Aparatação e envenenamento

Aparatação e envenenamento



N/A: Olha só, coloquei três capítulos de uma vez só, então, quem veio direto até aqui, volte duas casas, ok?!


Fevereiro chegou a Hogwarts trazendo o fim da neve, substituída por uma chuva gelada e contínua, que deixava os jardins constantemente escorregadios e lamacentos. O início do mês foi marcado pela primeira aula de Aparatação dos alunos do sexto ano, que aconteceu no Salão Principal, devido ao mau tempo, no primeiro sábado do mês.


Quando chegaram ao Salão, os alunos perceberam no mesmo instante a ausência das mesas das Casas, removidas para liberar espaço, e a presença de um bruxo miudinho, junto aos professores Snape, McGonagall, Flitwick e Sprout – diretores das quatro Casas – que deduziram ser o instrutor de Aparatação do Ministério.


- Bom dia. – disse o bruxo do Ministério, depois que todos os alunos haviam chegado e haviam sido devidamente organizados pelos diretores de suas respectivas Casas – Meu nome é Wilkie Twicross, e eu serei seu instrutor de Aparatação nas próximas doze semanas.


Harry olhou ao redor. Hermione e Sophie estavam absolutamente concentradas, ouvindo o que o instrutor dizia – o que, aliás, era o que ele deveria estar fazendo –; Rony, que estava um pouco mais distante, com Lilá, também parecia ouvir com atenção. Entretanto, não muito distante dele, embora não próximo o bastante para que ele pudesse ouvir, Malfoy parecia discutir, aos cochichos, com Crabbe.


- ... e vocês todos devem saber que é impossível aparatar ou desaparatar dentro dos limites da escola. – o instrutor continuava falando – No entanto o diretor suspendeu este encantamento, temporariamente, e apenas no Salão Principal, para que vocês pudessem praticar. Gostaria agora que cada um de vocês se posicionasse – instruiu ele – deixando aproximadamente um metro e meio de espaço à sua frente.


Houve uma confusa movimentação entre os jovens, eles se separaram, colidiram, se empurraram e mandaram os colegas abrir distância. Os diretores das Casas andavam entre os alunos, organizando-os e interrompendo discussões. Harry aproveitou a confusão, esgueirando-se entre os colegas, desviando de onde o professor Flitwick tentava posicionar alguns alunos da Corvinal que desejavam ficar bem na frente, e, por fim, conseguindo colocar-se logo atrás de Malfoy, que continuava a discutir com Crabbe, e nem percebeu a aproximação do grifinório.


- Eu estou fazendo o que posso. – dizia ele – Mas mesmo assim está demorando mais do que eu pensei que fosse demorar.


Crabbe chegou a abrir a boca para retrucar, mas Malfoy adiantou-se a ele.


- Não interessa o que eu estou fazendo. – rosnou ele – Você e Goyle só têm que fazer o que eu mando, e ficar de olhos abertos e bico calado.


O outro preparou-se para protestar mais uma vez, mas então viu Harry, e arregalou os olhos. Malfoy percebeu sua reação e olhou para trás, dando de cara com o grifinório, que lhe encarava. Vermelho de raiva, preparou-se para dizer algo, já levando a mão à varinha, mas foi interrompido pelos professores, que mandavam todos ficarem em silêncio. Ainda com uma expressão furiosa, o sonserino voltou-se para a frente, onde o instrutor recomeçava a falar.


- Muito bem. – disse o bruxo – Agora... – ele acenou com a varinha, e apareceram no chão, diante de cada estudante, grandes aros de madeira – Vocês precisam lembrar dos três D’s fundamentais da Aparatação: Destinação, Determinação e Deliberação. Primeiro, concentrem-se na Destinação desejada – continuou ele –, no caso, o interior do seu aro. Façam isso agora.


Todos então fixaram o olhar em seus aros, tentando não pensar no que os demais faziam. Sophie estava muito séria, o olhar fixo no aro à sua frente; Hermione parecia muito nervosa, os olhos, de vez em quando correndo para um lado e outro, e Harry não conseguia se concentrar no aro, pois continuava pensando no que Malfoy estaria fazendo para precisar de vigias.


- Segundo: – disse o instrutor – focalizem sua Determinação de ocupar o espaço visualizado. Façam com que este desejo flua de sua mente para cada célula de seu corpo.


Harry olhou para o lado; Ernesto McMillan encarava seu aro com tamanha concentração, que seu rosto estava vermelho, parecendo que iria pôr um ovo a qualquer momento. Harry sufocou a risada que lhe subiu à garganta com aquele pensamento, e voltou a concentrar-se em seu aro.


- Agora, quando eu der a ordem, girem o corpo, sentindo-o penetrar o vazio, movendo-se com Deliberação. – disse o instrutor – Quando eu disser... um, dois... TRÊS!


O salão inteiro de repente encheu-se de pessoas que cambaleavam. Muitos se desequilibraram totalmente, e caíram no chão. Sophie e Hermione se mantiveram de pé porque se apoiaram uma na outra ao mesmo tempo.


- Tudo bem, tudo bem... – disse Twicross, que aparentemente não esperava nada de diferente daquilo – Por favor, acertem seus aros, e voltem à posição inicial.


Eles continuaram tentando, vez após outra, sem obter qualquer sucesso. Em uma das tentativas, porém, ouviu-se um grito, e todos se viraram para olhar; Susana Bones, da Lufa-Lufa, estava dentro de seu aro, enquanto sua perna esquerda continuava no local de partida. O professor Flitwick correu até ela; houve um estampido e uma baforada de fumaça, e então lá estava Susana, com a perna no lugar, mas completamente horrorizada.


- Estrunchamento. – disse Twicross, sem emoção – A separação casual de partes do corpo. Ocorre quando não há suficiente Determinação. – explicou ele – Vamos lá, tentem mais uma vez.


A aula durou ainda mais uma hora, durante a qual ninguém conseguiu aparatar com sucesso, mas houve mais alguns estrunchamentos. Diferentemente da reação de Susana, Sophie caiu na gargalhada quando deixou as duas pernas para trás, e Hermione ficou na dúvida entre rir e chorar ao deixar o braço direito no ponto de partida.


Durante as semanas seguintes, Harry se dedicou a vigiar Malfoy. Ele contou aos amigos sobre o que havia escutado o sonserino dizer a Crabbe, e passou a carregar o Mapa do Maroto para todo o lado, consultando-o sempre que havia uma oportunidade. No entanto, nenhuma vez viu Malfoy em qualquer lugar em que não devia estar. Embora localizasse Crabbe e Goyle andando sozinhos pelo castelo com mais freqüência do que de costume, às vezes ficando parados em corredores vazios por longos períodos de tempo. Nessas ocasiões, Malfoy não estava por perto, e, na verdade, Harry sequer conseguia localizá-lo no Mapa. Chegou a cogitar a possibilidade de o sonserino estar saindo dos limites da escola, mas logo descartou a idéia, depois que Sophie acabou por convencê-lo de que não era provável, devido às rigorosas medidas de segurança em vigor no castelo.


O restante do mês de fevereiro transcorreu sem maiores acontecimentos. O tempo continuava ruim, mas agora, além da chuva, ventava bastante também. Para indignação geral, e sobretudo de Rony, um aviso foi afixado nos murais de todos os salões comunais: o próximo passeio em Hogsmeade, marcado para os primeiros dias de março, havia sido cancelado.


- Era no dia do meu aniversário! – reclamou Rony, zangado – Eu estava esperando por isso!


- Bem, não é lá uma grande surpresa, Rony. – comentou Sophie – Depois do que aconteceu com Katie...


- É, e todos os desaparecimentos que o Profeta vem noticiando ultimamente... – acrescentou Hermione.


- Bem, eu vou até o corujal. – disse Sophie, levantando-se – Tenho que avisar o Fred que o passeio foi cancelado, ele ia encontrar comigo.


- Eu vou com você, Soph. – disse Hermione, levantando também, e as duas então deixaram o salão comunal. Desceram as escadas, conversando sobre o cancelamento do passeio, e quando puseram os pés no último degrau, foram praticamente atropeladas pela professora McGonagall e Madame Pomfrey, que passaram andando muito rápido em direção às masmorras.


- Saiam da frente, por favor! – pedia a professora Minerva - Saiam da frente!


- O que será que houve? – perguntou Hermione.


- Não sei. – disse Sophie – Mas pelo jeito foi grave.


Mais tarde, as duas, assim como todos os demais alunos foram informados sobre o que havia acontecido. A professora Sprout havia sido vítima de uma tentativa de envenenamento, enquanto tomava uma bebida com o professor Slughorn, na sala dele, perto das masmorras. Slughorn, por sinal, sequer apareceu na hora do jantar, por ter ficado bastante abalado com o acontecido.


- Quer dizer que o veneno estava na garrafa? – perguntou Rony.


- Aham. – confirmou Harry – Slughorn serviu hidromel para ele e para a professora Sprout, mas antes que ele pudesse beber, parece que alguém bateu à porta e ele foi atender. – contou ele – Daí ouviu o barulho da taça caindo no chão, e quando foi ver o que tnha acontecido, encontrou Sprout no chão, revirando os olhos e começando a ficar roxa. Por sorte o bezoar que eu entreguei a ele na aula sobre antídotos estava em uma gaveta na mesa dele.


- Cara, Sprout envenenada!


- Eu acho que era pro Slug. – disse Gina – Sprout foi só um... acidente de percurso.


- Mas quem ia querer matar Slughorn? – perguntou Hermione.


- Dumbledore acha que Voldemort queria o apoio de Slughorn. – contou Harry, lembrando de uma conversa que tivera com o diretor – Talvez ele pense que Slughorn pode ajudar Dumbledore contra ele, e queira tirá-lo do caminho.


- É uma possibilidade. – concordou Sophie – Mas eu ouvi outra coisa por aí. – disse ela, e todos entenderam imediatamente como ela havia ouvido – Parece que o hidromel tinha sido comprado pelo Slughorn para dar de presente ao professor Dumbledore.


- Dumbledore?! – ecoou Harry.


- Agora as coisas fazem um pouco mais de sentido. – comentou Gina.


- Quer dizer que aquilo era pro professor Dumbledore? – perguntou Harry, e Sophie acenou com a cabeça.


- Eu só sei de uma coisa. – disse Hermione – Esse acidente, e o da Katie... pra mim, eles têm alguma ligação.


- Como assim, Mione? – perguntou Gina.


- Bom, os dois deveriam ter sido fatais, e só não foram por pura sorte. – explicou a garota – E também, nem o colar, nem o veneno parecem ter atingido a pessoa que deveriam matar, o que me faz pensar que o autor disso tudo é ainda mais perigoso, já que não tá nem aí pra quantas pessoas vai machucar até chegar ao seu alvo.


- E o que é pior, Mione – disse Sophie –, que ele ainda vai machucar mais gente enquanto não conseguir o que quer.


Depois dessa observação agourenta de Sophie, ninguém disse mais nada a respeito do ataque, embora estivessem todos ainda pensando no que acontecera, e nas palavras das duas garotas. Harry então olhou para Sophie; ela olhava na direção da mesa da Sonserina, e tinha o olhar desfocado, parecendo ver algo que ele não podia enxergar.


- Soph? – chamou ele, e os demais também passaram a observar a garota, que respirava rápido, parecendo aflita – Sophie?


Sophie estava vendo uma figura encapuzada, mas que tinha formas femininas. Ela tinha a varinha apontada para Sirius, enquanto outra varinha estava apontada para ela, e lampejos verdes, vermelhos e azuis riscavam a escuridão ao redor dos dois.


Pai... ajude ela... salve ela... ela não sabe o que está fazendo, ele a está usando. Ela precisa de você, precisa de nós... encontre ela, salve ela!”


- Soph? – chamava Harry, nervoso. Muitos alunos olhavam para Sophie – Sophie?!


- Quê? – fez a garota, os olhos voltando a ter foco – O que houve?


- Você. – respondeu Harry – Parecia numa espécie de transe...


- O que eu disse? – perguntou a garota.


- Chamou por Sirius. – respondeu Hermione. – Pedia pra ele ajudar alguém, uma mulher... é a mulher dos seus sonhos?


- Eu não consigo ver o rosto dela, mas sei ela precisa dele, de nós dois. – disse Sophie, aflita, os olhos cheios de lágrimas – Eu preciso encontrá-la, ou isso vai me enlouquecer!


Longe dali, próximo aos portões da Mansão Malfoy, duas pessoas espiavam para os jardins da imponente casa. Tonks estava escondida junto com Emmeline, esperando.


- Tem certeza que ela vai sair, Emmeline? – perguntou a metamorfamaga.


- Absoluta. Ela sempre sai. – respondeu Emmeline – Espera só mais um pouco.


- Quero ver essa mulher mist...


- Shhh! – fez Emmeline, o indicador sobre os lábios – Lá vem ela.


Uma figura esguia, vestida com uma capa preta e capuz, saía pela porta da frente da mansão, fechando a porta com cuidado atrás de si. A luz da lua refletiu no rosto pálido da mulher, que olhou rapidamente em todas as direções antes de se afastar da porta, devagar. Emmeline e Tonks se esgueiraram mais para perto do portão, para terem uma visão melhor da mulher, que havia abaixado o capuz, revelando longos cabelos escuros, e agora caminhava devagar pelo jardim. Viram-na conjurar um banco daqueles de jardim, e sentar-se nele, abraçada aos joelhos, mas ela estava muito longe, e de costas para as duas espiãs, de modo que elas não podiam ver seu rosto, que ela mantia erguido para o céu. Tonks tentou mudar de posição, de modo a enxergar melhor a mulher no jardim, mas acabou prendendo o pé em uma raiz de arbusto e caindo. Ao ouvir o som abafado vindo de perto do portão, Annabella virou-se rapidamente na direção de onde o ruído viera, sacando a varinha. Não conseguiu ver ninguém, mas mesmo assim, recolocou o capuz, e, depois de fazer o banco desaparecer, entrou rapidamente de volta na mansão.


- Ah, droga! – resmungou Tonks – Foi mal, Emmeline. Emmeline?


Mas Emmeline não respondeu. Continuava parada, encarando a porta da Mansão Malfoy com uma expressão de espanto e incredulidade. Quando a mulher no jardim olhou para os portões, ela pôde ter um vislumbre de seu rosto, e o que viu foi algo absolutamente impossível de acreditar.


- Não é possível...


- Emmeline? – chamou Tonks mais uma vez – Emmeline, o que houve?


- Hã? – fez Emmeline, confusa – Tonks? O que disse?


- Você, parecia que tinha visto um fantasma.


"E eu vi..." – pensou Emmeline, voltando a fitar a porta fechada da mansão.


- Não foi nada, eu só... – ela parou por um instante – vamos embora. Ela não vai voltar mais.


"Merlin! Parecia ela, mas... não é possível!" – pensava ela, enquanto as duas se afastavam dos portões da mansão – "Eu a vi morta. O que está acontecendo? O que Sirius fará quando vir isto?"


Os dias continuavam se passando com a mesma regularidade de sempre. Após alguns dias sob os cuidados de Madame Pomfrey, a professora Sprout pôde voltar às suas atividades normais, e as aulas de Herbologia, suspensas durante o período em que ela estivera ausente, voltaram a ser ministradas. 


As notícias que chegavam de fora do castelo, por outro lado, não eram nada agradáveis. Muitos bruxos vinham desaparecendo, e destes, alguns foram encontrados, mais tarde, mortos ou então debilitados física e mentalmente, por terem sido vítimas de tortura. Em Hogwarts, as aulas de Aparatação continuavam difíceis como sempre, embora Hermione, Sophie e mais dois alunos da Corvinal e um da Sonserina já houvessem conseguido aparatar corretamente dentro de seus aros sem se estruncharem.  


Harry continuava vigiando Malfoy obstinadamente, mas não o havia visto em nenhuma atitude suspeita. Por outro lado, via Crabbe e Goyle no Mapa do Maroto com freqüência, parados em corredores desertos, longe do salão comunal da Sonserina, mas nas vezes em que foi verificar com os próprios olhos, não encontrou nem sinal dos dois brutamontes, e sim pequenos alunos e alunas da Sonserina, que se assustavam sempre que o viam entrar no corredor, deixando escapar gritinhos ou derrubando no chão o que quer que estivessem segurando. 


Ainda em março, aconteceu o jogo Grifinória x Corvinal, pelo campeonato de Quadribol, no qual o time liderado por Harry ganhou por um placar apertado. Gina parecera bastante irritada durante o jogo, tendo cometido várias faltas, e Harry percebeu que Dino também não parecia muito feliz, perdendo várias chances de gol. 


- Eles brigaram, hoje mais cedo. – contou Hermione, quando Harry comentou o assunto, mais tarde, no salão comunal. O garoto sentiu algo se mover dentro dele, algo muito parecido com... esperança? 


- É? – perguntou ele, tentando não parecer muito interessado – Por quê? 


- Parece que ele andou tendo umas crises de ciúmes – contou a garota –, e você sabe como a Gina detesta que tentem controlar ela. 


- É, eu sei. – concordou Harry. Ele realmente conhecia bem o temperamento da ruivinha. Os dois então viram Lilá Brown entrar no salão comunal, parecendo chateada e um pouco brava. Logo em seguida entrou Rony, com uma expressão não muito melhor no rosto. 


- Aí, Harry, pra você. – disse ele, jogando um pergaminho enrolado na direção do amigo, e caindo em uma das poltronas. 


- Que cara é essa, Rony? – perguntou Sophie. 


- A Lilá. – respondeu o ruivo – Ficou toda brava porque eu disse pra ela que não ia usar o presente que ela me deu de aniversário. 


- Que presente? – perguntou a garota, e Harry reprimiu uma risada. Ele lembrava do presente, um colar dourado que tinha um pingente com a expressão “Meu namorado”


- Ah, um troço, lá. – disse Rony, disfarçando. 


- Hmm... 


- Bom, eu vou subir. – disse Hermione, levantando-se. Pareceu a Harry ver no olhar dela uma animação que não estava ali, minutos atrás – Você vem, Soph? 


- Ah, vou sim. – disse Sophie, levantando também – Até depois, meninos. 


- Até depois. – respondeu Harry, enquanto Rony apenas deu um grunhido. 


O pergaminho que Rony trouxera era, e Harry sabia disso no instante em que o viu, o chamado para sua próxima aula com Dumbledore, que seria no dia seguinte, às oito horas da noite, como de costume. Mas desta vez Harry não ficou tão animado com a perspectiva do encontro com o diretor. Com os pensamentos divididos entre o Quadribol, Gina, e a obsessiva vigilância sobre Malfoy, havia abandonado qualquer pensamento sobre a tarefa designada a ele por Dumbledore.


Foi com as entranhas se contorcendo de vergonha e remorso que ele entrou no gabinete do diretor, às oito horas da noite seguinte, e sentou-se na cadeira em frente à escrivaninha, ficando a observar as próprias mãos, enquanto esperava que Dumbledore começasse a falar. 


- Em nosso último encontro, eu lhe pedi que cumprisse uma tarefa, Harry, uma tarefa de vital importância para nossos... estudos. – disse o diretor – Você fez isto? 


- Ahn... eu... – começou Harry, sentindo a atenção de Dumbledore, e dos antigos diretores, que como sempre, fingiam dormir em suas molduras, pesar sobre seus ombros – eu... falei com... com o professor Slughorn sobre a lembrança, mas... ele não quis me dar. 


- E você tem certeza de que fez tudo o que estava ao seu alcance para tentar convencê-lo a lhe entregar a lembrança? – perguntou Dumbledore. 


- Ahn... não, senhor. – confessou Harry. 


- Harry, eu acredito ter deixado clara a importância daquela lembrança. – disse o diretor – Como eu lhe disse, na ocasião em que lhe pedi que tentasse obtê-la, ela é um ponto crucial em nossa exploração, e sem ela estaremos perdendo nosso tempo nestes encontros. 


- Professor... senhor, não é que eu não tenha dado importância – disse Harry, sem conseguir encarar Dumbledore. Estava profundamente envergonhado –, é só que... eu tinha... outras...  


- Outras coisas na cabeça. – concluiu Dumbledore por ele – Entendo. 


A voz calma e a aparente compreensão do diretor fizeram com que Harry se sentisse ainda pior, e mais envergonhado. Durante alguns instantes, ambos ficaram no silêncio mais constrangedor que Harry já vivenciara, silêncio que era rompido apenas pelos roncos do professor Dippet, em seu retrato. Depois de algum tempo fitando o tampo da escrivaninha, Harry finalmente voltou a falar. 


- Me desculpe, Professor. – pediu ele – Eu devia ter me esforçado mais, devia ter entendido que se o senhor me pediu para fazer isso, é por que era realmente importante.


- Que bom que agora compreendeu, Harry. – disse Dumbledore – Posso então esperar que, de agora em diante, você se dedicará à tarefa que lhe dei? – perguntou ele – Não terá sentido nos reunirmos depois dessa noite, a não ser que tenhamos aquela lembrança.


- Pode sim, senhor. – disse Harry, honestamente – Vou conseguir a lembrança.


- Ótimo. – disse Dumbledore,satisfeito – Então, agora, vamos continuar de onde paramos. Você se lembra onde foi?


- Sim, senhor. – confirmou Harry – Voldemort matou o pai e os avós trouxas, fazendo a culpa recair em Franco Bryce, para os trouxas, e em seu tio, Morfino Gaunt, para os bruxos. Depois – continuou ele –, voltou a Hogwarts e perguntou... perguntou ao professor Slughorn sobre Horcruxes.


- Muito bem. – disse Dumbledore – Agora, Harry, você se lembra, eu espero, que eu lhe disse, no início de nossos encontros, que em determinado ponto passaríamos para o terreno da dedução e da especulação?


- Sim, senhor.


- Bem, este é o momento. Até aqui lhe mostrei fontes razoavelmente seguras para minhas deduções sobre os passos de Voldemort até os dezessete anos. – disse o diretor, e Harry concordou com a cabeça – Agora as coisas se tornam um pouco mais obscuras. Se descobrir coisas sobre o garoto Riddle foi difícil, encontrar quem se disponha a lembrar do homem Voldemort tem sido quase impossível. Ele foi sempre muito cuidadoso, mantendo suas atividades em segredo absoluto.


Harry voltou a assentir com a cabeça.


- Ainda assim – continuou Dumbledore –, tenho duas últimas lembranças que gostaria de mostrar a você. Depois, gostaria de saber se você concordará com as conclusões as quais cheguei.


Harry observou Dumbledore apanhar um dos dois frasquinhos de cristal que estavam sobre a escrivaninha, ao lado da Penseira, e examina-lo contra a luz.


- Espero que ainda não tenha se cansado de visitar as lembranças de outras pessoas, Harry, porque as duas que tenho para lhe mostrar hoje são bastante interessantes. – disse Dumbledore – Mas antes que passemos a elas, preciso resumir rapidamente como foi a saída de Lorde Voldemort de Hogwarts. Ele concluiu seus estudos, tendo obtido nota máxima em todos os exames que prestou. Era esperado dele feitos incríveis, e foi uma enorme surpresa para todos a notícia de que, pouco depois de deixar a escola, ele estava trabalhando como balconista na Borgin & Burkes.


- Na Borgin & Burkes? – ecoou Harry.


- Na Borgin & Burkes. – confirmou Dumbledore – Creio que você seja capaz de entender os atrativos que o lugar oferecia a ele depois que virmos a primeira lembrança, além do que, você conhece bem o tipo de negócios realizados por lá. – disse ele, e Harry assentiu – Mas a Borgin & Burkes não foi sua primeira opção de emprego. Poucas pessoas, entre elas, eu, sabem que Voldemort procurou o professor Dippet, pouco depois de deixar Hogwarts, e perguntou se poderia permanecer na escola, como professor.


- O quê? – perguntou Harry, dando um salto na cadeira – Ele queria ensinar... aqui?


- Não creio que fosse de fato o emprego o que o atraía a ficar. – disse Dumbledore – Mas tenho algumas teorias sobre seus reais motivos para tal. Primeiro, e o mais importante, creio que ele era mais apegado à escola do que jamais foi a qualquer pessoa. Hogwarts foi o lugar onde ele foi mais feliz, e onde, pela primeira e única vez, ele se sentiu em casa.


Harry se mexeu na cadeira, incomodado com as palavras do diretor, pois elas também descreviam exatamente como ele se sentia em relação a Hogwarts, e isso denotava mais uma semelhança entre ele e Voldemort.


- Segundo – prosseguiu Dumbledore –, o castelo é um reduto de magia muito antiga e poderosa, e ele, mais do que qualquer outro aluno que já tenha passado por aqui, foi capaz de perceber as inúmeras possibilidades de explorar os mistérios e fontes de magia que aqui existem, muitas jamais antes exploradas. E, finalmente, como professor ele poderia exercer poder e influência sobre seus alunos, jovens bruxos e bruxas em formação, e creio que tenha pensado nisto ao ver como o professor Slughorn, com quem era mais afinado, o fazia. Acredito que ele viu na escola um valioso campo de recrutamento.


- Mas ele não conseguiu o emprego?


- Não. O professor Dippet lhe disse que era muito jovem aos dezoito anos, mas convidou-o a se candidatar novamente, em alguns anos, caso ainda desejasse ensinar. – contou Dumbledore – Não preciso mencionar que ele ficou muito contrafeito com a negação do professor Dippet, que devo confessar, teve uma grande influência minha, mas aceitou a decisão de forma bastante pacífica.


- Qual o cargo que ele queria, Professor? – perguntou Harry, embora já soubesse a resposta antes que Dumbledore a desse.


- Defesa Contra as Artes das Trevas. – disse o diretor – Então, como não obteve sucesso em sua tentativa, ele foi para a Borgin & Burkes. Entretanto, ele não era apenas um mero balconista. Educado, bonito e inteligente, ele logo foi encarregado de tarefas que só existem em lugares como a Borgin & Burkes. Ele era aquele que persuadia as pessoas a cederem seus tesouros para venda, e, segundo dizem, era muito bom nisso.


- Aposto que era.


- Eu também. – disse Dumbledore – E agora chegou a hora de visitarmos a primeira lembrança de hoje, Harry. Ela pertence a uma velha elfo-doméstica chamada Hóquei, que trabalhava para uma bruxa muito velha e rica chamada Hepzibá Smith.


Dumbledore tocou com a varinha no frasquinho de cristal, e a rolha saltou. Ele então despejou a lembrança na Penseira.


- Primeiro você, Harry.


E os dois mergulharam então na Penseira para explorar mais aquela lembrança.


Na mansão Malfoy, Annabella estava trabalhando febrilmente em uma sala, no andar de cima da enorme casa. Ela havia recebido ordens diretas do Lorde, para preparar caldeirões de inúmeras poções, todas com o máximo de urgência, e Narcissa fora incumbida de auxiliá-la em tudo o que precisasse.


- Por favor, Narcissa, pese para mim mais pó de chifre de bicórnio, e também meça um pouco de essência de mirtilo.


- Sim, Annabella. – respondeu Narcissa, apanhando um frasquinho com o ingrediente pedido.


- Preciso cuidar desse caldeirão aqui. Estamos nas últimas horas de cozimento, e um segundo de distração pode pôr toda a poção a perder.


Enquanto Narcissa seguia as instruções que lhe foram dadas, Annabella tirou uma amostra da poção para ver quanto ainda faltava para aprontar. O líquido transparente, parecido com água, cintilou à luz fraca da sala. Voldemort havia solicitado uma quantidade enorme de Veritasserum para os interrogatórios que vinha conduzindo com os bruxos que capturava.


- Mais alguns minutos e estará pronta. – disse Annabella, satisfeita – Por favor, quando terminar aí, separe os frascos para acondicioná-la.


- Sim, Annabella. – repetiu Narcissa – Acho que a poção Polissuco também já pode ser colocada nos frascos, não?


- Ah, sim, sim. – concordou Annabella – Faça isso para mim, sim?


De volta a Hogwarts, Harry estava sentado diante de Dumbledore, no escritório do diretor, ainda estupefato com o que acabara de ver.


- Então ele voltou. – disse Harry – Ele realmente voltou. Por quê?


Ele e Dumbledore haviam acabado de retornar da segunda lembrança daquela noite, que pertencia do próprio diretor, e que era de uma conversa que ele tivera com Voldemort, quando já era diretor da escola, anos atrás.


- Tenho apenas algumas idéias sobre seus motivos para isso. – disse Dumbledore, levantando-se de sua cadeira.


- Que idéias, senhor?


- Contarei a você quando tiver recuperado a lembrança do professor Slughorn. – disse o diretor – Acredito que ela seja a última peça do quebra-cabeça, Harry, e que com ela tudo ficará mais claro, ou pelo menos assim espero.


Os dois se encaminharam para a porta, que Dumbledore manteve aberta para que Harry passasse, mas o garoto ainda tinha uma última pergunta a fazer.


- Ele queria o cargo de Defesa Contra as Artes das Trevas novamente, Professor? – perguntou ele – No fim ele não disse...


- Ah, sim, sem a menor dúvida. – confirmou Dumbledore – O que, na verdade, é bem fácil de perceber, Harry. Observe que nós nunca mais conseguimos manter um professor de Defesa Contra as Artes das Trevas por mais de um ano desde que recusei o cargo a Lorde Voldemort.

N/A: geente, eu tô muito atrasada com vocês! Mas é que tô mega sem tempo pra postar. Espero que vocês gostem dos capítulos que postei, e que eu possa voltar logo com os próximos. =*

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