Capítulo Vinte e Um
Where Roses Grow Wild
Capítulo Vinte e Um
"Não acredito." A viscondessa de Ashbury baixou a xícara de chá com um pequeno impacto. Foi por pura sorte que não derramou nada sobre o seu vestido matinal cor de alfazema. "Você nunca passou esta época do ano em Londres. Ainda restam pelo menos seis semanas de boa caça!"
Harry, a sua própria xícara de café bem estável na mão, deu de ombros. "Um homem tem o direito de mudar seus hábitos", disse suavemente, mas bem consciente dos olhares surpresos trocados por cima da mesa de jantar diante das suas palavras.
"Na minha opinião, meu velho…" O conde de Derby estava com a aparência mais acabada depois da sua ronda à meia-noite pela estufa. Apresentava círculos escuros debaixo dos olhos, apesar de ter dormido até o meio-dia. "Essa… essa súbita decisão sua não tem nada a ver com a nossa… ahn… conversa de ontem à noite, tem?" Harry piscou olhando para aquele homem, mais velho que ele, fingindo estar despreocupado e alegre. Por dentro, queria pegar um enfeite de centro de mesa e golpear com ele a cabeça de Lord Derby com toda a força;
"Eu diria que não, Derby. Não, acho que os aspectos ao ar livre simplesmente perderam a atração para mim antes do tempo este ano. Parto para Londres hoje à noite e aquele entre os senhores que quiserem ir comigo são bem-vindos. Os outros, é melhor irem embora. As coisas vão ficar terrivelmente monótonas por aqui, posso lhes dizer."
"Nunca ouvi nada tão ridículo quanto isso", disse a viscondessa, com pouco caso, olhando para o seu xale todo cheio de babados. "Ninguém vai para Londres nesta época do ano. A temporada só começa em fevereiro."
"Ora, não sei não, Arabella", disse Draco Malfoy, entrando na conversa e se recostando despreocupadamente na cadeira. "Pense nisso: Londres sem toda aquela gente. Temos os teatros e os restaurantes só para nós, para variar. Eu realmente gosto dessa idéia."
Arabella lhe lançou um olhar penetrante. Qual era a graça, o rosto dela dizia claramente, de ter os teatros e restaurantes só para si? Não haveria ninguém para admirar os novos vestidos, os novos estilos de penteados, os novos amantes…
Harry, porém, olhou o seu velho amigo cheio de gratidão. Não tinha sido fácil apresentar uma desculpa para se livrar dos seus convidados e o esquema de ir para Londres lhe tinha ocorrido na madrugada, depois de horas repreendendo-se severamente por sua franqueza. Tinha prometido para a moça que a pouparia de novos insultos dos amigos dele e, já que estes não eram confiança, tinha de mandá-los embora. Mas eles não partiriam sem uma dura provocação e, a não ser incendiar a casa, Harry não conseguia pensar em nenhuma outra forma de fazê-los sair, a não ser ir ele próprio embora.
A viscondessa não foi à única que encarou o súbito anúncio de Harry com suspeita. Apesar de apoiar publicamente o plano do seu anfitrião, Draco sabia que alguma coisa estava acontecendo. Depois do jantar, quando todas as outras pessoas estavam nos andares superiores ordenando que suas criadas e valetes começassem a fazer as malas, ele alcançou o filho do duque na galeria da criadagem, para onde Harry tinha ido com a intenção de informar a Sra. Praehurst dos seus planos.
"Não parece coisa sua, meu velho!", Draco exclamou, acompanhando seu anfitrião. "Você detesta Londres nesta época do ano. Na verdade, sempre suspeitei que você detesta Londres o ano todo."
Harry continuou olhando para frente, temendo que, se olhasse para o amigo, revelaria uma coisa que queria guardar só para si. "Não sei do que você está tagarelando, Malfoy. Sou um homem independente e posso ir para Londres quando bem entender…"
"Ninguém está contestando que é seu direito, homem. O que as pessoas querem saber é o seu motivo…"
"Por que tenho de apresentar um motivo para as minhas ações?" Os grandes passos de Harry os tinham levado de volta para a escada dos fundos e em direção aos seus aposentos privados. Apesar de protestar quanto a ter de apresentar desculpas para suas ações, Harry apresentou uma com relutância: "Quero livrar a minha casa desses queixosos parasitas e esta é a única forma que me ocorreu para fazer isso, certo?"
"Livrar a sua casa…?" Draco seguiu Harry para o sue escritório e afundou em um sofá de couro. "Isto tem alguma coisa a ver com o que aconteceu com o menino?"
"Com o menino? Que menino?"
"O seu sobrinho."
Harry tinha ido até a porta do seu quarto e dado ordens para que o valete começasse a fazer a malas. Então foi até a cornija da lareira, encontrou um charuto e começou a fumar com energia. "Não tem nada a ver com o menino", rosnou Harry, o charuto preso entre os dentes.
Draco, que conhecia Harry bem o suficiente para saber que ele apenas fumava quando se sentia coagido ou constrangido, entrelaçou os dedos das mãos atrás da cabeça e se reclinou sobre as almofadas do sofá meditativamente. "É a moça, então?"
Harry tossiu, tirou o charuto da boca e disse: "Não seja estúpido".
Draco deu um sorriso em direção ao teto. "Eu sabia! Você está apaixonado por ela."
"Vá para o inferno", Harry lhe disse. Ouviu-se uma batida na porta através da qual ele havia vociferado com seu valete. Harry a abriu com um safanão e olhou furiosamente para o seu criado. "E então? O que você quer?"
"Desculpe-me, senhor." Daniels não parecia nem um pouco impressionado com a ferocidade do patrão. "Mas devo entender que o senhor quer que eu faça as malas para ir para Londres?"
"Foi isso que eu disse, não foi?" Harry enfiou o charuto de volta na boca e começou a caminhar pelo escritório a passos largos. "Que parte do que eu lhe disse que você não entendeu?"
Daniels piscou, impassível. "Mas, senhor… Londres? Em novembro? A temporada de caça mal começou…"
"Não me venha com essa você também, Daniels", berrou Harry. Deu as costas para o valete e fez um apelo para o teto. "Meu Deus, um homem não pode ir a Londres quando bem entender?"
"Sem dúvida, senhor", disse Daniels, nem um pouco abalado por toda aquela gritaria. "Eu poderia perguntando quanto tempo passaremos lá?"
"Não sei." Harry olhava com raiva o fogo. "É melhor levar camisas para pelo menos um mês."
"Muito bem, senhor." Daniels deixou o escritório com uma expressão de desaprovação no rosto. Harry notou e praguejou.
"Será que um homem não pode dar uma ordem sem ser questionado pelos seus empregados?", reclamou e, apesar de aparentemente não esperar uma resposta, Draco se encarregou de dá-la.
"Naturalmente que pode. Desde que pareça estar em sue juízo perfeito. Mas você, Potter, parece ter ficado confuso da noite para o dia. Podemos voltar para a possível fonte de toda essa perturbação? Eu estava pensando se você finalmente admitiu para si mesmo que tem sentimentos por aquela moça."
Harry soltou uma imprecação, dessa vez mias forte do que as outras, e arremessou o seu charuto nas chamas da lareira. "Você poderia deixar aquela moça fora disso, Malfoy? Não tem nada a ver com ela."
"Não?" Totalmente indiferente à violenta exibição de mau humor do amigo, Draco se levantou e foi até o armário de bebida para pegar um pouco de uísque. "Você soube da fofoca feita por alguém ontem à noite, não soube? Que John morreu devido à irmã dela, etc."
"Soube." Harry se largou sobre a sua poltrona de couro e apoiou os pés perto da lareira. "E ela também ficou sabendo."
"Ah!" Draco passou um copo para Harry, que virou o seu conteúdo em um trago rápido e devolveu o copo. Draco encheu o copo novamente e o devolveu a Harry, servindo-se então de uma dose e voltando para o sofá. "Isso poderia, então, ser a explicação dessa súbita partida para Londres, hoje?"
Harry olhava ferozmente para o fogo. O seu rosto estava carregado de raiva, os músculos do queixo contraindo-se. "Não", disse ele sucintamente.
Draco balançou a cabeça. "Gosto muito dela, Harry. Você não vai expulsá-la de casa, vai?"
"Não seja estúpido."
"Bem, então o que você vai fazer com ela?"
"Como assim, o que vou fazer com ela?" Harry tirou os pés de perto da lareira e se levantou. Deu dois grandes passos na direção da janela e puxou a cortina para o lado e observou a entrada das carruagens lá embaixo. "Não vou fazer nada com ela."
Não depois da conversa que tiveram pouco depois de fazer amor. Harry, recuperando aos poucos o senso, havia levantado o rosto dos seios dela e sugerido - meramente sugerido, veja bem - que talvez fosse melhor que eles se casarem, já que parecia que não conseguiam manter as mãos longes um do outro.
Não que ele quisesse uma esposa. Mas, já que ela o importunava continuamente e brigavam como um casal casado há muito tempo, parecia a ele que não faria muita diferença.
Mas ele se esquecera da resolução de Hermione de não se casar nunca e ela o fez lembrar-se disso, com toda a veemência.
"Você está me dando crédito demais." A risada de Harry era totalmente carente de humor. "Não tem nada a ver com Hermione. Londres é lúgubre nesta época do ano, mas não consigo pensar em outro jeito de me livrar desses ridículos aproveitadores…"
Draco riu. "Santo Deus, Harry! E eu que sempre pensei que você gostasse deles!"
"São amigos de Arabella, você sabe disso. Não posso mantê-los aqui, farejando pelos cantos, fofocando e…" Harry voltou para a janela e olhou para fora novamente. "Ah, ótimo", disse. "A carruagem do marquês está fazendo a manobra. Tenho de descer e ficar livre dele."
"Antes de você ir, Harry…" Notando o sorriso forçado no rosto do amigo ao se virar da janela, Draco levantou o copo e disse: "Minhas mais sinceras desculpas. Estou falando sério, Harry. E quando a Hermione, como você a chama…"
Draco baixou os olhos para o seu copo vazio. Harry estava aturdido ao ver o seu amigo tão franco hesitando e mais aturdido ainda com as palavras que finalmente ele disse. "Sobre Hermione, Harry. Você não se importa, se eu… ahn… a visitar de vez em quando?"
"O quê?" As palavras escaparam antes de Harry conseguir fechar a boca e ele ficou ainda mais humilhado pelo fato de a voz lhe ter falhado, como não acontecia desde a adolescência. "Você está falando sério?"
Draco passou em segundos de hesitante a indignado. "Por quê? Você não acha que ela me receberia?"
"Acha que ela… acha…" Harry não acreditava no que estava ouvindo. Será que o mundo inteiro tinha ficado louco? O que Malfoy tinha na cabeça? Tinha dado férias para o juízo?
'Bem, eu sei, eu sei", disse Draco, pondo o copo vazio sobre uma mesa e levantando as duas mãos, como se estivesse pronto a se proteger de golpes que Harry não tinha a menor intenção de lhe dar. "Sei que sou velho demais para ela. Mas o que são dez anos?"
"Mais para quinze", rosnou Harry.
"Vá lá, quinze, talvez. Mas acho que ela gosta de mim, Potter. Eu a faço rir. Portanto, se você não tiver nenhuma objeção."
"Eu tenho objeções muito fortes", Harry disse, zangado. "Você a faz rir." Ele repetiu as palavras zombeteiramente. "Que tipo de base é este para um relacionamento?"
Draco parecia perplexo. "Uma ótima base, se quer saber a minha opinião. Você devia se lembrar de que ela não me esbofeteou nenhuma vez ainda."
"Ora, muitíssimo obrigado, Sr. Malfoy. Eu o convido para a minha casa, ofereço-lhe as minhas melhores bebidas, os meus melhores cavalos e você se volta e me pergunta se pode cortejar a minha…"
"A sua o quê?" Os lábios de Draco se contraíram. Ele não conseguia disfarçar um sorriso malicioso. "O que ela é para você, Harry?"
"Ela é minha cunhada", disse Harry, totalmente consciente de que estava se agarrando a qualquer argumento, no desespero, mas sem conseguir evitar. "Já que ela está sob o meu teto, está sob minha proteção e em nenhuma circunstância vou permitir que seja cortejada por um libertino como você, Malfoy."
Draco, que geralmente era o mais afável dos companheiros, parecia aborrecido. "Por piedade, Potter. Eu só lhe pedi permissão por cortesia. Você não pode me impedir de vê-la se ela me receber. O que há com você, afinal de contas?"
"O que há de errado com você?", disparou Harry de volta. "Você tem toda a população feminina de Londres entre a qual escolher. Por que tem que cortejar a minha cunhada?"
"Porque estou encantado com ela. Você sabe que estou. Eu lhe disse desde o começo…"
"Uma fantasia passageira, como todas as outras." Harry fez um gesto descartando a idéia. "Você vai superar isso quando estivermos em Londres. Agora, pare com esta bobagem, Malfoy. Preciso me despedir dos meus hóspedes."
Harry normalmente conseguia, com persuasão, tirar o seu maleável amigo de qualquer disposição, mas dessa vez Draco se recusava a desistir. Quando Harry tentou sair do escritório, Draco bloqueou a porta com o braço. Harry baixou os olhos para ele, surpreso… e irritado.
"Malfoy, você está querendo morrer? Por que eu quebro este braço sem pensar duas vezes se você não o tirar do meu caminho."
"Você a quer para si, não é?" Os olhos cinzas estavam apertados de suspeita. "É isso, não é? Você a quer e está tentando se livrar de mim com toda essa história de Londres!"
Harry suspirou. O dia ia ser longo! "Tudo bem, Malfoy. Sim, eu a quero. Vou mantê-la aqui como minha concubina, acorrentada pelo tornozelo na coluna da minha cama." Vendo que o amigo não achava graça nenhuma naquilo, Harry suspirou novamente. "Tudo bem, Draco. Já que você está levando tão a sério, tem a minha permissão para cortejá-la. Se ela quiser recebê-lo, o que sei que não vai acontecer, pois a moça tem uma idéia idiota de que o casamento é a instituição responsável pela subjugação das mulheres ao longo da história. E, agora, você pode começar a fazer a malas? Eu quero partir antes do escurecer."
Draco, parecendo satisfeito, retirou o braço da porta. "Obrigada, Harry", disse sorrindo. "É muito generoso da sua parte."
A resposta de Harry foi uma rosnada. Saiu do escritório e desceu para ser gentil, na esperança de que seus hóspedes fossem embora sem ficar sentidos. Foi apenas quando Draco o lembrou, enquanto ele levava a mão enluvada da marquesa de Lynne aos lábios que talvez devesse informar Hermione de que iria viajar, que Harry se deu conta de que deveria vê-la uma última vez. De forma alguma seria adequado que a Sra. Praehurst tocasse no assunto com Hermione antes de ele ter uma chance de se explicar a ela.
A última pessoa que Harry queria ver era Hermione. Mas não havia como evitá-la, com Draco de pé ali, olhando-o na expectativa. Fazendo uma mesura relutante para a viúva Seldon e murmurando algo sobre ter uma coisa urgente de que cuidar, Harry correu para cima.
Encontrou Hermione onde a criada havia lhe dito que a encontraria, nos aposentos de Jeremy. Depois de não receber resposta à sua batida, ele abriu a porta e viu os dois no banco junto à janela, acompanhando o intenso movimento dascarruagens lá embaixo. Jeremy dizia, em tom de quem sabe do que está falando: "Aquele coche de duas rodas em que o filho do conde está viajando não é o tipo de carruagem para essas estradas acidentadas daqui de Yorkshire."
Hermione, parecendo divertir-se, indagou: "E quem foi que lhe disse isso?"
"Bates, o cocheiro. Ele é a favor da caleche, de quatro rodas. Está fora de moda, mas agüenta firme nesta parte do país."
Hermione riu diante do tom pretensioso do menino. Harry ficou impressionado pela rica ressonância do riso grave de Hermione, tão diferente do risinho agudo de Arabella. Ele pigarreou. Os dois se voltaram para ele. Jeremy soltou um grito de alegria ao ver o tio e, aparentemente esquecido do fiasco da caça do dia anterior, pulou do banco e correu, entusiasmado, para Harry. Hermione o seguiu, a um passo mais sereno.
"Tio Harry", gritou Jeremy, jogando-se contra as pernas de Harry e se agarrando à aba do casaco dele. "Tio Harry, podemos tirar os cavalos dos estábulos hoje? O Rei vai precisar esticar os músculos depois de ficar confinado a noite toda."
"Não acho que Rei seja o único que precisa de uma esticada, meu jovem." Harry despenteou o cabelo do menino e Jeremy afastou a cabeça, aborrecido com o que chamava, com desprezo, de "ser tratado como um bebê". "Por que você não corre até a cozinha? Sei que a cozinheira acaba de tirar uma dúzia dos seus mundialmente famosos bolos de gengibre do forno. Se você lhe pedir com delicadeza, ela é capaz de lhe dar um deles."
Os olhos cinza de Jeremy se apertaram e ele franziu o nariz sardento. "Se o senhor quer falar com Hermione sozinho", disse ele com dignidade ferida, "é só pedir. Não é necessário me tratar como se eu fosse bobo."
"Jeremy!"
Uma onda de rubor subiu às faces de Hermione. Harry ficou olhando-a, fascinado com o jogo de cores no rosto da moça. Como sempre, ela usava um vestido muito na moda, que assentava perfeitamente na sua figura esguia. A não ser pelo leve rubor, não parecia diferente do normal, o longo cabelo penteado de maneira que lhe era favorável, os olhos brilhantes sem ajudar de artifícios. Não havia nada no seu comportamento que indicasse que tinha passado a maior parte da noite anterior ofegando nos braços dele, os lábios grudados nos dele.
Pousando as mãos gentilmente nos ombros de Jeremy, Hermione o conduziu para fora da sala. "E não volte", ela admoestou o menino, "enquanto não tiver aprendido alguns bons modos."
Contrariado, Jeremy bateu a porta atrás de si. Hermione voltou-se para Harry, que ficou decepcionado de ver que o rubor tinha desaparecido. Ela o olhava com olhos tão verdes, frios e insondáveis como duas lagoas gêmeas na floresta. "Pois não, my lord?", perguntou ela com aquela voz baixa e levemente rouca.
Repentinamente cônscio ao extremo do fato de estarem juntos e sozinhos, Harry baixou os olhos e os fixou nas botas, constrangido. O que havia com ele? Nunca antes se sentira acanhado na presença de uma das suas conquistas. Será que Draco estava certo? Poderia ele ter se apaixonado por aquela moça impertinente? Impossível. Ela era pouco mais do que uma criança e não era, de forma alguma, o tipo dele. Ele gostava de loiras calmas e não de morenas de temperamento forte e fogoso. E aquela moça, quem era ela? Nem mesmo tinha um título de nobreza!
"Lord Harry?" Os olhos castanhos o avaliavam com curiosidade diante do sue silêncio. "Algum problema?"
Harry se agitou. "Não, naturalmente que não. Por que deveria haver algum problema?"
"Não sei." Hermione o estudava, o rosto inexpressivo. "Mas o senhor parece contrariado."
"Não estou contrariado", declarou Harry rápido demais. As coisas não estavam indo bem. Precisava assumir o controle da situação. Como estava, a moça dominava toda a conversa. Percebeu que tinha cerrado os punhos. O que estava acontecendo com ele? Talvez estivesse apenas passando pela ansiedade que é normal uma pessoa sentir depois de deflorar a sua cunhada.
"Se estou preocupado", disse Harry, dessa vez mais calmo, "é apenas porque tenho muita coisa para fazer. Viajo hoje à tarde, você entende."
Apesar de observar o rosto de Hermione com mais atenção do que seria necessário, dado o fato de que deveria ter apenas os sentimentos mais remotos em relação a ela, Harry não viu qualquer mudança na expressão da jovem.
"Oh?", perguntou ela, delicadamente. "O senhor vai viajar?"
"Sim", disse Harry. "Para Londres. Temo que ficarei fora por um bom tempo."
"Lamento muito saber disso", disse Hermione, não parecendo lamentar nem um pouco. "Espero que seus negócios lá não sejam desagradáveis.”
O que, em nome de Deus havia na cabeça daquela moça? Harry não conseguia entender. A noite anterior tinha sido uma das mais incríveis da vida dele. Sem dúvida, a moça deveria sentir o mesmo. Ele sabia que era um amante hábil. E, no entanto, quando sugeriu casar-se, a moça tinha recuado, horrorizada. Era muito irônico ser recusado na única vez em que pedira alguém em casamento. Bem, não iria cometer o mesmo erro duas vezes. Iria embora para não correr o risco de ficar tentado a cair na cama dela de novo.
Harry iria desempenhar o papel do amante despreocupado tão bem quanto ela.
"Oh, estou indo a Londres a negócios", disse. Ficou cansado de tentar manter a voz despreocupada, em uma imitação consciente do tom dela. "Acredito que você sabe por que estou indo. Já que se recusa a ouvir a voz da razão e fazer o que é sensato, casando-se comigo, acho melhor me retirar de Potter, com receio de que o acontecido na noite passada se repita."
Teve a satisfação de ver a boca de Hermione se abrir um pouco de espanto. Ela a fechou quase imediatamente, e disse, com admirável altivez: "Achei que já tinha explicado ao senhor, Lord Harry, que não acredito na instituição do casamento e, mesmo que acreditasse, sem dúvida não me casaria com um homem que se sentisse na obrigação de se casar comigo…"
"Obrigação?", repetiu Harry.
"Sim, obrigação. É assim que o senhor vê a situação, tenho certeza. Só me pediu em casamento porque se sente responsável por manchar a minha honra. Ora, garanto-lhe que a minha honra não está nem um pouco manchada. Eu me diverti muito ontem à noite e suspeito que o senhor também. Não entendo por que isso tem de resultar no nosso casamento ou o senhor ir embora de Potter."
"Você não entende…" Harry jogou a cabeça para trás e riu melancolicamente. "Como assim? Você acha que posso ficar aqui depois do que aconteceu entre nós?"
"Por que não?" Hermione deu de ombros. "A viscondessa é sua amante há anos e o senhor não se sente obrigado a se casar com ela nem a fugir para Londres depois de fazer amor com ela."
Abruptamente, Harry parou de rir. Deu um passo à frente e agarrou um dos braços dela. "Menina ignorante!", disse, olhando-a com fúria. "Estou tentando fazer o que é honrado. Por que você não toma juízo? Já pensou que pode estar esperando um bebê?"
Hermione deu de ombros. "Não direi que o senhor é o pai, se é isso que o preocupa."
"Meu Deus!", exclamou Harry, afastando-se dela. A moça não era normal! Deveria estar em êxtase com essa conquista e, em vez disso ficava ali, calma como uma gata, desobrigando-o de qualquer responsabilidade. Em qualquer outra circunstância, com qualquer outra mulher, ele não caberia em si de alegria. A moça o estava autorizando a fazer amor com ela quando bem entendesse, incondicionalmente, sem preço. Mas não era aquilo que ele queria. Ela não podia ver isso?
"O fato, Lord Harry", disse Hermione, imperturbável, "é que o senhor está com medo."
Harry levantou a cabeça para olhá-la. "Como disse?"
"O senhor está com medo", repetiu ela. "É por isso que está fugindo."
"Você está certa quando diz que estou com medo", disse ele. "Nunca na vida encontrei uma mulher como você. Uma mulher que não sei o que vai fazer em seguida."
"Não é de mim que o senhor está com medo. É de si mesmo."
"Ah, entendo." Harry concordou com a cabeça, sarcástico. "Sim, estou fugindo de mim mesmo."
"Precisamente. O senhor está com medo de vir a gostar de mim e, para o Grande Destruidor de Corações, isso é uma carga e tanto para carregar."
"E foi por isso que a pedi em casamento?" Harry tinha ficado furioso. "Porque tenho medo de vir a gostar de você?"
"Não. O senhor me pediu em casamento porque acho que tinha de fazer isso. Está fugindo porque tem medo de vir a gostar de mim."
Com um altivo movimento de cabeça, Hermione deu meia-volta e começou a caminhar para a porta a passos largos, mas Harry foi mais rápido que ela. Pegou-a pelo braço um pouco acima do cotovelo e a forçou a olhá-lo, maravilhado, como sempre acontecia, com o fato de que um corpo tão leve pudesse ter tanta força de caráter.
Ela o olhou com raiva, os lábios entreabertos, prontos para lhe dar mais uma descompostura, mas Harry pressionou um dedo longo e duro contra a boca de Hermione e disse: "Quero que entenda uma coisa. Vou volta e se, então, descobrir que está grávida, caso-me com você e não há nada que possa fazer para me deter."
"Sem dúvida alguma há", disse Hermione, os lábios macios, porém insistentes, contra o dedo dele. "É só dizer 'não' ao vigário."
Ele apertou mais o dedo, sentindo a curva macia do queixo dela, consciente de que ainda havia raiva nos olhos da moça. "Estou falando sério, Hermione."
"Ainda não vejo por que o senhor tem de ir embora."
"Vou lhe dizer por quê. Você é uma jovem não casada e sem qualquer parentesco comigo, a não ser por afinidade. Eu sou um homem não casado e não tenho nenhuma parente do sexo feminino para agir como sua acompanhante. É totalmente inapropriado que nós dois permaneçamos juntos debaixo do mesmo teto, especialmente levando-se em consideração o que aconteceu a noite passada."
"Mas…" Hermione levantou a mão e, com força surpreendente, afastou a mão de Harry. "Ninguém sabe de ontem à noite a não ser você e eu. Ninguém vai pensar nada a respeito disso."
"Eu sei", disse Harry com firmeza. "E sempre existe a possibilidade de que alguém descubra. A sua camareira quase descobriu. E se, por um lado, a minha reputação é tal que não há muito mais que eu possa fazer para prejudicá-la ainda mais, a sua, por enquanto está imaculada…"
"Pouco me importa a minha reputação", disse Hermione com desprezo.
"Você deveria se importar. Sei que tudo em que você pensa ultimamente é no bem-estar de Jeremy, mas, mais cedo ou mais tarde, vai ter que pensar em si mesma. Você pode querer se casar algum dia, Hermione…"
Ela bufou, de forma indelicada.
"Apesar das suas idéias absurdas sobre o assunto", prosseguiu ele com cuidado, "você é jovem e atraente e não há motivo por que…"
"Eu lhe digo o porquê", interrompeu Hermione, furiosa. "Eu vi o que o casamento fez com a minha irmã. Ela mudou. Ela voltou do continente dura, odiosa e vil…"
"Não foi o casamento que fez isso com a sua irmã, Hermione", disse Harry, cansado. "Foi o meu irmão."
Hermione balançou a cabeça com decisão. "Ela ficou presa em uma armadilha como milhões de mulheres no mundo estão presas em casamentos sem amor dos quais não podem escapar, porque as mulheres não têm cidadania plena e não podem se divorciar, mesmo quando são vítimas de abusos ou abandonadas…"
"Outra vez não." Harry virou os olhos para cima. "Hermione, prometo-lhe que não seria assim entre você e eu…"
"Como poderia não ser? Você só me pediu em casamento por que se sente culpado. Que base é essa para um relacionamento?"
"Não foi apenas por culpa", disse Harry, hesitante. "É óbvio que sou atraído por você"
"Atraído por mim?" Foi a vez de Hermione virar os olhos para cima. "Você parece pensar que, por ser jovem, bonita e mulher, não tenho cérebro na cabeça. Sei o que estou dizendo." Os olhos verdes, brilhando de indignação, enfrentaram o olhar dele com firmeza. "Se me casar e isso é um enorme 'se', seria por uma e apenas uma razão: amor. Não aceito menos que isso."
Como estava bem claro, pelo calor do seu olhar que amor era a última coisa que ela sentia por ele, Harry disse, tenso: "Bem, nesse caso, não temos mais nada a dizer um ao outro."
"O que você vai fazer?", Hermione o interpelou, batendo um pezinho no chão. "Ficar em Londres enquanto eu for viva?"
"Não", disse Harry. Pensou que talvez fosse prudente terminar aquela conversa antes que se tornasse ainda mais pessoal e se virou em direção à porta. "Apenas até você se casar."
Ele ouviu Hermione bater o pé de novo. "E com quem eu supostamente me casara? Quem?"
Realmente, com quem? Harry pensou isso, mas limitou-se a dizer, em voz alta: "Até logo, Hermione." E foi embora sem olhar para trás, porque não estava nem um pouco certo de que, se o fizesse, manteria a determinação de ir embora.
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capítulo novo! espero que gostem!
obrigada aos comentários de mione03 e may33.
comentem =]
bjos
Jeh Halle
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