Aventuras noturnas



Cap. 02_ Aventuras noturnas

Um rolo de pergaminho já escrito estendia-se da mesa redonda próxima a uma das janelas da sala da Grifinória até o chão. Lupin ainda escrevia, entretido, ainda que seus amigos, muito pouco silenciosamente, discutissem nas cadeiras ao seu lado, enquanto o dever de história da magia que deveriam estar fazendo jaziam esquecidos.

Sírius também não estava muito absorvido pela conversa. Sua cabeça estava apoiada na mão aberta e ele encarava, pensativo a janela. Thiago entretia Pedro, com uma entusiasmada demonstração de como roubara, da sala de Quadribol, o pomo de ouro que, sem querer, quebrara na última partida do ano anterior, partindo-lhe uma das asinhas. O pomo, que já havia sido substituído por outro, estava guardado em uma caixa empoeirada, em uma das últimas estantes da sala, o que, de acordo com Thiago, era um desrespeito. Para ele, o pomo fora um habilidoso rival e companheiro em todas as partidas, e ele nunca teria se tornado um apanhador tão bom se não tivesse tido um pomo tão aguçado para competir com ele. Ele jamais o deixaria ter esse fim.

Pedro encarava-o com uma expressão que beirava a adoração, enquanto ele revirava a mochila procurando seu novo tesouro.

_Este é o Smurf. _ele apresentou, segurando a pequena bolinha dourada entre os dedos _Cumprimente-o, Pedro. Ele merece todo o respeito do mundo.

Pedro riu e fingiu uma rebuscada reverência, mas no instante seguinte, Lílian desceu as escadas do dormitório feminino batendo os pés e Thiago guardou novamente o pomo na mochila. Não tinha a menor vontade do mundo de ser pego com um objeto roubado por Lily Evans.

_Boa noite, anjo. _Thiago exclamou quando ela passou por eles, olhando para trás.

_Tire, agora, seus pés do estofado, Potter. _Ela resmungou, olhando com censura para o tênis de Thiago, apoiado, displicentemente sobre o assento da poltrona.

Thiago pôs os pés de volta no chão, sem perder o bom-humor. Ou o que ele chamaria de bom-humor e Lily chamaria de sarcasmo.

_Por que o mau humor? É por que o sebosinho não dá mais atenção para você? Eu posso compensar isso, você sabe. _ele deu de ombros _Melhor do que ele.

Lílian fuzilou-o com o olhar. _Não me provoque, Potter. Não me provoque, porque falta isso _e juntou o polegar e o indicador de uma mão _para eu explodir de verdade com você. Me dê um motivo. Um motivo só, para você ver o que eu faço com você.

Thiago inclinou-se para trás, com uma expressão falsamente assustada, mas Lílian já não prestava atenção. Com passos rápidos e decididos, ela atravessou a sala e saiu pelo buraco do retrato, para sua ronda noturna.

_Você viu isso? _ele perguntou, virando-se para Sírius. Ele não respondeu. _ Hei. _Thiago chamou, mas ele continuou encarando a janela, então ele pegou uma almofada e arremessou em seu rosto.

Sírius virou-se, surpreso, com um olhar que faria Pedro sair correndo. _Perdeu a noção do perigo, é? _Thiago sorriu.

_Qual é o seu problema? _ele perguntou, apoiando os dois braços na mesa _Eu estou aqui há meia hora contando a história do Smurf e você não ouviu nem o começo.

Sírius deu um suspiro cansado, então se virou e apoiou-se, também, à mesa. _Estou preocupado com a minha prima.

_A Bela? _ Thiago perguntou, arqueando as sobrancelhas _Não me parece preocupação. Parece ciúme.

_Não estou falando da Belatriz. _ele retrucou zangado _Estou falando da Tonks.

_Quem é Tonks? _Pedro perguntou, inclinando-se mais para perto, para ouvir melhor.

_Caramba, Pedro, será que você presta mesmo atenção em tudo que nós falamos? _Thiago perguntou, arqueando as sobrancelhas.

_Bom, eu também não sabia que Tonks era sua prima quando a vi no trem. _Remo respondeu, erguendo pela primeira vez os olhos do pergaminho.

_Ela também nunca foi muito próxima à família. _Sírius justificou _Andrômeda foi praticamente expulsa quando se casou com o tal do Tonks. Ted Tonks, acho.

_E qual é o problema com ela? _Pedro perguntou, sem entender _Achei-a bem saudável.

Thiago riu. _Qual é o problema dela? _Sírius perguntou, exasperado _Ela é uma linguaruda. É um perigo a si mesma, hoje em dia.

_Entendo o que quer dizer... _Remo comentou, pensativo, coçando o queixo com a ponta da pena.

_Eu não. _Pedro retrucou.

_Ela é metamorfamaga, Pedro. _Sírius respondeu _Você estava lá, você viu.

_Sim, e daí? _ele teimou, ainda sem perceber aonde o amigo queria chegar.

_E daí que você viu na frente de quem ela disse isso? _Thiago perguntou, com calma _ Ser metamorfamaga é extremamente raro. E é... _ele procurou as palavras certas _É extremamente útil, também. Imagine o que uma pessoa pode fazer podendo trocar quantas vezes quiser de aparência.

Pedro virou-se intrigado para Sírius. _Você está com medo de que sua prima faça mau uso do poder que tem.

_Não, mas é claro que não. _ele exclamou com uma careta _Tonks é uma garotinha incrivelmente inocente. E ingênua. Eu tenho medo de que as pessoas queiram... Queiram usá-la. _Sírius olhou em volta, apreensivo, então se curvou mais para frente e baixou a voz _Você viu o jeito que eles olharam para ela?

Remo ainda mantinha uma expressão compenetrada. _Acha que o tal do Lorde sei lá o que...
_Acho. _Sírius interrompeu-o _Eu sei que eu não convivi muito com ela, mas, por Merlin, _sua expressão endureceu, e ele apertou os punhos _se eles encostarem um dedo nela...

_Relaxa, Black... _Thiago debruçou-se tranqüilo por cima do braço da cadeira e pegou a mochila. Abriu-a e tirou de dentro dela um pedaço gasto e velho de pergaminho _Nós ficamos de olho nela. _e piscou, com um sorrisinho que faria qualquer uma das meninas daquela sala pular em seus braços.

Sírius sorriu, enquanto Thiago batia no pergaminho com a varinha e varias linhas de tintas espalhavam-se por sua superfície.

_Se ela tiver herdado pelo menos um pouco do sangue de Black, por parte de Andrômeda, ela não vai gostar de ter alguém tomando conta dela.

_Ela não precisa saber que tem alguém tomando conta dela. _Thiago resmungou, procurando por seu nome no pergaminho _Aqui está. _ele exclamou, por fim, apontando para um minúsculo ponto no mapa _Como uma boa menina, na torre da Grifinória.

_Eu poderia saber disso sem o mapa. _Remo riu, apontando para uma poltrona próxima à escada. Tonks usava fones de ouvido e lia um livro.

_Mas não saberia se ela não estivesse aqui. _ele retrucou distraído, enquanto procurava outro nome no mapa _E lá vai Lily... _ele cantarolou, acompanhando o pontinho que caminhava pelo corredor do segundo andar. _Epa. _ ele exclamou, interrompendo-se, de repente, com uma expressão bem pouco amigável _Mas o que diabos ele está fazendo? _ele sibilou, enquanto olhava um pontinho chamado Severo Snape subir a escadaria até o segundo andar _Filho da... _e pulou da cadeira, marchando, com furor, até o retrato da mulher gorda.

Remo e Pedro ficaram assistindo à cena, espantados, mas Sírius meramente puxou o pergaminho para mais perto, para ver o que deixara Thiago assim.

Ah, sim. Severo. Sempre Severo Snape. O que mais poderia deixá-lo com tanta raiva. Remo comentava que deveria ir atrás dele, mas Sírius ainda encarava o pergaminho. Tinha algo ali, que simplesmente não estava no lugar. Ele acompanhava o pontinho rotulado de Thiago Potter, quando notou um outro que perambulava pelo corredor do primeiro andar: Belatriz Black.

Mas o que diabos Bela fazia fora da cama no meio da semana? Varreu o restante do pergaminho procurando por Lestrange, ou até mesmo por Malfoy, mas encontrou apenas os pontos Lílian Evans e Severo Snape finalmente se juntando um corredor acima.

Remo levantava-se para seguir o amigo. _Não, _Sírius interrompeu-o _Eu vou.

_Para ajudar a torturar o Snape? _Remo lançou-lhe um olhar descrente, com as sobrancelhas arqueadas.

_Ah, qual é? _Sírius brincou, com um ar descontraído, _Não confia em mim? Prometo que não vou fazer nada com o Seboso. É que eu acho melhor você ficar de olho na Tonks. Se eu fizer isso, ela vai perceber.

Remo ainda olhava-o em dúvida, com os olhos apertados. Por fim, voltou a sentar-se, indicando que acreditava nele. Puxou para mais perto o dever que abandonara e voltou a trabalhar nele. Sírius escorregou o mapa para dentro do bolso e saiu da sala, às pressas.

***

_Eu precisava explicar isso. _Thiago ouvia vozes sussurradas, no corredor à frente. Encostou-se a parede e tentou caminhar o mais silenciosamente que podia.

_Você tem me ignorado desde que chegamos à Hogwarts, Severo. _ele ouviu a voz de Lily sibilada e raivosa _Há semanas. O que você tem para me explicar?

_É que... _A voz de Severo parecia constrangida _Você sabe, Lily. Eles não gostam de você.

_E você se afasta de mim por isso? _ela perguntou exasperada _Você prefere eles a mim? _Thiago sorriu, imaginando a dramática Lily Evans apontando para si mesma enquanto dizia isso.

_Não, não, Lily, por Merlin. Nunca. Mas eu preciso deles por enquanto. Para ser alguém.

_Você é alguém, Severo. _ela retrucou _Você é Severo Snape.

_Alguém melhor. _ele continuou _Para você.

Thiago ouviu apreensivo a voz de Severo tornar-se mais baixa, como se ele se aproximasse dela. Achou que hora de interferir, mas quanto ia fazer a curva no corredor, uma outra pessoa surgiu pela curva oposta. Thiago encolheu-se nas sombras, desejando ter trazido a capa da invisibilidade, mas não demorou a perceber que a pessoa que surgia tinha tanto direito quanto ele de estar fora da cama naquele horário.

_Ora, ora. _ Belatriz encostara-se à parede e olhava a cena enquanto batia a varinha na palma da mão aberta _O que nossos instrutores vão dizer quanto souberem que você fugiu do dormitório para vir atrás de uma sangue ruim?

_Instrutores? _Lílian repetiu com nojo _Você só pode estar brincando.

_Ninguém falou com você, sangue sujo. _Belatriz vociferou com raiva.

Mas Lílian não estava prestando atenção. Thiago ouvia sua voz, carregada de angústia voltando para Snape. _Severo, você vai ter que escolher. Ou eles ou eu.

Belatriz riu.

_Lily, você não entende. Eu tenho que escolher eles para poder ser bom para você. _Lily bufou _Eles podem me transformar em uma pessoa forte. Como eu poderei ser bom para você se não posso nem enfrentar aquela corja de covardes, que essa escola segue como se fossem líderes? _ele resmungou com rancor _Se eu for forte, eles nunca mais vão me humilhar.

_Nunca mais diga que você está se juntando a esse tipo de gente por mim. _Lílian sibilou, com um tom de voz que lembrava muito o que ela guardava exclusivamente para os marotos _Você só está fazendo isso por si próprio.

_Não, é por você também.

_Severo, eu vou repetir tudo, tudo isso que você está dizendo. _Belatriz ameaçou _Você vai se dar muito mal por causa dessa sujeitinha de sangue imundo.

Lily cruzou os braços e virou os olhos já aguados para Severo _Você não vai nem me defender?

_Se você defendê-la, você já era. _Belatriz completou _Você sabe disso.

Snape engoliu em seco e olhou para baixo, sem dizer nada. Belatriz sorriu, satisfeita.

_Isso é uma amostra de como vai ser quando meu Lorde estiver no poder. Pessoas inferiores como você, não vão ter chances no novo mundo mágico. Você pode nos poupar trabalho, partir sua varinha e voltar para o bueiro onde sangues ruins são criados e... _Mas o que mais ela pretendia falar, ninguém chegou a saber, já que sua boca começou a ficar cheia de uma espuma branca que lembrava muito... Sabão.

_É melhor lavar a boca, Black. _Thiago surgiu na ponta do corredor, a varinha apontada para Belatriz e uma expressão tranqüila _É muito feio uma mocinha tão bonitinha falando coisas tão sujas.

Belatriz cuspiu com raiva a espuma no chão. _Traidor do próprio sangue.

Lílian sentiu como se uma chama nova se acendesse dentro de si. Ficou intimamente feliz por Thiago ter aparecido. Por alguns instantes, sentira-se como se fosse mesmo indigna de estar ali. Como se fosse realmente inferior.

A presença de Thiago a fez lembrar-se de quem era ela. Ela não era qualquer uma. Não era uma criancinha fraca, que ia ficar choramingando enquanto uma fulaninha de quinta categoria gritava-lhe ofensas. Ah, não mesmo. Ela nunca fora assim. E Thiago instigava seu lado ostensivo. Thiago a desafiava e a impelia a ser uma pessoa mais forte. Como não chegara a essa conclusão antes?

_Dou dez minutos para vocês voltarem para suas salas comunais sem uma detenção, srta. Black, Sr. Snape e Sr. Potter. _Lílian anunciou com uma voz séria e tranqüila _Cinco, se algum de vocês abrir a boca no caminho.

Thiago sorriu orgulhoso. Essa era a Lily que ele conhecia.

_Você só pensa que pode mandar em mim, Evans. Mas não pode. _Belatriz respondeu.

_Que seja, então. _Lily olhou o relógio de pulso _Cinco minutos a partir de agora.

Bela virou-se resignada, mas Severo não saiu do lugar.

_Marchando aí, ô Sebosinho. _Thiago provocou _Se o nariz fizer peso, você vai levar mais tempo do que nós dois.

Severo ameaçou avançar em Thiago, mas Lílian ergueu a voz _E se brigarem vão lavar os caldeirões do profº Slyghorn.

_Não vou, enquanto ele não for. _Thiago protestou.

_É sempre assim. _Severo reclamou _Você sempre tem que aparecer para estragar tudo.

_Estragar tudo? _Thiago riu de um modo sardônico _Você estava deixando que ela fosse ofendida, humilhada. Eu vim salva-la.

_Não preciso ser salva, ainda mais no meio da noite. Potter, cama. Agora.

_Eu estava conversando com ela. Pergunte a ela, se ela acha que precisa ser salva de mim.

_Certamente que sim. Especialmente agora, que você resolveu escolher uma companhia pior do que os ratos que vivem na tubulação. Esses seus amiguinhos ainda vão querer fazer mal a ela, Snape, e eu juro pra você, nesse dia você é um homem morto.

_Chega. _Lílian gritou _Chega. Saia daqui, Potter, antes que eu o coloque em detenção pelo resto da sua vida. _e virou-se para Snape, que deu um minúsculo sorriso esperançoso _E você... Bom, você fez sua escolha. Snape.

Severo desmoronou. Thiago virou-se para ir embora, com um sorrisinho satisfeito, quando Argo Filch, o jovem zelador da escola, surgiu na curva do corredor.

_Evans, Evans. _ele murmurou de um modo venenoso _Pegou dois alunos fora da cama e ia levá-los para os diretores de suas casas ou estava... Dando uma voltinha com eles.

Os três ficaram paralisados no meio do corredor. Thiago virou-se lentamente para Lílian como se a examinasse.

_Evans... _ele murmurou pensativo _Lílian Evans não soa bem. Lílian Potter é bem melhor.

***

Bela ainda estava suficientemente perto para ouvir Argo Filch repreendendo Lílian, Severo e Thiago. Estava morrendo de vontade de voltar escondida só para poder verificar com os próprios olhos como a Lily perfeita ia se livrar da situação. Porém, seu juízo ainda estava em perfeito estado de conservação e ela apressou-se a se afastar do corredor, livrando-se do risco de ser pega também.

Entretanto, mal chegara às escadas, quando sentiu uma mão forte segurando seu braço e puxando-a para trás de uma tapeçaria. Bela tropeçou no degrau que delimitava a passagem escondida, mas equilibrou-se antes de cair de cara no chão de concreto. Chegou a quase exclamar um grosseiro palavrão. Tomou fôlego e abriu a boca, mas a mesma mão forte tampou-a antes que ela pudesse pronunciar qualquer coisa.

_Shh, sou eu. _Sírius sussurrou, empurrando-a para mais fundo na passagem sem saída. O rosto bronzeado de Belatriz contraiu-se em um sorriso malicioso.

_Às vezes eu acho que você lê pensamentos. Como você poderia saber onde eu estava?

Sírius não respondeu. Segurou-a pelo braço novamente e empurrou-a contra a parede.

_Como você pode ser tão ridícula, Bela? _ele sibilou com raiva _O Lestrange? _seu rosto estava contraído e os olhos chamuscavam de fúria _Ele não tem caráter, é asqueroso, grosseiro...

Bela ergueu as sobrancelhas bem delineadas. _Quem está apertando meu braço e me machucando agora?

_Isso dói? _ele perguntou com um sorriso cínico _Você nem me viu bravo ainda. _e, puxando-a para perto de si, beijou-a, com um furor sôfrego de quem estava esperando muito tempo por isso.

Belatriz correspondeu ardorosamente. Enquanto as mãos fortes de Sírius deslizavam até sua cintura bem demarcada pelo robe, as suas ocupavam-se em bagunçar e amassar seus cabelos negros.

_Você não pode fazer isso. _Belatriz murmurou com um sorriso cínico bem parecido com o dele _Sou uma mocinha comprometida e de respeito agora.

Sírius riu. Não a risada calorosa que somente os marotos conheciam, mas a risada sarcástica que fazia grande parte dos que a ouviam quererem atirá-lo pela janela.

_Nos sonhos do Lestrange, só se for. _ele retrucou _Você já era minha, antes mesmo de ele sonhar em ter alguma coisa com você.

_Sua prima. _Bela rosnou _Sou sua prima, e não posso ser mais nada, além disso. Só porque aconteceu de dormirmos juntos uma vez ou duas...

_Ou o verão todo... _Sírius interrompeu-a, cruzando os braços.

_Não quer dizer que eu sou alguma coisa sua. Eu posso namorar com quem eu quiser.

Sírius balançou a cabeça, descrente. _Eu vendo minha moto se você sentir alguma coisa de verdade por aquele paspalho.

Belatriz aproximou-se novamente dele com o rosto vermelho de raiva. _Vende aquele porcaria de moto, então, Sírius. Você não entende o que é sentir alguma coisa de verdade por alguém. Você me abandonou e se mandou para a casa daquele seu amiguinho magricela e achou que eu ia ficar o resto das férias me perguntando se você ia voltar para mim?

_Isso não teve nada a ver com você Belatriz. _ele sibilou apertando novamente seu braço _Você sabe perfeitamente bem que eu estava me afastando da minha mãe e dos ideais podres que ela carrega.

_E se eu concordar com esses ideais? _ela empinou o rosto _E se eu quiser mesmo ficar com o Rodolfo?

_Dê um motivo. Um só motivo, Bela, para você querer mesmo ficar com ele.

Ela empinou mais o queixo. _Lorde Voldmort.

Sírius ficou sem reação por um segundo. Então soltou o ar em uma expressiva risada. _Isso foi tosse?

Belatriz estreitou os olhos, entediada, e pôs as mãos na cintura. _Esse seu comportamento é que vai fazer você ficar para trás na vida. O Rodolfo vai crescer muito e eu vou estar ao lado dele. Sabe por quê? Porque ele sabe de que lado ficar. Ele sabe servir quem pode dar-lhe poder.

_Se você ouvisse tudo o que está falando, tenho certeza de também acharia ridículo. _Sírius comentou com escárnio.

_Falo sério. O Rodolfo tem influência.

Sírius franziu as sobrancelhas. _Mas do que diabos você está falando?

_Que ele tem contato com as pessoas que realmente têm o futuro do mundo bruxo nas mãos, lá fora. Ele seleciona bruxos promissores em Hogwarts para se aliarem a eles. E eles confiam nele. _Os olhos de Belatriz brilhavam _E ele confia. Em mim. _e apontou com orgulho para si mesma.

_É isso, então? _Sírius perguntou arqueando as sobrancelhas _Entre eles e eu, o resultado é esse. É você namorando Rodolfo Lestrange. _Belatriz achou que era imaginação, mas, por alguns segundos, fora capaz de jurar que tinha ouvido um tom de mágoa em sua voz.

_Entre meus ideais e o meu coração, Sírius... _ela deu alguns passos vacilantes para trás _É, eu fico com eles. _e voltando-se e fazendo esvoaçar a cauda de seu robe para trás, ela saiu do lugar.

***

Tonks não estava ficando louca. Ela podia ser parcialmente xarope de vez em quando, mas tinha pleníssima certeza de que não estava ficando louca. Remo Lupin estava olhando para ela.

Ajeitou, nervosamente, os fones aos ouvidos. Cobriu totalmente o rosto com o livro. Mas, vencida pela curiosidade, baixou-o novamente. Remo Lupin a encarava com um olhar intrigado.

A verdade, é que, esporadicamente, ele erguia os olhos de seu dever para verificar o que a garota estava fazendo. Não que ele achasse que, repentinamente, ela iria sair correndo da torre da grifinória direto para os braços dos sonserinos. Mesmo porque, se ela quisesse ter feito isso em algum momento, poderia perfeitamente bem ter usado as primeiras semanas de aulas, que Sírius e Thiago haviam gasto reabastecendo seus artigos de logros e brincadeiras das Zonkos, através da passagem secreta atrás de um espelho, que levava à Hogsmeade.

Mas o comportamento da garota o intrigava. É óbvio que não ia dizer isso ao Sírius, mas não fora nem uma nem duas vezes que a flagrava andando atrás do grupo. Discretamente, é claro. Qualquer um pensaria que era mero acaso. Mas não os aguçadíssimos olhos de Remo Lupin.

Andara mesmo. Ela mesma negaria isso até o fim da vida. Mas não resistia, cada vez que os encontrava pelos corredores, à oportunidade de passar um tempo a mais somente olhando para o mais recente morador de seus sonhos. O próprio: Remo Lupin.

Não o tirara da cabeça desde o primeiro dia de aula. Muito pior. Conforme o tempo passava e ela via o dia a dia do monitor chefe, sua admiração por ele só aumentava. Nunca conhecera ninguém tão dedicado quanto ele. Ela via nos olhos dele uma paixão pelo que fazia que nenhuma outra pessoa seria capaz de superar. Ela o via sendo o último a abandonar a biblioteca nos finais de semana. Ela o via com a mochila abarrotada de livros, rindo das piadas de seu primo e daquele amigo de cabelos negros. E acima de tudo, ela via seu coração sob suas roupas e sua pele. Ela via como ele tratava os alunos de uma forma amigável e fraternal. Via como ele era atencioso e como ajudava qualquer um que tivesse problemas em alguma matéria e fosse pedir ajuda. Ela via e seu coração sentia. Já o amava.

Remo enxergava esse excêntrico costume de segui-los como carência e insegurança. Era de se imaginar. Uma garotinha, jovem, nova na escola, prima de um dos mais brilhantes e populares estudantes do ano, com poderes diferentes, que ninguém mais ali poderia ter... É claro que ela ainda não conseguira situar-se totalmente. Não sabia direito como agir, tinha receio de ser rejeitada. Talvez não tivesse feito nenhum amigo ainda. E Sírius não estava ajudando em nada. Ao invés de aproximar-se e tentar conversar com ela, entende-la, ele enterrara na cabeça a idéia de que tinha de protege-la a distância.

Péssimo primo.

Remo enrolou o pergaminho já seco, levantou-se e começou a caminhar em direção à poltrona de Tonks. A garota arregalou os olhos e olhou em volta, tentando encontrar a pessoa a quem Remo certamente estava se dirigindo. Mas seus olhos não encontram nada.

_Oi. _ele falou, sentando-se na poltrona ao seu lado. Tonks leu o que ele dizia pelo movimento dos lábios e puxou os fones do ouvido _Lembra de mim? Sou amigo do seu primo.

_Claro. _ela viu-se capaz de gaguejar, mas nada saiu além disso.

_E então, como estão indo as aulas?

Tonks sorriu encabulada e cruzou os dedos, às costas, para que conseguisse, ao menos, formular frases coerentes.

***

Lily não sabia mentir. Essa era uma coisa que decididamente ela não aprendera e que Thiago sentia-se na obrigação de ensiná-la logo que fosse possível. Como ela poderia ser namorada de um maroto se não conseguiria contar uma mentirinha para arranjar-lhe um álibi, quando ele, por exemplo, descobrisse qual era a senha da sala comunal da sonserina e explodisse uma caixa de filibusteiros lá dentro?

Mas, ainda que não mentisse Lily Evans nunca deixara, em seus sete anos de estudo em Hogwarts, de responder uma pergunta. No entanto, o máximo que ela conseguia fazer enquanto a profª. McGonagal perguntava se, afinal de contas, Lílian estava ou não levando Thiago e Severo para os diretores de suas respectivas casas, era encarar a barra das vestes, por baixo da mesa.

_Srta. Evans, nunca tivemos problemas com você antes. _a professor ª debruçou-se sobre a mesa, aproximando-se mais dela. Argo Filch esperava ansioso ao lado da porta. Severo, mais pálido do que o habitual, sentava-se do lado direito de Lily e mantinha-se quieto e pensativo. Thiago, esparramado na cadeira do lado esquerdo, bocejava cansado, enquanto a professora continuava tentando arrancar algo que fizesse sentido de sua monitora _E isso, sequer é um problema de conduta ou de disciplina. Mas vocês três estavam parados, no meio do corredor, a essa hora da noite, fazendo absolutamente nada? _ela inclinou-se para trás novamente _Acho difícil de acreditar.

Thiago chegava quase a achar graça disso tudo. Já havia aprontado todos os tipos de coisas que nem a mais aguçada imaginação poderia pensar, e nunca fora pego. Mas no dia em que, realmente, não estava fazendo nada, era flagrado. Lílian Evans era mesmo muito azarada.

O problema era que ele e Severo tinham que estar fazendo algo errado. Porque se eles não estivessem fazendo algo errado, Lílian estaria. Ela estaria parada, durante sua ronda noturna, conversando com dois estudantes fora de suas casas depois do horário de recolher. Como eles poderiam confiar em sua monitora chefe novamente, se ela permitia que os alunos perambulassem pela escola depois do horário permitido.

_Evans, _Minerva recomeçou, enérgica _a srta. ia ou não ia trazê-los até mim?

_Não, na verdade. _a ruiva respondeu e Thiago girou os olhos. Péssima mania de não mentir.

_Porque não podia. _Thiago completou com naturalidade. Lílian virou-se para ele, sem entender. Thiago sentou-se corretamente na cadeira e inclinou-se para frente _Ora, professora, eu e o seb... Digo, Snape, no corredor, no meio da noite. Justo nós dois... O que acha que estávamos fazendo?

_Não tenho nenhuma dúvida do que estavam fazendo, Sr. Potter. _ela retrucou zangada. Seus cabelos castanhos começavam a se desprender do coque e as linhas de seu rosto endureciam-se _Você dois, juntos, só pode significar briga, é isso que significa. Mas não faz o mínimo sentido minha monitora chefe acobertar isso.

_Não, professora, eu não... _Lílian começou, sacudindo a cabeça e fazendo os cabelos ruivos esvoaçarem pelos ombros, mas Thiago ergueu a voz e interrompeu-a.

_Mas ela não estava acobertando. _Thiago retrucou, como se a idéia fosse absurda _Ela estava enfeitiçada. _e virou-se para Snape, com os olhos ligeiramente mais abertos, em uma clara indicação para acompanhá-lo.

_Nós... _Severo começou hesitante _Marcamos um duelo para essa noite. Lílian apareceu, e tivemos que confundi-la.

Os olhos de Lily arregalaram-se e ela ficou olhando, surpresa de um para outro. Thiago desejou que ela parasse com isso.

_Vocês a confundiram? _ Minerva repetiu, com os olhos estreitos e descrente. _Vocês?

Thiago riu e recostou-se novamente na cadeira. _O que posso dizer? Tenho bons professores. _E piscou.

Minerva fitou-o por cima dos aros dos óculos. Lílian ficou muda e estarrecida. Por alguns segundos, ninguém falou. Por fim, Minerva deu um suspiro cansado.

_Guarde seus talentos para coisas mais úteis Potter. _e retirou os óculos _Precisaremos deles no futuro.

A professora encarava-os como se esperasse uma resposta. Como os três continuaram encarando-o como se ela não estivesse dizendo nada que fizesse muito sentido, ela suspirou novamente e mandou-os embora, não sem antes escrever em um pedaço de pergaminho as datas e horários em que Thiago e Severo cumpririam suas detenções.

Thiago deixou a sala caminhando tranqüilamente, enquanto Snape saía a sua frente quase tropeçando nas próprias vestes. Lílian levantou-se, mas ainda encarava a professora com expectativa.

_Professora, eu quero dizer que eu não queria decepcionar ninguém, eu só...

Mas Thiago voltou e cobriu sua boca com a mão. _Ainda está confusa, pobrezinha. _ele explicou, enquanto a puxava para fora _Bons sonhos, professora. _ele completou, alegremente, e trancou a porta atrás de si.

_Está louca? _ele perguntou, enquanto puxava-a pelo corredor _Ia dizer que eu menti?

_Mas é claro que eu ia dizer que você mentiu! _ela retrucou, puxando rudemente o próprio braço e soltando-se _Eu sou monitora chefe! _ela puxou a insígnia de monitora do colarinho das vestes _Acho que isso significa que eu devo manter minha índole. E não acobertar mentiras de jovens transgressores.

_Jovem transgressor? _ele repetiu, indignado _Eu menti para livrar você de uma encrenca. Você devia me agradecer.

_Se você acha que contar uma mentira é um motivo para se orgulhar de si mesmo, você só pode ser mesmo um transgressor. E se pensa que eu vou agradecer você por isso, vai dormir frustrado. _ela completou, enquanto faziam a curva no corredor.

Snape caminhava de cabeça baixa e braços cruzados.

_Severo. _Lílian chamou-o, acelerando o passo e deixando Thiago para trás. Snape virou-se e esperou que ela o alcançasse _Obrigada pelo que você fez na sala da professora McGonagal. _Thiago abriu a boca e os braços estarrecido.

_Lily, eu faria qualquer coisa por você. _Severo respondeu e Thiago bufou.

Lílian olhou para trás e censurou-o com o olhar. Então se voltou novamente e baixou a voz.

_Então largue-os.

Severo encarou-a por alguns segundos.

_Menos isso. _ ele murmurou, por fim, com o rosto contraído.

_Se essa for a resposta, Severo, esse pedido vai ser o último que vai ouvir de mim. _ela retrucou, com os olhos apertados.

_Não, não vai ser. _Ele respondeu _Mas se eu mudar a resposta, não sei se poderei atender todos seus pedidos. _ele baixou ainda mais a voz _Eu quero lhe dar o mundo, Lily. E por enquanto eu não posso.

E, virando-se, desceu as escadas em direção às masmorras.

_Está brincando? _Thiago perguntou aproximando-se _Eu minto e sou um transgressor. Ele mente e é um herói?

Lílian revirou os olhos. _Ele não mentiu. Ele acompanhou sua mentira.

_E a diferença é... ? _ele perguntou, erguendo as sobrancelhas.

_Que ele não pensou em fazer isso. Foi indução sua.

Lílian recomeçou a caminhar e ele a seguiu. _Como você é parcial, Evans!

_Não sou. _ela retrucou. _Eu sou racional, Potter.

_Ah, sim, eu vi. Se derretendo toda por causa do Sebosinho. _ele fez uma careta.

_Potter... _ela alertou, mas ele não a deixou terminar. Segurou-a pelos dois ombros e virou-a.

_Não, Lily, é verdade. _ela nunca o vira sério daquela forma _Você nutre todo esse preconceito contra mim, mas quando o assunto é ele, você se torna cega. _ela tentou se soltar, mas ele segurou-a com mais firmeza _Eu posso ser irresponsável e leviano, mas me pede para mudar, para você ver a resposta...

Os olhos da ruiva encheram-se de água. _Você ouviu?

Ele fez que sim. Lílian soltou-se finalmente de suas mãos, e enterrou o rosto em seu peito. Thiago passou um braço em volta de sua cintura e acariciou seu cabelo.

_Eu vou tomar juízo, Lily... _ele murmurou para seu cabelo _Só me fala onde vende.



Nas:

O primeiro coment a gente nunca esquece...
rsrsrsrs
Bem vindo, Márcio...
Espero que você goste da história. :D

Gente, comentaa aíí vai, sou tipo um carro. Preciso de gasolina. Bom, no caso coments são os combustíveis ;)

Me digam o que acham

Bjsss
Teh maissssss

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