CAPÍTULO III
O CALOR DELA o envolvia, macio e acolhedor, enquanto Harry arremetia para dentro dela, alimentando a sua paixão.
Ela gemia e se agarrava aos seus ombros. Afundava as unhas profundamente e erguia os quadris para enterrá-lo mais profundamente dentro de si. Seus gritos baixinhos o incentivavam, mas ele sabia que, quando ela chegasse ao clímax, haveria apenas uma coisa que ele iria querer.
Apenas uma coisa que lhe traria um pouco de satisfação.
Ele a observou com interesse. Um ligeiro rubor se espalhara por seus seios amplos, que sacudiam gentilmente devido à força das arremetidas dele. Seus mamilos pareciam dois botões intumescidos, devido às caricias que ele lhe fizera com a boca. Ainda podia ver a marca úmida de seu beijo.
Inclinando a cabeça, ele lhe tomou o mamilo na boca novamente e ela choramingou de prazer diante da intensa sucção Ela agarrou os cabelos de Harry, encorajando-o a continuar.
Ele começou a sentir a luxúria do demônio se intensificando no seu intimo. Há muito que não sabia o que era a luxúria humana. O homem no seu íntimo havia morrido há muito tempo.
Ao redor de sua ereção, o latejar e apertar do corpo dela lhe dizia que a mulher estava quase chegando lá, quase pronta para ele tomar o seu prazer final.
Harry intensificou a movimentação de seus quadris arrancando dela gemidos em parte de prazer e em parte de dor. Não gostava da dor, mas a vida lhe ensinara que os dois estavam irrevogavelmente entrelaçados.
Ele arremeteu mais uma vez e ela chegou lá Pôde perceber, pelo modo como o coração dela pulou uma batida e o sangue lhe percorreu o corpo, levando-a ao clímax. Ela gritou de prazer, a cabeça jogada para trás contra os travesseiros, os calcanhares fincados no colchão para maximizar a penetração dele.
Era chegada a hora.
Enquanto dava continuidade aos movimentos dos quadris, prolongando o clímax da mulher, beijou o pescoço que ela deixara exposto para ele. Podia sentir o perfume almiscarado da excitação dela. Sob seus lábios sentiu o sangue correndo pelas suas veias.
Expondo as presas, ele as roçou pela pele frágil do pescoço da mulher, e esta estremeceu, percebendo que algo não estava certo.
Seria a última coisa de que se lembraria amanhã de manhã, ele pensou, afundando os caninos no pescoço dela e se alimentando do sangue carregado de paixão que lhe percorria o corpo.
Ela gritou de dor, mas à medida que o beijo do vampiro ia tomando conta dela, seu grito foi se transformando em um gemido de prazer. A humana respondeu ao chamado do demônio e ela segurou a cabeça dele no pescoço, implorando mais.
Foi só então, com o sangue dela iniciando uma corrida selvagem através do corpo dele, energizando-o com a vida dela, que Harry foi capaz de experimentar prazer.
Repetidamente o vampiro arremeteu para dentro dela enquanto se alimentava. Logo, teve de parar. Se bebesse mais uma única gota, ela não sobreviveria. Arrancando-se do pescoço dela, ele arremeteu uma última vez e soltou sua semente.
Uma semente morta, a não ser que a transformasse. Só então, com o beijo do seu progenitor correndo pelas suas veias, a semente poderia dar origem à vida. Só então, e só se ela estivesse no ápice de sua fertilidade.
Contudo, esta noite, ela era apenas outro recipiente vazio, dando prazer ao demônio com o seu sangue, enquanto o homem, aprisionado no interior dele permanecia morto.
Sua vida era assim agora. Fria. Vazia. Estéril.
Ao deixar o corpo da mulher, agora gemendo sem energia sob ele, devido à perda de sangue, Harry sentiu-se tomado de fúria.
Por algum motivo inexplicável, a fúria trouxe consigo a lembrança do Papai Noel, alegremente recebendo as festas com badaladas. Ele imaginou como poderia silenciar aquele Papai Noel e sorriu.
A TEMPERATURA HAVIA subido vertiginosamente, chegando por volta dos 38 graus e, sem o vento, a sensação térmica devia estar acima dos 40 graus. Havia a ameaça de que, com o cair da noite, a temperatura baixasse um pouco.
Mas o calor escaldante não impedira Annah de aceitar sua vez à frente do pote de contribuições. Ela havia se preparado naquela manhã, com uma visita à loja de esportes da vizinhança, onde, além de comprar algumas camisetas da Nike para a prima e alguns amigos, havia arrumado roupas de baixo de tecnologia de ponta, que, de acordo com a propaganda, eram capazes de manter uma pessoa com a temperatura estável mesmo sob temperaturas elevadas.
O fato de ter posicionado o pote de contribuições sob uma sombra também ajudou bastante. A sombra somada com uma suave brisa haviam proporcionado um calor agradável quando ela assumiu seu posto. Da mesma forma, o enorme prédio na esquina bloqueava o pior dos raios solares. Contudo, o que mais ajudava, era o vento que agora se mantinha constante. Ela marchava para frente e para trás sobre a calçada, e mantinha o braço em constante movimento, tocando o sino, convocando os pedestres que desafiavam o calor e ocasionalmente ofereciam urna doação.
Quando um dos braços ficava cansado, ela trocava o sino de mão. Os transeuntes pareciam entender a força de sua determinação em um dia de verão tão perverso. A maior parte das contribuições havia sido em notas, dando-lhe incentivo para continuar com sua tarefa, apesar da crescente dormência nos dedos e o calor escaldante de São Paulo.
A noite caiu mais depressa naquele dia. Ou talvez apenas parecesse assim, visto que, assim que os últimos raios de sol desapareceram, um friozinho cortou através do traje de Papai Noel e de sua roupa de baixo térmica. Ela apressou o passo ao longo da calçada, na esperança de que a velocidade maior ajudasse a aquecê-la. O sino tocava de acordo com o compasso de suas passadas.
Uma passada, duas passadas, toque o sino. Ela tentou manter o ritmo e aquecer suas cada vez mais frias extremidades.
Um passo, dois passos...
— Pare com isso.
Annah estava tão concentrada que não registrou a aproximação do homem.
A primeira coisa que notou foram os caríssimos sapatos pretos lhe bloqueando a passagem. Ela ergueu o olhar, subindo pela elegante calça cinza-carvão e um sobretudo de caxemira bege-claro.
Uma gravata com uma estampa inesperadamente exótica, levava a um queixo forte e lábios cheio retorcidos em uma careta de desagrado.
O homem atraente do dia anterior.
Ele havia invadido os sonhos dela mais de uma vez na noite passada. Sonhos eróticos cheios de imagens impróprias do que os dois poderiam fazer entre as quatro paredes de sua luxuosa casa de tijolos. Sem dúvida nenhuma, muito mais sexy do que o sofá cama de seu apartamento.
Erguendo o olhar mais alguns centímetros, vislumbrou as feições sombrias e intimidantes das quais se lembrava. A irritação ainda estava estampada no rosto másculo.
— Como disse? — ela perguntou, ligeiramente aborrecida com a ordem e o modo como ele havia se colocado em seu caminho, invadindo o seu espaço pessoal. Ele estava postado a centímetros dela, sua presença notavelmente dominadora.
— Será que pode, por favor, parar com essas badaladas infernais?
Ao lado do corpo dele, as mãos abriam-se e fechavam-se.
— Fazem parte do trabalho, as badaladas.
Ela apontou para o pote de contribuições, a poucos metros de distância.
— Acho que o traje de Papai Noel e o pote já dão uma boa idéia do que quer. Não há necessidade do sino.
— Temos permissão para...
— Não me importa o que você tem. Quanto quer para parar com as malditas badaladas? — Harry perguntou, sua voz escalonando de raiva com cada palavra.
Decerto o Papai Noel diante dele tinha um preço para o seu silêncio. Afinal de contas, todo mundo tinha o seu preço.
O Papai Noel o olhou de alto a baixo, como se estivesse avaliando-o. Depois, enfrentou o seu olhar com olhos determinados azul-acinzentados, emoldurados por cílios excepcionalmente grossos.
— Não seria certo...
Quando o Papai Noel falou, uma rajada de vento tirou a barba do lugar e abafou o final de sua resposta. Irritado, Harry disse:
— Será que pode tirar essa fantasia horrorosa, para que possamos conversar como indivíduos civilizados?
Quando o Papai Noel tirou o gorro e a barba, Harry se deu conta do terrível engano que cometera. Sob a fantasia estava uma mulher. E uma bela mulher. Atordoado, ele ficou momentaneamente em silêncio.
Deveria ter percebido que havia uma mulher sob a fantasia devido à sua estatura delicada e o tom mais agudo de sua voz.
Ela ergueu o rosto para fitá-lo. Era vários centímetros mais baixa do que ele, que tinha mais de um metro e oitenta.
O olhar amendoado se fixou no rosto dele, as faces pálidas devido ao frio inesperado em pleno verão. Lábios sensualmente fartos umedecidos com algum tipo de brilho labial se cerraram em sinal de desaprovação. Com cuidadosa precisão, como se estivesse falando com uma criança, ela repetiu a afirmativa anterior:
— Não seria certo aceitar uma doação para parar de tocar o sino.
— Não seria certo porque...
— Contribuições devem ser feitas de livre e espontânea vontade, do fundo do coração. Não porque quer algo em troca — ela disse, erguendo o queixo com determinação.
— Porque a solidariedade é a essência do espírito natalino — ele retrucou, apesar do tom de voz contradizer suas palavras.
A jovem diante dele não reagiu ao sarcasmo.
Ela estreitou os olhos, franzindo profundamente a testa entre as sobrancelhas depiladas com perfeição.
— Você é um misantropo?
Um misantropo. Já fora chamado de coisas piores em sua longa existência, e por pessoas muito mais poderosas do que a rapariga diante dele. Se incentivos monetários não ajudariam a silenciar o sino, havia outros artifícios. Artifícios vampirescos. Afinal de conta, ele era um dos vampiros mais antigos.
— Não tocará novamente o sino esta noite.
Ergueu a mão, como se para impedir que a dela se levantasse e reunindo uma pequena parcela de seu poder imortal para controlá-la.
Para a sua surpresa, a jovem lutou com ele, lentamente erguendo a mão, mesmo após ele aumentar a potência de seu poder hipnótico.
— O que está fazendo? — ela indagou, cada músculo de seu corpo esforçando-se para desafiá-lo.
— Não tocará o sino — ele repetiu, mas, mesmo ao fazê-lo, podia sentir a determinação da vontade dela, resistindo a ele. Surpreendendo-o. Havia poucos humanos capazes de resistir ao domínio de um dos mais antigos, e aqui estava um exemplar...
Uma mulher jovem, cheia de vida e desejável lhe mostrando mais espírito do que via há muito tempo.
Talvez, do que jamais vira.
Erguendo ambas as mãos, trouxe adiante mais poder do fundo de seu ser. Focalizou-o nela e no sino em sua mão, e enviou o seu comando telepático.
— Abaixe o sino e venha comigo.
A surpresa impactou-se com o corpo dele quanto ela mentalmente retrucou:
— Não quero.
Redobrando seus esforços, ele repetiu o comando. Desta vez, ela lentamente dobrou os joelhos e colocou o sino no chão. Quando ele atravessou a rua, ela o seguiu, mas, no seu cérebro, ele a escutou reclamar:
— Não pode me controlar para sempre.
Com uma gargalhada, ao subirem os degraus que levavam à casa de tijolos, ele disse:
— Veremos.
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