaram olhares cúmplices, enquanto eram levadas de volta para a sala de espera. E até mesmo para Sarah, que vinha se mantendo impassível e fria, foi impossível não se deixar afetar pelo atual comportamento de Melanie, embora os seus motivos fossem regidos por um tipo diferente de sentimentos, afinal, aquele tipo de vingança desenfreada nunca lhe pareceu muito recompensadora...
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Não faziam mais de alguns minutos que o Ministro da magia havia adentrado em seu gabinete particular, onde se pôs a andar em círculos, quando sua esposa abriu a porta com brusquidão, entrando na sala seguida pela família Lupin e os professores de Hogwarts Hermione e Neville.
- Credo Molly... – Exclamou o senhor sobressaltado. – Mas o que... – Suspirou. – Vocês não deveriam estar aqui. – Completou agora com mais tranqüilidade, dirigindo-se aos acompanhantes de sua mulher.
- E o Power não deveria ter exposto a profecia. – Pontuou Malfoy com a sua voz fria, assim que chegou ao gabinete também, surpreendendo os demais.
- Muito bem... – Suspirou Hermione após um período de tempo, depois que todos já tinham aproveitado o suficiente o súbito silêncio que se instalou após a chegada de Draco. – Vamos ser sensatos... Por mais que quiséssemos manter a profecia em segredo, isso não seria possível, afinal, a professora Sibila a repetiu na frente de um número considerável de testemunhas, então é besteira ficarmos...
- Besteira!? – Ironizou o professor de poções. – Você sabe melhor do que ninguém Granger, que agora um grande espetáculo será montado ao redor disso, e não...
- Isso já aconteceria de qualquer forma! – Cortou ela. – Você viu a quantidade de pessoas que estavam reunidas naquele salão, simplesmente não daria para esconder.
- Talvez sim... – Disse Remo de forma pensativa. – Eu não acho que aquelas crianças que estavam no castelo se prenderiam a esse detalhe, e bom, com certeza nenhum de nós diria nada. – Deu de ombros.
- Eu não concordo. – Voltou a falar Hermione. – Mais cedo ou mais tarde isso viria a público, com certeza, e sinceramente, vocês deveriam se focar no quanto isso pode ajudar as meninas, porque por mais que o professor Power possa ter se precipitado em expor a situação dessa forma, ainda assim, vocês não podem negar que o discurso dele foi coerente o suficiente. – Continuou com convicção. – Uma estratégia arriscada, sim, mas agora ele chamou atenção para o problema real que temos em mãos.
- Eu não sei... – Falou Ted. – Isso de alguma forma só me parece piorar ainda mais a situação, porque agora, as garotas terão uma atenção desnecessária em cima delas.
- Até que enfim alguém com um pouco de cérebro! – Exasperou-se Draco, sem se importar de concordar de forma tão entusiástica com aquele que insistia em tentar tirar dele a sua filhinha... – Isso tudo vai se tornar um grande problema, eu tenho certeza. Esperem só até os jornais...
- Não seja ridículo Malfoy! – Rebateu a professora de transfiguração com aspereza. – Você está pensando apenas em proteger a sua filha dos escândalos dos jornais, quando coisas muito mais importantes estão em jogo, e você não...
- Ora, fique quieta Granger! – Sibilou ele. – Eu não te dou o direito de se...
- Calados! Vocês dois! – Interferiu Ninfadora de forma alterada. – Essa não é hora para reviver os tempos de escola com briguinhas tolas. – Repreendeu, como estivesse dirigindo-se a duas crianças. – Vamos, manter o foco no que é de fato importante, sim.
Neville, que até então acompanhava toda a discussão que se formara sem dizer nada, não pode deixar de reparar nos olhares raivosos trocados por Draco e Hermione, entretanto, ele poderia jurar que havia algo a mais na forma como se encaravam, algo como ressentimento, talvez... “Por Merlin...” Suspirou o professor de Herbologia, dividido entre muitos sentimentos confusos e até conflituosos, que acabaram por levá-lo para longe daquela sala, onde as pessoas continuavam a debater a conduta do professor Power.
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Memórias:
Andando lentamente para o salão principal, Neville pensava em como as coisas haviam ficado daquele jeito. Afinal os problemas estavam bem diante deles, e nada fizeram, fazendo-o com que se sentisse mal por isso, pois todos ali estavam sendo afetados direta ou indiretamente...
Ao chegar ao salão principal, andou até seu lugar a mesa e não prestou muita atenção ao seu redor. Não queria olhar as faces desanimadas, ou preocupadas de seus colegas. Por isso simplesmente se sentou e começou a tomar seu café.
Um burburinho lhe tirou a concentração, e ao olhar para o lado curioso, se deparou com Hermione debatendo algo com Malfoy.
Franzindo o cenho, o professor de Herbologia passou a prestar a atenção na estranha troca de palavra dos dois, temia que Malfoy atacasse verbalmente a amiga. Mas para seu estranhamento, eles não pareciam estar brigando, pareciam estar trocando palavras. Para o cérebro de Neville fora impossível assimilar que os dois estavam conversando.
Aquela cena o fez esquecer de toda a situação, para focar sua curiosidade naquele ato. Qualquer que fosse o motivo daquela conversa deveria ser algo muito grave. Ou seria fruto de sua própria imaginação?
Por um tempo, Neville mal via sua amiga, Hermione só aparecia para o café e nesses momentos ela estava sempre falando algo com Draco Malfoy. O que estava acontecendo?
Na única vez que conseguira falar com Hermione, essa estava com seu humor alterado, e nada respondeu a ele. O que fez seu estranhamento aumentar ainda mais.
Aquela situação inusitada, só poderia ser um reflexo dos últimos acontecimentos, o que o fazia questionar até quando aquilo duraria. No fundo, ele desejava que aquela amenidade perdurasse, Malfoy não ganhava nada brigando com eles. Sabia qual era a opinião de Mione sobre o professor de poções, que mesmo sendo uma pessoa difícil de se lidar, tinha as suas habilidades, o que o fazia ter certeza que a ex-grifinória estava usando dessa qualidade para uma causa maior... Não iria questioná-la por isso, só aguardar, afinal, Neville esperava que aquela amenidade entre Malfoy e o resto do mundo, se tornasse algo sólido, ao invés de puramente passageiro, já que o atual comportamento do homem parecia deixar sua amiga feliz.
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Suspirando pesadamente, Neville voltou à realidade, onde um estranho silêncio dominava o ambiente, enquanto cada um parecia estar perdido em suas próprias especulações sobre os fatos. “Que absurdo! Com tantos problemas sérios para serem resolvidos, e eu aqui, perdendo o meu tempo pensando em coisas sem sentido...” Repreendeu-se mentalmente o homem.
- E quanto às marcas? – Perguntou Draco abruptadamente. – Como Power poderia saber delas? – Completou, ansioso por encontrar algo que pudesse condenar a atitude do outro professor.
- Isso nunca foi um segredo realmente. – Falou Remo torcendo o nariz. – Dentro de Hogwarts, qualquer um poderia saber disso.
- Escutem! – Chamou o ministro. – Eu sei que toda essa... – Interrompeu-se ele, quando leves batidas na porta chamaram a sua atenção.
Sem esperar por qualquer tipo de permissão, Erick Mendes entrou no gabinete do Senhor Weasley, sendo acompanhado de perto por Daniel, que mantinha em seu rosto uma expressão tranqüila que serviu apenas para irritar ainda mais Draco, entretanto, antes que ele pudesse expressar qualquer tipo de contrariedade, Erick tomou a palavra, desculpando-se por interferir na reunião, realmente preocupado que pudesse estar afrontando o ministro de alguma forma.
- Está tudo bem... – Sorriu Arthur. – Eu estava mesmo esperando por uma oportunidade para falar com o Senhor Power, então não tem problema tê-lo trazido até aqui. – Completou, dirigindo ao fiel seguidor de Minerva um olhar compreensivo o fazendo suspirar aliviado.
- A culpa foi minha. – Informou Daniel. – Eu pedi para que o Senhor Mendes me trouxesse aqui... Na verdade, eu fui bastante insistente quanto a isso. Queria explicar o porque de eu ter exposto os fatos daquela forma agora a pouco.
Hermione chegou a dar um passo à frente, pronta para começar uma série de perguntas, mas foi impedida de continuar, quando Ninfadora segurou em sua mão, mantendo-a em seu lugar.
- Nos diga então Senhor Power... – Pediu a Senhora Lupin, ignorando por completo as feições contrariadas de seu primo, que claramente condenava a sua conduta apaziguadora.
- Eu simplesmente não tive outra opção! – Suspirou ele em resposta. – Acreditem, a última coisa que eu queria era expor o ministério desse jeito... Eu sinto muito Senhor Weasley, mas não havia outra forma, vocês ouviram a promotoria, e para rebater tudo o que foi alegado eu só tinha a verdade absoluta. E foi nisso que eu me apeguei para defender aquelas garotas! Era uma questão de honra, eu não podia deixar que elas pagassem por um segredo que gostariam de manter... – Ofegou. – Talvez vocês até me condenem por isso, mas eu sinceramente, me sinto em paz, pois sei que priorizei o que realmente era importante. A liberdade daquelas quatro! – Concluiu o professor com convicção.
Durante alguns poucos segundos, após Daniel encerrar o seu pequeno discurso ensaiado, as pessoas naquela sala, permaneceram no mais absoluto silêncio, enquanto absorviam o real teor das palavras ditas por ele, e então, de repente, uma explosão de vozes se seguiu, todas alteradas e enraivecidas, ultrajadas pela acusação implícita na educada conversa daquele homem.
- Como você tem a capacidade de vir até aqui e dizer essas coisas!? – Esbravejou Lupin.
- Isso é ridículo! – Falou Ted exasperado.
- E pensar que até alguns instantes atrás eu estava defendendo a sua atitude no tribunal... – Comentou Hermione ofendida.
- Você acredita nisso? – Perguntou Neville. – Acha que as pessoas dessa sala seriam realmente capazes de permitir que crianças inocentes paguem por um crime que não cometeram, só para mantermos um segredo!? – Continuou, alterando-se pela primeira vez desde que entrara naquele lugar.
- Bom, eu... – Tentou argumentar Daniel.
- O meu marido é perfeitamente capaz de lhe dar com qualquer conseqüência que a revelação dessa profecia possa trazer. – Gritou Molly. – Portanto não venha...
- Molly, querida... – Interferiu o ministro. – Está tudo bem. Todos vocês, vamos todos manter a calma, por favor...
- Senhor Weasley, me perdoe, eu não quis ofender. – Disse o professor Power, apressando-se em se defender, enquanto a gritaria havia cessado.
- Eu entendo a sua posição, Senhor... – Tornou Arthur. – E sinceramente era de se esperar que assumisse essa conduta, afinal, é sua responsabilidade. Enfim... – Suspirou. – Não precisa se desculpar por fazer o seu trabalho.
- Obrigado pela compreensão... – Sorriu ele.
A conversa que se seguiu, foi alterada entre a tranqüilidade e a exaltação, enquanto explicações eram dadas e algumas decisões definidas independente do veredicto dado pela corte, afinal, o que todos ali naquela sala prezavam, era a segurança de Estelar, Kayla, Sarah e Melanie, que agora estavam tão invariavelmente ligadas à tempestade que se aproximava... Por fim, quando não havia mais nenhum assunto pendente, as pessoas começaram a se retirar do gabinete, deixando que o ministro da magia se preparasse para as diversas perguntas que mais tarde com certeza teria que responder...
- Ei, Mione! – Chamou Neville, enquanto andava ao lado dela, junto com o grupo que seguia pelo corredor. – Você reparou no quanto o Malfoy estava quieto? Você não acha estranho que logo ele não tenha dito nada? – Quis saber ele, lançando um olhar curioso para trás, aonde Draco vinha, completamente afastado dos demais.
- E quem se importa com ele Neville!? – Deu de ombros a mulher, sem a menor disposição de perder seu tempo pensando em qualquer coisa que fosse a respeito do professor de poções.
A professora apressou o seu passo, ansiosa por sair de perto de todas aquelas pessoas e ter um momento a só, na intenção de colocar em ordem os seus pensamentos, que atualmente vinham passando por um período de conflitos, que por muitas vezes a mantinham insone, principalmente quando Draco Malfoy insistia em permanecer em suas lembranças... Bufando chateada, Hermione passou pelos demais, deixando-os para trás, sem se importar quando o seu ombro encontrou-se em um choque com o braço esquerdo de Daniel, ignorando por completo o olhar reprovador que ele lhe direcionou.
- O que deu na Hermione? – Quis saber Ninfadora, dirigindo-se ao professor de Herbologia, que como resposta, apenas balançou os ombros, em um sinal de negação.
Em silêncio o grupo continuou andando, e logo alcançaram a curva do corredor, onde Daniel Power estava parado, escorado em uma das paredes, mostrando a todos um sorriso compreensível à medida que iam passando. “Humpf... Esse seu sorriso não me engana mais Power... Se a minha filha não gosta de você, então com certeza, algum bom motivo ela tem...” Resmungou Remo em pensamento. “De qualquer forma, até que essa sua situação me é muito favorável, afinal, onde seria o melhor lugar para se manter um inimigo, se não próximo o suficiente, onde poderá ser devidamente vigiado.” Completou o raciocínio, deixando que um sorriso desenhasse os seus lábios, em um gesto de falsa gratidão para com o outro professor.
Malfoy, o último a deixar a sala do ministro, vinha pelo corredor, arrastando os pés, alheio a tudo ao redor, perdido em seus próprios pensamentos...
- Malfoy! – Chamou Daniel com a sua voz simpática, surpreendendo o outro.
- Pois não... – Respondeu ele desconfiado, no entanto, ainda assim mantendo o tom frio, enquanto notava que todos os outros já tinham se afastado, restando apenas os dois no corredor deserto.
- Da próxima vez que quiser saber de algo, seria muito mais educado me perguntar, ao invés de ficar tentando invadir a minha mente. Não acha? – Sorriu. – Afinal, com certeza perderia bem menos tempo...
- De fato! – Tornou Draco com tranqüilidade. – Mas o senhor me entende não!? É a força do hábito... De qualquer forma, eu não vou mais me esquecer de ser hum... Educado. – Completou com cinismo.
Então, logo ambos se afastaram e cada um seguiu o seu caminho como se nada tivesse acontecido, mas não antes de se encararem por alguns poucos segundos, como se ainda testassem as suas habilidades de legimeli e oclumente, que de fato eram impecáveis, já que nenhum dos dois conseguiu sobrepor o outro...
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Ao mesmo tempo, em um outro lugar do ministério, as quatro rés aguardavam pelo momento em que seria dado o veredicto, que independente do resultado, elas sabiam, mudaria para sempre as suas jovens vidas...
- Ai, que coisa... – Suspirou Kayla. – Por que ta demorando tanto para passar o tempo? Até parece que estamos aqui a uma eternidade, e na verdade não se passou nem uma hora que voltamos pra cá... – Choramingou, remexendo-se de forma ansiosa.
- Não adianta nada ficar desse jeito, o que tiver de ser, será! – Falou Sarah de forma apática, ainda com o seu olhar perdido em um ponto indefinido.
- Ahá, é claro! – Debochou Estelar, com um sorriso nervoso desenhado em sua face. – Vamos todas nos sentar e esperar, rezando aos céus, que tudo dê certo. – Completou, jogando-se em uma das cadeiras.
- Não seja ridícula Lupin. – Sibilou a Sonserina. – Nós não podemos fazer nada agora!
- Como não!? – Exaltou-se a menina, voltando a se levantar.
- Olha Estelar, eu te entendo. – Sorriu Kayla. – Eu também queria poder fazer algo, mas não dá, a Sarah ta certa. A única coisa que podemos fazer agora é esperar, por mais chato que isso seja... – Deu de ombros.
- Por Merlin, eu não sei como vocês conseguem! – Exclamou ela, enquanto andava em círculos pela sala. – Não dá para ficar calma, principalmente depois de algumas coisas... – Disse, indicando com um gesto a Lufa-lufa, que estava sentada em um canto, isolada.
Com pesar, as três garotas observaram Melanie durante um tempo, ansiosas por qualquer tipo de reação por parte dela, que a dias se mantinha naquela espécie de apatia conformista, por mais que as vezes ficasse clara em suas feições, a quantidade absurda de pensamentos hostis que passavam por sua mente...
- Hum, Mel... – Chamou a Corvinal.
- Eu não me importo. – Respondeu Melanie de forma automática, repetindo mais uma vez aquela frase, já dita por ela vezes sem conta.
- Ah, cacete! – Bufou Estelar, rolando os olhos, jogando suas mãos impacientes para o alto, enquanto voltava a caminhar pela sala.
Com uma expressão reprovadora, Sarah encarou a Grifinória, entretanto, logo ela deu de ombros e voltou a se focar no nada, fugindo da realidade, sem se importar com as reclamações da filha do professor Lupin, vestindo mais uma vez sua máscara de indiferença...
- Ô Estelar, será que dá para você parar de andar desse jeito? É que eu já to começando a ficar tonta só de olhar pra você...- Comentou Kayla.
- Então não olha pra mim, ué. – Tornou a outra.
- Mas afinal de contas... – Suspirou a Corvinal. – Porque você de repente ficou desse jeito? Logo você que estava tão despreocupada!
- E você ainda pergunta!? – Estranhou a menina fazendo uma careta. – Caramba Kayla! Você não percebeu o que aconteceu? O tal do Power ta armando pra gente, eu tenho certeza. Afinal, por qual outro motivo ele ia defender a gente daquele jeito!? Tem treta nessa história, só pode! – Concluiu com convicção.
- Hum... Pode até ser, mas eu não entendo. Como o ministro que é tão bonzinho, pode deixar alguém como o professor Power se...
- Já chega vocês duas. – Cortou Jhones ao entrar. – Sabem muito bem que não são permitidas conversas aqui. - Disse, dirigindo-se também a Andrew, o auror que acompanhava as meninas, sem se importar, no entanto, que essas conversassem. - Portanto mantenham-se de boca fechada! E Lupin, nem pense em reclamar. – Ordenou ele, assim que percebeu a Grifinória abrir a boca.
- Tsc, qual é!? – Protestou a menina. – Pelo que eu saiba, eu ainda tenho o direito de reclamar da vida!
- Não quando você claramente perturba a paz dos outros. – Falou Pietro assim que entrou na sala, se juntando ao outro auror. – Por isso pára de fazer escândalo, e fica na sua.
- Idiota defensor do Power... – Resmungou Estelar, cruzando os braços sobre o peito, em um misto de raiva e ressentimento.
E mesmo contrariada, a Grifinória se calou eu foi se sentar em um canto, afinal, ela sabia que qualquer coisa que dissesse ali resultaria em mais uma briga com Pietro, assim como vinha acontecendo desde que haviam sido presas, e sinceramente, a única pessoa com a qual ela gostaria de brigar naquele momento era Daniel e ninguém mais. “Mais que merda!” Xingou ela em pensamento, enquanto suspirava tentando retomar a calma, mas falhando, a medida que sua mente se enchia de lembranças que a faziam variar entre os mais diferentes sentimentos...
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Memórias:
O ambiente pequeno e fechado daquela “cela” a estava enlouquecendo, não e uma forma histérica e aguda, mas sim silenciosa e gradativamente... Era torturante passar horas a fio sem ter nada para fazer, além de pensar nos inúmeros acontecimentos que a levaram até ali, prisioneira em seu próprio quarto. Mas pior do que isso era imaginar o desfecho de toda a história, que cada dia ficava ainda mais sombrio, à medida que as esperanças da Grifinória iam ruindo em meio às paredes apertadas que a cercavam, onde em sua solidão, se permitia ser fraca e chorar, já que na frente dos outros, a garota preferia assumir uma postura muito mais alegre e confiante, afinal, existiriam muitas pessoas que sofreriam se a vissem se entregar. Por isso, Estelar fazia tanta questão de sorrir para as suas amigas e demonstrar serenidade para a sua família, embora, não garantisse o seu sucesso no último caso, já que insistia em fazer as mais variadas perguntas a eles antes de iniciarem qualquer tipo de conversa. “Como medida de precaução...” Justificava-se a menina, toda vez que olhares de estranhamento lhe eram dirigidos, que de acordo com ela, nada mais eram do que um atestado de sua condição paranóica. “Humpf, eu paranóica... Ah, que se dane! Isso não está muito longe da realidade mesmo” Costumava pensar com freqüência, caindo em um constante ciclo de negação e aceitação...
- Aqui estão os livros que você pediu. – Sorriu Ninfadora, embora sentisse o próprio coração se despedaçar toda vez que ia visitar a filha, e enxergava nos olhos dela tudo aquilo que a sua expressão tranqüila tentava esconder. – Então querida, por que você pediu todos esses livros sobre lei?
- Bom, porque eu preciso fazer alguma coisa aqui dentro antes que eu acabe pirando! – Respondeu ela com sinceridade. – Além do mais, a Kayla disse que os velhos do ministério estão pegando pesado, por isso eu quero estar preparada.
- Eu fico feliz em vê-la assim Estelar... – Falou o professor Lupin com carinho. – De repente, quem sabe você não acaba descobrindo uma vocação, assim você não teria que se arriscar sendo...
- Nem adianta pai. – Interrompeu Estelar com veemência. – Eu já disse que vou ser inominável, e nada vai me fazer mudar de idéia.
- É uma pena que você tenha escolhido essa profissão pelos motivos errados... – Suspirou Ted, enquanto um sorriso travesso se desenhava em seus lábios.
- O que você quer dizer com isso? – Quis saber Remo.
- Ora, a Estelar não mostrou para vocês o jornal que ela guarda? – Perguntou o rapaz em um tom divertido, sem se importar com o olhar fulminante da irmã. – Enfim, ela só decidiu seguir essa carreira por causa do tal inominável alguma coisa O´conell. – Desdenhou, sem fazer questão de esconder os ciúmes.
- Ah, cala a boca Ted, que ninguém pediu a sua opinião! – Rebateu a garota com seriedade, muito tentada em constranger o auror com o mesmo tipo de assunto, mas controlando-se, afinal sabia que o irmão e a Sarah não estavam nos seus melhores dias, por isso dessa vez deixaria passar. – Idiota. – Bufou.
- Mas você está mesmo toda apaixonadinha pelo tal cara, e nem adianta dizer que...
- Espera aí! – Cortou a senhora Lupin. – Vocês estão falando do John O´conell?
- É, é esse aí mesmo. – Afirmou o ex-grifinório.
- Eu não acredito Estelar! Como você tem uma foto? Onde conseguiu? E por Merlin, como você foi capaz de esconder isso da sua própria mãe? – Concluiu, ressentida como uma adolescente.
- Ah, mãe, é só uma foto de jornal. – Deu de ombros a garota, sem saber ao certo como responder.
- Ainda assim, é seu dever como filha, compartilhar comigo uma visão tão...
- Ninfadora!? – Repreendeu o professor de DCAT.
- O que foi? – Tornou a mulher sem entender. – Ele é bonitão mesmo...
- É sim! – Concordou Estelar sorridente, finalmente entendendo o motivo do descontentamento de sua mãe.
Eram em momentos como esses, quando a risada dos Lupin´s enchiam o ambiente incômodo daquela parte do castelo, que Estelar se permitia sentir-se verdadeiramente feliz, afinal, nessas horas ela se lembrava de que seu bem mais precioso ainda estava e sempre estaria presente, ao seu lado, independente do que acontecesse...
E por isso, a Grifinória seguia com os seus dias, esforçando-se em parecer sempre bem, brigando com a própria imaginação para manter o controle, muito embora ás vezes sentisse uma louca vontade de gritar, nem que fosse só para saber que ainda estava viva e que ainda poderia lutar contra tudo o que estava acontecendo... Entretanto, todo o esforço da menina de manter-se tranqüila, ruiu como um castelo de cartas exposto ao vento, ao deparar-se com a notícia que estampava a manchete do “Profeta Diário” daquela manhã:
“COMUNIDADE BRUXA RECEBE DE BRAÇOS ABERTOS, DANIEL POWER, O NOVO DIRETOR DE HOGWARTS”
- Mas o que significa isso!? – Gritou ela, totalmente alterada, ao arrancar o jornal das mãos de Andrew.
- O que aconteceu Estelar? – Quis saber Kayla, se apressando em sair do quarto e se juntar a outra.
- Olha só pra isso! – Berrava a Grifinória, balançando descontroladamente o jornal no ar. – Vocês viram? Sabiam dessa palhaçada? – Disse, dirigindo-se a Melanie e Sarah que também saiam dos seus quartos para tomar café.
- Mas do que você está falando? – Resmungou a Lufa-lufa ainda sonolenta.
- Eu estou falando do Daniel... O desgraçado agora é diretor de Hogwarts, como pode isso?Depois de tudo que aconteceu, como é que alguém pode confiar nele? Eu não entendo... O que tem de errado com as pessoas que trabalham no ministério? - Perguntou ela, olhando para o auror Andrew, que ainda estava parado, surpreso com a atitude repentina da garota.
- Bom, é... Não tem nada de errado com a gente não. – Respondeu o rapaz, dando de ombros.
- Ah não... – Debochou Estelar, sem nem se importar quando Sarah se aproximou e retirou de suas mãos o jornal. – Então, é normal vocês ignorarem um maluco que anda por aí fazendo merdinha, enquanto prendem pessoas inocentes!? – Concluiu indicando com um gesto ela mesma e as demais meninas.
- Não é isso, quer dizer... – Suspirou Andrew, lutando para recuperar o controle. – O Senhor Power, assim como todo mundo, foi interrogado. E não tinha nada de errado, na verdade, o que nós descobrimos, é que ele era só uma vítima...
- Vítima!? – Esbravejou a filha do professor Lupin. – Por Merlin! Como é que vocês podem ser...
- Mas o que está acontecendo aqui? – Questionou Pietro com a sua voz grossa, ao entrar no salão comum, atraído pela gritaria.
- Um grande descaso... – Tornou a Sonserina de forma irônica, jogando o jornal sobre a mesa, enquanto se levantava para voltar para o quarto, levando consigo apenas uma maçã.
- Espera aí Sarah, você não vai fazer nada!? – Falou Estelar, recebendo como resposta um olhar frio da outra, alguns segundos antes de ter a porta fechada em sua cara. – E vocês? – Insistiu ela, dirigindo-se agora para as outras duas. – Também vão ficar aqui sentadas como se nada estivesse acontecendo? Vão aceitar toda essa palhaçada assim de boa?
- Mas o que a gente pode fazer Estelar? Nós estamos presas, lembra? Nem podemos sair daqui... – Comentou a Corvinal dando de ombros.
- Não, não, claro que não! Não podemos ficar aqui paradas, enquanto o Daniel termina de ferrar com a gente e se...
- Tá legal, agora já chega Lupin! – Cortou o auror Willians. – Controle o seu ataque de histeria e fica na sua.
- Não! Eu não vou ficar quieta, eu não vou aceitar tudo isso, eu não...
- Será que você não entende? – Gritou Pietro a interrompendo. – Esse homem. – Disse ele, sacudindo o jornal na frente da menina, mostrando a ela a foto do homem estampada embaixo da manchete. – Ele é inocente! Não existe nada contra ele, nada. E ao invés de acusá-lo desse jeito, você deveria era agradecê-lo, já que ele não registrou queixa, e não as acusou de nada, pelo contrário...
- É mentira!
- Não, não é! – Voltou a falar o rapaz. – O Daniel tem feito de tudo para ajudar e...
- Eu não quero saber! – Berrou a Grifinória, com os olhos cheios de lágrimas. – Ele é um falso, e está enganando todo mundo... Então eu não dou a mínima para qualquer atitude boazinha que ele possa estar tendo.
- Eu já disse para parar de escândalo Lupin!
- Eu não vou parar! Não até provar que eu estou certa, e esse tal de Daniel é um manipulador desgraçado. – Disse ela enquanto arrancava das mãos de Pietro o jornal e o rascava enraivecida em milhões de pedacinhos. – Eu odeio ele... Odeio. – Ofegou, deixando que suas lágrimas rolassem livremente, para que qualquer um pudesse ver.
- Pára com isso Estelar, por favor... – Choramingou Kayla, realmente assustado de ver logo alguém como ela perder o controle daquele jeito.
Sem a menor paciência, Pietro Willians avançou sobre a garota, retirando das mãos dela o que sobrara do jornal, segurando-a firmemente pelos ombros, a balançando em seguida.
- Já chega! Porcaria de moleca mimada... Se controla! – Esbravejava ele.
- Ei, tire as mãos dela! – Gritou Melanie.
Decidida, ela se levantou de súbito da cadeira, na intenção de se intrometer entre os dois, porém antes que os alcançasse, Estelar fechou as suas mãos em punho e acertou repetidos socos no peito do auror, até que Pietro finalmente a soltou, quando foi empurrado para trás por uma força que ele jurava pertencer a um homem adulto e não a uma menina de 15 anos...
Sentindo-se fraca e ultrajada, a garota se virou e correu de volta para o quarto, batendo ruidosamente a porta ao passar, nem reparando nas expressões chocadas de Andrew e Kayla, que ainda continuavam parados no mesmo lugar, pregados ao chão diante de toda aquela cena.
- Seu estúpido! – Xingou a Lufa-lufa, com uma careta de reprovação.
- Fica de olho nelas Shaw. – Ordenou o auror em uma voz engasgada, enquanto dirigia-se até a porta de saída do salão, por onde passou sem nem ao menos olhar para trás, perdido em sua própria vergonha.
- Ok... – Sussurrou o rapaz loiro, sem saber ao certo o que dizer ou o que pensar.
Com algumas leves batidas na porta, Melanie chamou pela Grifinória, ao mesmo tempo em que Kayla se aproximava, finalmente saindo de seu torpor. De todos os aurores que se revezavam na vigilância daquele lugar, Andrew Shaw era o mais condescendente, fazendo com que as garotas se sentissem mais a vontade, ao permitir que entrassem nos quartos umas das outras nos horários das refeições, embora o protocolo proibisse. Por isso, a Lufa-lufa abriu a porta sem o menor receio, logo passando pelos batentes sendo seguida de perto pela outra, que diferente dela, parecia intimidada com a figura transtornada de Estelar, que andava de um lado a outro do quarto, soltando de sua garganta pequenos ruídos em meio ao choro, que muito se pareciam com rosnados.
- Vocês viram como ele defendeu o Power!? – Falou a garota alterada, assim que as outras entraram, sem dar-lhes a oportunidade de se manifestarem. – Eu não entendo como não conseguem perceber nada de errado com o professor... Ele está brincando com todo mundo e ninguém faz nada. Como isso é possível? Aquele desgraçado está manipulando tudo e me fazendo parecer uma louca, mas ele está mentindo, eu sei, garanto isso a vocês! – Continuou ela, batendo o pé. - E o cheiro, como explicam isso hã!? Tenho plena confiança nos meus instintos, eu não me enganaria com algo assim... Por que ninguém acredita em mim? – Choramingou.
- Eu acredito... – Tornou a Corvinal com tranqüilidade, enquanto adiantava-se para abraçar Estelar, que recebeu de bom grado o afago da amiga.
- Está tudo bem Estelar... – Sorriu Melanie, juntando-se ao abraço. – Nós vamos sair dessa, e quando isso acontecer, a gente te ajuda a provar que o Daniel não passa de um oportunista mal intencionado.
- Nossa Mel, esse foi o xingamento mais educado que eu já ouvi! – Brincou Kayla.
- Verdade... – Disse a filha do professor de DCAT, rindo em meio às lágrimas. – Só a Melanie mesmo para conseguir isso... Eu provavelmente xingaria o Daniel com um palavrão que nem teria coragem de falar na frente da minha mãe. – Concluiu, limpando com as mãos o rosto manchado pelo choro.
- Hum, levando em conta a liberdade que a sua mãe te dá, e o quanto você consegue ser boca suja, eu não quero nem pensar no que você diria... – Comentou de forma divertida a Lufa-lufa.
Então, as três jovens naquele quarto se deixaram levar pelo clima de descontração, entregando-se as gargalhadas, que de maneira muito agradável preencheram o lugar, dando ao trio, ao menos naquele momento, uma sensação de paz... Agora, bem mais tranqüila, Estelar já era capaz de raciocinar com clareza, e talvez por isso, só tenha reparado nesse instante, a figura pálida do rosto de Sarah, parcialmente escondido pela porta entre aberta, observando-as com uma expressão nenhum pouco agradável. A Grifinória chegou a abrir a boca para dizer algo para a outra menina, mas assim que o fez, a filha do professor Malfoy se virou rapidamente e saiu.“Aposto como ela veio aqui para ver como eu estava e ficou chateada por nos ver rindo desse jeito” Pensou Estelar com convicção, conhecendo bem demais a Sonserina para saber que sim, ela estava certa.
- Ei, Estelar, o que foi? – Quis saber Kayla, em um misto de curiosidade e preocupação. – É que você ficou quieta de repente... – Explicou ela, assim que percebeu o olhar confuso da outra.
- Ah, nada não... – Respondeu dando de ombros. - Eu só estava pensando em uma forma de me vingar do Pietro... – Completou a garota com seu jeito travesso, o que de fato não era mentira, afinal, de forma alguma ela permitiria que a grosseria do rapaz passasse em pune.
Sim, ela com certeza pensaria em algo, mas não agora, afinal não existiam muitas opções quando não se tinha uma varinha, e sobre tudo quando haviam coisas mais importantes para se preocupar, por isso, com o passar dos dias, Estelar se dedicou totalmente ao estudo das leis que regiam o mundo bruxo, esperando que assim tivesse uma base para se defender diante da corte. Logo, a rotina da garota se resumia aos estudos, e a tarefa ininterrupta de tentar alegrar as ouras, em um esforço de manter um clima no mínimo suportável durante as refeições naquele lugar, que ela já não suportava mais...
E naquele dia especificamente, a porta cerrada de seu quarto, a incomodava mais do que em qualquer outro momento, enquanto se sentia de mãos atadas diante do acontecido com Melanie. “Estão brincando com a gente... Só pode ser! Deve existir alguém, em algum lugar, que está se divertindo as custas do nosso sofrimento. Eu não vejo outra explicação...” Pensava Estelar, enquanto caminhava dentro do quarto, nervosa e ansiosa, tentando desesperadamente encontrar uma explicação para tudo o que vinha acontecendo, entretanto, por mais que pensasse, ela sempre estagnava em um mesmo ponto.
- Se eu ao menos pudesse ouvir a profecia completa... – Suspirou ela, lamentando-se por não ter feito antes o feitiço que transcreveu as palavras da professora Trelawney, afinal, talvez assim conseguisse encontrar algum sentido, ou uma pista, que a sua memória falha daquele dia pudesse ter deixado passar...
Ainda caminhando em círculos, a menina tentava em vão ordenar os seus pensamentos, que insistiam em lhe encher a mente com projeções obscuras e dolorosas do seu futuro, que agora ela sentia ser tão incerto, às vésperas de seu depoimento.
- Humpf... – Exasperou-se ela, parando abruptadamente os seus passos. – Eu preciso fazer alguma coisa, ou vou acabar maluca! – Concluiu, olhando ao redor aflita por encontrar algo que pudesse distraí-la.
Com movimentos rápidos, a Grifinória se lançou em uma busca desordenada através de seus pertences, revirando cada pedacinho daquela lugar, causando um verdadeiro caos, comparado a penas a bagunça do quarto da Lufa-lufa, onde era preciso um verdadeiro talento para se caminhar e não tropeçar em todas as coisas espalhadas pelo chão.
- Ahá! – Gritou a menina. – Eu sabia, eu sabia que ainda tinha alguma coisa. – Continuou ela, tirando o próprio tronco de dentro do baú, onde estava debruçada, enquanto comemorava o seu achado.
Com um misto de alegria e antecipação, Estelar correu até a porta, ficando na ponta dos pés para olhar pelo visor e conseguir enxergar do lado de fora, ansiosa por saber quem seria o auror que estaria de plantão.
- Perfeito! – Sorriu, apertando firmemente em suas mãos o tão famoso produto das “Gemialidades Weasley´s”.
Satisfeita, a garota se afastou da porta, esperando pelo horário de almoço, quando o feitiço que a mantinha trancada no quarto seria desfeito, e então finalmente, ela poderia ter um pouco de diversão bem ao estilo Estelar Lupin de ser, e ainda, ao mesmo tempo, garantir a sua vingança contra o auror Pietro, afinal, nada o enlouquecia mais do que bagunça generalizada... Então, após algum tempo, que para a menina mais pareceu uma eternidade, as portas foram destrancadas, e tão logo isso aconteceu, a Grifinória se lançou para o lado de fora, mirando o auror com a sua pontaria perfeita de artilheira, acertando-o diretamente no peito, onde explodiu a “Bomba fedorenta”, que rapidamente espalhou pelo ambiente o seu cheiro nada agradável, forçando as outras garotas a abandonarem os seus quartos, quando o fedor as alcançou... E enquanto Pietro gritava furioso, e as outras reclamavam, Estelar mau se aquentava de pé, tendo o seu corpo sacudido por um acesso de gargalhadas, abafadas apenas pelo lençol que ela segurava junto ao rosto, protegendo o seu olfato lupino apurado.
- Você não existe Estelar. – Cochichou Kayla de forma risonha.
- É, eu sei... – Suspirou ela ao se espreguiçar, relaxando o seu corpo ainda mais sobre a relva do jardim de Hogwarts, aproveitando o sol que batia sobre si.
A filha do professor Lupin estava por demais satisfeita com o resultado de sua travessura, afinal, quem imaginaria que Jhones e Shaw as levariam para o jardim, enquanto os outros aurores faziam os feitiços necessários para se livrarem do mau cheiro. Entretanto, nada se comparava a sensação recompensadora de ver as expressões calmas de Sarah e até mesmo de Melanie, enquanto ambas aproveitavam o ambiente aberto e arejado após quase três semanas de confinamento, o que por si só já fazia valer a pena o castigo que com certeza receberia pela brincadeira... É, definitivamente, aquele era um jeito muito apropriado de se relaxar antes de um dia como o de amanhã, quando seria a sua vez de prestar depoimento junto ao Ministério da Magia...
*
Falando em depoimento, pensando agora que já tinha passado, enquanto curtia mais uma vez a solidão do próprio quarto, a garota não podia deixar de achar tudo meio decepcionante, afinal, depois de tanto tempo, ela podia jurar que a promotoria seria muito mais ofensiva, e por que não criativa, ao invés de ficar usando o fato dela ser um lobisomem como algum tipo de prova convincente. Ou talvez, as acusações e provas tenham sido sim agressivas, ela não saberia dizer, já que havia se mantido alheia aos seus sentimentos, mantendo a calma e o foco, colocando em prática apenas o conhecimento das leis que havia aprendido durante a sua maratona de estudos, tendo como única gafe, o fato de ter chamado o Senhor Weasley de “Vô Arthur” ao invés de “Senhor Ministro”. De qualquer forma, isso já não importava mais, as palavras ditas por ela no tribunal não poderiam ser apagadas e ditas novamente, Estelar tinha ciência disso...
- Mas que coisa... – Suspirou a Grifinória, rolando mais uma vez na cama, focando a sua atenção ao que realmente havia chamado a sua atenção naquele dia.
O estranho comportamento da secretária pessoal de Arthur Weasley, a olhando com um sorriso debochado na face, por pouco não lhe passou despercebido, entretanto, mesmo em meio a tantos cheiros diferentes, a menina foi capaz de reconhecer o odor nauseabundo que emanava daquela mulher, fazendo-a retesar o corpo em desagrado e apreensão, já que aquele cheiro era comparado apenas ao que sentia emanar do professor Power.
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Ainda perdida em suas próprias lembranças e indagações, Estelar nem percebeu quando a sineta que anunciava o fim do recesso tocou, permanecendo sentada onde estava, com uma expressão de dúvida estampada em sua face.
- Estelar... - Chamou Andrew, encostando sua mão no ombro da menina, fazendo-a se sobressaltar de susto. - Foi mal. - Desculpou-se ele.
- O que foi? – Pigarreou a Grifinória, sentindo-se desconfortável por ser pega de surpresa.
- Ta na hora. - Respondeu o auror, sem fazer questão de esconder a preocupação que aquele momento trazia.
Suspirando de forma profunda, a garota se permitiu fechar os olhos por um segundo, em busca de tranqüilidade, para só então se levantar e seguir com as outras na direção da cúpula ministerial. “Tsc... Eu nem senti o tempo passar” Lamentou-se Estelar, sem conseguir conter a sensação de perda, afinal, talvez aquelas tivessem sido sua últimas horas de liberdade, e ela sequer as aproveitara de um jeito descente...
À frente do grupo, o auror Pietro Willians mantinha-se sério, impecavelmente profissional, por mais que internamente as coisas não funcionassem exatamente assim. “As possibilidades são pequenas, mas ainda existe uma chance...” Torcia ele, e embora transparecesse indiferença, enquanto apenas executava o seu trabalho, a atenção do rapaz estava completamente voltada para aquelas quatro jovens, cada uma tão diferente da outra, mas ainda assim, unidas por uma mesma sina... Sina essa, que não parecia importar nem um pouco para Melanie, que de repente, tomada pela determinação, marchava logo atrás do auror, com a cabeça erguida, decida em acabar o mais rápido possível com tudo aquilo. Em contra partida, a Sonserina seguia em uma letargia quase dolorida, arrastando consigo todo o peso das correntes que a prendiam ao seu próprio sobrenome manchado pelo passado, a mantendo naquele cerco de culpa, fazendo das paredes que a cercavam no corredor, um túnel que a levava diretamente para o fim. Por isso Sarah voltou a sua atenção para o número exagerado de aurores que as cercavam, decidida a pensar em qualquer outra coisa que não fosse um futuro sombrio e solitário, dentro de uma cela em Azkaban. “Isso é ridículo...” Pensou ela, assim que percebeu, perguntando-se o porque de ter todos aqueles homens as escoltando, afinal, o que meninas como elas poderiam fazer agora? Então, sem que pudesse evitar, a filha do professor Malfoy, deixou que sua imaginação flutuasse, quase se divertindo com a visão de um imenso lobo negro, uivando e mordendo, colocando para correr todos aqueles velhos que compunham o júri. Mas foi apenas “quase”... Afinal, a máscara da Sonserina permanecia como se feita de gelo, imutável, até mesmo quando os seus pés cruzaram os batentes da porta, permitindo então, que toda a atmosfera sufocante gerada pela ansiedade dos presentes, recaísse sobre os seus ombros, engolindo-a juntamente com as demais, que também se deixaram levar pelo clima pesado do lugar. “Ta tudo bem Kayla, tudo bem...” Recitava mentalmente a Corvinal para si mesma, ainda alimentando a esperança de que tudo acabaria bem, embora vez ou outra cometesse alguns delisses... Então, sem que esperasse, a lembrança de um filme “trouxa” que assistira com seus pais, lhe invadiu a lembrança. “Certo, de acordo com o filme, os jurados que culpam, nunca conseguem olhar nos olhos dos acusados. Então eu só tenho que olhar para eles, para ter uma idéia do que vai acontecer...” Raciocinou Kayla, levantando a cabeça lentamente, postergando o momento, enquanto tomava coragem.
- Nós estamos ferradas... – Resmungou ela sem se conter, ao reparar que nenhum dos jurados a encarava.
- Relaxa Kayla. – Sorriu Estelar, segurando a mão da outra entre as suas, na tentativa de passar-lhe tranqüilidade, muito embora, sentisse a sua própria ruir, principalmente depois de seu olhar ter se cruzado com o do professor, e agora diretor de Hogwarts, Daniel Power. “Quanto maior for o seu pedestal, maior vai ser a queda... Idiota!” Pensou a menina, sonhando com o momento em que enfim poderia se vingar daquele homem...
- Todos de pé. – Solicitou o porta-voz, assim que as rés foram encaminhadas para os seus lugares. – A sessão está aberta, e presidindo-a, excelentíssimo Ministro da Magia Senhor Arthur Weasley.
Rapidamente, o Senhor entrou na sala e se sentou, indicando com um gesto para que todos os presentes fizessem o mesmo, enquanto ele remexia em uma pequena pilha de pergaminhos, parecendo muito concentrado em não olhar para mais nada que não fosse aquilo que tinha em mãos, aumentando ainda mais o clima de apreensão que já havia no lugar.
- Ai gente... – Choramingou Kayla mais uma vez.
- Fica quieta. – Sibilou Sarah, realmente incomodada com o pânico que a Corvinal não conseguia mais controlar.
- Senhoras e Senhores. – Chamou o ministro em um estranho tom de voz. – Hoje, após quase um mês inteiro, nós finalmente chegamos ao fim desses julgamentos, que de todas as formas possíveis abalaram com as estruturas da nossa comunidade. Entretanto, antes de continuarmos, eu gostaria de dizer algumas palavras. Dadas as últimas provas apresentadas aqui, neste tribunal, como Ministro da Magia, cuja obrigação para com os bruxos e bruxas deste país, me obriga a ser totalmente sincero, eu lhes digo que sim, a tal profecia mencionada existe, e já há alguns anos temos o conhecimento dela. Senhores, por favor... – Pediu ele, assim que um burburinho se formou. – É óbvio que por motivos de segurança, não será revelado o seu conteúdo, por isso, já previno que não importa o que façam, essa informação não será passada adiante. – Disse, dirigindo-se aos repórteres eufóricos que acompanhavam o julgamento. – E embora nós saibamos que, nem toda a profecia feita chega a se realizar, é nosso dever, nos certificar e garantir a segurança acima de tudo. – Continuou, indicando a si mesmo e os aurores presentes, enquanto prestava atenção nas expressões alarmadas da maioria das pessoas. - A paz... – Suspirou o homem, disposto a cumprir o seu papel, apaziguando os ânimos. – Esse estado de despreocupação e alegria ao qual nós tanto valorizamos, nada mais é do que uma simples e frágil película, ao qual se forçada, se rompe com facilidade, nos expondo as tão terríveis tempestades... Mas, como eu mesmo já presenciei, sempre existiram aqueles, que por mais terrível que seja o temporal, sempre irão se levantar e lutar. Por isso, Senhoras e Senhores, sejam quais forem os tempos que se aproximam, eu garanto que...
Sem prestar a mínima atenção nas palavras do ministro, Melanie remexeu-se na cadeira, incomodada com a demora do resultado, não que isso fizesse muita diferença para ela, afinal, presa ou não, os seus planos continuariam os mesmos... De qualquer forma, todo aquele papo de paz, cheio de falsas esperanças, a estavam irritando e somente por esse motivo, a Lufa-lufa se permitiu levar por suas recordações, que a lançaram de volta para os piores dias da sua vida...
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Memórias:
Caminhando em silêncio pelo extenso corredor, Melanie já se sentia fraca, antecipando o momento em que finalmente chegaria a sua vez de se sentar diante do Ministro da Magia e seus conselheiros, para prestar seu depoimento. O que de acordo com a narrativa das demais, que já tinham passado por tal experiência, seria sem sombra de dúvidas, um dos momentos mais aterrorizantes de todo aquele pesadelo... Entretanto, quando a Lufa-lufa alcançou a cúpula ministerial e tomou seu lugar, a única coisa que a menina pode sentir foi tristeza, afinal, ela esperava encontrar o rosto de Gustavo entre as pessoas que estavam reunidas ali para assistir o julgamento, porém, por mais que ela se virasse em seu acento, procurando pelo rapaz, ele não estava presente. “O Gustavo me abandonou...” Pensou ela com amargura, sem prestar muita atenção ao sorriso amoroso que sua mãe lhe direcionava.
- Senhorita Belford. – Chamou o Senhor Weasley.
A voz de Arthur, por mais gentil que fosse, soou para Melanie como o urro de uma fera, que a trazia de forma dolorida para a realidade, arrancando-a do conto de fadas, que agora, enquanto tentava responder as perguntas que tão cruelmente lhe eram feitas, lhe pareciam pertencer à vida de outra pessoa, e não a dela...
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Quando a garota voltou do ministério aquele dia, e ainda hoje, ela não sabia dizer ao certo se havia conseguido explicar as coisas como deveria, ou se tinha só piorado ainda mais a sua situação, aliais, para ela agora era impossível recordar uma palavra sequer que tinha dito em seu depoimento, afinal, tais lembranças não tinham mais o menor significado, pois o medo não mais a atingia, já que havia simplesmente parado de se importar com o seu futuro. Por isso, ela permitiu que as sombras a envolvessem, arrastando-a para as memórias que insistiam em não abandoná-la, repetindo-se em sua mente, como em um circulo interminável...
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Memórias:
Sentada à mesa junto com as outras, Melanie tomava o seu café da manhã, enquanto ria das piadas de Estelar, e das caretas de reprovação que Sarah sempre fazia para a Grifinória antes de pegar qualquer coisa para comer e voltar a para o próprio quarto. “Ainda bem que a Estalar está tão disposta a nos fazer rir, caso contrário, eu não...”
- Melanie. – Chamou Jhones, interrompendo o raciocínio da menina. – Venha comigo, por favor...
Sem que pudesse dizer por que, a Lufa-lufa sentiu o clima ao seu redor pesar de maneira sufocante, ao olhar para o rapaz, e enxergar nele, algo muito parecido com pena... “Mas o que está acontecendo? Porque ele está sendo tão educado?” Perguntou-se ela preocupada, enquanto se levantava e o seguia de volta ao seu quarto.
- O que foi? O que está... – Começou apressada, ansiosa por entender a angústia que aos poucos se implantava em seu coração.
- Mantenha a calma. – Interrompeu o auror mais uma vez. – Sente-se...
- Não! Eu não vou me sentar. – Tornou a menina em tom alterado.
- Tudo bem... – Suspirou ele. – Eu... Eu sinto muito ter que lhe dizer isso, mas você precisa saber. – Concluiu, preparando-se para agir de forma direta e impessoal, assim como haviam lhe ensinado em seu treinamento. - O seu pai, o Ministro trouxa, foi encontrado decapitado em seu escritório essa madrugada.
O Mundo de Melanie parou...
A garota de repente não era mais dona de seu próprio corpo, e por isso, para ela foi impossível deter que seus joelhos cedessem, levando-a de encontro ao chão, onde só não bateu porque Ryan a segurou, embora fosse incapaz de encará-la e se deparar de forma indiferente, com toda a dor expressada em seus olhos lagrimosos, que pareciam tão perdidos e incrédulos diante da notícia.
- Olha, eu sei que deve ser difícil, mas você precisa ser forte... – Falou ele, enforcando-se para evitar o máximo que podia de contato físico enquanto a segurava. – A sua mãe vai precisar de você, e ainda tem o julgamento, então você não pode se...
- Cala a boca. – Ofegou, surpreendendo o outro.
- O que?
- Cala a boca, cala a boca, cala a boca... – Gritava ela repetidamente, cada vez mais alto, se negando a escutar qualquer tipo de conforto ou encorajamento.
Com raiva, e diversos outros sentimentos, ela lutou para se desvencilhar dos braços do rapaz, que de fato não ofereceu muita resistência, logo se deixando guiar para o lado de fora do quarto, uma vez que realmente não sabia como agir naquele tipo de situação... Com toda a força que podia dispor, a Lufa-lufa bateu a porta do quarto, logo em seguida, jogando-se com um pulo sobre a cama, onde apertou o próprio rosto contra o travesseiro, abafando os seus gritos, que davam vazão a toda a dor que estava esmigalhando-a por dentro.
Melanie não saberia dizer durante quanto tempo permaneceu ali, com o seu corpo sendo sacudido pelo choro descontrolado, embora pudesse garantir que já seria o bastante, para que Kayla e as outras soubessem o que tinha acontecido, a julgar pelas insistentes batidas em sua porta. De qualquer forma, ela não queria ver ninguém, se reusava a fazer isso e ter que agradecer as palavras gentis que com certeza lhe diriam, quando na verdade, a única coisa que queria, era a morte daquele que tinha tirado dela, um dos seus maiores tesouros...
Algumas horas depois, um grupo de aurores foi buscá-la, para a acompanharem até o cemitério, onde um grande número de pessoas se reunia, para assistir o enterro do Ministro Belford, que após alguns discursos em sua memória, teve o seu caixão lacrado descido até a cova, aumentando ainda mais a sensação de desamparo da menina, que não contava com nenhum conhecido por perto, pois o delicado estado da saúde mental de sua mãe a tinha impedido de comparecer. “Como algo assim pode acontecer?” Questionava-se ela, satisfeita por poder se perder nas próprias indagações sem ser interrompida, afinal, os aurores ao seu redor, impediam que qualquer um se aproximasse. “O meu pai era uma boa pessoa, ele nunca fez nada de errado... Porque alguém o mataria assim? Porque tanta crueldade?”
- Foi um trágico acidente... – Lamentou-se alguém, chamando a atenção da menina.
- O que você disse? – Quis saber ela, dirigindo-se ao grupo de pessoas que passava, sem se importar com a forma reprovadora que os aurores a olhavam.
- Oh, eu disse que foi muito triste como o Senhor Belford partiu... – Choramingou a mulher. – Um homem como ele não merecia morrer em um acidente de carro daquele jeito.
- Acidente de carro... – Sussurrou Melanie confusa, encarando com incredulidade os homens do ministério que a cercavam.
- Nós achamos mais seguro abafar como realmente aconteceu, espero que entenda. – Explicou de maneira discreta um dos aurores.
Sentindo-se ainda pior, mesmo que isso parecesse impossível, a Lufa-lufa se deixou levar de volta para Hogwarts, enquanto tentava desesperadamente compreender o que de fato estava acontecendo. “Por que o ministério bruxo interferiria assim? Por que estão mentindo para as pessoas? Por que, por que...” Eram mais algumas de suas muitas perguntas, que ela sabia, demorariam a terem as suas respostas...
Então, à medida que os dias iam passando, Melanie se distanciava cada vez mais das outras, entregando-se a um mundo sombrio e particular, onde sua mente insistia em vagar em meio à solidão da indiferença, uma vez que toda a sua vida tinha perdido o sentido.
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“Mel...” Chamou alguém de forma incerta, com a sua voz nebulosa vinda de longe, mas que ainda assim chamou a atenção da Lufa-lufa, que mesmo recusando-se a sair de seu próprio mundo, onde a dor havia se tornado uma companheira constante, a garota se descobria mais próxima do presente, à medida que os sons de outros murmúrios chegavam aos seus ouvidos, embora fosse incapaz de compreender ou identificar a quem pertenciam. “Não!” Protestou Melanie mentalmente, lutando para se manter longe, na tarefa de tentar substituir as últimas lembranças, por recordações felizes dos momentos passados com a sua família. “Não...” Repetiu ela, ao falhar miseravelmente em sua tentativa, afinal, mas nada havia restado a ela, somente o ódio...
- Melanie, você está tremendo. – Disse Kayla, ao fechar suas mãos ao redor do punho cerrado da Lufa-lufa, obrigando a menina a voltar definitivamente para o presente.
Aborrecida com a interferência da Corvinal, Melanie pensou por um momento em dizer qualquer coisa que pudesse expressar a sua contrariedade, no entanto, assim que olhou para a outra e reparou em toda a preocupação que estava evidente em seu rosto, ela desistiu. Não poderia ser rude com alguém que só estava querendo ajudar... Entretanto, ainda assim, a garota dos cabelos coloridos de outrora, brigou para puxar a sua mão e livrá-la das de Kayla, que continuou a segurá-la firmemente, enquanto exibia um bobo sorriso, muito satisfeita com sigo mesma, por conseguir manter aquele tipo de contato, com alguém que a muito se recusava em receber qualquer tipo de gesto de carinho e amizade.
- O júri chegou a um veredicto? – Perguntou o Ministro, interrompendo a pequena briga que se travava entre as duas meninas.
- Sim Senhor, nós chegamos. – Respondeu o presidente do júri.
- Muito bem então... – Suspirou Arthur. – Conforme o protocolo, os crimes supostamente cometidos por essas meninas serão julgados separadamente de acordo com cada incidente. – Explicou ele, dirigindo-se a platéia. – Portanto, seguiremos a ordem com que os fatos se apresentaram. – Pigarreou. – Em primeiro, o Ministério contra Sarah Malfoy, sob a acusação da morte da então diretora de Hogwarts Minerva McGonagall. Qual é o veredicto? – Perguntou, indicando com um gesto, que a palavra agora pertencia ao porta-voz dos jurados.
- Após uma detalhada avaliação das provas, incluindo da varinha da Senhorita Malfoy, o júri chegou a um Consenso... Nós a declaramos inocente das acusações! – Declarou o Senhor, em um tom sóbrio de voz.
A Sonserina com certeza não saberia dizer qual seria a sua expressão, mas podia garantir, que por um momento o chão sob os seus pés lhe faltou, tamanha a sua surpresa, fazendo com que cambaleasse, e embora soubesse que não perderia o controle do próprio corpo, não se importou quando o braço de Estelar pousou em suas costas, escorando-a, enquanto ambas soltavam a respiração que sequer haviam reparado terem prendido. Sarah não disse nada, não emitiu um ruído sequer, e mesmo que tivesse, não faria a menor diferença, afinal, o falatório que se formou por aqueles que assistiam ao julgamento, teriam abafado qualquer som...
- Merlin... – Ofegou Draco, enquanto relaxava, parcialmente, os punhos cerrados, sem nem ao menos notar o sorriso de cumplicidade que Ninfadora lhe dedicava à distância, enquanto perguntava-se o quanto mais daquela pressão psicológica poderia suportar...
- Ela conseguiu! – Disse Ted aliviado, desviando a atenção de sua mãe para si, que em resposta, apertou sua mão, ao mesmo tempo em que ambos se permitiam sorrir, alegres pelo resultado.
- Atenção Senhoras e Senhores! – Alertou o porta-voz, esforçando-se para sobrepor a sua voz, acima do falatório que se formara. – Atenção! – Bradou ele, finalmente conseguindo o que queria. – A vontade Senhor Ministro.
- Obrigado... – Suspirou mais uma vez o senhor. – No caso do julgamento, o Ministério contra Melanie Belford, Kayla Drummond, Estelar Lupin e Sarah Malfoy, todas sob a acusação da morte da aluna da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Sophie Malfatini, senhores jurados, qual é o veredicto? – Perguntou Arthur em um tom seco, ansioso por acabar logo com tudo aquilo.
- Diante de todas as provas e depoimentos apresentados, o júri declara as rés mencionadas, inocentes das acusações. Entre...
Após as palavras “inocentes das acusações” terem sido ditas, mais nada do que o jurado chefe falava poderia ser ouvido, afinal, os gritos de comemoração, principalmente por parte dos Lupin´s e amigos, acompanhados pelo alvoroço da imprensa, foi mais do que suficiente para interromper seja lá o que for que o homem pretendia dizer. E muito embora tal resultado fosse ainda mais importante para as quatro garotas, todas elas, até mesmo Kayla, foram incapazes de esboçar qualquer tipo de reação, tamanho o espanto que cada uma sentia diante daquele veredicto... Com grande satisfação, Hermione entregou-se a entusiasmada festividade, sem se importar com o protocolo que a situação exigia, ou com as lágrimas que discretamente desciam por sua face, turvando sua visão. Entretanto, mesmo perdida em meio ao momento, a mulher foi capaz de racionalizar e voltar a sua atenção para Malfoy, ansiosa por saber que tipo de expressão encontraria em seu rosto, porém, nada que ela pensasse a poderia preparar para aquilo, porque convenhamos, gratidão não era o tipo de sentimento que alguém como Draco Malfoy costumava demonstrar. E mesmo que a troca de olhares entre ambas, não tenha durado mais do que alguns poucos segundos, já que o professor de poções logo voltou a direcionar a sua atenção para a filha, Hermione não pode evitar o largo sorriso que se formou em seus lábios, ao mesmo tempo em que o seu coração alcançava um ritmo acelerado... “Mas que droga Hermione, se controla!” Pensou ela de maneira reprovadora, enquanto perguntava-se o que estava acontecendo, afinal, aquele era apenas o Malfoy, nada além, portanto, não... De repente, os pensamentos da mulher, assim como o burburinho geral, foram interrompidos pelo som que retumbou pela sala.
- Silêncio! – Disse o Ministro, fazendo uso do feitiço “SONORUS”. – Vamos manter a ordem no tribunal. – Completou de forma enérgica. – Continue.
- Pois bem, como eu ia dizendo... – Manifestou-se o porta-voz do júri, tão logo assim que o ministro solicitou, embora não demonstrasse insatisfação por ter sido interrompido. – O júri considerou as rés inocentes, mas ainda assim, decidimos aplicar a elas, o que eu gosto de chamar de medidas preventivas... O nosso objetivo com isso, é não só proteger os alunos de Hogwarts, mas também evitar qualquer tipo de incidente no futuro, visando para as crianças da nossa sociedade a segurança e educação de qualidade. – Sorriu ele. – Portanto, o júri sugere que as alunas Melanie Belford, Kayla Drummond, Estelar Lupin e Sarah Malfoy, continuem em um ambiente separado no castelo, sendo acompanhadas de perto por um seleto grupo de aurores, que deverão mantê-las dentro das normas do lugar, mas que principalmente, as mantenham protegidas até que o ministério possa averiguar o que de fato significa a profecia aqui mencionada. O Júri sugeri também, que seja implantada na escola de magia e bruxaria, a presença de um psicólogo e pedagogo, que será indicado pelo ministério, com o objetivo de ajudar e orientar da melhor forma possível os jovens alunos que possam apresentar algum tipo de dificuldade em sua vida acadêmica. Deixando claro, que essas meninas aqui reunidas, estariam impostas a comparecerem em tais aulas, que deverão ser realizadas em horários particulares, de acordo com a necessidade de cada uma. Isso é tudo Senhor Ministro. – Pontuou o homem em tom ameno, satisfeito por poder cumprir o seu papel.
- Todas as sugestões são totalmente plausíveis, portanto, aceitas. – Declarou Arthur. – Por isso, nada mais havendo a tratar, eu declaro encerrado o caso. – Concluiu ele, feliz por finalmente poder bater o martelo.
Quando o som característico das duas batidas que indicavam o fim do julgamento, chegou ao ouvido das meninas, este funcionou como um despertador, que por fim as tirou do torpor que haviam entrado.
- Ai gente... – Foi a única coisa que Kayla conseguiu dizer, antes de suas mãos cobrirem a própria boca, que esboçava um grande sorriso.
Ao mesmo tempo, Melanie se deixava cair sentada de volta a cadeira, perdida em meio aos seus sentimentos, alheia a ruidosa gargalhada que Estelar deixou escapar, enquanto abraçava a Corvinal, que agora desmanchava-se em lágrimas.
- Está tudo bem Kayla, tudo bem... – Disse a filha do professor de DCAT, embalando a outra em seus braços.
- É que eu... – Fungou a morena. – Eu não consigo acreditar. Foi tudo tão, tão doido que eu simplesmente não consigo acreditar.
- Mas nós conseguimos. – Sorriu Estelar. – E é isso que importa!
Decidida, a Grifinória se desvencilhou de Kayla, esticando os seus braços até Melanie, levantando-a da cadeira, logo em seguida puxando Sarah também, que ainda continuava parada no mesmo lugar como uma estátua, mas que ainda assim não ofereceu resistência alguma, quando Estelar juntou as quatro em um abraço, afinal, a Sonserina sabia, precisava daquilo...
- Nós conseguimos! – Comemorou a garota mais uma vez. – É, ninguém pode com a gente. – Brincou.
A visão daquelas quatro juntas e abraçadas, compartilhando um momento único, seria capaz de emocionar qualquer um, e por isso, o Ministro Weasley não se importou, quando as pessoas que assistiam ao julgamento, quebraram o protocolo e invadiram o pátio, cumprimentando e abraçando as rés, agora inocentadas... Em meio tantos abraços e outros gestos entusiásticos de solidariedade, Kayla e as outras se perderam naquele mar de pessoas, em sua grande maioria desconhecidas, o que levou a Sonserina a se perguntar desde quando elas haviam passado de assassinas cruéis e desalmadas, para jovens inocentes vítimas, enquanto se via cada vez mais afastada dos braços reconfortantes de seu pai, que seguia em frente, recebendo de bom grado os cumprimentos que lhe eram dirigidos, sem fazer a mínima questão de esconder o sorriso de satisfação, comprovando o quanto situações adversas poderiam sim, unir as mais diferentes pessoas.
- Mas que coisa... – Resmungou a filha do professor de poções, com uma careta em sua face, deixando evidente a sua insatisfação, e até certo ponto, ciúmes.
- Sarah... – Chamou alguém, fazendo o corpo da menina se retesar em ansiedade, afinal, ela reconheceria aquela voz em qualquer lugar.
E antes mesmo que a Sonserina pudesse se virar por completo, os braços fortes de Ted a envolveram, levantando-a do chão, em um abraço calmo e repleto de carinho.
- Eu disse a você que estaria aqui para abraçá-la quando tudo terminasse, não disse? – Sussurrou ele.
- É, você disse. – Respondeu Sarah com um discreto sorriso, apertando-se o máximo que podia junto ao rapaz, feliz por enfim poder tocá-lo depois de tanto tempo.
E embora eles tenham permanecido um bom tempo abraçados, Sarah não pode deixar de sentir raiva, quando Estelar pulou nas costas do irmão, interrompendo o momento do casal, obrigando-os a se separarem.
- Caso vocês tenham esquecido, isso ainda é um segredo, então peguem leve... – Sorriu a Grifinória. – Agora vai Ted, abraça lá as outras duas, e finge que não existe nada de pessoal nisso tudo, assim quem sabe, vocês não conseguem manter as coisas como eram antes. – Concluiu ela com uma significativa piscadela.
Sem contestar, o ex-grifinório se afastou, perguntando-se desde quando sua irmã havia se tornado tão esperta em situações como essa, afinal, ela tinha razão, e se ele realmente queria o seu trabalho como auror de volta deveria seguir o seu conselho, muito embora, Ted estivesse pensando, pela primeira vez, em fazer uso da regalia de ter seu avô de consideração como Ministro da magia.
- Olha lá Sarah. – Falou Estelar, cutucando a outra nas costelas com o seu cotovelo, indicando com um meneio de cabeça, a inusitada cena que acontecia não muito longe delas...
Com um educado e formal aperto de mão, Lupin e Malfoy se cumprimentaram, ambos não deixando que seus rostos expressassem mais nada além do que o necessário. Entretanto, quando Draco estendeu a sua mão para Ninfadora, esta ignorou por completo qualquer tipo de rixa antiga entre famílias, abraçando-o com intensidade, enquanto bagunçava o cabelo do professor, como se ele não passasse de um garoto, o que o surpreendeu e é claro, o irritou profundamente, o que ficou óbvio em sua face, que direcionava a mulher um olhar gélido repleto de reprovação, ao mesmo tempo em que Estelar e até mesmo Sarah, riam de maneira debochada da estranha situação...
De acordo com a recomendação de sua irmã caçula, Ted seguiu adiante e também cumprimentou e abraçou a entusiasmada Kayla e Melanie, embora a segunda não se mostrasse muito receptiva a qualquer tipo de demonstração de felicidade, o que na realidade era perfeitamente compreensível, por isso, ninguém estranhou quando a Lufa-lufa simplesmente se afastou, voltando a sentar... Com uma fisionomia nenhum pouco convidativa, Melanie manteve-se em seu lugar, satisfeita por mais ninguém lhe incomodar, enquanto remoia de forma dolorida e preocupada, o atual estado de saúde de sua mãe, ainda internada no Sant Mung´s em choque, dias após receber em casa a cabeça do próprio marido dentro de uma caixa, como em um malévolo e bizarro presente. “Seja quem quer que tenha feito isso vai pagar...” Pensou a menina, incapaz de sentir qualquer outra coisa que não fosse raiva e desejo de vingança.
- Ao que parece, a verdadeira tempestade apenas acabou de começar... – Suspirou Melanie, por fim dando-se conta de que ela e as outras, tinham tido seus destinos traçados de maneira cruel por uma enigmática profecia...
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N/A(Bárbara): Pois é... Capítulo grande, para condizer com as fortes emoções... Elas se livraram... Que bom não acham? Bom pessoal, nós agora estamos na contagem regressiva para o fim dessa fase... O próximo capítulo é o final... É muito bom ter essa sensação de dever cumprido, mas também é ruim, porque dá um vazio...
Obrigada a todos por acompanhar a nossa fic!
Até o próximo capítulo!
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My Own Prison (Creed)
Uma Corte está na sessão, um veredicto será dado
Nenhuma Apelação no Tribunal hoje
Apenas o meu próprio pecado
As Paredes são frias e pálidas
A Gaiola feita de ferro
Gritos enchem a sala
Sozinho eu caio e me ajoelho
Silencio, agora o som
Minha respiração, o único movimento ao redor
Demonios Desordenando a minha volta
Meu rosto não está mostrando emoção
Acorrentado pela minha sentença
Não esperando alguma volta
Aqui não tem penitencia
Minha Pele começa a queimar
Gritos enchem a sala
Então, eu segurei minha cabeça mais alto
Ódio escondendo o que se queima por dentro
Com apenas combustivel para o seu orgulho egoista
Gritos enchem a sala
Todos Captaram
Fora do Sol
Um Sol que só ilumina alguns
Nós vamos amansá-los todos em um
Eu ouço um trovão na distancia
Vi uma visão de uma plantação
Eu senti a dor que aquilo me deu
Naquele triste dia de perda
Um leão rugia na escuridão
Só ele segurava a chave
Uma luz para me livrar do fardo
E Me deu vida eterna
Deveria ter sido morto
Numa manhã de Domingo
Atirando na minha cabeça
Sem tempo para a manhã
Não temos tempo
Deveria ter sido morto
Numa Manhã de Domingo
Atirando em minha cabeça
Sem tempo para a manhã
Não temos tempo
Refrão
Eu clamei a Deus
Esperando somente Sua decisão
(Esperando somente Sua decisão)
Gabriel levantou-se e confirmou...
Eu criei minha própria prisão
Refrão.
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