Capítulo Quatro




Where Roses Grow Wild
Capítulo Quatro


No segundo em que os lábios de Harry tocaram os seus, Hermione ficou tensa de surpresa.
Suas pálpebras, que estavam abaixadas, abriram-se completamente. Os dedos dele apertaram os seus ombros, como se achasse que ela ia se afastar. Mas fugir nem passou pela cabeça de Hermione, apesar de essa ter sido a sua reação imediata havia cerca de uma hora, quando fora abordada de forma semelhante pelo Sr. Weasley. A boca de Harry sobre a sua mexia-se de uma forma que a fazia sentir coisas que nunca havia experimentado. Instintivamente, os braços de Hermione se levantaram e se enrolaram ao redor do pescoço dele. Em seguida, sentiu as mãos dele deixarem os seus ombros e deslizarem para baixo da trança pesada. Quando a língua de Harry tocou a dela, a explosão de sensações quase a derrubou. Uma onda de calor passou pelas suas coxas e os mamilos ficaram tensos dentro das taças do corpete de renda. Hermione soltou um som suave, não de protesto, mas de prazer.
Harry tinha esperado alguma reação daquela moça franca, mas não a que recebeu. Um tapa no rosto, no mínimo, e palavras duras de censura. Mas, pelo contrário, deu por si abraçando uma mulher tão macia e que se entregava tanto que achou que poderia levantá-la e tê-la sobre a mesa, quantas vezes quisesse, sem que ela se negasse nenhuma vez. Como poderia ter imaginado que, por baixo da fachada pudica de Hermione Granger, havia uma sensualidade tão forte? Os olhos dela estavam meio fechados pelo desejo, os lábios abertos aos beijos selvagens dele? Harry não tinha a menor idéia de como pressentira isso. Só sabia que desejava aquela mulher mais do que nenhuma outra na vida. O coração dele batia irregularmente, o que era prova disso, além de calças, repuxadas por uma ereção…
Não é necessário dizer o que aconteceria em seguida se a porta da cozinha não tivesse sido escancarada de repente, dando passagem a uma rajada de vento gelado. Antes de Harry poder esboçar qualquer reação, foi abordado por uma trouxa de mitenes e cachecóis de lã de 1,20 m que parecia ter sido trazida para dentro pela força do vento.
“O que você está fazendo com Hermione?”, interpelou-o uma voz infantil por debaixo de um cachecol de cores vivas.
Hermione deu um pulo para longe de Harry, como se ele a houvesse chamuscado. Seu rosto estava vermelho de constrangimento e ela levou as duas mãos ao cabelo, ajeitando a desordem que os dedos de Harry tinham feito com a trança.
“Jeremy, você está atrasado”, disse ela com voz insegura, rapidamente indo fechar a porta atrás do menino. “E que modos são esses? Não é assim que se recebe uma visita.”
Harry, completamente desconcertado pela interrupção, teve que se virar para esconder a sua óbvia excitação. Ele ofegava, como se tivesse acabado de participar de uma corrida. Mais do que tudo, queria jogar o duque de Potter de volta na neve, para poder continuar a abraçar a tia do menino.
“Você limpou os sapatos, meu jovem?”, perguntou Hermione com uma calma que Harry invejou.
Firmemente ignorando a tia, Jeremy Potter olhava fixamente para cima, para Harry, e os olhos verdes eram o único traço humano visível por trás de todas as suas roupas.
“O que você estava fazendo com Hermione?”, queria saber o menino.
“Vamos, Jeremy”, disse Hermione enquanto desemaranhava os cachecóis do menino. “Não é assim que você deve falar com o seu tio Harry.”
“Meu tio o quê?”, repetiu o menino sem a mínima cortesia.
“O seu tio Harry.”
A moça arrancou o gorro de lã da cabeça do duque, revelando um cabelo tão escuro e encaracolado como o de Harry. O rosto do menino era rosado e com algumas sardas, não muito diferente do de sua tia. A boca, viu Harry, também lhe era familiar.
“Este é o seu tio Harry. Ele estava só…”
“Cumprimentando a sua tia com um beijo”, completou Harry em boa hora. Ainda não ousava se virar para eles. “Eu não a via há muito tempo.”
Jeremy Potter claramente não era uma criança que se pudesse descrever como fácil de enganar. Ele olhou fixamente para o rosto corado de Hermione e disse com firmeza: “Isso não me pareceu um beijo de cumprimento. Pareceu-me o tipo de beijo que a Sra. MacFearley dá para os homens que lhe pagam um centavo…”
Hermione interrompeu-o apressadamente. “Tire as botas e sente-se. A sua ceia vai esfriar.”
Estudando o menino, Harry passou a mão pelo cabelo e soltou um suspiro cansado. “Pelo amor de Deus”, disse ele em voz baixa. “Se não soubesse que isso é impossível, pensaria estar de novo nos aposentos das crianças, sendo atormentado mais uma vez pelo meu irmão mais velho, John. O menino tem a boca dele, sem dúvida. Nunca vi nada tão cruel.”
Hermione o ouviu e fechou a cara. “Jeremy não”, disse ela. “Travesso, talvez, mas não cruel.”
Jeremy olhou o tio com os olhos duros como aço. “É sua aquela carruagem que está lá fora?”, perguntou, o rosto angélico contrastando fortemente com a suspeita zombeteira da sua voz.
Harry levantou as sobrancelhas escuras. “É. Você gosta…?”
“Melhor que a de Sir Arthur”, resmungou Jeremy. “Nunca vi um homem com rosto mais vermelho que o dele. Parece uma cereja. Cheguei a pensar que ele poderia entrar em combustão espontânea.”
Em resposta às sobrancelhas inquisitorialmente levantadas de Harry, Hermione explicou: “O livro Casa Sombria , de Dickens. Estamos lendo esse livro em voz alta à noite. Diversos personagens têm combustão espontânea. Jeremy, sente-se e pare de falar bobagens. E, se você souber o que é melhor para si mesmo, vai tirar essas botas ou vai ter que esfregar o chão novamente no próximo sábado.”
Harry não tinha a menor idéia de sobre o que Hermione estava falando. Só sabia que ela tinha uma aparência ainda mais atraente do que nunca com as bochechas rosadas e o cabelo em desordem. O vestido de lã marrom que usava talvez fosse um tamanho menor que o dela e estava apertado em seu corpo, o corpete revelando claramente os bicos endurecidos dos seios. Harry desejou ter acariciado aqueles seios quando tivera a chance.
“Então, my lord, devo entender que o senhor fica para a ceia?”, indagou Hermione.
Surpreso, Harry abaixou os olhos e viu que a mesa estava posta para dois. O que o seu sobrinho estava devorando em grandes bocados - fosse o que fosse - cheirava divinamente. Lembrando-se com culpa dos seus lacaios tiritando de frio do lado de fora, Harry disse: “Bem, eu…”
“Não tenho comida para todos”, disse Hermione, sem rodeios. “O senhor deve mandá-los para o pub da aldeia. Eles têm um ótimo sanduíche de queijo e salada. Na verdade, talvez o senhor queira juntar-se a eles.”
“Bruxa”, acusou-a Harry.
Ela sorriu, encantada. “Nem um pouco. Se fosse, faria o senhor desaparecer.”
Quando Harry voltou, depois de despachar os cocheiros e lacaios para o pub, havia um terceiro lugar à mesa e uma jarra de cerveja estava perto da tigela fumegante posta no lugar dele. Essa pequena extravagância o surpreendeu e comoveu.
Hermione Granger não possuía muita coisa, mas estava disposta a dividir o que tinha. A mulher era um monte de contradições que o deixava confuso e Harry descobriu que estava cada vez mais atraído por ela.
Isso, juntamente com a descoberta de que o guisado que ela fazia era delicioso, fez Harry acreditar que corria um perigo realmente muito grande. Já tinha sido tolo o suficiente para beijá-la. E não iria permitir-se ser estúpido a ponto de se apaixonar por ela. Melhor tê-la na defensiva, declamando as suas convicções políticas liberais, do que sentada de frente a ele na mesa, delicadamente bebericando cerveja e parecendo um anjo.
Harry limpou a garganta e disse, sem preâmbulos: “E então, Jeremy. Você gostaria de ter a sua própria carruagem como aquela lá fora?”
Jeremy baixou a colher, os olhos cinza arregalados. “Se gostaria?”, gritou. “Ora, eu iria direto até a casa de Brandon McHugh e cuspiria no olho dele…”
“Você não vai fazer nada disso”. Disse Hermione, baixando o seu copo com força.”Lord Harry, eu agradeceria se não pudesse idéias na cabeça do menino.”
“Mas Jeremy é o duque de Potter”, disse Harry, dando de ombros com falsa inocência. “Se ele quiser comprar uma carruagem como a minha e ir até a casa de Brandon McHugh e cuspir no olho dele, isso é uma prerrogativa de Sua Graça.”
Os olhos verdes de Hermione crepitavam como o fogo. “Lord Harry…”
“Um duque precisa ter o seu próprio cavalo”, prosseguiu Harry, como se não a tivesse ouvido. “Portanto, é claro que você e eu teremos que fazer uma viagem a Londres para conseguir um muito bom, Jeremy.”
“Um cavalo?” Pela primeira vez desde a sua chegada, Jeremy olhou para o tio com verdadeiro respeito. “Um cavalo meu? Um cavalo de verdade? Não a droga de um pônei?”
“Jeremy”, a tia disse calmamente. “Não fale assim.”
“Um cavalo de verdade”, disse Harry rapidamente. “Um cavalo de caça, com seis palmos de altura para você e uma… égua cinzenta pintada para a Srta. Granger.”
“Ao contrário de um menino de dez anos, Lord Harry, a Srta. Granger não se deixa comprar por um cavalo”, disse Hermione com um sorriso levemente amargo. Ainda assim era um sorriso e Harry foi adiante, aproveitando a sua vantagem.
“E isso não é tudo, Jeremy. Você vai ter o seu próprio quarto, assim como uma sala de estudos com os melhores tutores que o dinheiro pode comprar e um aposento cheio de brinquedos.”
O rosto angelical levantou-se, olhando para o tio, e Jeremy disse: “Eu nunca tive brinquedos antes. Vovô disse que eles são para bebês.”
“Ora, você terá muitos brinquedos, Vossa Graça”, declarou Harry. Ele se inclinou e levantou o menino, acomodando-o no colo. Para sua surpresa, Jeremy não protestou. “O único problema, Jeremy, é que a sua tia Hermione não quer que você vá comigo.”
Hermione lhe deu uma olhada que poderia ter congelado lava vulcânica. “Isso não é bem o único problema, Lord Harry”, disse ela.
“Não há nada”, perguntou Harry, “que eu pudesse dar à sua tia para que ela queira vir conosco para Potter?”
Jeremy observou Hermione, do outro lado da mesa. “Não sei”, disse o menino, incerto. “Ela parece brava. O que o senhor fez para ela, afinal de contas?”
“O que você acha de um novo vestido?”, arriscou Harry, ignorando a indagação do menino. “Você não gostaria de ver a sua tia Hermione usando um vestido novo, Jeremy? Um vestido assinado pelo Sr. Worth? Ela não ficaria parecida com um anjo?”
O menino fez que sim com a cabeça, sem muita convicção, obviamente sem saber do que Harry estava falando, e daí se agitou para se aconchegar melhor. “Eu sempre acho que Hermione parece um anjo, não importa o que ela esteja vestindo.”
“Isso é, sem dúvida, verdade. Oh, meu Deus, a sua tia vai ter todos os vestidos novos que quiser, e as jóias também. E as suas próprias criadas, e…” Ele tentava desesperadamente pensar em alguma coisa agradar aquela moça. Ao contrário de suas amantes, ela parecia totalmente indiferente à menção a vestidos Worth e jóias. Foi então que se lembrou dos jornais. “E toda uma biblioteca a sua disposição, uma das melhores do país, e seus próprios jornais, não os que já foram lidos por alguém…”
Isso pareceu despertar a atenção de Hermione. Ela fitou-o com um olhar ainda mais frio.
“Oh” disse Jeremy. “Hermione gosta de jornais. E de livros também. Você ouviu o que o meu tio disse, Hermione? Você vai ter livros e jornais, tantos quanto quiser.”
“Eu ouvi”, disse Hermione impassível.
Harry apressou-se a acrescentar: “E ela vai ter uma renda para gastar como quiser, de não menos de mil por ano e…”.
“E uma cavalo de verdade?”, perguntou Jeremy novamente. “Todo meu?”
“Sim. E uma estufa em que as rosas crescem o ano todo, até no inverno.”
Hermione mordeu o lábio inferior e, ao afastar os dentes pequenos e regulares, deixou-os suculento e vermelho como sangue. “Agora o senhor está simplesmente sendo ridículo. Quem já viu falar de rosas o ano todo, especialmente em Yorkshire?”
Harry tentou tirar os olhos da boca da moça, que tinha a forma de arco e era muitíssimo desejável. Ele se perguntou se vigário a tinha beijado e sentiu um profundo arrependimento por não ter surrado o homem.
“Pois no Solar Potter temos as rosas”, disse ele. “Não estou lhe contando mentiras. Venha comigo e veja por si mesma. Como parte do acordo, continuarei, com satisfação, a pôr para correr todos os seus pretendentes não desejados, sem cobrar nada por isso.”
Com um sorriso rapidamente reprimido, Hermione disse: “Jeremy, desça daí. Você tem que voltar para a escola›”
Jeremy não se mexeu. “Nós não podemos ir com ele, Hermione? Eu quero ver as rosas que crescem o ano todo, até o inverno.”
“O seu tio e eu vamos discutir esse assunto”, disse ela. “Mas tenho que dizer, acho que não.”
Jeremy resmungou, decepcionado. “Por que não?”, perguntou, todo queixoso.
“Porque não é fácil assim, Jeremy.” Hermione levantou-se da mesa e começou a tirar os pratos, tomando cuidado para que Lord Harry não visse as lágrimas que tinham se juntado novamente debaixo de suas pálpebras. “As pessoas… as pessoas não podem simplesmente aparecer com promessas de cavalos e rosas o ano todo e esperar que perdoemos e esqueçamos.” Bombando água fria sobre os pratos Hermione murmurou, voltada para a janela marcada pelo gelo. “Eu não me deixo comprar, você sabe. Nem por uma pilha de jornais”.
Pondo Jeremy de lado, Harry se levantou. Não sabia de onde elas haviam surgido, mas uma corrente de palavras saiu de seus lábios rapidamente e com muita emoção.
“Srta. Granger, por favor, perdoe-me”, disse ele para a moça de costas. “Sei que nunca poderei indenizá-la pelo que a senhorita sofreu criando Jeremy sozinha este último ano, mas deve acreditar em mim quando digo que, se eu soubesse, não teria permitido que isso acontecesse. E estou lhe pedindo… não, estou lhe implorando… para me deixar tentar compensar tudo o que passou, levando os dois ao Solar Potter. Lá, juro, há carvão suficiente para uma lareira em cada cômodo e Jeremy pode comer quantos ovos quiser no café da manhã.”
Esse discurso pouco eloqüente, porem sincero, pareceu não ter efeito sobre a Srta. Granger, que continuou a lavar os pratos da ceia, mas agradou muito a Jeremy.
“Ovos no café-da-manhã todos os dias?” O menino foi até sua tia e puxou a saia dela. “Você ouviu isso, Mione? Ovos todas as manhãs!”
Harry, vendo que tinha obtido uma vantagem inesperada, apressou-se a se manter na ofensiva. “E carne na ceia todas as noites.”
“Ora nós não podemos ir com ele, Mione?”, suplicou o menino. “Não podemos?”
“Talvez”, disse Hermione. Ela enxuga as mãos em um pano de pratos e então, tirando o avental e pendurando-o em um gancho ao lado da porta da despensa, disse: “Mas agora você tem que voltar par a escola”
Jeremy olhou para Harry, o pequeno rosto transformado por um sorriso de prazer. “Quando Hermione diz talvez ela sempre quer dizer sim”, cochichou ele. Depois de passar essa útil informação, o menino foi calçar as botas.
Foi apenas depois de ter certeza de que Jeremy já tinha passado pelo portão que a tia voltou e deu um tapa tão forte no rosto de Harry que ele viu estrelas.
“Isso é pelo beijo”, disse Hermione concisamente. Em seguida, como se nada tivesse acontecido, foi até o guarda-louças e tirou uma garrafa de uísque e dois copos.
Harry ainda estava cambaleante devido ao golpe, que tinha sido surpreendentemente forte vindo de uma mulher tão pequena. Nenhuma mulher o esbofeteara desde - bem, ele não sabias desde quando - e a sensação não foi nem um pouco agradável. Esfregando a mandíbula com a mão, seguiu Hermione com os olhos enquanto ela enchia dois copos generosamente com uísque e em seguida deslizava um deles na direção dele.
“Pronto”, disse ela, sentando-se na cadeira diretamente à sua frente, do outro lado da mesa. “Você parece que precisa disso tanto quanto eu.” E, com um movimento rápido e de quem tem prática, o conteúdo de seu copo desapareceu garganta abaixo.
“Oh!”, disse Hermione, tossindo, um segundo depois: “Eu precisava disso”.
Harry, ainda completamente confuso com a bofetada, não se atreveu a responder. O que essa moça tinha na cabeça? Ela não tinha gostado do beijo tanto quanto ele?
Harry não poderia ter se enganado sobre o desejo que viu naqueles olhos, ou a avidez daqueles lábios doces, ou a forma como o corpo dela tinha grudado no dele tão prontamente. A moça seria louca? Ou simplesmente estaria negando o que sabia ser verdade?
Levando o copo de uísque aos lábios, Harry bebeu e sufocou como se a goela estivesse em fogo.
“O que é isso?”, perguntou ele, com a voz estridente, logo que conseguiu se recompor o suficiente para falar entre tossidas.
Hermione baixou os olhos para o seu próprio copo vazio, as sobrancelhas levantadas com ar de inocência. “Apenas um pouco do uísque de turfa, destilado bem aqui em Applesby. Qual é o problema? É um pouco forte para você?”
“Forte?” Os olhos de Harry lacrimejavam. “É como beber ácido sulfúrico…”
“Bem, talvez seja um gosto que a gente adquire com o tempo. Eu bebi isso a vida toda.” Como que para ilustrar o que dissera Hermione se serviu de mais um copo. ”Para mim, é leite materno. Quer mais um?”
Harry, ainda tossindo seco, balançou a cabeça. “Quero distância disso”, disse ele, fazendo sinal de que não com o dedo. “Desde que a conheci, fui atacado verbalmente por um clérigo, quase perdi um dedo, fui esbofeteado e minhas entranhas queimam. Não sei se vou agüentar muito mais disso.”
Ela sorriu atrevidamente. “Se você tivesse dado ouvidos a Sir Arthur e ficado à distância, como eu disse a ele, estaria fumando um cigarrinho e tomando um conhaque em frente a uma lareira crepitante, a cabeça descansando no colo de sua amante.”
Harry fitou-a. “E o que você sabe sobre amantes?”, perguntou, talvez com mais suspeita do que a necessária.
O sorriso atrevido se tornou malandro. “Ora, nada naturalmente. O que poderia uma simples filha de vigário como eu saber sobre os costumes mundanos de um gentleman como você?”
Harry olhou-a fixamente, lembrando-se do beijo que tinham trocado…
Tinha certeza de que não era uma coisa que ela fazia sempre, mas também tinha certeza de que ela sabia bastante sobre beijos, mas ele não tinha a menor idéia de como isso poderia ter acontecido. “Aposto, baseado nessa declaração, que você sabe muito mais do que está revelando. A propósito, quantos anos você tem?”
Ela arqueou uma das delicadas sobrancelhas. “Quanta impertinência! Por que eu deveria lhe dizer quantos anos tenho?”
Harry tremeu. “Eu sou da família.”
“Da família de Jeremy, não da minha”, objetou ela. “Ao contrário da minha irmã Katherine, eu nunca me casaria com um membro da aristocracia, nem por todo o chá da China.”
“Pensei que você nunca se casaria com ninguém. Lembra-se disso?” Ele sorriu. “Não pensei que esses sentimento excluísse apenas os homens como eu.”
“E não exclui mesmo. Mas sem dúvida acho que homens como você estão entre os mais desprezíveis.”
Harry percebeu que ela estudava a reação dele, como um colegial estuda uma aranha cuja perna acabou de arrancar e, por isso, evitou mostrar-se ofendido: “É mesmo? Como assim? Por favor, me explique.”
“São homens como você que detêm o avanço de reformas vitais que ajudariam milhares de mulheres e crianças sofredoras em todo este país”, respondeu ela, bem loquaz. “Talvez em todo o mundo, já que todos olham para a Inglaterra como um bastião da moralidade.”
Harry por muito pouco não caiu na gargalhada. “Sobre o que, em nome de Deus, você está falando?”
“Você não sabe?” Hermione revirou os olhos diante de tanta ignorância. “Estou falando sobre jovens que enviadas para Londres para aprender uma profissão e que acabam nas ruas porque foram estupradas ou seduzidas por seus empregadores…”
O quê?”“, gritou Harry, sem acreditar.
”… e são consideradas mercadorias danificadas pelas suas famílias e não têm a quem ou que recorrer, a não ser à prostituição”, continuou Hermione, como se não tivesse sido interrompida. Apoiando os cotovelos sobre a mesa, prosseguiu: “Estou falando sobre mulheres que têm um bebê depois do outro, ano após ano, porque são tão sem instrução que não sabem como evitar a gravidez, tudo porque os homens não acham que educar as suas filhas seja um investimento que valha a pena.”
“Santo Deus!”, Harry respirou fundo, sentindo o rosto ficar vermelho. “O que, em nome de Deus, o seu pai tinha na cabeça ao deixar que lesse os jornais? É como dar uma caixa de chocolates a um diabético!”
“Ora, tenha dó”, disse Hermione, de nariz torcido, recostando-se na cadeira. “Estou falando a verdade. Não posso fazer nada se Você anda tão ocupado caçando as pobres e inocentes raposas que não vê o que está acontecendo bem à sua frente.”
“Você, minha cara, está vivendo sozinha por tempo demais. Quando a levar para Potter, eu vou…”
Ela o fitou com tanta malevolência que Harry interrompeu o que estava dizendo. “Você o quê? Vai me deixar sem nenhum alimento intelectual, como fizeram para reprimir as mulheres pelos séculos?”
“Pô-la sobre os joelhos e lhe dar a surra que tanto merece. O que você poderia saber sobre prostitutas ou sobre como evitar a gravidez, a propósito? Sei que não faz nem um ano que saiu da escola.”
“Acontece”, declarou ela, os olhos arregalados diante de tanto desaforo, “que vou fazer vinte anos no próximo mês!”
Harry começou a rir, voltando a se recostar na cadeira. A moça o olhou furiosa.
“O que, posso saber, é tão engraçado?”, ela o inquiriu.
“Você. Consegui que acabasse me dizendo a sua idade, não consegui?” Deu um tapa no próprio joelho, todo satisfeito, tão contente como se tivesse acabado de vencer Draco Malfoy em um jogo de sinuca.
Ela continuou a olhá-lo fixamente, e em seguida, depois de dar de ombros filosoficamente, voltou a sua atenção para o uísque. Harry, apesar de saber que não deveria fazer aquilo, ficou olhando-a, maravilhado. Com os grandes olhos cor de mel e o rosto emoldurado pelos cabelos claros, ela parecia inocente como uma escolar, de pele cor de marfim e maçãs do rosto rosadas. Mas, ao baixar os olhos para a forma caprichosa daquela boca de botão de rosa, ele sabia que a inocência era apenas um ardil para distraí-lo do fato de que, atrás daquele rosto angelical, espreitava uma mulher com um apetite sexual tão voraz como ele nunca tinha encontrado. E isso não era tudo: ela também tinha uma personalidade geniosa. Que Deus tivesse piedade dele! O que faria com ela?
E por que, irritante como ela era, ainda queria beijar aquela boca imprudente? Criaturas impossíveis, essas mocinhas! Ele preferia infinitamente as mulheres mais velhas e, sobretudo, as mulheres mais velhas e casadas.
“Se vamos viver juntos debaixo do mesmo teto?”, começou ele, “não podemos pelo menos ser amigos?” Hermione se levantou e cruzou a sala em direção a pia, para lavar os copos de uísque. O olhar que ela lhe devolveu foi de suspeita. “Vivermos juntos? Do que você está falando?”
“Você disse que irão para Potter comigo.”
“Eu não disse nada disso!”
Ele sabia que estava de cara fechada, com aquela carranca que certa vez fez uma das meninas Herbert ter um ataque histérico, mas não conseguiu evitar. “Você disse 'talvez'.”
“Foi o que eu disse. Desde quando isso significa 'sim'?”
“Srta. Granger.” As palavras faltavam a Harry. Todo esse tempo ele pensara que a guerra estava ganha, mas ainda nem tinha começado. Ele queria muito esmurrar alguma coisa, mas, infelizmente, o vigário não estava por perto. “Já lhe pedi desculpas pela omissão do meu pai. Peguei cada centavo que aquele vigário maldito diz ter lhe emprestado. Fiz tudo o que está ao meu alcance para lhe mostrar que realmente estou falando sério quando digo que não há nada no mundo que lhe negarei se concordar em vir a Potter com Jeremy. O que mais posso fazer para convencê-la de que é sincero o meu desejo de fazer a coisa certa por você e o nosso sobrinho?”
De costas, ela disse, em uma voz baixa, falando mais com a janela do que com ele: “Nada. Acredito em você. Sei que você pretende fazer o que é certo. Só que…”
“Só que o quê?”
“Só que… O quanto o senhor sabe, Lord Harry, sobre a minha família?” Quando ela se virou para ele, os olhos cor de mel pareciam artificialmente arregalados. “O que você sabe sobre a minha irmã?”
“Nada.” Harry deu de ombros. “A não ser que, se ela se parecia apenas um pouco com você, não é de admirar que o meu irmão tenha tido morte prematura.”
Hermione, como era de se esperar, não riu com a piada. “Nada? Nada mesmo? O senhor nunca se encontrou com ela?”
“Você sabe que não. O meu irmão conheceu a sua irmã aqui em Applesby quando participava de um fim de semana de caça. Eles fugiram - de forma imprudente e, sem dúvida, precipitada -, e quando o meu pai se recusou a reconhecer o casamento, partiram para a Europa continental, de onde nenhum deles voltou com vida. Onde a senhorita quer chegar, Srta. Granger?”
Ela não respondeu, pelo menos não imediatamente. Sua reação foi baixar os olhos para as próprias mãos. Harry seguiu o olhar de Hermione, pensando em como aquelas mãos tinham agarrado o cabelo dele. Perguntou-se como seria senti-las abrindo os botões das calças dele…
“Nós vamos com você”, disse ela de repente, com uma voz tão baixa que Harry não teve certeza se tinha ouvido bem.
Ele levantou a cabeça rapidamente. “Como disse?”
“Nós vamos com você”, disse novamente Hermione, dessa vez mais alto.
“Srta. Granger!”
“Mas com uma série de condições.”
Harry franziu as sobrancelhas. “Srta. Granger…”
“Eu terei a palavra final em tudo que se refira a Jeremy. Não vou permitir que ele seja mimado e receba presentes demais de pessoas que estão interessadas em comprar a boa vontade futura dele. Ele deve ser criado o mais normalmente possível…”
“Isso não vai funcionar, Srta. Granger” ridicularizou Harry. “Jeremy é o duque de Potter. Você quer que ele freqüente a escola da aldeia com os outros moleques comuns?”
“Jeremy é um moleque como os outros, Lord Harry. Ou era até hoje. Eu gostaria que ele continuasse assim pelo maior tempo possível. E, se eu vou com ele, precisarei de algo para fazer.”
“Como assim?”
“Preciso ter algo com o que ocupar o meu tempo, Lord Harry. Ao contrário do senhor, não estou acostumada a uma vida de ócio. Talvez eu pudesse cuidar dos assuntos domésticos.”
“Tenho uma governanta”, rosnou Harry.
“Então talvez possa administrar a sua contabilidade. Eu cuidava dos registros financeiros da igreja para o meu pai. Sou boa com números.”
“Isso não me surpreende”, observou Harry secamente. “Porém, Sir Arthur administra as contas para mim…”
“Bem, Lord Harry.” A irritação dela era perceptível na expressão do seu rosto. “Tem de haver alguma coisa que eu possa fazer no Solar Potter.”
Harry ficou olhando-a. Ele poderia pensar em uma série de funções em que ela teria um desempenho fenomenal. Nenhuma delas, entretanto, era apropriada para uma jovem solteira ou, pelo menos, uma jovem solteira que tinha devorado todo o Em defesa dos diretos da mulher, de Mary Wollstonecraft. Disse, portanto, sem se comprometer: “Vamos encontrar alguma coisa para você fazer, não se preocupe. Agora, o que mais?".
Ela mordeu o lábio inferior. “Bem, creio que, se eu vou ser a tia de um duque, vou precisar… provavelmente vou precisar ter uma aparência apresentável. Quero dizer, só tenho este vestido e mais outro, de ir à igreja…"
Harry seguiu o olhar dela, notando que as faces da moça tinham ficado escarlates. Ele não sabia o que a incomodava. É verdade que o vestido era modesto, mas lhe caía admiravelmente. Ele conhecia mulheres que teriam matado sem pensar duas vezes para ter essa aparência em um vestido tão pouco atraente.
Mas ele fez que sim com a cabeça, sério, e disse: "Sim. Um novo guarda-roupa é, naturalmente, parte do acordo."
Parecendo aliviada, Hermione soltou a respiração presa e voltou a hesitar novamente.
"Eu vou… precisar tomar algum dinheiro emprestado." Baixou os olhos e ele viu as faces dela arderem mais uma vez. "Para ajudar uma família daqui."
Tenha dó! Aquilo estava indo longe demais. "Por que o maldito vigário de vocês não as ajuda?, inquiriu Harry, irritado. "Esse é o trabalho dele, não é?"
"Ele se recusa a ajudar." Com um suspiro, a moça levantou os olhos e o encarou, as faces ainda mais vermelhas até do que depois de se terem beijado. "A Sra. MacFearley é a prostituta da vila; e eu ajudei no parto do décimo sexto filho dela hoje de manhã…"
"Você o quê?" Se ela tivesse dito que tinha ajudado no nascimento de Cristo ele não ficaria mais surpreso.
Hermione tossiu, pouco à vontade. "Bem. Não havia mais ninguém, você sabe, e… bem, se eu pudesse dar ela só um pouco de dinheiro, ela poderia descansar por um tempo e recuperar as forças antes de voltar a trabalhar.
Uma sobrancelha de Harry se arqueou. "Isso sim será uma novidade", observou. “Um homem da minha classe pagando uma dama da noite para não dormir com ninguém." Ao notar que a moça não estava sorrindo diante do sarcasmo dele, Harry suspirou e pôs a mão no bolso do colete. "Quanto?"
Ela estava mordendo aquele suculento lábio inferior novamente. "Será que… cinco libras seria demais? Juro que vou pagá-lo. Tenho trinta por ano."
"Hmmm." Ele examinou uma moeda tirada da bolsa. "Vamos fechar em cinco redondos, está bem? Quem sabe, talvez ela possa usar o dinheiro para atrair um bom partido. Um marido. Acho que o Sr. Weasley agora está disponível, não está?"
Ele ficou surpreso diante de tanta felicidade que o seu gesto despreocupado havia causado. Hermione bateu palmas, sem nenhum constrangimento, e até rodopiou pela cozinhas: "Vinte libras? Está falando sério? O senhor realmente vai…? Oh, muito obrigada, Lord Harry, muito obrigada!".
Antes de entender qual era a intenção de Hermione , ela tinha rodopiado em sua direção, jogado os dois braços ao redor do pescoço dele e queria dar um beijo com aquela boca de cereja na mesma face que havia esbofeteado meia hora antes.
Harry sobressaltou-se com a leve pressão do formoso peito contra os seus ombros. Antes de poder se deter, ele tinha virado o rosto, de forma que os lábios de Hermione, em vez e tocarem a face, tocaram os lábios dele, enquanto o braço de Harry se enroscava ao redor da cinturinha da moça como uma cobra, puxando-a para seu colo.
Ele a sentiu empertigar-se imediatamente, mas o contato da sua era doce, tão doce que não conseguiu deixar que ela se afastasse, ainda não. Ele tinha se perguntado se aquele bofetão era para valer e naquele momento tinha a resposta. Ela havia lhe dado um tapa no rosto porque era isso que uma filha de vigário bem criada fazia quando um estranho passava dos limites. Mas, no coração, ela tinha recebido bem esse avanço. E era por isso que agora parecia se derreter contra ele, os olhos fechados, os olhos fechados, o coração batendo enlouquecido no peito.
Foi apenas quando ele levantou uma mão para envolver um daqueles seios magníficos através da lã do corpete que ela deu um pulo, saltando do colo dele como uma gata amedrontada.
"Lord Harry!" exclamou ela, as pupilas tão dilatadas que os pareciam pretos e não verdes.
Harry, ainda com aquele gosto doce na boca, estendeu o braço, tentando puxá-la para perto novamente, com seu calor, sua maciez e o seu desejo de ir para mais além. Mas ela afastou até suas costas baterem contra a pia, do outro lado do cômodo.
"Lord Harry", ela disse novamente, quase de forma incoerente. "Outra vez não. Eu já lhe disse!"
Ele a olhou, pensando que ela era a criatura mais atraente com quem tivera contato em muito, muito tempo, e de repente percebeu que, se não soubesse fazer o jogo direito, ele a perderia. Ela não era uma mulher casada, que sabia o que fazer na cama.
Era virgem, ainda que muito sensual, e parecia mais chocada com a sua própria reação aos avanços dele do que com o fato de que ele os fizera.
"Srta. Granger", disse ele, desconhecendo a sua própria voz de tão rouca. Pigarreou e tentou novamente. "Srta. Granger. Não posso pedir desculpas o suficiente. Não sei o que deu em mim. A senhorita deve acreditar que isso nunca mais vai acontecer." Mas, mesmo enquanto dizia essas palavras, não tirava os olhos dos peitos dela, da forma mais fascinante como os mamilos, como pedregulhos duros nas taças do corpete, se expandiam através da lã. "Afinal de contas", ele disse com um sorriso, "você é a minha cunhada."
Ele deveria estar esperando dessa vez, mas mesmo assim foi um choque, um súbito golpe contra a sua face. Ela o atingiu ainda com mais força do que antes, parecendo descontar toda a sua frustração sexual na mandíbula dele. Maldição, a moça tinha um cruzado direito muito forte!
"Não pode haver nada disso em Potter", declarou Hermione, com raiva. Os olhos cor de mel lançavam chamas. "Você está me ouvindo? É só fazer qualquer coisinha, como levantar uma sobrancelha para mim, que Jeremy e eu voltamos imediatamente!"
"Perfeitamente", disse Harry, esfregando tristemente a sua mandíbula. "Você tem toda a razão."
Sem mais uma palavra, ela fugiu, saindo altivamente e a passos largos da sala, o quadril balançando de uma maneira cativante que, Harry tinha certeza, só poderia ser inconsciente.
"E eram dezesseis libras e três centavos, seu bobão", disse ela sobre um ombro. Lembrando-se das moedas que tinha posto no bolso de Weasley, Harry começou a rir, balançando a cabeça. O maldito vigário tinha lhe cobrado uma libra a mais
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