A Sala Precisa



Durante todo o resto da semana, e ainda na semana seguinte, Harry colocou o cérebro a funcionar, em busca de uma maneira de convencer Slughorn a lhe entregar a lembrança verdadeira. No entanto, nenhuma idéia realmente boa havia surgido ainda.


- Harry, se você pretende acabar essa redação ainda hoje, é melhor parar de devanear e começar a escrever. – disse Sophie.


Eles estavam, junto com Hermione e Rony, acomodados perto da lareira, no salão comunal, trabalhando em um extenso dever passado por Snape, sobre dementadores. Já era tarde, e, além deles, apenas alguns outros sextanistas permaneciam no salão comunal, provavelmente terminando a mesma tarefa, já que, mais cedo, fazer isto fora absolutamente impossível. Logo que voltaram do jantar, deram de cara com um novo cartaz no quadro de avisos, marcando a data do teste de Aparatação, para o dia vinte e um de abril. Rony entrara em pânico ao ler o aviso; ainda não conseguia aparatar corretamente nas aulas, e temia não estar pronto para o teste. Hermione e Sophie, que já haviam conseguido aparatar de uma ponta para a outra do Grande Salão, estavam mais tranqüilas, e Harry não deu muita atenção ao aviso, pois como só completaria dezessete anos dentro de quatro meses, não poderia fazer o teste, estando pronto ou não.


- Pensando em como conseguir a lembrança?


- Não me ocorre nada! – reclamou Harry – Dumbledore disse que Veritasserum não adiantaria, nem Legilimencia. – disse ele – Mas não existe nada mais? Um feitiço, ou uma poção...


- O único feitiço que poderia forçá-lo a entregar a lembrança é a Imperius – disse Hermione –, e ela é ilegal.


- É, eu sei.


- Acho que está atacando o problema pelo ângulo errado, Harry. – disse Sophie – Dumbledore diz que só você pode obter a lembrança, então, não pode ser através de uma poção ou feitiço, qualquer um poderia fazer isso, você tem que convencê-lo de alguma forma.


- Sophie está certa, Harry.


- Mas como? – perguntou o garoto – Eu já tentei de um tudo! – reclamou ele – Ah, eu não consigo pensar nessa droga de redação agora! – disse, empurrando o pergaminho para longe.


- Me dá aqui, eu termino. – disse Sophie, puxando o trabalho do amigo para si – Mas não acostuma, viu?


- Eu amo você, Soph.


- É, sei. – disse Sophie, fingindo tédio, e começando a escrever.


- Ah, acabei! – exclamou Rony, satisfeito, largando a pena ao lado do pergaminho.


- Ahn... Rony? – chamou Hermione – Não acho que você tenha terminado ainda...


- O quê? – perguntou Rony, confuso – Por quê?


- Porque, até onde eu me lembre, o trabalho era sobre dementadores, e não cava-charcos, e seu nome não é “Roonil Wazlib”. – respondeu a garota, apontando uma linha do trabalho do amigo.


- Ah, não! – exclamou o garoto, fitando os amigos com expressão de desespero – Eu vou ter que escrever tudo isso outra vez?!


- Talvez não seja preciso. – disse Sophie – Espera eu acabar a redação do Harry e eu dou uma olhada nisso.


- Deixa, Soph, eu faço isso. – disse Hermione, para a surpresa de Rony – Me dá aqui, Rony.


O ruivo entregou a ela o pergaminho, e recostou-se na poltrona, esfregando os olhos. Eles ficaram em silêncio durante algum tempo, enquanto Sophie terminava de escrever a redação de Harry, e Hermione tocava com a ponta da varinha as palavras erradas no trabalho de Rony, corrigindo-as.


- Pronto. – disse Hermione, quando corrigiu a última palavra.


- Hermione, você é incrível! – disse Rony, com um largo sorriso, ao apanhar o pergaminho de volta.


- Não deixe a Lilá ouvir você dizendo isso. – respondeu a garota, levemente corada.


- Não vou. – disse Rony, e então pensou por um instante – Ou talvez até deixe, talvez assim ela me dê o fora.


- Por que você não termina com ela, se já não gosta mais dela? – perguntou Sophie.


- Você já terminou com alguém? – perguntou o ruivo, e Sophie fez que não com a cabeça – Espera até ter que fazer isso, e aí nós conversamos.


Sophie deu de ombros, revirando os olhos, e voltou a se concentrar na redação de Harry, que terminou cerca de dez minutos depois.


- Pronto, Harry. – disse ela, entregando o pergaminho ao garoto – Você só vai ter que passar a limpo.


- Eu já disse hoje que amo você, Soph? – perguntou Harry, brincalhão.


- Disse. – respondeu Sophie – Mas pode dizer de novo que eu não me importo.


- Eu amo você, quase-priminha do meu coração. – disse o garoto, e Sophie mostrou-lhe a língua.


- Bom, vamos subir? – sugeriu Hermione – Tá tarde.


- É, vamos sim. – concordou Sophie.


Eles então juntaram seu material que estava todo esparramado e misturado, e depois de despedirem-se, subiram para seus respectivos dormitórios. Rony apagou tão logo caiu na cama, mas Harry permaneceu acordado ainda por um tempo, pensando em Slughorn e na lembrança que precisava recuperar. Como não conseguia dormir, decidiu dar mais uma lida no velho livro de Poções, coisa que vinha fazendo com freqüência nos últimos tempos, para ver se achava mais alguma informação interessante nas anotações do antigo dono. Folheando as páginas, encontrou, escrito à margem de uma delas a anotação de mais um feitiço desconhecido (“Sectumsempra”), com a seguinte legenda: “Para inimigos.”. Imensamente curioso, dobrou o canto da página, pensando em aguardar uma ocasião para testar o novo feitiço. A descoberta, no entanto, serviu também para lembrá-lo de outra questão não resolvida: Draco Malfoy. Apesar de não fazê-lo tanto quanto vinha fazendo, Harry continuava vigiando os passos do sonserino sempre que podia, e, como antes, nunca o via em qualquer lugar onde não devesse estar. Também como antes, Crabbe e Goyle continuavam a andar sozinhos, ou melhor dizendo, a não andar sozinhos, já que chegavam a ficar mais de uma hora parados no mesmo lugar, em algum ponto do sétimo andar, perto da...


- Sala Precisa! – exclamou Harry, de repente, dando um salto da cama, e derrubando o livro no chão. Na cama ao lado, Rony resmungou algo sobre Snape e Penas Auto-Revisoras, e virou-se para o outro lado, e Neville deu um longo suspiro, em sua cama.


“É isso!” – pensou Harry, enquanto recolhia o livro do chão – “Por isso eu não o encontro no Mapa, ele está na Sala Precisa, e Crabbe e Goyle ficam lá parados montando guarda!”


Harry estava radiante. Sabia agora onde encontrar Malfoy. Faltava apenas descobrir o que ele estava fazendo, e para isso ele teria que encontrar um jeito de entrar na Sala Precisa para descobrir.


- Não acho que você vá conseguir fazer isso, Harry. – disse Hermione, à mesa do café, na manhã seguinte. Tão logo ele e Rony se reuniram às meninas para irem tomar café, Harry contou a eles sobre sua descoberta, e seus planos para descobrir o que Malfoy estava fazendo na Sala Precisa. No entanto, os amigos não foram muito receptivos às novidades.


- Por que? – perguntou Harry, franzindo o cenho – Malfoy conseguiu entrar na nossa sede no ano passado. Por que eu não conseguiria fazer o mesmo?


- É diferente, Harry. – disse Sophie – Ele sabia exatamente em quê a Sala se transformava para nós, já que fomos dedurados...


- Você precisa saber em quê a Sala se transforma pra ele, pra poder pedir que ela se transforme no mesmo pra você. – disse Hermione.


- Tem que ter um jeito... – insistiu Harry – Tem que ter, e eu vou encontrá-lo. – disse ele, e Sophie e Hermione se entreolharam, dando de ombros.


- Mas ainda tem uma coisa que não se encaixa, Harry. – disse Rony – Você disse que via Crabbe e Goyle no Mapa, mas que eles nunca estavam no corredor quando você ia checar...


- É. – concordou Harry – Tinha sempre alguém por lá, mas nunca eles, e raramente era a mesma pessoa...


- Claro! – exclamou Sophie, de repente.


- O que foi, Soph? – perguntou Harry.


- Harry, quantas pessoas tinha no corredor quando você chegava lá? – perguntou a garota.


- Duas... na maioria das vezes, em geral meninas pequenas... mas por quê...


- Claro! – agora foi Hermione quem exclamou – Tinha um caldeirão cheio lá na masmorra...


- Mas do que é que vocês duas estão falando? – perguntou Rony, olhando confuso, de uma para a outra.


- Poção Polissuco! – disse Sophie – Crabbe e Goyle estão tomando poção Polissuco para parecerem outras pessoas e poderem montar guarda para Malfoy sem chamar a atenção.


- A garotinha com as ovas de sapo... – começou Harry.


- Um deles! – disse Hermione – Malfoy devia estar dentro da sala, e ele derrubou o frasco pra avisá-lo pra que não saísse, porque havia gente ali.


- Soph, que foi? – perguntou Hermione, ao ver a garota, que não lhe respondeu, olhando fixo na direção da mesa da Sonserina – Soph?!


- Hã? – fez Sophie, olhando para a amiga – Que foi?


- Que foi, pergunto eu! – respondeu Hermione – Que tanto olha pra mesa da Sonserina?


- Shh... – fez Sophie, olhando para Harry, que por sorte, estava ocupado demais conversando com Rony para ouvi-las – Malfoy. – sussurrou ela.


- O que tem ele? – perguntou Hermione, sem entender


- Ele tava me encarando. – respondeu Sophie, voltando a olhar para a mesa da Sonserina, mas Malfoy já não mais a encarava de volta.


- Encarando você? – ecoou Hermione.


- É. Como se... estivesse me desafiando, sabe? – disse a morena – A tentar entrar na mente dele.


- Ah, isso é tão típico do Malfoy... ele deve estar se achando o máximo por conseguir bloquear você. – comentou Hermione.


- Não... não é isso. – disse Sophie, de cenho franzido – É quase como... se ele quisesse que eu consiga.


- Como assim? Ele esconde, mas quer que você descubra? – perguntou Hermione, baixinho.


- Eu não sei, Mione! – respondeu Sophie, meio aflita – Eu não sei!


Depois do café da manhã, os quatro se dirigiram às estufas, para a aula de Herbologia. Naquele dia, a professora Sprout lhes apresentou uma planta bastante interessante.


- Não se deixem enganar pela aparência frágil da briosa. – dizia a bruxa, com um dos vasos nas mãos – Ela é uma planta bastante resistente, vejam. – disse ela, e puxou uma das finas folhas da planta, que se inclinou, mas não se rompeu – Mas a parte mais importante da briosa é a sua raiz, e essa sim, é bastante delicada.


Ela então explicou aos alunos o que eles deveriam fazer. Deviam desenterrar, com muito cuidado, as raízes das briosas, que tinham o aspecto de um rabanete, mas eram moles como uma bexiga cheia d’água.


- O sumo da raiz da briosa é um cicatrizante poderoso para todo o tipo de ferimentos, sobretudo os causados por magia. – disse a professora – Vocês devem fazer apenas um furo na raiz, e espremer o sumo, para não danifica-la, pois a briosa dura muitos anos, e pode produzir seu sumo diversas vezes no mesmo ano. Depois, reguem-nas bem e coloquem os vasos sobre a bancada da esquerda.


Logo todos estavam concentrados, desenterrando e espremendo as raízes das briosas, e depois reenvasando-as para que pudessem produzir mais sumo. O período após a aula de Herbologia era vago, e então cada um encontrou algo para fazer. Hermione foi adiantar uma tarefa para sua aula de Aritmancia; Sophie e Rony iniciaram uma partida de xadrez, e mal piscavam, de olho no tabuleiro. Harry aproveitou o período vago para ir até o corredor do sétimo andar, onde ficava a Sala Precisa. Ele se cobriu com a capa de invisibilidade, em um corredor vazio, poico antes de chegar ao seu destino, mas nem precisava ter se preocupado com isso, pois não havia ninguém guardando a entrada da Sala naquele momento, o que significava que Malfoy não estava ali.


Ao parar diante do trecho de parede nua onde se ocultava a porta da Sala Precisa, Harry fechou os olhos, concentrando todas as suas forças em um único pensamento:


“Preciso ver o que Malfoy está fazendo aí dentro... preciso ver o que Malfoy está fazendo aí dentro...”


Ele passou três vezes pelo local onde a porta devia aparecer, ainda de olhos fechados, e então parou. Porém, ao abrir os olhos, encontrou a mesma parede lisa.


- Ok. – disse para si mesmo – Pensei a coisa errada.


Ele pensou por um momento, e então fechou os olhos novamente, concentrando-se o máximo possível.


“Preciso ver o lugar onde Malfoy vem secretamente...”


Novamente, ele andou três vezes, para um lado e para o outro, e parou diante do local, abrindo os olhos. Não havia porta alguma ali. Harry tentou todas as frases possíveis para indicar o que desejava encontrar dentro da Sala, mas nenhuma delas deu resultado, e ele se viu forçado a admitir que talvez as meninas estivessem certas e ele não iria conseguir entrar na Sala.


Foi de muito mau-humor que ele voltou ao salão comunal para encontrar os amigos, e juntos irem almoçar. Para piorar, a aula depois do almoço era DCAT, e logo ao entrar na sala, todos perceberam que Snape não estava de bom humor.


- Antes de qualquer coisa, quero ver seus trabalhos sobre dementadores – disse ele, brandindo a varinha, e cerca de vinte e cinco pergaminhos voaram até sua escrivaninha, formando uma pilha organizada.


- Professor?! – chamou Simas, do fundo da sala – Como se diferencia um Inferius de um fantasma? Saiu no Profeta uma notícia...


- ... que se o senhor tivesse lido até o fim, teria visto que se referia a um ladrãozinho imundo chamado Mundungo Fletcher, que estava se fazendo passar por um Inferius. – disse Snape, em tom irritado, ou seja, seu tom normal.


- Snape não devia estar aborrecido com a prisão do Mundungo? – sussurrou Harry a Rony – Afinal, ele também é membro da Ordem...


- Mas Potter parece ter mais a dizer sobre o assunto do que eu. – disse Snape, fixando seus olhos em Harry – Por que não nos diz, Potter, como se diferencia um Inferi de um fantasma?


A turma inteira se virou para Harry, que tentava, em vão, lembrar da explicação que lhe fora dada por Sirius, em uma conversa durante os feriados de fim de ano.


- Ahn... bem... – gaguejou ele.


“Um Inferi é um morto cujo corpo foi reanimado através de um feitiço para cumprir as ordens do bruxo.” – Harry ouviu Sophie recitando, dentro de sua cabeça – “Um fantasma é apenas uma impressão deixada na terra pelo bruxo ao morrer.”.


Harry repetiu cada palavra do que a garota lhe dissera, e viu as narinas de Snape dilatarem-se de raiva, enquanto o olhar dele corria para a mesa ao lado.


- Dez pontos a menos para a Grifinória. – disse Snape, voltando-se para a mesa de Hermione e Sophie – Eu fiz a pergunta ao Sr. Potter, Srta. D’Argento.


- Não pode tirar pontos por algo que não pode provar que eu fiz. – disse Sophie, em tom desafiador, e todos na sala prenderam a respiração; Snape parecia a ponto de explodir de raiva.


- Mas posso descontar os dez pontos agora, por sua impertinência. – disse ele, e Sophie continuou encarando-o. Foi Snape quem desviou o olhar primeiro, e Sophie estremeceu quando o contato visual se quebrou – Abram os livros na página duzentos e treze, e leiam os dois primeiros parágrafos sobre a Maldição Cruciatus.


Não foi preciso repetir. Em segundos, a turma inteira tinha os olhos grudados nos livros, enquanto Snape, ainda com uma expressão raivosa no rosto, sentava em sua cadeira para ler os trabalhos dos alunos.


- O que foi, Soph? – perguntou Harry, ao ver a expressão pensativa e meio assustada no rosto da garota.


- Eu... não sei. – respondeu Sophie – Tem alguma coisa vindo, eu posso sentir, mas não consigo descobrir o que é.


- É algum problema, Soph? – perguntou Hermione.


- Eu não sei, Mione. – respondeu a morena – Eu não sei. Mas tô com medo.


Quando a aula terminou, todos recolheram seu material, conversando baixo, e começaram a sair.


- Valeu pela ajuda, Soph. – agradeceu Harry, depois que eles deixaram a sala de aula.


- Não foi nada, Harry. – respondeu Sophie, dando de ombros – Há tempos eu estava querendo falar umas praquele morcegão insuportável.


- Uau! A Sophie certinha xingando um professor! – zombou Rony, e Sophie mostrou-lhe a língua.


- Já decidiu se vai a Hogsmeade pras aulas de Aparatação? – perguntou Harry ao amigo.


- Vou. – respondeu Rony – Vou ver no que dá. Dependendo de como eu me sair, faço o teste agora, ou então espero pra fazer junto com você no verão.


Assim, no sábado, Rony se uniu a Hermione, Sophie e outros sextanistas que completariam dezessete anos a tempo de fazer o primeiro teste de Aparatação, para irem a Hogsmeade, para a aula suplementar com o instrutor do Ministério. Sophie não estava realmente interessada na aula de Aparatação; na verdade, ela ia escapulir para a Casa dos Gritos para se encontrar com Fred.


- Soph...


- Já sei, Harry!


- Sabe, né? – perguntou Harry – Mas daquela vez, chegou aqui de madrugada. – lembrou ele – Não pense que eu esqueci.


- Como eu vou pensar isso, se você não se cansa de me lembrar? – perguntou a garota.


- Não volta tarde. – disse Harry, ignorando o que ela dissera.


- Vou estar aqui para o jantar, ok?!


Ainda meio carrancudo, Harry acompanhou os amigos até a saída do castelo. Ele decidira ficar na escola, para tentar mais uma vez encontrar um meio de entrar na Sala Precisa.


- Você faria melhor se esquecesse Malfoy por um instante e se concentrasse em convencer Slughorn a entregar a lembrança. – disse Hermione.


- Eu estou tentando! – Harry defendeu-se, irritado, porque, de fato, ele estava. Ele tentava em cada oportunidade que tinha, encurralar Slughorn, mas o professor sempre dava um jeito de escapulir-se. Por duas vezes fora ao escritório do professor e batera na porta, mas não recebera qualquer resposta, embora ruídos vindos de dentro do aposento denunciassem a presença de Slughorn – Ele não quer falar comigo, foge ao menor sinal de uma aproximação minha.


A fila de alunos que aguardava ser vistoriada por Filch com seu sensor de segredos para poder sair andou mais um pouco, e eles pararam de falar, para evitar serem ouvidos. Harry desejou boa sorte a Rony e Hermione, e recomendou novamente a Sophie – que apenas revirou os olhos – que não voltasse tarde, e então deu meia-volta, subindo a escadaria que o levaria ao corredor da Sala Precisa.


No caminho até lá, tirou do bolso o Mapa do Maroto, e deu nele uma boa olhada. Crabbe estava sozinho, parado no corredor do sétimo andar, o que significava que, provavelmente, Malfoy estava dentro da Sala Precisa, suspeita confirmada pelo fato de ele não conseguir encontrar o sonserino em parte alguma do Mapa. Harry voltou a guardar o Mapa no bolso das calças, e do bolso grande do moletom, tirou a capa da invisibilidade, com que se cobriu. Seguiu, a passos largos, até o corredor da Sala Precisa, diminuindo a marcha ao avistar a mesma garotinha que no outro dia deixara cair o frasco com ovas de sapo, e que agora tinha nas mãos uma balança de latão. Pé por pé, ele se aproximou, até estar bem próximo dela, e então sussurrou perto de seu ouvido:


- Mas você é mesmo uma gracinha de menina, sabia?


Crabbe soltou um grito agudo de terror – com a vozinha esganiçada da menina – jogando a balança para o ar e saiu correndo desembestado corredor afora, tendo desaparecido de vista antes mesmo que o eco do choque da balança no chão parasse de ecoar pelo corredor. Ainda rindo, Harry ficou a analisar a parede lisa do corredor, atrás da qual Draco Malfoy devia agora estar paralisado, sabendo que havia alguém indesejável no lado de fora da Sala, impedindo-o de sair. Com uma agradável sensação de poder, Harry pôs-se a pensar em quais frases ainda não tinha experimentado para tentar fazer com que a porta da Sala aparecesse. No entanto, esse sentimento não durou muito. Cerca de meia hora depois, ele já havia esgotado seu repertório de possíveis variações do pedido para ver o que Malfoy estava fazendo, e a parede continuava tão sólida e imóvel quanto antes.


- Porcaria! – xingou ele, chutando o chão.


- Harry?! – ouviu uma voz atrás de si dizer – É você?


Ele se virou rapidamente, enrolando-se de tal forma na capa de invisibilidade que quase foi ao chão e se descobrindo quase totalmente. Tonks vinha andando em sua direção, e Harry surpreendeu-se com a aparência da metamorfamaga. Os cabelos tinham um tom castanho sem vida, e os olhos negros – herança da família Black – estavam marcados por escuras olheiras.


- O que está fazendo aqui? – perguntou o garoto, terminando de remover a capa, e guardando-a no bolso novamente.


- Vim ver Dumbledore – respondeu Tonks –, mas ele não está no escritório. Deve estar viajando de novo.


- Você sabe aonde ele vai? – perguntou Harry.


- Hã? – fez Tonks, parecendo totalmente distraída – Ah, não, ninguém sabe. – disse ela, para a parede. Parecia estar em um qualquer lugar, menos ali.


- E era urgente o que você tinha pra falar com ele? – perguntou Harry.


- Hã? – fez ela, novamente – Ah, não, eu só... pensei que ele pudesse saber algo... ouvi boatos...


- É, eu tenho lido no Profeta, estão acontecendo coisas horríveis. – disse Harry – Os lobisomens...


Tonks estremeceu levemente. Harry franziu o cenho, estranhando o comportamento dela.


- Eu... tenho que voltar ao meu posto. – disse ela, de repente – A gente se vê, Harry.


- Ahn... tá. – confirmou Harry – Tchau. – despediu-se, embora não tivesse muita certeza de que ela houvesse escutado, pois já começara a andar rumo ao fim do corredor.


Depois de alguns instantes parado, fitando a ponta do corredor por onde Tonks desaparecera, Harry cobriu-se novamente com a capa de invisibilidade e voltou às tentativas de entrar na Sala Precisa, mas então já havia perdido o interesse. Acabou decidindo voltar ao salão comunal da Grifinória, e tentar pensar em um novo meio de abordar o professor Slughorn enquanto esperava pelo retorno de Hermione e Rony de Hogsmeade, já que Sophie não devia voltar de lá tão cedo.

N/A: espero que gostem. ^^

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