Capítulo Dezoito




Where Roses Grow Wild
Capítulo Dezoito


Hermione acordou sentindo-se aliviada e de início não se lembrou do motivo. Então recordou-se que aquele era o dia da caça à raposa do Solar Potter e que Harry e seus amigos - inclusive a viscondessa - estariam fora o dia todo. Isso daria a Hermione à oportunidade de fazer exatamente o que ela gostava, passar o dia com Lady Herbert e suas filhas, nenhuma das quais era muito esportiva, com a possível exceção da mais jovem. Aos cinco anos de idade, porém, Maggie era considerada jovem demais para sair caçando. Hermione procurou Lady Herbert e elas marcaram com entusiasmo um programa agradável - uma ida à aldeia para fazer compras, uma visita de caridade à escola para moças e, depois, almoço.
Depois do almoço, decidiram dar um passeio pelos jardins do Solar Potter, apesar de estes estarem cobertos de neve: não havia nada vivo nos canteiros e as árvores estavam todas desfolhadas. Entretanto, protegidas por mitenes e capas, as mais novas das meninas Herbert corriam pelo labirinto de cerca viva, rindo até ficar com o rosto tão vermelho como o do pai na noite anterior. Lady Herbert e as filhas mais velhas se comportavam com um pouco mais de decoro.
Enquanto caminhavam depressa pela vereda recomendada pelo jardineiro - “Belos pingentes de gelo nesta época do ano” -, Anne Herbert perguntou como Hermione estava em sua nova casa. Hermione respondeu-lhe com honestidade: “Acho que gostaria mais se não tivesse que a dividir com Harry Potter”.
Lady Herbert não conseguiu segurar uma risada diante dessa afirmação audaciosa. “O que está querendo dizer com isso, Srta. Granger? Sempre achei Lord Harry absolutamente encantador…”
“Oh, sim, ele é encantador”, concordou Hermione, chutando um pedaço de gelo que tinha caído de um cano de esgoto. “Tão encantador quanto uma serpente.”
Essa informação fez as três mulheres da família Herbert ficarem de orelha em pé. “Ele pôs as manguinhas de fora com você?”, perguntou Anne, entusiasmada.
“Anne!” A mãe ficou chocada, mas a moça continuou olhando Hermione, esperando a resposta.
“Bem”, disse Hermione, mantendo as mãos abrigadas dentro do regalo de pele. “Digamos que ele tem uma atitude muito curiosa em relação às mulheres.”
“Não a todas as mulheres, Srta. Granger”, disse Lady Herbert. “Só com as mulheres bonitas, como a senhorita.”
“Sem dúvida”, disse Anne. “Ele nunca se comportou nem um pouco inapropriadamente comigo.”
Sua irmã, Elizabeth, pôs a colher na conversa: “Ora, Anne, você não é tão sem graça assim.”
“Na verdade, sou. Se não, por que Lord Harry não tentou se aproximar de mim? Acredito que ele tentou alguma coisa com todas as mulheres solteiras atraentes do condado…”
“Meninas!”, disse Lady Herbert com severidade. “Parem de fofocar. Vocês vão dar a Srta. Granger uma má impressão de seu concunhado.” Olhando para Hermione, Lady Herbert disse, de forma gentil e cuidadosa: “Ouvi dizer que Lord Harry é um tanto ‘arteiro’. Mas é difícil culpá-lo. Ele é bonito e muito rico e tem, como já mencionamos, um certo encanto. Eu não diria que ele já abordou toda mulher atraente do condado, mas uma coisa eu digo, Srta. Granger: ele já encontrou muitas mulheres que gostariam de se casar com ele e, apesar de Sir Arthur e eu há muito termos esperança de que se assente, nunca o vi se interessar seriamente por qualquer mulher”.
“Ele é bem sério em relação à viscondessa há já algum tempo”, disse Anne.
“Anne!”
“Ora, a Srta. Granger não é cega, mamãe. Tenho certeza de que ela já notou.”
Hermione sorriu tristemente. “Já notei sim.”
“Mas devo dizer”, continuou Anne, “que o vi olhando para a senhorita durante todo o jantar de ontem…”
“Anne!”
“Ora, mamãe, por favor. Somos todas adultas aqui. Por que não podemos falar sobre isso? E me perguntei o que isso poderia significar. Se fosse dar um palpite…”
“Por favor, Anne, pare com isso”, advertiu Lady Herbert.
“… eu diria que ele se apaixonou pela senhorita, Srta. Granger.”
Hermione balançou a cabeça, contente pelo fato de que o rubor de seu rosto seria atribuído ao frio intenso. “Não, Srta. Herbert. Se Lord Harry parece interessado em mim é apenas porque, ao contrário daquelas mulheres de quem a senhora falava, Lady Herbert, não me deixei seduzir. Duvido que tenha tido muitas assim - rejeições, quero dizer.”
Lady Herbert fez que sim com a cabeça. “Sim, tenho certeza de que uma rejeição seria novidade para Lord Harry. A senhorita é bem perspicaz ao notar isso. Muitas mulheres ficariam tão lisonjeadas com as atenções dele que…” Interrompeu-se, ao notar o olhar fascinado de Elizabeth, de dezessete anos. “Quero dizer, ahn…”
“Não pare!”, protestou Elizabeth. “Ora, me diga, mamãe. Tenho idade suficiente para…”
“Você não tem não”, disse Anne, que em seguida mudou o assunto sensatamente. “Quantas pessoas são esperadas para o baile de hoje, Srta. Granger?”
“Oh, o baile.” Hermione quase tinha esquecido. “Não sei. Acredito que a Sra. Praehurst disse alguma coisa sobre cinqüenta…”
“Cinqüenta!” Os grandes olhos azuis de Elizabeth se iluminaram. “Que ótimo!”
Hermione sorriu com o entusiasmo da jovem. Como seria maravilhoso ser Elizabeth Herbert, pensou Hermione com inveja. Ter uma mãe tão bondosa e sensata e tantas irmãs felizes e de bom temperamento. É claro que havia a desvantagem de ter Sir Arthur Herbert como pai, mas isso era compensado pela tranqüilidade domestica que reinava na propriedade dos Herbert. O que Hermione não daria por um pouco daquele tipo de estabilidade familiar! Nunca tivera isso na vida, a que perdera a mãe ao nascer. O pai tinha aplacado a tristeza de ficar sem a sua amada esposa jogando-se completamente no trabalho e sobrara pouco tempo para as filhas.
“Precisamos voltar”, disse Lady Herbert, olhando para o céu, que estava escurecendo. “Eles logo estarão trocando de roupa.”
Hermione não precisou perguntar quem eram “eles”. Com relutância, tomou o caminho de volta a casa, onde a Sra. Praehurst foi encontrá-la com alguns pequenos problemas domésticos. Lady Herbert e as filhas se retiraram para se vestir para o baile e Hermione tinha resolvido quase todas as dificuldades da Sra. Praehurst quando Evers anunciou, com indignação: “Sua Graça, o duque de Potter”.
Jeremy, o rosto e as roupas sujo de lama e de algo que parecia sangue, entrou ruidosamente no Grande Saguão, gritando o nome de Hermione.
“Santo Deus!”, exclamou Hermione enquanto o menino jogava os braços ao redor das pernas dela e caia de joelhos, soluçando. “Jeremy, o que houve? O que aconteceu?”
Sentando-se no primeiro degrau da escadaria dupla, Hermione abraçou o menino, que estava histérico, sem prestar atenção ao sangue e sujeira que manchavam o seu vestido de lã escura.
“Jeremy, o que foi? Você esta ferido?” Ela tentou inutilmente levantar o queixo do menino para olhá-lo no rosto, mas Jeremy se agarrou ainda mais a ela, o corpo todo sacudido pelos soluços.
Hermione continuou agarrada a ele, balançando-o nos braços e murmurando com suavidade frases incoerentes sobre seu cabelo úmido e sujo. Nunca tinha visto Jeremy tão perturbado e a força de seu desespero a deixava apavorada. Ao ouvir o som familiar das botas de Harry sobre as pedras do pavimento, Hermione levantou os olhos, o rosto branco de preocupação.
Harry não havia entrado sozinho no Grande Saguão. Todos os participantes da caça estavam voltando, sujos de lama, mas nenhum parecia particularmente deprimido. Na verdade, a grande maioria, inclusive a viscondessa, ria como se estivesse bêbada. Hermione, acariciando o cabelo de Jeremy, começou a sentir uma centelha de fúria profunda e perigosa acordar dentro de si. Harry se aproximou constrangido. Hermione levantou os olhos para ele e inquiriu em uma voz mortalmente calma: “O que aconteceu com Jeremy?”
Harry olhava para Jeremy, que tinha a cabeça apoiada no ombro de Hermione. Pela primeira vez desde que o conhecera, Hermione viu Harry sem saber o que dizer. Draco Malfoy tinha ficado atrás de Harry e bastou um olhar para ele para Hermione saber que ele estava tão constrangido quanto o seu anfitrião.
Hermione os encarou. “Um de vocês me diga o que aconteceu com Jeremy. Não fiquem aí parados, me olhando de boca aberta como tontos.”
Foi Draco quem falou primeiro: “Bem, Srta. Granger, sabe, não acho que Lord Harry estivesse ciente de que Sua Graça nunca tinha estado em uma caça à raposa…”
Hermione disparou um olhar cortante a Harry. “Ora, não? E quando você acha que Jeremy participou da sua primeira caçada? No dia em que foi coroado rei de Sião? Pelo amor de Deus, ele é um menino de dez anos que cresceu em uma paróquia! É evidente que nunca tinha participado de uma caçada até hoje.”
“Eu não sabia”, Harry respondeu atravessado. Seu rosto tinha perdido a expressão constrangida e ele parecia na defensiva. “Juro que pensei que ele sabia…”
“Sabia o quê?”, interpelou-o Hermione. Nenhum dos homens disse nada e Hermione falou rispidamente: “Alguém poderia fazer o favor de me dizer o que aconteceu com Jeremy?”.
Draco começou a falar, mas Harry o interrompeu. “Não”, disse ele ao amigo. “A culpa é minha. Aceito toda a responsabilidade.” Voltou-se para Hermione e cerrou os dentes. “Jeremy, ao que parece, não sabia que, quando os cachorros pegam a raposa, eles, bem… eles a comem.”
Hermione manteve a cabeça voltada para cima, olhando-o e mordendo o lábio para não rir. Na verdade, não era caso para riso. Por um lado, era ridículo que Jeremy supusesse que, em uma caçada, a caça simplesmente seria solta.
Por outro, o menino aforava os animais e devia estar horrorizado em ver a raposa que tinha perseguido ser devorada pelos cães. Então apertou o abraço, sentindo-se culpada. Lembrou-se de ter se sentado ao lado da cama de Jeremy na noite anterior, perguntando-se exatamente aquilo. E não havia dito nada porque tinha suposto que o menino sabia. Mas como ele poderia saber? Jeremy, que até algumas semanas antes passava o tempo intimidando as crianças da vizinhança ou brincando de pirata com Hermione, não podia ter a menor idéia. Todo o seu desejo de rir desapareceu e Hermione baixou a cabeça, pousando a testa contra a de Jeremy. “Oh, Jeremy”, suspirou ela. “Sinto tanto!”
Os soluços de Jeremy se tornaram palavras. “Eles a mataram” gaguejou ele. “Os cachorros mataram a raposa e tio Harry ficou lá, sem fazer nada!”
Hermione não levantou os olhos. Ela murmurou para Jeremy: “Mas, meu querido, é isso que os cachorros fazem. Você agora sabe.”
“Mas o tio Harry não impediu! E era um amor de raposa marrom, com o rabo pintado. Parecia com o Pickles!” Hermione viu pelo rabo dos olhos que Harry tinha se acomodado no degrau ao lado deles, e estava sentado tão perto de Hermione que ela sentia o calor do seu quadril contra o dela. Ela percebia os odores de lã úmida, cavalo e, muito sutilmente, uísque.
“Jeremy, meu caro”, começou ele. “Desculpe por toda aquela confusão. Eu não sabia que você se sentia assim em relação às raposas…”
Jeremy levantou a cabeça do colo de Hermione e olhou para o tio, com tanta raiva nos olhos como Hermione nunca o tinha visto. “Você pôs o sangue dela em mim”, ele acusou estridentemente. “Eu lhe disse para não fazer isso e você fez assim mesmo!” Soluçando de novo, Jeremy mais uma vez enterrou o rosto entre os seios de Hermione.
Dessa vez, ela levantou os olhos para Harry com uma expressão severa. “Você o batizou com sangue?”, ela o interpelou, perplexa.
“Era a primeira caçada dele”, insistiu Harry. “Sempre batizamos os meninos com sangue na sua primeira caçada.”
“Desculpe-me, mas pensei tê-lo ouvido dizer a um minuto que não pensou que fosse a primeira caçada dele.”
Harry não conseguiu pensar em uma resposta que fizesse sentido e, consciente disso, abaixou os olhos para o menino que chorava nos braços de Hermione. Ela sentiu tanta raiva que mal podia respirar, mas a fúria era contra si mesmo. Se não tivesse passado todo o tempo pensando no tio, em vez de cuidar do sobrinho, como era seu dever, nada disso teria acontecido. Desgostosa com Harry, seus hóspedes, mas sobretudo consigo mesma, Hermione levantou os olhos, viu um lacaio que estava por perto e o chamou.
“Você pode, por favor, me ajudar?”, pediu ela, indicando com a cabeça o menino que tinha no colo. “Acho que preciso colocá-lo na cama, mas não consigo levantá-lo.”
Harry imediatamente estendeu os braços e tentou pegar o menino nos braços dela, mas Hermione lhe deu um olhar capaz de fazer murchar uma planta e disse com a sua voz mais arrogante: “Não. Você não. Você já fez o suficiente”.
“Sou tio dele”, disse Harry, de forma tão arrogante quanto ela.
“É mesmo? Pena não ter se lembrado disso antes.” Ao sentir Jeremy ser levantado do seu colo, Hermione levantou os olhos e sorriu educadamente para o lacaio, que pôs com destreza a cabeça do menino que chorava no ombro.
Ficando de pé sem aceitar a mão estendida de Harry para ajudá-la, Hermione procurou a governanta, que estava bem perto, apertando as mãos, toda preocupada. “Sra. Praehurst, a senhora pode providenciar que levem um pouco de água quente e um prato de jantar para os aposentos de Jeremy?”
“Naturalmente, senhorita”, disse a Sra. Praehurt, fazendo uma mesura, o rosto comprimido de preocupação. “Lamento muito, senhorita.”
“Eu também.” Sem nem mais uma palavra, Hermione começou a subir a escada, sem olhar para ninguém, a não ser para o lacaio, que a seguia com diligência.

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Sei que demorei mais do que eu tinha dito, mas três palavras: recuperação de química. Não, ainda não aconteceu, mas eu fiquei e minha mãe quer me matar. Daí eu também estava deprimida, porque ano passado eu era muito boa em química. Não sei o que aconteceu.
Obrigada a May33 e Mione03. COMENTEM!
Beijos, Jeh

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