Entre Marotos e Lírios
Cap. 03 _
Lily estava saindo-se perfeitamente, obrigada, na tarefa de manter-se afastada de Severo Snape. Não conseguia conceber a idéia de perdoá-lo, um dia, pelo que ele estava fazendo agora. Trocá-la por um tipo de gente sem escrúpulos, que nem mesmo aceitava o fato de ela ser uma bruxa? Abrir mão dela para seguir pessoas que a ofendiam?
Bom, isso só podia significar que ele nunca se importara tanto assim com ela. E, assim sendo, ela parabenizava-se imensamente por ter percebido isso antes que fosse tarde demais.
Andava evitando Thiago Potter, também, nos últimos dias. Ele também cometera um crime com o qual ela não se via muito capaz de conviver muito bem. Ainda que um crime inconsciente, fora um crime que ela não achava que iria perdoar com muita facilidade.
Ele vira seu lado fraco.
Como ela poderia conviver com o maroto, agora que ele sabia que ela tinha um lado fraco?
Infelizmente, essa tarefa estava sendo um pouco mais complicada, levando-se em consideração que Potter não via motivos para se manter afastado da ruiva. Desde a noite em que a vira chorar por Severo Snape, Thiago parecia estar mais empenhado em animá-la e em fazê-la rir. O problema era que o conceito que Thiago Potter fazia de piada era o mesmo que Lily fazia de criancice e que beirava perigosamente seu conceito de maldade.
Lílian não estava preocupada quando foi chamada à sala da profª McGonagal no início do sábado seguinte. Como monitora chefe, já fora chamada muitas vezes à sala da professora, não somente em sábados ensolarados como aqueles, mas também em domingos, feriados e terças feiras à noite. Sequer se lembrava de que naquele sábado, especificamente, dois alunos do último ano cumpririam suas detenções, por estarem fora da cama depois do horário de recolher.
Somente quando cruzou a porta e viu os topos das cabeças de cabelos negros por cima do espaldar das cadeiras é que se lembrou.
_Sim, professora? _ela anunciou sua presença, ainda parada à porta e com a mão na maçaneta, prestes a dar meia volta e sair correndo.
_Lily! _Thiago virou-se animado para ela _Meu lírio!
Lílian fechou os olhos e respirou fundo, antes de recomeçar: _Mandou me chamar?
_Sim, mandei, Evans. _e ergueu os olhos dos papéis espalhados pela escrivaninha _Potter e Snape vão cumprir suas detenções hoje. Eles vão organizar nosso arquivo de provas escritas no porão da biblioteca. Importa-se de levá-los até lá? Filch iria acompanhá-los, mas ele teve um problema com uma invasão de insetos da floresta proibida nas estufas e não acho que ele vai ficar livre tão cedo.
_Tudo bem. _ela concordou, com um ar de eficiência e fez um sinal com a mão, para que Thiago e Severo a seguissem.
_E eu gostaria que você os fiscalizasse, periodicamente. _a professora continuou enquanto os dois se levantavam _Nunca se sabe o que o Potter pode fazer em um lugar fechado.
Thiago riu e piscou para Lílian, enquanto passava pela porta. Severo tentou encara-la, mas Lily ergueu o rosto e desviou o olhar.
_Foi muita sorte termos nos livrado do Filch, não é? _Severo perguntou, tentando chamar a atenção de Lily, mas foi Thiago quem respondeu.
_Acha que foi sorte? _ele perguntou com um riso zombeteiro _Eu não acredito na palavra sorte. Acredito em oportunidades _e sorriu _Como você acha que os insetos entraram?
Lílian saiu de seu caminho e pulou a frente de Thiago, fazendo-o parar _Espera. _ela sibilou com os olhos estreitos _Você colocou os insetos nas estufas?
_Você não me deu opções, Lílian Potter. _ele cruzou os braços sobre o peito _Acha que eu não reparei que você tem me evitado?
_Evans. _Snape sibilou também. _É Evans, Potter.
_Mas como é que você pôde? _ela exclamou, com as bochechas ficando vermelhas de raiva _Você tem a mínima idéia da quantidade de plantas raras criadas naquelas estufas que você colocou em risco?
_Não subestime minha inteligência, Lírio. _ele retrucou, calmo _Eu conheço todos os tipos de insetos que moram na floresta proibida e sei quais deles seriam prejudiciais. _e revirou os olhos _Eu não sou tão sem juízo assim.
_E por falar em juízo _ela pôs uma das mãos na cintura e apontou um dedo para ele _Você disse que ia ter juízo.
_Não, eu disse que era só você me pedir para ter juízo, que eu faria isso. _e ergueu as sobrancelhas _Você não pediu, pediu?
_É assim que você acha que vai conquistá-la? Prometendo coisas que você não pode cumprir _Snape entrou repentinamente na conversa. Por alguns segundos, Thiago até mesmo esquecera que ele estava ali.
_Bom, não fui eu quem prometeu o mundo... _ele provocou.
_Como você se atreve a escutar a conversa dos outros? _Snape perguntou dando alguns passos à frente _Você está sempre tentando me ridicularizar...
_E você vai fazer o quê? _ele provocou novamente _Quer brigar comigo? _e ergueu os dois punhos e pulou no mesmo lugar, como se fosse mesmo brigar com ele _Vem, cai dentro, cai dentro...
_CHEGA! _Lílian berrou, pondo-se entre os dois e encarando-os com fúria _Estou farta de vocês! FARTA! _ambos continuaram parados no mesmo lugar, surpresos demais para falar _Agora, vejam bem, vocês vão me seguir em silêncio, vão organizar todos os arquivos por ordem de data e matéria, eu vou fiscalizar e vocês nunca mais vão chegar nem perto de mim! Fui clara?
Thiago ergueu a mão. _Posso protestar?
Lílian fulminou-o com o olhar. _Não! _e, virando-se, voltou a caminhar a passos firmes pelo corredor.
***
Ver Sírius sozinho pelos corredores da escola era quase como ver goiabada sem queijo. Thiago e ele eram tão unidos que sempre que um estava em detenção, certamente o outro estava também. Entretanto, lá estava ele, pela primeira vez desde que chegara a Hogwarts, livre em uma manhã de sábado, enquanto Thiago cumpria uma detenção.
Abriu as portas do saguão de entrada com um empurrão e o vento varreu seus cabelos negros para longe do rosto. Displicentemente, tirou um par de óculos escuros do bolso e colocou-os, enquanto descia os degraus de pedra até o gramado.
O que fazer em uma manhã tão bonita enquanto Remo estudava, Thiago praticava trabalho escravo e Pedro dormia? Normalmente, ele teria uma excelente resposta na manga: Bella.
Mas Bella não estava sendo uma companhia muito boa no momento. No entanto, ninguém poderia culpá-la. Sírius podia não entender como sua própria linha de raciocínio afastava Bella, mas só ocorrera procura-la, porque todos os outros marotos estavam ocupados. E quem, afinal, gosta de ser uma segunda opção?
Caminhou preguiçosamente até o lago e sentou-se sob uma árvore. As águas espelhadas do lago refletiam o sol e criavam um efeito de luz que Sírius poderia passar o dia todo olhando.
Mergulhou a mão no bolso das vestes procurando por algo. Encontrou o livrinho preto que procurava e abriu-o sobre a grama. Suas páginas estavam todas em branco, diferentemente de meses atrás.
O livro era encantado para se comunicar com seu gêmeo. Sírius comprara-o no beco diagonal há alguns meses e dera seu par para Bella de Natal. Fora muitíssimo útil durante as férias. Tudo que Sírius escrevia em seu livro, aparecia no livro de Bella. Tudo que ela respondia aparecia no seu. Haviam passados noites acordados conversando, enquanto seus colegas da Grifinória e da Sonserina dormiam. Haviam marcado muitos e muitos encontros noturnos na casa dos Black com os dois livrinhos.
Mas então, Sírius fugiu para a casa de Thiago e o livro se calou. Nada mais do que Sírius escrevia recebia resposta. Bella via o livro vibrar toda a noite e simplesmente recusava-se a respondê-lo. Queria ser deixada em paz. E foi o que ele fez depois de algum tempo.
O que Sírius não aprendera ainda era que nunca se deve dar a uma mulher tudo o que ela quer. Porque elas nunca sabem exatamente o que querem.
Sírius não sabia exatamente porque ainda o carregava no bolso para todo lugar que ia. Talvez imaginasse que Bella ainda ia usá-lo. Talvez esperasse por isso. Mas todas as vezes que ele o tirava do bolso, era para encarar uma série de páginas mudas e em branco.
Deitou-se de barriga na grama e puxou a varinha do bolso. Conjurou uma pena, tinta e deslizou velozmente a pena por uma das páginas.
Em seu quarto, Belatriz sentiu algo vibrando embaixo de seu colchão. Sabia o que tinha guardado ali, mas havia passado tanto tempo desde que acontecera da última vez que ela pulou surpresa da cama e tirou uma pantufa dos pés, pronta para acertar qualquer ser vivo que saísse dali.
Ergueu com cuidado o lençol e a ponta do colchão. Então viu o pequeno livro preto tremendo no mesmo lugar. Soltou a pantufa, deixando cair os ombros, em um gesto de desânimo. O quê? O que ele poderia querer agora?
Pegou o livro, sentou-se no chão e abriu-o. A letra fina de Sírius dizia que precisava falar com ela.
Falar o quê? O que ele poderia ter para explicar, depois de ter abandonado-a para viver uma vidinha de aventuras retardadas com aquele amiguinho ridículo dele? O que ele poderia querer falar depois de te-la trocado por pessoas que, ela sabia, jamais seria?
Deitou a cabeça na cama e pensou no que eles tinham juntos. Nada? Isso era tudo? Tudo o que eles tinham vivido e passado, tudo que ela tinha sentido se resumia a, basicamente, nada?
Era mais ou menos isso que ela sentia. E ela queria mais. Ela merecia mais. Era bonita, inteligente, poderosa. Ela merecia tudo. Merecia o mundo. E ela queria. Era uma garota ambiciosa, é claro que ela queria.
E o que tinha agora?
Às vezes pensava na possibilidade de Rodolfo nem gostar realmente dela. Ele gostava de exibi-la em público. Gostava de pô-la sentada em seu colo, na sala comunal, e beijar seu pescoço, enquanto todos os outros sonserinos olhavam-no com cobiça. Gostava de servir seu copo à mesa do café da manhã e puxar sua cadeira no almoço e no jantar. Era um perfeito cavalheiro. E era bonito, também. Ela não poderia reclamar. Era inteligente, educado e, o que mais lhe chamava atenção, sabia o que queria. Sabia o que queria, quando queria, e o que fazer para conseguir.
E Sírius? Bom, ela só poderia dizer que só imaginava-o puxando a cadeira para uma mulher se fosse alguma piada sem graça para derrubá-la no chão. E o que queria? Sírius não queria coisa nenhuma. No máximo, no máximo, queria um cantinho ao sol, com sombra e água fresca. Mais nada.
Mas Rodolfo era... Não sabia explicar, mas quando estavam sozinhos não era como quando estava com Sírius. Não se sentia à vontade. Achava que precisava ser uma mulher contida e astuta. E com Sírius ela podia ser ela mesma. Ele não ligava. Ele gostava de como ela era.
E Rodolfo era... Bom, ele era contido e astuto. Era frio. Pensava e calculava tudo, antes de fazer o que quer que fosse. Totalmente diferente do impetuoso Sírius Black.
Sírius era quente. Ela gostava de sentir sua pele contra a sua, à noite, porque a fazia se sentir aquecida.
Sentia falta disso.
Sentia falta dele.
Com um suspiro resignado, Bella molhou a pena no tinteiro e hesitou um segundo com a pena no ar.
No lago, Sírius sentou-se, surpreso, amassando a grama ao seu redor. A letra caprichosa de Belatriz formava duas palavras simples na imensidão branca da folha.
“Me esquece”
Sírius fechou o livro com força e zangado, como se ele tivesse o ofendido. Ora, quem ela pensava que era?
Orgulhoso, ele levantou-se e começou a marchar pelo caminho de volta ao castelo.
Talvez ele tivesse aprendido dessa vez. Ele não ia lhe dar o que ela queria.
***
Thiago tinha rinite. Ao menos era isso o que ele dizia enquanto forçava uma série de espirros forjados que ele atribuía ao excesso de pó.
Ele até chegou a pensar que ia se livrar do castigo, quando Lily voltou para sua inspeção periódica e encarou-o com um ar compadecido. _Oh, pobrezinho. _ela murmurou, e ele sorriu para Snape, enquanto ela saía da sala. Ele pensou que ela iria falar com McGonagal e tira-lo dali. Mas, quando ela voltou, trazia uma máscara cirúrgica, que ela atirou para ele com um sorriso cínico e com uma recomendação para trabalhar mais rápido.
Thiago fechou a cara, enquanto Snape morria de rir. Mas quando Lily saiu novamente, ele virou-se para o sonserino.
_Eu não riria se fosse você, sabia? _ele perguntou, com o ar tipicamente tranqüilo, bagunçando a parte de trás do cabelo enquanto falava.
_Por quê? _Severo perguntou, perdendo totalmente a vontade de rir. Aquele ar presunçoso era capaz de acabar com o dia dele.
_Porque o meu estilo é fazer piadas, Snape. Eu não ligo que ela faça piadas comigo. Eu não me sinto ofendido. _ele continuou _Eu sou vacinado contra essas coisas, não me importo. Ela pode ficar morrendo de rir às minhas custas. E quanto mais ela rir de mim, mais eu vou rir com ela.
_E acha que ela liga?
Thiago deu de ombros. _Pelo menos ela fala comigo.
Severo fulminou-o com o olhar, então se virou para uma caixa imensa, cheia de provas e voltou trabalhar.
Era verdade. Estava perdendo Lily.
Será que seu plano viraria contra ele mesmo? Será que em sua sede desesperada de ganhar Lílian de Thiago Potter, acabaria perdendo-a para ele?
Olhou-o de relance.
Não. Isso não aconteceria. Thiago não era o tipo de uma garota como Lílian Evans. Ela era inteligente, culta, educada. Não ia se misturar com gente como os Marotos. Ele sabia que não era bom o suficiente para Lily. Mas Thiago?
Bom, Thiago era pior. Thiago nem ao menos gostava de verdade dela. Ele, pelo menos, estava fazendo algo para ser alguém melhor. E ele? A única coisa que ele fazia era fazer piadas sobre os outros e esperar que seu séqüito de seguidores acéfalos risse.
_Você nunca vai conseguir. _ele falou, de repente.
_O quê? _Thiago perguntou, virando-se novamente para ele.
_Nunca vai conseguir conquista-la. _ele prosseguiu _Você não tem o que ela preza nas pessoas. Não tem um coração bom, não tem lealdade, não tem compaixão, não tem responsabilidade.
Thiago franziu as sobrancelhas e apertou os olhos. _Você nem me conhece.
_E você não a ama. _agora que ele começara, achava difícil parar _Você é uma pessoa caprichosa, que só quer provar que consegue qualquer garota que quiser.
Thiago sentiu o sangue subir à cabeça e respirou fundo para manter a calma. _Escuta aqui. _ele começou a caminhar até Severo _Eu vou perdoá-lo, só porque você tem tanto óleo no cabelo que isso deve estar afetando seu cérebro., então talvez você nem saiba o que está dizendo.
_Talvez eu saiba. _ele desafiou, empinando o queixo.
_Se eu fosse você, eu preferiria não saber. _Thiago sibilou com um tom ameaçador. Lílian confiscara sua varinha, mas ele ainda era o melhor apanhador da escola. Seis anos de quadribol tinham desenvolvido alguma coisa em seus braços e antebraços. _Eu não vou ficar aqui disputando com você quem gosta mais da Lílian, Seboso, porque não me interessa quem gosta mais dela. Interessa de quem ela gosta mais. E vamos dizer que seja você, Seboso, o que você faz com isso? O que você faz _sua voz era baixa e ele se aproximava mais _com o fato de que ela escolheu você? Você atira pela janela escolhendo andar com pessoas que ela odeia. É isso que você chama gostar dela?
_Ela odeia você! _Severo retrucou _E você não sabe do que está falando.
_Eu não sei do que estou falando?! _Thiago berrou _Eu passei sete anos da minha vida atrás da Evans. Você diz que eu só faço isso porque eu quero provar que eu quero ter qualquer garota dessa escola, mas isso é insano. Eu posso mesmo, atravessar os corredores e escolher qualquer garota do salão principal. Mas eu quero a Lily. Eu escolhi a Lily porque ela é diferente. Eu escolhi a Lily não porque ela é a única que não me quer, mas porque ela é única para mim. _eles ficaram mudos por alguns momentos _E você? _ele recomeçou _Escolheu porque ela é a única que lhe dá atenção?
Severo encarou-o com um brilho furioso no olhar. Então, desprovido de sua varinha, avançou com o punho fechado para Thiago, que desviou e derrubou uma pilha de papéis no chão.
Opa. O Seboso tinha acabado de tentar nocauteá-lo? Que bom. Ele estava mesmo morrendo de vontade de brigar com ele.
***
Se Thiago achava que tinha acordado cedo, então Remo tinha acordado de madrugada. Thiago não devia ainda nem estar sonhando em acordar e Remo já estava alojado em uma das mesas no fundo da biblioteca, estudando.
Sírius e Thiago podiam dizer o quanto quisessem que ele estava sendo ridículo e exagerado. Os exames estavam a séculos de distância. Mas Remo tinha plena consciência do tempo que tinha. Enquanto todos os outros alunos tinham quatro semanas por mês para estudar, ele tinha apenas três. E uma delas ele passava cansado demais, recuperando-se dos efeitos devastadores da lua cheia. Ele precisava tirar o prejuízo. Precisava se doar muito mais do que qualquer outro, se quisesse realmente ir bem nos NIENS.
E ele queria. Queria muito provar que ele ia, sim, apesar de tudo, chegar a algum lugar.
E a algum lugar bom.
Viu quando Lílian passou pela frente da biblioteca, conduzindo um Thiago Potter contrariado e um Severo Snape visivelmente deprimido. Viu quando alguns alunos do primeiro ano começaram a chegar, ainda empolgados com o ritmo de estudo. Coitados... Chegariam ao segundo ano esgotados.
Mas foi uma agradável surpresa quando percebeu uma pequena garota de cabelos castanhos se destacando entre eles. Tonks era obviamente uma exceção na família Black. Sírius e Bella nunca tinham gostado de estudar.
Tonks aproximou-se timidamente e largou uma braçada de livros sobre a mesa.
_Muitos deveres. _ela justificou, enquanto ele erguia os olhos _Acha que eu vou atrapalhar se ficar aqui?
Remo fez que não com a cabeça e ela se sentou.
_Posso fazer uma pergunta? _ela perguntou, depois de passar alguns minutos em silêncio, vendo-o se concentrar em sua leitura.
_Acho que isso já é uma pergunta. _ele respondeu com um sorriso _Mas eu deixo você fazer outra.
_Tem alguma coisa diferente em você. _ela murmurou, cruzando os braços sobre a mesa e debruçando-se mais para frente.
Remo ergueu as sobrancelhas. _Isso é uma afirmação.
_Eu sei... _ela voltou ao seu lugar, constrangida, como se a voz que saíra de sua boca fosse de uma outra pessoa _Mas... _ela continuou, incapaz de se conter _O que é? _Remo não sabia o que dizer. Achava que ela poderia estar desconfiando de algo, pelo seu jeito cansado, suas olheiras, os hematomas que ficavam em seus braços depois que ele se transformava _O que é essa paixão que você tem pelas coisas que o cercam? Eu nunca vi nada igual.
Remo inclinou-se na cadeira, fazendo-a ficar sobre dois pés. _Fala da escola? Dos meus estudos? _ele perguntou, ainda confuso, mas muito mais tranqüilo.
_De tudo. _ela respondeu _Você se dedica tanto a esse lugar, às outras pessoas. Aos seus amigos, até mesmo aos desconhecidos.
Remo deu de ombros. _Eu só faço pelos outros o que eu gostaria que fizessem por mim. _ele soltou a cadeira e ela bateu com um baque no assoalho _Além disso, eu sou monitor. Não faço mais do que minha obrigação ao ajudar os outros.
Tonks encarava-o com um ar encantado, apoiando o queixo na mão. _Quero ser como você um dia...
Remo sorriu. Gostava dela. Quando Sírius saiu, naquela noite, da sala comunal, deixando-a sob seus cuidados, Remo nunca imaginara que ela seria uma protegida tão agradável.
Todos os dias, depois daquela noite, Tonks juntava-se a ele quando ele estava estudando. Na maior parte do tempo, ficava em silêncio, lendo tranquilamente um livro. Às vezes ela começava a conversar sobre a escola. Sobre os professores. Falavam muito pouco sobre si mesmos, e ele gostava que as coisas fossem assim.
Identificava-se com ela. Tinha alguma coisa dele que ele via refletido nela. Não sabia exatamente o que era. Mas achou que tinha descoberto.
_Monitora? _ele perguntou ainda sorrindo _Gostaria de ser monitora?
_Hm? _ela perguntou distraída.
_Monitora, Tonks. Você disse que gostaria de ser como eu. Gostaria de ser monitora? Eu posso ajudar você. Posso ser seu patrono.
Tonks mordeu a ponta da pena por uns segundos. Nunca pensara realmente nisso. Mas gostou da idéia. Ajudar outras pessoas, ser responsável, admirada.
E o melhor de tudo: passar ainda mais tempo com Remo Lupin.
Sim, porque Ninphadora Tonks não era uma exceção à família Black. Ela não gostava de estudar coisa nenhuma.
_É... _ela concordou pensativa _Gostaria sim.
Remo abriu ainda mais o sorriso. E então voltou ao seu livro. Tonks também sorriu e começou a rabiscar as respostas de um questionário de poções em um pergaminho em branco.
Asfódelo? Não fazia a mínima idéia do que era isso.
***
Lílian encostou a orelha à porta antes de entrar. Suspirou aliviada. Estava tudo em silêncio. Eles não estavam se digladiando nem pondo fogo em pilhas de papel. Ainda bem.
Empurrou a porta silenciosamente, para verificar se os dois estavam trabalhando ou se Potter estava roncando em cima de uma mesa enquanto Snape fazia todo o trabalho.
Por um minuto não viu nenhum dos dois. Então se deu conta do que tinha acontecido.
Severo estava amarrado com pedaços de pano velhos, sentado no chão, com uma caixa de papelão enfiada na cabeça. Thiago não estava em parte alguma.
Lílian ficou estática, por alguns momentos, com a boca aberta e os olhos arregalados. Então, recuperou-se do choque e correu até ele.
_Mas o que diabos aconteceu? _ela perguntou, abaixando-se no chão e ajudando-o a se recompor. Ela tirou a caixa de papelão da sua cabeça e viu que ele estava amordaçado. Assim que retirou a mordaça, ele desatou a falar.
_Foi aquele vândalo do Potter! _ele berrou _Ele me amarrou aqui e se mandou, Lílian!
_Mas... Mas... _ela estava abismada. Aquilo superava qualquer coisa que ele já tinha feito antes _Assim, à toa?
_Ele queria fugir do castigo. _Snape protestou _Não está óbvio?
_Bom... _ela desamarrou e ajudou-o a se levantar _Para seu mais profundo azar, meu caro, isso não vai livrá-lo da sua detenção. _Severo ia falar algo, mas Lílian continuou _Mas não se preocupe, eu vou trazer seu companheiro de volta. _e, levantando-se, começou a caminhar com passos decididos pelo porão _Nem que seja amarrado. _ela acrescentou para si mesma _Ah, eu vou.
Bateu a porta com força ao passar e começou a imaginar onde Thiago poderia ter ido. Se esconder no quarto?
Não. Potter não era do tipo que se escondia.
Mordeu o lábio, pensativa.
Onde, se ela tivesse metade de um cérebro normal como Thiago Potter, ela estaria agora.
Do lado de fora, Thiago sentia o vendo assobiar em seus ouvidos e os cabelos se agitando.
Isso era vida. Não existia nada como isso no mundo. Nada se comparava ao frio na barriga que você sentia nas descidas vertiginosas, ao esforço de subir, lutando contra a força da gravidade, à sensação de que nada que existia no mundo podia lhe alcançar, porque ali, no ar, você era livre, e mais nada.
_Potter! _Thiago ouviu o grito que vinha do campo lá embaixo e fez uma careta. Não precisava olhar para baixo para ver quem era _Potter, desça daí, agora!
Com um suspiro resignado, Thiago deu meia volta na vassoura e embicou em direção ao solo. Aterrissou com um ruído fofo dos tênis e apoio-se à vassoura, despreocupado, como se não tivesse feito absolutamente nada demais.
_Mas no que raios você estava pensando?! _Lílian gritou, pondo as duas mãos na cintura _Você tem a mínima idéia do que acabou de fazer?!
_Lily, eu juro para você que ele começou. Ele tentou me agredir primeiro. _ele justificou.
_E não me venha com essa história de que “ele tentou me agredir primeiro”! _ela berrou e Thiago se encolheu _Isso não lhe dá nenhum direito de agredi-lo e de fugir do castigo!
_Se eu o agredisse e ficasse lá, você ia acabar comigo. _ele deu de ombros.
_ESSA É A JUSTIFICATIVA QUE VOCÊ TEM PARA ME DAR?! _ela berrou com ainda mais força _Você amarrou um aluno, Potter! Um aluno que não estava fazendo nada além de...
_Não estava fazendo nada? _ele interrompeu-a _Você nem estava lá para ver!
_Há! _ela riu _Eu conheço você, Potter! Não preciso ter presenciado para saber exatamente o que aconteceu.
_É isso que você pensa de mim? _ele perguntou com um ar ofendido _Então você não me conhece, mesmo. Nem um pouco.
_Ah, então você vai negar, agora, que sempre perseguiu o Severo? _ela cruzou os braços.
_Eu não usaria essas palavras. _ele retrucou _Fazem parecer que ele é só uma vítima.
_Porque ele É a vítima, Potter! _ela voltou a gritar.
_Não, não é não, mas você se recusa a ver! _ele berrou de volta _Você está sempre pronta para defendê-lo!
_Contra você, pode até ser que sim!
_Ah, então você admite? _ele perguntou, cruzando os braços sobre o peito.
_É claro que sim! Você o amordaçou e o amarrou! Você é louco, Potter!
_Você é cega! _ele gritou e aproximou-se mais.
_E você é um inconseqüente! _ela retrucou mais alto, aproximando-se mais dele, como um desafio.
_PROTECIONISTA! _ele aproximou-se ainda mais, em uma visível afronta.
_DESVAIRADO! IRRESPONSÁVEL! Você não liga para nada! Será que você não tem nada mais na sua cabeça além de quadribol e da porcaria da sua vassoura?! Será que você não consegue se importar com nada?
Seus olhos faiscaram. Thiago nunca os vira fazer isso antes. Ela parecia estalar de fúria, e aquilo o deixava fascinado.
Subitamente, ele inclinou o rosto e selou seus lábios com um beijo. Lílian parou de gritar.
_Só você, Lily. _ele murmurou, afastando-se o bastante para ela sentir sua respiração em seu rosto _Só tem você na minha cabeça, e só você me importa.
E voltou a beijá-la. E Thiago retirava o que dissera antes.
Algo se comparava, sim, ao frio na barriga de uma descida.
***
Nas:
Jack!!!!!!! Bem vinda de volta! E muito bem vinda. Espero q vc goste de martos tbm, pq escrever sem você não tem graça!!!!! Rsrsrsrsrs. Olha só q coment pekeno..... Rsrsrsrs vou fingir q nem sei o que aconteceu.... Rsrsrsrs.... mentira, moh xatu qndo acontece... Processa aí a Floreios :P
Hmmm, pensando melhor, não processa naum, pq senaum eu naum tenho onde escrever :P :P
Bjsssss
Márcio,
aaah, seu coment me deixou super feliz! Eu amo escrever, entaum ler um coment assim me deixa mais feliz do que se eu tivesse ganhado uma caixa de doces. Rsrsrsrs. Sério q foi o título. O título eu escolhi de um jeito meio estranho. É que eu tenho duas fics. A primeira se chama Quatro Faces, pq tem quatro personagens principais. A segunda A face oculta, pq um dos personagens fica meio perdido. Aí eu pensei... Bom, entaum essa aí vai ser o cubo. Pq o cubo tem Seis faces...
¬¬'
hehehehe
eu sei q naum foi a coisa maaaais genial do mundo, mas taí, rsrsrsrs. Foi o q saiu rsrsrsrsrs
Espero q tenha gostado do cap ^^
Bjssssss
Nathália, puxa, obrigada ^^
Fikei mto feliz msm!!!! Meu maior sonho eh ser escritora, entaum vc achar q tah bem escrita eh um incentivo e tanto. Vlw msm!!!
Me fala o q achou o cap, tah?
Bjssss
Bom, eh isso aí, comentem aí, tah?
Críticas, sugestões, eu sou uma pessoa fácil de ficar feliz :D
Soh comentar
;P
Bjssssss
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