My Own Prision - Máculas



*** Capítulo 26 - My Own Prison – Ato 1 Máculas

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IMPORTANTE: Leitores, antes que vocês comecem a “devorar” as linhas abaixo para matar a curiosidade, eu devo avisar que não só nesse capítulo, mas como também no próximo, os acontecimentos se dividem em passado e presente, mas não se preocupem, está bem dividido, então acredito que a leitura será de fácil compreensão... Ah, sobre todas as respostas que procuram sobre o desfecho fatídico do último capítulo, bom, vocês a terão aqui, no entanto, sob a óptica das lembranças de alguns personagens específicos, que estão divididas em duas partes: Ato 1 Máculas e Ato 2: Cicatrizes. Enfim... Boa leitura a todos!

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“Eu clamei a Deus
esperando somente Sua decisão
(esperando somente Sua decisão)
Gabriel levantou-se e confirmou...
Eu criei minha própria prisão”

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Relatividade... Com certeza essa simples palavra carrega consigo uma grande verdade, afinal, nunca antes os minutos pareceram se arrastar tão demoradamente quanto naquele momento. Aliais, todos aqueles dias pareciam não acabar nunca... Muitas foram às vezes em que Remo Lupin implorou para que todo aquele pesadelo terminasse, entretanto, agora que o final se aproximava, ele temia pelo que poderia acontecer. “Por favor, Merlin...” Implorou o professor, de forma quase inaudível, ao ver a porta da grande cúpula ministerial ser aberta, dando passagem para as quatro garotas, que devidamente escoltadas, foram encaminhadas para as cadeiras destinadas às rés, onde deveriam aguardar o veredicto, que seria anunciado após as considerações finais daquele julgamento cuja qual, já vinha se prolongando há três semanas.

- Senhoras e Senhores todos de pé. – Solicitou o porta-voz, sendo prontamente atendido por todos. – A sessão está aberta, e presidindo-a, o excelentíssimo Ministro da Magia Senhor Arthur Weasley.

Assim que foi anunciado, Arthur entrou na sala, mantendo em seu rosto uma expressão séria, tentando ao máximo não deixar o seu envolvimento pessoal com uma das rés interferir na forma como dirigiria o julgamento, ele precisava ser impassível, sabia disso. Entretanto, foi impossível olhar para a família de Estelar e se manter indiferente, principalmente diante de olhares tão aflitos, onde ele poderia jurar notar um grito de socorro, por isso desviou a sua atenção, pigarreou alto limpando a garganta, e deu início a sessão.

Remexendo-se em seu assento, Lupin lutou com todas as suas forças para não deixar as suas esperanças ruírem, ao reparar no olhar quase culpado que o Ministro lhe mostrou, mas para o seu próprio desespero, falhou miseravelmente, deixando que sua mente vagasse por caminhos sombrios, onde era capaz de ver a própria filha jogada em uma cela escura e fétida de Azkaban. “Estelar...” Choramingou ele, incapaz de se conter. Com um suspiro pesado o homem olhou em volta, sem de fato prestar atenção em nada, se perguntando como as coisas chegaram ali, se perguntando desde de quando se deixara acomodar de tal modo pela paz, a ponto de se tornar cego diante dos inúmeros acontecimentos daquele ano, que ele sabia ser o início de algo previsto a anos atrás, quando Sibila fez a profecia... Remo bufou sentindo raiva de si mesmo, culpando-se, afinal, se Estelar não tivesse saído, se ele tivesse um pouco mais de tolerância com a verdade, talvez nada daquilo tivesse acontecido... Talvez, ele pudesse dormir tranqüilamente, sem a lembrança aterradora daquela noite chuvosa...

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Memórias:

Lupin não saberia dizer a quanto tempo estava correndo, e muito menos seria capaz de explicar o que estava acontecendo, aliais para ser sincero, a única coisa da qual tinha certeza, era a de precisar, o mais rápido possível, da sua filha segura em seus braços, por isso ele continuava a correr cegamente pelos corredores do castelo.

- Elas estão do lado de fora, eu tenho certeza. – Informou Neville, que corria ao seu lado.

Sem nada dizer, o professor de DCAT apenas continuou em seu caminho, ansioso por alcançar logo os campos de Hogwarts. Entretanto, ao virar na última curva, o homem pode ver à frente um numeroso grupo de aurores, todos rumando apressadamente para os jardins. “Por favor milha filha, esteja bem, esteja bem...” Repetia ele como um mantra em sua mente, apenas seguindo em frente, forçando até o limite o seu velho corpo, ainda assim sem se importar consigo mesmo um instante sequer...

- Estelar, Estelar... – Gritou ele esbaforido, assim que conseguiu avistar a Grifinória, que estava junto com mais três meninas em meio a uma roda de pessoas.

- Nós somos do Ministério da Magia. – Informou alguém que ele não pode ver. - E essas quatro alunas estão presas.

- NÃO! – Berrou Remo, abrindo caminho entre os presentes. – Vocês não podem fa... – A frase morreu em sua garganta, e a expressão indignada do homem deu lugar ao choque.

Trêmulo e pálido, Lupin se deixou tombar diante da horrenda cena á sua frente... Sangue, havia sangue para todos os lados, no chão, nas árvores próximas, nas pessoas, nas mãos de sua filha...

- Merlin... – Sussurrou em meio às lágrimas que já desciam por sua face.

- Mantenha a calma Remo... Por favor, mantenha a calma. – Pediu o professor de Herbologia, direcionando o seu olhar preocupado para o céu, agora quase livre de nuvens.

O pai de Estelar permaneceu parado, como se pregado ao chão, incapaz de acreditar no que via, desejando de forma quase irracional que tudo não passasse de um terrível pesadelo... Mas foi ao escutar os gritos de Draco Malfoy, brigando e azarando qualquer um que se colocasse entre ele e sua filha, que Remo levantou-se de súbito, rumando até o outro professor e o acompanhando na contenta, sendo necessário ao menos seis aurores para contê-los, enquanto as meninas eram levadas sem nem ao menos protestar.

- Não toquem na minha filha! – Esbravejava Draco, agora devidamente imobilizado e desarmado. – Fiquem longe! Eu juro que mato vocês se algo acontecer a ela...

Os gritos desesperados do professor de poções foram sobrepostos pelo urro lupino que varreu a orla da floresta, quando finalmente o seu ficou límpido e o brilho da lua cheia alcançou Remo, que mesmo tendo tomado a poção, foi incapaz de conter a maldição diante dos acontecimentos daquela noite, transformando-o mais uma vez na fera irracional instantes antes de apagar pelo feitiço lançado por Neville.

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E como vinha acontecendo desde que tudo aquilo havia começado, mais uma vez Remo Lupin se culpou por nem ao menos ser capaz de se manter são no momento em que sua filha mais precisou, e olhá-la agora, diante de todas aquelas faces acusadoras, tão quieta e resignada era torturante...

- Vai ficar tudo bem querido. – Garantiu Ninfadora, segurando firmemente em uma das mãos do marido, mantendo em seu rosto um leve sorriso, o suficiente para aclamá-lo.

- Eu sei, eu sei... – Suspirou ele abraçando a mulher, agradecendo mentalmente por ter alguém como ela ao seu lado.

Definitivamente, dentre todos os bens que uma pessoa pode ter, o mais valioso é a família, disso Remo tinha certeza, pois mesmo agora quando tudo em relação ao futuro está nebuloso, ainda assim, ele era capaz de olhar para os seus e sentir esperança, tirando de coisas simples, como o sorriso de sua esposa, a força para continuar... Apertando ainda mais os braços ao redor de Ninfadora, ele se perguntou como seria possível alguém passar por tudo aquilo sem ninguém, e sem que pudesse evitar, instintivamente os seus olhos recaíram sobre o professor de poções, sentado a um canto, sozinho, mantendo em seu rosto pálido uma expressão séria, evidenciada pelas profundas olheiras, que davam ao homem uma aparência muito diferente, do sempre altivo Malfoy...

Entretanto, para qualquer um que observasse, Draco parecia ser capaz de infringir dor em alguém apenas com o olhar, enquanto trancava os dentes, tentando reprimir o nervosismo e a ansiedade, muito embora soubesse que ele mesmo tinha garantido uma defesa sem falhas para a sua filha, e conseqüentemente para as outras garotas também, afinal, aquela tinha sido a condição dela... “hunpf” Bufou ele de forma quase irônica, se perguntando onde estava com a cabeça quando aceitou que Hermione Granger o ajudasse com o processo, engolindo toda a sua arrogância e preconceito, admitindo para si mesmo, por mais que não ousasse dizer isso em voz alta, que a mulher era sim inteligente, talvez até mais do que ele. De qualquer forma, ainda assim, ele não era capaz de se manter tão confiante, afinal, o que estava em jogo era a única coisa a qual verdadeiramente amava... Impaciente, ele suspirou em busca da sua tão conhecida frieza, repassando, mais uma vez, todo o seu trabalho das últimas semanas... Porém, por mais que lutasse contra, os pensamentos de Draco insistiam em seguir um rumo diferente, lembrando-o de algo que ele mesmo nunca julgou ser capaz de fazer...

- Maldita mulher! – Sibilou, amaldiçoando-se por se lembrar de tais coisas.

“Eu estou ficando louco...” Pensou ele de forma coerente, sim era óbvio, afinal que outra explicação teria em alguém como ele se deixar levar por toda aquela situação? Desde quando um Malfoy é tão... Mais uma vez o professor bufou irritado, tentando encontrar uma resposta racional o suficiente, mas desistindo logo em seguida, decidindo-se em se concentrar no que era realmente importante, por isso o homem se endireitou no assento e voltou a sua atenção para as palavras do ministro, embora não pudesse evitar olhar de relance para onde Hermione estava sentada. E nesses poucos segundos, os olhares de ambos se encontraram, proporcionando a Malfoy uma estranha massagem no ego, quando a mulher virou o rosto, encabulada.

- Pelas calças de Merlin, é apenas o Malfoy... – Resmungou ela, consciente de que estava com a face corada.

Controlando a própria respiração, que até então ela não tinha reparado que estava acelerada, Hermione arriscou mais uma olhada na direção do outro professor, que para o seu alívio, parecia estar concentrado no discurso de um dos membros do conselho, que discorria a respeito das últimas provas apresentadas pelo relatório da defesa, enchendo-a, por que não, de uma sensação de orgulho, afinal era inegável o excelente trabalho que ela e Draco haviam feito, porém ela sabia que nada estava garantido, e mesmo confiando no próprio talento, não conseguia deixar se sentir apreensiva. “Imagina se uma dessas meninas fosse a minha filha!?” Pensou, e inevitavelmente sentiu uma tristeza pesar em seu coração, já que com quase quarenta anos, estava claro para ela que a maternidade não faria parte de sua vida... Sacudindo a cabeça, a professora de transfiguração afastou tal pensamento, recriminando-se por algo tão fora de hora, rolando os olhos em sinal de impaciência, que para a sua surpresa se encontraram, mais uma vez, com os de Malfoy, levando a ambos por meio de lembranças tortuosas...

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Memórias:

Hermione estava tão atordoada com os acontecimentos quanto os próprios pais das meninas. Queria fazer algo para ajudar as alunas, pelo que conhecia das quatro, só conseguia pensar que tudo aquilo era um horrível mal entendido.

Ela estava disposta a ajudar, e iria fazer isso, tinha que organizar as coisas, sabia que era um momento complicado, mas tinha que se mexer se iriam fazer alguma coisa. Seu pensamento acabou divagando para o momento em que as meninas foram presas, o choque de Remo e o escândalo de Malfoy. Sabia que Lupin não estava ali, ele havia sido levado para casa, então seu pensamento se voltou no outro professor. “Será que ele está bem?” Divagou, lembrando-se dos aurores o imobilizando e afastando do campo. Não havia tido nenhuma notícia dele após isso. Estava preocupada, sabia que ele poderia se tornar inconseqüente em se tratando da filha.

Com esse pensamento em mente, caminhou em direção às masmorras...

Aquilo não podia estar acontecendo! Draco sentia seu chão desmoronando violentamente. A qualquer momento ele seria engolido pela enorme cratera que havia se aberto em seu mundo. Sua única filha presa por assassinato, isso definitivamente não estava acontecendo!

A fúria lhe subiu pela espinha e tendo como única forma de extravasá-la explodiu uma grande quantidade de frascos de sua prateleira, quando jogou neles o peso de papel de sua mesa. “Eu preciso achar uma forma de tirá-la de lá!” Draco se sentia inútil ao se deparar com sua impossibilidade de fazer algo de imediato, assim como acontecera nos malditos ataques às mentes delas. Nada pôde fazer.

Mais uma leva de frascos explodiu em de sua prateleira. Quando o vapor se dissipou, pôde ver a face assustada da professora Granger parada a porta.

- O que você quer Granger? – Questionou ríspido.

- Olha Malfoy, eu... – Ir até lá não fora a pior coisa, ter que se explicar era bem pior. O que quer que dissesse não iria fazer com que o homem a sua frente, trocasse a carranca, por um sorriso de gratidão. Ela tinha consciência disso. – Escuta. Destruir suas coisas não vai resolver nada. Você sabe disso. Além do mais...

- Não me venha dizer o que fazer! Se já disse o que queria, suma da minha frente! – Draco respondeu sem olhá-la.

- Ouça Malfoy. Eu vim oferecer minha ajuda. Creio que você vai fazer algo. Eu quero tanto que elas saiam disso quando você. Não posso e não vou simplesmente ficar sentada e deixar que o destino cuide delas.

- Fazer alguma coisa? – A sobrancelha dele se ergueu, seu olhar a analisava.

- É! Juntar provas, depoimentos, preparar a defesa delas! Essas coisas! – O tom exasperado da mulher ultrapassou sua voz. Já estava ficando cansada de estar parada ali. Tinham que agir logo.

- Não preciso de sua ajuda Gran...

- Pare! Não seja idiota de recusar ajuda! Largue esse seu orgulho inútil pra lá e aceite que é melhor duas pessoas trabalharem juntas, do que você ficar ai destruindo suas coisas!

Draco observou a mulher a sua frente, o brilho de determinação que já estava se tornando uma constante naquele olhar.

- Faça o que quiser. – Respondeu sem querer de fato dar o braço a torcer e aceitar ajuda.

- Mas eu tenho uma condição. – Falou atraindo o olhar questionador do professor. - Tudo o que nós fizermos, será em prol das quatro. – Afirmou séria, encarando-o.

- Já disse, faça o que quiser, não vou te impedir.

- Ótimo. – Respondeu girando os próprios calcanhares e saindo da sala.

No dia seguinte a professora de transfigurações adentrou cedo as masmorras, com ela uma leva de anotações e livros com alguns registros de julgamentos passados, estava disposta a terminar aquilo o mais rápido possível.

- Madrugou Granger. – A voz irônica do outro a pegou de surpresa a fazendo saltar de susto.

- Por Merlin!

- Assustada? – O sorriso jocoso na face de Malfoy era uma leve lembrança do Draco Malfoy que desaparecia toda vez que problemas assolavam a vida de sua filha.

- Malfoy, eu não vim aqui para...

- Brigar. É eu sei. – Concluiu sério, já sabendo a fala da outra. – O que você pesquisou? – Completou, mudando logo de assunto, olhando interessado os livros e pergaminhos na mão dela.

- Bom eu... – Hermione compartilhou com Malfoy tudo o que havia pesquisado durante a noite, e se surpreendeu em ver que o outro também o havia feito.

Mais fácil do que deveria ser. Era só o que Hermione conseguia concluir sobre trabalhar com Malfoy. Ele era exatamente como ela, se concentrava em sua tarefa, não fazia perguntas indevidas ou interrompia a leitura alheia. E nos momentos em que discutiam juntos algum ponto, sempre chegavam a conclusões parecidas.

Deixar Malfoy pontuar as discussões era um macete desenvolvido por ela, para evitar um atrito maior, e sempre funcionava.

Em poucos dias ambos haviam recolhido provas, montado e arquitetado uma defesa sólida e por mais que ambos repassassem diversas vezes, os próprios admitiam não ter falhas.

A primeira coisa em que os dois trabalharam, foi em trazer as meninas para Hogwarts ao invés delas aguardarem o julgamento no ministério ou na pior das hipóteses em azkaban, e com o apoio do próprio ministro, conseguiram levá-las para seus antigos quartos, transformando-os em celas. Não era muita coisa, mas já era um começo...

Ter essa primeira vitória acalmou o professor, que nos últimos dias estava bem mais tranqüilo, tão tranqüilo que a própria Hermione podia perceber.

- Então Malfoy, eu estava pensando que nós podíamos acrescentar aquela parte que eu te mandei ontem. – Hermione comentou tentando acompanhar a passada rápida de Malfoy.

- Eu já revisei o que você escreveu e já anexei à pasta que nós organizamos. – Falou mastigando o pedaço de pão que trouxera durante o café da manhã.

Era estranho para a mulher reparar no homem ao seu lado agindo tão naturalmente, nada tinha de carrasco, de irônico, nada tinha de Draco Malfoy. E mais estranho ainda era pensar que os dois, Draco Malfoy e Hermione Granger, haviam tão repentinamente se tornado “nós”. Perdida em pensamentos, ela não percebeu que havia parado de caminhar, causando o estranhamento do outro.

- O que houve? Por que parou? – Perguntou Draco mais adiante, encarando-a.

- Nada, eu só estava...

- Divagando?

- Hã? – Aquele comentário seguido de um sorriso de canto de boca que lhe foram direcionados, definitivamente a alertaram de que deveria parar de pensar tanto.

- Ora Granger, eu sei que quando você fica com esse olhar perdido, está divagando sobre alguma coisa... – Respondeu como se explicasse a algum de seus alunos como se fazer uma poção.

- Com base no que você está dizendo isso? – Seus sentidos a alertaram novamente. Ele a estava observando.

- É, eu observo as coisas ao meu redor Granger... – Comentou com simplicidade.

“E lendo a minha mente” Pensou preocupada, encarando o outro com seriedade.

- Eu não estou lendo a sua mente... – Respondeu sorrindo levemente, como se estivesse falando com uma criança.

- Se você não está, como você sabe disso?! – Aquela brincadeira já estava passando dos limites. Ela deixara bem claro que odiava que invadissem sua mente, principalmente ele.

- Eu não li a sua mente, se acalme. Você é igualzinha a minha filha. Eu não posso falar algo sobre o comportamento de vocês, que já acham que eu li em suas mentes... – Havia uma leveza nas palavras de Malfoy, que chegaram até Hermione, não como uma explicação, parecia que ele estava dividindo um pouco de sua nostalgia com ela, e estava feliz com isso. – Mas vocês esquecem que antes de sair por ai, aplicando oclumência em todos, eu sou uma pessoa possuidora de dois olhos que podem perfeitamente observar pessoas e conseqüentemente o comportamento delas...

- Olha Malfoy, me desculpe, mas é que sempre me pareceu uma idéia tão natural, você se utilizando de suas habilidades para tirar vantagem dos outros. – Comentou a mulher com extrema sinceridade. Ela se perguntou se devia ter dito aquilo logo em seguida, mas já tinha dito, não iria voltar atrás.

- Jura? Sinto lhe desapontar, mas nem sempre... Às vezes eu uso algumas poções só para dar uma variada. - Completou com um tom de sarcasmo diferente em sua voz. Hermione podia jurar que ele acabara de fazer uma brincadeira.

- Olha Dra... Hum... Malfoy. Acho melhor nós irmos logo para as masmorras continuar com a defesa das meninas, essa conversa já foi por demais estranha. Daqui a pouco vamos conjurar uma mesinha com cadeiras e nos sentar para o chá. – A professora deixou transpassar toda a estranheza em sua voz.

- Eu odeio chá Granger. Mas se for cerveja... – O comentário de Draco encerrou a conversa, os dois caminharam a partir dali até as masmorras em silêncio e só voltaram a se comunicar, quando se tornou necessário falar sobre a situação das quatro meninas.

Em todos os dias que em que trabalharam juntos, ambos acordavam muito cedo, tomavam um rápido café e rumavam para a masmorra, e lá ficavam até muito tarde. Hermione já estava se acostumando com o ambiente escuro e frio, porém toda aquela rotina desregulada estava começando a afetar seu corpo. Cada dia mais cansada, a professora lutava contra o sono naquela noite. Seus olhos vacilavam diante do livro aberto à sua frente.

- Granger, vá descansar.- Ordenou Draco sem tirar os olhos do livro que lia.

- Não, eu estou bem. – Respondeu rapidamente, balançando a cabeça para espantar o sono.

- Vocês está há alguns dias sem dormir direito. Sugiro que vá para seu quarto e descanse, afinal de que adianta preparar a defesa se você vai dormir durante o julgamento e não vai vê-la?

- E no que isso importa a você? – Hermione percebeu tarde demais que seu tom de voz acentuava uma rispidez desnecessária. Porém constatou que não poderia voltar atrás, ao ver o rosto do outro se contrair e focar o livro.

O silêncio prevaleceu diante deles, cada um concentrado em sua tarefa, quando Draco fechou o livro que analisava, seu olhar passou de relance sobre a mulher a sua frente. “A teimosa se recusou a ir para o quarto, mas acabou dormindo na mesa! Mulheres!”. Pensou irritado se levantando, inicialmente para acordá-la e mandá-la para a cama. Mas parou a ver a face tranqüila a sua frente. Ponderou se acordava ou não a outra. “Maldita. Mulher. Teimosa.” Repetiu o mantra em sua mente algumas vezes, adentrando seu quarto, para logo em seguida voltar com um cobertor em mãos. “Não me daria trabalho se tivesse feito o que eu mandei!” Seus pensamentos repudiavam a atitude da professora, mas no fundo sabia que estava grato a ela. Na verdade se não fosse pela Grifinória, ele teria tido muito mais trabalho e acessos de raiva antes de chegar a algo conclusivo. Draco também não podia negar que a mulher tinha uma certa determinação em ajudar a todos, que no início o irritava profundamente, porém se não fosse por essa determinação, ele próprio não teria ajuda. Agora de certa forma, sabia que estava grato a isso. Só por isso, iria deixá-la dormir ali.

Silenciosamente colocou o cobertor sobre as costas dela, pegando-a em seguida e pousando seu corpo no sofá diante da lareira, ajeitou mais uma vez o cobertor e saiu.

Estava bem quente e agradável. Hermione sentiu que seu corpo estava totalmente relaxado, não tinha noção de quando adormecera, nem de quanto tempo se passara, mas sabia que aquele pequeno descanso havia feito milagres. “Espera, onde eu...” a mulher abriu os olhos sobressaltada, ao se lembrar onde estava, sabia que não estava em seu quarto.

- Eu avisei para ir dormir.

Seguindo a voz de Malfoy, constatou que ainda estava na masmorra, o homem sentado em uma poltrona a sua frente e ela deitada no sofá.

- Quando que eu...

- Você dormiu por algumas horas, já está amanhecendo. – Falou esticando uma xícara recém-conjurada de café para ela.

- Obrigada. – Tornou sem jeito. – Então... Eu vou indo. Mais tarde eu volto. – Hermione estranhou o desconcerto que surgiu daquela situação, mas não ficaria mais ali para sustentar uma guerra de olhares entre os dois. Deixou o cobertor no sofá, se levantou e saiu rapidamente.

Durante aquela manhã ela não voltara à masmorra, não sabia o porquê de ter evitado o outro, mas algo naquela situação toda a estava incomodando. Nunca pensara que se sentiria à vontade na companhia de Malfoy. Mas era fato de que ela não podia reclamar, eles estavam trabalhando juntos, e até se podia dizer que estavam se dando bem. “Não! Ele só está assim por causa da filha! Quando isso terminar tudo vai voltar ao normal!” Esse pensamento a fez tremer. Na verdade ela não queria que voltasse ao normal. Fazia muito tempo que não se sentia tão confortável na presença de alguém. “Por que tinha que ser justo com ele?” Hermione sacudiu a cabeça em um gesto de negação infantil. – Pare com isso Hermione, você só está divagando demais. Você só está impressionada por ele ser diferente do que você pensava. Só isso. “Eu espero que seja só isso”. Perdida em pensamentos, a professora finalmente retomou sua feição habitual e rumou em direção as masmorras.

Andando com passadas largas e distraída, ela só percebeu que alguém a chamava quando lhe tocaram o braço.

- Granger.

- Hã? O que? Ah, professor Malfoy. Eu estava indo até as masmorras. – Respondeu a uma pergunta que não lhe fora feita por mero nervosismo. “Por que eu estou nervosa desse jeito?”. Seus pensamentos eram seus carrascos. Temia que ele os lesse.

- Eu reparei. Mas não foi isso que eu perguntei. – O olhar direcionado a professora era questionador. “Ela está avoada demais”. – O que houve?

- Nada. – Sua voz saiu estridente demais, rápida demais. Ou seja, um desastre de emoções estava rondando a mente de Hermione, e a mulher sabia quem era o causador desse reboliço e para sua infelicidade ele estava bem a sua frente.

- Granger, você está muito dispersa hoje. – Censurou Draco, encarando-a fundo.

- Eu já disse que não o quero lendo minha mete!

- Então concentre-se, volte para a masmorra e continue a pesquisa que parou. – A sentença de Malfoy não soou como um conselho, mas sim como uma ordem, beirando o campo da ameaça.

- Malfoy! Eu achei que nós já tínhamos superado essa fase de ameaças!

- Hum... Isso nunca aconteceu Granger. – O tom despreocupado revelava exatamente o oposto da resposta.

“É. Ele vai voltar ao normal quando isso acabar...” Se lamentou mentalmente a mulher, eles iriam regredir ao término do julgamento. Suspirando resignada, retomou sua caminhada para as masmorras.

- Granger.

- Hum? – Respondeu monossilábica, sentindo que ele caminhava ao seu lado.

- Porque evita tanto que eu leia sua mente? – A curiosidade que iluminou o rosto do homem, era bem parecida com a de uma criança travessa.

- Ora Malfoy, não consigo crer que você está me fazendo mesmo essa pergunta! – Respondeu exasperada, acelerando mais ainda o passo.

- Hum... Deixe-me reformular... As pessoas que se opõe de forma tão veemente, são aquelas que têm algo a esconder. - A sombra da curiosidade infantil sumiu, dando lugar ao tom mordaz. – Eu quero saber o que você esconde.

- Não seja ridículo! Eu não escondo nada! – As palavras novamente saíram rápidas demais, estridentes demais. Ela estava se denunciando muito facilmente.

Malfoy segurou o braço de Hermione a fazendo parar e encará-lo.

- Pare com isso. Eu já disse que não há nada! Como você pode ficar perdendo tempo com besteiras, enquanto sua filha está presa?! – Ela esperava que seu argumento tivesse sido convincente. Caso contrário estaria perdida.

- Não preciso me preocupar tanto. Afinal você garantiu uma ótima defesa para elas. – Seu rosto se manteve sério. Analisando-a.

- Nós. Nós garantimos, eu não fiz isso sozinha. – As palavras estavam sumindo, estavam indo embora junto com o chão.

- É claro. Nós. – O comentário foi seguido de dois passos, que encerraram com o espaço entre eles. Malfoy a estava tentando intimidar, sem ter noção real do que suas atitudes causariam. – Agora que nós somos amiguinhos, você pode me contar o que esconde...

- Eu já disse que não escondo nada! Me deixa em paz! – Apesar da repulsa, seu corpo não conseguiu se afastar, nem sequer lutar para sair da posição em que estava. “Merda Malfoy! Por que você tem que me provocar logo agora?”.

Sua cabeça estava entrando em parafuso, tinha que se controlar. Tinha que fazer alguma coisa. Olhar para o homem a sua frente a estava deixando desconcertada, o medo de que ele pudesse ler seus pensamentos a qualquer momento, o medo de sua reação depois... Não queria que as coisas tomassem esse rumo catastrófico. Mas era difícil pensar em algo. Nunca lhe faltaram idéias em situações adversas, mas naquele momento, aquele homem havia não só lhe roubado o chão, como também a capacidade de raciocinar.

Draco viu a mulher suspirar exasperada, sabia que a estava pressionando, mas esperava que assim conseguisse a resposta para sua pergunta. Tamanha foi sua estranheza quando a mulher relaxou seu corpo. “Desistiu de lutar tão rapidamente?”. Erguendo uma sobrancelha, ele a encarou. Esperando por alguma reação dela. Reação essa que não veio. A Granger a sua frente estava olhando para baixo, quieta. Evitando contato visual.

Suspirando novamente, Hermione ergueu sua cabeça e o encarou. A maldita expressão irônica, com a sobrancelha erguida estava lá. Não sabia se sentia raiva ou desespero. Tomada por uma carga elétrica que percorria seu corpo, avançou lentamente na direção do outro. Parou apoiando-se na descrença de sua atitude. Mordendo o lábio inferior, ponderou o que estava prestes a fazer.

Malfoy não movera nenhum milímetro sequer. E ela não podia dizer se isso era bom ou ruim. “Maldito homem! Faça alguma coisa! Me empurre ou me beije! Mas faça alguma coisa!” Seu pensamento assustou até mesmo a própria, com os olhos arregalados encarou Malfoy. Não sabia dizer se ele lera esse pensamento em sua mente. Não sabia se queria que ele tivesse lido ou não. O silêncio pairou entre os dois, os pares de olhos travando uma batalha que nenhum dos dois poderia vencer.

- Draco?! – A voz estridente chamou a atenção dos dois, quebrando o contado visual e corporal.

- Pansy. – O tom desgostoso que Hermione sentiu na voz do homem a vez corar instantaneamente.

- Então é isso que você está fazendo para ajudar a Sarah? Se agarrando com a Granger?

- Cale-se! – O berro do homem fez com que a mulher ao seu lado estremecesse, porém ao notar que a outra, a encarava com escárnio ergueu seu rosto e sustentou o olhar também. – Já disse! Cale-se! – Tornou a falar abruptamente, caminhando rapidamente até a mulher e iniciando uma caminhada veloz arrastando sua esposa pelo braço. Hermione que fora esquecida, suspirou aliviada. Ainda olhando na direção por onde os dois foram. “Por Merlin Hermione... O que você está fazendo?” Auto censurou-se caminhando de volta para seus aposentos.

- O que você quer? – Gritou Draco sem a menor paciência, assim que os dois adentraram a masmorra.

- Se acalme querido... Você já sabe o que eu quero. Me dê e eu te deixo em paz para procurar a professorazinha lá. – O tom provocativo da mulher ultrapassava o campo da simples provocação.

- Pois você sabe que eu não vou te dar mais dinheiro! Então suma da minha frente antes que eu esqueça que é proibido amaldiçoar aos outros.

- Huhuhu... Draquinho. Eu se fosse você, tomaria mais cuidado... Imagina que drama seria, pai e filha presos... Tsc. Tsc. Tsc. – O comentário terminou para dar lugar ao sorriso sarcástico que fez a fina boca da mulher quase se contorcer para não virar uma risada.

- Ser preso por amaldiçoar você. Me parece uma oferta tentadora. – Apesar do rosto de Draco mostrar uma expressão impassível, por dentro a raiva borbulhava. – Você não tem vergonha? Sua filha está passando por um momento difícil e você só consegue pensar em dinheiro? - Agora quem tinha escárnio na voz era ele.

- Ora essa Draco. Eu sei que você vai dar um jeito nisso. Afinal é a sua filhinha não é? Sempre foi assim... – A forma com que aquelas palavras foram ditas, fazia parecer que nada Pansy tinha haver com a situação.

- Eu não vou te dar dinheiro. A única coisa que eu vou ter o prazer em dar a você Pansy é o divórcio! – Completou, contraindo seu maxilar, na nítida contenção de sua raiva.

- Tudo bem. Mas saiba que é natural os filhos ficarem com as mães... – Era uma ameaça... Ele sabia disso.

- Como você pode ter a coragem de dizer isso? A Sarah nunca ficaria com você! A Sarah é minha filha! – Havia uma certa urgência na voz, como se repetir aquelas palavras em voz alta, fossem mesmo garantir a filha.

- Olha Draquinho, eu sei que vocês andaram brigando... Aposto que ela vai preferir ficar comigo, a mãe que não a impede de nada, do que com o pai, que a proíbe de tudo.

- Ela jamais faria isso! – Era muito fácil abalar Draco, quando se tratava de Sarah.

- Eu acho melhor você cuidar dessa sua obsessão pela Sarah. Isso não vai te fazer bem... – Draco contorceu sua face, em uma expressão de fúria. – Você pode perdê-la logo...

- Você está me ameaçando?

- Entenda como quiser.

- Saia daqui agora! – Gritou abrindo a porta com brutalidade. – Saia!

- Você ainda terá notícias minhas Draquinho.- Completou saindo lentamente da sala. - Huhuhuhu...

Após o ocorrido no corredor, Hermione não deu mais as caras na masmorra nos dias decorrentes, por duas vezes caminhou até ela, mas não entrou. Não sabia o que dizer e muito menos como encarar ao outro. Porém o fato de abandonar assim as pesquisas a estava perturbando. Decidida a encarar de vez o problema naquele dia, a mulher abriu a porta de seu quarto, mas parou ao se deparar com a pasta em que eles estavam arquivando tudo o que tinham sobre o julgamento, a fim de mandar ao ministério.

Sabia que Malfoy a havia deixado ali, no chão, e agradeceu mentalmente por ele o ter feito, evitando que ela tivesse de ir até a masmorra pegá-la. Não que ela não o fosse fazer, afinal era por conta dela, entregar a defesa ao ministro. Mas aquilo tornaria as coisas mais fáceis. Com esse pensamento em mente, se agachou pegando a pasta e voltando para seu quarto.

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Com raiva de si mesmo, por não conseguir controlar os próprios pensamentos, Draco se forçou a voltar ao presente, por fim, tomando ciência da forma estranha com a qual o professor Longbotton o olhava. “Qual é o problema dele?” Perguntou-se insatisfeito, ao reparar que agora o homem direcionava a sua atenção para Hermione...

- Tá tudo bem Mione? – Perguntou o professor de herbologia, sobressaltando-a.

- Hã!? É, sim, eu estou ótima. – Sorriu ela, um tanto quanto envergonhada.

- Tem certeza? Você está meio estranha... – Disse ele torcendo o nariz. – Eu não sei... Me diz uma coisa, porque você não pára de olhar para o Malfoy?

- O que!? – Exaltou-se, porém se controlando logo em seguida. – Eu não estou olhando para ele, de onde você tirou isso? Que absurdo... Hunpf, eu reparando no Malfoy... – Debochou. – Até parece que eu tenho alguma coisa para olhar naquela doninha. – Completou, cruzando os braços sobre o peito de forma quase infantil.

- Tudo bem, tudo bem... Não está mais aqui quem falou. – Sorriu. – Mas só para a sua informação, ele também não pára de olhar para cá.

- Eu realmente não entendo o que você quer dizer com isso. – Desconversou, lutando contra uma vontade quase que incontrolável, de conferir o que Neville havia acabado de dizer.

Sentindo-se como uma adolescente contrariada, ela bufou, se perguntando desde quando olhar para aquele homem desprezível havia ficado tão interessante. “Tudo bem, não tão desprezível assim...” Pensou, repreendendo-se logo em seguida.

- Ei, Hermione. – Chamou Ted, sentado do outro lado da mulher.

- Sim querido. – Respondeu ela, feliz por alguém interromper os seus pensamentos, que insistiam em manterem-se sobre um certo loiro.

- É impressão minha, ou esse cara está realmente desdenhando das provas que vocês apresentaram? – Perguntou o rapaz contrariado, referindo-se ao promotor, que ainda a pouco havia tomado a palavra.

- Olha Ted, ele pode até desdenhar, mas garanto a você que nada do que está ali pode ter a sua autenticidade contestada. – Afirmou Hermione. – Pode ficar tranqüilo... – Sorriu.

O jovem auror sorriu de volta, anuindo, tendo plena confiança na capacidade da professora Granger, entretanto, ainda assim, sentindo-se inseguro diante dos membros do conselho, todos com expressões sérias, e algumas até acusadoras... Suspirando resignado, Ted não podia evitar pensar, que algumas daquelas pessoas, com certeza, as julgariam culpadas. Ignorando por completo os meios, considerando apenas os fins... Ou seja, as mortes pelas quais “eram” responsáveis. Mortes essas que ele poderia ter evitado, sabia disso, e ter consciência de tal fato, só o fazia se sentir ainda mais culpado diante do rumo que as coisas haviam tomado...

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Memórias:

Durante toda a sua vida acadêmica em Hogwarts, Ted sonhou em ser um auror, assim como a sua mãe, e não houve um dia sequer, desde que ingressou nessa carreira, que ele tenha se arrependido dessa decisão, entretanto agora, enquanto caminhava pelos corredores do Ministério, dirigindo-se a sala do Senhor Weasley, ele não conseguia parar de pensar em até que ponto a situação atual era um reflexo de sua incapacidade como profissional, já que não conseguiu de forma alguma impedir nenhuma das tragédias daquela noite... Quando finalmente parou em frente à porta do gabinete do ministro, apertou em sua mão o memorando que solicitava a sua presença ali, pensando em como a sua carreira havia sido curta... Com um pesado suspiro ele entrou, cumprimentou a secretária na ante-sala e seguiu direto, sem ser anunciado, para o encontro de Arthur. Quanto antes acabasse com tudo aquilo, melhor...

- Bom dia Ted. – Sorriu o senhor, assim que o ex-grifinório abriu a porta. – Vamos entre, entre.

- Olá. – Disse Hermione o surpreendendo.

“Mas o que está acontecendo? Porque esses dois estão aqui?” Perguntou-se o rapaz com desconfiança, ao ver a professora Granger e seu pai, sentados em frente ao ministro.

- Não fique aí parado, sente-se de uma vez. – Falou Lupin em tom sério, sendo prontamente atendido.

- Muito bem, eu vou direto ao assunto. – Informou o ministro. – Eu o convoquei aqui por uma razão...

- É, eu faço idéia. – Comentou o ex-grifinório.

- Você não será demitido se é isso que está pensando. – Interferiu a mulher.

- Não!? – Estranhou.

- Não. – Garantiu Arthur. – Mas você será afastado do caso, por questões pessoais é claro. Não é correto permitir que você continue a fazer parte das investigações, tendo gente da família envolvida tão diretamente, não seria ético. Enfim... – Suspirou. – Eu estou te transferindo temporariamente para serviços burocráticos, mas de qualquer forma isso não te abstém de apresentar um relatório sobre o caso, e também de prestar o seu depoimento para a corte.

- Sim senhor. – Tornou o rapaz, sentindo-se, na medida do possível, aliviado.

- Ted. – Interferiu o professor de DCAT. – Você sabe que a Hermione está trabalhando para inocentar a Estelar e as outras meninas, não é!? Então... – Continuou após ver o filho concordar com um meneio de cabeça. – É muito importante que nenhum de vocês nos escondam nada, por mais que estejam tentando proteger uns aos outros.

- Onde está querendo chegar com isso pai? – Perguntou ele, sem conseguir disfarçar o tom preocupado de sua voz.

- Você e a senhorita Malfoy estão namorando? – Quis saber Hermione indo direto ao ponto.

Imediatamente o cabelo opaco de Ted ganhou uma coloração avermelhada, tornando impossível esconder o que estava acontecendo entre eles, já que o constrangimento do auror havia deixado claro.

- É , hum... Como é que... – Atrapalhou-se.

- Eu não a credito! – Exclamou Lupin. – Você e a filha do Malfoy? Onde você está com a cabeça Ted? O que você pensa que está...

- Pai! Eu não vou discutir isso com você. – Pontuou o ex-grifinório com convicção. – Eu gosto da Sarah e nada do que disser vai me fazer mudar de opinião, então você só tem duas opções, ou aceita, ou aprende a conviver com isso.

- Não me enfrente dessa forma rapaz. – Exasperou-se.

- E porque não!? Foi o senhor mesmo quem me ensinou a brigar pelo o que eu quero... E é isso que estou fazendo. Já enfrentei o pai dela, e acredite, depois do Malfoy, eu encaro qualquer coisa. – Concluiu.

- Hunpf... O meu filho e a do Malfoy, isso só pode ser um sinal de que o mundo está virando de ponta cabeça. – Resmungou o homem.

- Não seja tão infantil professor, isso não é nada de mais... – Repreendeu Hermione.

- Você está falando igualzinho a minha esposa. – Ele comentou, provocando risos na outra professora. - E pensar que a Ninfa disse alguma coisa a respeito e eu não dei atenção... Definitivamente de agora em diante eu vou ouvir tudo o que ela tem a dizer, por mais loucura que possa parecer! Namorando... – Murmurou ele, ainda incrédulo, sacudindo negativamente a cabeça, embora não tivesse realmente nada contra.

“Namorando...” Repetiu Ted mentalmente, dando-se conta de que nunca havia pedido Sarah de fato em namoro, quer dizer, deveria estar subentendido, já que estavam juntos. “Mas e se ela não pensar assim?” Preocupou-se, sentindo um certo desconforto, afinal aquilo não era brincadeira, e ele...

- Ted! – Chamou o senhor Weasley, obrigando-o a voltar para a realidade. – Você ouviu o que eu falei? Certo, eu vou repetir... – Disse ao notar a expressão confusa do outro. – A Hermione acha importante que esse namoro de vocês continue em segredo, para não atrapalhar a defesa das garotas, tudo bem?

- Sim. – Respondeu. “Namoro... Olha aí a palavra mais uma vez.” Pensou.

- Ótimo. – Sorriu a ex-grifinória. – Eu sei que não é certo esconder informações em um julgamento, mas uma mentirinha dessas não vai prejudicar ninguém... – Concluiu, tentando de alguma forma convencer a si mesma, isso era perceptível, em se tratando de alguém como Hermione Granger.

- Estamos decididos então. – Sorriu o ministro. – Você já pode ir Ted, depois a minha secretária te diz para que setor você foi remanejado.

- Hum... Senhor Weasley, eu posso fazer uma pergunta? – Quis saber o rapaz. – Aquelas coisas que a professora Sibila disse antes de morrer... – Continuou após não receber recusa. – Era uma profecia não é mesmo!? A mesma de que eu ouvi vocês comentarem lá na“toca” uma vez?

- É meu filho. – Respondeu Lupin, após uma breve troca de olhares com as demais pessoas na sala. – Essa mesma profecia foi feita a quinze anos atrás.

- Entendo... - Suspirou Ted. – Então, isso quer dizer que a minha irmã e a Sarah estão...

- Não se preocupe com isso querido. – Cortou a professora de transfiguração. – Profecias são feitas todos os dias, mas nada nos garante que elas se tornem verdadeiras.

O rapaz teria perguntado mais coisas, mas foi interrompido quando a secretária bateu na porta, entrando em seguida para informar que o ministro estava atrasado para uma reunião, pondo um ponto final no assunto, para o seu desgosto, o que talvez tenha contribuído para que não se sentisse à vontade diante do olhar risonho que a jovem mulher lhe direcionava. “Que estranho, ela sempre foi tão séria...” Pensou ele, ao se retirar.

*

Era no mínimo esquisito ver a sua irmã daquele jeito, quieta e séria, sempre olhando desconfiada para qualquer um que se aproximava, enquanto estavam ali, na sala onde ela e as outras costumavam receber visitas. “Eu queria tanto poder fazer algo para ajudá-las de verdade” pensava ele, observando Estelar conversar com seus pais, sem nunca dizer nada além do básico antes de uma série de perguntas, como se conferisse se eram realmente eles...

- O horário de visita acabou. – Anunciou o auror, despertando o rapaz de seus pensamentos.

- Nós nos vemos amanhã meu bem. – Disse Lupin ao abraçar a filha. – Se cuida.

- Eu te amo querida. – Sorriu Ninfadora juntando-se ao abraço.

Com um suspiro triste, Ted também se aproximou, e assim que Estelar foi solta dos braços dos pais, ele a apertou nos seus.

- Estelar eu... – Começou.

- Fica com isso Ted. – Interrompeu a menina, sussurrando em seu ouvido. - Tenta descobrir algo... Precisamos entender o que está acontecendo par nos safar dessa.

O ex-grifinório pode sentir o exato momento em que sua irmã enviou a mão em seu bolso, deixando algo lá antes de se afastar, e ser levada de volta para o seu quarto, com um brilho divertido no olhar, que ele reconheceria em qualquer lugar...

Naquele dia, o filho do professor Lupin voltou mais tranqüilo para casa, sabendo que apesar de tudo, a sua irmã continuava sendo a mesma, entretanto, essa sensação não durou muito tempo... Em seu bolso, Estelar deixou o pergaminho em que havia anotado as estranhas palavras da professora de adivinhação:

“... E as casas irão voltar... Quatro vão ser as marcas que vão mostrar aqueles que podem vencer as trevas... Quatro vão ser as forças da aliança que juntas serão testadas; longo será o caminho e grande o sofrimento! Nada será o que parece... As trevas irão enganar e se enfeitar... A verdadeira batalha irá começar, quando no céu a escuridão de formar... Luz e Trevas irão se enfrentar, em uma chuva de sangue, e dessa batalha derradeira só um conseguirá se salvar...”

Aquele pedaço de pergaminho, ainda manchado de sangue, que Ted leu e releu na privacidade de seu quarto, trouxe a ele uma estranha, porém conhecida sensação de medo, afinal, o que exatamente queria disser o trecho “E dessa batalha derradeira só UM conseguirá se salvar...”.

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Em meio ás suas tumultuadas memórias, o ex-grifinório não conseguia manter uma linha de raciocínio objetiva, deixando que seu lado emocional se abalasse, não só por tais lembranças, mas também pelas figuras de Estelar e Sarah, tão pequenas diante de toda a cúpula bruxa... Distraído observando-as, o rapaz deu um salto de sua cadeira, quando a sineta que indicava o recesso do tribunal, soou.

- Tudo bem? – Indagou seu pai.

Com um sorriso que mesclava nervosismo e ansiedade, Ted apenas meneou positivamente a cabeça, se apressando para sair logo daquele lugar, um tanto quanto opressor em sua opinião. E aos poucos, todos foram deixando o ambiente, seguindo em grupos para diferentes áreas do ministério...

Hermione, atenta a movimentação das pessoas, reparou na figura solitária de Malfoy, caminhando apressadamente, como se desejasse esconder-se o mais rápido possível de todos ali. “Mas que coisa... Onde será que está a mulher dele? Por que ela não veio?” Perguntou-se a mulher, repreendendo mentalmente a esposa do outro professor, por negligenciar a própria filha de tal modo. E por um instante, por mais insano que pudesse parecer, ela chegou a cogitar a idéia de ir atrás de Draco, para oferecer-lhe o seu apoio. “Mas o que eu estou pensando?” Repreendeu-se. “O Malfoy não precisa da minha ajuda. E mesmo que precisasse, eu não teria porque...”

- Ah, olá meus queridos. – Cumprimentou a Senhora Weasley ao se aproximar, distraindo Hermione de seus pensamentos.

Emocionada, a esposa do ministro abraçou não só a família Lupin, mas também Hermione e Neville, que faziam parte do grupo que rumava para o restaurante do ministério, onde se reuniram com Percy para almoçarem.

- Onde estão os gêmeos Molly? – Perguntou Ninfadora de forma curiosa, tão logo todos se acomodaram à mesa.

- Eles ficaram em casa, Arthur não os queria por aqui, eles poderiam causar algum tipo de tumulto, sabe como é!? – Sorriu.

- É, eu faço idéia... - Comentou a auror de forma divertida.

Então, dispostas a manterem o clima ameno da conversa, as mulheres deram início à uma série de assuntos sem importância, que foram seguidos pelas risadas divertidas dos ocupantes da mesa, todos esquecidos, ao menos por um instante, dos muitos problemas que os cercavam. Entretanto, durante uma breve pausa na conversa, quando o silêncio caiu, Neville resolveu fazer a pergunta, que à algum tempo pairava em sua mente.

- É... Percy. – Chamou. – Você por acaso sabe me dizer quem vai fazer a apelação final em defesa das garotas?

- Não. O meu pai vem mantendo isso em segredo. – Explicou o rapaz.

- Na verdade o Arthur tem se recusado a comentar qualquer coisa sobre esse julgamento conosco. – Acrescentou Molly. - Ele diz que não seria profissional.

- É claro... – Disse Remo. – Embora eu acredite que a Hermione seria a pessoa mais adequada, já que foi ela quem ajudou a fazer os relatórios da defesa. – Completou.

- Agradeço a confiança professor. – Sorriu a mulher. – Mas o que realmente importa, é que independente de quem seja, ele tenha tanta vontade de ajudar essas meninas quanto qualquer um de nós.

- Bom, já que é assim, acho que não temos com que nos preocupar. – Falou a Senhora Lupin com convicção. – Tenho certeza que Arthur fez uma sábia escolha.

- É... É o que todos nós esperamos... – Suspirou Ted, trazendo à tona a sua própria incerteza. “Afinal, quem é esse tal cara misterioso?” Perguntou-se ele distraído, sem notar os olhares preocupados que as pessoas ao seu redor trocaram, muito embora, Tonks ainda exibisse nos lábios um sorriso brincalhão, ao abraçar o filho, na tentativa de passar-lhe confiança.

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Enquanto isso, em uma outra parte do ministério, as quatro rés, reuniam-se em uma sala para a refeição, estando, no entanto, sempre acompanhadas por aurores, que de acordo com as ordens, não deveriam deixá-las sozinhas por um momento sequer.

- Ei Mel... – Chamou Estelar. – Você deveria comer ao menos um pouquinho. Não vai te fazer bem ficar tanto tempo de estômago vazio.

- Eu não quero. – Respondeu a menina de forma taxativa.

- A Estelar tem razão... Vai, como só um pouco. – Insistiu a Corvinal, empurrando um dos pratos sobre a mesa, na direção da outra.

- Eu já disse que não quero. – Exasperou-se Melanie, empurrando o prato de volta com brusquidão, quase o derrubando no chão.

A garota que costumava sempre exibir cabelos coloridos, agora os mantinha em seu tom normal, um tanto quanto desleixados na verdade, o que só contribuía para compor a imagem perturbada da aluna, que mesmo que quisesse, não poderia esconder ou controlar toda a raiva que estava sentindo. Por isso, ela resolveu se afastar das outras, e caminhar pela sala, pois ao menos assim, não corria o risco de descontar as suas frustrações e principalmente ódio, nas pessoas erradas... Kayla e Estelar trocaram olhares cheios de preocupação, ao observarem a atitude nada convencional, porém compreensiva da Lufa-lufa, e por um instante, chegaram a pensar em insistir mais um pouco, entretanto desistiram da idéia assim que repararam no semblante reprovador que Sarah lhes direcionava, de um dos cantos da sala, onde estava sentada.

- O que foi? – Perguntou Estelar de maneira despreocupada, fazendo-se de desentendida, com intenção apenas de continuarem falando.

- Eu sinceramente não sei como vocês duas conseguem comer tanto desse jeito. – Criticou a Sonserina.

- Ah, está gostoso. – Sorriu Kayla, enchendo sua boca de uma generosa quantidade de torta de abóbora, fazendo a outra rolar os olhos.

- Bom, eu não sei vocês... – Falou a Grifinória de um jeito risonho. – Mas considerando que essa pode ser a nossa última refeição descente antes de ir para Azkaban, eu vou mesmo é comer muito, afinal, pelo menos assim a gente...

- Ai nem, não fala assim. – Gemeu a Corvinal. – Nós precisamos ter pensamento positivo.

- Pensamento positivo, ah, tá bom... – Debochou Sarah, soltando uma risada de desdém.

- É, nem me fala... Por mais que eu queira, fica meio difícil pensar assim depois de tudo. – Voltou a falar a filha do professor Lupin, no entanto, agora mantendo um tom sério de voz.

- Poxa meninas, vocês poderia ter um pouco mais de... – Começou Kayla em protesto.

- Nada de conversas. – Interrompeu o auror Pietro Willians. – Comam em silêncio. – Ordenou.

A Corvinal sentiu como nunca o peso do silêncio sobre os seus ombros, fazendo-a empurrar o prato para longe, sem a mínima vontade de continuar comendo. Suspirando pesadamente, a menina olhou ao redor, desejando poder fazer alguma coisa pelas suas amigas, enquanto as observava... Melanie ainda andando em círculos de forma impaciente, Sarah sentada com a sua típica expressão fria, como se nada a abalasse, ao mesmo tempo em que Estelar continuava a devorar qualquer coisa que visse pela frente. “Poxa vida...” Voltou a suspirar Kayla, sem alternativa, entregando-se as suas recordações...

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Memórias:

Aquela havia sido a primeira vez que entrara no ministério da magia, entretanto, nunca, nem mesmo em seus sonhos mais loucos, a Corvinal chegou a imaginar que seria daquela forma, como uma criminosa, detida pela morte de sua companheira de casa... Com um suspiro de pesar, a garota lamentou pelo fim trágico de sua amiga, e embora reconhecesse a sua insanidade, ainda assim, não era capaz de perdoar a si mesma pelo que acontecera a Sophie, para falar a verdade, ela tinha a certeza de que teria pesadelos à noite, com a lembrança da morte da menina. E talvez por isso, Kayla não se importou tanto, quando a prisão de Azkaban foi mencionada por um dos aurores que as escoltava na saída de Hogwarts, afinal, mesmo que a idéia da prisão a apavorasse, ela sabia que mereciam aquilo, por isso não pode deixar de ficar surpresa, quando foram levadas ao ministério, onde ficariam detidas, durante o processo que se seguiria... Entretanto, muito mais rápido do que poderia ter imaginado, ela e as outras, foram trans feridas de local, graças aos esforços dos professores Granger e Malfoy, que conseguiram que elas aguardassem pelo julgamento em Hogwarts, já que a escola ficava fazia no período de férias.

- É, nem... – Sorriu a Corvinal, dirigindo-se a um dos aurores que as levaram até o colégio. – Quando é que nós vamos ter as nossas varinhas de volta? – Perguntou de forma inocente.

O auror nada respondeu, direcionando a menina, apenas uma risada cheia de sarcasmo, a fazendo torcer o nariz, contrariada. “Mas que coisa...” Resmungou ela em pensamento, lembrando-se subitamente da noite em que foram presas, e tiveram as suas varinhas recolhidas. Desconfiada, Kayla olhou para a Sonserina, afinal, ela poderia jurar, que viu Sarah usar a “varinha mais poderosa” para conjurar uma outra varinha, que foi entregue aos aurores, enquanto a original era deixada para trás... “Mas afinal de contas, por que ela fez isso?” Perguntou-se, porém, logo deixou o assunto de lado, direcionando a sua atenção para o local onde ficariam... Era estranho, mas o salão comum, que ela dividia com as outras três, antes tão acolhedor, agora lhe parecia frio e opressor, mesmo que a única mudança tenha sido o acréscimo de mais um quarto, que seria ocupado pelos aurores, já que os quatro que existiam antes ficariam para o uso das garotas, que gora deveriam ocupá-los a sós, e não mais em duplas como antes.

À medida que os dias passavam, e a rotina passava a fazer parte de sua vida, Kayla não podia deixar de sentir uma certa inveja das outras, afinal, elas podiam receber visitas, mesmo que durante pouquíssimo tempo, enquanto a Corvinal tinha que se contentar apenas em trocar cartas com seus pais, pois eles sendo trouxas, não poderiam ter acesso a Hogwarts, o que a deixava triste, ao perceber, que de certa forma, não era como as demais...

- Pára de ser boba Kayla. – Repreendeu a Lufa-lufa, em um dos poucos momentos em que era permitido que todas ficassem juntas. – Essa história de sangue puro, mestiço e blábláblá, não faz a menor diferença, por isso, eu não quero mais saber dessa história de você se achar inferior a qualquer uma de nós. – Completou com seriedade.

- Ai nem, mais eu estou com tantas saudades... – Choramingou a menina.

- Eu sei, mas você tem que pensar que talvez, até seja melhor assim. – Tornou a outra. – Já reparou na cara de derrota que a minha mãe faz toda vez que vem me visitar!? É deprimente vê-la assim...

- Ah, qual é gente!? – Interferiu Estelar. – Esse papo “depre” não está ajudando nenhum pouco, então, por favor, vamos falar de coisas mais agradáveis. Pode ser?

- É, pode sim. – Sorriu Melanie, por mais que não tivesse motivos para isso.

Observando-as conversar, Kayla não pode deixar de achar louvável, todo o esforço que a Grifinória fazia para mantê-las sempre animadas e esperançosas, ao contrário de Sarah, que nos poucos instantes que divida com as outras o mesmo ambiente, fazia questão de ser o mais ranzinza possível, o que ainda assim, não era o suficiente para desanimar Estelar, muito embora, Kayla tivesse a certeza de ouvir a filha do professor Lupin chorar durante a noite. Mas não poderia culpá-la por isso, afinal, ela mesma tinha a sua própria maneira de fugir da realidade, quando se imaginava sendo uma princesa aprisionada em uma torre, esperando pelo o príncipe encantado que viria salvá-la. “Hum... Bem que o príncipe poderia ser o apanhador da Lufa-lufa, ou um dos artilheiros da Sonserina, ou o... Ah, não importa, desde que ele seja bonito.” Divagava a garota com freqüência, perdendo-se não só em seus sonhos infantis, mas também no tempo, cujo qual, ainda tinha uma certa noção, devido as datas dos jornais que lia, no auge de seus momentos de ócio.

- Caramba! – Exclamou ela. – Estelar, esse aqui não é o cara de quem você me falou uma vez? – Perguntou, mostrando a outra o jornal que segurava.

Na primeira página, a manchete: “DESCOBERTA CHOCANTE NA FLORESTA DE HOGWARTS!”, chamava a atenção, principalmente pela foto animada que se seguia, onde um grupo de pessoas exibia uma pilha de livros e artefatos das trevas, encontrados no interior da floresta proibida, onde estavam escondidos por diversos feitiços poderosos... Entretanto, nada na notícia foi o suficiente para a trair a atenção da Grifinória mais do que a imagem do homem que se destacava dos demais na foto.

- Sim é ele mesmo... – Afirmou ela, sorrindo em um misto de satisfação e euforia. – John O´Conell!

- Ele é um inominável não é!? – Quis saber a menina.

- É... – Suspirou. – O melhor que eu já conheci.

- E desde quando você conhece outros!? – Falou Melanie em tom brincalhão.

- Ah, não importa... – Tornou Estelar, abraçando-se ao jornal. – Ele é perfeito e lindo! Isso sem contar que ele tem um cheiro tão bom... – Suspirou mais uma vez. – Por isso, que quando eu me formar em Hogwarts, vou ser uma inominável também, assim como ele. Aí depois que nós trabalharmos juntos, vamos nos apaixonar e casar e...

- Mas que coisa Lupin! – Cortou Sarah, aproximando-se das demais, interessada apenas na notícia do jornal. – Se você continuar com essa baboseira, juro que vou vomitar.

- Estraga prazer... – Resmungou a outra em resposta.

- Definitivamente ficar trancada não está te fazendo bem. – Comentou a Lufa-lufa. – Nunca pensei que ouviria você dizer essas coisas tão... Hum, românticas...

- Ora, eu só estou...

- Falando em romantismo. – Interferiu Kayla, fazendo Sarah rolar os olhos de antecipação. “Por que elas gostam tanto de falar dessas coisas?” Pensou a filha do professor Malfoy. – O Gustavo ainda não te escreveu nada Mel?

- Não... – Respondeu a garota soltando um muxoxo. – Eu não sei o que está acontecendo... Já tem duas semanas que estamos aqui, e eu já mandei algumas cartas para ele, mas até agora nada, nem um bilhete sequer... – Explicou ela, sem esconder o seu desapontamento.

- Você já perguntou para os aurores? Vai ver o Gustavo até já te respondeu, mas eles podem ter segurado a carta dele e tal... Sabe, as cartas que meus pais mandam, sempre são abertas. Acho que eles devem estar procurando por coisas suspeitas, eu sei lá.

- É, a Kayla tem razão. – Disse Estelar. – Nós todas sabemos o quanto o Gustavo é louco por você. Tenho certeza de que ele não te deixaria sozinha, principalmente agora.

- Mas eu já fiz isso... E ele realmente não me escreveu. – Tornou a garota. – Talvez, o Gustavo tenha simplesmente desistido de mim, afinal, quem iria querer namorar alguém que corre sérios riscos de ir para a Azkaban. – Concluiu com amargura.

- Ah, você já tentou...

- Já chega dessa besteira. – Exasperou-se Sarah, interrompendo o que a Corvinal diria. – Se esse cara não te escreve mais, mesmo depois de você já ter feito isso várias vezes, é porque ele não quer! E não adianta você ficar correndo atrás dele assim, feito uma boba, acredite não vale o esforço. Então aceite a idéia e supere... Além do mais, isso só prova que ele não te merece. – Continuou ao perceber o quanto havia sido dura com Melanie.

- Mas Sarah... – Começou a Grifinória.

- Mas nada. – Pontuou. – Agora chega desses papinhos de namoro... Nós precisamos nos concentrar no que realmente é importante. – Concluiu, mudando de assunto, ao puxar das mãos de Estelar o jornal que ainda segurava. – É disso que eu estou falando. – Disse balançando o jornal diante das outras, sem se importar com as suas expressões confusas. – Essas coisas que os inomináveis encontraram na floresta proibida, provam que nós falamos a verdade sobre o Peter.

- E você acha que isso pode nos livrar das acusações? – Quis saber Kayla interessada, finalmente entendendo.

- Bom... Nos livrar totalmente acho que não, mas com certeza vai ajudar. – Comentou Estelar, sendo prontamente apoiada pela Sonserina, que por sua vez, estava muito satisfeita pelo rumo que a conversa tinha tomado.

- É... – Pigarreou Melanie, tentando focar sua atenção. – Então, mesmo agora, depois que o Peter já está morto, ainda tinha essas coisas lá na floresta? Vocês acham que era a Sophie que estava...

- Muito bem meninas... – Chamou Andrew. – Sinto muito, mas o horário do café acabou... Vocês precisam voltar para os seus quartos agora. – Informou ele, tentando ao máximo ser gentil, afinal, recusava-se a acreditar na culpa daquelas de quem havia aprendido a gostar.

Sem ter como protestarem, Kayla e as outras apenas seguiram as ordens do auror, e se recolheram em seus quartos, onde passavam a maior parte do tempo, a portas fechadas, permitindo que naquele espaço, cada uma delas, mantivesse a sua privacidade, muito embora a vigia fosse constante. “Que coisa mais chata...” Lamentou-se a Corvinal, enquanto olhava a porta de seu quarto, ou cela, como costumava chamar, mais uma vez, ser trancada, fazendo-a se sentir como em uma prisão trouxa.

*

Acompanhada por dois aurores que nunca tinha visto antes, Kayla adentrou a cúpula ministerial sentindo-se totalmente intimidada e amedrontada diante de todas aquelas faces estranhas, fazendo-a desejar como nunca, a presença de alguém conhecido, qualquer um, para que pudesse se sentir ao menos um pouco segura, naquele dia que ela considerava o pior de todos, desde que haviam começado com os julgamentos... Aquele era o dia de seu depoimento. Apreensiva, a menina se sentou na cadeira designada à ré, e preparou-se da melhor maneira possível, para as perguntas que viriam, entretanto, ao contrário do que havia imaginado, o ministro da magia dirigia-se a ela de forma gentil, sem acusar ou pressionar. “Puxa, bem que a Estelar falou que ele era bonzinho...” Pensou ela aliviada, enquanto continuava com a sua narrativa dos fatos, assim como havia ensaiado mais cedo, quase se sentindo feliz, por poder responder todas as perguntas feitas sem dificuldades. Porém, à medida que o depoimento avançava, a Corvinal se viu obrigada a falar de coisas, com as quais lutava com todas as forças para esquecer... E foi então, que a pergunta que ela mais temia foi feita...

- Nos diga Senhorita Drumond. – Falou Arthur, com a sua voz rouca e gentil. – Onde a senhorita aprendeu o feitiço das trevas denominado “Sectusempra”?

Kayla manteve-se calada, enquanto torcia nervosamente suas mãos, apertando a cicatriz que tanto a incomodava.

- Responda Senhorita. – Insistiu o ministro, porém desta vez com mais autoridade.

- Se eu não disser a verdade, vocês vão usar a poção “Veritasserum” em mim não é!? – Disse a menina, se dando por vencida. – Tudo bem... – Suspirou. – Eu aprendi esse feitiço com a Melanie.

A afirmação da Corvinal causou um certo reboliço entre aqueles que acompanhavam a sessão, mas que logo foi controlado pelo ministro, muito embora o retorno do silêncio não tenha agradado em nada a menina, afinal, ela havia acabado de entregar uma amiga, e ver todos aqueles rostos voltados para si só a faziam se sentir ainda pior por isso.

- Por favor, nos explique melhor... Por que a Senhorita Belford lhe ensinou isso? – Perguntou o Senhor Weasley.

- Ela não ensinou porque quis, nós que pedimos! – Tornou Kayla com rapidez, ansiosa por defender a Lufa-lufa. – Olha, seu ministro, a Melanie não é má pessoa, pelo contrário, ela é muito gentil e carinhosa também, e ela não...

- Senhorita Drumond... – Interrompeu o senhor. – Por favor, apenas nos diga como aprendeu o feitiço.

- Tudo vem... – Voltou a suspirar a menina. – No dia que Hogwarts foi atacada, um daqueles homens de capuz, jogou esse feitiço no namorado dela, bom, na verdade o Gustavo se jogou na frente, defendendo a Mel sabem... Aí, ela ficou com raiva e repetiu o feitiço só de olhar, ela é muito boa nisso, podem perguntar para o professor. Então... – Continuou ela, após o ministro fazer um gesto para que prosseguisse. –Depois disso, quando nós voltamos do hospital, eu e as outras meninas pedimos para ela nos ensinar, sabe, a gente costumava se reunir em uma sala lá do colégio para treinar, o que na verdade me ajudou muito, porque eu tenho certeza de que só não fui um desastre completo no NOM´S por causa desses nossos treinos.

- Quer dizer então, que você e as outras, se reuniam para treinar... – Falou um dos promotores. – E com que objetivo faziam isso?

- Só para treinar feitiços ué... – Respondeu ela dando de ombros. – Quer dizer, eu ia mais porque gostava da companhia delas, mas ainda assim era legal treinar, porque toda vez que algum professor ensinava algo ovo, eu já sabia.

- E por que o interesse no feitiço “Sectusempra”? – Voltou a perguntar o promotor.

- Só curiosidade eu acho... – Tornou a garota. – Mas aí a Sarah disse que era um feitiço das trevas, e nós não quisemos mais fazer, além do mais, nunca nenhuma de nós conseguiu mais do que arrancar algumas penas das almofadas.

- Então vocês nunca conseguiram executar o feitiço com sucesso antes do acontecido com a Senhorita Malfatine?- Perguntou Arthur.

- Não, nunca... Quer dizer, só a Melanie no dia do ataque na escola, mas depois nunca mais. – Esclareceu. – Sabem, eu acho que é como a Estelar falou... Para fazer esses feitiços assim, do mal, é preciso estar sentindo muita raiva. – Divagou.

- E a Senhorita estava com raiva quando lançou o “Sectusempra” em Sophie Malfatine? – Questionou outro promotor, sobressaltando a garota.

- O que!? – Indagou confusa, culpando-se por ter pensando tal coisa em voz alta. – Hum... Não!Quer dizer, talvez, eu não sei disser. –Atrapalhou-se. – A Sophie estava lá, dizendo todas aquelas coisas horríveis, nos ameaçando, falando que ia torturar e matar, o que vocês queriam que a gente fizesse? – Disse a menina alterada. – Aquilo não foi por querer... Foi um acidente! Eu só queria que ela parasse, e não que ela morresse! A Sophie era minha amiga, e eu não... – Kayla ofegou, incapaz de conter as lágrimas que rolavam livremente por seu rosto. – Eu não sabia que as outras iam usar o mesmo feitiço, não tinha como saber... Foi sem querer, a gente só se defendeu, só isso...

Sem a menor condição de continuar, a aluna foi retirada do tribunal, e encaminhada de volta para Hogwarts, onde se trancou em seu quarto, permanecendo lá durante um bom tempo, mesmo nos horários das refeições, enquanto remoia a culpa e o remorso, agora uma constante em sua vida, por mais que procurasse demonstrar o contrário. “Eu só espero que não tenha prejudicado as outras...” Pensava a menina, preocupada com o que suas palavras descontroladas poderiam causar...

--

Viajando em suas próprias memórias, Kayla não percebeu o tempo passar, e caso não tivesse sido chamada, na certa continuaria perdida no passado, onde de certa forma, podia controlar aquilo que gostaria ou não de se lembrar... Por isso, ao sair da sala, seguindo pelo corredor de volta a cúpula onde acontecia o julgamento, a garota não pode evitar a sensação desconfortável que a acometeu, embora não conseguisse identificá-la. Entretanto, a menina deixou de vez os seus pensamentos de lado, voltando a realidade, quando pode ouvir Estelar resmungar algo a seu lado.

- O que você disse? – Perguntou curiosa.

- Olha lá, é o Daniel. – Disse a Grifinória, indicando o professor logo mais à frente. – Querem saber... – Suspirou. – Já que nós vamos todas para Azkaban de qualquer forma, eu deveria aproveitar a chance, me transformar em um lobo e arrancar logo a cabeça desse cara...

- Eu não tenho nada contra. – Falou a Lufa-lufa de forma apática.

- Ai nem, que coisa horrível de se dizer.

- Então Sarah, e você, algo contra? – Perguntou Estelar.

- Por mim... – Desdenhou a outra, dando de ombros.

- Beleza, três contra uma, você perdeu Kayla. – Sorriu. – Eu to indo lá. – Concluiu, fazendo menção de se virar na direção em que o homem seguia.

- Muito engraçadinha Lupin. – Ralou Jhones, se colocando no caminho da garota, forçando-a a voltar.

- Vocês não tem senso de humor... – Resmungou ela.

- Senso de humor!? Por Merlin menina! – Exasperou-se Pietro. – Vocês estão no meio de um julgamento por assassinato, e ainda assim você consegue agir dessa forma... Qual é o seu problema afinal?

Estelar chegou a abrir a boca para retrucar, no entanto, foi impedida quando Sarah lhe deu um puxão no braço, realmente sem a menor disposição de aturar mais uma briga entre os dois.

- Anda logo, vamos acabar com isso de uma vez. – Pontuou a Sonserina.

Quando o grupo voltou a andar, dirigindo-se até o local, onde seria decidido o futuro das quatro alunas, Kayla não pode deixar de achar engraçada as formas diferentes, como cada uma delas encarava tudo aquilo... Entretanto, o sorriso que brincava em seus lábios logo morreu, ao notar a presença de Daniel, que havia parado em seu caminho para observá-las passar.

- E pensar que eu sempre achei ele tão bonito... – Lamentou-se a Corvinal, enquanto seguia com as demais, admitindo para si mesma, o quanto a presença daquele homem havia passado a amedrontá-la.

Com um olhar indecifrável, o professor Power acompanhou, a uma certa distância, as garotas sumirem para o interior da cúpula ministerial, assim que passaram pelos batentes da porta, enchendo-o de uma antecipada sensação de vitória, principalmente se levasse em conta alguns acontecimentos...

--

Memórias:

Ao acordar, Daniel estava deitado em uma das camas da enfermaria, mesmo confuso reconheceria aquele lugar somente de olhar para o teto...E logo, não demorou muito tempo para que também tomasse ciência do que acontecia ao seu redor, reparando por fim na agitação de professores e um número substancial de aurores dentro da ala hospitalar.

- Senhor Power? – Ao olhar para quem o chamava, reconheceu Erick Mendes, o estagiário da diretora.

- O que houve? – Questionou curioso, enquanto sentava-se na cama.

- Como está se sentindo? – Voltou a perguntar o rapaz.

- Hum... Eu não sei ao certo... – Gemeu Daniel. – Está tudo tão confuso.

- É, eu imagino... – Tornou o outro, e por um instante, Power foi capaz de captar toda a ironia daquele comentário, mesmo que não conseguisse compreender o porque.

- O senhor foi encontrado caído na floresta proibida, e ficou algumas horas desacordado desde então. – Explicou um dos aurores, desviando a sua atenção do andar apressado de Ércik, que se dirigia para fora da enfermaria. - Acreditamos que o incidente que sofreu tenha...

- Incidente!? – Surpreendeu-se. – Mas do que está falando? – Quis saber o homem, esforçando-se em puxar algo de sua memória, mas não havia nada. Nenhuma lembrança das últimas horas lhe veio à mente... “Mas como isso é possível?” Pensou ele alarmado.

E durante todo aquele dia, os aurores varreram a mente de Daniel em busca de algo... Um sinal de controle mental, alguma lembrança comprometedora, qualquer vestígio, mas nada fora encontrado. Simplesmente não havia nada, era como se o homem estivesse dormindo o tempo inteiro. Um sono sem sonhos... Deixando apenas um grande buraco na mente de Power, fazendo com que o próprio professor desejasse saber o que acontecera naquele dia fatídico, que até agora lhe parecia tão irreal, afinal, era impossível crer no que lhe disseram ter feito... A sensação de vácuo que tanto o incomodava, apenas aumentou nos dias que se seguiram, quando passou horas intermináveis no ministério, se sujeitando as investidas em sua mente, obrigando a si mesmo refletir sobre tudo... “Como poderia ser acusado de algo que sequer lembrava ter feito? Não seria capaz de cometer tal atrocidade, seria? Ainda mais com crianças!” Eram os pensamentos que o assolavam constantemente...

- Daniel... Daniel... Daniel... – A voz melodiosa o acordou no meio da noite

- Quem é!? – Gritou assustado erguendo-se da cama com um pulo.

Assim que ficou em pé, Power sentiu sua cabeça pesar, e enquanto via o quarto girar ao seu redor, pode por fim reconhecer a voz que o chamava, aliais, a reconheceria em qualquer lugar, foi o que deduziu, antes de finalmente cair no chão, descordado.

Ao abrir os olhos, Daniel não tinha a menor idéia do tempo em que esteve desmaiado, e mesmo que tivesse, isso com certeza não teria a menor importância agora em que se deparava com aquele lugar estranho, cercado por paredes aveludadas em tom de vermelho, formando uma sala adornada com móveis de séculos anteriores. “Que lugar é esse?” Perguntou-se.

- É sempre assim. – Sussurrou a tal voz.

Daniel se virou com brusquidão, em estado de alerta, pronto para se defender, entretanto, ao deparar-se com o sorriso sádico que brotava na face daquele homem, Daniel sentiu toda a sua coragem e determinação ruir, à medida que o tremor iniciado em sua espinha, espalhava-se por todo o corpo.

- Tão fraco e frágil... - Suspirou. - Decepcionante! – Completou com rispidez.

Reparando com atenção, Power pode perceber o quanto aquele homem era menor que ele, tanto em estatura quanto em porte. “Então por que eu tenho tanto medo?” Preocupou-se, diante do olhar que ele sabia poder lhe varrer a alma. “Quem é você?”

– Sou seu pior pesadelo. Personificado em homem. – Respondeu o homem a pergunta não proferida de Daniel.

Assustado, o professor se afastou, mas parou ao se chocar com a parede, onde se escorou em busca de apoio, diante do olhar ferino daquele que o encarava ainda sorrindo... Mas foi ao vê-lo erguendo a mão, que Daniel realmente se preocupou, encolhendo-se ainda mais junto a parede, de onde assistiu com estranheza, o homem assoprando algo calmamente de sua mão, fazendo com que um vapor flutuasse em sua direção, invadindo suas narinas violentamente. Imediatamente, com um baque surdo, o seu corpo voltou a encontrar o chão, com o nariz sagrando, manchando o assoalho, enquanto sua cabeça era invadida por um choque de lembranças... Tudo o que ele tinha esquecido, havia voltado.

- Merda Ben! – Falou por fim, após recobrar seu fôlego.

- Quieto pequeno, sabe que não gosto desse vocabulário chulo. – O tom de voz de Ben era mordaz. Talvez até mortal...

- Desculpe. – Respondeu se encolhendo.

- Escute... - Disse após um breve momento analisando o outro. - Por algum motivo que eu não posso explicar, resolvi perdoar você. - Sorriu. - E agora que está livre e inocentado da besteira que fez, espero que tenha aprendido a não me desobedecer, afinal, o que seria de você criança, sem mim!? – Quanto mais o homem a sua frente ficava calmo, mas medo Daniel tinha.

- Si... Sim... – O tremor em sua espinha ainda estava ali. – Eu aprendi a lição senhor.

- Ótimo! - Animou-se. - Agora que estamos entendidos, você vai será útil àquelas quatro. Eu quero que as ajude a escapar da prisão, entendeu? Faça o que for necessário, mas não permita que elas vão para Azkaban.

- Sim Ben.- Garantiu, embora ainda não compreendesse o porque daquela ordem.

- E não se atreva a fazer mais do que aquilo que lhe é pertinente. Não vou tolerar seus erros ou infantilidades uma segunda vez... - Alertou.

- Não se preocupe senhor... - Falou Daniel, tentando ao máximo não deixar transpassar seu contragosto. - Hum, Ben... Por que ele não ajuda também? Afinal ele está melhor do que eu...

- Ele está fazendo o que tem que fazer. E isso não lhe diz respeito. - O tom da resposta anunciava o fim daquela discussão.

- Sim senhor. – Concordou por fim com um suspiro.

A mão fina de Ben cortou o ar rapidamente, indo de encontro a cabeça do outro, acertando-o sem que nem ao menos notasse, e em um segundo, Daniel viu tudo ficar escuro, para logo em seguida, acordar no quarto em que estava anteriormente.

- Eu odeio isso. – Resmungou com uma dor de cabeça violenta, que ele sabia não poder deter com feitiços ou poções.

E mesmo não concordando com as atitudes de Ben, o professor decidiu seguir com o que havia lhe sido ordenado, procurando o ministro para se dispor a ajudar no que pudesse, muito embora desejasse internamente que sua cooperação fosse gentilmente recusada, pois não queria se envolver. Mas para sua surpresa e desgosto, sua ajuda fora aceita. E agora, ele sabia que devia se empenhar naquela tarefa, pois Ben tinha meios bastante eficazes de conhecer os seus passos... “Maldito louco sádico” Xingou mentalmente, ao se dar conta por fim, do que Ben ganharia com as garotas soltas e não presas em Azkaban. "Hunphf... Que seja! Não me importo de jogar aquelas quatro nas mãos dele, espero até que Ben se divirta bastante com elas!" Sorriu.

--

Parado no corredor, ainda raciocinando a respeito das atitudes de seu senhor, Daniel não pode negar toda a sagacidade das artimanhas arquitetadas por ele, afinal, mesmo depois de tudo que havia feito, graças ao Ben, ele agora estava livre, embora soubesse que talvez tivesse que pagar um preço alto por tal liberdade... “Não importa! De uma forma ou de outra, Ben ainda precisa de mim.” Pensou o homem com convicção, enquanto voltava a andar, dirigindo-se para a sala de julgamentos, onde entraria assim que chamado, disposto a cumprir o seu papel, tão brilhantemente planejado por aquele que o Mundo estava prestes a conhecer...

CONTINUA...

--

N/A(Bárbara): Seguinte, esse cap foi trabalhoso, e foi demorado, porém acho que é um dos melhores em termos de história, essa forma de narrar e mais dinâmica, eu particularmente gosto bastante! Nem fiquei empolgada com a parte do D&H! Espero que por hora acalme esses nervos de vocês que aclamam pelo shipper! E não posso deixar de dizer o quanto o Ben é lindo², gostoso², tesudo²,e TDB² (Levanta a plaquinha escrita: O Ben é O Cara!). (Ariene: Sim, sim! Levantando uma plaquinha tbm) Amo esses caps em que ele aparece! Mesmo que seja por pouco tempo...

N/A (Ariene): Sim, sim... Realmente esse capítulo deu muito trabalho para escrever, admito! Mas até que eu gostei do resultado final(rs) Então, espero que vocês tenham gostado também...

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