11ºCapitulo-27 anos



O mês de fevereiro estava chegando ao fim, e nenhuma mudança na vida de Rony era perceptível, além de que o dia em que completaria 27 anos estava cada vez mais próximo.


 


-Gina, eu já lhe disse mais de um milhão de vezes e repito: Eu não quero nada! Nada de convidados, nada de bolo, nada de música, ou seja, nada de festa! –Rony falou enquanto via a irmã amamentar Rose.


 


-Rony, será algo íntimo, nada demais. –Gina insistiu com intuito de animar a vida de Rony. Fazê-lo formar um sorriso na sua cara pálida e sem vida.


 


-Eu não quero nada! –gritou, nervoso, e se arrependeu no mesmo instante. Rose se mostrou incomodada com o grito, e Gina a acalmou passando-a para o outro peito.


 


      Gina se retraiu. Sempre que via o irmão se alterar dessa forma, sentia medo. Parecia que a qualquer momento ele cometeria uma loucura. Aquele não era Rony. O seu irmão Rony.


 


       Rony olhou-a, sentindo-se mais uma vez culpado. Seu humor era tão imprevisível!


 


-Desculpe, Gina. Não queria ter gritado. –falou mais calmo. Suspirou passando as mãos pelos cabelos, e sentou-se de fronte a ela.


 


-Tudo bem. –falou sem olhar diretamente em seus olhos. Temia o que Rony poderia ler através deles.


 


       Mas apesar do seu esforço de disfarçar o seu medo, sua angústia, Rony percebeu.


 


-Olhe para mim, Gina. –pediu com o tom de voz baixo. Gina o fez.


 


       Rony ficou a olhá-la durante uns dez minutos sem dizer palavra alguma. Podia ver medo em sua expressão. Será que seria medo dele? Recostou-se na poltrona e suspirou. Sabia que ela o amava. Mas será que ele estava tão mudado ao ponto de causar medo em Gina?


 


       Gina podia ver a face pensativa de Rony, porém, não o interrompeu. Mas, quando viu seu olhar aflito, Gina baixou o olhar para Rose.


 


-Não quero que sinta medo de mim. –Rony falou de repente.


 


       Gina o olhou surpresa. Ele acha que tenho medo dele? Onde ele estava com a cabeça?- pensou.


 


-Eu não tenho medo de você. –Gina rebateu num sussurro. –Tenho medo do que você possa fazer.


 


       Rony suspirou aliviado, mas deu razão a Gina. Pois ele próprio tinha medo de suas ações, do que poderia fazer. Ele não raciocinava muito sobre elas, ultimamente.


 


-Acho que ela já está satisfeita. –Gina falou erguendo Rose.


 


-Deixe que eu a faço arrotar. –falou recebendo Rose.


 


-Vou lá à cozinha ajudar a mamãe. –falou se encaminhando.


 


-Hey! –Rony chamou antes que ela sumisse pela porta. –Acho que uma reunião entre amigos não vai fazer mal. - sorriu.


 


       Gina retribuiu o sorriso e se foi.


 


       Rony ficou a dar tapinhas nas costas de Rose. Não custava nada agradar, pelo menos uma vez, sua família. Sabia o quanto eles prezavam uma comemoração de aniversário. Talvez fosse bom se distrair um pouco. Não queria mais ver aqueles olhares tristes em seus familiares. Mesmo que tivesse que fingir, Rony estava disposto a se mostrar melhor diante a família. Não queria que eles sofressem mais.


 


       Rose acabara adormecendo. Rony subiu as escadas e a deitou no berço. Logo seu reflexo apareceu no espelho e Rony se analisou. Tocou seu rosto, de pele clara e um pouco mais magro do que o normal, com as pontas dos dedos. As olheiras se destacavam, dando ênfase aos seus olhos cansados e sem brilho. Sua barba ruiva estava por fazer.


 


       Rony desceu a mão e suspirou.


 


-É, Ronald, você está um caco.


 


       Pegou sua toalha, e alguns utensílios e se encaminhou para o banheiro. Quando voltou para o quarto, Rose ainda dormia. Trocou de roupa e desceu as escadas.


 


-Acho que estou com fome. –Rony anunciou quando entrou na cozinha.


 


       Molly e Gina olharam-no e se surpreenderam.


                   


-Você fez a barba? –Gina perguntou surpresa.


 


-Sim. –Rony falou analisando as panelas.


 


       Molly e Gina se entreolharam e sorriram.


 


-Está lindo, meu filho. –Molly falou com a voz falha, tentando conter as lágrimas.


 


       Rony percebeu tal fato, mas fingiu. Abraçou-a com carinho e sorriu.


 


-Acho que vou lá fora ver James e Alvo.


 


-Vai sim. Harry está com eles. –Gina informou.


 


-Mãe, quando estiver pronto me chame. Eu realmente estou com fome. –riu.


 


-Pode deixar, meu filho. –falou rindo e viu Rony sair para o jardim. –O que você disse a ele para essa mudança?


 


-Eu não disse nada, mãe. Estou tão surpresa quanto você. –mas Gina suspeitava da mudança de Rony. Era óbvio para quem o observasse.


 


       Harry e Arthur, que estavam com as crianças no jardim, também ficaram surpresos com a mudança de Rony.


 


-Alguma novidade? –Rony perguntou após um tempo que estava brincando com James.


 


-Não. Não descobrimos nada através dos bilhetes. Infelizmente. –Harry respondeu, já sabendo do que ele queria saber.


 


-Hum... –Rony assentiu e não se falou mais no assunto durante o dia.


 


       Rony chegou ao Ministério dois dias depois, recebendo abraços e votos pelo seu aniversário. Ele tentava ser agradável, sorrindo e agradecendo.


 


-Vinte e sete anos, cara! Você está ficando velho! –Harry brincou assim que o viu.


 


-Você chega lá, Harry! –retrucou.


 


-Parabéns, amigão! –desejou e o abraçou. –Espero que goste do presente.


 


       Rony o recebeu e abriu.


 


-Uma agenda? –perguntou.


 


-Não é bem uma agenda. Em cada dia do ano, há um pensamento. É uma espécie de diário e agenda. É uma forma de você colocar tudo o que lhe incomoda para fora.


 


-Hmmm. –Rony falou sem ter absoluta certeza se gostara. Achara aquilo um tanto estranho, para falar a verdade. Diário é coisa de garotas. –Obrigada.


 


-Talvez te ajude, Rony. –Harry falou rindo da cara do amigo, percebendo seu ceticismo quanto ao presente. –Não são apenas as mulheres que tem problemas em organizar os pensamentos. Pense nisso. –falou dando um tampinha nas costas do amigo e saiu.


 


       Rony riu e pegou o cartão que havia dentro da agenda.


 


“Rony, eu sinceramente espero que goste do presente. Eu conheço você e sei que vai pensar: “Onde Harry e Gina estavam com a cabeça em me dar isso?”Acredite, minha cabeça ainda está ótima! Um dia você vai achar uma função para esse artefato.


Feliz Aniversário!


Harry e Gina. Do seu amigo e irmã que te amam.”


 


-Só podia ter a mão de Gina! –falou consigo mesmo.


 


       Logo mais a noite, a família estava reunida e os amigos de Rony chegavam pouco a pouco à Toca.


 


-Feliz aniversário, Rony! É bom vê-lo! –falou Neville o cumprimentando.


 


-Quanto tempo, professor! –Rony brincou. –Como está indo em Hogwarts? Não acredito que conseguiu uma folga num dia de semana!


 


-Eu não podia deixar de vir! Umas horas não fará diferença. –riu. –Hogwarts vai muito bem! Acho que não tem outra coisa que eu gosto mais do que dar aula. É estranho lembrar que um dia eu fui um daqueles pirralhos atrapalhados. Bons tempos, Rony...Bons tempos.


 


-É verdade, Neville. –Rony falou pensativo.


 


       Rony olhou ao redor. Havia pessoas, que quando jovem, Rony passava a maior parte do tempo ao lado delas, e agora, cada um estava para um lado. Uns casados, com filhos. A vida realmente muda muito ao caminhar dos anos.


 


       Deu um gole em sua bebida e sentiu um toque em seu ombro.


 


-Olá, Luna! –sorriu. Luna era ótima pessoa. Adorava-a.


 


-Feliz aniversário, Rony. –falou sorrindo do seu mesmo jeito aluado de sempre.


 


-Obrigada. –Rony analisou-a. - Você parece cansada.


 


-Sabe como é... plantões! Eu ando meio confusa ultimamente. Acho que é o cansaço, mesmo. E viver sozinha é um tanto desgastante, também.


 


-Não há porque viver sozinha, Luna.


 


-Ah, Rony! Essas coisas são difíceis. Ainda mais com minha profissão. Muitos reclamam quanto a isso. Acho que eles querem uma idiota que cozinhe e limpe a casa o dia todo para eles!


 


       Rony riu.


 


-Como está Rose?


 


-Está ótima. Cada vez mais linda. –falou com orgulho. –Logo, logo vou trazê-la. Está dormindo.        


 


       Rony caminhou entre os poucos convidados, hora conversando com um e com outro. Até que o chamaram.


 


-Rony!


 


-Luka, Lilá! Achei que não viriam! –exclamou os abraçando.


 


-Bom, apesar de ter que estar cedo amanhã no Ministério não podia deixar de vir.


 


-Estaremos lá de manhã. Não se preocupe!


 


-Onde está Rose? Estou louca para vê-la. –Lilá falou animada.


 


-Está dormindo. Quando acordar eu a trago.


 


       Todos estavam entretidos em conversas e risadas. Todos obviamente sabiam do ocorrido com Hermione, mas são amigos o bastante para não tocar no assunto. Eles também se sentiam intrigados com o sumiço de Hermione e suas declarações. Alguns tinham suas dúvidas, se mantendo em meio termo entre em acreditar ou não, outros se mantinham firmes de que Hermione nunca faria algo assim.


 


       Rony observava a tudo, na maior parte do tempo, calado. Analisava a face de cada uma das pessoas, bebericando em seu copo.


                                                      


-Se divertindo? –Gina perguntou sentando-se no braço da poltrona em que estava.


 


-Sim. Obrigada, Gina.


 


-Não tem que agradecer. Só importa que fique bem e se divirta! –sorriu.


 


       Logo o jantar foi servido e todos se deliciaram com a comida de Molly, sendo seguido pelos parabéns animado.


 


       Enquanto isso, passos cautelosos subiam as escadas em direção ao quarto de Rony. Abriu a porta e olhou para o berço, se aproximando calmamente.


 


-Você é linda. –falou com a voz emocionada. Acariciou o rostinho da criança que se remexeu. –Minha filha. Minha filha, linda. Um dia você vai saber disso. Um dia vou escutá-la me chamando de mamãe. Eu amo você. –De repente passos foram ouvidos, e a mulher desapareceu.


 


       Assim que Rony entrou no quarto, Rose começou a chorar.


 


-Bem na hora, não é estrela? –falou pegando-a nos braços.


 


       Pegou a mamadeira e ofereceu à filha, que recusou.


 


-Não está com fome? –ofereceu novamente e Rose rejeitou, continuando a chorar.


 


       Rony deitou-a na cama e trocou sua frauda. Mas Rose ainda chorava. Suas perninhas e braços se flexionavam como se estivesse com dor.


 


-De novo não! –Rony falou, derrotado. –De onde vêm essas cólicas? –perguntou-se.


 


-Rony, tudo bem ai? –perguntou Gina entrando no quarto.


 


-Parece que Rose está com cólicas de novo. –falou preocupado. –Chame Luna para mim, quero que ela dê uma olhada nela.


 


       Logo, Luna examinava Rose, com seu ar sério de trabalho.


 


-Pelo que posso perceber, Rony, é mesmo cólica.


 


-Mas isso não está certo, Luna. Da outra vez foi a noite toda. Será que tem algo de errado?


 


-Acho melhor levá-la para uma consulta com Adélia já que está tão preocupado. Enquanto isso, recomendo você usar os mesmo métodos que usou da última vez. Não utilize nenhum outro tipo de poção, pode ser prejudicial.


 


-Vou ficar aqui com ela, Gina. Aguenta as pontas para mim lá embaixo.


 


-Pode deixar. Daqui a pouco eu volto.


 


       Para a surpresa de Rony, a cólica passara muito mais rápido que da última vez. Ofereceu-lhe a mamadeira novamente e ela aceitou de bom grado.


 


       Rony estranhou aquilo. Mas agradeceu por ela não estar mais sentindo dor.


 


       Após alimentá-la e fazê-la arrotar Rose mantinha seus olhos de um tom azuis mais escuros bem abertos. E então ela sorriu.


 


-Sua safadinha! –falou achando lindo seu sorriso. –Tem uma platéia lá embaixo querendo te conhecer.


 


       Quando todos viram Rose, toda sorridente, branquinha e com seus cabelos flamejantes, ficaram fascinados. Abordaram-na com elogios e mais elogios, querendo atrair a atenção da pequena.


 


-Pelo menos hoje fizemos o Rony se distrair. –Harry falou abraçando Gina.


 


-É. Apesar de toda a situação, acho que Rony está aprendendo a lidar com ela.


 


-É o melhor que ele faz.


 


-Minha filha é linda, não é? –Rony perguntou com um sorriso enorme, chegando perto dos dois.


 


-Com certeza, Rony! –falou Harry feliz pelo amigo.


 


-Também, puxou a mim!


 


-Convencido! –brincou Gina.


 


       Rony suspirou e fechou o sorriso. Ficou a olhar Lilá com sua filha nos braços.


 


-Obrigada, gente. Acho que eu realmente estava precisando de algo assim. Apesar de tudo, eu preciso continuar vivendo. Não sei em que acredito. Não sei se ela irá voltar. Sei que ainda a amo apesar de tudo. E eu preciso viver para Rose. Ela não tem culpa de nada.


 


       Gina se limitou em apenas abraçá-lo e Harry a sorrir. Não tinham mais nada a dizer. E eles tinham certeza que Rony sabia que estariam ali para tudo. 


       


 “Em menos de um ano muitas coisas podem mudar.”


         E.P.


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