Descobertas



  
19.07.2009

Juro que depois daquela noite eu tentei falar com Lily mais de cinco vezes, mais sempre ela tinha uma desculpa pra me dar. Ela sabia dos boatos e não queria discutir isso comigo. Não que fosse uma coisa muito ruim, mas vocês não entendem o que realmente está em jogo nessa história toda.


Lily é minha prima, sangue do meu sangue, e eu quero muito o bem dela, eu confio nela, mas saber que ela não confia da mesma maneira em mim é doloroso, me magoou.  Mas se não é em mim que ela confia, então em quem é? Cogitei a idéia de o Hugo saber de tudo, ou quase tudo, ou até Kimberly. E se Lily não fosse me contar, eu iria descobrir de outras fontes. 


Pela primeira vez na vida eu consegui acordar mais cedo do que minha prima, me arrumei na velocidade de um raio, o que agora é muito mais fácil já que eu não preciso mais realmente pentear meus cabelos, e fui em direção ao Salão Comunal da Corvinal. Eu iria esperar Kimberly sair para ter uma conversa com ela. 


Fiquei lá um bom tempo, esperando... Batia os pés com freqüência e nada de Kimberly Morgan sair para uma conversinha. Estava ficando impaciente (na verdade a paciência nunca foi meu forte). Quando uma corvinal qualquer saiu apressada, pois há essa hora as aulas já estavam começando e nada da Morgan botar as fuças pra fora. 


-          Hey, com licença, sabe se Kimberly Morgan ainda vai demorar muito pra sair? – Perguntei numa voz gentil.


-          Ha! Não vi sinal da Morgan faz um bom tempo, quando acordei ela já não estava mais na cama. 


Eu fiquei chocada! Como alguém conseguiu acordar mais cedo que eu? Bati o pé e bufei, sai em direção à minha primeira aula já que não conseguiria mesmo encontrar a Kimberly antes da aula e muito menos conversar sobre o assunto que quero em apenas dois minutos.


 Respirei fundo quando vi Scorpius Malfoy e Luke Doyle parados à frente a sala. Porque raios minhas primeiras aulas são sempre com a Sonserina? Vi Alvus sentado numa carteira sozinho dentro da sala e quando apertei o passo pra ir sentar com ele ouvi alguém chamar meu nome. 


-          Hey, Weasley – era o Doyle – o que foi aquilo ontem na detenção?


Scorpius sorriu maroto. 


-          Não é da sua conta...


-          Bom, não sei... Mas eu cheguei a uma conclusão.


-          Bom, sinal de que você pensa – eu disse finalmente o encarando. 


Scorpius ainda tinha o sorriso no rosto, isso fez minhas pernas tremerem. Ele tinha a capacidade de se manter indiferente frente a qualquer assunto. Inútil, em outras palavras. Alvus saiu da sala e se colocou do meu lado, o que eu achei uma surpresa, já que Blume Carter estava ao lado dos Sonserinos e Alvus não se sentiu intimidado, ou pelo menos não demonstrou.


 -          Sabe – Doyle se aproximou mais de mim – Ruivas... – ele disse colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha – têm certo temperamento explosivo, talvez seja por isso que as nossas detenções são com você. 


Eu literalmente tenho um primo mais inútil do que o Malfoy. Alvus apenas ficou encarando aquela loira. Em momento nenhum se preocupou em afastar o Doyle de mim, estava tão distante que nem percebeu que aquela proximidade com o Sonserino me deixou tonta. 


-          Suas detenções são comigo porque, além de eu ser a única que concorda em ficar aqui nos finais de semana, apenas eu consigo fazer vocês dois ficarem de... 


Alvus me puxou antes que eu terminasse minha frase, afinal estava falando sem pensar, e conseqüências haveriam se eu saísse dizendo o que quero, principalmente pra Luke Doyle. Uma coisa que todos sabem é que Luke pode ser um idiota completo que só gosta de fazer gracinhas, mas ele guarda rancor pra vida toda, e é vingativo.


 Alvus me forçou a sentar-me na carteira e me lançou um olhar fulminante. Eu já sabia, assim que acabasse a aula, levaria uma bronca do tamanho do mundo. E espera só o meu primo relatar os acontecimentos pra toda a família. 


-          Você perdeu o juízo, Rose? – Ele perguntou, baixo. 


-          Ele provocou – eu respondi abrindo meu livro. 


Não senti vontade nenhuma de almoçar, ao em vez disso sentei-me debaixo de uma das inúmeras árvores do jardim. Estava virando hábito. Meu livro estava no final e eu não sei quanto tempo conseguiria me distrair, já que os quatro Sonserinos estavam novamente na parte sul do jardim.


Uma sensação invadiu meu corpo todo. Por mais que eu quisesse sentir raiva deles, eu não conseguia. Claro que momentaneamente se consegue ter raiva de todos, como hoje de manhã, no início da aula, eu tive vontade de matar o Doyle. Mas em longo prazo é mais difícil, acho que herdei isso de minha mãe. Ela dizia que quando adolescente ficava dias, às vezes semanas sem conversar com o meu pai, mas eu sei que era por puro orgulho, porque uma coisa é você sentir raiva, outra coisa, totalmente diferente, é ser orgulhosa, e isso os dois tinham de sobra. 


Era assustador como eles, sozinhos, tinham uma aparência mais inocente, mais calma. Mas isso não vinha ao caso agora, porque o que realmente me distraia era o sorriso que em momento nenhum Scorpius tirou do rosto. Ele estava realmente feliz com algo. Oh, e sem perceber, o sorriso dele me fazia sorrir, discretamente, é claro. 


Mas como sempre, o sossego em Hogwarts dura pouco, vi meus dois primos e meu irmão se aproximando. Lily estava acompanhada de Kimberly. Sentaram-se ao meu lado, todos sorridentes, Lily principalmente, como se não tivesse acontecido nada. 


-          Tome... – Alvus me entregou um envelope – A coruja de James deixou no almoço, mas como você não estava... 


Eu sorri em agradecimento. James disse nas férias que me mandaria cartas sempre que pudesse, e a primeira chegou logo, graças a Merlin. Já estava ficando irritada sem ele aqui.


 Rosemarie, 


Como vai a minha monitora favorita? Estive pensando, você no sétimo ano, sozinha, não vai prestar muito. Principalmente com gente como Scorpius Malfoy vivendo sobre o mesmo teto que você. 


Incrível como Scorpius Malfoy me perseguia até nas cartas do meu primo. Mas o que Jay não sabe é que atualmente Doyle está sendo um problema muito maior do que o Malfoy.


Bom, só peço cuidado, e sempre que precisar espanque Alvus até que ele faça o que você quer, eu te dou essa total liberdade. Agora, sobre o assunto mais importante: eu. 


Meu primo quase não é egocêntrico. 


Acho que ficaria feliz em saber que estou a três dias de ir para Romênia. Ainda tenho uma porção de coisas para resolver aqui, e papai disse que me ajudaria. Ah, ontem sai com Roxie e Domi, e adivinhe a novidade (você sabe que Domi e Roxie têm acesso a todas as fofocas da família). Teddy e Vicky marcaram a data do casamento e me chamaram para ser padrinho, junto com você. 


Alvus deveria estar se perguntando o que o irmão dele escreveu, já que eu estava de boca aberta e sorrindo ao mesmo tempo. 


Tia Fleur ficou doida e maravilhada ao mesmo tempo, já que Victoire resolveu não fugir para o Alasca para se casar com Teddy. Vovó está tão contente e sai gritando pela casa toda que quer que Vicky engravide logo, pois quer estar viva quando o primeiro bisneto dela nascer. Você sabe como é a vovó.


Eu imaginava isso desde o princípio. Vovó sempre teve essas idéias insanas.


Bom, e agora um assunto meio delicado. Anita me procurou ontem de manhã, pediu para que nós pudéssemos conversar. Ela disse que não sabe se está preparada para uma relação a distancia e disse que mesmo eu voltando com freqüência pra Inglaterra, para visitar a família, não vai ser a mesma coisa. Então a gente achou melhor dar um tempo. Ela sugeriu que eu conhecesse garotas na Romênia e eu tive que concordar que ela ficasse a vontade para sair com os garotos ingleses.


James deve estar arrasado. 


Não estou arrasado, nem sequer estou chateado, na verdade me sinto aliviado. Anita era como uma sombra.


Esqueci que era uma carta do James. 


Bom, é isso Rose. Beijos a todos em Hogwarts, e vê se mantém meu recorde de detenções por aí. 


Mal sabe ele que o recorde não é dele faz é tempo. Coitado. 


-          O que dizia na carta? – Hugo perguntou, enquanto comia um muffin. 


-          Vicky e Teddy – eu sorri, animadíssima – marcaram a data do casamento. 


O dia passou super rápido, eu estava dando graças à Merlin por ter as últimas duas aulas vagas. Corri até meu dormitório e me arrumei para a detenção, o que me fez pensar... Porque diabos eu estava me arrumando para uma detenção com os dois sonserinos? Quer dizer, agora só um. McGonagall achou melhor separar os dois da detenção. Agora eu era responsável apenas por Scorpius Malfoy, enquanto Doyle teria que sofrer nas mãos de Helena River, a monitora carrasca da Corvinal.


Eu me sentei na mesa dos professores, esperando que aquele loiro Sonserino chegasse para mais uma sessão de tortura. Não demorou muito, por sorte. Dessa vez ele não se opôs e me deu logo a varinha e pegou um pano. 


-          Porque as detenções são sempre iguais, Weasley? – Ele me perguntou, sem realmente me olhar.


-          Na verdade não existem muitas opções – eu disse, surpresa pelo tipo de pergunta.


 -          Poderíamos fazer algo mais divertido, como ser obrigados à dormir do lado de fora do castelo... – Ele disse largando o pano e cruzando os braços.


-          Que tipo de detenção é essa, Malfoy? – Eu perguntei, dessa vez eu que cruzei os braços. 


-          Sei lá, só seria mais divertido...


-          Detenções não têm que ser divertidas. 


-          Mas ao menos assim você se divertiria – ele disse se aproximando de mim – castigos não têm de ser penosos para nós dois, somente pra mim. 


-          Como se você se importasse comigo, Malfoy – eu disse, tentando ir um pouco pra trás. 


Que diabos ele estava dizendo? Ele nunca se importou comigo, ou com qualquer outro Grifinório, ou com qualquer outra pessoa. Ele era o egoísta Scorpius Malfoy, aquele ser frio e com dificuldade de se relacionar. Agora é o preocupado Scorpius Malfoy, que realmente se importa com o meu bem estar? Bom, acho que não. Espero que não. É estranho concordar que não sei se é melhor ter Scorpius Malfoy como amigo ou inimigo. 


-          Eu me importo com as pessoas. 


Ele tinha se aproximado mais e isso me deixou nervosa, mas então apara a minha sorte ouvimos passos apressados vindo na direção da Sala onde estávamos. Eu fui ver o que era e Scorpius veio logo atrás. Vi meu primo, Alvus, ele estava realmente muito perturbado. E segundos depois eu pude ver o porquê. Blume Carter resolvera persegui-lo, de novo. 


-          Blume – Scorpius murmurou e fez menção de ir atrás dela, mas eu o segurei. 


Alvus encostara na parede, até parecia uma donzela indefesa, o que é realmente estranho já que com todo esse tamanho de indefeso ele não tem nada. Mas perto da Carter ele era um esquilo inútil, frágil. Ela o manipulava.


-          Carter...- ele disse numa voz falhada. 


-          Que foi, Potter? – Ela perguntou na sua voz musical. 


-          Quer parar? 


-          Parar o quê? – Ela perguntou, aproximando-se dele do jeito mais sexy. 


Eu o vi avançar na direção dela, tentando beijá-la, e com isso eu fiquei muito, mas muito confusa. Ela se afastou quando ele tentou tal ato. Ela o estava provocando, queria que ele ficasse confuso, eu conseguia perceber.


-          O que você quer? – Ela perguntou num tom alto o suficiente para eu ouvir, mas isso bem perto da orelha dele, enquanto uma das mãos acariciava a nuca dele.


-          Safa...


Eu deixei escapar. Por pouco. Scorpius tampou minha boca e me prensou na porta. Eu fiquei tonta com a rapidez com o qual ele fez isso. A mão fria e ao mesmo tempo macia dele me deixava desnorteada, mas eu não sabia se de fato era a mão dele, ou a cena toda entre meu primo e Blume que eu tinha acabado de presenciar. 


Eu deixei uma lágrima escorregar pela minha face e sabia muito bem que era de medo. Agora, medo de que eu não sabia de verdade.


Scorpius me soltou e eu voltei a observar os dois, em silêncio e na companhia do loiro. Alvus arriscou em erguer a mão e pousá-la na cintura da Carter e pra minha surpresa ela pegou a mão de meu primo e desceu mais um pouco, posicionando a mão dela no quadril. 


Os cabelos loiros dela estavam presos em um rabo curto o que deixava a mostra a nuca dela, onde Alvus tinha colocado a outra mão. As de Blume por sua vez estavam posicionadas no peito e no ombro de meu primo, e eles apenas se olhavam. Até Blume resolver se mexer e colar mais seu corpo no de Al.

Eles estavam se beijando e eu realmente não estava gostando.

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