Descobertas



Crec!


Em meio à escuridão, um velho elfo doméstico, de enormes orelhas e vestido em trapos, apareceu diante de seu dono, próximo aos portões da mansão Malfoy, fazendo uma mesura.


- Monstro viu a casa toda. – disse ele – A senhorita Narcissa e sua hóspede não estão em casa. – informou ele, e então acrescentou baixinho – Pobre Monstro, tendo que espionar a querida senhorita Narcissa, obrigado a servir o traidor que despedaçou o coração de minha pobre ama...


- Cale-se, Monstro. – ordenou Sirius – Volte para casa.


- Monstro vive para servir a nobre família Black. – disse o elfo, fazendo nova mesura, com o olhar cheio de ódio e desprezo, e então, com um estalido, desapareceu.


- É a nossa chance. – disse Sirius a Tonks, que o acompanhara em sua empreitada – Só temos que dar uma olhada, enquanto elas estão fora, para tentar descobrir quem é de fato essa tal Annabella.


- Como sabe o nome dela? – perguntou Tonks, surpresa.


- Zoe. – respondeu Sirius, simplesmente, e a metamorfamaga assentiu, sem maior surpresa – Bem, vamos?


- Vamos.


Como era impossível aparatar para dentro dos limites da propriedade, os dois pularam o alto muro da casa, caindo com dois baques surdos na grama bem cuidada, perto de alguns arbustos, e depois se esgueiraram em direção à casa.


- Por aqui. – indicou Tonks a Sirius – Há uma porta envidraçada, acho que é da biblioteca, é menos visível, e deve ser mais fácil de abrir.


Sirius assentiu, e os dois seguiram para o lado esquerdo da casa, onde ficava a porta envidraçada. De fato, foi fácil entrar por ali, um simples “Alorromora” foi o suficiente para que a tranca simples se abrisse, e eles pudessem entrar na casa, fechando a porta com cuidado às suas costas.


- Cuidado agora, Tonks. – alertou Sirius – Embora elas não estejam na casa, os elfos ficam o tempo todo perambulando, e não queremos que eles dêem o alarme.


Eles deram uma boa olhada pela biblioteca, e na sala de estar, mas não encontraram nada que despertasse interesse, então, sem fazer qualquer ruído – Tonks andava com o máximo de cuidado que podia, e, felizmente, não esbarrou em nada –, subiram a escada para o andar superior, para olharem nos quartos. Checaram uma pequena sala, lá em cima, e depois depararam-se com um corredor cheio de portas, onde deveriam ser os quartos. Foram abrindo as portas uma a uma, encontrando quartos intocados nas três primeiras. A porta seguinte era a do enorme quarto de Narcissa, no qual apenas se detiveram por pouco tempo, sem encontrar nada que merecesse maior atenção, a não ser as escassas cartas de Lucio Malfoy, enviadas de Azkaban, mas cujo conteúdo era, para eles, sem importância. Passaram por mais dois cômodos não utilizados, e depois chegaram ao quarto de Draco, examinado por ambos com um pouco mais de atenção, mas no qual também não encontraram nada que lhes fosse útil ou de maior interesse. Restava agora a última porta. Sirius caminhou até ela, e então hesitou, com a mão na maçaneta.


- Sirius, não podemos demorar muito... – lembrou Tonks, e Sirius assentiu com a cabeça, girando a maçaneta e abrindo a porta.


Não havia muita coisa lá dentro que, à primeira vista, denotasse que o quarto estivesse sendo utilizado, exceto pelos muitos livros espalhados por vários pontos do quarto, um suporte para tela de pintura vazio e a arrumação da cama. No entanto, ao entrar no quarto, Sirius sentiu a garganta apertar, e teve que segurar-se no batente da porta por um instante. O cheiro que vinha do quarto... era muito familiar. Na verdade, era quase idêntico a um cheiro que estaria gravado para sempre em sua memória.


- Cheiro de jasmim...


No guarda-roupas, poucas peças, quase todas negras, e mais livros. A gaveta do criado mudo estava trancada, e, mesmo depois de tentar vários feitiços diferentes, Sirius não conseguiu abri-la. Foi Tonks, mexendo mas gavetas da pequena cômoda, quem encontrou as inúmeras folhas de desenhos, da mansão, dos jardins, reproduções perfeitas de fotografias existentes na casa, e...


- Sirius? – chamou ela – É melhor dar uma olhada nisso aqui.


Ela começou a passar, um a um, desenhos que faziam parte da coleção guardada na cômoda, muitos deles parecendo terem sido amassados e depois esticados novamente, desenhos que retratavam sempre a mesma pessoa.


- Sirius... ela estava desenhando você. – disse Tonks, olhando, estupefata, para as folhas que passava às mãos do primo.


Ela tirou mais folhas de dentro da gaveta; a maioria delas retratava Sirius novamente, mas, desta vez, acompanhado por uma criança, pelas roupas, uma garotinha, que não deveria ter mais do que um ano ou um pouco mais, e que Sirius reconheceu imediatamente, em um desenho que a retratava sozinha, dormindo.


- Zoe...


Concentrados em tentar decifrar o enigma dos desenhos que haviam encontrado, nem Sirius, nem Tonks ouviram dos estalidos vindos do andar de baixo.


- Estou exausta! – disse Annabella, abaixando seu capuz, e começando a abrir a capa.


- Eu também. – disse Narcissa – Acho que vou...


Ela parou de falar ao ouvir o barulho de uma gaveta sendo aberta e depois fechada, seguida de outra, logo em seguida. As duas mulheres empunharam imediatamente as varinhas e se entreolharam.


- Fique atrás de mim, e se eu mandar que se esconda, obedeça. – disse Narcissa – Você não deve ser vista.


As duas subiram devagar a escada, o mais silenciosamente possível, e perceberam, tão logo chegaram ao corredor dos quartos, que a porta do quarto de Annabella estava entreaberta.


- Entre no meu quarto, e fique lá. – disse Narcissa – Eu vou ver o que está acontecendo.


- Não me importa se eu posso ou não ser vista. – disse Annabella, segurando-a pelo braço – Se precisar de minha ajuda, me chame.


Narcissa assentiu, e então seguiu andando, sem fazer qualquer ruído, até a porta do quarto, e espiou por ela, enxergando somente Tonks, ainda na cômoda. Acreditando que a metamorfamaga estivesse sozinha, abriu a porta e entrou, a varinha apontada para Tonks, que se virou rapidamente, e só então pôde ver Sirius, na cama, com os desenhos.


- O que estão fazendo aqui? – perguntou ela, a varinha mirando o coração de Tonks.


- Quem fez estes desenhos? – perguntou Sirius, ignorando a situação em que estavam, e a pergunta da prima.


- Saiam da minha casa agora. – ordenou Narcissa, o coração batendo acelerado. Não seria fácil tirar Sirius dali, não depois de ele ter visto aqueles desenhos. Ela estava em uma enrascada.


- Foi a sua hóspede quem desenhou isto? – perguntou Sirius, em tom mais alto e mais ríspido – Responda, Narcissa!


Do quarto de Narcissa, Annabella apurou os ouvidos ao ouvir a voz de Sirius, alta o suficiente para chegar até onde ela estava. Ela conhecia aquela voz, embora tivesse certeza de que, em seus sonhos, o dono da voz jamais dissera sequer uma palavra. Sem que pudesse sequer pensar no que estava fazendo, ela se viu deixando o quarto de Narcissa e seguindo pelo corredor até a porta de seu quarto. Ao chegar até ela e ver as pessoas dentro do cômodo, ofegou. Era ele! O homem com quem ela sonhava desde que podia se lembrar, ele estava ali, a poucos passos de distância dela. Ela poderia simplesmente entrar no quarto e...


- Você está em minha casa. – respondeu Narcissa a Sirius, as narinas inflando – Não fale comigo neste tom, Sirius.


- Onde ela está, Narcissa? – perguntou Sirius – Onde?


Annabella engoliu em seco. Narcissa mentira, ela o conhecia. Eles se conheciam. Sirius... era este o nome dele. Ela não conseguiu evitar pronunciá-lo em voz alta.


- Sirius...


Todos dentro do quarto olharam na direção da porta, mas de onde estava, Sirius não podia ver quem estava do lado de fora do cômodo. Narcissa sentiu-se gelar; ela correu rumo à porta, bloqueando a visão de Tonks e de Sirius, que levantara da cama e já dera o primeiro passo em direção à porta.


- Eu disse a você para ficar lá! – disse Narcissa, segurando Annabella pelo braço, e puxando-a para longe da porta. A morena teve apenas tempo para olhar uma última vez para o quarto, no exato instante em que Sirius saía à porta, e seus olhares se encontraram por uma fração de segundo, antes que Narcissa aparatasse, levando Annabella consigo.


- Sirius? Sirius?! – chamava Tonks, sem obter resposta – Sirius, nós precisamos sair daqui.


Mas Sirius não se moveu. Continuava estático, olhando para o ponto do corredor de onde Narcissa e a misteriosa mulher haviam aparatado, o coração batendo com tanta força que parecia que iria quebrar suas costelas.


“Por Merlin... quem é aquela mulher?” – perguntava-se ele, sem ouvir os protestos de Tonks para que fossem embora – “Se eu não tivesse visto... se não tivesse tido seu corpo em meus braços, diria... diria que era a minha Bell... Mas... isso é impossível. Ela é apenas parecida com Isabelle.” – pensava ele, como se tentasse convencer a si mesmo de que o que pensava era a realidade – “Impossível.”


Narcissa aparatou diretamente para os portões da sombria mansão ocupada por Voldemort, e, em silêncio, as duas entraram na propriedade. Foram recebidas com surpresa por Rabastan Lestrange, na presença de quem Annabella se sentia bastante desconfortável, devido à forma como o homem a olhava, e Narcissa pediu para que fossem recebidas pelo Lorde com urgência.


- Ele a viu? – perguntou Voldemort, depois que Narcissa contou-lhe o que havia acontecido na mansão Malfoy – Black viu Annabella?


- Não... quero dizer, não seu rosto. – mentiu Narcissa, implorando em pensamento para que Voldemort não usasse Legilimencia nela – Ele só a viu pelas costas, quando aparatamos.


- Annabella?


- Narcissa me disse para ficar esperando no quarto dela, mas no fim, ao ouvir os gritos eu saí à porta. – respondeu a morena, sustentando a mentira de Narcissa – Então quando ela saiu do meu quarto, correndo, somente me pegou pela mão, virando-me para a escada, de forma que ele não visse meu rosto, e então aparatamos.


Voldemort apenas assentiu com a cabeça.


- Mandei Rabastan e Rodolpho à mansão para uma averiguação, mas obviamente, eles não encontrarão nada. – disse ele – Black não é tolo para ficar lá esperando. No entanto, creio que seja melhor mantermos vocês aqui por enquanto. É preciso saber como eles descobriram a presença de Annabella em sua casa.


- Sim, milorde. – concordaram as duas mulheres.


- Você pode utilizar o quarto de Draco, Narcissa, aliás, seria bom que ambas ficassem lá.


- Sim, milorde. – repetiram as duas.


- Rabastan e Rodolpho trarão seus pertences da mansão Malfoy. – comunicou Voldemort – E você, Annabella, quero-a nos treinamentos de combate, junto com os demais. Deve estar pronta para a execução do plano. – disse ele, e Annabella assentiu – Agora vão.


As duas mulheres fizeram uma leve mesura e deixaram o aposento. Voldemort acomodou-se em sua poltrona, e Nagini deslizou até ele, erguendo a cabeça até a altura do braço da poltrona.


- Eles estão querendo ação? – perguntou Voldemort, acariciando distraidamente a cabeça da cobra – Pois em breve terão. Além de uma bela surpresa...


No andar de cima, Narcissa encarava uma Annabella furiosa. Tão logo as duas entraram no quarto que fora de Draco, a morena trancou a porta e imperturbou-a, voltando-se para a outra com uma expressão de raiva e decepção.


- Você mentiu pra mim. – acusou ela.


- Annabella, eu... – começou Narcissa, mas foi logo interrompida.


- Disse que não o conhecia, mesmo me vendo angustiada daquele jeito, mesmo vendo... como pôde?


- Eu não podia dizer nada! – defendeu-se Narcissa – Eu não posso dizer nada.


- Quem é ele? – perguntou Annabella, abruptamente.


- Annabella...


- Quem é ele, Narcissa? – insistiu a morena.


- É meu primo. – respondeu Narcissa, por fim.


- O quê?


- Sirius é meu primo. – repetiu a loura, em voz baixa.


- Seu primo? – ecoou Annabella – Mas... como... como eu o conheço?


- Eu não sei, Annabella. – mentiu Narcissa, sem olhar para ela.


- Continua mentindo! – disse a outra, mais indignada do que furiosa – Você já me conhecia? Antes que eu fosse mandada para sua casa?


- Não! Eu não sei como o conhece, Annabella, por favor, pare de fazer perguntas, eu não posso respondê-las. – disse Narcissa, nervosa.


- Eu menti para proteger você... – disse Annabella, em resposta.


- Annabella, por favor! São ordens do Lorde, eu não posso desobedecê-las. – disse Narcissa, parecendo angustiada – Não devo informar a você nada além do que ele me ordena ou permite. Por favor, esqueça isto. – pediu ela – Sirius é um inimigo, é só o que precisa saber.


- Já vi que não posso contar com você. – disse Annabella, por fim, zangada – Pois bem, darei um jeito de descobrir sem a sua ajuda.


Sentado à mesa da cozinha da Mansão Black, Sirius repassava, vez após outra, o que havia acontecido na casa de Narcissa, e seu breve encontro com aquela mulher, Annabella. A semelhança dela com Isabelle era espantosa. Não, mais do que isso, era perturbadora. Ele tentava compreender como aquilo era possível... poderia ser um truque, certamente, mas não fazia sentido, elas haviam sido pegas de surpresa, não esperavam encontrá-lo lá.


Tonks já havia ido embora, e ele estava sozinho na mansão, pensando incessantemente. Não havia como saber para onde as duas mulheres haviam ido, provavelmente estariam com Voldemort agora, e, com certeza, não retornariam para a Mansão Malfoy, sobretudo Annabella. Ele precisava encontrar uma forma de descobrir a real identidade daquela mulher e uma explicação para o fato de ela se parecer tanto com sua falecida mulher. Precisava fazer aquilo, e logo, antes que aqueles pensamentos todos o enlouquecessem.


Em Hogwarts, Harry matava tempo junto com Rony no salão comunal da Grifinória, enquanto esperava pelo retorno de Gina, que se entrincheirara na biblioteca desde cedo. Ele tinha o livro de Feitiços diante de si, mas não estava em absoluto prestando a menor atenção nas explicações que deveria estar lendo para a próxima aula. Pensava em um agradável momento passado com Gina nos jardins, poucos dias antes, em um fim de tarde abafado, e tinha uma expressão meio boba no rosto. O fato de os dois estarem saindo juntos parecia interessar a muita gente no castelo, sobretudo meninas, e sempre que eles estavam juntos em público, era possível escutar risinhos e cochichos por todos os lados. No entanto, estes momentos não vinham acontecendo com muita freqüência nos últimos dias. Com a proximidade dos N.O.M.’s de Gina, o tempo livre da garota reduziu-se drasticamente, já que ela era obrigada a seguir noite adentro, estudando e revisando os pontos mais importantes e com maior possibilidade de serem cobrados nos exames. Naquela noite, Sophie e Hermione estavam com ela na biblioteca, auxiliando a ruivinha em alguns tópicos de Poções em que ela estava tendo um pouco mais de dificuldade. Já passava das dez e meia quando as três retornaram à torre, conversando sobre algo que acontecera na biblioteca.


- Ah, por Merlin, né, Mione?! – dizia Gina – Eu lá, tentando estudar e a criatura me vem com uma pergunta daquelas?


- Desconcentrou você, né, Gi, pensar no Harry depois de horas só falando de poções e ingredientes... – brincou Sophie.


- Ah, cala a boca, Soph! – retrucou a ruivinha, meio rindo.


- O que tem eu aí? – perguntou Harry, depois que as três terminaram de entrar no salão comunal. Gina foi até ele e beijou-o; Rony olhou para o lado, como sempre fazia, e Hermione mordeu o lábio para não rir.


- E então? – insistiu Harry, depois que Gina se acomodou ao lado dele – O que vocês vinham discutindo ali?


- Romilda Vane foi até a mesa em que estávamos estudando, pra perguntar pra Gina se era verdade que você tinha um hipogrifo tatuado no peito. – contou Hermione, meio rindo. Gina revirou os olhos.


- É? – disse Harry, também meio rindo – E o que você disse a ela? – perguntou ele a Gina.


- Que era um rabo-córneo húngaro. – respondeu a ruivinha – Muito mais macho.


- Obrigado, Gi. – agradeceu Harry, rindo.


- Harry... meu pai não mandou... nenhuma mensagem? – perguntou Sophie, de repente.


- Não, Soph. – respondeu Harry – Por quê?


- Não... não é nada. – respondeu Sophie, meio alheia – É só... uma sensação.


- Sensação de quê? – perguntou Harry, empertigando-se no sofá – Aconteceu alguma coisa? Soph...


- Calma, Harry, não tem nada de errado com ele. – disse Sophie, tranqüilizando-o – É só... outra coisa.


- Ah... tá. – disse Harry, mais calmo, voltando a acomodar-se no sofá.


- Bom, eu... vou subir. – disse Sophie – Você vem, Mione?


- Vou, vou sim. – respondeu Hermione, levantando-se da poltrona onde havia sentado – Melhor você ir dormir também, Gina. – disse ela – Tem estudado muito, precisa descansar.


- Aham, eu vou daqui a pouco. – respondeu Gina, aconchegando-se mais a Harry, que a abraçou mais forte.


Sophie e Hermione então se despediram dos garotos e subiram. Sophie ainda lançou um último olhar em direção à lareira antes de desaparecer escada acima. Sentindo-se sobrar, Rony decidiu subir também.


- Bom, eu acho que... acho que também vou nessa. – anunciou ele – Vocês dois aí...


- Nem começa, Ronald. – cortou Gina – Vai dormir, vai.


- Ei, vê lá como fala comigo, Gina. – disse Rony, zangado.


- Nós só vamos ficar mais um pouco por aqui, Rony. – disse Harry, para apaziguar o amigo – Hermione está certa, Gina precisa dormir bem. Daqui a pouco eu já faço ela subir.


- Tá. – disse Rony, ainda meio emburrado – Boa noite.


- Boa noite. – respondeu o casal.


Rony subiu as escadas para o dormitório masculino, e então Gina abriu um sorriso maroto para Harry.


- Finalmente, um tempinho só nosso. – disse ela, ainda sorrindo, antes de beijá-lo.


O dia seguinte amanheceu bonito e ensolarado, o não tornou o semblante de Harry mais animado ao olhar pela janela ao acordar. Ele teria todas as aulas naquele dia, incluindo dois períodos de DCAT com Snape, o que significava que ele não poderia passar nenhum tempo com Gina aproveitando o tempo bom nos jardins.


- O pior de tudo é que amanhã eu ainda tenho aquela maldita detenção com Snape. – disse ele, mal-humorado, a Rony – Amanhã, e no sábado seguinte, e no sábado depois do sábado seguinte... – ele suspirou – E agora ele anda insinuando que, se eu não terminar todas aquelas caixas até o fim do trimestre, continuaremos no ano que vem.


- Cara!


Harry estava odiando ainda mais essas detenções com Snape porque elas consumiam o tempo, já pequeno, que ele tinha para passar com Gina, e Snape parecia não apenas saber, mas estar apreciando isto, pois adquirira o hábito de lançar alguns comentários mordazes sobre os atrativos das manhãs ensolaradas que Harry estava perdendo, enquanto cumpria a detenção nas masmorras.


Era nisso que Harry pensava, ao fim do dia, depois da aula de DCAT durante a qual Snape lhe tirara vinte pontos por uma resposta incorreta, sentado em uma das poltronas do salão comunal, quando um dos colegas do time de Quadribol apareceu à sua frente, com um pedaço de pergaminho na mão.


- Obrigado, Jaquito. – agradeceu Harry, desenrolando logo o pergaminho, que reconheceu imediatamente como sendo de Dumbledore – É do Dumbledore. – informou ele, aos amigos – Ele quer que eu vá ao escritório dele o mais rápido que puder.


Hermione arregalou os olhos; Sophie fitava Harry com um ar ao mesmo tempo preocupado e resignado.


- Você acha... acha que ele encontrou... – perguntou Rony, baixinho.


- Bem, é melhor eu ir ver, né? – disse Harry, olhando os amigos um a um.


Ele deixou a torre, e saiu correndo pelo corredor, seguindo pelo sétimo andar o mais rápido que podia, sem encontrar ninguém pelo caminho, exceto por Pirraça, que lhe jogou pedacinhos de giz, mas que logo desapareceu, dando gargalhadas das tentativas inúteis de Harry de lançar-lhe um feitiço. O garoto seguiu correndo, até que ouviu um baque e um grito, vindo de um corredor vizinho, e então parou de andar e apurou os ouvidos.


- Como é que você... se atreve a... aaaai!


Harry correu, empunhando a varinha, na direção do corredor de onde vinha o estardalhaço, virou um canto e deu de cara com a professora Trelawney esparramada no chão, enrolada em seus xales e junto com várias garrafas de xerez.


- Professora...?


Harry foi até ela, e a ajudou a levantar-se. Depois apanhou do chão os enormes óculos da professora e devolveu-os a ela, que tentava desvencilhar-se de seus muitos xales e colares.


- O que aconteceu, Professora?


- Ora, é o que eu também gostaria de saber! – respondeu ela, indignada – Eu estava andando, refletindo sobre alguns vislumbres de...


Mas Harry já não prestava mais atenção ao que ela estava dizendo. Acabara de reparar onde exatamente estavam parados; ali, à sua direita, estava a tapeçaria dos trasgos bailarinos, o que significava que à sua esquerda...


- Professora, a senhora estava tentando entrar na Sala Precisa?


- ... e os oráculos diziam que... o quê? – perguntou ela, encarando-o, atordoada.


- A Sala atrás da parede. – disse Harry – A senhora estava tentando entrar lá?


- Eu... bem... – a professora pareceu encolher-se, ficando ligeiramente esquiva – Eu não sabia que os alunos... conheciam...


- Nem todos. – interrompeu Harry – Mas a senhora gritou, como se tivesse se ferido, ou algo assim...


- Eu... bem, eu... – Trelawney ajeitou os xales ao redor de si, como se tentasse se proteger de Harry – Eu estava... eu ia depositar alguns... pertences meus na Sala...


Mesmo sem querer, Harry olhou para as garrafas no chão; Trelawney seguiu o olhar dele e corou, e o garoto voltou a fitá-la.


- E a senhora não conseguiu entrar pra escondê-los. – disse Harry. Não era uma pergunta. Ele imaginou que houvesse acontecido com ela o mesmo que acontecia a cada vez que ele tentava entrar na Sala com Malfoy lá dentro.


- Ah, eu entrei, sim. – respondeu a professora, para a surpresa de Harry – Mas já havia alguém lá dentro.


- Alguém? – ecoou o garoto – Alguém, quem? Quem estava lá dentro?


- Eu não faço idéia. – respondeu ela, parecendo um pouco assustada com a urgência na voz de Harry – Entrei na Sala, e ouvi uma voz, algo que nunca havia...


- Uma voz? – repetiu Harry – Dizendo o quê?


- Parecia... parecia estar dando... vivas.


- Vivas?


- Gritos de alegria. – confirmou ela, e Harry a fitou de olhos arregalados.


- Era homem ou mulher? – perguntou ele.


- Bem... me arrisco a dizer que era homem, jovem, pelo tom. – respondeu Trelawney.


- E parecia feliz?


- Muito feliz. – disse a bruxa, assentindo afirmativamente com a cabeça – Estava comemorando, como lhe disse. Então perguntei: “Quem está aí?”


Harry suspirou, revirando os olhos. Ela não poderia ter descoberto sem perguntar?


- E a voz respondeu quem era? – perguntou ele.


- Não. – respondeu a professora – De repente tudo ficou escuro como breu, e eu me vi sendo brutalmente arremessada para fora da Sala.


Harry fitou a parede lisa à sua esquerda. Então Malfoy conseguira, o que quer que estivesse fazendo dentro da Sala Precisa%

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