Capítulo Vinte e Três
Where Roses Grow Wild
Capítulo vinte e três
Arabella Ashbury nunca seria tola a ponto de dizer em voz alta que achava Londres aborrecida sem a companhia de Harry Potter, mas sentia muito a ausência dele e foi ficando cada vez mais irritável por causa disso, tão irritável que suas amigas notaram e começaram a especular qual seria o motivo. Já tinha sido ruim que, quando estava na cidade, Harry se dissesse ocupado demais com "assuntos importantes" até para jantar com a viscondessa. Mas depois ele simplesmente havia fugido da cidade, de forma que não havia mais nem a possibilidade de cruzar com ele por acaso no teatro.
Não que houvesse alguma pela para ser vista, pois a temporada mal tinha começado. E, como se as coisas já não estivessem ruins o bastante, Arabella e suas amigas tinham ido a Londres mais cedo do que de costume por causa de Harry que tinham sido abandonadas por ele. "Negócios importantes". Nunca Arabella tinha sido desprezada tão óbvia e publicamente.
Agora que Harry por certo tinha voltado para Potter, tudo começava a fazer sentido. Ele não tinha qualquer "assunto importante" na cidade. Apenas quisera ficar livre deles - de Arabella, do conde e de Draco. De todos eles. Por causa daquela mocinha, claro. Arabella só conseguia pensar na Srta. Hermione Granger como "aquela mocinha".
Aquela maldita mocinha, com malditos olhos cor de mel e cílios escuros como breu, pele de seda, cabelo escuro brilhante e delgada cintura. Que homem não iria querer manter para si uma mocinha assim? Mas, nesse caso, por que Harry tinha passado tanto tempo na cidade? Por que simplesmente não se livrar dos hóspedes e voltar logo para Potter? Arabella não conseguia entender. De qualquer forma, Harry Potter sempre fora um homem complicado. Ela nunca soube dizer exatamente o que ele estava pensando.
Mas sabia que estava prestes, a saber. Voltando para Potter, ele deixara muito claro que considerava tudo acabado com Lady Ashbury. Ora, nem mesmo mandara um bilhete de despedida. Até o rabo-de-saia mais sem valor normalmente recebia um bilhete - com pelo menos um bracelete de diamantes - quando o amante a trocava por outra. Harry nem mesmo tivera a decência de lhe dizer que tudo estava acabado. Bem, tinha havido aquela cena no Quarto Branco, em Potter. Aquilo poderia ter sido um sinal de que as coisas não andavam bem no relacionamento dos dois. Arabella não conseguia entender. Não parecia coisa de Harry, que em geral era tão arrogante e temerário.
E perguntar a Draco não tinha ajudado em nada. Arabella nunca tinha gostado de Draco Malfoy. Parecia-lhe que ele estava sempre lhe sorrindo com malícia, não de forma sexual, o que ela poderia entender, mas como se achasse que ela era idiota. Quando lhe perguntou, em uma noite no Palácio St. James, o que estava acontecendo com Harry ultimamente, ele havia dado aquele sorriso, ainda mais malicioso do que o normal, e dito que não tinha idéia. Arabella sabia que ele mentia e, em uma rara mostra de má avaliação, puxou a manga do seu casaco e o interpelou: "É a mocinha, não é? Ele está apaixonado pela mocinha."
Draco havia olhado para ela, piscando os olhos, com aquele seu jeito ridiculamente lacônico, e lhe perguntado, com ar inocente: "Ora, Arabella, o que você quer dizer com isso?"
"Você sabe perfeitamente o que quero dizer. Ora, ele não pode se casar com ela. Você sabe o que as pessoas estão dizendo a respeito da irmã dela?"
O sorriso malicioso de Draco se alargou. "Não, Arabella, por favor, me conte. O que as pessoas estão falando sobre a irmã dela?"
Ela não gostou da ênfase que ele pôs na palavra "pessoas", mas continuou, na esperança de que ele não soubesse que quase todos os rumores tiveram origem na sala de visitas dela.
"Que foi ela quem matou John Potter, como se tivesse puxado o gatilho. Que o duelo de que ele participou foi pela honra dela e que foi o seu amante que saiu vencedor. E que passou os últimos dez anos no Mediterrâneo com esse amante…"
"As pessoas estão falando muito sobre essas coisas, que não tem como saber, não estão, Arabella?"
O sorriso de Draco era intolerável e foi então que Arabella percebeu que Malfoy, o tolo, também estava enfeitiçado pela moça. Não parecia possível que uma sirigaita tão enfadonha tivesse capturado os corações de dois dos solteiros mais cobiçados da Europa, mas não era exatamente isso que a irmã dela tinha feito? Qual era o nome daquele amante de Katherine Potter? Se pelo menos Arabella conseguisse descobrir.
Arabella não era a única pessoa que ficou tentando entender o estranho comportamento de Harry Potter. O conde de Derby lamentava a perda de seu parceiro de caçada e passava refeições inteiras suspirando para a sua taça de vinho, para desgosto da sua mulher. Lembrava-se de muito pouco do que acontecera na estufa na noite do baile, mas o pouco de que se lembrava o incomodava. Havia alguma coisa naquela moça, a filha do vigário. Alguma coisa que não lhe era estranha. Se pelo menos Lord Derby pudesse determinar o que era. Tinha certeza de que a informação, fosse qual fosse, iria animar à pobre Arabella.
Até que, uma noite, ele entendeu tudo. Apesar de ter um lado lascivo em sua natureza, o conde de Derby não era um homem cruel. Nunca lhe teria ocorrido contar a sua descoberta para alguém, se já não estivesse meio alto e não tivesse caído, como infelizmente acontecia muito, nas mãos de uma pessoa muito mais inteligente - e manipulado - que ele.
Arabella Ashbury não tinha muito interesse no conde de Derby e sua mulher. Não fosse pelo fato de a casa deles na cidade ser vizinha da sua e de que, em certa época, antes de ele ter decaído fisicamente, Lady Ashbury e Lord Derby tiveram uma mútua inclinação, ela os teria ignorado. É verdade que eram da aristocracia rural, mas eram tão sem interesse e tinham tantos filhos! Não era decente ter tantos filhos. Quando Lord Derby apareceu à sua porta uma noite no começo de janeiro, porém, ele estava bêbado demais para ser mandado embora com segurança. Por isso, ela o convidou a entrar e lhe perguntou onde estira.
"Na casa de Kathy", disse Lord Derby com voz estridente, entrando na casa de Arabella.
Ela virou os olhos para cima. A casa de Kathy Porter era um famoso prostíbulo de Londres. Se Derby achava que ela tinha algum interesse no que estivera fazendo lá, ia ter uma grande surpresa.
"Bem", ela disse em tom incisivo. Na verdade, Arabella tinha o seu próprio acompanhante no andar de cima, alguém que ela estava cultivando para substituir o inconstante Harry Potter no seu coração, e não tinha tempo para perder com condes gordos e bêbados. "Você pode passar a noite aqui, se achar necessário. Vou mandar um lacaio até a sua casa para pegar as suas coisas. Diremos a Bertha que você vai passar a noite no seu clube."
"Você é tão boazinha", disse Derby, e Arabella ficou irritada ao ver que tinham surgido lágrimas sob as pálpebras gordas do conde. Derby sempre fora um bêbado lacrimoso. "Você é tão adorável, Arabella. Quase tão adorável quanto à pequena filha do vigário."
Arabella não estava prestando muita atenção ao que ele dizia. Olhava seu próprio reflexo no espelho sobre a lareira, ajustando a gargantilha de safiras. "Que pequena filha do vigário?", perguntou ela, distraída.
"A que está em Potter. A que se parece tanto com Kathy."
Arabella olhou-o de uma forma que, se ele tivesse visto, se assustaria. Com três passos largos e rápidos, ela estava inclinada sobre a poltrona onde o conde se sentara, o rosto a apenas alguns centímetros do dele. "O que você quer dizer, a moça que parece com Kathy? Você está falando que Hermione Granger se parece com Kathy Porter?"
Uma grossa lágrima saiu do canto de um dos olhos de Lord Derby. Ele fez que sim, com a expressão triste. "As duas são uma a cara da outra, só que… é menor, como uma miniatura, você entende? Poderiam ser irmãs, de tão parecidas. Kathy é uns dez anos mais velha e tem uns bons quinze a vinte quilos a mais, mas poderiam ser gêmeas, se não fosse por isso." Lord Derby suspirou. "Isso ficou me incomodando por muito tempo. Eu sabia que aquela moça me fazia lembrar de alguém, mas não sabia de quem. Até hoje de noite."
Os dedos de Arabella apertaram os braços da poltrona de brocado. Os seus olhos começaram a brilhar perigosamente. "Katherine Potter é Kathy Porter. Que coisa mais maravilhosa!"
O conde de Derby de repente ficou sóbrio. Isso ocorria de vez em quando e sempre tinha surpreendido Arabella à rapidez com que ele ficava lúcido quando queria.
"Arabella", disse ele, estendendo a mão que, apesar de gorda, era forte como um torno. "O que você está pensando? Eu disse que elas poderiam ser irmãs, e não que sei com certeza que sejam."
"Ora, cale a boca, Freddy", Arabella o interrompeu rispidamente. Os olhos azuis da viscondessa tinham ficado pensativos. Lord Derby tinha ficado um pouco sóbrio, mas não o suficiente para perceber o significado da descoberta que tinha feito e relaxou, já que Arabella não voltou a falar o nome de Kathy Porter. Lord Derby só tinha consciência de que a viscondessa estava sendo mais gentil do que de costume com ele.
demorou um pouco,mas aqui está. acho que o proximo não vai demorar tanto.
obrigada a may33, mione03, viviane e ayka mikava.
beijos e comentem!
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