Jump



*** Capítulo 28 - Jump

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"Você está pronto para pular?
Esteja pronto para pular
Jamais olhe para trás, baby
Sim, estou pronta para pular
Apenas pegue em minhas mãos
Esteja pronto para ...você está pronto?"

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No céu, erguendo-se pela primeira vez, iniciando o seu ciclo, a lua minguante se mostrava com perfeição, tal qual em uma pintura, que naquele momento, encaixava-se com exatidão aos acontecimentos, indicando não só o fim de uma fase, mas que também trazia consigo, a promessa de um futuro, que agora que podia enfim saborear a liberdade total, Kayla sabia, ser promissor...

- É uma pena que as outras não tenham vindo... – Suspirou a menina, enquanto apreciava o luar, ao caminhar com tranqüilidade por mais um dos corredores de Hogwarts, dirigindo-se a sala comum.

Com tristeza, a Corvinal lamentou não poder contar com a companhia das outras ao voltar aquele lugar para pegar as suas coisas, pois depois de tanto tempo compartilhando tal espaço, lhe parecia errado entrar ali sozinha. Entretanto, ela nada podia fazer, afinal, nem bem o julgamento terminara, e Draco e Lupin já arrastavam a suas respectivas filhas, levando-as embora, enquanto Melanie era escoltada por uma dupla de aurores até o hospital bruxo Sant Mung´s, onde a sua mãe permanecia internada em estado de choque, após a morte trágica do marido. “Coitadinha da Mel...” Choramingou ela em pensamento, ao mesmo tempo em que passava distraída, pelos batentes da porta aberta pelo auror que a acompanhava.

- Ai, minha nossa! – Sobressaltou-se a garota, se assustando ao esbarrar na figura diminuta à sua frente, derrubando-a. – Puxa, me desculpe... Você está bem? – Quis saber ela preocupada, dirigindo-se ao elfo doméstico, lembrando-se com apreço, das inúmeras vezes que ela e as outras, visitaram a cozinha do colégio á noite, durante o período letivo, onde foram sempre muito bem tratadas.

Abaixando-se com presteza, Kayla se apressou em ajudar o elfo a catar os muitos livros espalhados pelo chão, mas logo assim que estendeu a sua mão para pegar o primeiro, arrependeu-se, afinal, a expressão da criatura, olhando-a de forma depreciativa, não lhe pareceu nenhum pouco convidativa.

- Não toque nas coisas da Senhorita Malfoy! – Disse o elfo com a sua voz desafinada, enquanto juntava da forma mais rápida possível, a pilha de livros.

“Ah, então esse é um dos elfos domésticos da Sarah.” Pensou. – Está tudo bem, você pode me deixar te ajudar, eu não conto pra Sarah. – Insistiu ela com uma piscadela, sabendo muito bem a maneira como esses seres costumavam se comportar.

- Já disse para não tocar em nada sangue-ruim! – Gritou em resposta, o pequeno animal mal humorado.

- Ai nem, que termo mais fora de moda. – Sorriu Kayla, acertando um tapinha de descontração no ombro do elfo, realmente nenhum pouco ofendida com o xingamento.

Com uma careta de reprovação o elfo terminou de pegar os últimos pertences de Sarah, aparatando em seguida, enquanto ainda resmungava palavras ininteligíveis, mas que ainda assim, a Corvinal sabia, serem ofensas dirigidas a ela.

- Que bicho doido... – Sussurrou a menina dando de ombros, sem se importar com aquele tipo de preconceito, afinal, já fazia muito tempo que ela havia aprendido a dar valor ao que realmente importava...

Com um pulo, Kayla se levantou do chão, antecipando o momento em que finalmente se reuniria a sua família. “Nossa , como eu estou com saudades...” Pensou, ansiosa por reencontrar seus pais, ao mesmo tempo em que se dirigia a seu quarto, onde apressada, guardou as suas coisas no malão, embora não entendesse o sentido de levar tudo aquilo de volta para casa, quando em uma semana teriam de regressar ao colégio para o início das aulas do sexto ano. “Uma semana... Humpf, o que se pode fazer em uma semana de férias?” Bufou insatisfeita, ou quase, afinal, ficava feliz por saber que logo voltaria para aquele lugar que havia aprendido a gostar, pois fora ali, apesar de tudo, onde havia conseguido amizades verdadeiras...

Passar os dias, mesmo que poucos, ao lado de seu pai e sua mãe, que junto com ela formavam a pequena e humilde família Drumond, eram para a Corvinal um dos seus momentos mais preciosos, quer estivessem passeando, conversando, ou simplesmente um ao lado do outro, o que com certeza, depois de tanto tempo afastada, fazia valer a pena voltar a ser a “menina esquisita” da rua onde morava, afinal, ter os seus poderes bruxos despertados prematuramente, nunca fizeram dela a mais popular entre as outras crianças, pelo contrário... De qualquer forma, Kayla nunca reclamou, apesar de se sentir sozinha durante muito tempo, antes de finalmente conhecer outras pessoas como ela, quando iniciou as suas aulas em Hogwarts.

- Kayla. – Chamou a voz feminina, ao entrar em seu quarto. - O que você está fazendo? – Perguntou com curiosidade, ao reparar que a filha estava debruçada sobre um caderno.

- Mãe, não olha! – Protestou ela. – É o meu diário... Você não pode ver.

- Ora, deixa e ser boba, você nunca teve segredos comigo. – Tornou a mulher com tranqüilidade.

- Eu sei, mas é que é assim que um diário tem que ser, secreto, mesmo que eu já tenha te contado o que escrevo aqui. – Explicou, torcendo o nariz de forma engraçada, fazendo sua mãe rir.

- Tudo bem, tudo bem... Então, você não vai sair um pouco, aproveitar o sol? Ficar só dentro de casa não é muito saudável.

- Ah mãe, eu não tenho porque sair... Além do mais eu prefiro ficar na companhia de você e do papai. – Falou ao mesmo tempo em que se levantava da cama, para guardar o diário em uma das gavetas da cômoda.

- Ei, meu bem, o que é isso? – Quis saber a senhora Drumond, ao pegar do chão, o pequeno recorte que caíra de dentro do diário da filha.

- Ah, essa é uma foto do dia em que nos livramos de Azkaban. – Disse a menina, admirando a imagem retratada na foto.

- Sabe de uma coisa... Eu acho tão estranho esse lance de bruxaria, fotos se mexendo, e mais todas aquelas loucuras.

- Você se acostuma... – Sorriu.

- Eu duvido, mas se isso te deixa feliz... – Tornou com doçura.

- Hum... Acabei de reparar em uma coisa. – Comentou Kayla, com uma careta. – Essa é a única foto que existe de mim com as minha amigas. E olha que essa eu tirei do Profeta Diário. – Completou com indignação, como se aquilo se tratasse de um grave crime. – Ô mãe! – Chamou ela, de repente eufórica. – Eu posso comprar uma máquina fotográfica?

- Eu sinto muito Kayla, mas não estamos em condições de fazer esse tipo de extravagância... – Respondeu, sentindo-se péssima por notar a animação da filha se esvair de forma tão rápida, sem poder fazer nada a respeito.

- Tá tudo bem... Depois eu peço para uma das meninas tirar algumas fotos. – Deu de ombros, afinal, sabia que não podiam abusar nos gastos, já que em breve, teriam que fazer as compras do seu material escolar, que assim como nos outros anos, não seriam nada baratos, considerando o seu padrão de vida. – Além do mais, eu duvido que uma máquina trouxa normal funcione dentro do colégio com todos aqueles feitiços. – Concluiu de forma prática e compreensiva.

- E aí meninas! – Cumprimentou o homem, adentrando o lugar sem cerimônias. – Qual é a fofoca da vez? – Brincou.

- Oi pai... – Saudou a menina, feliz por ele ter chegado justamente naquele momento, a livrando da difícil tarefa de esconder a decepção de sua mãe.

- Então, minha filha, você está realmente decidida a passar os seus poucos dias de férias trancada dentro e casa!?

- Era exatamente isso que eu estava dizendo pra ela... – Concordou a esposa.

Remexendo-se incomodada, Kayla olhou para baixo, desviando o olhar, mesmo sabendo que ainda assim, os seus pais seriam capazes de entenderem o seu desconforto com a situação, afinal, eles a conheciam bem o suficiente para saberem os seus motivos de preferir permanecer em casa.

- Aqui. – Falou o seu pai, pegando em sua mão e depositando nela algum dinheiro. – Você é jovem e precisa da companhia de pessoas da sua idade, não só de dois adultos chatos e cheios de manias como nós.

- Mas pai...

- Está tudo bem, eu fiz uns extras. – Piscou. – E você merece... Agora vai, vai se divertir um pouco. – Ordenou e não pediu.

Sem outra opção, a garota logo se arrumou com o seu costumeiro visual hippe e saiu, decidida a caminhar até o shopping que ficava a mais de dez quadras de onde morava, pois sabia que quanto mais tempo permanecesse fora de casa, mais daria a seus pais, a idéia de ter se divertido. E embora Kayla não gostasse da idéia de passear sozinha, ela nem cogitou a idéia de chamar qualquer um de seus vizinhos, já que eles nunca a aceitaram por ser diferente, e com certeza não seria agora que iriam mudar de idéia. “Se eu ao menos tivesse o telefone da Mel...” Lamentou-se em pensamento, ao parar no meio fio da calçada, esperando que o sinal fechasse para que pudesse atravessar.

Foi então, quando um luxuoso carro parou diante do semáforo fechado, que a atenção da Corvinal voltou de seu mundo de suposições para a realidade, e mesmo estando ciente de tudo ao seu redor naquele momento, Kayla não foi capaz de acreditar de imediato que dentro do tal carro, no banco de trás, estava sentada aquela em quem havia pensado a poucos instantes...

- Mel! – Chamou ela de forma eufórica, descendo da calçada e indo até o veículo parado.

Com um sobressalto, Melanie olhou incrédula para figura sorridente que dava tapinhas em sua janela, ao mesmo tempo em que falava sem parar, embora o som de sua voz não passasse pelos grossos vidros blindados.

- Está tudo bem, ela é uma amiga! – Disse a Lufa-lufa, apressando-se em explicar, ao perceber que os homens nos bancos da frente, motorista e carona, dirigiam suas mãos apressadas a cintura, onde ela sabia, estarem guardadas as suas armas. – Kayla! - Chamou, logo assim que abriu a porta do carro. - Você por acaso ficou maluca, eles podiam ter te dado um ti...

- Ai nem, eu estou tão feliz de ter encontrar. – Comemorou a Corvinal, pulando no pescoço da outra, abraçando-a com entusiasmo.

E por mais que ambas estivessem no meio da rua, parando o transito, com os ansiosos motoristas buzinando ininterruptos logo atrás, ainda assim, elas conseguiram apreciar o reencontro, principalmente Melanie, que por fim se deixou acalentar, dias após a morte de seu pai.

- Senhorita... – Chamou um dos homens que estavam dentro do carro, interrompendo as duas. – Não é aconselhável ficar aqui pa...

- Vem Kayla, entra. – Cortou a garota, puxando a outra para dentro do veículo.

- Puxa, eu não acredito que te encontrei por aqui!. – Voltou a comemorar Kayla, tão logo assim o carro arrancou. – Pensei que você morava na Londres bruxa... O que tá fazendo por esses lados? – Continuou aos sussurros.

- Não... – Respondeu um tanto quanto aérea, embora também mantivesse o tom baixo de voz. – A minha mãe decidiu morar na Londres trouxa por causa do meu pai. Ela achava que ele não iria se adaptar aos costumes bruxos, sabe como é!? – Deu de ombros.

- É, dá para fazer uma idéia... Então, como você está? E a sua mãe? – Perguntou com preocupação.

- Melhor. – Murmurou.

- Escuta nem, quem são esses dois grandões de lá da frente? São aurores? – Quis saber, feliz por ter algo para que mudasse de assunto.

- Não, eles não são aurores. – Respondeu Mel. – São só os seguranças que o meu tutor contratou – Completou com uma careta de reprovação.

- Tutor!? – Estranhou a outra.

- É... – Suspirou. – Ele é um parente distante do meu pai, que eu nunca tinha visto antes, mas como era o único, a justiça o designou como meu tutor até a minha mãe sair do hospital.

- Nossa, isso deve ser estranho... – Comentou a garota.

- Nem me fala... Odeio ficar naquela casa grande sem a minha família de verdade.

- Ah, eu tive uma idéia! – Exaltou-se a Corvinal. – Você podia ir lá para minha casa. – Sorriu. – É meio pequena e tal, mas você vai gostar, tenho certeza. E os meus pais são engraçados, aposto que eles conseguem te fazer sorrir de novo. – Completou com inocência.

Comovida com a tentativa da outra, Melanie não pode deixar de se sentir um pouco melhor, ao constatar o quão valorosa era aquela amizade que mantinham. - É uma ótima idéia. – Concluiu, forçando um sorriso de concordância, enquanto lutava para não chorar.

Logo, de forma muito rápida, as meninas chegaram à casa dos Belford, onde Kayla não fez a menor questão de esconder o seu espanto diante da tão bonita mansão. “Caramba Mel, eu não sabia que você era tão rica...” Comentou admirada, deixando a outra sem graça, ao mesmo tempo em que entravam na sala onde estava o tal tutor de Melanie. E embora parecesse improvável, considerando o esquema de segurança que cercava a Lufa-lufa, não foi tão difícil assim convencer o senhor a permitir que a garota passasse suas férias junto da amiga, afinal, todas as duas sabiam ser extremamente convincentes quando necessário, principalmente depois que puderam contar com o entusiástico apoio do Senhor e da Senhora Drumond, que assim que receberam a ligação da filha, aceitaram de pronto a idéia, felizes por enfim poderem conhecer uma das meninas de quem Kayla tanto falara desde que havia voltado para casa.

A despeito do quão humilde Kayla considerava sua casa, embora não se envergonhasse disso, quando chegou ali, a Lufa-lufa não pode sentir outra coisa se não conforto, já que o clima familiar daquele lugar, muito a fazia se lembrar dos dias em que a sua própria família ainda era completa e feliz...

- Ô Mel, eu to falando com você! – Chamou a Corvinal, finalmente conseguindo a atenção da outra, que até então estava um tanto quanto distraída, enquanto ambas se sentavam à mesa da cozinha, para tomarem café. – Aqui, lê e me diz o que acha. – Disse, entregando a ela um pergaminho.

- O que é isso?

- É uma carta para a Estelar e outra para a Sarah. – Sorriu em resposta.

- Hum, Kayla, essas cartas não vão chegar nas casas elas, antes de cinco dias... – Ponderou.

- Tsc, droga... – Resmungou. – Seria tão mais fácil se elas tivessem um celular.

- Eu duvido que elas sequer saibam o que é isso. – Garantiu, divertindo-se com a idéia.

- Ah, não importa, eu vou mandar as cartas assim mesmo. – Deu de ombros. - A gente faz isso depois de visitar a sua mãe, aí, mais tarde, nós vamos na casa do Gustavo.

- O que!? – Surpreendeu-se Melanie. – De onde você tirou essa idéia?

- Ué nem, você tem o endereço dele, não tem!? Então é simples... – Falou após receber a confirmação da outra. - Se o Gustavo não te procura, nós vamos até ele. – Concluiu de forma óbvia. – Era por isso também que eu estava querendo falar com as outras, por que assim, quando a gente chegasse lá, a Estelar poderia dar umas porradas nele, por ficar tanto tempo sem te dar uma notíciazinha...

- Eu não sei se isso é uma boa idéia... – Comentou, fazendo uma careta.

- Claro que é! Você precisa saber o que aconteceu, assim a gente vai lá, descobre logo, e acaba com esse sofrimento todo de uma vez. – Pontuou a morena com convicção, não deixando espaço para que a Lufa-lufa protestasse.

Então, de acordo com os planos de Kayla, as duas visitaram a mãe de Melanie no hospital, onde tiveram a notícia do estado cada vez melhor da mulher, que agora, de acordo com a perspectiva média, teria alta em breve, assim que parasse de depender dos calmantes para manter o controle... E após enviarem as cartas pelo correio, ambas se dirigiram ao bairro onde o rapaz morava, gastando um pouco mais de tempo do que o necessário, depois de se perderem, até que por fim, chegaram ao endereço, onde ficaram chocadas diante da casa lacrada, deixando evidente a sua condição de abandono.

- Eu não acredito nisso! – Sussurrou a menina. – O Gustavo me enganou, me enganou... – Repetia ela, já incapaz de conter a sua decepção.

- Muita calma nem, tem alguma coisa errada nisso tudo. – Ponderou a outra. – Olha, a casa era bem cuidada, dá pra reparar isso pela pintura da fachada, e a grama nem tá tão grande assim... Isso deve ter alguma explicação.

- Ele era perfeito demais, eu deveria ter percebido isso... Alguém como ele não existe, e eu não...

- Ei você! – Gritou Kayla, interrompendo as divagações da amiga e chamando a atenção de uma garotinha que passava por perto. – Você sabe me dizer o que aconteceu com o rapaz bonito que morava nessa casa? O nome dele era Gustavo.

- Ele se mudou com a família, foi embora... – Tornou a menina com a sua voz infantil cheia de tristeza. – E pensar que eu gostava tanto de ouvir ele tocar violão... – Lamentou, retirando-se.

Sem saber ao certo o que dizer, a Corvinal remexia em sua mente, em busca de algo que pudesse ajudar a outra, mas antes que encontrasse qualquer coisa útil, Melanie se adiantou, e desferiu um chute no portão da casa, fazendo-o estremecer, tamanha a sua raiva.

- Idiota! – Berrou ela.

- Mel...

- Não diz nada Kayla! Vem, vamos beber.

- O que? Mas isso não... – Suspirou. - Nós não podemos beber, somos menores de idade lembra!? – Protestou, enquanto era arrastada pela Lufa-lufa.

- É só encontrarmos um lugar que não ligue para a nossa idade. - Respondeu decidida, seguindo em frente de cabeça erguida, sem olhar para trás nenhuma única vez.

Encontrar um lugar que venderia bebida para duas jovens nem foi tão complicado assim, o difícil mesmo, foi chegar em casa bêbadas, e terem que suportar o dia seguinte, quando o porre marcava presença com todos os seus incômodos sintomas, fazendo-as se sentirem péssimas... Entretanto, o que mais incomodava, era o esporro ininterrupto da Senhora Drumond que não dava descanso nem mesmo quando as garotas estavam vomitando.

- Obrigada por não me deixar passar por essa sozinha Kayla. – Resmungou Melanie, enquanto ainda sentiam os efeitos da aventura do dia anterior, cada uma jogada em um canto diferente o quarto.

- Que isso nem, amigos são para essas coisas... – Sorriu.

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“Inferno!” Essa era a palavra que mais atentava a mente de Hermione desde que aquela situação estressante acabara. Com o fim do julgamento, finalmente ela tivera paz para pensar novamente em sua vida. E não no perigo das vidas alheias.

Assim que voltou para sua casa, tratou de arrumar tudo o que ficara jogado pelo pequeno apartamento que mantinha no centro de Londres. A Londres trouxa. Por mais que Neville, os Weasley’s e seus amigos fossem contra ela morar tão longe deles, no fundo, gostava da privacidade que tinha ali. Sem falar que já estava em contato com o mundo bruxo em maior parte de seu ano. E em momentos como aqueles, tinha o maior prazer em sentar sobre seu tapete na sala, acompanhada apenas pelo seu gato, Bichento II, para cuidadosamente retirar o pó que se acumulava em seus livros, uma tarefa demorada que lhe era extremamente prazerosa.

Porém diferente dos outros anos, Hermione não estava ali somente limpando seus livros, estava procurava um livro em particular, que não demorou a achar devido a organização em que costumava mantê-los.

“A antiga arte da oclumência.” Esse era o título em questão.

- Isso! – Vibrou, recolocando os outros livros na estante.

Não teria tempo para sua habitual limpeza, pois algo bem mais importante a esperava. Aquele livro iria finalmente acabar com o inferno que tinha em sua vida. A maldita vulnerabilidade mental perante Malfoy. Havia constatado o quão era patética nas habilidades mentais perante o professor. Mas não iria ser. Não mais.

Durante três dias seguidos a mulher não deu sinal de vida a ninguém. Seu foco estava direcionado a tarefa que impusera a si mesma. Aprender oclumência. Devorara o livro em questão de horas, e assim que o terminou, partiu para a prática. Ela devia admitir que era muito difícil e frustrante treinar oclumência sozinha, mas se alguém era capaz de aprender algo somente com a teoria, esse alguém era ela.

Com o pensamento centrado, sem dúvidas de que obteria sucesso em sua tarefa, continuou treinando. Sua motivação era seu maior combustível. Porém fora interrompida pelo som de uma voz saindo da lareira.

Ela demorou um tempo para se locomover até lá, e quando chegou, viu a cabeça de Neville, chamando-a.

- Hermione! Está tudo bem? – O amigo parecia preocupado.

- Claro que está Neville. Por que não estaria? – Havia uma ligeira irritação em sua voz, devida a interrupção.

- Hermione... – Começou Neville chateado. – Nós não tínhamos combinado de ir à Toca ontem? E de ir ao Beco Diagonal hoje para reabastecer nossos estoques de livros? O que está acontecendo com você?

- Nada Neville, eu só estive muito ocupada. – Terminou, por fim suspirando, sabia que a culpa não era do amigo. A culpa não era de ninguém, a não ser dela, por se sentir tão vulnerável.

- Então Hermione? Vai me contar o que há de errado?

Por mais compreensível que Neville fosse não iria contar a ele, não via motivo para alertá-lo sobre uma coisa, que definitivamente seria solucionado logo.

- Não há nada de errado. É sério Neville. – Respondeu lhe sorrindo amavelmente. Transpassando uma tranqüilidade que ela mesma não tinha.

- Tudo bem então... Mas você sabe que a qualquer momento, se você precisar conversar... Eu estou aqui. – Finalizou a conversa terminando a ligação de lareiras.

Com longo suspiro, Hermione voltou ao tapete, pegou o livro e retomou seus estudos. Mas após aquela conversa, não conseguia mais se concentrar como antes. Sua cabeça voava em teorias, em possíveis explicações. Nada concreto.

Se perguntava o porquê de não contar nada ao amigo. Não era um costume seu esconder algo dele... “Não há nada a esconder.” Pensou. “Mas então por que eu tenho essa sensação de que estou escondendo algo?” Pensou novamente, contradizendo a si mesma.

- Hurrrg! Chega Hermione! Para de pensar nisso! – Ordenou a si mesma. Aquela falta de concentração a estava irritando.

Em sua cabeça, não conseguia ordenar os seus pensamentos, não parava de pensar em Malfoy. “Em como se livrar do Malfoy.” Corrigiu a si mesma. Para uma pessoa contida como ela, deixar que alguém abale suas estruturas como ele fez, era algo inadmissível. “Ele me abalou de maneira negativa!” Corrigiu-se novamente.

Não parou de pensar no assunto pelo resto do dia. Queria descobrir o que havia de errado.

“O problema é que Malfoy é homem.” Sua mente se tornava inconveniente, interrompendo seus raciocínios não muito lógicos, com comentários menos lógicos ainda. Porém aquilo fazia sentido. Fazia todo e completo sentido!

Malfoy é homem! Essa simples afirmação obvia, fazia sentido somente para ela.

Porém passado o estado de euforia inicial, começou a raciocinar sobre a questão. O fato de Draco Malfoy ser um homem, era a sua explicação. Era sua única explicação. Sabia que sua vida amorosa, como Neville costumava dizer, andava a zero km. E por mais que não gostasse de admitir, essa era a verdade. Desde que perdera seu grande amor, Rony, nunca mais se envolvera com alguém. Na verdade, por insistência de Neville, anos depois, concordou em sair com um amigo que fazia faculdade com ela. Mas não durou mais do que um mês. Após isso, suas aventuras amorosas, se findaram. Sempre tivera em mente, que por ser uma mulher auto-suficiente, não precisava ter um namorado. Talvez essa fosse a raiz de seus problemas. Fazia muito tempo que ela não tinha um contato tão próximo com um homem. Era somente culpa de seus hormônios. Só podia ser.

- Hermione... Você tem noção do quão deprimente isso é? – Falou desanimada para si. Conversar sozinha já estava se tornando um hábito.

Talvez aquilo fosse um sinal. Talvez ela devesse começar a se envolver com alguém. Arrumar um namorado, sair e se divertir. Seria muito bom se a solução de seu problema fosse essa. Talvez devesse tentar. “Mas por onde começar?” Sua mente trabalhou rápido, buscando uma resposta. “Neville.” Foi o que veio a sua mente. Sim. Seu grande amigo, ele sempre esteve lá, apoiando-a. Ele seria perfeito. Não havia outra solução, estava no auge de seu desespero.

Sem pensar muito, aparatou diante da casa de Neville, ele ainda morava na mesma casa de sua falecida avó, em um bairro bruxo. Sem mais delongas, caminhou até a porta e tocou a campainha.

Não demorou muito para a porta se abrir.

- Maggie! – Exclamou Neville, antes de franzir o cenho e observar Hermione.

- Maggie? – A cara incrédula de Hermione, deu lugar a uma leve risada desconcertada. – Você estava esperando alguém?

- É... Não... Bem sim, mas não tem problema. Entra. – Completou, abrindo espaço para que a amiga passasse.

- Então Neville, eu sei que foi meio repentino, mas eu pensei no que você disse... – Não havia cerimônia entre eles, então ela simplesmente caminhou até o sofá e se sentou, sendo acompanhada por Neville.

- Pensou? Fico feliz que tenha decidido me contar. Quem sabe eu não posso ajudar? – Sorriu paciente.

- Bom, Neville, não é bem isso... É que eu... Eu... - Não sabia por onde começar.

- Você... – Falou tentando ajudá-la.

- Eu queria saber se você... – “Por Merlin! É o Neville! O que eu estou fazendo?” Seu pensamento a censurou. “Maldito seja você Draco Malfoy!” Novamente seus pensamentos retornavam ao seu “inferno”. – Eu queria... – Ela não pode continuar, pois fora interrompida pela campainha. Olhou para o amigo, e viu em seu rosto um certo desconforto. A campainha soou novamente.

Hermione acompanhou curiosa, o outro se levantar e caminhar até a porta, abrindo-a em seguida.

- Olá Meg. – Ouviu o amigo dizer.

- Oi Nev.

“Oi Nev? Por Merlin!” Ela não conseguiu evitar o pensamento, que logo se silenciou ao ver a mulher a porta, dando um leve beijo em Neville.

- Hermione. Acho que você já conhece a Meg né? – Falou incerto, indicando a mulher que Hermione reconhecera como sendo Meg Moore, professora de runas em Hogwarts.

- Professora Moore. – Saudou educadamente.

- Professora Granger.

- Então Meg... – Neville que estava parado diante das duas mulheres, não sabia o que fazer.

- Me desculpe Neville, eu não devia ter vindo. Foi repentino, nós conversamos depois. – Ela sabia que estava sobrando. Isso era visível pelos olhares de ambos.

- Não Hermione, você disse que precisava conversar, eu...

- Está tudo bem. Outro dia conversamos. – Respondeu, já caminhando para a porta. Porém parou ao meio do caminho. – Neville eu posso usar sua lareira? Fica mais fácil, já que eu vou direto para casa.

- Claro Mione. – O amigo olhava estranho para ela.

Com rapidez, ela pegou o pó de flú, e partiu para sua casa.

“Eu não acredito que quase convidei o Neville para sair!” Seu pensamento a censurava, enquanto tentava absorver a cena que acabara de ver. Pelo nível de intimidade que o amigo tratara a professora Moore, eles no mínimo, estava juntos. “Por que ele nunca me disse nada?” Ainda era difícil de acreditar naquilo. Sempre fizera uma imagem diferente de Neville. Na verdade nunca na vida tinha o encarado como homem, mas sim como amigo. Nem mesmo cogitando a hipótese de chamá-lo para sair, ainda assim, Neville não era encarado como um homem. “Não como Malfoy...” Sua mente a traia mais uma vez. Talvez a questão não fosse aprender oclumência, mas sim deixar de pensar. Ela definitivamente deveria deixar de pensar. Pois isso só a estava colocando em péssimas situações. Estava agindo como uma criança!

- Quem diria Neville... Saindo com a professora mais elegante e bonita de Hogwarts... – Riu sobre a situação. Ao avaliar que o amigo, bobo, como muitos consideravam, havia conquistado, uma mulher muito elegante e séria, que quase não compartilhava sua vida pessoal com ninguém. – Bom, com o “Nev” ela deve compartilhar muito mais que isso... – Comentou irônica, para rir novamente. “Por Merlin! Eu estou falando como o Malfoy!” Choramingou internamente.

Tentando se livrar dos pensamentos, voltou a estudar oclumência, pensando no quanto se sentiria bem em encarar Malfoy se esse não pudesse ler sua mente. Essa seria sua motivação a partir de agora.

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- Pai... – Sarah chamou entrando no escritório de Draco.

- Sim?

- Eu queria saber de quem é esse livro aqui... – Falou a menina indo até o pai e estendendo o livro para ele. – Tem umas anotações nele... Mas a letra não é sua... Nem minha... – O homem observou as letras por um momento para depois encarar a filha com tranqüilidade.

- Provavelmente o livro é da Granger, essa letra é dela.

- Da professora Granger? – Estranhou.

- Sim... – A cara de Draco não revelava nada, como se aquilo não tivesse a menor importância.

- Pai... O que um livro da professora Granger está fazendo nas suas coisas? – Para Sarah, aquela pergunta parecia tão óbvia, que honestamente ela não pensou que teria que dizê-la em voz alta.

- Porque o seu pai está tendo um caso com a sangue-ruim! – Acusou Pansy ao passar pela porta do escritório de forma abrupta.

- O que? – Questionou incrédula, olhando de Draco para Pansy. Ela pode observar que sua mãe havia largado algumas malas na porta.

- É isso mesmo Sarah. Seu pai está tendo um caso com a Granger. Eu vi os dois juntos em Hogwarts enquanto você estava presa! – O tom acusador, o dedo em riste apontado para Draco. Toda aquela situação fez com que Sarah automaticamente olhasse para o pai, que começou a gargalhar ruidosamente.

- Pai! Será que o senhor pode explicar isso?

- É Draco! Será que você pode explicar para a sua filha, aproveita e explica para ela que você também me mandou para fora de casa!

- Pansy! Cale-se! – Esbravejou repentinamente, não mais sorrindo. – Eu não estou tendo um caso com a Granger! Não sou louco a esse ponto! Mas sim. Você vai sair dessa casa Pansy, você não tem mais nada a fazer aqui. – Completou sério.

- Mas pai, isso quer dizer...

- Quer dizer que eu estou me divorciando. Já mandei providenciar os papéis. Não se preocupe você terá a sua parte do dinheiro Pansy.

- Eu não quero aceitar isso! Não posso ser chutada! Você não pode fazer isso comigo! – Os berros de Pansy estavam descontrolados. – Sarah! Não deixe seu pai fazer isso! – A mulher olhou para a menina que estava coagida entre os berros de sua mãe, e os gritos de seu pai.

- Deixe-a fora disso! – Gritou Malfoy batendo com a mão fechada na mesa.

- Ela é minha filha! – Berrou Pansy de volta.

- Ela é mais filha minha do que sua! – Tornou ele ainda aos gritos.

- Parem! Parem já! Não me coloquem no meio disso! Será que vocês não conseguem falar sem brigar um com o outro!? Eu já to cansada disso! – Agora era Sarah quem berrava, totalmente enraivecida e com o rosto avermelhado. – Pansy, não finja que você se importa comigo! Eu sei que não! E pai! Para de agir como se eu fosse sua! Eu não sou uma propriedade! Eu sou sua filha! – Ao terminar sem fôlego, a garota saiu correndo do escritório. Deixando os dois sérios, encarando a porta por onde ela passara.

- Acho melhor você sair daqui. Por bem ou por mal, você não passa essa noite dentro dessa casa. – O tom letal de Draco, fez a espinha da mulher gelar.

- Saia Pansy. – O casal presente na sala, direcionou sua atenção ao homem imponente parado à porta.

- Pai... – Falou Draco ao encarar Lúcio Malfoy, que ainda mantinha o mesmo olhar empinado de sempre. A ação do tempo lhe fora muito gentil.

- Cale-se Draco. – Pontuou sério. - Pansy, saia logo. Não me faça forçá-la a isso.

- Mas... Mas Lúcio. – Pansy ainda tentou argumentar.

- Já chega! – Disse ele em tom mais enérgico. – Você tem aonde ir. Vá para lá. Entendeu? Essa discussão acabou aqui. – Lúcio não deu margens para mais dizeres, pegou as duas malas da mulher, e saiu do escritório, sendo seguido por ela, que ainda praguejava.

Draco olhou demoradamente para a porta, tentando entender o que os dois estavam tramando. Nunca vira Lúcio se meter em uma briga deles, não entendia porque se metera nessa. Porém, ele logo parou de pensar nisso, pois tinha outra coisa mais importante para se preocupar...

Foi até o quarto de Sarah, outra que não costumava se importar com as brigas que tinha com a mulher. “Ex-mulher.” Corrigiu-se. Parecia que sua filha e seu pai, haviam combinado.

- Sarah? – Falou batendo levemente na porta semi-aberta.

- Hum... – Foi só o que a menina respondeu.

- Sarah, eu sei que você não gosta quando eu falo daquele jeito. Mas eu só falei, porque sua mãe queria me tirar você. – Se defendeu.

- Pai, eu já disse, para de falar assim! – Reclamou, se remexendo na cama onde tava deitada.

- Me desculpe, eu ainda sinto de perto aquela sensação de perda. A culpa não é minha...

- Tudo bem... Deixa pra lá... – Falou se virando para encarar o pai, sentado ao seu lado. O homem agora sorria aliviado. – Pai?

- O que?

- Aquilo que a Pansy falou... Que o senhor está tendo um caso com a professora Granger? – Perguntou receosa.

- Por quê? Isso é um problema? – Falou em tom cínico.

- Pai! – Os olhos azuis de Sarah se arregalaram surpresos.

- É brincadeira! Sarah! É claro que eu não estou tendo um caso com a Granger! Isso é loucura! – Afirmou ficando sério.

- Mas a Pansy disse que viu vocês juntos. Ela não iria mentir sobre isso. E ainda tem o livro, o senhor mesmo disse que era da professora, o que ele estava fazendo com o senhor? – Estranhamente, Sarah não parecia contrariada, ou alarmada, somente curiosa. O que deixou Draco inquieto. Pois ao que parecia, sua filha não se portava de forma negativa, ao seu suposto romance com Granger.

- O que a Pansy viu foi somente, eu e Granger trabalhando juntos. Nós juntamos as provas para inocentá-las, só isso. O problema é que aquela mulher maluca faz de tudo para armar um circo! – Exclamou, fazendo-a rir. – Quanto ao livro, como eu disse nós trabalhamos juntos... Ela levou diversos livros para a minha sala, esse deve ter se perdido no meio dos meus, eu o devolvo quando voltarmos a Hogwarts. – Pontuou tranqüilo. – Você realmente achou que havia algo? Entre eu e Granger? Sarah, até parece que você não me conhece...

- Ah pai... Não sei... A professora Granger é bonita. E é inteligente, o senhor sempre disse que gosta de mulheres inteligentes, que te desafiem... – A menina comentava de forma inocente, olhando o pai. – Eu nunca conheci uma mulher que desafiasse tanto o senhor quanto a professora Granger...

- Sarah... Nunca em absoluto eu me envolveria com a Granger. Diferente de certos Malfoy’s, eu sei quais são as pessoas certas para me envolver. – O homem alfinetou a filha, pois não estava gostando do rumo que aquela conversa tomara.

- O Ted não tem nada haver com isso... E se o senhor se envolvesse com a professora, iria entender o que eu sinto! Que às vezes é melhor passar por cima do orgulho do que perder algo que se gosta!

Draco observou a filha, a intensidade com que ela o olhava, se ele tivesse esse pensamento naquela época, nunca teria aceitado se casar com Pansy por trato de seu pai com a família Parkinson. As coisas teriam sido diferentes. Ele não a teria, e por maior que fosse sua ira perante a sua ex-mulher. Ainda assim sabia que sem ela, naquelas circunstâncias Sarah não existiria.

- Esse seu pensamento é muito filosófico, mas nem sempre se aplica na prática... Eu fiz muitas coisas que não desejava fazer... Porém, ainda assim, as faria novamente, pois todas elas me levaram ao homem que sou hoje e a tudo que tenho. – Respondeu, passando a mão na cabeça da filha. – Um dia você vai entender... – Completou se levantando e saindo do quarto.

Por aquela noite, Draco foi perturbado pelas falas de Pansy e Sarah. Não conseguia ver onde ele dera a entender que estava tendo um caso com a Granger. “Isso seria loucura!”. Censurou-se. Desejava ver a professora o mais longe possível. Ponderou o que Sarah dissera, em absoluto, sabia que a mulher não o desafiava, pelo contrario, era somente uma mulher irritante, petulante e... E...

- E mais nada! Não tenho porque ficar pensando naquela mulherzinha! – Esbravejou em voz alta, contra seus próprios divagues. Porém uma coisa ainda perturbava o homem. Os pensamentos de Granger no corredor. No dia em que Pansy os flagrou. Não tinha certeza, mas jurara ter captado a palavra “beije” na mente da mulher. Mas não fazia sentido ela pensar em algo do tipo, perto dele. Não fazia o menor sentido.

“Porque eu me preocupo com isso?” Tranqüilizou-se. “Com certeza, não é nada de mais... E se for, não é problema meu...” Seu pensamento egoísta o fez se sentir melhor aquela noite.

--

Sentado na janela de seu quarto, Ted rabiscava mais uma carta endereçada a Sarah, muito embora ainda só houvessem se passado três dias após o término do julgamento, e dois, desde que havia mandado uma primeira carta, quando ainda estava na casa dos Weasley´s. Mas como ainda não tinha obtido resposta, agora estava escrevendo aquela segunda, onde além das perguntas a respeito de como a Sonserina estaria, ele aproveitava também, para contar as novidades... Assim que concluiu o texto, o rapaz chamou a coruja, e logo a despachou em direção a mansão Malfoy.

Sorrindo, o auror voltou a se sentar na janela, mas dessa vez para apreciar o bonito dia que fazia, permitindo-se comemorar internamente, o ponto que ele havia conseguido a favor de seu relacionamento com a filha do professor de poções, embora não conseguisse evitar algumas lembranças, um tanto quanto inconvenientes...

“Como era de se esperar, assim que Estelar e as outras foram absolvidas das acusações, a família Lupin se juntou aos Weasley´s na toca, onde de forma muito rápida estabeleceu-se uma verdadeira festa, onde o centro das atenções era a sua irmã, que sorridente, parecia incapaz de permanecer parada em um mesmo lugar por mais de alguns poucos minutos. E enquanto olhava-a daquele jeito tão animado, Ted não conseguia parar de pensar, o quanto seria agradável, se Sarah pudesse estar ali também...

- Olha só Fred, se não é o nosso grande Don Jhuan... – Disse Jorge ao se aproximar do auror, já afetado pela quantidade excessiva de álcool.

- É, meu caro irmão, é ele mesmo. – Concordou o outro, igualmente bêbado.

- Vocês dois não sabem o que estão dizendo. – Comentou em resposta de forma despretensiosa, tentando se esquivar.

- Aonde você vai com tanta pressa...

- É, fica por aqui e conta pra gente, como é que você fez para enganar a doninha. – Riu o homem que não tinha uma das orelhas.

- Me recuso a falar isso com vocês, principalmente no estado em que estão. – Taxou o rapaz, tentando mais uma vez se afastar.

- Ah, então você realmente enganou o Malfoy! – Gargalhou Fred, feliz como se tivesse descoberto algo muito importante.

- Ei vocês aí! – Chamou Estelar, interrompendo o acesso de risos sem sentido dos gêmeos. – Deixem o meu irmão em paz. – Ordenou ela, com a sua voz ligeiramente alterada.

- Mas que droga Estelar... Eu não acredito que você está bebendo! – Ralhou Ted.

- Imagina... – Zombou Jorge. – Esse cheiro de álcool que você está sentindo nela é mera ilusão. – Concluiu, fazendo Fred e menina rirem.

- Vocês dois são uma vergonha como padrinho... Isso lá é exemplo que se dê!? – Brigou o filho do professor Lupin, nenhum pouco satisfeito com a situação.

- Ah Ted...É só um pouquinho, não vai me fazer mal. – Tentou se defender a Grifinória.

- É, deixa ela, afinal, beber antes da maioridade não é um crime tão grave assim, se comparado a namorar menininhas inocentes. – Falou Fred, sem realmente ter a menor noção do que acabara de dizer.

- Hum... Você pegou pesado, passou dos limites. – Criticou Estelar, fazendo uma careta de reprovação.

- Eu não vou nem me dar ao trabalho de discutir com vocês... Estão bêbados! – Comentou o auror com desprezo, dirigindo-se aos gêmeos. – E você Estelar, pára de beber! – Mandou, arrancando das mãos da garota o copo com Whisky de fogo, que segurava.

- Tsc... Por causa de vocês ele tirou a minha bebida. – Resmungou a Grifinória batendo o pé, ao mesmo tempo em que se virava para seguir o irmão para dentro da casa, embora não tivesse a intenção de procurá-lo.- Idiotas! – Xingou com ressentimento, nenhum pouco satisfeita com o rumo que a brincadeira havia tomado.

Dirigindo-se ao quarto que costuma ocupar toda vez que ficava na “Toca”, Ted desistiu de esperar o Senhor Weasley, que ainda se encontrava no ministério, mesmo horas depois do término do julgamento. “O vô Arthur deve estar muito ocupado... Amanhã eu falo com ele.” Ponderou o rapaz, jogando-se em sua cama, cansado e chateado de mais para fazer qualquer outra coisa se não dormir...

No dia seguinte, o auror logo já estava de pé, por mais que ainda sentisse sono, a ansiedade que lhe envolvia era mais forte, por isso, antes mesmo do sol se firmar no céu, o rapaz já chegava à cozinha da casa, onde surpreso, encontrou com a irmã, que aparava em um balde água da torneira.

- O que você está fazendo? – Estranhou.

- Enchendo o balde com água ora essa... – Brincou a menina.

- E você acordou cedo só pra...

- E quem disse que eu dormi. – Cortou ela, sem demonstrar traços de cansaço.

- Tá bom Estelar, eu entendi... – Suspirou. - Será que agora você pode me dizer porque está fazendo isso?

- Vingança. – Taxou com simplicidade, enquanto retirava sem dificuldades o balde de dentro da pia. – Vou acordar o tio Fred e o tio Jorge com isso. – Explicou, com um sorriso travesso nos lábios.

- Espera... – Chamou ele.

Impedindo a irmã de passar pela porta da cozinha, entrando em seu caminho, o rapaz retirou do bolso da calça a sua varinha, estendendo-a na direção do balde, fazendo uso de um feitiço que automaticamente gelou a água de se interior.

- Assim vai ser mais interessante. – Sorriu com uma piscadela para a irmã, que satisfeita, logo saiu da cozinha, levando com muito cuidado o balde de água gelada.

- Bom dia! – Cumprimentou Arthur ao entrar na cozinha. - O que a Estelar tá fazendo levando aquele balde para cima? – Indagou.

- É melhor nem perguntar... – Tornou o outro, feliz por ver o senhor. – O que está fazendo acordado tão cedo? Pensei que dormiria até mais tarde hoje, depois do dia de ontem. – Comentou.

- Ossos do ofício meu filho, ossos do ofício. – Suspirou o homem, juntando-se a Ted para tomar café.

- É, vô Arthur... – Falou o auror após um momento de silêncio. - Eu sei que não é certo fazer isso, mas eu queria saber se tem como você fazer algo, para que eu possa voltar a acompanhar as meninas em Hogwarts quando as aulas voltarem. – Continuou, sentindo-se sem graça por fazer aquele tipo de pedido, claramente abusando de sua condição privilegiada em relação ao Ministro da Magia.

- Não precisa se preocupar com isso Ted. – Sorriu. – Eu mesmo já fiz o necessário para que você volte ao seu posto anterior, até porque seria ótimo para todos nós ter alguém de plena confiança por perto. – Justificou ao mesmo tempo em que se levantava, afinal, sabia o quanto tinha sido difícil para o rapaz fazer tal pedido. – Enfim, eu preciso ir, nos vemos mais tarde.

- Bom trabalho. – Desejou o filho do professor Lupin, enquanto recebia batidinhas amigáveis em seu ombro.

- Fico feliz por você... E por ela também. – Declarou, piscando significativamente, antes de sair.

Sentindo-se extremamente mais leve, o ex-grifinório não pode evitar o discreto sorriso que se formou em seus lábios, e que logo se tornou mais largo, quando o som de Fred e Jorge gritando no andar de cima, logo chegou em seus ouvidos, fazendo com que se sentisse ainda melhor... Tendo as suas gargalhadas logo unidas com as da sua irmã, que havia descido as escadas correndo, fugindo dos gêmeos.”

- Cuidado com a bola! – Berrou Estelar, trazendo-o de volta para o presente, bem a tempo de desviar da bola, que bateu com tudo na janela onde a poucos instantes atrás Ted estava sentado.

- Você por acaso ficou maluca!? – Repreendeu, após se recuperar do susto.

- Foi mal... – Sorriu ela, dando de ombros.

- Foi mal!? Qual é o seu problema? – Indignou-se. – Não são nem nove horas da manhã Estelar, por Merlin! Isso lá é hora de se jogar quadribol?

- Estelar! – Gritou Remo do andar de baixo da casa, interrompendo a resposta que a garota com certeza daria ao irmão. – Desce já dessa vassoura e vem aqui. – Ordenou.

De forma muito rápida, a menina empinou a vassoura e se dirigiu para baixo, pulando no chão assim que alcançou uma altura razoável, deixando para trás a vassoura, enquanto era observada pelo olhar curioso do irmão. “Credo, ela não cansa não...” Indagou-se ele em pensamento, antes de sair da janela onde esteve debruçado para olhá-la.

- Ted, eu vou no ministério com a mamãe! – Comunicou a Grifinória eufórica, ao passar correndo desenfreada pelo corredor.

Torcendo o nariz com a notícia, Ted não pode evitar pensar no quanto aquilo lhe parecia errado, afinal, o ministério não era o local mais adequado para a sua irmãzinha, principalmente com todos aqueles jovens aurores que não podiam ver mulher, o que o fazia se remoer de ciúmes... “Ela não vai estar sozinha” Pensou, tranqüilizando-se, “E além do mais a Estelar sabe se cuidar muito bem.” Concluiu, logo desviando o seu olhar para a paisagem lá fora, voltando a se concentrar no que era realmente importante, Sarah! Desejando mais uma vez, que a sua carta chegasse até o seu destino.

--

- No setor de mistérios!? – Falou a grifinória com animação.

- Nem pensar... – Tornou Ninfadora.

- Hum... Então onde ficam as profecias! – Sugeriu.

- Não, de jeito nenhum. – Taxou.

- Ah, mãe... Então qual é a graça de vir no ministério, se eu não posso entrar nas partes mais legais!? – Resmungou com um muxoxo.

- Partes mais legais!? De onde você tirou isso Estelar? – Estranhou a mulher. – Esses lugares são perigosos, principalmente para nós duas... Desastre e imã para problemas. – Nomeou, indicando primeiro a si mesma e depois a filha, fazendo-a rir.

Já fazia algumas horas que Estelar havia chegado com a mãe ao Ministério da Magia, onde como em uma excursão visitava os setores e conhecia alguns dos companheiros de trabalho da auror, que empolgada, arrastava a garota de um lado para o outro, esquecendo-se totalmente que estava de serviço aquele dia...

- Já sei! – Disse de repente a Senhora Lupin. – Vem, eu vou te levar onde preparam os novos aurores. – Sorriu, feliz com a idéia.

Segurando Estelar pela mão, a metamorfa a puxou com empolgação até o salão, onde os recrutas executavam os seus exercícios de treinamento. Porém, assim que entraram, a Grifinória não pode evitar se sentir decepcionada, afinal, o que ela esperava ver naquele salão era um treinamento de combate, e não uma espécie de reunião, onde um grupo de aurores estavam parados formando um círculo, com alguém no centro do mesmo, passando algumas instruções aos demais.

- Oi meninos! – Cumprimentou Ninfadora ao se aproximar do grupo.

- Ah, olá! – Tornou o instrutor, saindo do circulo.

- E aí Crowel. – Sorriu a mulher. – Eu trouxe a minha...

- Phillip! – Exclamou Estelar, acenando alegremente, ao reconhecer o rapaz como um dos amigos de seu irmão, que há algum tempo conhecera em Hogsmeade.

- Hum... – Sorriu ele, parando para observar a menina, não tão menina assim, de acordo com a sua visão, diante da vestimenta tão adulta – Ah, você é a irmã do Ted Lupin, certo!? – Falou, também se recordando do dia em havia conhecido a famosa irmã caçula do auror.

- Então vocês já se conhecem!? – Admirou-se a mãe da garota, logo exibindo um sorriso travesso. – Você não me disse nada a respeito disso Estelar... – Comentou, cutucando as costelas da outra.

- Mãe... Para com isso. – Resmungou ela em resposta, sentindo-se incomodada com a insinuação da mulher. – E olha, não tinha nada de muito importante para te contar... Nós só nos vimos uma vez, quando o Ted nos apresentou, não foi!? – Explicou, direcionando a sua pergunta para o auror.

- Sim, é verdade. – Respondeu sorrindo para as duas, achando graça da situação, embora ela não o desagradasse.

- Senhora Lupin! – Chamou alguém, interrompendo-os.

- Pois não...

- A Senhora já deveria estar no seu setor há essa hora, esqueceu!? – Disse a pessoa ao se aproximar, não achando nenhum pouco estranho que algo assim acontecesse, afinal, aquela era a Ninfadora... – O seu chefe já está começando a reclamar do seu atraso. – Informou.

- Ai minha nossa! Eu esqueci completamente! – Exclamou ela sobressaltada. – Eu preciso ir Estelar, você fica aqui... O Crowel te faz companhia. – Completou, empurrando a menina na direção do auror.

- Mulher maluca... – Murmurou Estelar, enquanto observava a mãe se afastar correndo, quase caindo ao tropeçar no degrau que dava para a saída da sala.

- Não fale assim da sua mãe... Ela é meio avoada, mas é uma grande mulher. – Comentou o rapaz.

- A ta bom... – Sorriu. – Como se você também não achasse ela doida.

- Isso não vem ao caso... – Brincou ele. – Sem falar, que como você é filha dela, existe grandes chances de ter herdado esse traço. – Falou, entrando na brincadeira.

- Nem me fala esse tipo de coisa... – Tornou a garota, rolando os olhos. – Porque sinceramente, depois de ter herdado do meu pai aquele lance de lobisomem, eu tenho até medo do que pode vir a seguir.

- Ah, mas isso não é tão ruim, veja o meu caso por exemplo... O meu pai é calvo. – Confidenciou. – Imagina se eu herdo isso dele!? – Continuou em tom brincalhão fazendo a grifinória gargalhar.

“Eu to confusa... É impressão minha ou o Phillip ta me dando confiança!?” Indagou-se ela em pensamento, se lembrando de quando se conheceram, e de como ficou chateada por seu irmão tê-la feito parecer uma criança na frente do rapaz. “Ainda bem que o Ted não está aqui agora...” Comemorou, ainda em pensamento, mantendo o seu largo sorriso na face.

- Senhor? – Chamou um dos alunos, interrompendo os dois ao se aproximar. – Nós já terminamos o exercício... – Informou de forma incerta, enquanto mantinha o seu olhar quase desejoso sobre a menina.

- Pirralho... – Sibilou ela, fazendo o rapaz torcer seu rosto em uma careta, enquanto rolava os olhos de forma impaciente, dando-se conta por fim, do boneco que havia estado o tempo todo no centro do circulo formado pelos alunos. “Ah, então era isso que eles estavam fazendo... Exercícios de primeiros socorros.” Concluiu mentalmente.

- A turma está dispensada! – Anunciou Phillip com a voz grave, chamando atenção dos alunos na sala, ansioso por se ver livre deles o mais rápido possível.

Com o olhar atento, o auror prestava atenção nos poucos movimentos de Estelar, que acompanhava de forma pouco interessada os alunos retirarem-se, restando por fim, somente os dois, dando ao rapaz a oportunidade que precisava.

- Então menina... O que você acha de nós sa...

Sentindo o próprio coração acelerar algumas batidas, Estelar deixou de lado tudo mais que a cercava, incluindo Phillip, prestando atenção apenas na figura imponente que passava pela porta, entrando na sala. “Meu Merlin... Acho que estou apaixonada” Pensou.

- Olha, aquele lá não é o John O´Conell!? – Perguntou a Grifinória, indicando o homem com um gesto discreto, querendo confirmar se o que via não era uma ilusão.

- Sim, é o John. – Respondeu o outro, ao desviar o seu olhar da garota e reparar com insatisfação o inominável. – Ele vai dar a próxima aula. – Comentou de forma indiferente.

“Tomara que ele me reconheça...” Torceu a menina em pensamento, enquanto acompanhava de forma ansiosa os passos do homem, que ao encarar o casal na sala, cumprimentou com um leve aceno de cabeça o auror, porém, ao reparar em Estelar, desviou o seu caminho e se aproximou.

- Senhorita Lupin. – Sorriu ele com cortesia, fazendo-a exultar de alegria. – Fico feliz, que já tenha retomado sua vida. É um grande alívio para mim, saber que tudo ocorreu da melhor maneira possível para a senhorita e suas amigas.

- Obrigada... – Disse ela com um sorriso, incapaz de raciocinar algo mais complexo naquele momento.

- De nada. – Tornou de maneira simpática.

Incomodado com a situação, Phillip pigarreou alto, na tentativa de chamar a atenção da grifinória. “Por que esse cara tinha que chegar...” Pensou ele contrariado.

- Você ta bem Phillip!? – Perguntou ela, sem entender a condição do outro.

- To sim... – Respondeu, fazendo uma careta. – Você vai pegar a próxima turma, certo O´Conell!? Não deveria estar preparando sua aula? – Questionou, avaliando-o, fazendo com que Estelar franzisse o cenho, perante o estranhamento de sua atitude tão descortês.

- Bom... Sim, mas não é necessária tanta preparação para ensinar esses jovens a serem bravos... Afinal, os aurores de verdade já nascem com isso dentro de si. – Falou o inominável. - Mas os meus alunos já devem estar chegando, por isso, se a Senhorita quiser, pode ficar e participar da aula. – Completou, dirigindo-se amigavelmente para a menina.

- Sim eu quero! - Respondeu ela rapidamente. - Essa vai ser uma oportunidade muito legal pra eu ter uma idéia do que me espera, para quando eu me formar em Hogwarts e entrar para a academia de aurores. - Concluiu com empolgação.

- Que ótimo. Aposto que a Senhorita se tornará tão habilidosa quando seus pais e seu irmão.

"Caramba, como ele consegue ser tão bonito!?" Pensou Estelar, enquanto balançava a cabeça em concordância. “Pena que só está sendo educado...” Suspirou distraída, não reparando no clima estranho ao seu redor, formado pela troca de olhares hostis entre os aurores.

- Estelar! - Chamou Ninfadora, entrando na sala apressada, interrompendo-os. - Ah, oi Senhor O´Conell. - Sorriu, ao reconhecer o inominável. - Vem minha filha, eu tenho que te jogar na lareira e te mandar de volta para casa... Não posso te deixar andando pelo ministério enquanto trabalho, é perigoso!

- Mas mãe... - Protestou ela, ao ser arrastada pela mulher.

- Olá. - Sorriu o auror em questão. - Senhora Lupin, eu achei que sua filha poderia ficar e participar de uma aula, já que é do interesse dela se tornar auror.

- Ah, o que? - Perguntou ela confusa, parando abruptadamente. - Hum... Eu não sei... – Ponderou, torcendo o nariz. - Acho meio arriscado deixar a Estelar sem supervisão durante muito tempo. Ela tem um talento nato para arrumar confusão sabe!? - Sorriu.

"Valeu mãe! Me mata de vergonha, eu não importo..." Pensou a Grifinória ao direcionar para Ninfadora um olhar acusador

- Eu acho que não seria adequado deixar uma jovem estudante, em uma aula onde o nível dos aurores é bem mais avançado... - Ponderou Phillip entrando na conversa. - Você terá sua chance quando se formar. Tenho certeza. - Falou a última parte olhando a menina.

- Viu, é isso aí! - Concordou a Senhora Lupin, dando alguns tapinhas amigáveis nas costas do rapaz. - Muito bem pensado... Além do mais, se eu faço isso o Remo me mata.

- Que seja... - Deu de ombros Estelar, já sem a menor vontade de permanece naquele lugar, afinal, mais algum tempo ali com a sua mãe falando sem parar, e ela jamais se recuperaria do trauma da vergonha que com certeza passaria. "Poxa vida, porque eu não posso ter uma mãe normal como todo mundo em horas como essas!?" Resmungou em pensamento, ao se deixar levar pela mulher.

Acenando de maneira educada, Phillip e John se despediram das duas, entretanto, assim que elas passaram pela porta, o sorriso que ambos mantinham na face se apagou, dando lugar a uma expressão séria, enquanto se encaravam, um avaliando o outro, assim como costumavam fazer em suas constantes disputas, onde um tentava se mostrar melhor profissional que o outro, embora pertencessem a diferentes áreas de atuação no Ministério da Magia.

- Devo lembrá-lo Senhor Crowel, que está em um ambiente de trabalho e que, portanto, a sua atitude não foi...

Sem a menor intenção de escutar a advertência que se seguiria, Phillip simplesmente se virou e foi embora, deixando o inominável para trás, realmente chateado consigo mesmo por te se deixado afetar, afinal, ele tinha certeza, toda aquela cortesia que John havia dedicado a filha de Ninfadora, tinha sido apenas para atingi-lo. “Eu detesto esse cara...” Pensou ele com aspereza, dando asas, mais uma vez, a sua mania de perseguição.

--

Andando em círculos dentro do quarto, Ted tentava encontrar alguma explicação plausível para ainda não ter recebido uma resposta de Sarah, afinal, já era quinta-feira e até agora nada, o que era muito estranho, já que uma coruja conseguiria cumprir a distância entre as casas em no máximo um dia inteiro...“Isso só pode ser culpa do pai dela, oposto que o Malfoy está interceptando as minhas cartas” Raciocinou, chegando por fim a uma conclusão que o agradasse.

- Eu vou dar um jeito nisso... – Falou consigo mesmo, decidido a fazer com que uma carta sua alcançasse a menina, antes que ela começasse a achar, que ele a havia esquecido.

Então, após alguns rascunhos, o rapaz escreveu a sua terceira carta para a garota, mas dessa vez, tomando o cuidado de enfeitiçar o pergaminho para que esse encontrasse Sarah, assim que a coruja entrasse no terreno dos Malfoy´s... Satisfeito com o seu trabalho, Ted saiu do quarto e foi para o pequeno quintal atrás da casa, onde ficava o viveiro das corujas da família.

Ao mesmo tempo, trancada em seu quarto, Estelar tratava de esconder dentro do malão, o seu novo carregamento das “Gemialidades Weasley´s”, que seria devidamente encoberto, quando comprasse o seu material escolar daquele ano, assim como havia planejado. E embora tal tarefa detivesse a completa atenção da garota, ela não pode deixar de reparar, quando uma coruja da torre, pousou educadamente em sua janela.

- Por Merlin! – Exclamou ela, sobressaltando-se, ao reparar eu o animal trazia consigo o resultado dos NOM´S.

Eufórica, a menina pegou a correspondência, jogando para a coruja um pouco de biscoito, enquanto rasgava o envelope, ansiosa para conferir o seu desempenho nas provas... Com um largo sorriso de satisfação, a Grifinória saiu correndo de seu quarto, indo até o do irmão, para mostrar a ele suas notas.

- Ted, Ted... – Gritava ela seguindo pelo corredor. – Ei Ted! – Chamou, batendo na porta. – Eu to entrando heim, é melhor tá vestido. – Brincou.

“Que estranho... Eu não sabia que ele ia sair hoje.” Pensou com estranheza, ao entrar sem cerimônias no quarto, e não encontrar o irmão.

- Estelar!? – Surpreendeu-se o rapaz, ao voltar do quintal e encontrá-la ali. – O que você pensa que está fazendo aqui? Quem te deu o direito de entrar no meu quarto? – Ralhou, sem dar tempo para que a garota se explicasse.

- Tá maluco Ted!? – Reclamou ela em tom magoado. – Por que tá sendo tão grosseiro comigo?

- Ah, e você ainda pergunta? – Debochou. – Você vem até aqui, se intromete nas minhas coisas... – Disse, indicando com um gesto, os rascunhos da carta que escrevera para Sarah, que estavam sobre a escrivaninha. – E ainda assim, não quer que eu reclame, você é mesmo uma figura Estelar!

- Quer saber, vai a merda! – Gritou a garota em resposta. – Eu não vou ficar aqui aturando os seus ataques... Ninguém tem nada haver se a Sarah não responde as suas cartas!

- Como se você estivesse muito preocupada com isso. – Tornou o outro igualmente alterado. – Tenho certeza que esse só é mais um motivo para você fazer piada, afinal, é isso que você gosta não é!? Me fazer de besta...

- Pára! – Cortou ela, chateada. - Não desconte em mim a sua frustração tá legal!? Além do mais você não tem o direito de dizer isso... Eu sempre ajudei vocês dois, sempre! Então acredite, não existe ninguém que torça mais por você e pela Sarah do que eu!

- Não se faça de santa Estelar, por que você não é.

- Vocês dois aí em cima parem já com essa discussão. – Brigou Lupin de onde estava.

- É, você tem razão, não sou santa mesmo não! Faço muita merda por aí... – Falou ainda aos gritos. - Mas você não pode me acusar disso, por que eu nunca...

- Eu não quero saber! – Interrompeu o auror. – Você, os gêmeos, e mais um monte de gente, estão sempre tirando sarro do...

- Ah, vai para o cacete! – Esbravejou Estelar, arremessando no rapaz um sapato que estava próximo da porta.

- Não, vai você! – Berrou o ex-grifinório, agarrando o sapato e arremessando-o de volta na irmã.

Se Estelar não tivesse desviado a sua atenção para olhar o pai que subia as escadas, se Ted não tivesse uma ótima pontaria, se ele não estivesse tão próximo e com tanta raiva, o sapato não teria acertado em cheio o rosto da menina, fazendo-a gritar quando o seu nariz emitiu um barulho engraçado, enquanto o sangue descia por ele abundantemente, bem no momento em que Remo chegava, a tempo de ver tudo.

- Estelar... – Assustou-se ele, amparando-a.

- Por Merlin... – Sussurrou Ted, incapaz de acreditar no que tinha acabado de fazer.

- Mas que droga, no que você estava pensando? – Ralhou o professor de DCAT. – Como pode fazer isso com a sua irmã?

- Foi um acidente pai, eu não queria...

- Acidente!? Olha só pra isso. – Cortou, indicando a quantidade de sangue que já começava a manchar a roupa da Grifinória.

- Pai, eu não... Estelar... – Chamou o rapaz, tentando se aproximar.

- Não encosta em mim. – Choramingou ela com a voz mole, enquanto segurava o nariz ferido.

- Estelar... – Insistiu.

- Já chega – Pontuou o senhor em tom mordaz, direcionando ao filho um olhar enraivecido. – Vamos querida, eu vou te levar para o hospital. – Falou, deixando o auror para trás, ainda em choque.

O restante daquele dia foi terrível de todas as forma possíveis, e grande pare disso, Ted sabia, era culpa sua. Por isso, abaixou a cabeça e ouviu calado toda a série de broncas que recebeu, tanto do seu pai quanto da sua mãe, desejando na verdade, que alguém também quebrasse o seu nariz, porque talvez assim, ele pudesse se perdoar pelo que havia feito... E mesmo agora, horas depois, o ex-grifinório ainda se sentia péssimo, o que o deixava incapaz de conciliar o sono, enquanto rolava de um lado para o outro em sua cama, ainda com a visão perturbadora de sua imã aos prantos, com o nariz sangrando. “Como será que ela está?” Pergunta-se ele em pensamento, ao mesmo tempo em que se levantava da cama com um suspiro pesado. Pé ante pé, o auror se arrastou de forma silenciosa pelo corredor, até alcançar a porta do quarto da Estelar, por onde passou sem bater, indo direto até a cama onde ela dormia, sentando-se a seu lado com cautela, vendo pela primeira vez o estrago que havia causado... Com uma bandagem rodeando a cabeça, exatamente sobre o nariz ferido, obrigando-a a respirar pela boca, Estelar tinha marcas avermelhadas e escuras sob os olhos, indicando que com certeza, havia uma roxidão no exato local onde o sapato tinha batido.

- Eu sinto muito... – Sussurrou o rapaz, enquanto acariciava de leve a cabeça da menina.

- Está tudo bem. – Respondeu Estelar, surpreendendo o irmão.

- Estelar... É, eu... – Falou confuso, sem saber ao certo o que fazer. – Eu não queria ter te acordado, me desculpe, eu não...

- Eu já disse que está tudo bem. – Tornou ela, sem sequer levantar a cabeça do travesseiro.

- Não, não está... – Suspirou. – Não foi justo, eu descontar em você os meus problemas, por mais irritante que você consiga ser às vezes. – Concluiu, jogando o próprio tronco sobre o corpo da irmã, abraçando-a. – Eu realmente sinto muito.

- Relaxa, eu ainda vou pensar em alguma coisa pare te fazer pagar por isso.

- Eu tenho certeza que sim... – Sorriu. - Então, me diz, você vai ou não ficar com o nariz torto!?

- Humpf... Se isso fosse acontecer você com certeza já estaria morto a essa hora, mas não... Eu não cheguei a quebrar o nariz, só desloquei, sei lá. Então pode ficar tranqüilo por que você não deformou a sua irmã!

- Você realmente sabe fazer alguém se sentir melhor... – Comentou o ex-grifinório, fazendo uma careta, não gostando de como a piada soou na voz dela.

- Disponha... – Ironizou, embora não sorrisse.

- É melhor ir dormir Estelar, você mal está conseguindo manter os olhos abertos.

- Isso tudo é por causa daquele monte de poções que me obrigaram a beber lá no hospital. – Resmungou.

- É claro, é claro... – Concordou ele compreensivo, ao mesmo tempo em que dava um beijo na testa da grifinória. – Boa noite! – Desejou, encaminhando-se para a saída do quarto.

- Ei Ted... – Chamou a garota com a voz sonolenta, fazendo o irmão se deter na porta para ouvi-la. – Não se preocupe tanto, tenho certeza de que a Sarah não te esqueceu, e que deve estar agorinha mesmo, se esforçando para enganar o pai, só para escrever uma carta pra você.

- Obrigado. – Disse Ted em tom carinhoso, antes de bater a porta e sair.

--

Sarah estava deitada em sua cama, havia decidido passar seu primeiro dia de liberdade, exatamente assim, deitada em sua cama. Não queria sair de seu quarto e encarar sua vida, principalmente porque, logo após seu pai ter saído do quarto, Lúcio, seu avô, viera lhe fazer uma visita. As palavras que ele lhe disse a deixaram apreensiva. Não sabia quem contara para seu avô sobre Ted, mas se descobrisse quem foi, essa pessoa corria sérios riscos de ser amaldiçoada... Seu avô não era como seu pai, não pararia para ouvir o que ela tinha a dizer, sabia disso, sabia que esse defendia muito mais as tradições de sangue, do que seu pai. As palavras “Estou de olho em você.” Se tornaram a pior espécie de ameaça, sabia que nada que remetesse a Ted, chegaria a ela, não se dependesse dele. Somente os elfos entraram em seu quarto após isso, para lhe levar o jantar. E por mais que estivesse estirada na cama, não dormia. Passou o resto do dia olhando para o teto, tendo tempo suficiente para observar e memorizar cada detalhe dali.

Ela não sabia predizer a hora exata, mas devia passar da meia-noite, quando uma grande coruja marrom avermelhada, bicou sua janela. Pulou da cama assustada com o barulho. Ainda mais vendo os dois olhos da coruja pousados sobre si.

Recompondo-se, andou até o animal, curiosa, pegou a carta, foi até sua mesinha de cabeceira, onde seus elfos haviam deixado biscoitos e suco para ela. Pegou o prato e pôs na frente da coruja, essa que aceitou de prontidão o agrado.

A menina que havia parado perto da janela, observando a coruja bicar os biscoitos, pode ver um enorme pavão branco, parado no jardim, na direção de sua janela. O pavão olhava diretamente para ela. Agitada, tocou a coruja para que essa fosse embora, trancando a janela em seguida. Começou a revirar suas coisas, desejando encontrar algo em que pudesse esconder a carta, sabia de quem era, e sabia que seu avô logo estaria ali para confiscá-la. Olhando apressada todas as coisas que tinha em seu quarto, tentava solucionar esse problema rápido, sua mente trabalhava, mas nada lhe parecia satisfatório.

Até que seu olhar pousou sobre um grupo de ursinhos cada um deles dados por Pansy toda vez que ia as compras. Pegou sua varinha e apontou para a carta, mas parou. “Eu não posso fazer feitiço!” Seu pensamento lhe chamou para a razão. Mas logo em seguida se lembrou de Estelar falando algo sobre a varinha mais poderosa não ser rastreada. “Se isso é verdade ou não... Só vou descobrir na pratica!” Ponderou, fazendo o feitiço, pois já era possível ouvir os passos de seu avô no corredor.

- Sarah. – Ouviu a voz poderosa o homem, que abriu a porta do quarto sem cerimônia.

- Hum? – Respondeu sentada a cama.

- Me dê. – O homem estava sério. Vasculhando o quarto com o olhar.

- Dar o que? – Respondeu se fazendo se sonsa.

- A carta! Não se faça de desentendida! – Esbravejou entrando no quarto. Observou a mesa de estudo da menina, fuçou alguns papéis e livros, mas logo se cansou. Perdendo a paciência que já não tinha. Ergueu a varinha e proferiu “Accio Carta” alguns papéis vieram até o homem, mas eram cartas que Sarah havia recebido ao longo de sua vida, a carta em questão não estava ali. Irritado, o homem olhou para a menina, sabia que ela havia escondido em algum lugar. Maquiado a carta, só podia ter sido isso. – Accio Ted! – Falou com um sorriso vitorioso. Qualquer coisa que remetesse ao garoto iria ser descoberta.

Sarah tentou conter sua careta de desaprovação, não esperava que o avô fizesse aquele tipo de busca, não sabia se o que fizera, iria reagir com aquele feitiço.

Assim que Lúcio terminou de proferir o feitiço, um grande urso marrom voou sobre ele.

- O que é isso? – Questionou irritado. Olhando o grande bicho de pelúcia caído ao chão.

- Ted é o nome do urso... – Respondeu indiferente, internamente rezando para que ele acreditasse.

- É mesmo? – Havia ironia em suas palavras.

- É... Ou o senhor nunca soube que Ted é um nome comum para ursos de pelúcia? – Devolveu com o mesmo tom de ironia.

- Eu não me apego a esses detalhes... – O homem caminhou até o urso, pegando-o do chão e levando-o até o lugar onde estava. – E você já está bem grandinha pra manter ursinhos de pelúcia não acha?

- Eu também não me prendo a esses detalhes vovô... – A vontade da menina era de sorrir largamente, mas não o fez, sabia que sua resposta seria encarada como um desafio a Lúcio, mas se risse, ele encararia como desrespeito, e isso o homem jamais acataria, e ela nunca teria a chance de responder àquela carta.

Com um longo olhar avaliativo, o homem acabou por deixar a menina sozinha no quarto.

Sarah olhou para o ursinho, querendo muito transformá-lo em carta novamente, mas não o fez por ter certeza de que seu avô a estava monitorando. Se queria vencê-lo deveria ser prudente. Superando sua própria ansiedade, deitou-se em sua cama e tentou dormir. Porém após a quinta tentativa falha de pegar no sono, trouxe a carta a sua forma original e tratou de lê-la. Sem se importar com cabeçalhos, ou outra coisa qualquer, pousou seus olhos diretamente nas palavras grafadas naquele pergaminho:

“Eu não sei ao certo no que estava pensando quando peguei esse pergaminho para lhe escrever, na verdade, me parece meio precipitado enviar uma carta pra você, quando o dia sequer chegou ao seu fim, mas eu simplesmente não pude resistir ao impulso, afinal, me pareceu injusto, que seu pai lhe levasse embora tão rápido, quando nós ficamos por quase um mês inteiro afastados... Estou com saudades Sarah! Enfim, eu espero que você esteja melhor, e que se recupere rápido dos problemas que afetaram a sua vida ultimamente. De qualquer forma, pode contar comigo, pois sempre estarei ao seu lado...”

A menina leu a carta com um largo sorriso em seu rosto, atípico a sua personalidade, mas condizente com o que sentia ao ler aquelas palavras. Porém sem muito tempo para reler ou absorver aquelas palavras, a porta do quarto se escancarou, passando por ela, a figura de Lúcio Malfoy, que foi diretamente a mão da menina, retirando-lhe o pergaminho de sua posse.

- Eu sabia! Te peguei! – Apontou de forma inquisitória para a neta. – Essa carta vai ficar comigo mocinha! Não vou permitir que minha neta se envolva com um Lupin! – Falou já amassando o papel e colocando-o no bolso da calça. – Eu vou morrer antes de ver isso acontecer Sarah! Me ouviu?! Morrer! – O homem esbravejou a última parte, saindo do quarto em seguida.

Sem saber o que fazer, corroída de raiva e frustração a menina saiu do quarto batendo o pé. Andou até o quarto de seu pai onde esse estava deitado em sua cama. Sem pedir ou verificar se o pai dormia de fato, jogou-se ao lado de Draco, se enfiando por entre os braços do pai. Em momentos como aqueles, mesmo que seu pai não concordasse com seu envolvimento com Ted, ele não lhe deixaria sozinha.

O homem que não estava dormindo, fechou os braços ao redor do pequeno corpo da filha, lhe aconchegando em seu peito.

- O vovô... Ele pegou a carta... Ele pegou a carta do Ted... – Choramingou ela, afundando mais o rosto do peito do pai.

- É... Eu ouvi... – Falou passando a mão nos cabelos da filha. – Sarah... Você sabe que eu faria o mesmo não sabe?

- Não! Não faria! O senhor iria se arrepender e deixaria a carta em um lugar onde eu depois acharia! – Resmungou agora já olhando para Draco. – Já o vovô! Ele vai queimar a carta! Vai se livrar dela! Ele não tem o direto!

- Olha. Eu não vou contra o que o seu avô fez. Eu também não quero que você se envolva com Ted Lupin. – Falou em tom compreensivo. – Porém, eu não vou te deixar sozinha. Se você precisa de apoio, eu estou aqui. Fique o quanto quiser. – Terminou ajeitando sua cabeça mais perto da filha, olhando-a.

A menina não falou mais nada. Sabia que do jeito dele, seu pai estava lhe apoiando e isso já era o suficiente.

No dia seguinte, a menina se prolongou ao máximo para sair do quarto de seu pai, e assim que o fez, foi imediatamente para seu próprio quarto. Concentrou-se em escrever uma carta em resposta a Ted. Podia não ter a carta original em mãos, mas sabia exatamente as palavras da mesma. Por toda a manhã, Sarah escreveu e reescreveu a carta inúmeras vezes, sem saber exatamente o que dizer, não tinha tanta facilidade em exteriorizar seus sentimentos, porém quando se tratava do auror, temia dizer mais do que devia, por isso, toda vez que uma carta estava pronta, ela achava um defeito nessa, ou estava fria demais, ou melosa demais...

Durante esse dia, se concentrou em finalizar a carta, ficando em seu quarto, e não falando com mais ninguém. Ainda estava chateada com seu avô, não queria encará-lo e como esse não a procurara, conseguiu fazer sua carta em paz.

De madrugada, levantou de sua cama cautelosamente e foi até o corujal da mansão para enviar a carta. Buscou a coruja que geralmente usava, de pelugem negra e porte médio, mas que era veloz...

- Você não pensou mesmo que podia me enganar pensou? – A voz de seu avô atrás da menina a fez congelar seu movimento.

“Mas que droga! Você não dorme não?” Pensou, mas logo desfez o pensamento, temerosa que o homem o lesse.

- Me entrega a carta. – Ordenou, esticando a mão na direção dela.

- Não! É minha! Você não tem o direto! – Sarah gritou, escondendo o pergaminho atrás do corpo.

- Olha como você fala comigo! – Bradou pegando no braço da menina, balançando-a.

- Para com isso! Eu não vou dar! Isso não é problema seu! – Ela gritava sem de fato perceber que palavras estavam saindo de sua boca.

- Menina petulante! – Lúcio gritou puxando-a com mais força, agarrando o outro braço em seguida para iniciar uma guerra entre os dois, cada um puxando uma parte do pergaminho, até que esse não resistiu e se rasgou ao meio.

A menina olhou para o pedaço que ficara em sua mão, com raiva o jogou sobre seu avô e saiu correndo para seu quarto.

- Eu vou trancar o corujal! Ouviu bem?! Você está proibida de entrar aqui! – Gritou antes que ela sumisse pela porta.

Sarah se trancou no quarto, evitando até mesmo que os elfos entrassem nele. Não comera nada além de alguns biscoitos, estava muito brava com seu avô, mas nada podia fazer a não ser se esconder do homem e foi exatamente o que fizera.

Na noite de seu terceiro dia de “liberdade” deitada em sua cama, ouviu um farfalhar de asas perto dela. Se moveu rápida até a janela e viu uma coruja marrom, um pouco menor que a primeira, voando perto de sua janela. Observou ao redor, não havia sinal de seu avô ali. Se perguntando se pegava ou não a carta decidiu abrir a janela e receber a coruja, que pousou no beiral da janela. Pegou a carta e tratou de dispensar a coruja, pois não sabia se de fato seu avô a estava vigiando. Trancou a janela e imediatamente pegou sua varinha, tinha algo em mente para se livrar de seu avô.

Alguém bateu na porta, chamando por ela. Reconheceu a voz de um de seus elfos, confusa, abriu a porta, esperava seu avô e não um elfo.

- Chegou para a senhorita. – A expressão estranha do elfo fez Sarah erguer uma sobrancelha.

- O que foi? – Questionou pegando a carta.

- Essa carta foi deixada no portão. Por meios trouxas. – Falou a pequena criatura com uma careta.

- Trouxa? – Porém a menina não teve tempo de questionar mais nada, uma vez que seu avô despontou ao final do corredor, ao ver uma carta em sua mão, tratou de avançar sobre essa.

- Me dá essa carta Sarah!

- Não! – Gritou, entrando em seu quarto e batendo a porta antes que esse entrasse.

Não demorou muito para que o homem destrancasse a porta e entrasse no quarto. Encontrando Sarah em sua cama, tentando esconder a carta. Lúcio correu e pegando firme no braço da neta, retirou a carta de sua mão.

- Eu sabia! Esse moleque não desiste! Mandando carta por meio trouxa... – Censurou ao pegar o pergaminho e sair do quarto.

Sarah esperou alguns minutos e foi até porta trancando-a. Havia duas cartas em sua mão. Seu avô levara a cópia proposital que fizera da carta de Ted. Porém analisou curiosa a segunda carta, aquela que recebera por meio trouxa. “É da Kayla.” Concluiu, lendo o remetente. Abriu a carta e leu, sem prestar muita atenção no que de fato a menina havia escrito. Só conseguiu observar duas coisas, “Ela escreve Nem até nas cartas...” a segunda fora algo que a deixara curiosa, a Corvinal comentava que desejava uma foto das quatro e pedia que ela levasse uma câmera. “Porque ela ta me pedindo isso? Ela acha mesmo que eu vou levar?” Censurou a atitude boba da outra, logo pondo a carta de lado, para ler a de Ted.

“Eu sei, você deve estar me achando maluco por escrever mais uma carta em tão pouco tempo, mas eu não sei se você chegou a receber a primeira, e além do mais, eu também tenho algumas novidades para lhe contar... Estive conversando com Arthur, o ministro, e ele me garantiu que estarei de volta a Hogwarts como auror, o que é bom, porque assim além de vigiar a Estelar, eu posso ficar perto de você. Espero que essa notícia te agrade, tanto quando a mim, que mesmo no meio de profecias e outras coisas, consigo enxergar um bem maior em tudo, afinal, caso contrário, eu nunca teria realmente conhecido você... Meio mórbido isso, você não acha!?”

O sorriso típico que se formava quando lia as palavras do auror, se formou mais uma vez no rosto de Sarah, ele estaria em Hogwarts também, isso a alegrava. Pois tudo se tornava mais fácil no colégio, onde seu avô nada podia fazer, e seu pai havia mais do que só a sua vida para se preocupar.

Eufórica, procurou um pergaminho e uma pena para escrever uma resposta, porém se lembrou que não podia entrar no corujal. Teria que pensar em outra maneira. Iria se dedicar a achar um meio de fazer sua carta chegar até ele.

Sarah passou os dois dias seguintes concentrada na tarefa de achar um meio de enviar sua carta, quase não saia do quarto, somente para fazer as refeições, pois seu avô fazia questão de arrastá-la do quarto. Só faltavam dois dias para o fim de suas férias, e o fato de pensar que Ted poderia estar achando que ela não quisera responder, a deixava ainda mais concentrada em sua tarefa.

Já entardecia quando ouviu um barulho, como se algo raspasse no chão, quando olhou para o batente, reparou ao longe a mesma coruja marrom que viera antes, já partindo. E uma carta que acabara de pousar no chão de seu quarto. Diferente do normal, a coruja não esperou que pegasse a carta, e ao que parece essa havia passado pela fresta de sua janela. “Ele deve ter feito algo...” Pensou com relação há algum feitiço que o outro possa ter feito na carta.

Mas ela não se prendeu a esse detalhe, e logo tratou de abrir a carta e lê-la.

“Sarah, eu estou começando a ficar preocupado... Por que não responde as minhas cartas? Elas ao menos estão chegando até você? Se não, essa com certeza vai te alcançar, estou garantindo isso! Enfim... Durante esses dias, eu estive pensando em algumas coisas, e não pude deixar de me sentir incomodado com o jeito que estamos nos moldando ao mundo ao nosso redor... Seja o que for que o seu pai, ou quem quer que seja, vê de errado em nós dois, eu garanto a você que isso nada significa, por essa razão, por mais inapropriado que seja, pois é algo que deveria ser dito pessoalmente. O que eu quero saber é, se você quer namorar comigo!? Você achou estranho eu te perguntar isso agora? Pois é, eu também, mas acabei me dando conta de que nunca tinha te feito essa pergunta, e isso me parece errado, pois me dá a sensação de que estou enganando ou escondendo algo no mundo, quando na verdade, o que eu mais gostaria era de poder andar do seu lado livremente, mostrando a todos a sorte que eu tive em poder conhecer e ter na minha vida alguém como você!”

A menina suspirou ao terminar de ler a carta. Havia sim um sorriso em sua face, mas não era tão feliz quanto os anteriores, as coisas que Ted dissera na carta, a fizeram parar para pensar no que aquela relação era. Ali estava ela se empenhando para conseguir enviar uma carta! Nunca em sua vida se dedicara tanto a uma causa tão boba, aliás, tudo que remetia ao auror, a deixava boba. Balançando a cabeça negativamente, afastou os pensamentos contraditórios, não iria se deixar levar pelo pensamento tipicamente Malfoy, ao contrário do que ouvira durante sua vida, não havia nada de errado em ser humano e ter fraquezas as vezes. Balançou a cabeça novamente e voltou a se concentrar na tarefa de enviar uma carta a Ted, agora mais do que nunca, desejava lhe enviar uma resposta...

Sarah conseguiu achar um meio viável para enviar sua carta no sexto dia de férias, não lhe restava muito tempo, por isso assim que o sol despontou no horizonte, iniciou sua corrida contra o tempo... Por toda a manhã, a menina se viu cercada por seu avô, que estranhando vê-la fora de seu quarto a ficou enchendo de cobranças e conselhos não desejados. Irritada a menina tentou despistá-lo, mas não surtira efeito uma vez que Lúcio se mostrava cada vez mais habilidoso na arte de importuná-la. Do mesmo jeito a tarde correu, fazendo com que ela já não tivesse mais a animação que tinha pela manhã. “Desse jeito eu não vou conseguir enviar!” Seu pensamento não a estava ajudando. Tinha que fazer algo, e rápido.

Desanimada, jogou-se na grama do jardim. Não teria como dobrar seu avô, já não havia mais tempo. Acabou passando o restante da tarde abraçada aos próprios joelhos, olhando o horizonte, sem de fato reparar onde Lúcio estava. “Não importa, ele está de olho...” Cortou o pensamento.

- Sarah? – A menina se assustou ao ouvir a voz de seu pai atrás de si.

- Sim? – Perguntou se virando para olhá-lo.

- Seu avô... Ele saiu agora há pouco. – Draco falou sentando-se ao lado da filha. – Eu reparei que ele estava te perseguindo... – Completou sorrindo.

- Saiu? – Um brilho de expectativa surgiu no rosto da Sonserina.

- Sim... – Concordou olhando para frente. – Vá em frente, faça o que você queria... – Havia um tom sereno na voz do homem, mas também uma expressão vazia.

- Pai? – Sarah não esperava ver seu pai tomando aquele tipo de atitude.

- Tudo bem... Pode ir. – Finalizou a conversa.

Caminhando apressada pelo jardim, a garoa se dirigiu de volta para a casa, indo por em prática o plano em que tanto havia trabalhado...

--

Todo ano era a mesma coisa... Não importavam a circunstâncias, Ninfadora sempre seria estabanada, Remo sempre manteria a aparente calma, e Ted nunca mudaria a sua expressão, que ano após ano, não deixava de se espantar com a confusão causada em sua casa no dia em que as aulas começavam. Era engraçado para ele assistir toda a correria que sempre acontecia, como se tudo se tratasse de um evento inédito, embora o ritual já se repetisse por dez anos, somando os seus anos de estudo com os da irmã, que este ano, por mais surpreendente que pudesse ser, era a única que havia quebrado o padrão, em não estar correndo pela casa desde cedo, ansiosa por voltar a Hogwarts, pelo contrário...

- Estelar! – Gritou a Senhora Lupin mais uma vez. – Anda rápido, e vem logo tomar café, ou você vai acabar atrasando o seu pai.

- Está tudo bem Ninfa, eu ainda tenho mais um algum tempinho. – Sorriu o homem, por mais que verificasse a todo o momento o seu relógio de pulso.

- Mas o que tem de errado com essa menina... – Resmungou a metamorfa, voltando a sua atenção para a difícil tarefa de cozinhar.

Rolando os olhos de forma impaciente, Ted tentou mais uma vez se concentrar na leitura do profeta diário daquela manhã de domingo, enquanto lutava com os seus próprios pensamentos, que insistiam em projetar teorias desanimadoras sobre o fato de ainda não ter recebido uma resposta de Sarah.

- Mas que porcaria... – Disse Estelar com um muxoxo, ao entrar na cozinha, ainda vestida com suas roupas de dormir.

- Isso lá é jeito de se cumprimentar... O que aconteceu com o bom dia!? – Criticou Lupin.

- Eu não acredito Estelar... Você ainda está assim!? Já deveria estar pronta a essa hora.

- Ah mãe... Uma semana de férias foi muito pouco, não deu para fazer nada direito. E depois, eu não sei se estou muito a fim de voltar para o colégio, com aquele fulano lá sendo diretor. – Explicou, fazendo uma careta, enquanto largava-se em uma das cadeiras ao redor da mesa.

- Não seja tão pessimista, pense no quadribol. – Falou Ted, dando de ombros, sem desviar os olhos do jornal, ao mesmo tempo em que Ninfadora colocava na frente da filha um prato cheio de alguma coisa de aparência muito suspeita.

Com uma expressão que mesclava estranhamento e nojo, a Grifinória encarou a comida oferecida pela sua mãe, perguntando-se como era possível que todos ali ainda estivessem vivos, após anos servindo de cobaia para os exóticos experimentos culinários da auror...

- Ei, o que aquele passarinho está fazenda ali!? – Questionou a garota, ao desviar o olhar de seu café da manhã e finalmente reparar na minúscula ave esverdeada, que bicava insistentemente a janela.

- Que bonitinho! – Exclamou a metamorfa em tom animado, deixando de lado o que fazia para ir abrir a janela, na intenção de brincar com o animal. – Vem cá seu periquito...

Entretanto, assim que a mulher abriu a janela, o periquito levantou vôo e passou ligeiro por ela, ignorando por completo o biscoito que lhe era oferecido, tamanha a concentração em sua tarefa, planando em círculos pela cozinha, até que finalmente deixou que caísse de suas diminutas patas um pergaminho, que teve o seu tamanho normal restabelecido quando alcançou o colo de Ted, que supresso, ainda demorou alguns segundos até entender o que estava acontecendo...

- Tinha que ser coisa da Sarah mesmo... – Sorriu Estelar dando de ombros, enquanto acompanhava o pequeno animal partir, muito satisfeito consigo mesmo por cumprir a sua tarefa.

Ouvir o nome da Sonserina funcionou para o rapaz com um gatilho, que de repente o livrou do entorpecimento, enchendo-o de uma incontrolável ansiedade, que o levou a abrir ali mesmo a carta, sem se importar com os olhares curiosos que o cercavam, concentrando-se apenas nas palavras pelo qual tanto havia esperado.

“Ted... Me desculpe. Eu tentei responder as suas cartas. (Sim eu recebi todas!) Mas o meu avô conseguiu ser muito eficiente na tarefa de me impedir de te escrever... E talvez ele tenha sido eficiente o suficiente, se essa carta não chegar a você. Eu fiquei feliz de saber que você vai voltar conosco para Hogwarts, as coisas são bem mais fáceis lá... Eu também senti saudades! Eu queria muito poder ir ai e te ver a hora que eu quisesse... Por que as coisas não podem acontecer como a gente quer? Por que as vezes tem de ser tão difícil? Bom... Mesmo assim nós vamos continuar tentando não é? Saber disso me anima. Sabe... É engraçado reparar que nós estávamos juntos sem estar namorando, apesar disso nunca ter me incomodado, pois um titulo não é mais importante do que ter você ao meu lado. (Por Merlin, não deixe sua irmã ler essa carta!)... Mas já que você perguntou... Bom, claro que eu quero namorar com você... Desejo isso desde muito tempo... (E eu não te acho louco por me escrever tantas vezes... Pelo contrário, fico feliz em saber que mesmo não tendo uma resposta, você ainda insiste...) Sabe de uma coisa? Eu andei percebendo que você desperta um lado em mim, que é bem diferente da pessoa que eu costumava ser... E eu gosto disso, percebi que recusar as coisas que eu sinto para manter a postura nem sempre é o mais adequado... Bom, vou parar de dizer essas coisas, pois se eu reler mais uma vez essa carta, não vou enviá-la por achar que está boba demais... Pelo menos amanhã estamos voltando para Hogwarts ... ”

Com o coração saltando no peito, Ted deixou que um enorme sorriso se formasse em seus lábios, enquanto o seu cabelo assumia um tom claro de castanho, evidenciando a sua felicidade, ao ter em mãos a carta de Sarah.

- É, hum... – Pigarreou Lupin. – Eu vou indo, está na minha hora. Anda Estelar, vamos...

- Ah, pai... – Cortou ela, fazendo manha. – Eu não quero ir direto para Hogwarts, sabe que eu gosto de pegar o expresso.

- Dessa vez não vai dar. Eu tenho que chegar no colégio cedo para arrumar algumas coisas e...

- Tá tudo bem... Eu levo ela para a estação. – Falou o auror em um tom tranqüilo, tão feliz por não ter sido rejeitado pela filha do professor Malfoy, que poderia concordar com qualquer coisa naquele momento.

- Valeu Ted! – Comemorou a Grifinória, dando um beijo no irmão antes de sair correndo para se arrumar. “Graças a Merlin... Estava começando a ficar preocupada com esses dois.” Pensou ela, sentindo-se aliviada.

- Eu vou levar as malas da Estelar direto para Hogwarts. – Informou o professor, também se levantando para partir, porém não sem antes se despedir de sua mulher adequadamente.

- E então... – Comentou a Senhora Lupin após algum tempo, quando só restavam, ela e o filho na cozinha. – Pela sua cara, eu posso julgar que está tudo bem, não é meso!?

- Sim mãe, está tudo bem. – Sorriu largamente o rapaz, enquanto tomava o cuidado de cumprir com o pedido de Sarah, enfeitiçando a carta, escondendo-a para que ninguém mais lesse o seu conteúdo.

- Fico feliz por vocês! – Tornou ela, passando a mão sobre a cabeça de Ted, bagunçando o seu cabelo até então impecavelmente arrumado.

Então, sem demora, depois que Ninfadora fez o feitiço que escondia o roxo que ainda marcava o nariz de Estelar, ela e o irmão saíram de Hogsmead onde moravam e logo se dirigiram para a estação... E entre animados reencontros e a ansiedade natural daqueles que passavam por tudo aquilo pela primeira vez, existia também a atmosfera de algo novo, evidenciada penas pela presença de alguns aurores que patrulhavam a plataforma, muito embora isso passasse despercebido pela maioria das crianças, principalmente as mais novas.

- Lupin... – Chamou um dos aurores. – Quem diria, eu não esperava vê-lo por aqui. Oh, vejam só e a trabalho! – Disse após reparar no uniforme que o ex-grifinório usava. - Enfim, acho que foi ingenuidade minha pensar que você ficaria afastado permanentemente de casos como esses...

- É, são as vantagens de se ter alguém da família no cargo de Ministro da magia. – Suspirou ele em resposta, igualmente sarcástico, com demasiado bom humor para se deixar levar por qualquer tipo de comentário do gênero.

- Certo! – Tornou o outro com uma careta. – Já que é assim, talvez você não se incomode em escoltar a Senhorita Lupin e as outras...

- Estelar! – Gritou Kayla ao se aproximar, interrompendo o auror.

Trocando alguns olhares nada amigáveis, Ted e o outro se despediram com aparente educação, ao mesmo tempo em que a Corvinal largava o seu carrinho com as malas, para se jogar no pescoço de Estelar, abraçando-a com entusiasmo.

- Ai nem, eu senti saudades, sabia!?

- É, eu também. – Garantiu Grifinória. – Ah, eu recebi a sua carta Kayla, só que não deu para te mandar uma resposta... Eu bem que queria, mas alguém insistia em ocupar todas as corujas lá de casa. Enfim... – Suspirou, olhando por um momento para o seu irmão. - Mudando de assunto, o meu pai não me deixou trazer a máquina fotográfica, se eu tivesse mais tempo, talvez desse para esconder, mas ficou tudo tão em cima da hora que não deu. Foi mal...

- Ah, tudo bem. – Tentou sorrir a menina ao dar de ombros. – Talvez a Sarah consiga trazer a dela.

- É, vamos torcer para que sim. – Apoiou a outra, sentindo-se um tanto quanto decepcionada consigo mesma por não poder ajudar uma amiga, mesmo que fosse em algo tão simples.

- Vamos garotas, é melhor embarcarmos. – Chamou Ted, desistindo de ficar parado em pé na plataforma, afinal, Sarah costumava ir direto para o colégio com seu pai, e não seria agora que isso ira mudar.

- Ah não, vamos esperar a Mel. – Protestou sua irmã, que rapidamente teve o seu desejo atendido.

Aos poucos, a estação 9 ¾ foi esvaziando, e à medida que os alunos subiam ao expresso, e a plataforma perdia a agitação, ser tornava perceptível o quanto o trio ali parado, mais especificamente Kayla e Estelar, eram vítimas de diversos olhares curiosos, que se dividiam entra a repulsa e a admiração.

- Puxa vida nem, ainda bem que você chegou! – Comemorou Kayla, assim que viu Melanie sair da passagem que ligava aquela estação com a dos trouxas. – Eu já estava ficando nervosa com todo mundo olhando pra gente...

- Desculpem o atraso... Eu perdi a hora. – Falou a Lufa-lufa ainda sonolenta.

- Bom dia! – Cumprimentou a mãe da menina ao se aproximar do grupo.

- Bom dia. – Tornou Ted com educação, apertando a mão que lhe era estendida. – Fico feliz em vê-la melhor Senhora Belford.

- Obrigada. – Sorriu a mulher em resposta, embora em seus olhos ficasse clara a sua profunda tristeza. – Senhor Lupin, por favor... Eu gostaria de lhe pedir que cuidasse da minha filha, ela é tudo o que tenho agora e não...

- Não se preocupe! – Cortou ele, antes que a situação saísse de controle. – A sua filha será muito bem cuidada, garanto isso a Senhora. – Disse o rapaz com convicção, ao mesmo tempo em que Estelar e Kayla limitavam-se a sorrir educadamente para a mãe de Melanie, ambas com receio de falar algo inapropriado que pudesse prejudicar a sua recuperação.

Mais tarde, quando o expresso já havia iniciado a sua viagem, e todos já estavam acomodados, Ted e as meninas ocupavam sozinhos uma cabine, onde o barulho das gargalhadas de Kayla e Estelar preenchia o ambiente, passando conforto a Melanie, que de fato ainda não estava totalmente recuperada do últimos acontecimentos de sua vida, e também um pouco de satisfação para Ted, que curioso, reparava no quanto a sua irmã parecia à vontade na companhia daquelas meninas, muito mais até do que quando era cercada por um grupo exagerado de pessoas.

- Hum, Estelar... – Chamou um rapaz ao bater na porta da cabine.

- Oi capitão! – Saudou a garota, com um sorriso, sem se dar conta do repentino desconforto do líder do time de quadribol da Grifinória. – Fala aí, quais são as novidades?

- É... – Suspirou ele. – E não sabia que você estava ocupada, então eu falo com você mais tarde, tchau! – Acenou apressado, logo se afastando do lugar, realmente incomodado com o fato de encontrar aquelas três juntas, quando esperava falar com a companheira de casa sozinha. “Tsc, vai ser complicado fazer isso...” Pensou o rapaz, um tanto quanto receoso, ao se lembrar de suas intenções.

- Aí Estelar... - Brincou a Corvinal, fazendo Ted torcer o nariz em reprovação.

- Pára com isso Kayla! Você sabe que eu não gosto desses pirralhos, então nem...

- Bom, você gostava quando estava no quarto ano... – Comentou Melanie em tom pensativo.

- Ora, isso porque eu era mais nova, agora que eu tenho dezesseis anos, eles já não tem mais a mesma graça. – Deu de ombros a filha do professor de DCAT.

- Será que dá para vocês mudarem de assunto!? – Pigarreou o auror, fazendo as outras sorrirem como se ele tivesse acabado de contar uma piada muito engraçada.

Quando finalmente chegaram em seu destino, o grupo seguiu os procedimentos normais para alcançarem o castelo, com a única diferença, de que agora, Melanie e as ouras podiam ver os testrálios que puxavam as carruagens, já que no ano anterior, haviam tido contato direto com a morte...

Parada junto à entrada do salão principal de Hogwarts, indiferente a procissão de pessoas ao seu redor, Sarah encontrava-se ladeada pelo trio de aurores, Pietro Willians, Andrew Shaw e Ryan Jhones, que junto com Ted Lupin, formavam a mesma equipe do ano anterior, responsáveis pelo acompanhamento das alunas.

- Oi Andrew. – Sorriu Kayla, realmente feliz em reencontrar o rapaz com cabelos de anjo.

- Oi... – Tornou ele, com o rosto ruborizado.

De forma educada e totalmente profissional, ou outros dois aurores as cumprimentaram, que da mesma forma foram respondidos, em contra partida, a Sonserina que até então havia permanecido estática desde que avistara Ted se aproximar, de repente se moveu de forma impetuosa, lançando-se nos braços do rapaz, que mesmo pego de surpresa, a sustentou em um abraço apertado, repleto de saudosismo.

- Eu estava ansioso por isso... – Sussurrou ele.

Sem dizer uma palavra sequer, a garota se afastou, voltando a vestir a sua máscara de frieza, recuperando-se do momento de afetividade, embora os outros ainda permanecessem chocados perante tal atitude.

- Aqui Kayla... – Falou ela, disfarçando o seu constrangimento. – É para você! Presente... – Completou, entregando a Corvinal uma máquina fotográfica.

- Ai nem... – Gemeu a menina. – Obrigada – Sorriu emocionada, com lágrimas no olhos.

Desconfortável com a situação, Sarah tentou se afastar, mas foi impedida quando Estelar a puxou de volta.

- Ah cunhada, você está tão gentil hoje, tô impressionada... – Comentou, abraçando-a de forma carinhosa.

- Dá um tempo Estelar... – Resmungou a filha do professor de poções, com uma careta. – Você está amassando o meu uniforme. – Completou, embora não brigasse para se libertar dos braços da outra.

- É, eu também te amo... – Respondeu Estelar. – Agora vem... Aqui, tira uma foto nossa Ted. – Pediu ela, retirando a máquina das mãos de Kayla, entregando-a ao irmão, que de muita boa vontade a pegou.

- É claro! – Sorriu.

Então, puxando Sarah pela mão, Estelar se juntou as demais, enquanto exibia um bonito sorriso, que logo foi copiado pelas outras, até mesmo por Sarah, mesmo que de forma discreta, ao pousaram para a foto... E sem se incomodarem com o estranhamento das pessoas que passavam, todas as quatro, Corvinal, Lufa-lufa, Sonserina e Grifinória, sem exceção, estavam felizes por poderem registrar um momento como aquele, antes de finalmente entrarem no salão, para participarem do banquete que dava as boas vindas a mais um ano letivo em Hogwarts.

--

- Você vai deixá-las sair ilesas assim mesmo? – Uma voz grossa, bradou, ao lado de Ben, que assistia ao retorno das quatro meninas a Hogwarts por meio de um altar cristalino.

- Hum... Claro que sim... Deixe-as acreditar que ainda há esperança. Deixe-as pensar que ainda são só estudantes normais. Isso irá amolecê-las. – Ben, que estava sentando em seu divã, esticou o braço, e o pedestal que refletia as quatro, se apagou.

- Ben... Você está brincando com a sorte. Devia ter deixado o Daniel acabar com elas quando teve chance. – Tornou a figura imponente.

- Meu querido... Há quanto tempo nós nos conhecemos? – Ele não esperou a resposta. – Há muito. E você sabe muito bem que eu gosto de brincar... – Respondeu sádico, se levantado do divã e caminhando até a figura coberta pelas sombras. – Não tem graça se for do jeito fácil... – Completou, batendo com o dedo indicador na ponta do nariz do outro, que recuou fazendo uma careta.

- Mesmo assim... Você as deixou com status de heroínas, elas podem achar que são capazes... Aquele discurso do Daniel... Foi extremamente encorajador para elas.

- E são heroínas? – Perguntou irônico se dependurando no ombro do outro, que era infinitamente mais forte que sua figura esguia.

- Bom... Eu imagino que não... Uma está debilitada por perder o pai, a outra nunca ofereceu risco, use prata na loba, retire a varinha mais poderosa da última, e você não terá nada mais do que crianças chorando diante de si.

- Huhuhu... - Riu olhando sádico para o outro. – Tolinho... Então por que eu deveria me preocupar? Vamos nos divertir... – Tornou, passando a longa unha pelo maxilar do homem. – Quanto ao discurso, Daniel não seria capaz de ser tão convincente... Quem fez aquele discurso fui eu. Ele só disse o que eu queria que ele dissesse. Acho que ter toda essa responsabilidade posta de maneira tão abrupta, em ombros tão pequenos. Só irá atrapalhá-las.

- Faça como quiser Ben, mas não se esqueça que temos metas a cumprir. – Pontuou sério.

- Não se preocupe... Tudo está como o planejado. – Comentou indiferente. – Ajeite tudo para que em breve eu vá fazê-las uma visita.

- Como quiser... – Respondeu o outro.

Ele sabia, que se dependesse de Ben, a vida daquelas garotas se tornaria um inferno. Mas se dependesse dele. Elas já não teriam mais vida... Apesar da diferença de opiniões, devia seguir os desejos de Ben. “Ele sabe o que faz.” Concluiu saindo da sala, não sem antes dar uma última olhada no outro, que sentado novamente em seu divã vermelho, voltava a olhar intensamente para as quatro meninas refletidas no pedestal.

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Jump (Madona)

Somente existem coisas demais para se aprender em um único lugar
Quanto mais espero,
Mais tempo eu percoá pronto?

Eu não tenho muito tempo a perder,
É hora de traçar meu caminho
Não tenho medo do que enfrentarei,
Mas tenho medo de ficar
Eu vou sozinha na minha própria jornada
E eu posso fazer isso sozinha
Vou trabalhar e lutar para isso,
E vou encontrar meu próprio lugar.

Você está pronto para pular?
Esteja pronto para pular
Jamais olhe para trás, baby
Sim, estou pronta para pular
Apenas pegue minhas mãos
Esteja pronto para pular

Eu e minhas irmãs aprendemos
Nossas lições desde o começo
A única coisa do qual você pode
Depender é sua família
A vida vai te derrubar
Como os galhos de uma árvore
Ela te agita e te balança e te dobra
Até fazer você ver

Você está pronto para pular?
Esteja pronto para pular
Jamais olhe para trás, baby
Sim, estou pronta para pular
Apenas pegue em minhas mãos
Esteja pronto para ...você está pronto?

Somente existem coisas demais para se aprender em um único lugar
Quanto mais espero,
mais tempo eu perco

Vou trabalhar e lutar para isso,
E vou encontrar meu próprio lugar.
Ela te agita e te balança e te dobra
Até que você faça por você mesmo
Eu posso fazer sozinha
Você está pronto para pular?
Esteja pronto para pular
Jamais olhe para trás, baby
Sim, estou pronta para pular
Apenas pegue em minhas mãos
Esteja pronto para pular
Você está pronto para pular?
Esteja pronto para pular
Jamais olhe para trás, baby
Sim, estou pronta para pular
Apenas pegue em minhas mãos
Esteja pronto para pular,
Você está pronto?

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