Capítulo Seis




Where Roses Grow Wild
Capítulo Seis


Harry jogou o seu manto sobre uma das poltronas estofadas da biblioteca e perguntou a
Sir Arthur: “O que aconteceu com Katherine Potter?”
Sir Arthur engasgou-se com o conhaque. Harry sentiu uma pontada de pena do seu administrador. O coitado tinha acabado de passar por um acidente de carruagem e ficara de pé durante duas horas debaixo de uma tempestade de neve com um menino incorrigível. Tudo o que ele queria era tomar uma bebida ao lado da lareira e lá estava o seu patrão fazendo-lhe perguntas em tom inamistoso. Mas, de qualquer jeito, era uma pergunta que precisava ser feita.
“O que você quer dizer, Harry?” Draco, afundado em uma poltrona de couro ao seu lado, envolvia o copo de conhaque com as mãos. “Ela está morta, não está? Faleceu depois que o seu irmão John foi morto naquele duelo.”
“Sim, mas como? Do quê?”
“My Lord, ofegou Sir Arthur, recuperando-se. O seu rosto grande e forte tinha ficado tão vermelho quanto à pesada cortina de veludo. “A mulher do seu pobre e falecido irmão, definhou em Veneza até morrer, pouco depois do falecimento de Lord John.”
“Você pode provar isso?” Harry se atirou sobre um sofá verde, mas não se esticou sobre ele. Ficou sentado, inclinado para frente, com os cotovelos sobre os joelhos, esperando a resposta do administrador.
“Nunca vi a certidão de óbito, não”, disse Sir Arthur. “Mas a Srta. Granger afirmou para mim que o sobrinho foi deixado aos cuidados dela há cerca de nove anos e meio, quando a sua irmã fez uma breve visita de volta à Inglaterra, depois da morte de Lord John e pouco antes da sua própria…”
“Até aí, isso provavelmente é verdade”, bufou Harry. “A Srta. Granger parece ter muito mais instinto maternal do que a sua irmã jamais teve. Deixar o filho com a tia provavelmente foi à única coisa de bom senso que a esposa de John fez na sua curta vida.”
Draco parecia pensativo. “E que sorte a do menino, hein? Gostaria eu de ter sido criado por uma tia como ela. Que olhos! E aquela minúscula cintura!”
Harry encarou o seu hóspede perpétuo. Isso ia ser pior do que temia. “Você mantenha os olhos longe da cintura dela. Aquela moça está aqui sob minha proteção e não posso me dar ao luxo de perdê-la. Ela é tudo o que me separa do pavoroso título. Não ouse ofendê-la, Malfoy.”
“Ela se ofende facilmente, então?”, indagou Draco com um sorriso travesso.
Harry passou a mão no queixo, lembrando-se dos golpes da moça. “Com bastante facilidade”, disse. “Você deve se lembrar Draco, de que a Srta. Granger não é uma de nós. Ela…”
Ele se deteve, sem saber como continuar. O ponto central era que não tinha a menor idéia de como deveria lidar com a Srta. Hermione Granger. Tinha toda experiência do mundo com mulheres - quer dizer, com as casadas. Não sabia nada sobre como deveria se comportar perto de jovens respeitáveis e, apesar de ter fortes suspeitas de que a determinada Srta. Granger não se encaixava nessa categoria, ele não conseguia pensar em outra para classificá-la.
Não obstante, pretendia tratá-la como a filha de vigário que ela era e esperava que Draco fizesse o mesmo.
“Ela é muito jovem”, completou a sentença, percebendo o quanto essa afirmação era inadequada. “E inexperiente. Portanto, fique longe dela.”
Draco levantou uma sobrancelha de forma peculiar. “Foi isso o que você fez em Londres, então? Ficou longe dela?”
“O mais que pude”, respondeu Harry com uma careta. Não tinha gostado da semana que passara em Londres com o sobrinho e a Srta. Granger. Para começo de conversa, a temporada ainda não tinha começado e quase todos os seus amigos ainda estavam no campo. Já tinha visto os espetáculos e Arabella não estava por perto; não teve, portanto, nenhuma escolha a não ser passar as noites no clube Pall Mall, jogando com os poucos homens que estavam na cidade, ou de vez em quando alugar uma charrete e passear pelas alamedas barrentas dos Vauxhall Gardens* até de madrugada, por falta de coisa melhor para fazer.
A questão, achava Harry, era passar o mínimo possível de tempo na presença de Hermione Granger. Não lhe importava muito o que fazia ou aonde ia, desde que estivesse longe dela e dos seus infernais olhos cor de mel.
De início, tentara descartar os beijos trocados na cozinha da casa dela, mas, quanto mais pensava naquilo, mais percebia que Hermione Granger era uma jovem realmente muito perigosa. Não porque ela beijasse de uma forma que nenhuma das amantes de Harry o havia beijado, como se realmente pusesse tudo no ato. Não, Hermione Granger era perigosa porque beijava daquele jeito e não era a esposa ou amante de ninguém.
O que significava que ela era livre demais e podia se apaixonar… Ou, o que era pior, ela era livre e ele podia se apaixonar.
E se havia uma coisa que Harry não tinha a menor intenção de fazer naquela fase da vida era se apaixonar por uma filha de vigário de olhos cor de mel, que se dizia liberal e ajudava no parto de prostitutas. Isso era algo que não podia acontecer. Porque, no final, ele teria que se casar com ela para tê-la e o casamento complicava as coisas. Arabella não era a prova viva disso?
Portanto, para evitar se apaixonar por ela, Harry tinha passado o menor tempo possível na presença da mocinha atrevida. E parecia que estava funcionando. De fato, parabenizou-se por essa quase completamente fora de perigo.
Quase.
“É só ficar longe dela”, Harry rosnou para o seu hóspede. “Pense nela como uma das filhas de Hebert.”
Draco deu uma olhada para o corpulento advogado. “Você não pode estar falando sério.”
Sir Arthur parecia profundamente perplexo. Olhava vagamente para o conhaque, como se dali fossem sair às respostas que procurava. “My lord”, começou ele, devagar. “Temo que o meu cérebro lento não consiga absorver direito a essência desta conversa. Alguma coisa que a Srta. Granger disse lhe deu razão para acreditar que Lady Katherine ainda esteja viva?”
Harry hesitou. “Não. Só que acho esquisito que ela fale da irmã no presente. 'Minha irmã é muito bonita', disse ela. Não 'era'; 'é'.”
Sir Arthur adotou uma postura de algo parecido com indignação. Ele se empertigou na poltrona e tossiu alto. “Lord Harry, devo apresentar a minha objeção a esse comentário. Investiguei completamente essa família. Hermione Granger é a segunda filha de Gavin Granger, o falecido pároco da paróquia de Applesby, perto de Aberdeen. Sua irmã mais velha, Katherine, deixou Sua Graça aos cuidados do pai e dela quando o menino era quase um bebê, pouco depois da morte prematura de Lord John, e voltou para a Europa continental, para morrer, sem um tostão, na Itália.”
Harry cruzou os braços e se recostou no sofá verde. “Nisso eu não acredito”, declarou. “John deveria ter morrido sem um tostão?”
“Perdoe-me, senhor, mas parece que o seu irmão passou os últimos dias bebendo e jogando em cavalos, sem pensar nem um pouco na família. Lord John, o senhor se lembra, foi assassinado tragicamente quando os seus negócios estavam em uma desordem vergonhosa. O que sobrou de pouco dinheiro que deixou para Lady Katherine foi para liquidar as suas dívidas de jogo ou para pagar contas em diversos clubes. O resto foi para seu alfaiate. Lamento se o que vou dizer vai deixar o senhor chocado, my lord, mas é a verdade. O seu irmão nunca sustentou adequadamente a esposa e o filho e a pobre mulher morreu por causa disso.”
Harry balançou a cabeça. Não que ele não acreditasse em Sir Arthur. John sempre fora um bêbado e mulherengo que só pensava em si mesmo, mas Harry nunca pensou que ele fosse tão depravado a ponto de deixar a sua família na miséria. Entretanto, Harry não ficou nem um pouco surpreso ao saber que John tinha feito exatamente isso. Vinte mil libras em dívidas de jogo! Não é de se espantar que alguém tenha finalmente achado conveniente dar um tiro nele.
Inesperadamente, a imagem de Hermione Granger como ele a vira pela última vez surgiu na cabeça de Harry: uma figura frágil e minúscula sobre a enorme cama de quatro colunas, os grandes olhos cor de esmeralda no rosto pálido cercado por uma aura de cabelo macio e escuro. E a gola do vestido aberta apenas o suficiente para que ele tivesse o vislumbre de um seio macio e arredondado, encoberto por renda… Harry descruzou os braços e se inclinou para a frente de novo, pigarreando alto.
“Katherine era muito jovem quando se casou com o meu irmão, não era? Foi isso que tiveram de se casar na Escócia. Quinze anos, acho. Talvez dezesseis. Portanto, ela só teria vinte e cinco ou vinte e seis hoje, não é?” Harry refletiu sobre isso. “Como é uma mulher de vinte e cinco ou vinte seis anos? A Srta. Granger diz que tem vinte, mas parece mais uns quinze para mim.”
Sir Arthur riu, bem-humorado, e bateu coma mão aberta no seu maciço joelho, Ah, Lord Harry! E suponho que o senhor possa me dizer a idade da minha filha mais velha, Anne. Vamos! O senhor dançou com ela no mês passado, na casa dos Ashbury. Quantos anos o senhor acha que ela tem?”
Harry tentou esconder a sua irritação. Já era ruim ter de estar sempre recebendo e conversando sobre negócios com o executor do espólio de seu pai, mas ter de dançar com a sua meia dúzia de filhas era o cúmulo… Tentou lembrar qual delas era Anne. A com dentes de cavalo ou a sardenta? Daí ele se lembrou. A que era razoavelmente bonita.
“Dezessete”, disse Harry, encolhendo os ombros, sabendo que tinha errado.
E tinha mesmo. Sir Arthur deu um tapa no joelho novamente, encantado. “Vinte e um!”, exclamou. “Vinte e um. O senhor errou por quatro anos, senhor. Virgínia adoraria ouvir isso.”
Harry ficou olhando fixamente para as pontas das botas, que mostrava os sinais de um dia de cavalgada. Pensava naquele rosto inacreditavelmente bonito virado para cima e que o olhava com tanto desdém havia apenas alguns momentos. Nunca, jamais, conseguiria conceber um rosto como aquele nas mãos do seu irmão, mãos que Harry tinha visto cometer atrocidades que, mesmo depois daqueles anos todos, faziam-no tremer ao se lembrar.
Harry estava prestes a se levantar quando se ouviu uma batida leve à porta. Vociferou: “Entre!”, e o seu valete entrou calmamente na biblioteca, dando apenas uma olhada nas botas esfoladas do patrão. My lord, Evers informou que o jantar será servido em breve. Tomei a liberdade de preparar-lhe o banho e separar as suas roupas.”
“Sim, sim.” Harry o dispensou com um gesto, distraído. “Vou me trocar daqui a pouco.”
O valete não pareceu nem um pouco incomodado com essa dispensa brusca. Curvou-se e saiu. Com um longo e audível suspiro, Draco se ergueu da poltrona e disse: “Se Daniels está ansioso para você se vestir, Harry, então o meu Knowlton deve estar frenético. Encontro-me com vocês dois, cavalheiros, lá embaixo no jantar.”
Parou na soleira, olhando para Harry. “Devo concluir que não poderemos contar com a companhia da adorável Srta. Granger?”
“Acho muito pouco provável”, respondeu Harry com uma compostura que surpreendeu até a si mesmo. “Vamos ver o que Parks tem a dizer sobre o caso. Ele está com ela agora.”
“Que pena!”, suspirou Draco. “Liberal ou não, ela parece muito agradável.” E saiu, sem tomar muito cuidado ao fechar a porta atrás de si.
“Muito agradável”, repetiu Harry, como se não conseguisse acreditar no que havia ouvido. Foi até o armário das bebidas e se serviu de uma dose generosa. Sentia que ia precisar de muita bebida nos próximos dias…

* Conjunto de jardins públicos de Londres, entre meados do século XVII e meados do século XIX.

___________________
Oi!
Obrigada a quem comentou. Estava quase desistindo de postar.
Meu plano era postar um capítulo por dia. Se vocês comentarem uma vez por dia, tem capítulo novo todo o dia! =]
Bjos,
Jeh

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