Nós odiamos Blume Carter
Só quero que fique claro que: eu odeio Blume Carter. Quem ela acha que é pra sair por aí beijando primos sem autorização? Não que agora Albus precise de comunicados escritos e assinados pela minha pessoa, mas né?! Blume Carter? Blu-me Gree-ny Car-ter?! ELA É LOIRA! ELA É SONSERINA! Tenha dó.
Se acha que eu fui falar com Albus, está muito enganado. É. Se você pensa que eu fui tirar satisfação com a Carter, também errou. Acertou quem pensou que eu escorreguei pela parede e fiquei sentada no chão até Albus ir embora pra um lado e Blume pro outro. Detalhe: Scorpius sentado do meu lado.
- Você pode ir embora? Quero ficar sozinha. – Eu disse abraçada aos meus joelhos.
- Eu estou em detenção, Weasley.
- Eu acabei de te liberar. Por favor, volte pro seu salão comunal.
Mas é claro que, como sempre, Scorpius tinha que me desobedecer. Ele simplesmente se acomodou à porta, esticando uma perna, e ficou ao meu lado, sem fazer nada. Eu olhei pra ele um pouco intrigada, me perguntando que tipo de retardo Malfoy teria.
- Mas eu vou ter que gritar?
- Eu não estou mais em detenção, você não pode mandar em mim. – Ele respondeu sem me encarar.
Eu abri a boca, surpresa e indignada. Depois a fechei fazendo um bico estressado. Eu queria socar alguém. Azar do Malfoy que era o único ali.
- Você é um I-DI-O-TA! – Eu gritei enquanto socava com a minha maior força o seu ombro.
- Ai, Weasley... – Ele gemeu e segurou meus pulsos. – Isso dói.
Será que eu vou ter que informar a ele que era essa a intensão?
Eu estava pronta pra mais alguns milhões de socos e tapas e gritos, mas de repente toda a minha energia se converteu numa tristeza decadente e meus braços ficaram moles. Tanto que eu escorreguei um pouquinho mais pela porta e comecei a chorar.
Scorpius pareceu perceber que o motivo do meu choro não era só a cena que nós tínhamos acabado de presenciar. Ele ficou quieto por dois minutos inteiros, só me ouvindo chorar. Na realidade ele me olhava de forma estranha, talvez com um pouco de pena – sentimento que eu, Rose Weasley, acreditava que não existia na família Malfoy. E a minha suposição foi conformada quando Scorpius suspirou baixinho e tentou conversar comigo.
- Você... Quer que eu fale com Blume? – Ele perguntou um pouco, cof cof, tímido.
- O que? – Não que eu não tenha escutado. Eu só não estava acreditando.
- É, sabe... Quer que eu pergunte a ela se ela e seu primo estão tendo um caso ou coisa do tipo?
- Não! – Eu disse indignada. Da última vez que eu tentei tirar satisfação com um Potter, levei uma patada na cara e um soco na boca do estômago. – É melhor fingirmos que não vimos nada, ok?!
- Ah, ok! – Ele concordou. Ficamos em um silêncio perturbador por mais dois minutos até que Scorpius se levantou e me ofereceu a mão. – Então... Eu estou mesmo livre dessa detenção?
- É, está! Por hoje, apenas.
- Hunf, - ele suspirou perdendo a animação, mas logo a recuperou. – Então te vejo amanhã.
Não foi uma pergunta. Ele simplesmente disse e foi embora. Não que eu me importe com isso, mas...
Estava nos meus planos acordar bem cedo hoje, pra poder pegar Lily ainda dormindo e poder tentar ao menos conversar com ela. Mas a família Potter nunca é pega de surpresa, sério. No café da manhã, quando esperava encontrar um Albus em estado defensivo e calado (como ele fica todas as vezes que sai com uma garota), na verdade encontrei um Albus despreocupado e tranquilo, como de costume.
- Bom dia, Albus! – Eu disse frisando seu nome. – Como foi sua noite?
- Boa, Rose – ele disse enquanto colocava uma fatia de queijo no pão. – E a sua noite?
Bufei com raiva, mas ele não pareceu perceber.
- Não entendi! Por que “bom dia Albus”? – Hugh reclamou de boca cheia. – Eu agora não mereço mais um bom dia da minha querida irmã?
- Bom dia, Hugh. – Eu disse, mostrando-lhe a língua logo em seguida.
Ele e Albus gargalharam logo em seguida voltando a comer. Peguei um waffle e uma xícara de café e olhei em volta. Ainda não estava tão tarde, por isso tinha uma quantidade consideravelmente grande de alunos na mesa da Grifinória. Nenhuma delas era Lily Potter. Bufei mais uma vez e fechei a cara, enquanto voltava a comer meus waffles.
Quando terminei, antes que eu pudesse me levantar, Little Molly veio correndo até mim e sentou-se ao meu lado. Albus sorriu rapidamente para a nossa prima, enquanto Hugh fingia que não a tinha visto.
- Oi primos, - ela nos cumprimentou. – Rosie, Lily mandou te entregar.
Molly me deu um pedaço de papel e se preparou para levantar. Eu franzi o cenho com a rapidez com que aquela garota tinha feito amigos – eles a estavam esperando na porta do Salão Principal. Abri o papel com cuidado e vi claramente a letra em floreio de Lily.
Jardim, às 10:30.
Suspirei um pouco aliviada quando li o bilhete. Enfim eu teria chances de conversar com ela.
As horas pareceram passar lentamente. Eu estava ficando entediada naquela aula de poções e queria sumir dali. Quando finalmente pude-me ver livre daquela sala, fui correndo até os jardins. Lily estava lá, sentada num banco, fitando a fonte.
- Lily, - eu gritei. – Por Morgana! Não converso com você há dois dias. Qual o problema?
- Rose, - ela estava de cabeça baixa. – Me desculpe por aquela noite... Eu, eu... Não queria conversar sobre aquilo ali, nem naquela hora.
- Oh, - eu disse e passei meus braços por seus ombros, deitando minha cabeça nos mesmo. – tudo bem. Sabe, foi ruim não te ver por aí nesses dias.
- É, foi difícil te evitar. – Ela riu.
- E então? – Eu perguntei finalmente. – O que quer me contar.
- Eu estou começando a ficar com medo dessas cartas, Rosie. – Ela disse enquanto fitava os próprios pés.
- Você tem alguma ideia de quem possa estar te enviando elas? – Perguntei também de cabeça baixa.
- Já te disse, Rose – ela choramingou. – Não faço ideia. Mas quem quer que seja, está escrevendo coisas obsessivas desde as férias.
- Tipo o que? – Eu perguntei.
Ela não respondeu, apenas tirou um envelope branco de dentro das vestes da Grifinória e estendeu até mim. A letra era pequena e bem bonita, eu duvidava que fosse de algum garoto. Comecei a suspeitar de algumas garotas que não gostam de Lily e que poderia estar fazendo aquilo simplesmente para magoá-la, mas não disse isso para ela. Li com cuidado a carta toda que dizia coisas do tipo “eu te quero e você será minha” e “não adianta se esconder, eu sempre vou te achar”. Mas o final foi o que mais me surpreendeu... Em uma letra itálica estava escrito a seguinte frase:
Se você não pode ser minha, não será de mais ninguém...
PS. Cuidado com os Diabretes, eles podem ser bem impertinentes.
- E você acreditaria se eu te contasse que hoje, durante uma aula de DCAT, os Diabretes do Professor Berkins misteriosamente fugiram de suas gaiolas e tocaram o terror na aula? – Lily perguntou. Estava um pouco assustada e nervosa; ficava mexendo os dedos compulsivamente.
- Bom, isso torna a nossa busca bem mais fácil. – Eu disse, tentando acalmá-la.
- Como assim?
- Bom, esses Diabretes não escaparam sozinhos. Alguém deve tê-los libertado durante a aula. Logo tem que ser alguém do 5º ano. Com que casa você teve essa aula?
- Corvinal.
- Levando em consideração que não tenha sido ninguém da Grifinória, - eu me levantei e postei-me a sua frente. – Só temos que procurar pelo idiota que está fazendo isso com você. E por sorte temos uma espiã linda e pronta pra nos ajudar.
- Kim! – Ela sorriu. Num pulo se levantou e agarrou meu pescoço, mas em questão de segundos abandonou a expressão esperançosa. – Mas o que te faz pensar que não tenha sido nenhum Grifinório?
- Até parece que não conhece sua própria casa. – Eu ri enquanto passava os braços por seus ombros e andava com ela em direção ao castelo. – E quem de nós teria coragem de mexer com a caçula dos Potter, hein?
- Ora! – Ela disse rindo. – Nós somos os corajosos, não somos?
- É, tem razão. – Eu disse enquanto parava de andar. – Mas ainda somos uma família.
Estava indo para a minha aula de Herbologia com Albus quando senti alguém puxando minhas vestes. Eu esperava virar e dar de cara com um primeiranista perdido querendo informações, mas o que vi foi a cabeça extremamente loira de Scorpius Malfoy. Suspirei um pouco cansada. Vi Malfoy lançar um olhar sugestivo para meu primo e senti que se não os separasse logo alguém deixaria escapar que viu outro alguém fazendo coisas que a prima não gostou nadinha numa noite anterior.
- Posso falar com você, Weasley? – Ele perguntou num tom sério.
- Claro, - eu respondi no mesmo tom e o puxei para longe de Al. – O que foi?
- Ah, sobre a detenção hoje a noite. – Eu já estava prevendo uma desculpa. – Podemos como adiar e...?
- Sabe, detenções são prioridades, Malfoy. – Eu cruzei os braços e ergui uma de minhas sobrancelhas. – Não devia ter marcado nenhum compromisso essa noite esperando que eu fosse legal o suficiente pra te liberar como fiz ontem.
- Não é algo que eu possa escolher, Weasley – ele reclamou.
- Não posso fazer nada, Malfoy.
- Claro que pode! – Ele então cruzou os braços. – Qual o problema de substituirmos essa noite por outra?
- Se a McGonagall descobre ela...
- Mata a nós dois, eu sei. Mas quem garante que ela irá descobrir?
- Ela sabe de tudo, Malfoy – eu bufei.
- Você se preocupa demais. – Ele reclamou de novo. – Está estressada? Precisa de uma massagem? – Scorpius avançou em meus ombros, apertando-os numa tentativa de massagem.
- Não! – Respondi indignada enquanto me afastava dele.
- Weasley! – Ele chamou. – Por favor... Rose!
Eu virei imediatamente. Desde quando ele tinha intimidade pra me chamar pelo primeiro nome?
- Por favor – e aí ele fez uma carinha de cachorrinho sem dono e eu não consegui resistir.
- Ok, mas só por hoje.
- Obrigado! – Ele abriu um sorriso consideravelmente grande e num instante já tinha sumido da minha frente.
Eu fiquei lá, parada, sem entender muito bem como Scorpius conseguia ser estranho desse jeito. Quer dizer, ele some e aparece do nada às vezes. Isso me assusta.
- O que ele queria? – Ouvi Albus perguntar ao meu lado.
- Se livrar da detenção.
- Imaginei que fosse algo do tipo – ele comentou.
Olhei para Albus com uma expressão um pouco desapontada. Imagens da noite anterior não paravam de surgir na minha cabeça. Eu nunca conseguiria acreditar que Albus Potter, meu primo e melhor amigo, fosse um dia cair nas graças de Blume Carter, uma sonserina ridícula com complexo de grandeza que me dava nojo.
- O que foi? – Albus perguntou.
- Nada, Al. – Eu disse com um sorriso forçado enquanto tomava meu rumo até a aula de Herbologia. Albus vinha logo atrás.
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