A lembrança relutante

A lembrança relutante



Dois dias depois do Ano Novo, Harry e Rony deixaram A Toca, via Flu – o Sr. Weasley conseguira no Ministério uma autorização para ligar a lareira à Rede do Flu, para que os meninos pudessem retornar de forma rápida e segura a Hogwarts. Depois de uma despedida cheia de recomendações e lágrimas, por parte da Sra. Weasley, os dois entraram na lareira, um após o outro, indo parar, depois de rodopiar velozmente pela Rede, na lareira da sala da professora McGonagall.


- Boa noite, senhores. – disse a bruxa, sem erguer os olhos do pergaminho à sua frente – Por favor, tentem não sujar muito o tapete.


- Sim, senhora.


Os dois, então, com os malões flutuando à sua frente, e pisando na ponta dos pés, deixaram a sala, rumando para a torre da Grifinória.


- Ramos de visgo. – disse Harry, quando os dois alcançaram o retrato da Mulher Gorda.


- Errado. – respondeu a pintura.


- O quê? – perguntou Rony – Como assim.


- A senha está errada. – repetiu a Mulher Gorda.


- Mas como é que me mudam a senha no meio dos feriados? – perguntou o ruivo, indignado – Eu...


- Harry! Rony!


Os dois olharam para a ponta do corredor, de onde viera a voz. Gina, Hermione e Sophie vinham andando rápido em sua direção, os rostos corados pelo frio. Quando elas estavam mais perto, Harry percebeu que, tanto Gina quanto Sophie, que eram bem branquinhas, tinham a pele do rosto levemente dourada, e Hermione exibia um bonito bronzeado, além de um largo sorriso. Rony a observava, mesmerizado, e era totalmente ignorado em resposta.


- Oi, meninos! – cumprimentou Sophie – Como passaram os feriados?


- Bem. – respondeu Harry, depois de receber abraços das três. Hermione não se aproximou de Rony – Tivemos algumas surpresas, mas, fora isso, tudo tranqüilo...


- É, Rufo Scrimgeour esteve lá em casa, atrás do Harry... – contou Rony, ainda sem conseguir tirar os olhos de Hermione, que continuava a ignorá-lo solenemente.


- Vamos entrar? – sugeriu ela a Harry – É melhor do que conversar aqui, no corredor.


- É. – concordou Gina – Tá frio aqui! Os meninos podem largar os malões, e a gente conversa sentados, no quentinho da lareira.


- Não sabemos a senha. – reclamou Harry, que também havia ficado encantado com a ruivinha.


- Ah, é mandrágora. – disse Sophie.


- Correto. – disse a Mulher Gorda, girando o retrato para que eles entrassem.


- Ah, Harry – fez Sophie, depois que eles entraram –, isto é para você. – disse ela, entregando a Harry um pergaminho enrolado, lacrado com o selo da escola.


- Deve ser a data da próxima aula! – disse Harry, abrindo o pergaminho imediatamente, e encontrando de fato, o chamado para seu próximo encontro com Dumbledore.


- Rony!


O grupo mal teve tempo de se virar para verificar a origem da voz. Em um segundo, Lilá Brown já estava pendurada no pescoço de Rony, fazendo com que se ouvissem risinhos por todo o salão comunal, e os olhares de Harry, Gina e Sophie se voltassem imediatamente para Hermione, que apenas respirou fundo, abrindo um sorriso bastante convincente.


- Bem, vai logo largar o seu malão, Harry. – disse ela, fingindo não estar vendo o agarramento do casal – Temos um monte de coisas pra contar pra você, a viagem foi incrível, não foi, Gina?


- É, foi sim. – concordou a ruivinha, entendendo a deixa para a mudança de assunto.


- É, eu também tenho bastante coisas pra contar pra vocês. – disse Harry – Vou lá em cima e já volto.


- Gina!


Harry, que já colocara o pé no primeiro degrau da escada do dormitório, virou-se na direção da entrada do salão comunal. Dino Thomas havia acabado de passar pelo retrato, e ia na direção de onde Gina estava junto com as meninas.


- Oi, Dino! – disse a ruivinha, e Harry deu as costas aos dois, subindo as escadas para não ter que ver o beijo que se seguiu.


Ele foi até o dormitório, onde deixou seu malão aos pés da cama, e depois voltou ao salão comunal, encontrando apenas Sophie e Hermione, em uma das pequenas mesas de estudos, Hermione, sentada de costas para a lareira, onde, em uma das poltronas, Rony e Lilá estavam matando a saudade de forma calorosa.


- ... e ele ficou me encarando de um jeito esquisito... – dizia Sophie a Hermione.


- Eu vi. – disse a outra.


Elas falavam de Malfoy, que, quando encontrou com as duas, em um corredor perto da biblioteca, ficara encarando Sophie ostensivamente, com uma expressão ao mesmo tempo pensativa, e meio irritada, tendo mandado-a ir para o inferno, quando a garota, também irritada com a atitude dele, perguntara o motivo de tanto interesse nela.


- Era como se... ele estivesse vendo algo que nunca tinha percebido antes... ou como se soubesse de alguma coisa que eu não sei...


- Sei lá, Soph. – disse Hermione, dando de ombros – Mas que foi estranho, ah, isso foi.


- O que foi estranho? – perguntou Harry, ao alcançar as meninas, que se entreolharam, nervosas.


- Ah, nada não, Harry. – mentiu Hermione.


- Cadê a Gina? – perguntou o garoto.


- Saiu com o Dino. – respondeu Sophie, observando-o atentamente. Harry percebeu, e tentou agir de forma natural, mas, pela expressão no rosto da garota, não teve certeza de que tenha dado algum resultado.


- Ah...


- E então? – perguntou Hermione – Como andam as coisas por aqui?


Harry então contou a ela e a Sophie sobre os dias passados n’A Toca, evitando mencionar o nome de Rony, contou sobre a visita do ministro Scrimgeour, e deu-lhes notícias de Remo e Sirius, que estavam se dedicando a missões da Ordem. Remo estava atuando como espião, no bando do lobisomem Fenrir Greyback, e Sirius em missões diversas de reconhecimento e captura de Comensais da Morte.


- Mas isso não é perigoso? – perguntou Hermione, quando Harry falou sobre Lupin – Se ele for descoberto?


- Perigoso é. – respondeu Harry – Mas só ele poderia fazer isso, Mione, e ele assumiu a responsabilidade.


- Ele vai ficar bem. – disse Sophie, fitando a janela com o olhar vazio – Mas está fazendo a coisa errada, ou pelo menos uma coisa errada.


- O quê?


- Hã? – fez a garota – Ah, nada, Harry, nada. – disse ela, disfarçando. – Agora, e essa história do ministro, hein?


- Ainda não acredito que ele teve a cara de pau de ir pedir isso a você. – disse Hermione, indignada.


- E ainda disse que era meu dever ajudar o Ministério. – disse Harry.


- Absurdo. – resmungou Sophie – Como se você devesse algo a eles, depois de tudo o que passou.


- É, mas agora chega de falar sobre isso. – disse Harry – Contem, como foram os feriados de vocês?


- Ah... nossa! – fez Hermione – Tava muito legal, Harry!


Elas então começaram a contar sobre os dias passados no Brasil com as Diamantes, os passeios, Sophie buscou no dormitório as inúmeras fotografias que elas haviam tirado, e as duas fingiram não notar a cor vermelha e a expressão no rosto de Harry ao ver uma fotografia de Gina vestida com o biquíni.


O trimestre começou com um dia gelado e de muita neve. Felizmente naquele dia eles não tinham aulas de Herbologia ou de Poções, que teriam significado horas de bater de queixos nas estufas ou nas masmorras, podendo assim permanecer dentro do castelo e aquecidos durante todo o dia. No fim da tarde, ao retornar da última aula, os alunos do sexto ano de todas as Casas tiveram uma surpresa bastante agradável. Afixado ao quadro de avisos, ao lado dos anúncios dos produtos das Gemialidades Weasley, um cartaz avisava sobre a grande novidade.


 


“Aulas de Aparatação


 


Se você tem dezessete anos, ou irá completá-los até o dia trinta e um de agosto, pode inscrever-se em um curso de Aparatação, ministrado por um instrutor do Ministério da Magia, e com duração de doze semanas.


O custo é de doze galeões, e sua inscrição pode ser feita assinando seu nome abaixo.”


 


Harry, Rony, Sophie e Hermione se espremeram entre os colegas que se aglomeravam diante do quadro de avisos, para alcançar o cartaz, onde, um após o outro, assinaram seus nomes.


- Eu vou poder fazer as aulas, mas não o teste. – comentou Harry.


- Tem que ter completado dezessete. – disse Sophie.


- É, você vai poder, né, Soph? – disse Harry – Aliás, todos vocês já vão ter dezessete até lá.


- Aparatação... – disse Rony, esfregando as mãos, animado – Mal posso esperar. Fred e Jorge me pagam!


Eles ficaram no salão comunal, discutindo as futuras aulas de Aparatação, e Harry teria perdido a hora de sua aula com Dumbledore, se Sophie não o houvesse alertado.


- Harry, já são dez para as oito. – disse a garota, depois de uma olhada para o relógio.


- Nossa, é mesmo! – disse Harry, levantando-se rapidamente da poltrona. Ele foi até o dormitório apanhar a capa de invisibilidade, e então desceu novamente. Sophie e Hermione estavam de pé, esperando por ele, e Rony estava no sofá, com Lilá, que havia acabado de chegar ao salão comunal.


- Vamos com você até parte do caminho. – disse Hermione, e os três então deixaram o salão comunal. Depois que se separaram de Harry, Hermione ajudou Sophie a entrar na passagem da bruxa de um olho só, que levava a Hogsmeade, e depois foi para a biblioteca.


Harry foi andando, meio apressado, meio devagar para o encontro com Dumbledore. O gabinete do diretor estava exatamente como das outras vezes: os lampiões acesos, os antigos diretores fingindo dormir em seus quadros, e a Penseira já pronta sobre a escrivaninha. Dumbledore estava, também como em todas as outras vezes, sentado em sua cadeira, encarando Harry calmamente, as mãos postadas nos dois lados da Penseira. Harry voltou a se perguntar como o diretor teria conseguido aquele ferimento.


- Soube que você teve um encontro com o ministro da magia durante os feriados, Harry. – disse Dumbledore.


- É, ele foi até A Toca outro dia. – confirmou Harry – Não saiu de lá muito feliz comigo.


- É, ele também não anda muito feliz comigo ultimamente. – disse o diretor, embora não parecesse nem de leve preocupado com aquilo.


- Queria saber aonde o senhor vai, quando deixa a escola. – contou Harry.


- É, ele tem tentado descobrir de todas as formas. – disse Dumbledore – Está começando a ficar desesperado.


- Eu disse a ele que não sabia. – disse Harry – Mas que se soubesse também não diria.


Dumbledore abriu um sorriso agradecido.


- Então ele me acusou de ser “por inteiro um homem de Dumbledore”. – prosseguiu o garoto.


- Ora, que indelicadeza.


- Eu disse a ele que era.


Dumbledore fitou Harry, em silêncio. Pareceu ao garoto que o diretor havia ficado sem palavras ante àquela demonstração de lealdade, e ele se sentiu levemente constrangido sob o olhar do bruxo.


- Obrigado, Harry. – disse Dumbledore, por fim – Agora, se não tem mais nada a me dizer...


- Na verdade, senhor – interrompeu Harry –, eu tenho. É... sobre Malfoy... e Snape.


- Professor Snape, Harry. – corrigiu Dumbledore, e Harry crispou os lábios.


- Bem – disse ele –, eu o ouvi conversando com Malfoy, antes de partirmos para os feriados, e...


Dumbledore ouviu todo o relato sem esboçar qualquer reação, e quando Harry terminou de falar, ficou em silêncio por alguns instantes antes de responder calmamente.


- Obrigado por me contar sobre sua... descoberta, Harry. – disse ele – Mas sugiro que esqueça isto. Não é algo com que deva se preocupar.


- Mas, Professor, o senhor não está entendendo... – começou Harry.


- Eu estou entendendo perfeitamente bem, Harry. – disse Dumbledore, e sua voz já não era tão calma quanto antes, embora ele não fosse ríspido – E possuindo muito mais informações do que as de que você dispõe, creio que saiba melhor decidir se devo ou não me preocupar com isto.


- Quer dizer, Senhor, que, mesmo assim, o senhor ainda confia...


- Eu já respondi a esta pergunta uma vez – disse Dumbledore –, e minha resposta não mudou. Agora, se pudermos encerrar este assunto e passar ao real motivo desta reunião...


Harry não respondeu, permanecendo em silêncio enquanto Dumbledore recapitulava suas “lições anteriores”, e depois falava um pouco sobre os anos escolares de Voldemort.


- Ele reuniu um grupo de... na falta de uma palavra melhor, amigos, uma coleção de fracos em busca de proteção, maus, em busca de respeito e de um líder que lhes ensinasse formas mais sutis de crueldade, ambiciosos de todas as espécies... Eles foram os precursores dos Comensais da Morte, tendo causado diversos episódios desagradáveis, embora seus nomes jamais pudessem ser relacionados aos fatos, e muitos deles, mais tarde, viriam a se tornar, de fato, Comensais.


Harry não pôde deixar de lembrar-se da imagem de Tom Riddle jovem que havia visto emergir do diário, em seu segundo ano, e da aparência gentil do jovem na lembrança distorcida, e que incriminava Hagrid, que ele lhe havia mostrado, também através do diário.


- Pelo que eu soube, também foi nesta época que ele desenvolveu uma espécie de obsessão por saber sobre sua ascendência, o que era absolutamente natural para alguém que cresceu em um orfanato. – continuou Dumbledore – Revirou tudo o que podia, troféus, listas antigas de alunos de Hogwarts, jornais, e até mesmo livros de história bruxa. Creio que foi durante estas pesquisas, ao perceber que seu pai jamais pusera os pés em Hogwarts, que ele abandonou definitivamente seu nome, para utilizar o nome pelo qual é conhecido, e temido, hoje em dia, e saiu em busca da família da mãe, que ele jamais considerou possível ser uma bruxa, por ter sucumbido à fraqueza humana da morte. – Dumbledore fez uma pausa, para que Harry assimilasse tudo o que havia sido dito – E é sobre esta busca que vamos tratar hoje. Depois há ainda uma outra lembrança que quero mostrar a você, e creio que seja a mais importante de todas as que já recolhi, e sobre a qual discutiremos, e eu lhe darei pela primeira vez um... dever de casa. Agora, Harry, se não se importa...


E os dois entraram na Penseira, para explorar mais uma lembrança.


Enquanto isso, na Casa dos Gritos, Sophie e Fred se encaravam, sem nada dizer. Tão logo chegara a Hogwarts, Sophie mandara uma mensagem ao garoto, chamando-o até o povoado para que pudessem conversar.


- Por que nunca me contou? – perguntou Fred. Com certeza, ele ruminara aquela pergunta durante todo o tempo em que ficaram sem se falar.


- Não sei. – respondeu Sophie, com sinceridade – Não sabia como reagiria, e também, não queria expor Jael.


- Ele ama você. – acusou Fred.


- E eu o amo também.


- Você sabe que não é este tipo de amor, Sophie. – disse o garoto, impaciente – Ele é apaixonado por você.


- Não posso mandar no coração dele, Fred. – disse Sophie – Sequer posso mandar no meu.


- Ele tem esperanças. Você permite que ele as tenha.


- Não é verdade. – negou Sophie – Não posso esperar, muito menos exigir que você compreenda minha ligação com Jael, Fred. É totalmente diferente de qualquer outra com a qual você possa relacionar. – disse ela – Eu não posso me afastar de Jael. Não sou capaz de fazê-lo. Jael é uma parte de mim, e eu não posso viver com um pedaço faltando.


- Você o ama mais do que a mim? – perguntou Fred, sem encará-la. Tinha medo da resposta.


- Não! Fred, não! – disse Sophie, segurando o rosto dele com ambas as mãos e forçando-o a encará-la – É isso que você não compreende. Amo Jael de um modo diferente, único. Não há como comparar o que sinto por você e o que sinto por ele.


- E se você tivesse que escolher? – perguntou Fred, encarando-a.


- Então eu morreria. – respondeu Sophie – Porque estaria partindo meu coração em dois. Você faria isso comigo?


- Não! – disse Fred, na mesma hora – Merlin, Soph, nunca!


- Então me desculpa. – pediu Sophie – Por favor, me desculpa!


- Não tem o que desculpar. – disse Fred, abraçando-a – Eu amo você, ouviu? Amo você.


- Obrigada. – agradeceu a garota, abraçando-se a ele com mais força – Obrigada.


- Eu amo você. Amo você. – ele continuou dizendo, até que ela finalmente se acalmasse em seus braços.


Na manhã seguinte, Harry contou às meninas sobre sua “aula” com Dumbledore durante o café da manhã, depois de lançar ao redor deles um feitiço que impedia que fossem ouvidos. Ele já havia, na véspera, conversado com Rony, que no momento não estava ali, e sim com Lilá, em outro ponto da mesa, e agora esperava pela reação das meninas ao que havia contado a elas. Depois de mergulharem na primeira lembrança, que era do tio de Voldemort, Morfino Gaunt, Dumbledore havia mostrado a Harry uma lembrança do professor Slughorn, de uma conversa que o bruxo havia tido com o jovem Tom Riddle, anos atrás. No entanto, a lembrança era cheia de falhas, momentos em que uma espécie de nevoeiro impedia que se visse ou ouvisse qualquer coisa.


- Peraí, deixa eu ver se entendi. – disse Sophie, tentando organizar seus pensamentos – Você tá me dizendo que Slughorn alterou a própria lembrança pra esconder a verdade de Dumbledore?


- Foi o que Dumbledore disse. – respondeu Harry – Segundo ele, Slughorn deve sentir vergonha do que fez ou disse, por isso não quer revelar a verdadeira lembrança.


- Horcruxes... horcruxes... – repetia Hermione, para si mesma – eu nunca ouvi falar sobre isso...


- Não? – perguntou Harry, surpreso. Não havia muitas coisas que Hermione desconhecesse.


- Não. – respondeu a garota, visivelmente frustrada – Mas com certeza tem a ver com Artes das Trevas, ou Você... – ela se interrompeu ao ver Harry encará-la – ah, tá bom, Voldemort, não teria se interessado. 


- Hermione está certa. – disse Sophie – Talvez meu pai Sirius, ou Remo saibam alguma coisa... mas, ah, não podemos falar nada com eles, né? 


- Isso é pra ficar somente entre nós. – disse Harry – Além disso, eu tenho a minha lição de casa ainda... 


Pela primeira vez desde a primeira vez desde a primeira “excursão” pelas lembranças com Dumbledore, o diretor lhe passara uma tarefa. Ele deveria tentar persuadir o professor Slughorn a revelar a lembrança original, o que era uma tarefa bastante complicada, visto que o próprio Dumbledore não conseguira. 


- É mesmo. – concordou Sophie – Isso vai ser difícil, Harry. Já tem alguma idéia de como vai fazer para conseguir a lembrança? 


- Não. 


Logo depois do café, eles foram, junto com Rony, para uma aula de Poções com o próprio Slughorn. Harry ficou, enquanto o professor não chegava, na mesa das meninas, conversando com elas, e tentando, em conjunto, ter uma idéia de como abordar Slughorn.


- Bom dia, turma! 


As meninas se endireitaram em suas cadeiras, e Harry voltou para o seu lugar, ao lado de Rony, enquanto o professor Slughorn deixava sua pasta sobre a mesa e escrevia na lousa à frente da sala: “Antídotos”


Harry não ouviu sequer uma palavra da explicação do professor sobre os antídotos. Ele pensava em uma maneira de persuadir Slughorn a lhe entregar a lembrança que recusara a Dumbledore. Enquanto todos trabalhavam no preparo do antídoto para a poção que lhes fora dada por Slughorn, Harry imaginava modos de abordar o professor, tendo esquecido completamente de trabalhar em seu antídoto, até o momento em que ouviu Slughorn falando. 


- Acabou o tempo! Por favor, parem onde estiverem. 


Ele olhou para sua mesa. O frasco da poção continuava à sua frente, aberto, mas com seu conteúdo intocado. Ao seu lado, Rony olhava, torcendo o nariz, para o antídoto em seu caldeirão, e Hermione e Sophie passavam, ambas, poções de tons claros, dos caldeirões para frasquinhos de vidro, para as quais Slughorn olhou com uma expressão de aprovação. O olhar apavorado de Harry então caiu sobre o livro velho de Poções, como se por um milagre pudesse haver ali algo que o salvasse da bronca que iria levar por não ter realizado a tarefa passada pelo professor. Escrito na diagonal e em letra miúda, na página que falava sobre os antídotos, havia mais uma anotação do antigo dono. 


Para todo e qualquer tipo de envenenamento, apenas enfie-lhe um bezoar goela abaixo.” 


Harry olhou para trás; ainda faltavam algumas classes antes que Slughorn alcançasse a sua e de Rony. Ele então se esgueirou até o estoque de ingredientes da masmorra, onde, rapidamente, procurou e encontrou uma caixa, cujo conteúdo eram objetos arredondados e enrugados, que nem pareciam pedras, e na qual estava escrito “BEZOARES”


Ele apanhou uma das pedras e, recolocando a caixa no lugar, voltou à sua classe, segundos antes de Slughorn alcança-la. 


- E então, Harry, o que tem para me mostrar? – perguntou o professor, que, habituado à perfeição das poções preparadas por Harry em suas aulas – com a ajuda do livro velho de Poções – já esperava por algo muito bom. 


Harry então estendeu a mão com o bezoar. Slughorn o estudou por um instante, e Harry ficou apreensivo, pensando que iria levar uma bronca, o que não aconteceu, pois o professor estourou em uma enorme gargalhada. 


- Muito bem, meu rapaz! – disse ele, ainda rindo – Realmente muito bom! Ousado, mas absolutamente correto. O bezoar seria um antídoto para qualquer um dos venenos que eu lhes passei. Quinze pontos para a Grifinória pela ousadia! Classe dispensada! 


Os alunos começaram então a juntar seu material e a sair. Harry se demorou ao máximo para guardar suas coisas, tendo sinalizado aos amigos sua intenção, e ouvido o “Boa sorte!” dito em pensamento por Sophie, e foi o último a deixar a sala, junto com o professor Slughorn. 


- Pensamento audacioso, o seu, Harry. – elogiou Slighorn, novamente – Mas eu já devia esperar algo assim, vindo de você. 


- Obrigado, Professor. – agradeceu Harry – Ahn... Professor, eu... eu gostaria de lhe perguntar uma coisa... 


- Ora, claro, meu rapaz, pergunte.


- O senhor... sabe alguma coisa... alguma coisa sobre... Horcruxes? 


A reação de Slughorn à pergunta foi imediata. Ele voltou-se para Harry de olhos arregalados, a expressão fechada, nem parecia a mesma pessoa de alguns instantes atrás. 


- Foi Dumbledore quem o mandou perguntar isto, não foi? – perguntou ele. Harry não respondeu – Ele mostrou a você aquela lembrança, não mostrou? 


- Mostrou. – disse Harry, decidindo que seria melhor falar a verdade. 


- Então você viu o que eu respondi a... a... ele. Eu não sei nada sobre Horcruxes. – disse Slughorn, as narinas tremendo, e então saiu andando rápido pelo corredor. 


Enquanto isso, em Grimmauld Place, Sirius conversava com Tonks, na cozinha da Sede. A metamorfamaga estava quase irreconhecível. Os cabelos não tinham mais a cor rosa-chiclete que costumavam ter, e seu rosto parecia cansado e abatido.


- Eles estão muito quietos. – dizia ele – Nenhum movimento, nenhum ataque direto...


- É, isso é estranho. – concordou Tonks – Eu consegui informações de que Rabastan Lestrange foi à França, semanas atrás, sozinho. 


- À França? – ecoou Sirius. 


- Passagem rápida, ficou um dia só. – disse Tonks. 


- O que ele foi fazer? 


- Ninguém sabe. Nem chegou perto do Ministério, e, aparentemente, não tentou contato com ninguém que nós conheçamos. – contou Tonks – Desapareceu logo depois de chegar a Paris, e no dia seguinte já estava de volta a Londres. Foi visto saindo da Mansão Malfoy. 


- Narcissa está sozinha na mansão, com Draco na escola. – comentou Sirius – O que ele foi fazer lá? 


- Eu não sei. – disse Tonks, dando de ombros – Mas você está errado em uma coisa, Sirius. 


- Hã? – fez Sirius – No que? 


- Narcissa não está sozinha. – respondeu a metamorfamaga – Uma mulher foi vista, andando no jardim várias vezes. Ela não foi reconhecida. 


- Uma mulher? 


- Sim. – confirmou Tonks – E pela regularidade com que é vista, com certeza está hospedada na mansão. Ela é vista poucas vezes, no jardim, sempre à noite, jamais deixa os limites da mansão, e usa sempre uma capa com capuz quando sai da casa, por isso até agora foi impossível identifica-la. 


- Isso é muito estranho. – disse Sirius, pensativo – Quem será essa mulher? 


- Eu não sei. – respondeu Tonks – Emmeline foi enviada até lá, para tentar descobrir. 


- Vou querer falar com a Line sobre isso. 


- E você, sabe alguma coisa sobre... – ela não terminou a frase. Nem precisava.


- Não. Não tivemos notícias dele nos últimos dias.


Tonks ofegou, passando a mão nervosamente pelo rosto.


- Calma, Tonks. Tenho certeza de que ele está bem. – disse Sirius – “Ou pelo menos assim espero...” – pensou ele, mas nada disse para não alarmá-la ainda mais.


Dias mais tarde, ao acordar, Sophie encontrou Hermione já acordada, saindo do banho, e uma pilha de presentes aos pés de sua cama. 


- Bom dia, Soph! – cumprimentou Hermione – Feliz aniversário! 


- Obrigada, Mione! 


- Vai, abre o meu primeiro. – pediu Hermione, entregando um embrulho para a amiga. 


- Eu não acredito!! – disse Sophie, depois de abrir o presente – Eu queria tanto esse livro! 


- Eu sei. 


- Obrigada, Mione! – disse Sophie, abraçando a amiga – Obrigada, obrigada! 


- De nada. – respondeu Hermione, sorrindo – Agora, vai, abre os outros! 


Sophie ganhou vários livros, uma capa nova da avó, um tabuleiro de xadrez de seu pai, Charles, e de Fred uma bolsa nova, que ela tinha visto na vitrine da Trapobelo em uma de suas fugas com ele a Hogsmeade. 


 


Desculpe não poder passar o dia do seu aniversário com você, amor, mas eu tive que resolver alguns negócios da loja. Vou estar esperando por você, hoje à noite, pra dar os parabéns pessoalmente.  


Te amo muito. Fred” 


 


- Ai, que lindo! – disse Hermione, sorrindo – Olha, ainda tem mais um. 


Sophie apanhou a caixa, desfez o laço que prendia a tampa, e abriu-a. 


- Ah, meu Merlin! – exclamou ela, ao ver o conteúdo da caixa. 


Uma segunda caixa, toda de vidro, continha uma delicada rosa cor de marfim; ao seu lado, envolta em um papel fino, havia uma pulseira de prata, com um pingente de diamante negro em forma de estrela.  


 


Dei uma flor como esta a sua mãe uma vez. Ela é encantada para jamais morrer, assim como meu amor por você, minha pequena estrela. 


Feliz aniversário!  


Sirius” 


 


- Ooown... meu pai Sirius... – disse Sophie, os olhos cheios de lágrimas – Ele não é um fofo?! 


- Ele ama tanto você... – disse Hermione. 


- E eu já amo tanto ele... – disse Sophie, sorrindo, entre as lágrimas. 


Como era sábado, eles tinham todo o dia livre, mas estava muito frio para ficar nos jardins. Mesmo assim, cheios de casacos, gorros e luvas, Sophie, Hermione, Rony, Harry e Gina passaram boa parte da manhã no lado de fora do castelo, em uma animada guerra de bolas de neve.


À tarde, Sophie estreou seu tabuleiro de xadrez, ganhando de Rony por duas vezes seguidas – ele, como de costume, não ficou nada contente, e acabou discutindo com Lilá, que deixou o salão comunal muito ofendida e indignada –, e depois eles se uniram a Hermione e Harry para fazerem os deveres passados pelos professores. 


Por volta das sete horas, Sophie, com a cobertura dos amigos, deixou o castelo, e, usando a passagem do Salgueiro Lutador, partiu rumo à Casa dos Gritos, para encontrar-se com Fred. Mas não sem antes ouvir as já esperadas recomendações de Harry. 


- Não volta muito tarde, Soph. – disse ele. 


- Tá bom, Harry! – disse Sophie, revirando os olhos. 


- E na volta, usa a passagem da Dedosdemel, pra não ficar andando pelos jardins sozinha. 


- Tá bom, Harry! – repetiu Sophie – Posso ir agora, papai, ou ainda tem mais alguma recomendação? 


- Muito engraçadinha. – disse Harry, estreitando os olhos, e Sophie deu-lhe um beijo no rosto. 


- Também amo você. – disse ela, e Harry não pôde conter um sorriso. 


- Tá, vai logo, sua pestinha! – disse ele. 


Ainda rindo, Sophie imobilizou o Salgueiro Lutador e entrou no túnel. Acendeu a ponta da varinha e começou logo a caminhar; o percurso era longo, e ela estava ansiosa para se encontrar com Fred. 


Cerca de quarenta minutos depois, ela alcançou a escada que levava ao alçapão no piso da Casa dos Gritos. Subiu, passando pelo alçapão e indo até a beira da escada. 


- Fred?! – chamou ela, com a mão já no corrimão.


- Aqui em cima! 


Sophie então subiu a escada, que rangiu alto, rumando diretamente para o quarto onde costumava encontrar Fred. Ele a esperava na porta. 


- Feliz aniversário, minha linda! – disse ele, beijando-a em seguida.


- Muito mais feliz agora que eu tô com você. 


- Você tá gelada, Soph! – disse Fred, abraçando-a – Vem, vamos entrar, você precisa se aquecer. 


Ele a conduziu para dentro do quarto; Sophie parou após alguns passos. O quarto estava repleto de flores: lírios, rosas, lilases, por todos os lados, o perfume era maravilhoso. O costumeiro sofá estava em seu lugar, bem como o pesado edredon, e uma mesinha cheia de guloseimas estava colocada convenientemente entre o sofá e a lareira. 


- Fred, isso é lindo demais! – disse Sophie, olhando tudo, com um enorme sorriso. 


- Nada é demais pra você. – disse Fred, encarando-a, e Sophie o beijou – Mas agora vem, você precisa se aquecer um pouco. 


Eles então se aninharam no sofá, onde ficaram conversando e namorando um ouço. Comeram um pouco das coisas que Fred preparara, e depois continuaram namorando no sofá, aproveitando o tempo que tinham para ficar juntos. 


- Pára, Fred! Isso me dá calafrios! – disse Sophie, rindo e se encolhendo, quando o garoto passou os lábios por seu pescoço. 


- É engraçado ver você se encolher toda assim. – disse Fred, rindo. 


- Bobo! – disse Sophie, sorrindo – Eu amo você, sabia? 


- Sabia. – respondeu Fred – Mas é sempre bom ouvir. Eu também amo você, sabia? 


- Sabia. – respondeu Sophie – Mas é sempre bom ouvir. 


Eles continuaram trocando beijos e carinhos, e em meio a tanto chamego, acabaram perdendo a hora. Já era mais de meia-noite quando Fred aparatou com Sophie até o porão da Dedosdemel, para que ela usasse a passagem secreta até Hogwarts. 


- Pelo menos uma das recomendações do Harry eu vou seguir. – disse Sophie, enquanto abria o alçapão – Espero que ele já esteja dormindo... 


- Eu também. – concordou Fred – Ou ele vai contar pro seu pai, e o Sirius vai querer a minha pele. 


- Eu protejo você. – brincou ela. 


- Eu sei. – disse Fred – Mas agora vai! 


- Tá. – disse Sophie, beijando-o – Boa noite, amor. 


- Boa noite, linda. – respondeu Fred, e quando Sophie desapareceu no túnel, fechou o alçapão e aparatou. 

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