Capítulo Dezenove




Where Roses Grow Wild
Capítulo Dezenove


Duas horas mais tarde, Hermione tinha dado banho e comida para Jeremy e o observado
dormir, todo choroso. Só deixou o menino quando se sentiu segura de que ele não voltaria a acordar e daí foi para seu quarto, exausta, apesar de serem apenas sete horas da noite. Tudo o que desejava era tomar banho, jantar e ir para a cama.
Mas, ao entrar no quarto, encontrou Lucy toda ocupada estendendo na cama um vestido de baile branco. A criada levantou os olhos ao ouvir os passos de Hermione, com uma expressão de alívio. “Oh, senhorita! Pensei que não chegaria nunca! Soube o que aconteceu com Sua Graça. É uma lástima!”
“Sim”, disse Hermione. Lucy respirou fundo ao ver o sangue e a sujeira no vestido de Hermione. Tirou o traje maculado do corpo de Hermione, embrulhando-a em um ridículo roupão enfeitado de plumas e a fez sentar-se na poltrona rosa que ficava em frente da lareira. Hermione olhou fixamente para as chamas, sem ver nada, enquanto Lucy desmanchava o seu penteado e lhe dava mais uma escovada completa.
“Lord Harry já passou por aqui duas vezes, senhorita”, informou a moça, com despreocupação. “Quer lhe falar. Disse-me para avisar o valete dele logo que a senhorita chegasse. A senhorita quer que eu lhe diga que vai vê-lo?”
“Não”, disse Hermione concisamente.
“Bem, senhorita, imagino que esteja brava com ele agora e não posso dizer que não a compreendo.” Lucy escovava o cabelo de Hermione com ímpeto fora do comum. “Parece que toda vez que ele traz gente de Londres há algum problema. Eu mal dormi ontem à noite, com todo o bater de portas e não sei o que mais.”
Hermione estivou o pescoço, olhando para trás. “Do que você esta falando, Lucy? Que portas batendo?”
“Bem, a senhorita sabe.” Lucy enrubesceu, o que a tornava mais encantadora. “Parece que ninguém passou a noite no quarto que lhe foi designado. Foi só as velas dos lustres se apagarem e todos estavam correndo para o quarto de alguma outra pessoa. A Sra. Praehurst não gosta nem um pouco disso, mas quem é ela para dizer como os hóspedes deveriam se comportar? Sukie disse que a mãe dela trabalhou aqui quando o duque era vivo e que era ainda pior. Homens e mulheres correndo a noite toda, vestidos apenas com as roupas de baixo, como se a criadagem fosse cega…”
Hermione balançou a cabeça. Nunca tinha se considerado uma puritana, mas aquele adultério despreocupado a chocava muito. Não tinha a menor idéia de que aquelas praticas existiam, a não ser nos romances sensacionalistas que às vezes folheava quando o pai não estava prestando atenção. Hermione não queria julgar os amigos de Harry - Deus sabia que não era de atirar pedra em ninguém, mas a idéia de, digamos, Lady Seldon na cama do conde de Derby a fazia se sentir um pouco enjoada.
“Desculpe, senhorita”, Lucy interrompeu sua reflexão. “Mas não temos muito tempo para ficar fofocando. Os convidados para o jantar chegam às oito. A senhorita precisa tomar um banho muito rápido…” Lucy olhou-se com atenção e curiosidade. “Senhorita? A senhorita quer um banho, não quer?”
“Quero sim. Mas não vou descer hoje.” Hermione levantou os seus pés calçados com chinelos e os descansou sobre o banquinho em frente da poltrona. “Gostaria de jantar aqui e depois ir para a cama.”
“Oh, Srta. Hermione!” O rosto de Lucy era a imagem da consternação. “Mas a senhorita tem que descer hoje… mais de cinqüenta pessoas vêm para o baile!”
“Não posso fazer nada quanto a isso Lucy”, disse Hermione calmamente. “Não fui eu quem os convidou. Não são meus convidados.”
“Oh, mas, senhorita!” Lucy virou a cabeça e olhou para o vestido sobre a cama. “Separei o seu vestido mais bonito, aquele com a saia cheia de lantejoulas. Vai ser um enorme pena se a senhorita não o usar. Vou pôr aquela tiara de diamantes no seu cabelo também…”
Hermione não pode deixar de rir com a decepção da jovem, “Lucy, eu não vou. Sinto muito. Haverá outra ocasião para usar a tiara, tenho certeza. Agora, por favor, você pode providenciar alguma coisa para eu jantar? Apenas um pouco de sopa e pão, e talvez um pouco de queijo. Não estou em condições de enfrentar nada com caldo de carne neste momento…”
Uma batida forte na porta a interrompeu. Hermione olhou para lá com suspeita. Lucy baixou a escova de cabelo e foi até a porta, abrindo-a apenas o suficiente para olhar para fora.
“Sim?”, perguntou ela, e Hermione viu os ombros da moça se erguerem ao perceber com quem estava falando. “Sim, my lord?”
A voz de Harry era macia e persuasiva. “Posso falar com a Srta. Granger? Sei que ela está ai dentro…”
A cabeça de Lucy começava a balançar em sinal de não antes de emitir a primeira palavra. “Não, senhor. A Srta. Hermione está indisposta…”
“Então vou ficar esperando aqui até ela me receber.”
“Por favor, my lord. A Srta. Hermione não está se sentindo bem…”
“Eu não imagino que ela esteja”, interrompeu ele. “Mesmo assim ainda quero falar com ela.”
Suspirando Hermione se levantou da poltrona, fechou melhor o roupão e amarrou a faixa de cetim ao redor da cintura fina. Jogando o cabelo longo e solto para trás, foi até a porta, pôs a mão na maçaneta e a puxou, abrindo a porta totalmente. Ao lado de Lucy, que era mais alta, Hermione olhou para Harry, que estava vestido para a noite, mas parecia tão agitado quanto estivera no Grande Saguão algumas horas antes.
“Hermione” disse ele apressadamente. “Quero falar com você.”
Lucy respirou fundo, prestes a repetir a ladainha de que ela estava indisposta, mas Hermione a deteve, pondo gentilmente uma mão no ombro da jovem e dizendo: “Lucy, por que você não corre lá para baixo e providencia o jantar para mim?”.
Lucy parecia relutar em deixá-la sozinha com Lord Harry, que estava claramente alterado, mas o olhar de Hermione a fez tomar o seu rumo. Harry ficou parado, todo desajeitado, na entrada, olhando para todos os lados, menos para Hermione. Ela disse, calmamente: “Bem, entre e diga o que quer”.
Harry entrou no quarto, Hermione fechou a porta atrás de si e voltou para a sua confortável poltrona em frente ao fogo. Pela primeira vez, sentia-se calma na presença de Lord Harry. Perguntou-se o que aquilo significava. Será que não gostava dele tanto quanto temera? Esperava sinceramente que não. Apaixonar-se por Harry Potter seria o pior erro que poderia cometer.
A poltrona na qual se sentou formava par com outra colocada na frente dela e Hermione fez um gesto na direção do assento, mas Harry balançou a cabeça, os cachos um pouco desalinhados e muito pretos sobre um dos olhos. Ele afastou a mecha caprichosa do rosto e começou a andar de um lado para o outro, da porta até as janelas e de lá para a porta, dando vários passos largos em cada direção.
“Não tenho intenção de tomar muito do seu tempo, Hermione”começou ele, os olhos sobre o tapete enquanto caminhava.
“Srta. Granger”, Hermione o corrigiu. “Se o senhor não se importa.”
Sem olhá-la, ele descartou a questão do tratamento com um gesto. Andou na direção das janelas e parou ao lado delas, levantou uma cortina cor de malva e olhou para a noite escura de inverno. “Quero pedir desculpas pelo que aconteceu hoje com Jeremy”, disse Harry, dirigindo-se ao vidro da janela. “Assumo toda a responsabilidade.”
“Não é só culpa sua.” Hermione não conseguiu disfarçar o cansaço da voz. “Eu deveria ter dado mais atenção a ele.”
Mais uma vez, Harry fez um gesto rejeitando o argumento. “Bobagem. A culpa é toda minha. Eu não tinha a menor idéia de que ele era tão sensível. Não sei muito sobre meninos de dez anos…”
“Ou sobre qualquer outra pessoa, para dizer a verdade”, Hermione murmurou, zangada.
“Como?” Finalmente, ele a olhava, os olhos brilhantes à luz da lareira. “O que a senhorita disse?”
Hermione estendeu as mãos para o calor do fogo e retribuiu o olhar dele desafiadoramente. “Eu disse que o senhor também não sabe muito sobre qualquer outra pessoa.”
“O que isso quer dizer?” O tom dele era mordaz.
“Quer dizer”, afirmou Hermione, jogando altivamente o longo cabelo para trás, “que acho que o senhor é um mau juiz de caráter.”
“Ora, acha mesmo?” Harry parecia mais divertido que aborrecido. “E mais uma vez a senhorita está se referindo à viscondessa?”
“Não apenas à viscondessa”, disse Hermione. Ela se levantou da poltrona e o encarou com o queixo bem empinado. “O senhor tem alguma idéia de quão sem escrúpulos são os seus, digamos, amigos? São as pessoas mais mal-educadas que já tive o desprazer de conhecer. Estou chocada, completamente chocada, com as coisas que estão acontecendo aqui em Potter este fim de semana e não me considero uma pessoa que fica chocada com facilidade.”
“É mesmo?” A boca de Harry se torceu num sorriso sarcástico. “A senhorita sem dúvida passou a maior parte do tempo do nosso convívio em estado de indignação…”
“Por que nunca esperei vir para o Solar Potter e ser apalpada como uma criada qualquer!” Hermione gritou essas palavras, cheia de raiva. De repente, perdeu todo o controle de si, e com os punhos fechados ao lado do corpo, despejou tudo em cima de Harry Potter, com toda a força dos seus pulmões.
“Desde a minha chegada aqui, as únicas pessoas que me trataram com algo parecido com cortesia foram os empregados!”, declarou Hermione. “O senhor parece pensar que eu não sou nada a não ser um tipo de diversão, que está aqui apenas para o seu gozo carnal!”
Harry piscou devagar. Tinha parado de andar de um lado para o outro e estava imóvel, olhando-a com uma expressão da mais completa incredulidade. Hermione continuou, sem baixar a voz: “Bem, para a sua informação, Harry Potter, eu não gosto disso! Acho que o senhor se esquece de que fui criada em uma paróquia e que não levo na brincadeira coisas como adultério. Não posso acreditar que o senhor permita que esse tipo de coisa aconteça debaixo do seu teto, sobretudo agora, quando aqui vive uma criança impressionável e que até hoje adorava o chão sobre o qual o senhor pisava.”
Hermione respirou fundo e continuou a repreendê-lo, sem lhe dar chance de interrompê-la: “Quando vim para Potter, pensei que me relacionaria com pessoas que saberiam se comportar melhor do que ignorar uma pessoa que mal conhecem ou jogar pedaços de fruta no vestido de uma senhora ou contar historias indecentes na presença de mulheres jovens ou…”
Harry levantou uma das mãos, a expressão serena. “Basta”, disse ele, com voz baixa. “A senhorita já deixou claro o que pensa.”
Mas Hermione não ia deixar que ele se livrasse com tanta facilidade assim.
“O senhor parece não compreender que o comportamento dos seus hóspedes reflete sobre o senhor, e não de forma muito lisonjeira, eu poderia acrescentar. Lucy, a Lucy que trabalhar aqui comigo, estava acabando de me contar que não dormiu a noite toda devido ao movimento de pessoas mudando de quartos e batendo as portas, tudo isso acontecendo debaixo do seu nariz…”
“Hermione …”
“Não vê que, com exceção dos Herbert, essas pessoas o estão usando? Elas comentam quanto custa cada prato que o senhor lhes serve, não falam de outra coisa que não seja a qualidade da porcelana Potter, da roupa de cama Potter e dos cavalos Potter. Nem gostam de você, Harry. Gostam do fato de que você permite que elas abusem da hospitalidade. A Sra. Praehurst me disse que alguém até arrombou a adega de champanhe ontem à noite e roubou três garrafas, e que um dos filhos do conde de Derby foi apanhado tentando abusar da lavadeira…”
“Basta!” Harry teve de gritar para ser ouvido. Hermione imediatamente fechou a boca e ficou em pé, com os braços caídos ao lado do corpo e os punhos cerrados, respirando com dificuldade. Ela ergueu o rosto e olhou-o desafiadoramente, os olhos verdes brilhantes de raiva.
“E então?”, ela o inquiriu, brava, quando ele se limitou a ficar ali de pé, olhando-a com uma expressão estranha. “Não tem nada a dizer em sua defesa?”
Harry, em vez de gritar com ela, como a moça esperava, estava rindo, com uma expressão no bonito rosto que só poderia ser chamada de melancólica ou saudosa. Essa não era bem a reação esperada por Hermione e ela esfregou um pé descalço contra o outro nervosamente. Teria preferido um acesso de raiva àquele comportamento misterioso.
“Você sabe”, disse Harry com voz baixa, “que eu não sou repreendido de forma tão categórica há vinte anos? E, na ultima vez, aconteceu exatamente aqui, neste quarto?” Ele riu. “Só que, devo admitir, minha mãe nunca teve um peignoir tão atraente como o que você está usando.”
Hermione baixou os olhos para si mesma. Santo Deus! Ela tinha se esquecido completamente que estava usando apenas um peignoir, aquele com o ridículo enfeite de plumas que Lucy havia escolhido para ela! O que, em nome de Deus, ela estava fazendo, recebendo um cavalheiro no seu quarto vestida com roupa de dormir? Se a Sra. Praehurst descobrisse, ficaria completamente chocada!
“Peço desculpas”, disse Harry, interrompendo a autocensura da moça, “por qualquer tratamento inadequado que você possa ter recebido aqui em Potter, Hermione.” A expressão dos olhos dele, que estavam na sombra, era inescrutável, mas Hermione suspeitava, pela intensidade da sua voz, que ele estava sendo sincero. “Sei que você foi insultada, tanto por mim como pelo menos por alguns dos meus hóspedes, mas quero que saiba que isso não acontecerá novamente.”
Hermione levantou uma sobrancelha com ceticismo, mas não disse nada. Estava surpresa diante da completa capitulação de Harry e também um pouco desconfiada. Ele não tinha negado nenhuma das suas acusações - inclusive a dirigida diretamente a ele, de que, para ele, ela não era mais do que uma diversão. Seria isso de fato o que ele pensava dela?
“E então?” Harry saiu das sombras e Hermione viu que os traços verdes tinham se contorcidos, assumindo uma expressão de total contrição. “Estou perdoado?” Ele se parecia tanto com Jeremy quando pedia perdão de Hermione por algum delito, que ela riu.
“Honestamente”, disse ela balançando a cabeça. “Vocês, homens de Potter. Não sei o que fazer com qualquer um de vocês.”
“Isso significa que vai jantar comigo?” Harry deu mais um passo rápido na direção dela. Hermione não diria que a expressão dele era de ansiedade, mas havia alguma coisa que antes não estava lá. De qualquer forma, poderia ser apenas que ele estivesse impaciente pelo jantar…
Hermione concordou de má vontade em ir ao jantar e ao baile. “Mas”, disse ela, levantando um dedo em sinal de advertência, “você mantenha aqueles seus amigos longe de mim.”
Harry pôs uma das mãos sobre o coração e falou com seriedade zombeteira. “Juro-lhe que não vou permitir que ninguém ofenda a sua honra esta noite, my lady.”
“Inclusive o senhor”, disse Hermione, acompanhando-o até a porta.
“Mas é claro.” Parando na soleira da porta, Harry pegou uma das mãos dela e lhe deu um forte beijo. Antes de soltar os dedos de Hermione, ele a olhou e disse, em voz baixa: “Obrigado”.
Hermione sentiu o calor da mão dele subir pelo seu braço. Os olhos dela se abaixaram sobre a intensidade do olhar de Harry e, de repente, percebeu que tinha perdido o controle da situação. Murmurou alguma futilidade, mal sabendo o que tinha dito, e então ele soltou sua mão e foi embora.
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Atualizada! Espero que gostem do capítulo. Demorei mais para postar por causa da escola.
Obrigada pelos comentários de Talita Lima, Anne Potter e Mione03 .
Como eu não estou tendo tempo para ver os comentários a toda a hora (Passei praticamente o dia inteiro no computador e só olhei o F&B agora. A escola está me matando) , não sei dizer se a may33 comentou nesse ou no capitulo 18. Mas obrigada pelo comentário =]
Beijos, Jeh

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