Distrações





- 27.03.2009

Já não era sem tempo, Hugo começou a reclamar das inúmeras aulas que teria naquele dia. Que culpa tinha eu? Não sou eu que faço os horários dele e então porque ele tinha que reclamar justo para mim?. Não estava com cabeça para esperar meu irmão atrasado logo no primeiro dia de aula, então puxei Lily pelo braço direito e fomos de encontro a Alvus que nos esperava no corredor principal.

Graças ao pingente de Teddy eu não tive que pentear meus cabelos de manhã, e percebi que Lily também não. Foi só pensar num cabelo levemente cacheado e sem volume que assim aconteceu.

Quando encontramos Alvus esperando-nos no corredor ao lado de Kimberly, a amiga de Lily, eu os cumprimentei sorrindo gentilmente, Lily fez o mesmo. Seguíamos tagarelantes até à sala de Poções, onde Lily e Kimby tinham sua primeira aula. Nos despedimos na porta e voltamos em direção à Sala de DCAT.

Infelizmente, como se não pudesse ficar pior, nossa primeira aula era com a Sonserina e por isso era de se esperar que aqueles quatros estivessem esperando os últimos segundos de início da aula do lado de fora da sala. Era de se esperar. Não foi exatamente o que aconteceu, já que de volta ao corredor principal eu acidentalmente esbarrei num deles, ou melhor, o pior deles.

- Hei Weasley, olha por onde anda – Malfoy resmungou pegando o livro que tinha deixado cair.

- O corredor não é todo seu, Malfoy – eu revidei pegando os duzentos livros que eu deixei cair e praguejei mentalmente por nenhum dos “cavalheiros” ao redor me ajudar a recolhe-los.

Alvus nem sequer olhou pra trás. A Carter tem uma certa fissura em incomodar especialmente meu primo. Parece que quando uma criança se torna Sonserina a primeira coisa que ela faz é escolher um Grifinório para pentelhar durante o resto de sua estadia em Hogwarts. E Para Blume Carter o escolhido foi o coitado do Alvus.

- Ela parece querer me comer vivo – ele disse passando a mão no cabelo.

- Ou morto... – eu acrescentei sem perceber o quão desagradável havia sido aquele comentário.

Alvus fez uma careta estranha. Nem liguei na verdade, estava preocupada com Lily, já que eu acabara de me lembrar das cartas misteriosas que ela enviou para alguém durante as férias todas.

- Alvus – eu o chamei enquanto colocava uma mecha dos meus cabelos ruivos atrás da orelha.

- Sim?

- Pra quem acha que Lily mandava todas aquelas cartas?

- Para a Morgan, com certeza.

Argumentar seria infundado. Alvus Potter às vezes conseguia ser pior do que o irmão mais velho. Bufei e agarrei mais meus livros, para não correr o risco de acontecer como minutos antes. Chegamos na aula de DCAT e eu sentei numa carteira logo à frente, esperando que meu primo sentasse ao meu lado, mas de alguma forma ele foi parar ao lado de Metize Brunnet, uma Grifinória vaidosa e egocêntrica.


Eu estava sentada no Jardim. E como monitora da Grifinória deveria estar numa reunião na Sala da Diretora McGonagall, mas sempre alguém se atrasava e as desculpas mais freqüentes eram as aulas.

Eu estava sozinha, distraída lendo um livro, quando vi Malfoy, Carter, Stevens e Doyle cruzando o gramado para se sentarem debaixo da “Árvore da Sonserina”. A parte sul do jardim era toda dominada pelas serpentes, enquanto o resto era pra ser confraternizado entre os Corvinais, os Lufanos e os Grifinórios.

Tentei voltar a atenção ao meu livro, mas as risadas do grupo sempre eram um alvo. Comecei a observar discretamente o tipo de comportamento daquelas pessoas insensíveis. Doyle incrivelmente dava em cima de Judie e ela nem dava bola, na verdade, a cada cantada sem graça que ele dava o grupo inteiro, inclusive ele, caia na gargalhada. Carter já parecia bem mais reservada, porém até o jeito de como se sentava na grama era vaidoso. A pele pálida dela e os cabelos loiros eram motivos de insônia de muitos dos garotos de Hogwarts. E Malfoy... Ele incrivelmente tinha um sorriso encantador, frio, mas muito encantador. Perto dos amigos ele conseguia ser ele mesmo e eu podia perceber, mas quando alguém mais tentava aproximar-se de seu mundo, ele colocava uma máscara, adotava uma personalidade estranha.

Mas ainda assim continuava a ser uma pessoa repugnante.

Rapidamente voltei meus olhos ao livro quando percebi que Malfoy havia se virado pra mim. Eu podia jurar que ele sorriu pra mim, um sorriso no canto da boca, mas se eu contasse isso para qualquer um diriam que eu estava ficando louca.

Talvez estivesse mesmo.

Pensar no inimigo como penso num irmão. Ora, com o que me drogaram hoje? Talvez fosse melhor esquecer o livro, esquecer o sorriso de Scorpius Malfoy e seguir em direção à Sala da McGonagall.


Eu entrei na Sala da Diretora, pensando estar completamente atrasada, mas felizmente ninguém estava lá ainda. Pedi desculpas pelo atraso e a diretora acenou, indicando que eu esperasse sentada. Pouco a pouco os outros monitores foram chegando e a reunião teve seu início. Horas a fio combinando e relembrando regras, etc. Papai costuma dizer que enquanto eu puder evitar um diálogo com McGonagall, assim devo fazer porque ela costumava falar muito mais do que o famoso Alvus Dumbledore.

- Muito bem, Srta. Weasley – ela virou-se especialmente para mim – você como monitora dedicada que é tem uma tarefa especial para está noite.

Já? Mal começaram as aulas e algum idiota já andou aprontando pelos corredores? Cocei a testa, compreensiva e surpresa, mas Minerva continuou falando como se não se importasse com o que eu pensaria.

- Creio que todos aqui já tiveram que uma vez na vida aplicar uma detenção no Sr. Doyle e no Sr. Malfoy, ambos da Sonserina.

De fato eu já, e pior, para os dois ao mesmo tempo. Acreditem, é pior do que lidar com mamãe, tia Gina e tia Fleur em TPM.

- Mas de alguma maneira, Srta. Weasley, Doyle e Malfoy parecem só ter resultado quando em detenção com a Srta.

Fiquei chocada. Eu, Rose Hermione Weasley, consegui domar duas víboras Sonserinas e nem sabia disso?

Ela não precisou nem terminar de explicar. Sabia que os dois seriam novamente alvos de meu trabalho. Que desgosto, primeiro dia de aula e já foram colocados em duas semanas de detenção, sem direito à visita a Hogsmeade. Sinceramente às vezes me pergunto se eles foram muito maltratados quando crianças, porque conseguiram um histórico de detenções maior do que o do James, tudo isso antes do quarto ano.


Eu procurava incansavelmente por Alvus e meu irmão. Passei o dia todo sem trocar mais do que duas palavras com Hugo e isso realmente me fazia falta quando eu sabia que ele escondia algo sobre mim. Como eu sei? Eu tenho sexto sentido. Raciocinem comigo: Lily de longe considera Hugo o melhor amigo dela (nem eu, que sou a prima amada). Se Lily estava escondendo algo, como cartas anônimas para destinos anônimos, o único a saber realmente era Hugo (e Kimberly, mas isso não vem ao caso).

Eu andava em passos apressados no corredor principal, já era tarde da noite e todos estavam no Salão Principal jantando, menos Scorpius Malfoy, que estava de agarros com alguma Sonserina desvalorizada. Nada contra pessoas namorando, mas namoro não é exatamente a palavra que descrevia aquilo e todos os monitores tinham avisos para cuidados especiais com Scorpius.

- Malfoy – eu disse logo atrás dele, com as mãos na cintura.

Ele se virou raivosamente depois de ter que desgrudar seus lábios finos da boca daquela garotinha de 5º ano. Ele sorriu sarcástico e tirou os braços de volta da menina, que se apressou a sumir pelo corredor. Eu não iria atrás dela, o certo seria os dois levarem uma detenção, mas ele já estava em detenção e ela havia sido vítima do veneno daquele monstro.

- Sabe que esse tipo de coisa é proibido... – eu o alertei, sabendo que de nada adiantaria. – Então porque não pega a gravata dela do chão e volta pro seu dormitório antes que eu resolva aumentar sua detenção, que, aliás, é comigo e daqui uma hora, na sala de Poções.

- Não precisa me lembrar dos meus horários, Weasley – ele frisou a palavra “meus”. – Eu sei muito bem aonde tenho que estar daqui uma hora.

Ele pegou a gravata prateada e verde e passou por mim fazendo descaso. Eu bufei. Porque raios Scorpius Malfoy conseguia me irritar com apenas uma frase naquele tom arrogante? Aqueles olhos acinzentados dele me deixavam nervosa, mas parece que ele não ficava nervoso quando fitava os meus olhos azuis. Idiota!


Sabia que Scorpius Malfoy nunca chegaria numa detenção no horário, principalmente nessa, já que ele estava vindo com o seu melhor amigo, que só não é mais encrenqueiro porque ninguém vê. Prendi meus cabelos ruivos num coque desajeitado para me sentir mais à vontade, eu realmente iria precisar me sentir confortável, porque ficar na mesma sala em que dois sonserinos ficarão conversando sobre nada é um desgaste mental.

E é só falar nos capetas que eles aparecem. Luke logo jogou a varinha em cima da mesa, foi bom eu não ter precisado pedir, mas Malfoy queria ser mais persistente. Ele me olhou com indiferença e arqueou uma sobrancelha quando me viu fazer a mesma coisa. Precisei colocar uma das mãos na cintura, fazer uma expressão mandona e estender a outra mão para que finalmente ele se mexesse e tirasse a varinha do bolso.

- Vocês têm uma hora pra limpar tudo – eu disse, e me sentei na mesa do professor, cruzando as pernas.

Eu arregacei as mangas da camisa, assim como os dois, e peguei o meu livro.

- Sabe Luke, ouvi dizer que a pequena Potter está recebendo cartas anônimas – Scorpius comentou com o amigo, em ótimo tom para que eu ouvisse.

- Também ouvi dizer, Scor – Luke continuou, sem tirar os olhos da mesa que limpava – mas ouvi dizer também que o “autor” das cartas anônimas tem escrito coisas...

Ele não continuou. Sabia que eu iria ficar interessada. Parece que os dois tinham bolado aquela conversa durante o dia todo. Como eles sabiam mais que eu sobre esse assunto? Será que todos já estavam sabendo menos eu? Logo eu, que sou a querida prima de Lily Luna Potter? Eu suspirei e voltei a atenção ao meu livro.

- Mas Scorpius, quem sabe quem vem mandando aquelas cartas para a protegida Potter? – Luke voltou com o assunto.

- Não faço idéia, Luksy. Mas quem quer que seja, provavelmente não tem boas intenções.

Aí já era o bastante. Eu me levantei e fui até a porta. Bati-a com força. Eu havia ficado irritada, e agora mais que nunca queria tirar satisfações com a minha prima. Estava pouco me importando se aqueles dois iriam fugir da detenção ou qualquer coisa do tipo. Fui até o Salão Comunal da Grifinória. Lotado de alunos, mas não é difícil achar Lily no meio daquela gente toda, já que ela é uma das poucas com cabelo vermelho vivo.

- Lily Luna Potter – eu gritei e o Salão todo se virou para me encarar. - É melhor você vir comigo agora se não quiser que eu diga aqui e em voz alta... – eu ameacei.

Ela me seguiu sem resmungar. Provavelmente já sabia do que se tratava e não tinha condições de argumentar contra mim. Eu andei de volta à sala de Poções com ela em meu encalço. Abri a porta com a mesma veracidade que a fechei da última vez e pra minha surpresa Malfoy e Doyle ainda estavam lá, limpando as mesas.

Sentei-me na mesa dos professores, com as costas viradas para os Sonserinos. Lily se postou à minha frente, esperando o sermão que estava por vir.

- Quem vem te mandando cartas? – Eu perguntei num sussurro, diferentemente do que eu queria fazer, incrível como eu não consigo levantar a voz pra Lily.

- Não faço idéia, Rose – Lily disse no mesmo tom que eu – te juro.

- O que essa pessoa costuma te escrever?

- Bem, de fato isso não é da sua conta – ela me respondeu, ousada. Parece que perdeu a noção do perigo.

- Lily, há boatos por aí...

- Que se danem os boatos, Rose – ela disse gritando, enquanto passava por mim, para sair da sala – você está ocupada cuidando desses dementes, a gente conversa depois.

É meio óbvio que ruivos têm temperamento explosivo?

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.