Capítulo Dois
Where Roses Grow Wild
Capítulo Dois
Hermione embalou o recém-nascido nos braços, balançando-o de leve e falando baixinho
enquanto ele choramingava.
“Calma, calma”, disse ela, a respiração se condensando imediatamente no ar gelado. “Está tudo bem. Sei que é muito mais desagradável aqui fora do que lá dentro, mas você vai ter que se acostumar, entendeu?”
Na cama, que na verdade não passava de uma pilha de trapos e palha molhados, a mãe do recém-nascido levantou os olhos com um sorriso fraco. “Ele parece bem, não é, Srta. Granger? Todos os dedos dos pés e das mãos?”
“Dez e dez”, respondeu Hermione com muito mais animação do que realmente sentia. “Qual o nome que a senhora vai lhe dar, Sra. MacFearley?”
“Oh, meu Deus! Não sei!”
“Já gastou todos os nomes?”, disse a Sra. Pomfrey, a parteira, se aproximando e deixando atrás de si um triste simulacro de fogo que ela e Hermione tinham passado uma hora tentando fazer pegar, sem muito sucesso. Sem carvão e alimentado apenas por alguns pedaços úmidos de turfa, o fogo não dava muito calor. Os McFearley, porém tinham mais sorte do que alguns dos seus vizinhos, cujas cabanas, pouco mais que telheiros, nem mesmo tinham chaminés. “Não posso dizer que estou surpresa. Ele é o seu décimo sexto?”
A Sra. MacFearley fez que sim, toda orgulhosa. “Oitavo filho homem, sem contar os três que saíram mortos.” Pensar em bebês natimortos obscureceu por um momento o rosto exausto da mulher e ela murmurou: “Seria errado, Srta. Granger, dar a ele o mesmo nome de um dos mortos? Gosto demais do nome James, mas o último, que morreu, era para ser James…”.
Hermione olhou para a trouxinha que mexia as mãozinhas vermelhas e chorava nos seus braços e, de repente, não conseguiu agüentar mais. Parecia que as paredes da cabana de um único cômodo, enegrecidas pela fumaça, se fechavam sobre ela e o cheiro, que normalmente era uma mistura desagradável de repolho e excremento humano, estava dez vezes pior, com o fedor da placenta e membranas expulsas após o parto.
Hermione sentiu o mingau que havia tomado como café-da-manhã subir-lhe à garganta e, com um pequeno gemido, pôs o bebê às pressas nos braços estendidos rapidamente pela parteira e correu para fora.
Andando cegamente pela neve, Hermione conseguiu chegar até um montinho de lixo antes de vomitar. Ao terminar, agarrou-se à escada do varal, encostando a face na madeira fria e tosca, de olhos fechados contra o brilhante sol de inverno. O cheiro não era muito melhor fora da cabana, mas pelo menos ela estava longe daquele rosto lívido e do corpo magro e acabado de tantos partos.
A porta da cabana se abriu e a Sra. Pomfrey saiu carregando um balde cujo conteúdo soltava um vapor no ar frio. Hermione rapidamente pôs a mão na sua bolsinha, em busca de um lenço, limpou a boca com ele e com um pouco de neve limpa que pegou do chão.
A Sra. Pomfrey se aproximou de Hermione e do monte de lixo, resmungando consigo mesma. Ao chegar perto o suficiente para ver a sujeira que a jovem havia deixado sobre a neve, ela estalou a língua em sinal de desgosto.
“Não sei por que insiste em vir comigo toda vez”, declarou à parteira, “se isso faz à senhorita passar mal.”
A Sra. Pomfrey virou o balde, esvaziando o conteúdo sobre o vômito. Hermione, reconhecendo o odor da placenta e das membranas, sentiu o estômago virar mais uma vez e rapidamente agarrou-se à estaca do varal, como se isso a protegesse da náusea. Apertou o lenço contra os lábios.
“Oh, Sra. Pomfrey”, Hermione suspirou tristemente. “É tão horrível! Como à senhora consegue agüentar isto? Aquela mulher vai se matar tendo um bebê por ano. Alguém tem que falar com os homens desta aldeia. A senhora não pode fazer isso?”
“Não estou em posição de fazer isso e a senhorita sabe disso, Srta. Granger”, declarou a Sra. Pomfrey, em tom de censura. “É o dever do vigário. E a senhorita pensa que nosso vigário vai sujar as mãos com gente como Myra MacFearley, a senhora é tão maluca quanto o pai.”
Hermione não ficou ofendida com a referência da Sra. Pomfrey à excentricidade do pai e limitou-se a suspirar, enfiando o lenço de volta na bolsa. “Acho que a senhora está certa. É só que parece tão injusto! Dezesseis filhos em dezesseis anos e um terço deles nascidos mortos. E a Sra. MacFearley só tem trinta anos, Sra. Pomfrey! Aquela mulher ali tem apenas dez anos a mais que eu, e parece…”
“Tão velha quanto eu?”, acrescentou rapidamente a Sra. Pomfrey, piscando, com um sorriso. “Nem um dia mais do que cinqüenta?”
“A senhora sabe o que eu quero dizer.” Hermione olhou, de mau humor, para as suas botas e a bainha do vestido de lã marrom, úmidos de neve. “Talvez se eu falasse com o Sr. Weasley”, ela sugeriu, sem grande esperança.
“A senhorita?” A parteira jogou a cabeça para trás e riu. O som da risada era estranhamente abafado naquele pátio sujo e entulhado. “A senhorita falar com o vigário sobre a prostituta da aldeia? Oh, isso é ridículo, Srta. Granger!”
Hermione fechou a cara. “Por que é tão estranho? Afinal de contas, somos dois adultos. É dever do Sr. Weasley falar com os seus irmãos sobre essas coisas. Deus sabe que o meu pai tentou.”
“O Sr. Weasley ficaria com o rosto verde e vomitaria o café-da-manhã se a senhorita lhe falasse sobre uma coisa dessas.” A Sra. Pomfrey balançou a cabeça. “Não, meu bem. Não é certo que uma mulher jovem e não casada fale com um homem solteiro - mesmo um vigário - sobre coisas assim. Especialmente uma mulher como a senhorita.”
“O que a senhora quer dizer com isso, uma mulher como eu?”, interpelo-a Hermione, instantaneamente ofendida.
“Não leve a mal”, riu a Sra. Pomfrey. “Eu quero dizer uma mulher com sua aparência. Ora, a senhorita é mais bonita do que qualquer uma das atrizes que aparecem nos jornais. Uma bela mulher como a senhorita tentando falar com um homem como o vigário sobre coisas que a maioria das senhoras não menciona na frente de seus próprios maridos… Ora, simplesmente não é decente, Srta. Granger, mesmo para a senhorita. Creio que o seu pai não gostaria, apesar dos livros extravagantes que ele sempre fez a senhorita ler…”
Sentindo-se um pouco melhor, Hermione soltou a estaca do varal e balançou a cabeça com tristeza. “Não sei do que a senhora está falando, Sra. Pomfrey. É melhor eu voltar agora. Jeremy deve chegar daqui a pouco para o almoço e ainda não pus nada no fogo. Por favor, diga a Sra. MacFearley que volto mais tarde com um pouco de sopa e pão para ela e as crianças.”
Não era caminhada longa do extremo da vila, onde viviam as famílias mais pobres, até a propriedade paroquial, se ela pegasse um atalho pelo cemitério. Foi o que fez Hermione, que não era nem um pouco supersticiosa, concentrando-se na caminhada para não pensar no frio extremo. Na pressa de chegar ao chalé dos MacFearley antes do parto, Hermione tinha esquecido o gorro e agora só tinha o seu cabelo castanho-claro solto para aquecer as orelhas. Mantendo os braços dentro da casaco puída, ouvia o som de seus pés esmagando a neve. Ia lendo ao acaso os epitáfios, que praticamente sabia de cor, por ter vivido na mesma aldeia a vida toda.
Aqui descansa Karen, dizia uma inscrição em um túmulo que sempre tinha perturbado Hermione. Minha Esposa, Meu Amor, Minha Vida. O que seria, Hermione freqüentemente se perguntava, gostar assim de alguém? Ela não conseguia imaginar amar desse jeito um homem tanto. Ela amava Jeremy, era verdade, e não tinha dúvida de que, se fosse preciso, daria a própria vida por ele. Mas gostar de um homem - alguém fora da sua própria família - a ponto de considerá-lo a sua própria vida? Era assustador amar alguém com tanto ardor! Sentiu pena do pobre marido de Karen, que ficara tão desolado com a perda da esposa. Não seria muito mais sensato para ela ter, talvez, amado um pouco menos?
“Srta. Granger!”
Hermione ficou paralisada, no meio de um passo. Ah, meu Deus! Não podia ser!
“Srta. Granger!”
Mas era. Ela o viu pular de trás de uma lápide particularmente grande, tirando a neve dos joelhos com as mãos. O que estava fazendo ali? Teria ele visto Hermione passar pela casa paroquial e a esperara voltar? Homem odioso. Pensou em apertar o passo, fazendo de conta que não o vira, mas ele estava ao seu lado e ela teve que forçar um sorriso.
“Bom dia, Srta. Granger!”
O Sr. Weasley tirou o chapéu alto e fez uma mesura com cômica presunção, mas Hermione fez o possível para não rir. Afinal de contas, ele era o substituto do pai dela e o líder espiritual da comunidade. Não era culpa dele se, às vezes, fazia Hermione lembrar-se de uma marionete, com o seu corpo desajeitado e movimentos atrapalhados.
“A senhorita parece muito bem nesta manhã fria de inverno”, disse o vigário efusivamente, a respiração saindo da boca em grandes baforadas brancas.
Hermione manteve o sorriso falso grudado no rosto. “Bom dia, Sr. Weasley. Gostaria de ter tempo para conversar, mas preciso voltar ao chalé para preparar o almoço para Jeremy.”
“Então a senhorita deve permitir que eu a acompanhe”, declarou o vigário, estendendo o braço para que ela o tomasse. “O caminho é escorregadio e não vou permitir que a senhorita corra o risco de cair e torcer um tornozelo.”
Hermione não gostou de ouvir o vigário mencionar os seus tornozelos. Ele era jovem alto - Hermione chegava apenas ao seu ombro - e, apesar de desajeitado, tinha boa aparência, com olhos azuis e cabelos ruivos. Porém, ao contrário de todas as outras solteiras da vila, Hermione não se sentia atraída por ele e não entendia por que havia tanto rebuliço ao seu redor.
Vendo que não poderia recusar o braço do vigário sem ser mal-educada, Hermione deslizou a mão enluvada na curva do braço dele e permitiu-lhe acompanhá-la pelo cemitério. Enquanto caminhavam, o Sr. Weasley falou longamente sobre as mudanças que tinha feito na casa em que Hermione havia crescido; casa que, depois da morte do seu pai, tinha sido entregue ao novo vigário. Apesar de estar bem satisfeita com o seu pequeno chalé na extremidade da propriedade da igreja, Hermione não conseguia evitar se sentir um pouco dona da casa paroquial e ficou irritada ao ouvir que o Sr. Weasley tinha mandado pôr um novo papel nas paredes da sala de estar. Homem tolo. Ele não sabia que a chaminé soltava fumaça e que deixaria imundo o papel dentro de um ano?
A conversa fiada continuou até quase o portão do cemitério. Hermione, que vinha pensando em outro assunto durante o percurso, subitamente deixou escapar: “Sr. Weasley, estou voltando da casa dos MacFearley, do outro lado da aldeia, onde ajudei no nascimento do décimo sexto filho de Myra MacFearley…”
Antes de terminar, ela sentiu o Sr. Weasley ficar tenso e se afastar dela, atônito.
“O quê?”, exclamou ele, parecendo assombrado. “A senhorita está brincando? Se esse for caso, devo dizer que é uma brincadeira de muito mau gosto.”
Hermione levantou os olhos para ele, de cara fechada. “Não é uma brincadeira, Sr. Weasley. Estive conversando com a Sra. Pomfrey, a parteira, e achamos que é o seu dever, como vigário, falar com os homens de Applesby. Eles devem ficar longe da Sra. MacFearley por pelo menos um ano. Caso contrário, nesse ritmo, ela nunca recuperará a saúde. E temos de suplementar a renda que ela vai perder, da melhor forma que pudermos, com a cólera.”
“Srta. Granger!” O rosto pálido do Sr. Weasley ficou um tom mais pálido e estava quase da mesma cor da neve que os rodeava. Hermione percebeu, com o coração apertado, que a Sra. Pomfrey tinha razão. Ela chocara o vigário e agora ia ter que agüentar.
“Estou atônito, realmente atônito, de ouvir a senhorita, uma mulher jovem e não casada, ajudou em um parto! Nunca ouvi falar numa coisa dessas! E bem no nascimento de uma criança bastarda, filha da prostituta da aldeia! O que a parteira tinha na cabeça ao permitir que a senhorita fizesse uma coisa dessas? Tenho a intenção de falar com essa mulher. Uma coisa dessas é tão infame que eu - bem, eu mal sei o que pensar!”
A lembrança do rosto lívido de Myra MacFearley ainda estava fresca na cabeça de Hermione, assim como o cheiro irrespirável da placenta e membrana expelidas depois do nascimento. Ela bateu um dos pés, impaciente, com raiva pelo fato de o vigário ficar obcecado com a falta de decoro de ela ajudar em um parto quando havia questões muito mais sérias com as quais ele deveria se ocupar.
“Ora, Sr. Weasley. Jovem e solteira eu posso ser, mas não sou uma criança e tampouco ignorante. Sei como os bebês são feitos e como servir de parteira e estou pedindo que o senhor, como vigário da paróquia, ajude a Sra. MacFearley”.
“Não vou fazer nada disso!”, exclamou o Sr. Weasley. “Eu não me rebaixaria para ajudar uma mulher tão devassa que não pode manter as pernas fechadas o suficiente para se recuperar de um parto.”
“Mas é seu dever fazer isso! Meu pai…”
”O seu pai! O seu pai! A senhorita tem uma idéia, Srta. Granger, do quanto estou farto de ouvir falar do seu pai? O seu pai não era exatamente o pensador iluminado que a senhorita aparentemente acredita que ele foi. Se era tão avançado, por que deixou à senhorita e o seu sobrinho sozinhos no final, com apenas a caridade da igreja - a minha caridade - para mantê-los fora do asilo*?”
Hermione fitou-o, piscando os olhos subitamente cheios de lágrimas que ela afastou com raiva. “Se é assim que o senhor se sente Sr. Weasley”, disse, com uma voz apertada que ela mal reconhecia como a sua, “passe bem”.
Virando-se, Hermione se afastou a passos largos e tensos. A audácia! Mantida fora do asilo pela caridade dele! Então ele estava cansado de ouvir falar do pai dela? Ora, não teria que ouvir nem mais uma palavra sobre seu pai, nem uma palavra a mais. Hermione nunca mais falaria com aquele homem odioso. Podia esperar para ver!
O vigário a chamou, com extrema agitação na voz, e saiu correndo atrás de Hermione, aos tropeções. A moça não parou e ele subitamente pôs as mãos enluvadas nos ombros dela, virando-a e forçando-a a encará-lo. Hermione ficou surpresa com esse gesto. O vigário sempre havia evitado cuidadosamente tocar nela, mesmo nos eventuais bailes a que os dois tinham ido às casas de vizinhos bem-intencionados, que queriam que a atraente filha do falecido vigário e o bonito novo vigário chegassem a um acordo.
“Srta. Granger”, disse o Sr. Weasley, ofegante; ela sentia os dedos dele através do tecido da casaco. “Peço desculpas por ofendê-la, mas, por favor, ouça o que tenho a dizer. Faz muito tempo que acho que o seu pai, apesar de ser um bom homem, era liberal demais nos seus procedimentos com a paróquia e, em particular, na sua criação.”
Enquanto Hermione juntava fôlego para contradizer isso, o vigário continuou, apressado: “O que pode ser inadequado para uma jovem saber, porém é, em última instância, um conhecimento essencial para a esposa de um vigário, de forma que estou disposto a deixar passar essa falta de bom gosto revelado pela senhorita…”
Hermione olhou fixamente para ele, surpresa. “Sr. Weasley”, ela conseguiu dizer, ofegante. “O senhor está…?”
“Sim, estou. Suponho que não seja uma grande surpresa para a senhorita o fato de que há algum tempo eu a admiro mais do que apenas uma amiga. Espero que a senhorita me dê à honra de se tornar minha esposa.”
Hermione ficou tão surpresa que quase caiu na risada, mas conseguiu se controlar a tempo. Santo Deus, ela tinha acabado de receber a primeira proposta de casamento da sua vida e a sua primeira reação tinha sido rir! Muito inadequado.
O rosto do Sr. Weasley estava muito sério, mais preocupado, pensou ela, com o assunto introduzido por ela anteriormente do que em saber se ela ia ou não aceitá-lo. E, naturalmente, isso era algo que Hermione não tinha a menor intenção de fazer.
Levantando a mão para tirar os dedos do vigário dos seus ombros, Hermione disse: “Sr. Weasley, o senhor está enganado se pensa que eu alguma vez suspeitei da verdadeira natureza dos seus sentimentos por mim. Peço desculpas se de alguma forma o fiz acreditar, equivocadamente, que os meus sentimentos não eram apenas de amizade. Mas só sinto amizade pelo senhor, de forma que temo não poder aceitar a sua generosa proposta. Agora, por favor, me solte.”
Diante da aparente determinação dele em não a soltar, ela começou a se mexer. “O senhor me ouviu Sr. Weasley?”
“Chame-me de Ron”, disse o vigário, inclinando-se para beijá-la. “Hermione.”
Hermione se surpreendeu tanto quando a boca dele pousou sobre a dela que, por um momento, ficou como que paralisada, consciente da secura quente daqueles lábios e da umidade da língua, que pretendia entrar através dos seus lábios firmemente fechados. A reação seguinte de Hermione não foi nem de longe tão passiva. Deu um passo atrás e deu um pontapé na canela do vigário.
Ele soltou um uivo, e Hermione, segurando as saias nas mãos, saiu em disparada como um potro, correndo pela alameda do cemitério o mais rapidamente que as suas pernas esguias permitiam. Apesar de ouvi-lo chamá-la, Hermione continuou correndo, derrapando sobre a superfície gelada da neve. Não ousava desacelerar por medo de que ele a alcançasse e pedisse desculpas. Mesmo tendo ficado de estômago vazio depois de passar mal naquela manhã, ela achava que poderia vomitar de novo se isso acontecesse.
Hermione continuou correndo, o vento frio atravessava a casaco aberta e deixava os seus olhos cheios de lágrimas. Ela quase colidiu com a Sra. Turley, mulher do padeiro, em uma rua da aldeia, mas não parou, limitando-se a gritar “Desculpe!” sobre o ombro. Não se importava se toda a aldeia visse os seus tornozelos e panturrilhas. O mais importante era fugir. Hermione passou correndo pela casa paroquial, pelo portão do seu próprio jardim e teria chegado até a porta de entrada de sua casa se não fosse detida por um grande obstáculo. Ela se lançou contra ele com toda a força e ouviu um “Uf” surpreso.
Atordoada, Hermione teria caído devido ao impacto, mas mãos fortes se estenderam para firmá-la e a mesma voz grave que havia soltado o “Uf” dizia, rindo: “Olá, minha querida. Onde você acha que vai, tão apressada assim?”
Esforçando-se para recuperar o fôlego, Hermione fez um gesto para tirar dos olhos o cabelo escuro e despenteado pelo vento e olhou para cima…
E deu com o rosto mais maravilhoso que já tinha visto.
Olhos verdes-esmeraldas riam para ela, emoldurados por ruguinhas na pele levemente bronzeada que instantaneamente a fizeram pensar em dias de verão, de urze roxa ondulando na brisa suave da noite. Contrastando fortemente com os olhos de cor clara, o cabelo bem preto ondulava ao redor de um rosto cinzelado e nitidamente triste, com sobrancelhas escuras e lábios sensuais. Fitando, sem fôlego, essa aparição vulcânica, Hermione acreditou, por um momento, que o homem era um pirata saído dos livros que Jeremy sempre lhe pedia para ler. Percebeu que estava muito consciente e interessada nos braços fortes que a mantinham de pé, nos ombros largos debaixo do manto preto - tão largos que bloqueavam a vista de tudo ao seu redor -, do cheiro masculino que parecia emanar do colete dele, cheiro de couro, tabaco e, levemente, de cavalo.
Hermione de repente se deu conta do olhar verde que se dirigia sem disfarce para a sua casaco aberta, por onde apareciam a cintura fina e o belo busto, que ainda subia e descia na tentativa de recuperar o fôlego. Balançando a cabeça, ela recuperou o juízo. O que estava fazendo ao permitir que um completo estranho a segurasse assim, depois de chutar as canelas do vigário que acabara de tentar o mesmo? Com um suspiro, Hermione fez um movimento súbito para se libertar e o estranho, rindo, imediatamente a soltou.
“Fugindo de algum incêndio, querida?”, perguntou ele, movendo as sobrancelhas ironicamente. “Ou está sendo perseguida por algum balconista apaixonado?”
Hermione virou a cabeça para cima e olhou-o nos lhos, ainda sem fôlego para falar. Sabia que seu rosto estava muito vermelho e ficou contente porque, naquele frio, o desconhecido não poderia pensar que ela estava corando. Era o homem mais bonito que ela já vira. Como poderia não ficar ruborizada?
“O que está acontecendo, menina?” O gato comeu a sua língua?”Ele riu, olhando-a, e ver aqueles lábios se abrirem de forma tão alegre fizeram o coração dela dar saltos.
“Estou aqui há algum tempo, tentando despertar a sua patroa', continuou ele. “Se ela não está e casa, você poderia pelo menos me deixar entrar para que eu aqueça enquanto espero? Acho que peguei um resfriado ficando tanto tempo aqui fora, batendo à porta…”
Hermione ouviu alguém chamá-la da rua. Ficou na ponta dos pés olhou por cima do braço do cavalheiro de cabelo escuro e viu o Sr. Weasley, mancando na direção deles acenando com o chapéu.
“Ah, não!”, ela resmungou.
O visitante deu uma olhada indiferente por cima do ombro e disse, com uma voz profunda. “Aquele homem está a sua procura.”
“Eu sei”, gemeu Hermione. “É esse o problema.” Ela se jogou contra a porta, que nunca estava trancada, e entrou na casa, aos tropeções. Correndo para dentro da sala, desamarrou os laços que prendiam a sua casaco com uma mão e, com a outra, jogou de lado a sua pequena bolsa.
“Haja paciência!”, murmurou Hermione, mal notando que o estranho de ombros largos a havia seguido para dentro e examinava o Sr. Weasley pela janela. O pároco havia parado no portão do jardim, parecendo de repente perceber que a sua presença não era desejada. “E Jeremy deve chegar a qualquer momento!”
“Aquele homem a está aborrecendo, meu bem?”, perguntou o desconhecido. “Porque, se estiver, eu a livro dele sem problemas.”
“Oh” gemeu Hermione, colocando a casaco sobre as costas do banco de madeira, em seguida, pondo uma das mãos na testa, como se quisesse se livrar de uma dor de cabeça. “O senhor não vai conseguir se livrar dele. Acredite, eu bem que tentei.”
O homem alto olhou pela janela mais uma vez. “Eu não brigo com ninguém pelo menos desde o tempo da universidade, mas ele não parece um grande adversário. Pode ter a juventude como vantagem sobre mim, mas não, mas que isso. Como você acha que ele se sairia com pistolas ao raiar o dia?”
Hermione olhou para ele e riu - um som claro e borbulhante que parecia transbordar dela. Ela não tinha idéia de onde isso tinha vindo. “O senhor não pode estar falando sério! Ele é o Sr. Weasley, o vigário.”
“Falando tão sério como a marte. Pouco me importa que ele seja o Arcebispo da Cantuária. Ficaria feliz em matá-lo para você. É só dizer.”
Ela viu os olhos verdes passearem rapidamente pela sala mobiliada de forma agradável, ainda que pobremente, e depois se voltarem para ela. Hermione de repente ficou constrangida devido ao seu vestido de lã marrom molhado, com a bainha suja de neve e a cintura apertada.
“Pensando melhor”, disse o estranho, “em vez de matá-lo, o que pode ofender alguém e envolver muita gente, por que nós simplesmente não damos um susto nele, fazendo-o ir embora, e depois você e eu podemos acender a lareira e nos sentar para nos conhecer melhor. Pelo menos até a volta da sua patroa.”
“Minha patroa?”, repetiu Hermione. “Do que o senhor está falando?”
Naquele momento, a porta foi aberta com um empurrão e o vigário entrou mancando na sala. Jogando os ombros para trás, o Sr. Weasley disse, com dignidade ferida: “Perdoe-me por me intrometer, mas creio que me deve desculpas, Srta. Granger”.
“Srta. Granger?”, repetiu o estranho, olhando alerta para Hermione.
Antes de ela poder responder, o Sr. Weasley continuou: “É costume, acredito, que as jovens rejeitem a primeira proposta de casamento de um cavalheiro, de forma que não vou levar a sua rejeição muito em conta. Vou lhe pedir outra vez, pode ter certeza, mais outra e mais outra, até que me dê à honra de se tornar minha esposa”.
A essa altura, Hermione estava sem dúvida corando. Nunca tinha ficado tão aflita na vida. Como poderia o vigário continuar com aquilo na presença de um completo estranho?
“Garanto-lhe, Sr. Weasley”, começou Hermione a dizer, veementemente, “que não importa quantas vezes o senhor peça, a minha resposta sempre será a mesma. O senhor acha que sou alguma jovem tola que brinca com os sentimentos dos homens como se fossem troféus? Nesse caso, o senhor está pensando errado.” com um dedo soberbo, Hermione apontou na direção da porta. “Eu agradeço se o senhor deixar esta casa.”
O Sr. Weasley começou a obedecer, mas parou subitamente e encarou o estranho alto.
“E posso perguntar o que traz este cavalheiro ao seu chalé?” A voz do vigário era queixosa e emocionada. “É indecoroso da sua parte, senhor, visitar sozinho uma mulher jovem e desacompanhada como a Srta. Granger.”
O homem de olhos verdes pareceu excessivamente chocado e foi apenas então que a própria Hermione começou a se perguntar o que ele queria. Ela e Jeremy nunca recebiam visitas, a não ser umas poucas mulheres da paróquia com quem Hermione fazia obras de caridade. Quem poderia ser esse estranho tão bonito? Consternada com a proposta do Sr. Weasley, não tinha ocorrido a Hermione pensar nisso antes.
O cavalheiro estava extremamente surpreendido. “Parece que houve um engano”, disse, por fim. “Engano?”, perguntou Hermione olhando fixo para ele. O homem estava bem arrumado, coberto pelo manto de melhor qualidade que ela já tinha visto e as botas estavam bem brilhantes, tendo sido muito bem polidas. A gravata era de um branco imaculado e o nó era perfeito. Era um homem extraordinariamente atraente, mas, de súbito, Hermione começou a ver que havia algo familiar nele. Algumas coisas relativas àqueles olhos verdes…
“Estou procurando a Srta. Granger”, disse ele vagamente. “Mas a Srta. Granger que eu procuro é a tia de um certo Jeremy Potter…”
Hermione sentiu um peso súbito no meio do peito. “Sim, sou eu”, suspirou ela, e os seus ombros caíram, cansados. “O que Jeremy aprontou agora? Seja o que for, juro que nós o compensaremos. Alguém ficou ferido, senhor? O senhor não imagina o quanto eu lamento…”
“Ah, não, a senhorita não me entendeu bem.” o estranho olhou diretamente nos olhos dela, a inquietação estampada no rosto, e disse: “Creio, madame, que sou seu cunhado, Harry Potter”.
*Abrigo para pessoas incapazes de se sustentar, onde os fisicamente aptos, adultos ou crianças, eram obrigados a trabalhar
Obrigada pelos comentários de Danielle Granger Potter e Aninha Weasley .
Espero que tenham gostado do capítulo. Estou com a adaptação no capítulo 14 e eu ia postar um por dia, mas preciso saber o que vocês estão achando antes de eu postar. E também queria entender porque eu tenho 7 votos se só 3 pessoas comentaram. Certo, um é meu, mas ainda temos 3 votos sem dono... Queria que os donos aparecessem. Haha.
Bjos,
Jeh
anúncio
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!