10ºCapitulo-Uma boa amiga

10ºCapitulo-Uma boa amiga




       Os dias se arrastavam sem que Rony tivesse completa consciência disso. Outro ponto que lhe passava despercebido era o fato de que ele próprio estava definhando. Não tinha mais vida própria, mais vontade própria. Suas linda iris azuis, antes iluminadas e brilhantes, agora representavam um oceano escuro sem fim, sem vida.  Seu corpo ainda tinha os músculos definidos, porém, mais magro. A barba ruiva que às vezes crescia demais era lembra por Harry ou Gina que deveria ser feita ou aparada, o que fez Rony se acostumar com um novo estilo de cavanhaque.


 


       Seu mundo se resumia em Rose e nada mais. Não conseguia aceitar a situação que a vida lhe impusera. E para ele, tudo isso tinha uma explicação. Ele só não a tinha em mãos.


 


       Sua alegria era ver Rose crescendo saudável e linda. Era o único momento em que seu sorriso era verdadeiro, que sua felicidade parcial era verdadeira. Como sempre dizia, era sua estrela.


 


       Rony sofria por dois, por ele mesmo e por Rose. A única coisa que ele não queria que Rose sentisse era a dor do abandono do desprezo. Ela era um bebê, não tinha culpa de nada. E em seu intimo, sabia que Hermione a amava. E a forma que encontrara de não apagar essa imagem da pequena garotinha, foi fazer Hermione presente em sua vida através de fotos e história que Rose ainda não entendia, mas um dia ela veria a heroína que tinha como mãe. Porque sua mente e seu coração diziam: Hermione irá voltar.


 


      Seu novo ano começou sem mudanças. Suas buscas eram incansáveis.


 


     Estava em seu escritório, sozinho. Harry já havia ido embora e ele, também, já deveria ter feito o mesmo.


 


-Com licença. –falou uma voz fina.


 


       Rony desviou sua atenção e sorriu do seu jeito triste dos últimos meses.


 


-Oi, Lilá. Entre.


 


-Como vai, Rony?


 


-Bem. –falou sem emoção.


 


-Sim, estou vendo. –falou sarcástica. –Parece mais um zumbi. Você está horrível. Precisa se cuidar.


 


-Obrigada pelo comentário animador. –falou voltando sua atenção para os papeis.


 


-O Luka está por ai?


 


-Ele saiu tem uns dez minutos.


 


-Droga! Queria fazer uma surpresa. –suspirou. –Tudo bem, então. Até mais, Rony.


 


-Espere. Acho que eu também preciso ir. Já está na hora. Quer uma carona?


 


-Claro! Se não for nenhum incômodo.


 


       Rony não mantivera contato com Lilá após Hogwarts. O fato de ela ser namorada do seu colega de profissão fora uma total coincidência, mas que não mudou nada entre os dois. Continuavam a visão de ser antigos colegas de casa de Hogwarts e namorados na adolescência. Hermione teve um pouco de ciúme ao se deparar com a novidade, mas eram águas passadas.


 


      Mas, nos últimos meses Rony conhecera Lilá como nunca antes. Ela era uma pessoa agradável para se manter uma conversa e sua presença era cada vez mais diária em sua vida, o que acidentalmente os tornou amigos. Rony até gostava de sua companhia, via o amor que nutria por Luka e tinha certeza que entre eles era só uma amizade que surgira a partir da solidão de Rony.


 


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       Gina corria afobada para o Ministério após receber uma coruja. Seus passos eram largos e firmes. Suas mãos se fechavam nervosamente.


 


-Droga de Rita idiota! –resmungou entre dentes. –Beth, cheguei! –falou entrando numa sala.


 


-Gina... –falou a repórter afobada com os cabelos desgrenhados. –Chegou mais um enquanto você vinha para cá. E esse eu consegui pegar antes de a bisbilhoteira da Rita. E o outro eu recuperei.


 


-Ótimo, Beth! Você é o máximo. Quero ver os dois.


 


-Aqui estão. –falou lhe entregando.


 


       Gina pegou-os e leu:


 


Todos viam o amor lindo  de Hermione Granger e Ronald Weasley. Porém, o que ninguém sabia era que por parte dela tudo não passava de uma fachada. Hermione confidenciou a mim, que realmente gostava do Weasley, mas apenas como amigo. Ao se ver completamente apaixonada, pelo então amigo, no futuro Hermione percebeu seu erro. Confundira as coisas, se entregando no maior erro de sua vida: o casamento. Fora um completo engano de sua cabeça e até então, coração .”


 


       Gina suspirou cansada. Com certeza Rita não perdeu a oportunidade de aumentar os dizeres no jornal, como sempre. Pegou e leu o outro papel.


 


“ O segundo erro que Hermione cometera, segundo ela mesma, fora engravidar. Ela não esperava que o casamento fosse tão longe. Sempre se cuidava para que isso não acontecesse. Apesar de não querer filhos, ainda mais com um homem que não amava, Hermione fingia em frente ao desejo do Weasley de ser pai, também o seu desejo, falso, de ser mãe. E o Weasley conseguiu o que queria por um descuido dela. Mas Hermione não conseguiria mais suportar aquela mentira, e ainda mais com um fruto indesejado. Sua única opção fora fugir!”


 


       Ao final, Gina sentia seu coração disparar. Seus olhos ardiam, mas engoliu as lágrimas. Aquelas palavras não podiam ter saído da boca de Hermione. Ela nunca diria algo assim.


 


       Ficou por um tempo, parada no mesmo lugar, sem saber o que fazer. Até que recuperou o fôlego e falou:


 


-Beth, não podemos deixar Rita pegar mais nenhum desses bilhetes.


 


-Pode deixar, Gina.


 


-Eu volto logo. –falou e saiu às pressas.


 


       Não queria ter que mostrar o outro papel a Rony, pois, com certeza ele já lera o jornal. Mas ela tinha alternativa? Seu coração se apertou só em imaginar.


 


-Gina? –Harry perguntou surpreso ao vê-la na porta.


 


-Ahh, oi, Harry. –falou sem perceber que havia chegado.


 


-O que faz aqui?


 


       Antes que Gina pudesse responder, Rony apareceu respondendo por ela.


 


-Leia o jornal, Harry. –o ruivo falou com uma voz fria.


 


       Harry, com a correria do dia, não tivera tempo de folhear o jornal. E não precisou de muito para saber do que eles estavam falando. Na primeira página estava estampada a foto de Hermione sorrindo e um Rony completamente derrotado. Foi até a página correspondente e leu rapidamente, ficando sem fala no final.


 


-Ela aumentou algumas coisas na matéria, mas o básico é o que está realmente no papel. –Gina falou.


 


-Como você sabe? –perguntou Harry.


 


-Beth conseguiu recuperar o papel e... bom... –manteve cautela.


 


-O que, Gina? –perguntou Rony.


 


-Conseguimos pegar outro desses, sem que Rita o publicasse. –falou vendo a dor nos olhos de Rony como se fosse a sua própria.


 


-E onde está? –perguntou Rony com o coração acelerado. Percebeu que Gina se mantinha na retaguarda. –Me entregue, Gina. Não esconda isso de mim, por favor. –pediu suplicante.


 


       Gina o entregou. E esperou que lesse. Seus olhos iam de um lado para o outro rapidamente. Até que terminou e o entregou a Harry e andou para onde os dois não o pudessem ver.


 


       Rony se encostou à parede, respirando fundo. Seus olhos se fecharam e não conseguiu mais segurar o choro. Começou a socar a parede cada vez mais forte sem se importar com a dor latejante e o sangue em sua mão.


 


       Logo, Harry e Gina estavam ao seu lado.


 


-Não acredite no que está escrito, Rony. –Gina falou pegando a mão do irmão e enrolando numa toalha. –Isso tudo pode ser fofocas. Você sabe muito bem disso.


 


-Eu sei... Eu sei... Mas também pode ser verdade, Gina. E se for? –falou com a voz fraca.


 


       Nenhum dos dois soube o que responder. Sofriam também com aquilo tudo.


 


-Hermione não seria capaz de uma coisa dessas, Rony. Você sabe disso. Você mais do que ninguém. –falou Harry.


 


-Eu não sei de mais nada, Harry. –falou cansado.


 


-Se fizermos uma analise nos bilhetes podemos ter alguma pista, pelo menos do país.


 


-Sim. –Rony falou aéreo. –Mas agora eu só quero ir para casa.


 


-Cuide de sua mão. –falou Gina.


 


-Gina, por favor, não exite em me mostrar esses bilhetes.


 


-Rony...


 


-Não importa o quanto isso pode me afetar, Gina. Apenas mostre.


 


       Gina não respondeu. Apenas observou o irmão caminhar até a porta.


 


-Isso está ficando cada vez pior, Harry. Eu não sei mais o que fazer, o que pensar. –Gina falou derrotada. Sentiu os braços de Harry a envolver e escondeu o rosto em seu peito.


 


-Você acha que Hermione escreveria algo assim? –Harry perguntou, perdido em seus pensamentos.


 


-Eu acredito que não. Mas também nunca pensei que Hermione fosse fugir desse jeito. Por isso, acho que tudo pode ser possível. Eu... –sua voz falhou. -...eu só não quero acreditar, que a nossa amiga, a Hermione que conhecemos, escreveu algo assim.


 


-Eu também não, Gina. Eu também não.


 


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       Rony precisava de paz. Nem que fossem pelo menos alguns minutos. E o único lugar e pessoa que lhe proporcionavam isso, era em sua casa e Rose.


 


       O olhar de Molly o cercou. Era duro para Rony ter que ver a dor nos olhos de seus familiares. Pessoas que estavam sempre ao seu lado, que queriam o seu bem, e ele, como retribuição, só lhes traziam dor e mais dor. Ele era o culpado.


 


-O que aconteceu com sua mão? –foi a primeira pergunta de Molly.


 


       Rony pensou em dar um desculpa qualquer e subir direto para o seu quarto. A dor latejante na mão não era nada comparada a culpa que o consumia. A dor em sua mão deveria ser maior, de forma a penalizá-lo por fazer outras pessoas sofrerem. Queria ser submetido a sessões e mais sessões de Cruciatus, para pagar com dor o mau que estava fazendo as pessoas ao seu lado.


 


-Não é nada demais, mãe. Poderia dar um jeito nela para mim? –Rony falou antes que seu desejo de sumir o consumisse. Lembrou da voz de Gina falando para cuidar de sua mão, e ele cuidaria. Sentou-se na cadeira e esperou.


 


       Sentia a dor aumentar com os feitiços e quando Molly enfaixou sua mão. Mas nenhum som era emitido de sua boca.


 


       Quando terminou, Molly o analisou. Os dois se olhavam nos olhos como se através deles pudessem conversar silenciosamente.


 


       Isso foi ruim para ele. Era como se sua mãe entrasse em seu corpo e tomava todo seu sofrimento para si. Isso não era justo!


 


       Levantou-se e mirou a mãe uma última vez.


 


-Sinto muito, mãe. –falou com a voz baixa e seguiu para o seu quarto.


 


       Rony postou-se ao lado do berço de Rose e a admirou dormir. Perdeu-se na imagem da filha, esquecendo-se de tudo, até que um barulho chamou sua atenção.


 


        Uma coruja adentrava pela fresta da janela aberta. Posou em seu ombro e Rony pegou a carta.


 


“Rony, sinto muito por isso. Não tem palavras para lhe confortar, mas saiba que tens uma amiga com quem contar.


Com carinho, Lilá”


 


      Rony sorriu triste. Lilá era uma boa amiga. Mas até ela lhe lembrava Hermione.  Deixou a carta de lado e olhou para Rose novamente.  Pegou-a nos braços e deitou-se com ela em seu peito. Gostava dessa posição. Gostava de sentir o coração da filha ligado ao seu em batidas sincronizadas. E logo, as lágrimas vieram. Rony chorou, lavando sua alma coberta de dor e vazio, e sua estrela lhe dava força para continuar em frente.


 


“Dor, vazio e solidão nos seguem de modo insistente em certos momentos da vida”


E.P.


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Um abraço para todos que ainda leem a fic!!!! Espero que gostem, e muito obrigada!!!! =]      


 


 


 


 

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