Capítulo Quinze
Where Roses Grow Wild
Capítulo Quinze
Por mais que tentasse, Harry não conseguia deixar de cantarolar uma melodia. Como não era nenhum cantor e como ele e o resto dos seus convidados do sexo masculino estavam marchando tenazmente pela mata da sua propriedade em busca de caça contra a qual atirar, aquele não era um comportamento particularmente apropriado. Parecia que deixava Draco Malfoy mais irritado do que os outros, fato que não incomodava Harry nem um pouco, já que o próprio Draco às vezes era um dos mais irritantes seres humanos.
"Maldição!", praguejou Malfoy ao perder mais um tiro. Um bando de faisões alçou vôo ao estampido da detonação de sua arma e, pelo número de ecos, parecia que os outros hóspedes de Harry espalhados pela mata e campinas da propriedade Potter, também estavam dando tiros inúteis contra as aves. M virou-se para o seu anfitrião. "Eu teria atingido um deles se não fosse por esse seu maldito cantarolar."
"Não sei do que você está falando." Harry continuou a cantarolar, a sua própria arma pousada sobre o ombro, onde tinha ficado a tarde toda. Ele não tinha disparado nem um único tiro. Não conseguia atirar, não sabia bem por quê.
"Você sabe muito bem do que estou falando, seu patife insuportável. Isso aí. Esse cantarolar incessante."
"Isso?" Harry cantarolou mais um pouco. "É isso que o está incomodando?"
"Você sabe muito bem que é isso que está me incomodando" Draco jogou o cabelo loiro que lhe caía no rosto para atrás e levantou os olhos para Harry, que era mais alto do que ele e tinha melhor pontaria. "Deixe-me dizer-lhe uma coisa, Potter. Nós dois já passamos por muita coisa juntos."
Harry começou a marchar pela neve na direção de um desfiladeiro que parecia promissor e Malfoy o seguiu, ainda tagarelando.
"Sobrevivemos àquele maldito internato juntos, sofremos com os mesmo tutores, estudamos com os mesmos professores em Oxford, até fomos para a cama com as mesmas mulheres de vez em quando. Eu já o vi rabugento, já o vi bêbado e já o vi com ataques de fúria indescritíveis, mas nunca, em toda a minha vida, eu o vi assim."
Harry continuou a cantarolar. Os invernos de Yorkshire talvez fossem frios demais para alguns, mas não para ele. Tinha o casaco forrado de lã e o pesado manto, botas grossas, o melhor cão de caça e um frasco de conhaque no bolso do colete. Sentia-se quente e satisfeito como um bebê. Nada do que Malfoy pudesse dizer atrapalharia o seu bom humor. Ele estava feliz.
"Ora", continuou Malfoy, seguindo arquejando o seu anfitrião. "Eu me perguntei o que estaria fazendo-o se comportar de forma tão peculiar. Quais as mudanças que ocorreram em sua vida para torná-lo tão insuportavelmente satisfeito consigo mesmo? E tropecei em uma resposta. É a moça, não é?"
"Moça?" Harry sorriu para si mesmo enquanto descia um declive particularmente íngreme e cheio de gelo. "Que moça?"
"Você sabe de que moça estou falando. Só há uma moça no nosso convívio, que eu saiba. Não sou cego, sabe? Eu vi como você olhou para ela ontem à noite e…"
"Ontem à noite? O que você está pensando, meu amigo?"
"Você sabe muito bem sobre o que estou falando. Estou lhe dizendo neste exato momento, Potter, que é melhor você se afastar dela."
"Ora, é mesmo? E por que, posso saber?"
"Bem, para começo de conversa, porque isso não pode dar em nada. Você vai ter que se casar com ela ou se esquecer dela, por que a moça não vai cair na sua cama como uma amante da zona portuária."
"E o que faz você pensar isso?"
"Ela é filha de um vigário, não é? Além disso, você a viu ontem à noite. Como ela enfrentou Arabella" Harry ficou surpreso com a expressão de genuína admiração na voz de Draco. "Uma coisa assim exige caráter, Harry. Sei o que você sente por Arabella, mas também sei que não vouser o primeiro a lhe dizer que a mulher é veneno em forma de gente quando quer. E o jeito como a moça olhou direto nos olhos dela e lhe disse que não precisava mais se dar ao trabalho de administrar a sua casa…" Draco interrompeu o que ia dizer, deleitando-se com a lembrança. "Meu deus, aquilo foi o máximo. Gostaria de poder voltar no tempo para ver de novo."
Harry continuou escolhendo o caminho a trilhar pelo desfiladeiro abaixo da ravina com um sorriso de quem está se divertindo. "E isso é tudo, Draco?"
"Maldição! Não, isso não é tudo, não. O que quero dizer é… olhe pra ela. Sei que você a estava olhando ontem à noite, mas o que quero dizer é: olhe para ela de verdade. A moça tem beleza, massa cinzenta… com os diabos, ela até me faz rir e é muito raro eu rir com uma mulher e não de uma mulher. Ela é uma raridade, Harrie. Se a irmã se parecia com ela, o seu irmão estava com a idéia certa."
Harry, já no fundo da ravina, virou-se para olhar para o seu companheiro lá em cima, já que Draco só tinha descido dois terços do caminho. Já não estava sorrindo. "Se não o conhecesse bem, Malfoy, eu diria que você está apaixonado."
Draco agarrou um galho sem folhas e deslizou os últimos metros, chegando ao fundo da ravina. Passou as mãos pelas roupas, limpando-se, a respiração saindo em grandes nuvens brancas dos lábios avermelhados pelo frio. "Vá se danar, Potter", disse, ofegante. "Estamos falando de você, não de mim. Arabella me chamou de lado, bem cedo de manhã, e me contou que você adiou a visita que lhe costuma fazer à meia-noite. Ela até conseguiu forçar uma ou duas lágrimas. Tentou me fazer acreditar que você e a moça são, digamos, mais próximos do que cunhados devem ser…"
"Que diabos!" Harry passou a toda por um afloramento rochoso coberto de gelo e olhou malignamente mata acima, na direção do solar. "Maldição! Eu sabia que nunca deveria ter me envolvido com Arabella, para começo de conversa."
Draco apoiou as costas contra uma pedra grande, parecendo mais atormentado do que divertido. "E isso não é tudo. Ela me disse que viu vocês dois de madrugada beijando-se como loucos na galeria."
"Maldição!" Harry se sentia como se fosse explodir de tanta fúria. "Esta mulher é uma verdadeira bruxa!"
"É claro que não acreditei nela." Draco tinha baixado a arma e cruzado os braços. "Quer dizer, mas agora eu acredito." Com grande emoção, ele exclamou: "Realmente Potter, como você pôde? A moça mal está a quinze dias na casa e você já está pronto a arruiná-la? Você não tem nem um pouco de decência? Ela é sua cunhada, pelo amor de Deus!"
"Eu não pude evitar", Harry resmungou, os olhos fixos no arroio congelado que na primavera seria um riacho agradavelmente borbulhante "Você não sabe como são as coisas. Acredite, a moça fica me provocando…"
"Provocando coisa nenhuma! Você espera que eu acredite que o grande Harry Potter encontrou alguém à sua altura naquela moça magrinha e de rosto rosado? Ora, ela não tem nem vinte anos e é tão certinha quanto uma professorinha!"
Harry bufou rudemente. Draco levantou as sobrancelhas "Você está sugerindo que ela não é?"
Harry andou de um lado para o outro do desfiladeiro uma vez e então, voltando-se para o seu companheiro, rosnou: "Não, maldita seja. Infelizmente, ela ainda é mais certinha do que uma professorinha. Ela é uma maldita freira. Pelo menos, é o que tenta ser. Mas, eu lhe digo, Draco, que debaixo daquela fachada de mocinha recatada…" Harry fechou a boca, apertando os lábios. O que ele estava fazendo? Isso era algo que não tinha a menor intenção de revelar a Draco Malfoy.
A curiosidade de Draco, porém, já tinha sido despertada "E como", perguntou ele, com uma indiferença elaborada, "você poderia saber disso?"
Harry rosnou. Nunca fora capaz de guardar um segredo. "Porque Arabella, amaldiçoados sejam os seus olhos de espiã, disse a verdade quando disse que me viu beijando a moça na galeria ontem à noite!"
Draco balançou a cabeça. "Nossa!"
"O que aparentemente Arabella não viu e, portanto, não pôde contar a você, é que depois que eu a beijei, a moça me deu um tapa de direita com tanta força que mal consegui fazer a barba hoje de manhã"
Draco começou a rir tanto que se curvou e pôs as mãos nos joelhos. "Não, Não, me diga que isso não é verdade! Harry Potter ser rejeitado! Nunca pensei que viveria para ver isso."
"Agora você entende o que quero dizer sobre ela me provocar? Juro que um instante a moça está me olhando por debaixo daqueles longos cílios e no instante seguinte, está me esbofeteando. Ou, o que é pior, me dizendo que acha que eu sou um maricas! Eu lhe pergunto, Malfoy, você acha que eu pareço, mesmo que remotamente, um maricas? Pareço?"
Draco ria tanto que não conseguia responder.
"Não entendo que bicho mordeu aquela moça." Harry voltou a andar de um lado para o outro. "Eu lhe fiz todas as gentilezas que você possa imaginar, mandei-lhe flores e livros. Até trouxe para aquele moleque, meu sobrinho, um garanhão de mais de quinhentas libras, pensando em agradá-la, e o que eu consigo com todos esses esforços? Um tapa na cara!"
"Ora, o que você esperava, Harry?" Draco enxugava lágrimas de riso dos olhos. "O que temos aqui é uma moça de beleza e espírito incomuns, uma escocesa e, além disso tudo, uma filha de vigário. Ela não vai cair na cama com você, meu amigo, não sem uma aliança na mão esquerda."
Harry rosnou "Com ela, não. Ela diz que não acredita na instituição do casamento. Diz que é uma forma de escravizar as mulheres pelos séculos…"
"Não acredito!" Draco soltou uma risada alta. "Você deve estar brincando."
"Nunca falei tão sério na minha vida"
"Então é isso aí." Draco balançou a cabeça. "Ela jogou a luva diante de você, e você não tem escolha a não ser aceitar o desafio. Mas, francamente, não acredito que esteja à altura dela."
"E quem está? Você?" Harry fitou-o de uma forma beligerante.
"Acredito ser capaz de lhe roubar um beijo sem levar um tapa na cara"
Harry deu um passo largo e se plantou em frente do seu companheiro, que ria. A mão que ele colocou no ombro de Draco Malfoy era pesada e Harry a pressionou de forma a transmitir melhor para o seu velho amigo o quanto estava falando sério. "Você fique longe dela, Malfoy", disse Harry em um tom cuidadoso e destacando palavra por palavra. "Se eu o pegar perto dela, tomarei as providências para que você sofra um acidente de caça doloroso e inevitável, que o deixará de cama pelo resto desta temporada. Você me entende, meu velho?"
Draco já não ria. De qualquer forma, Harry também não estava mais cantarolando.
"Entendo", disse Draco, zangado. "Você não precisa me pressionar assim. Entendi direitinho." Abruptamente, Harry retirou sua mão. Dando meia-volta, dirigiu=se para o outro lado do desfiladeiro, a mandíbula dura e raivosa. O que estava acontecendo com ele? Draco era o seu melhor amigo, um dos poucos seres humanos que conseguia tolerar por mais de uma hora por vez. E lá estava ele, ameaçando-o…
"Mas quero deixar bem claro, Potter, que sou contra isso tudo." Draco tinha se levantado e ajustava o pesado manto sobre os ombros. "Não quero que aquela moça seja magoada"
Harry, surpreso, voltou o olhar para Malfoy, por cima do ombro. "E por que você supõe que eu vou magoá-la?"
"Pelo amor de Deus, Potter! Não é à toa que você é chamado de O Destruidor de Corações, não é mesmo?"
Harry sorriu sem humor. "É assim que me chamam?"
"É” admitiu Draco e acrescentou, com bastante malevolência: "Quando não o estão chamando de algo ainda pior".
O sorriso de Harry se ampliou "Ótimo!", disse.
Três comentários! Eee. Se continuar assim, é provável que o próximo capítulo venha amanhã. Obrigada aos comentários de Aya Mivak, Talita Lima e Anne Potter.
Bjos, Jeh
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