Capítulo Vinte e Quatro
Where Roses Grow Wild
Capítulo vinte e quatro
Harry Potter conhecia Draco Malfoy quase a vida toda e em todo aquele tempo os dois raramente se desentendiam. A única briga de peso que tiveram foi por causa de certa jovem que tivera a audácia de entrar para um convento, escolhendo se casar com o Senhor em vez de com um deles, resolvendo assim a questão.
Na opinião de Harry, uma das características mais atraentes de Draco era a sua maleabilidade. Ele era facilmente dissuadido de qualquer trajetória na qual tivesse embarcado e essa falta de determinação o tornava um companheiro inestimável para alguém como Harry, que precisava estar no controle de todas as situações.
Foi por essa razão que Harry ficou tão surpreso - e indignado - com a recusa de Draco em recuar na questão de fazer a corte a Hermione. Por que, de todas as questões do mundo, Draco tinha de escolher justamente aquela para ficar irredutível era uma coisa que Harry não podia entender. De fato, não era típico de Draco se manter tão agarrado a uma convicção. Era possível, supunha Harry, que o seu despreocupado amigo estivesse apaixonado de verdade pela moça. Nesse caso, Harry temia não ter outra alternativa a não ser pedir a Draco que se retirasse de Potter para sempre.
Precisar recorrer a isso era algo que deixava Harry amargurado. Ele valorizava a amizade de Draco. Este era uma das poucas pessoas que Harry conseguia tolerar por mais de cinco minutos. Mas não poderia permitir que o seu melhor amigo cortejasse Hermione. Só pensar nisso o fazia sentir-se mal. Até mesmo naquele momento, observando os dois juntos discutindo um livro, Harry não tinha dúvida de que ia acabar vomitando o jantar. Bem ali, no Salão Dourado.
Parecia que os dias de senhor de sua própria casa tinham terminado. Hermione o lembrara, com muita doçura, que ele não tinha o menor direito de proibir Draco de cortejá-la e que, como ela não tinha objeções, Harry teria que deixar de se intrometer. E ele, totalmente de acordo com isso, bem que tinha tentado. De verdade. Mas, ver as cabeças dos dois, uma loira e a outra um pouco mais escura, tendendo para o castanho, curvadas em cima de algum ridículo livro de poesia, o deixava furioso sem que ele soubesse o motivo.
Harry achava que, até então, as coisas tinham corrido bastante bem, e os três passaram quase uma semana juntos em relativa calma. Hermione evitava aqueles comentários ferinos que parecia compelida a fazer na sua presença, e Draco fingia não notar os olhares hostis do seu anfitrião. Como o tempo estava horrível, não se cogitava em sair de casa. Se estivesse apenas alguns graus mais quente, Harry teria insistido em arrastar Draco para fora para dar um tiros - qualquer coisa para afastá-lo de Hermione .
Talvez o mais irritante de tudo era que Harry não conseguia determinar qual o motivo exato para aquela raiva irreprimível. Era claro que achava Draco velho demais para Hermione. E o fato de conhecer os detalhes de muitas das conquistas de Draco o deixava receoso por Hermione, que excitável como era, poderia ser seduzida por qualquer uma das manobras mais físicas de Draco.
Só de pensar em Hermione e o seu lacônico amigo juntos na cama o deixava enfurecido, e mais ainda porque Harry sabia que, por baixo do exterior recatado da moça, havia uma mulher extremamente sensual. Harry nunca tinha dormido com uma parceira mais ardorosa. Aquela filha de vigário de vinte anos poderia dar lições de como fazer amor para qualquer uma das cortesãs de mais sucesso em Londres.
Mas para ter nos braços aquele corpo deleitável todas as noites valia ouvir aquela língua ferina? Não.
Então, por que não deixar que Malfoy ficasse com ela? Harry acabaria encontrando a mulher dos seus sonhos. Uma moça atraente e calma, que se sentaria ao lado do fogo tricotando meias para ele, sem se queixar do custo das suas gravatas, do quanto ele bebia e das suas relações com mulheres casadas. Sem dúvida essa mulher existia e estavam em algum lugar, esperando por ele. E, enquanto isso, por que não deixar Malfoy ter o que desejava? Por que um deles não poderia ser feliz?
Mas, se Hermione era inconveniente para Harry, tampouco era adequada para Draco. Harry não poderia esperar que Draco percebesse isso, já que o seu tolo amigo estava enfeitiçado pela mocinha de cabelo castanho. Mas Hermione já devia ter percebido que aquilo nunca daria certo. Que felicidade poderia encontrar com um imprestável e vagabundo como Malfoy? Este a deixava fazer gato e sapato dele - que ele deixava, Harry já tinha visto - e parecia incapaz de dizer não para a lindinha. Era só ela bater aqueles cílios escuros na sua direção e Draco fazia o que ela quisesse. Ora, era ridículo. Não daria certo nunca. Os dois estariam totalmente infelizes dentro de um ano. Harry precisava pôr um fim a isso tudo.
Não adiantava falar com Draco para ter bom senso. Harry já tentara isso. Não, para conseguir algum resultado, por menor que fosse, teria de falar com Hermione, que, apesar de danada de teimosa, pelo menos era inteligente o bastante para ser razoável. É claro que Harry precisaria ficar a sós com ela para ter essa conversa, e isso não seria fácil, já que Malfoy parecia estar sempre a seguindo como um cachorrinho.
Por fim, Harry chegou à conclusão de que o melhor seria esperar até Hermione se recolher à noite, e então abordá-la no seu quarto, depois que Draco tivesse ido para a cama. Sabia que ela não ia gostar nem um pouco - Hermione parecia tão nervosa quanto ele em relação aos dois ficarem sozinhos em um cômodo -, mas não havia o que fazer. Para impedi-la de cometer o maior erro da sua vida, ele teria de desobedecer algumas regras.
Já passava da meia-noite quando Hermione se recolheu e não demorou nada para Harry se livrar de Draco. Quando o deixou, ele roncava em um sofá da biblioteca, os braços ao redor de uma garrafa de conhaque e os lábios voltados para cima em um ridículo sorriso de felicidade. Harry quase sentia pena, porque o que ia fazer apagaria aquele sorriso para sempre, mas não via alternativa. Era isso ou ficar assistindo àquele sorriso se apagar aos poucos, tornando-se uma careta no correr dos anos.
De pé em frente à porta do Quarto Rosa, Harry percebeu que estava nervoso. Já tinha ficado ali em pé na frente da mesma porta dezenas de vezes quando criança, mas o nervosismo era diferente. A sua mãe sempre fora uma pessoa gentil, porém uma disciplinadora severa, e os castigos que lhe dava, ainda que menos físicos do que os do marido, foram os que se fixaram na memória de Harry. Seria nervosismo residual o que sentia naquele momento ou realmente não estava à vontade com o que ia fazer? Ele não tinha certeza e bateu à porta antes que mudasse de idéia.
A própria Hermione atendeu. Parecia bastante surpresa em vê-lo. O longo cabelo estava solto, caindo nos ombros como uma capa, e vestia o mesmo peignoir diáfano da noite do baile, aquele enfeitado com plumas. Parecia jovem demais, mas era inegavelmente feminina. Harry sentiu algo se contrair dentro dele e, por um momento, perdeu a coragem. Até ver a expressão de Hermione.
"Ora, ora, ora", disse ela, com uma das sobrancelhas arqueadas. "E a que devo este prazer, Lord Harry?"
Ele constatou que o que ia fazer salvaria a vida de Draco. Talvez não soubesse dar valor a isso de imediato, mas um dia agradeceria a Harry por salvá-lo dessa mocinha sarcástica.
"Preciso falar com você", disse Harry com a voz rouca.
"Ora, você pode falar comigo de manhã, no café", disse Hermione. "Boa noite."
Ela tentou bater-lhe a porta na cara, mas Harry foi mais rápido e pôs o pé entre a porta e o batente. Apesar de empurrá-la com toda a força, Hermione não conseguiu fechá-la.
Depois de um momento, parou de tentar. Levantou os olhos, nem um pouco impressionada com a atitude dele e com as mãos nos quadris. "Harry, você sabe que não posso deixá-lo entrar. Pense no que aconteceu da última vez."
"Estou bem lembrado do que aconteceu da última vez. Eu também estava presente, não sei se você se lembra. Mas não tem com que se preocupar. Só quero conversar."
"Era só isso que você queria da última vez", objetou Hermione.
"É de importância vital, Hermione, que você me deixe entrar."
"O que os criados vão pensar? A Sra. Praehurst vai…"
"Dane-se a Sra. Praehurst!"
Sem nenhum aviso, Harry abriu a porta com um chute, invadiu o quarto, que estava agradavelmente iluminado e aquecido pelo fogo, e bateu a porta com toda a força atrás de si. Desde que ele estivera ali, Hermione tinha feito algumas modificações. Havia um retrato da mãe dele, pintado antes de se casar, sobre a lareira e vários vasos com flores secas estavam espalhados pelo quarto. Além disso, sobre uma mesa de canto estava o maldito livro de poemas de amor que Malfoy tinha dado a ela no dia anterior, com determinadas passagens claramente marcadas com tinta. Harry foi até lá com passos largos e pegou o livro.
"Isto", disse ele, chacoalhando dramaticamente o pequeno livro encadernado em couro, "é o assunto sobre o qual quero conversar com você." Hermione, de pé e imóvel, os braços cruzados sobre o peito, adotou um ar de superioridade. "Oh? Você deseja discutir os sonetos de amor de Shakespeare?"
"De forma alguma." Harry deu uns passos largos na direção dela, brandindo o livro. "Quero conversar sobre Malfoy."
Um dos lados da boca de Hermione se virou num sorriso. "Ora, Harry, entendo o seu ciúme. Admito que você viu primeiro."
O punho de Harry desabou sobre uma pequena mesa lateral, que não foi forte o bastante para resistir ao ataque e desabou, tornando-se uma pilha de madeira marchetada e latão. Hermione olhou para o estrago com calma. Qualquer outra mulher teria saído correndo, temendo pela própria vida.
"Você se sente melhor agora?", perguntou secamente. "Há alguma outra coisa aqui que gostaria de destruir? Que tal aquele vaso ali? Se não me engano, é uma peça de herança. Ou talvez você queira na verdade é me atingir."
"Nunca bati em uma mulher na vida", retrucou Harry. Ainda estava desconcertado com o desmatelamento da pequena mesa. Não tivera intenção de bater com tanta força, mas não ia permitir que ela desviasse sua atenção. Essa era uma das artimanhas dela e ele não iria desistir da sua missão. "Escute aqui, Hermione…"
"Não tenho muita alternativa, tenho?" Hermione descruzou os braços e foi para a cama, da qual havia se levantado para atender à porta. Tirando o seu chinelo de saltos altos, deslizou os pés descalços para debaixo dos pesados acolchoados. "Espero que não se importe", disse ela baixinho, sentando-se na cama e abraçando os joelhos. "Mas é que está um pouco frio, você sabe."
Ela parecia tão pequena e inocente naquela enorme cama com dossel que por um momento Harry esqueceu o que tinha para dizer. Imaginou-se subindo naquela cama com ela, como se não fosse nada de mais, como se fossem casados há muito tempo e dormissem juntos todas as noites. Imaginou-se tirando gentilmente o peignoir daqueles ombros brancos e macios e beijando a pela sedosa debaixo daquelas mangas…
Daí viu o livro que segurava na mão. Começou a falar, mas a voz estava tão rouca que as palavras saíam ininteligíveis. Limpou a garganta. "Hermione, não posso permitir isso."
Ela olhou-o com cautela, o queixinho encaixado nas mãos. "Não pode permitir o quê?"
"Não posso permitir que você se case com Draco."
"Não pode?" Ela estava em parte na obscuridade. A luz do fogo não chegava até a cabeceira da cama.
"Não, não posso. Vocês não são feitos um para o outro. Vão apenas acabar fazendo infeliz um ao outro e não quero que isso aconteça para nenhum dos dois. Portanto, vim lhe dizer que você… você deve dizer a Draco que não pode se casar com ele."
A voz de Hermione veio firme das sombras. "Em primeiro lugar, Harry, Draco não me pediu em casamento. Em segundo lugar, se pedir, o que eu decidir fazer não é da sua conta."
Harry deu alguns passos para frente, de forma a poder ver melhor a expressão do rosto de Hermione. Chegando a apenas uns trinta centímetros da cama, viu que ela estava realmente muito brava. Os olhos castanhos brilhavam como pedras preciosas.
"Mas é da minha conta, Hermione ", disse Harry, com mais calma do que até então. "Draco é meu amigo. Não quero vê-lo infeliz."
Hermione levantou o queixo das mãos e fitou-o com raiva. "E o que o faz ter tanta certeza de que eu o farei infeliz?"
"Você é obstinada demais para ele, para começo de conversa. Você não conhece Draco como eu, Hermione."
Pareceu normal a Harry sentar-se na cama ao lado de Hermione. Ela não fez nenhuma objeção, mas talvez porque estivesse tão ocupada ficando furiosa com ele que nem tinha notado. Uma vez sentado na cama, Harry se lembrou de que, apesar da aparência macia, o colchão era bastante firme.
"Veja, Hermione ", disse Harry, jogando no chão o pequeno livro de poemas de amor, em um gesto que denotava frustração, "conheço Draco a vida toda. E sei de que tipo de mulher ele precisa. Precisa de uma mulher calma, que cuide dele, que providencie para que as meias que esteja usando combinem."
"Pouco me importa o tipo de meias que um homem usa", disse Hermione em voz baixa.
Harry ficou um pouco perturbado ao notar que, debaixo do roupão diáfano, ela usava apenas uma camisola fina que parecia ser totalmente feita de renda e deixava entrever as curvas dos formosos seios.
"Mas veja bem, Hermione ", disse ele, forçando-se a afastar o olhar dos seios dela e fixando-o naqueles olhos indecifráveis, que continuavam na penumbra. "Este é exatamente o problema. O que Draco precisa é de uma mulher que se importe com as meias dele."
"Acho que Draco é um homem bem crescidinho", murmurou Hermione. Harry notou que estavam sentados próximos demais um do outro. Sentia o calor do corpo praticamente nu de Hermione e o cheiro da fragrância floral do cabelo solto. Os seus rostos estavam muito próximos. Era só se inclinar e poderia beijá-la, provar a doçura daqueles lábios rosados, enterrar o rosto na maciez daquele pescoço. A imagem o surpreendeu. Baixou os olhos para Hermione, percebendo que ela estava falando.
"… e não acho que seja justo", dizia ela, com a voz intensa e gutural. "Você me diz para eu me casar e, quando aparece alguém que quer se casar comigo, me diz para eu não aceitar. Francamente, Harry, começo a suspeitar que você não tem a menor idéia do que quer. É como eu disse antes da sua partida para Londres. Você está com medo."
"A única coisa de que eu tenho medo", rebateu Harry, "é que vocês dois arruínem as suas vidas. Não pensei que teria que recorrer a isso, mas, já que você vai ser teimosa, serei obrigado. Hermione, vou mandá-lo embora de Potter.”
Os olhos castanhos se arregalaram. "O quê?"
"Não quero fazer isso. Vai despedaçar o coração de Draco. Mas não vejo alternativa."
Rápida como um gato, ela afastou as cobertas e se ajoelhou sobre a cama, ao lado dele, as duas mãos contra as maçãs do rosto. "Oh, Harry, você não pode fazer uma coisa assim! Só iria magoá-lo!"
"Sim, isso iria magoá-lo muito. Mas também o faria pensar duas vezes quanto a se casar com você."
Para seu espanto, os olhos de Hermione se encheram de lágrimas e, quando deu por si, um pequeno punho esmurrou-o com bastante força no peito.
"Como você poderia?", gritou ela, fora de si. "Como você poderia fazer uma coisa tão odiosa?"
Harry, protegendo o seu plexo solar, respirava com dificuldade. Ele se esquecera de como o gancho direito dela era forte. "Você não pode me ter, então não me deixará ser de mais ninguém, não é mesmo?", interpelou-o Hermione, furiosa. "Oh, que homem mais arrogante! E não sabe por que não quero me casar com você!"
Então, antes de ele ter recuperado o fôlego, ela atacou. Harry nunca tinha sido agredido a socos por uma mulher e não sabia como reagir. Um minuto ela estava chorando e, logo em seguida, estava montada nele, socando-o com punhos inusitadamente fortes. Harry, consciente do leve peso dela sobre as suas coxas, ficou deitado quieto, atordoado, por um momento ou dois, olhando aquela megera furiosa sobre ele, os olhos castanhos lampejando, o longo cabelo solto e caído para frente.
Um segundo depois, ele pegou aqueles dois pulsos que o golpeavam e segurou-os firmemente. Rosnando como uma tigresa, Hermione lutava contra os braços que a dominavam, até que Harry a imobilizou contra o colchão com o peso do seu corpo, mantendo os braços dela levantados sobre a cabeça.
"Fique quieta!", rosnou.
Com o peito arfando e tentando recuperar o fôlego, Hermione fitou-o, o ódio brilhando nos olhos.
"Me solte", disse ela, furiosa. "Me solte ou eu grito, juro que grito."
Mas o corpo de Harry já o traía, lembrando-se de outra vez em que essa mesma figura macia estivera debaixo do corpo dele, sem resistência e dócil. Sentindo a firmeza dos mamilos de Hermione através do tecido leve, Harry gemeu, sentindo que estava ficando teso contra o ventre bem definido dela.
Hermione também sentiu e os olhos com que o fitou já não era mais de raiva, mas de súplica.
"Não", implorou ela. "Me solte. Por favor, Harry. Me solte antes que as coisas vão longe demais…"
Mas já era tarde demais.
_____________________
próximo capítulo tem NC! posto assim que tiver dois comentários, no minimo. nem é tanto assim. comentem!
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!