Capítulo Dezesseis




Where Roses Grow Wild
Capítulo Dezesseis


No ponto em que Hermione tinha mias medo de falhar foi justamente aquele em que teve sem dúvida sucesso. Com muito pouco esforço, conseguiu conquistar quase todas as convidadas de Harry. Foi surpreendentemente fácil, descobriu Hermione, agradar aquelas enfastiadas damas da sociedade. Algumas delas, naturalmente, já conhecia: Lady Hebert, esposa de Sir Arthur, e suas cinco filhas conheciam Hermione desde a noite em que ela e Jeremy passaram na propriedade deles, a caminho de Ralings. De Maggie Hebert, de cinco anos, à irmã dela de vinte e um, Anne, todas ficaram tentadas de vê-la novamente.
Foi a recepção calorosa dada pela família Hebert a Hermione que fez várias das matronas com Títulos de nobreza lhe darem o benefício da dúvida. "Se Virginia Hebert gosta dela", Hermione ouviu a esposa do conde de Derby cochichar para a marquesa de Lynne, "então deve ser pelo menos um tanto respeitável"
Para Hermione, cuja experiência como anfitriã se limitava aos chás da sociedade missionária na residência paroquial e a um ocasional bazar da igreja, a perspectiva de receber uma dúzia de damas da sociedade com seus filhos era de intimidar. E não adiantava recorrer à viscondessa de Ashbury em busca de ajuda.
Ao informar tão despreocupadamente a Lady Ashbury que ela não precisava mais se dar ao trabalho de administrar os assuntos domésticos dos Potter, Hermione sabia que tinha feito uma inimiga.
Mas descobriu que, agindo naturalmente - como fazia com os paroquianos de seu pai-, conseguia cativar mesmo a mais engomada matrona. A personalidade expansiva e a beleza admirável de Hermione lhe davam uma vantagem em praticamente qualquer situação e o seu entusiasmo juvenil era contagioso.
Até o fim do dia, tinha feito quase todas as convidadas dar boas risadas com as suas histórias de Applesby, organizara um animado jogo de loo* e conseguira convencer quase todas as senhoras presentes de que a escola para moças de Potter precisava desesperadamente de doações, a ponto de elas todas concordarem em visitar a instituição na manhã seguinte.
Nem todos, porém, se deixam cativar com tanta facilidade. Apesar de Hermione fazer um grande esforço para tratar a viscondessa com civilidade, incluindo-a nas conversas e perguntando sua opinião em assuntos banais de vez em quando, Arabella não fez a menor tentativa de esconder o seu desprezo e desdém por Hermione, virando os olhos para o alto diante das brincadeiras da jovem e ignorando-lhe a presença.
A moça nunca fora ignorada antes e, apesar de não parecer que as senhoras presentes tivessem ficado surpresas com o fato de a viscondessa de Ashbury deixar claro que não gostava da tia do novo duque, a própria Hermione ficou horrorizada com a antipatia daquela mulher madura.
Quando os cavalheiros finalmente voltaram da sua expedição de caça, as senhoras se dispersaram para os seus diversos quartos, a fim de se banhar e vestir para o jantar. Hermione fez uma rápida visita aos aposentos de Jeremy, onde não ficou muito surpresa que ele tinha encontrado uma companheira à altura em Maggie Hebert. A menina de cinco anos, com suas marias-chiquinhas e modos autoritários, havia transformado o forte de Jeremy em um castelo e o governava, assim como as oito crianças que se encontravam na sala de brincar, com graça e majestade dignas de uma rainha. Jeremy tinha sido relegado ao enfadonho papel de rei e a toda hora se queixava da infeliz falta de piratas nas brincadeiras da menina. Ao ver que pelo menos uma vez na vida, Jeremy não estava se metendo em encrenca, Hermione retirou-se para o Quarto rosa, onde Lucy tinha mais um luxuoso banho pronto à sua espera
O jantar foi formal, com um cardápio de dez pratos para dezoito adultos, e representava apenas uma pequena parte do esquema geral. Hermione ainda estava meio vestida quando a Sra. Praehurst entrou alvoroçada no quarto, preocupada com a distribuição dos lugares à mesa.
“Lady Seldon acaba de me pegar na galeria e dizer que em nenhuma circunstância quer ficar ao lado de Sir Thomas Payton, já que ele recentemente entrou para uma sociedade que promove os benefícios do ópio para a saúde e Lady Seldon não pode tolerar consumidores de ópio.” A governanta estava a beira das lágrimas, empurrando os óculos mais firmemente sobre o nariz. “Não quero interromper a sua toalete, Srta. Granger, mas estou quase perdendo o juízo. Não posso pôr Lady Seldon ao lado de nenhum dos filhos do duque de Derby, já que eles têm o mau hábito de jogar pequenos pedaços de fruta nos grandes decotes das senhoras…”
Hermione deu um sorriso radiante para a Sra. Praehurst. “Ora, é bem simples, não é? Ponha Lady Seldon ao lado do Sr. Malfoy e dê a parceira do Sr. Malfoy para Sir Thomas.”
A Sra. Praehurst respirou com tanta força que suas bochechas enrugadas se expandiram como as de um corneteiro. “Mas o Sr. Malfoy não tem título de nobreza e Lady Seldon dá muita importância a essas coisas…”
“Poderíamos tentar sentá-la ao lado do filho do marquês de Lynne?”
A Sra. Praehurst suspirou. “Suponho que teremos de fazer isso. Mas ele é tão jovem que não posso imaginar o que vão ter para dizer um ao outro.”
Hermione deu de ombros. “Mande pôr um adorno de mesa entre eles. Assim, Lady Seldon não terá que falar com ele nem um pouco.”
“Perfeito! Obrigada, Srta. Granger.”
Hermione , ainda sorrindo, voltou-se para o seu próprio reflexo no espelho do quarto de vestir. Lucy estava construindo uma estrutura complicada no alto da cabeça de Hermione e ela olhou com desconfiança para os cachos crespos encaracolados. “Você sabe o que está fazendo, não é, Lucy?”
“Sei sim, senhorita. Praticamos isso muitas vezes na escola. Esse penteado se chama pequena coroa frisada”
Vendo a Sra. Praehurst hesitar à porta, Hermione olhou-a - o que era difícil, já que Lucy segurava diversos punhados do seu cabelo, e perguntou: “Sim, Sra. Praehurst? Isso é tudo?”.
“Bem, na verdade, senhorita, há ainda uma outra coisa.” Hermione sorriu. “O que é? A senhora age como se fosse uma grande catástrofe.”
“Bem, a senhorita sabe, Srta. Granger… Não quero parecer impertinente, mas a viscondessa sempre se sentou à direita de Lord Harry…”
Hermione levantou as suas sobrancelhas delicadamente arqueadas. “Sim?”
“Mas eu… como já disse, não quero parecer impertinente, mas Lady Ashbury me parou no corredor e me perguntou sobre a distribuição dos lugares e disse que eu deveria me certificar de que ela se sentasse à direita de Lord Harry…”
Hermione completou o que ela estava querendo dizer: “E a senhora não acha que isso seja apropriado?”.
A Sra. Praehurst, como uma represa que explode, soltou uma torrente de animosidade em relação à viscondessa. “Acho que é muitíssimo inapropriado, senhorita. A viscondessa é casada. O lugar dela é ao lado do marido, não de Lord Harry. Como o marido dela não estará presente e a senhorita é a dona da casa agora, minha opinião é, sem duvida, que o lugar à direita de Lord Harry pertence à senhorita até ele se casar, ou até a Sua Graça, o duque, assumir a cabeceira da mesa - o que acontecer primeiro.”
A Sra. Praehurst parecia um pouco chocada consigo mesma por ter falado tanto e com tanta veemência, mas não se desculpou pela explosão. O que ela fez foi estender as duas mãos, em sinal de impotência. “Realmente, Srta. Granger, estou quase ficando louca.”
“Imagino que sim.” Hermione mexeu as sobrancelhas para o seu próprio reflexo no espelho. “A senhora está dizendo que Sir Thomas Payton é um consumidor de ópio?”
“Sim, mas…”
“Vamos pôr a viscondessa ao lado de Sir Thomas e eu fico com a cadeira à direita do anfitrião.” O brilho dos olhos de Hermione era impossível de disfarçar e a Sra. Praehurst não conseguiu deixar de sorrir.
“Está certo, senhorita”, disse a governanta, retirando-se com um andar sem duvidas mais animado do que antes.
Lucy, que tinha a boca cheia de grampos, disse de forma que mal dava pra entender: “Sei que a viscondessa vai usar cetim preto liso hoje à noite, senhorita.”
“Vai é? E o que é que eu vou usar, Lucy?”
“Seda branca. E os diamantes da falecida duquesa, acho.”
Hermione riu mais um pouco. Ainda estava rindo para si mesma uma hora depois, quando apareceu no alto da escadaria dupla que dava para o Grande Saguão. Não havia ninguém lá embaixo a não ser Evers e uns poucos lacaios, mas, no momento em que o pé dela, calçado com um sapato de veludo, tocou o primeiro degrau, eles pararam de falar entre si e olharam para cima, para ela, os rostos revelando claramente uma grande admiração.
O vestido de Hermione, do mais deslumbrante branco, tinha um decote muito ousado. Com um deslumbrante broche de diamante preso entre os seios e brincos de diamantes que combinavam balançando nas orelhas, ela não tinha nem um pouco a aparência da deselegante filha de vigário que Harry tinha encontrado no primeiro dia. Os lacaios ficaram olhando-a, boquiabertos, totalmente esquecidos do seu dever, que era escoltar as senhoras para a sala de estar, onde os convidados deveriam se reunir antes de o jantar ser servido. Hermione sorriu para eles - a essa altura, tinha conseguido aprender o nome de quase todos os integrantes da criadagem de Potter - e continuou a descer, parando apenas ao ouvir uma porta se abrir. Lord Harry de Potter, ele mesmo resplandecente em suas roupas de noite - calças, colete e paletó pretos, camisa e gravatas brancas -, entrou no saguão para se queixar a Evers da falta de xerez na garrafa. Ele se deteve imediatamente ao notar Hermione na escada.
Hermione já não tinha vontade de rir. Essa era a primeira vez que via Harry Potter de perto desde o desentendimento na noite anterior. Não tinha a menor idéia de como ele a cumprimentaria, se com sarcasmo, delicadeza ou mesmo se a cumprimentaria. É verdade que lhe enviara as jóias, mas aquilo tinha sido um ato de autopreservação. Ele não poderia deixar que os criados continuassem comentado que a pobre Srta. Granger não tinha um único brinco quando todos sabiam que no cofre do solar havia uma fortuna em jóias. De repente, a vitória de Hermione em relação ás damas da sociedade já não parecia tão importante. Quisesse ou não admitir, em vez dos corações de um grupo de milhares com título de nobreza, desejava ganhar o coração do filho caçula de um duque.
Mantendo o queixo empinado, Hermione terminou a descida da grande escadaria, feliz por não ter tropeçado na bainha da volumosa saia. Deslizou pelo chão encerado até chegar ao lado de Harry, fazendo-lhe uma mesura muito rápida antes de voltar sua atenção para Evers.
“Há algum problema com o xerez?”, inquiriu ela. Elvers, confuso talvez pela primeira vez na vida, gaguejou: “Ahn…sim, senhorita. Temo que seja preciso reabastecer a garrafa. Vou providenciar isso imediatamente”. Ele saiu a um passo espantosamente ligeiro para um homem tão velho, os lacaios logo atrás.
Harry, enquanto isso, fitava Hermione com um brilho inescrutável nos olhos verdes. Ela o olhou rapidamente por sobre os ombros nus e inquiriu, ousadamente: “De repente fiquei coberta de verrugas, my lord? O senhor não tira os olhos de mim”.
“Peço perdão.” O sorriso de Harry era absolutamente encantador - se era um sorriso de cavalheiro já era outra história. Havia mais do que um leve toque de desejo em seu olhar. “Eu simplesmente estou admirando a donzela mais bonita que já agraciou este velho saguão.”
Hermione abaixou os olhos, modestamente. “Tenho certeza de que o senhor diz isso para todas as suas cunhadas.” Uma olhadela por baixo dos cílios lhe mostrou que ele estava rindo da brincadeira.
“Ah”, sorriu Harry. “Vejo que uma tarde passada na companhia de alguma das maiores damas do reino não fez nada pra moderar essa sua língua afiada.”
Hermione foi rápida na réplica. “Se o senhor acha que sou assim tão briguenta, por que me enviou as jóias?”
“Para manter os empregados da minha casa felizes. Eu não concordo, mas parece que eles acham que a sua beleza precisa desses adornos.”
“O senhor mima os criados da mesma forma que mima o seu sobrinho”. Hermione balançou a cabeça de forma a fazer dançar os brincos de diamante nas orelhas, mas o tom da sua voz era apenas o de uma repreensão leve. “Realmente, Lord Harry, o senhor é excessivamente extravagante com os seus presentes. O menino teria ficado feliz com um pônei, mas o senhor lhe dá um puro-sangue. O que o senhor estava pensando?”
“Eu estava pensado que, quando tinha mais ou menos a idade dele, tudo o que eu queria era um cavalo de caça só meu.” Harry conseguiu fazer uma imitação muito boa de um homem que parecia saudoso da sua infância. Mas isso não enganou Hermione. Ela sabia que ele estava tentando agradá-la e o fato de que, para tanto, estava usando Jeremy ostensivamente, a divertia. “Eu nunca ganhei o cavalo. Fico feliz de dar ao menino alguma alegria…”
Hermione os olhos para cima, significamente. “Entendo por que Lady Ashbury acha que o senhor é tão adequado para as charadas. O seu talento dramático é muito pronunciado.”
“Por que a senhorita acha que estou mentindo?” Ele fez um grande gesto abrangente com o seu braço forte. “Pode perguntar para qualquer pessoa aqui - pergunte a Evers - que ela vai lhe dizer que eu passei a infância morrendo de vontade de ter um cavalo como Rei.”
Hermione fez que sim, tolerantemente. “Isso é muito bom. Toda aquela pratica adquirida morrendo de vontade quando criança vai lhe servir agora, quando o senhor morrer de vontade de ter diversas outras coisas que nunca vai conseguir.”
“Madame”, disse Harry com pompa fingida. “A senhorita me emascula.”
“Acho difícil ver como isso é possível, levando-se em conta que a sua falta de masculinidade já está muito bem estabelecida.”
Rápido com um raio, Harry passou um braço como uma serpente ao redor da cintura estreita de Hermione e a puxou para perto de si, com tanta audácia como se fosse um pastor de cabras apaixonado e ela uma moça que estivesse passando com o leite recém-tirado. “Acredito que a senhorita tenha tido muitas provas do contrário na noite passada”, lembrou ele, todo provocante.
Debatendo-se dentro do abraço dele, com o coração disparado pela súbita proximidade de Harry, Hermione virou a cabeça de um lado para o outro, olhando freneticamente para ser se alguém estava observando-o. “Harry!”, sibilou, dando naquele peito duro como um carvalho uma pancada com o punho. “Pare com isso! Não é engraçado” Alguém pode ver!”
“Que vejam!”, declarou Harry, fitando-a com um olhar provocante e zombeteiro. “O que importa? Qualquer homem que nos visse compreenderia completamente as minhas ações. Você, Hermione, tem uma cintura que pede para ser envolvida por um par de mãos calejadas e lábios que pedem para ser beijados com entusiasmo e freqüentemente…”
Estendendo o pescoço para manter os lábios o mais longe possível dos dele, Hermione cerrou os dentes com raiva. Ele realmente achava que ela era alguma criadinha comum que poderia agarrar e beijar toda vez que quisesse? De fato achava que ela deixaria que seus elogios lhe subissem à cabeça, conhecendo, como ela conhecia, sua reputação? Ora, ele não passava de um libertino que estava no jogo apenas pelo prazer de jogar. Ela não estava a fim de ser vítima de nenhum homem…
“Você é um grande tolo”, rebateu Hermione. “Solte-me.”. Ela estava desconfortavelmente ciente de que o tratamento bruto dele tinha mexido com o corpete do seu vestido e temia que o seu decote pudesse ter deslizado um pouco, ficando baixo demais. “Uma coisa é se você me forçar em particular, mas é muito diferente se você me arruína em frente de todos os seus amigos…”
“Ah, naturalmente.” Harry a soltou de forma tão abrupta que ela ficou sem apoio e saiu tropeçando. “Temos que pensar no decoro. É sempre uma questão de decoro com você, não é?”
A voz de Harry foi se apagando quando se virou e viu que Hermione estava em com um problema muito interessante. Ele arregalou os olhos ao perceber que o jeito com que a pegara tinha desarrumado tanto o vestido dela que um dos seios cheios e de ponta rosada tinha sido desalojado da taça de renda do espartilho e até, viu ele, todo encantado, da parte da frente do próprio vestido. Corando e furiosa, Hermione tentava arrumar as coisas, mordendo o seu sensual lábio inferior enquanto isso.
“Srta. Granger!” Harry não conseguiu evitar. A oportunidade era boa demais. “A senhorita precisa de ajuda?”
“Não!” Com as faces queimando, Hermione virou as suas torturantes costas nuas para ele. “O senhor já fez mais do que suficiente, muitíssimo obrigada. Não chegue nem perto de mim.”
“Estou lhe oferecendo os meus serviços como um cavalheiro…”
“Há!” Hermione finalmente conseguiu pôr as coisas sob controle. Puxando o corpete para que os seios ficassem dentro, como tinha acabado de arrumar, ela se virou e o olhou de frente, os olhos flamejando de fúria. “Um cavalheiro, o senhor? Ora, eu já vi porcos com melhores modos!” Ela estendeu um dedo de advertência quando Harry deu um passo em sua direção, os braços esticados em uma súplica. “Não, nem mais um passo. Fique longe de mim. Se der mais um passo, eu grito tão alto que vão me ouvir daqui até Londres.”
Harry cruzou contra o peito os braços que tinha estendido na direção dela.
“Ora, isso sem dúvida dificultara as coisas, não é? Afinal de contas, eu sou o seu acompanhante hoje à noite.”
"Você simplesmente me acompanhe dali" disse Hermione apontando um lugar a pelo menos um metro de onde ela estava. "É só cruzar essa linha e, por Deus, você vai se arrepender."
Harry olhou para o lugar que ela havia determinado. "è um ponto muito arbitrário, não é mesmo? Acho que ainda conseguiria alcançar você de lá, se eu tentasse…"
Hermione bateu um dos pés no chão, mal-humorada. O que aquele homem estava tentando fazer, distrair a sua atenção? Ele a queria na sua cama ou em um asilo de loucos? Sem poder se conter, Hermione deixou escapar: "Se isso é um exemplo de como o senhor tratou os seus amores anteriores, não é de se admirar que tenha terminado com uma mosca morta indiferente e imperturbável como aquela sua viscondessa".
O rosto de Harry assumiu a mesma expressão da noite anterior, depois que ela lhe esbofeteara o rosto. Reconhecendo a fria raiva dele, Hermione bateu em retirada, dirigindo-se aos tropeções para trás, em direção à porta da sala de estar. Desejou poder engolir suas palavras precipitadas e enfiá-las de volta na boca, mas sempre achara difícil pensar antes de falar. Estava acostumada a se meter em encrenca devido às suas observações impensadas. Porém, o pior castigo que já sofrera por seus pecados passados fora ter a boca lavada com sabão. Pelo olhar de Harry, ela teria sorte se conseguisse salvar a própria pele.
Mas Hermione não iria pedir desculpas. Continuou a se afastar de Harry enquanto ele andava para a frente inexoravelmente, a largos passos, os olhos verdes duros como aço. Olhos que não desgrudavam dela e tinham uma intensidade que sugeria que o que ele mais gostaria de fazer era arrancar o resto das roupas dela e mergulhá-la em um poço de água fria e não a deixar sair para respirar até que estivesse completamente inerte…
A porta da sala de estar se abriu com um estalido e Sir Arthur Hebert disse, bem alto: "Ah, minha cara Srta. Granger! Aí está a senhorita! Estamos todos esperando-a"
Hermione juntou a pesada saia na mão e praticamente correu para o corpulento administrador dos Potter. "Oh, Sir Arthur!" exclamou. "Como vai? Desculpe o meu atraso. Evers deve logo estar aqui com o xerez. Como é bom vê-lo. O senhor está totalmente recuperado do nosso horrível acidente?"
Sir Arthur olhou todo sorridente para ela, o rosto corado pelo vinho "Estou muito bem, muito bem. Soube sobre a sua terrível doença. Espero que… Oh, Lord Harry! Sir Arthur voltou o seu sorriso largo na direção do filho do duque "E como o senhor tem passado? Vejo que sofreu um pouco a ação do vento hoje. O seu rosto está quase tão vermelho quanto o meu!"
Olhando para cima e sorrindo para o seu protetor, Hermione passou graciosamente por ele e entrou na segurança do Salão de Recepções Dourado, que estava cheio de homens em roupas formais e mulheres de saias coloridas esticadas sobre as maiores armações que Hermione já tinha visto. Quando pôs os pés no rio tapete oriental vermelho, um nítido suspiro varreu o grupo reunido, mas Hermione não tinha certeza se era de aprovação a ela ou de surpresa pela sua entrada não anunciada. Fosse pelo que fosse, porém, foi recebida com impetuosas exclamações de "Oh, Srta. Granger! Sente-se ao meu lado!" e "Srta. Granger, a senhorita deve se sentar aqui". Não ousava perder tempo à entrada - Lord Harry estava logo atrás dela e Hermione pretendia pôs o máximo de distancia entre os dois.
Isso se revelou quase impossível. Quando Evers anunciou que o jantar estava servido, Harry surgiu ao seu lado como se nunca tivesse saído dali, enfiou a mão dela no seu braço e quase a arrastou para que ela ficasse de pé. Hermione conseguiu continuar sorrindo apesar de, por dentro, lhe ferveram emoções que não tinha nada a ver com a educada expressão que colara ao rosto. Como se tivesse vislumbrando aquele fogo interno pelos olhos ardentes da moça, Harry comentou, ao cruzar com ela o Grande Saguão em direção à sala de jantar: "Levante o queixo, Hermione . Isto vai ter passado em poucos minutos"
"Pare de me chamar assim" Sujeito impertinente!
"Por quê? è o seu nome, não é?" Harry matinha o seu próprio queixo levantado no ar, olhando para a frente, mas os cantos da boca definitivamente estavam curvados para cima. "Acontece que gosto do nome Hermione. Não agüento chamá-la de Srta. Granger. Granger é um nome tão comum. Falta-lhe qualidade. Ao contrário de você…"
"O senhor…" Hermione fechou os olhos por um momento. Pense antes de falar, disse ela a si mesma. Ergueu as pálpebras e encontrou Harry olhando para baixo, fitando-a com curiosidade. Ela mandou a precaução as favas "O senhor poderia me deixar em paz?"
"Você pede o impossível." Os cantos dos lábios dele sem dúvida tinham se contorcido em um sorriso. "Já provei esses seus doces lábios, não se esqueça. Você não pode esperar que eu me satisfaça com um mero beijinho como aquele que trocamos na noite passada…"
"Beijinho!" Hermione riu com amargura "Aquele beijinho quase deixou meus lábios roxos."
"Você deveria ter visto o meu rosto depois que você me golpeou"
"Ah! O senhor acha que aquilo doeu? Se continuar a me maltratar da forma como fez no Grande Saguão agora há pouco, vou lhe fazer algo muito pior do que apenas um tapa no rosto."
Harry levantou as sobrancelhas "Ameaças terríveis de uma minúscula mocinha"
"Posso ser pequena, mas sei brigar. Jeremy e eu ficamos sozinhos por um ano, o senhor sabe…"
"Oh, sim, já ouvi tudo sobre isso" Harry olhou-a, divertido, piscando os olhos cinzentos. "Você me acusou de ser dramático, mas acredito que essa honra lhe pertence inteiramente, Hermione."
"Já lhe disse para parar de me chamar de…"
"Sim, e você também quer que eu pare de 'maltratá-la', nas suas palavras, mas, se não estou enganado, Hermione, houve um momento ou dois na noite passada dos quais você estava gostando…"
"Ora, eu nunca…"
"Sim, sim, mas deixando de lado os protestos virginais, não pode me dizer que não sentiu nada quando a beijei. Você se esquece de que eu também estava ali. Senti o seu coração batendo como o de um pássaro"
"Mas que…"
"E senti a paixão nos seus lábios, Hermione. Você pode dar-se falsos ares virginais o quanto quiser." Ele a conduziu para a cadeira à sua direita na longa mesa de jantar. "Mas nós dois sabemos que existe um fofo inegável entre nós.
Sentando-se, Hermione apanhou o seu guardanapo e o balançou furiosa e ruidosamente. Mal notava as pessoas que andavam ao redor deles, tagarelando alegremente e de vez em quando dando umas olhadas rápidas para o atraente casal que brigava na cabeceira da mesa "Vou lhe dizer o que é inegável", sibilou Hermione , inclinando-se para ele de forma que o seu colo, ao qual ele já tinha dado mais do que uma olhada, se expandiu.
"Sim?" Ele também tinha se sentado e pôs um cotovelo sobre a mesa para ouvir melhor a comunicação a ser feita por ela em voz baixa "E o que é?"
"O seu ego autocentrado, convencido, insensível, cruel e egoísta." Hermione se recostou e bateu os cílios na direção dele. "Isso sim é que é inegável." Daí ela se virou para o homem sentado à sua direita que por acaso era o conde Derby, lhe deu um sorriso radiante. "My lord, o senhor não está comendo nada! Não deixe a sua sopa esfriar por minha causa. Por favor, comece a comer."
A noite se arrastou e Hermione, que sempre pensou ser uma pessoa de mente aberta, começou a perceber algumas coisas curiosas no grupo reunido. Depois de ter passado o dia com todas as mulheres distintas e dignas. Mas damas distintas e dignas flertam tão abertamente com homens que não eram seus maridos? Damas dignas e distintas usam tantas e tão espalhafatosas jóias e tanto blush? Damas distintas e dignas comentam o quanto custa um certo champagne que estava sendo servido e a extravagância de Lord Harry ao oferecer tanto foie gras? E damas distintas e dignas ignoram-se umas às outras para fazer alguma observação mordaz a um cavalheiro?
Hermione não podia dizer que todas as mulheres ali presentes tivessem se revelado tão cruelmente vingativas como a viscondessa. Sem duvida, Lady Hebert e suas filhas eram pessoas delicadas e com predisposição favorável.
Mas a viúva Lady Seldon, com as suas implicações lascivas! E a esposa do duque de Derby, jogando o peito no rosto do Marquês de Lynne, debaixo do nariz do marido! E como poderia se esquecer da viscondessa, que aparentemente aceitou de boa vontade o seu novo lugar à mesa, mas que estava rindo alto de alguma piada de Sir Thomas Payton e fazendo comentários sobre o quanto Harry tinha gastado com o clarete.
E o comportamento questionável não era reservado apenas às mulheres. O conde de Derby, que estava à direita de Hermione, começou a noite olhando de soslaio para o vestido dela e comentado para Harry que ele era um homem de sorte, um homem de muita sorte, por ter uma cunhada tão atraente. Ele então passou a recitar versinhos humorísticos de tão mau gosto que as orelhas de Hermione começaram a arder. À frente dela, o filho mais velho do Marquês de Lynne comia as ervilhas do seu prato com uma faca e a sua parceira de jantar, Anne Herbert, não sabia para que lado voltar o seu olhar horrorizado. A certa altura, os olhos de Hermione se encontraram com os dela e as duas moças trocaram sorrisos solidários.
Hermione supôs que, depois do jantar, as coisas melhorariam, mas estava enganada. Depois que os homens se retiraram para fumar na sala de bilhar, a viscondessa bateu palmas e comandou os lacaios na montagem de um palco para a charada no Grande Saguão. Enquanto algumas mulheres soltavam agudos gritinhos de deleite, Lady Hebert afirmou estar com dor de cabeça e, juntando as suas filhas que estavam no jantar, retirou-se. Hermione percebeu mais tarde que deveria ter entendido a saída de Lady Hebert como um sinal de que ela não iria aprovar os próximos procedimentos, mas, como nunca tinha brincado de charada, queria ver como era.
A volta dos cavalheiros sinalizou o inicio do jogo e os participantes se acomodaram em cadeiras que os lacaios tinham trazido do Grande Saguão para a ocasião. O “palco” era a área entre as curvas da escadaria dupla; a viscondessa e Harry, que fez alguns protestos fracos, foram os primeiros a desempenhar papéis em um quadro vivo. Hermione já sabia que a cena tinha a ver com um harém, de forma que não ficou chocada quando Harry apareceu no palco com o peito nu e uma cimitarra na cintura. E quando a viscondessa surgiu, toda emproada, vinda da sala de jantar em um traje que era tão transparente que mais parecia ser feito de gaze, e começou a executar algum tipo de dança bizarra que lembrava Salomé, Hermione achou que bastava para ela.
Pelo fato de ter perdido para sentar atrás, e como não estava participando do jogo, a saída de Hermione foi fácil. Não poderia subir as escadas e ir para o segundo andar enquanto a apresentação estivesse acontecendo, mas sabia como se esquivar pelas cozinhas até as escadas dos criados. A sua súbita aparição na cozinha causou uma pequena sensação - Evers, a cozinheira e a Sra. Praehurst estavam jantando e os seus subordinados os serviam. Todos ficaram de pé de um pulo quando Hermione entrou na cozinha. Ela lhes pediu que continuassem o que estavam fazendo e disse que só queria subir para ver Jeremy, explicando que não poderia usar a escadaria principal.
A Sra. Praehurst lhe deu uma olhada um pouco significativa demais, segundo lhe pareceu, como se soubesse que ela estava mentindo, mas Hermione continuou apressada, sem parar para maiores explicações. Hermione realmente queria ver Jeremy antes de se recolher e, quando o fez, o menino já estava dormindo, cansado depois de um dia árduo de brincadeiras. Ele teria um dia ainda mais árduo quando acordasse: a sua primeira caça à raposa. Hermione não aprovava muito a participação de crianças da idade de Jeremy em uma caçada, mas, quando ela estava doente, Harry tinha prometido isso ao garoto e Hermione não poderia fazer Harry faltar à palavra dada. Mesmo assim, ela se preocupava com a possibilidade de que Jeremy ficasse perturbado quando os cachorros pegassem a raposa. Afinal de contas, não era como se eles deixassem a criatura fugir depois de fazê-la correr até quase a morte.
Lucy estava à espera de Hermione no Quarto Rosa e pareceu surpresa ao ver sua ama voltar tão cedo. Mas não disse nada, a não ser perguntar se Hermione tinha gostado do jantar. Esta, mentindo, disse que tinha gostado muito. Depois de providenciar para que sua ama se vestisse para dormir, o longo cabelo claro escovado até resplandecer, Lucy se retirou, deixando Hermione olhando pensativamente para o fogo, meditando sobre o seu dia, que não tinha sido muito bem-sucedido
Irritou-se com o fato de Harry tê-la visto mais uma vez de peito nu, uma indignidade de que não desejaria à sua pior inimiga. O peito dele, notou Hermione no breve momento em que ficou durante a charada, era tão musculoso quanto o largo e coberto por um encantador emaranhado pêlos pretos e grossos. Era o tipo de peito sobre o qual uma moça poderia deitar a cabeça. O tipo de peito que aqueceria uma moça em uma noite de inverno de novembro. O tipo de peito que…
Chocada com os seus pensamentos, Hermione se virou na cama e se recusou resolutamente a pensar mais em Harry. Pensou então no quanto adoraria convidar todos os seus amigos odiosos a se retirar. Imaginou-se nas enormes portas duplas que davam entrada a Potter, apontado imperiosamente para a neve lá fora e dando um bom pontapé no traseiro… do conde de Derby quando ele saía.

Jogo de cartas com três a oito jogadores, muito popular na Inglaterra entre os séculos XVII e XIX

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Será que vou poder voltar as atualizações diárias? Se eu receber comentários todos os dias, eu atualizo todos os dias. Obrigada a May33
Bjos, Jeh

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