Capítulo Sete
Where Roses Grow Wild
Capítulo Sete
O Sr. Parks, percebeu Hermione na manhã seguinte, não estava exagerando quando a
informou de que sua cabeça poderia doer por algum tempo. Aquela dor, junto com o fato de ter passado a noite inteira sendo acordada pela ansiosa Lucy a cada duas horas, deixou-a sentindo-se como se realmente tivesse caído do cavalo de Lord Harry e, além disso, a maldita besta tivesse pisado nela várias vezes.
O que o médico não tinha previsto é que as horas passadas por Hermione ao vento e na neve, junto com a pancada sofrida no acidente, para não falar da cavalgada desenfreada através do pântano, resultariam em um resfriado. Era grave a ponto de Lucy tê-la encontrado, quando foi acordá-la para o banho de manhã, incapaz de dizer uma palavra, com a garganta inchada e inflamada, quanto mais levantar da cama.
Uma única olhada para o rosto pálido e febril de Hermione foi suficiente para fazer a camareira de cabelo vermelho sair correndo atrás da Sra. Praehurst. A governanta chegou logo e ficou alarmada ao ver Hermione sentada na cama, o cabelo claro em completa desordem, os olhos brilhando com indignação enquanto tentava, em um sussurro que mal dava para ouvir, explicar que estava bem. Era só um resfriado. Por que todos estavam tão perturbados? Nunca tinham visto uma mulher resfriada antes?
Por mais que tentasse. Hermione não conseguiu convencer a Sra. Praehurst de que não estava gravemente enferma. A governanta pôs uma das mãos na testa da moça, sentiu que ela estava com febre e imediatamente mandou um dos lacaios buscar o Sr. Parks. Hermione enfureceu-se, dizendo que era ridículo mandar buscar o médico quando o que tinha não passava de um simples resfriado, mas, como tinha perdido a voz, ninguém lhe deu atenção. Os desejos de Hermione foram ignorados, já que toda a criadagem do Solar Potter, ou pelo menos era o que parecia, acorria ao quarto com braseiros e cataplasmas de alho e outros remédios caseiros ainda mais aromáticos…
Quando o Sr. Parks chegou, Hermione tinha desistido de qualquer esperança de a deixarem sair da cama. O médico foi tão metódico e eficiente quanto na noite anterior, examinando a ferida na cabeça de Hermione antes de olhar sua garganta. O prognóstico foi rápido e objetivo: inflamação grave da garganta, em particular das amídalas, causada sem dúvida pelo excesso de exposição aos elementos de Yorkshire.
"Amidalite", disse a Sra. Praehurst com ênfase. "Eu deveria ter percebido." E apertava as mãos, mandando diversas criadas correrem para as cozinhas em busca de chá quente e mel.
"Você vai sobreviver", informou o Sr. Parks a Hermione, que fez uma careta de aborrecimento diante das notícias. "Repouso absoluto e todo o chá que ela conseguir tomar durante uma semana. Mantenha-a sempre aquecida, Sra. Praehurst, e deixe-a dormir. O remédio vai ajudar. Volto dentro de alguns dias para verificar o progresso dela."
Hermione queria perguntar ao médico quanto tempo demoraria até recuperar a voz, mas arrancar tantas palavras daquela garganta irritada parecia um esforço grande demais. Desapontada, Hermione se acomodou sobre as pilhas de travesseiros de penas e tentou se concentrar nas coisas positivas, mas estas pareciam, naquele momento, poucas e esparsas. Para Hermione, que passara a maior parte dos últimos dezenove anos levantando-se com o sol e trabalhando sem parar até o escurecer, esse súbito período de descanso forçado era muitíssimo inoportuno. Finalmente estava livre dos grilhões do trabalho doméstico e das exigências da paróquia do pai. Tinha todo o tempo do mundo para ler e escrever cartas e trabalhar pela melhoria das condições dos pobres…
E estava tão fraca que não conseguia nem cruzar o quarto sem ajuda.
Pelo menos, disse para si mesma, Jeremy estava sendo muito bem cuidado, apesar de ela não conseguir evitar de se preocupar com quem estava tomando conta dele durante a sua doença. Com efeito, preocupava-se mais com o bem-estar das pessoas que tomavam conta de Jeremy do que com ele mesmo.
Por quase uma semana, Hermione teve de agüentar a cabeça latejando e a garganta doendo, e passou uma grande parte do tempo dormindo. Era como se, agora que a carga dos cuidados com Jeremy fora tirada dela, o corpo de Hermione estivesse tentando compensar todos os anos de sono perdido. Quando se sentiu bem o suficiente, Hermione mergulhou na pilha de livros que Lord Harry tinha enviado da sua biblioteca e não pôde deixar de rir. Suspeitava que ele escolhera de propósito romances água-com-açúcar, evitando que ela lesse material mais substancial, para aborrecê-la.
Hermione não podia, porém, se queixar de suas enfermeiras. Lucy quase não saía do lado de Hermione. Estava sempre disposta a correr para a cozinha a qualquer hora, do dia ou da noite, para pegar uma "bela xícara" para sua patroa, e procurava fazê-la cair na tentação de comer os confeitos do chef pâtissier. Também a banqueteava com histórias do que acontecia no andar de baixo. A Sra. Praehurst também se revelou uma companhia infatigavelmente animada, com inclinação natural para o bate-papo, informando Hermione de certos fatos interessantes sobre a família Potter ou, mais precisamente, o que tinha sobrado dela.
Parecia, por exemplo, que Lord Harry Potter era um dos solteirões mais cobiçados da Inglaterra e que tinha escapado por pouco do casamento diversas vezes, fugindo para o continente no último minuto e, certa vez, até ferindo o braço do irmão de uma futura noiva em um duelo. Tinha amantes em toda a Europa continental assim como na Inglaterra, e era visto com freqüência em todos os lugares onde os jovens nobres e ricos iam para serem vistos. Hermione ficou satisfeita ao perceber que a avaliação que fizera sobre a devassidão de Harry tinha sido correta e estava ansiosa para amolá-lo com isso logo que pudesse falar.
Quando já estava bem o bastante para se sentar, mas ainda não tinha permissão para sair da cama, Hermione pediu jornais, deixando de lado o material para leitura que Lord Harry julgara adequado para ela. A Sra. Praehurst, apesar de estalar a língua em sinal de desaprovação, apareceu com os braços cheios de jornais roubados com alguma dificuldade da biblioteca de Lord Harry. Hermione lia-os com cuidado, tomando muitas notas e selecionando as organizações de caridade que tinha intenção de fazer Jeremy apoiar. Isso a levou a se perguntar de quanto exatamente era a fortuna de Jeremy, de forma que o pedido seguinte de Hermione foi para ver os livros de contabilidade da casa e da propriedade.
Apesar da evidente ansiedade da Sra. Praehurst sobre essa questão. Hermione não se preocupava com o que Lord Harry diria quando descobrisse o que ela pretendia fazer. Como tinha administrado a contabilidade da paróquia do pai, Hermione se sentia perfeitamente capaz de lidar com a do Solar Potter. Eram as extravagâncias que encontrava nos registros que a chocavam e alarmavam. Se, por um lado, era bem compreensível que uma casa do tamanho do Solar Potter consumisse uma tonelada de carvão por mês durante o inverno, não havia nenhuma necessidade, enquanto havia pessoas morrendo de fome nas ruas, de construir uma fonte de champanhe na mesa de jantar quando Lord Harry recebia alguns amigos de Londres.
Uma fonte de champanhe? Ora, o custo dessa extravagância que duraria uma única noite era mais do que a mãe de Hermione havia deixado para ela por ano! E também havia uma anotação sobre alguma coisa chamada charadas. Um bom dinheiro havia sido gasto com fantasias para isso, mas, quando Hermione perguntou do que se tratava, a Sra. Praehurst explicou que era um jogo de salão de que participavam Lord Harry e seus amigos. Um jogo que custava mais do que o orçamento de um ano do orfanato de Applesby? Hermione mal podia acreditar nos seus olhos.
Ao comparar os custos da última festa dada por Lord Harry em Londres com o custo operacional da escola para moças, de onde viera Lucy e da qual a propriedade Potter era a principal benfeitora, Hermione descobriu que era mais barato operar um internato profissionalizante para quarenta moças por meio ano do que entreter um grupo da alta sociedade no Solar Potter por uma quinzena.
Hermione ficou com tanta raiva que quase quebrou a pena ao meio.
O que, por Deus, Lord Harry tinha na cabeça? Seria ele um janota que só pensava em seu próprio prazer e divertimento? Ela tinha achado que a forma como ele agira durante o acidente da carruagem tinha sido nada menos que heróica, correndo através de toda aquela neve em busca de um cavalo com o qual a conduzira a um lugar seguro. Aquele comportamento não tinha nada de janota. No entanto, tinha gasto mais de cem libras naquele ano só em gravatas! Isso era ridículo, achava Hermione, com grande indignação.
Tentou, porém, ser justa. Lord Harry tinha o direito de gastar sua parte da fortuna Potter como achasse melhor. E não eram as grandes quantias que ele gastava com cavalos que a aborreciam. Nem tinha grandes objeções ao fato de ele gastar tanto com os seus hóspedes. Mas, quando viu a anotação sobre a encomenda de duas dúzias de argolas de guardanapo de ouro com o monograma com as letras H e A para o fim de semana de festas e caçadas para dali a poucos dias, ela se sentiu quase, nas palavras de Jeremy, em combustão espontânea. O custo dessas argolas era igual ao dos vitrais da igreja de Applesby. Só passando em cima do cadáver dela Lord Harry receberia seus hóspedes com argolas de guardanapo com as iniciais dele e de sua amante gravadas.
Enfureceu-se tanto com essa despesa que a Sra. Praehurst ficou preocupada com a saúde da moça, ao ver que Hermione tinha ficado muito pálida, ao mesmo tempo que as maçãs do rosto queimavam como que febris. A roliça governanta saiu correndo, com a intenção de mandar um dos lacaios ir buscar o Sr. Parks imediatamente, quando se chocou com o patrão, que fora para lá com relutância para saber da saúde de Hermione, depois de Draco Malfoy encher-lhe a paciência dizendo que estava ansioso em relação à recuperação da bela Srta. Granger.
"Oh, my lord!", exclamou a Sra. Praehurst, preocupada, torcendo as mãos. "Temo que a Srta. Hermione piorou. A fisionomia dela está estranha, com o rosto febril e os olhos duros como âmbares!"
Harry pareceu alarmado. "A senhora mandou buscar o Sr. Parks?"
"Ia fazer exatamente isso. Ai, meu Deus, temo que tudo seja culpa minha. Ela passou a manhã inteira com aparência extenuada, desde que eu lhe trouxe os livros de contabilidade da casa…"
Harry, que estava prestes a descer correndo as escadas e chamar Evers aos urros - algo que ele invariavelmente fazia, fosse qual fosse à natureza da crise -, ficou petrificado no alto da escada, medindo a sua governanta com um olhar que poderia apagar um incêndio.
"Os livros de contabilidade da casa?" O rosto de Harry anuviou-se de tal forma que a Sra. Praehurst recuou um passo, levando uma mão ao colo. "A senhora disse que lhe trouxe os livros de contabilidade da casa?"
A Sra. Praehurst fez que sim, os óculos tremendo na ponta do nariz. "O que há de mal nisso, my lord? Ela me pediu para vê-los, afinal de contas…"
Harry fez uma careta e voltou a subir a escada, caminhando a passos largos e determinados pelo corredor em direção ao Quarto Rosa. A Sra. Praehurst o seguiu, cambaleando e depois de soltar um pequeno grito, segurando nas mãos a saia de seu vestido preto de lã.
"Oh, my lord!", exclamou ela, toda lamurienta. "O senhor não pode entrar aí, my lord! Não seria nem um pouco decoroso. A jovem senhora está de cama, my lord!"
Harry, porém, já tinha invadido o antigo quarto de sua mãe, notando com desaprovação que o fogo estava alto demais e o quarto, quente como um forno.
Hermione estava sentada no centro da grande cama com dossel, os cabelos castanho-claros soltos sobre os ombros, o nariz enfiado em um livro quase tão grande quanto ela. Espalhados pela cama estavam outros livros enormes e papéis sobre os quais a danada tinha feito anotações. Anotações! Apesar de o resto do aposento ter a aparência de um quarto de doente, com flores frescas por toda parte e uma grande quantidade de frascos, tônicos e cataplasmas, a cama parecia à mesa de trabalho de um jovem empresário muito promissor.
Hermione nem mesmo levantou a cabeça à entrada de Lord Harry e só fez isso quando a Sra. Praehurst, que tinha entrado correndo atrás dele, pigarreou.
"Oh, Srta. Hermione”, a governanta disse, tossindo. "A senhorita tem um visitante."
Hermione levantou os olhos, que, como tinha dito a Sra. Praehurst, estavam muito grandes. Sem registrar a menor surpresa pelo fato de Harry estar em seu quarto, Hermione disse: "Vou cancelar a encomenda de argolas para guardanapos com monogramas".
Harry ficou olhando-a fixamente. "Como disse?"
"O que você faz com a sua vida pessoal é assunto seu, naturalmente", continuou ela. "Mas Jeremy é um menino que adora o chão no qual você pisa. Não vou permitir que ele cresça pensando que está certo ter casos amorosos com mulheres casadas."
Harry ouviu a Sra. Praehurst respirar fundo atrás dele. Ele mesmo não tinha a menor idéia de como reagir àquilo. A moça parecia perfeitamente inofensiva em sua camisola de algodão fechada até o pescoço, com enfeites de renda e o cabelo solto nas costas, como uma escolar. E, no entanto, falava com ele de forma tão calma como se fosse a própria rainha Vitória.
Dividido entre a raiva e a vontade de rir, Harry optou por perguntar, com curiosidade: "Que argolas de guardanapos?".
Hermione olhou-o de cara fechada. Tirando um toco de lápis de detrás da orelha, indicou uma anotação no livro que tinha nas mãos.
"Diz bem aqui que você encomendou duas dúzias de argolas de guardanapos de ouro maciço com as letras H e A entrelaçadas sobre eles. Talvez eu esteja errada, mas supus que o A era de Arabella. Poderia ser A de Draco?"
O olhar dela era firme. "Já ouvi falar de coisas assim, naturalmente, mas devo dizer que não esperava isso do senhor, Lord Harry."
Harry enrubesceu. "Ora, vamos ver…"
A Sra. Praehurst deu uma nova tossidinha. Harry e Hermione olharam para ela e a governanta fez uma mesura constrangida. "Desculpem, my lord e senhorita, mas essas argolas para guardanapos foram encomendadas pela viscondessa." Com um olhar de súplica na direção de Hermione, a mulher explicou: "Lady Arabella Ashbury, quero dizer. Ela às vezes encomenda coisas para a casa Potter e Lord Harry me disse que tudo que ela quisesse era para eu comprar."
Hermione voltou uma página do livro. "A viscondessa não seria, por acaso, quem encomendou as fantasias para as charadas e a fonte de champanhe, seria?"
"Sim, sim! Foi ela quem fez essas duas encomendas!"
Hermione fechou o livro com força. "Lord Harry, gostaria de falar com o senhor em particular. Sra. Praehurst, a senhora poderia nos dar licença por um momento?"
A Sra. Praehurst hesitou. "Ai, meu Deus", disse ela, os olhos cheios de desalento. "Não pareceria nem um pouco certo, my lord, o senhor ficar sozinho com a Srta. Granger no quarto dela…"
“Nessas circunstâncias”, respondeu Harry sem conseguir segurar um sorriso, apesar de estar tentando ficar sério, “acredito quer seria permissível que a senhora nos deixasse a sós por um pouco, Sra. Praehurst. Mas o risco será seu se ficar fora por muito tempo, já que a Srta. Granger, parece que adoraria me trespassar com um ferro quente da lareira.”
“Ai, meu Deus”, disse a Sra. Praehurst. Mas apressou-se a sair do quarto, voltando-se para dar muitas olhadelas nervosas para eles sobre os seus ombros redondos. “Estarei bem aqui, do lado de fora da porta, então.”
A porta mal tinha fechado quando Hermione disse, com a sua voz rouca: “Não tenho a intenção de ofendê-lo, Lord Harry, mas o senhor não pode simplesmente permitir que a viscondessa tenha rédea solta com despesas domésticas. Ela tem gostos muito exorbitantes e o dinheiro que ela gasta em frivolidades seria mais bem empregado de outra forma, como arrumar as casas dês seus arrendatários ou construir um novo telhado para a escola para moças.”
Harry baixou os olhos para aquele rosto em forma de coração e tentou se lembrar de que deveria estar furioso, com uma fúria assassina, diante do atrevimento daquela mocinha. Mas alguma coisa em relação a ser chamado para aquele tapete na frente da lareira para levar uma repreensão, na mesma situação e no mesmo lugar onde tinhas estado muitas vezes na infância, fazia que ele se divertisse. A única coisa que podia fazer era conter-se para não cair na gargalhada.
Tentando sufocar a sua hilaridade, Harry fechou a cara e olhou para a moça, que notou ele, estava absurdamente atraente para uma enferma. Havia cor no alto das maçãs do rosto e, com os cabelos soltos, ela parecia muito com a primeira vez que Harry lhe tinha posto os olhos, naquela tarde em que a tomara pela criada. Era-lhe difícil demais olhá-la com expressão furiosa, quando tudo o que queria era afastar o acolchoado que a cobria e entrar na cama ao seu lado.
“Então esta é a sua opinião sobre esse assunto?”, disse, ríspido, fingindo estar contrariado. Ela fez que sim com um movimento resoluto do pescoço e ele perguntou: “E posso lhe perguntar que direito você tem de remexer nos meus livros?”.
“Não são de forma alguma seus livros”, respondeu Hermione, torcendo o nariz com arrogância. “São os livros de Sir Arthur. E, agora que ele foi investido como o novo duque de Potter, são os livros de Jeremy. E eu sou sua guardiã, portanto tenho todo o direito de examinar o que foi deixado para ele. E isso inclui todas as contas domésticas.” Tossindo, Hermione continuou: “Tenha dó, Lord Harry, fiquei por demais surpresa de ver o quão esbanjador o senhor é. Cem libras por ano em gravatas? O senhor é tão afetado e vaidoso que não pode usá-las mais de uma vez?”
Harry estava ficando vermelho de constrangimento diante daquela repreensão. Vaidoso? Afetado? Ele? Talvez Draco Malfoy, mas não…
“É claro que o senhor tem todo o direito de gastar a sua herança como achar conveniente, my lord.” Hermione deu de ombros enquanto voltava a examinar rapidamente as páginas do livro de contabilidade doméstica. “Mas parece piada tentar fazer Claire Lundgren passar por uma nova égua…”
Harry engasgou de tanta surpresa. “O quê?” “Honestamente, Lord Harry, o senhor acha que ninguém lê os jornais? Eu sei muito bem que Claire Lundgren não é nenhuma égua, mas uma atriz e que esse estábulo que o senhor alugou para ela na rua Cardington é, na realidade, uma casa.”
“Ora, que história é essa?”, disse Harry, quando conseguiu se recuperar. “Isso foi… Isso foi uma despesa necessária!”
“Oh?” Os cantos da boca de Hermione desenharam um sorriso. “Entendo. O senhor se cansou dela e precisou suborná-la, não é? Estou muito envergonhada com o senhor, my lord. Tenho certeza de que ela teria ficado satisfeita com algo em uma área menos cara.”
Harry estava tão surpreso com a audácia da moça que só pôde soltar uma risada sarcástica. “Ora!”, exclamou ele, cruzando os braços. “Agora você está revelando as suas características escocesas.* Não notei nada dessa parcimônia quando se tratava de comprar um novo guarda-roupa para você!”
“Levando-se em consideração”, interrompeu-o Hermione furiosa, “que até então eu nunca tinha tido mais de dois vestidos na vida, acredito que merco as meras duas dúzias que o senhor tão generosamente mandou fazer para mim em Londres. Se o senhor se lembra, essa era uma das condições estipuladas antes de eu concordasse em vir para Potter, ato que começo a lamentar, já que só tive sofrimento…”
“Oh, sem dúvida você parece estar sofrendo muito, enfiada em uma grande cama, rodeada de rosas e sem fazer nada o dia todo a não ser meter o nariz nos assuntos de outras pessoas.”
“Quanto aos escoceses serem pães-duros”, Hermione respondeu brava, jogando para trás as cobertas e levantando-se sobre os joelhos, como se o menosprezo aos seus compatriotas apenas então tivesse sido absorvido, “prefiro fazer parte de um país que sabe como guardar dinheiro do que um que o esbanja em fontes de champanhe!”
Harry se dirigiu a passos largos para a cama, inclinando-se e apoiando as mãos fechadas sobre o livro de contabilidade que ela tinha deixado de lado, de forma que seu rosto ficou a apenas alguns centímetros de distância do de Hermione. “Deveria experimentar um pouco de champanha algum dia”, sugeriu ele, malicioso. “Se quer saber a minha opinião, você precisa disso.”
“O que você quer dizer com essas palavras?”, inquiriu Hermione. Ela estendeu o braço e o cutucou no peito com o dedo indicador. “Eu o venço em uma disputa de quem bebe mais quando você quiser. É só dizer quando e onde.”
Harry baixou os olhos para o dedo que pressionava os botões do peitilho engomado da sua camisa branca. Era um dedo pequeno, de unha curta, porém bem esculpida. Mas não era tanto o dedo que interessava Harry, e sim a mão. O que faria Hermione, perguntou-se, se ele agarrasse aquela mão e a colocasse onde o deixaria mais satisfeito?
Harry balançou a cabeça. O que, em nome de Deus, estava acontecendo com ele? Não podia permitir que essa fraqueza agradável continuasse. Tinha passado uma semana evitando aquele quarto, tentando negar a existência de Srta. Hermione Granger. Mas não havia como negar isso, já que, desde que ela tinha posto os pés em Potter, trazendo consigo aquela peste de menino, a vida de Harry estava de cabeça para baixo. A Sra. Praehurst, que normalmente cuidava do dia-a-dia da casa, estava absorvida demais em cuidar da moça para dar atenção a questões como os cardápios do almoço e do jantar de Harry. Ele e Draco tinham sido obrigados mais de uma vez a jantar no pub da aldeia. Evers estava tão ocupado correndo atrás daquele moleque, tirando-o do corrimão da escada no Grande Saguão, que não podia se dar ao trabalho de providenciar que o armário de bebidas de Harry estivesse sempre bem guarnecido.
Até Daniels, o valete de Harry, tinha se esquecido de ir buscar um dos coletes de Harry no alfaiate da aldeia porque estava ocupado pegando algum tipo de remédio para Hermione no boticário. E, quando Harry o censurou, Daniels nem se deu ao decoro da aparentar que se sentia culpado. Ficou olhando fixamente para Harry e disse, indignado: “A Srta. Granger precisava do remédio, my lord. O senhor não espera que eu fosse buscar o seu colete quando a pequena senhora estava se consumindo devido à amidalite, espera, senhor?”.
E os meninos do estábulo! O que Harry iria fazer em relação aos meninos do estábulo? Todos eles, sem exceção, tinham um olho roxo por obra do novo duque, e todos tinham medo demais de ser punidos para reagir. E se eles se juntassem e pedissem demissão na véspera do início da temporada de caça? Onde iria encontrar mão-de-obra para o estábulo bem treinada tão tarde na temporada?
Mas todas essas preocupações pareciam quase nada diante do maior problema de Harry. Ou seja, o que, em nome de Deus, ele ia fazer em relação ao fato de que, por mais que tentasse, não conseguia tirar da cabeça a lembrança do beijo daquela virgem irritante?
Em uma voz áspera de emoção reprimida, Harry rosnou: “Eu não estava falando sobre uísque, estava falando sobre champanhe e um torneio de bebida não era o que me passava pela cabeça”.
“O que o senhor tinha na cabeça, então?” O queixo de Hermione se empinou, teimosa e desafiadoramente.
“É bem de você fazer uma pergunta dessas”, zombou Harry. “Nunca vi uma mocinha tão afetada. Se não pode imaginar o que um homem e uma mulher podem fazer juntos bebendo uma garrafa de champanhe…”
As espessas franjas de cílios que rodeavam aqueles olhos verdes baixaram subitamente e Hermione olhou para ele desconfiada.
“Estou imaginando coisas ou o senhor está sugerindo que eu posso servir de substituta para a descartada Claire Lundgren?”
Harry riu com maldade. “Tudo o que eu estou sugerindo é que talvez, se pensasse menos em salvar os pobres do mundo e mais em se divertir, você não estaria aqui, vivendo da herança de seu sobrinho, mas em sua própria casa, com um marido e rodeada de moleques para manter a sua cabeça longe de mim e dos meus assuntos.”
Ele viu os olhos cor de mel se arregalarem, surpreso, e percebeu que tinha ido longe demais. Não sabia se deveria esperar lágrimas ou um tapa no rosto, e, como precaução contra as duas possibilidades, tirou a mão que Hermione tinha colocado contra o peito dele e a puxou para perto de si. Colocando o braço firmemente ao redor da cintura estreita da moça, Harry baixou a cabeça a plantou um forte beijo naqueles lábios sedutores.
*Tradicionalmente, os escoceses têm fama de serem pães-duros e teimosos.
Oi!
Bem, como o prometido, um capítulo por dia. =]
Obrigado a Danielle Granger Potter, Lu e Hermione.Potter
Esse capítulo teve dez páginas. A maioria dos capítulos é bem grande, são bem poucos os menores. Espero que gostem!
Bjos
Jeh
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