a fuga.

: Lily Evans narrando.
: St. James High School 

Bom, mamãe já estava avisada. Depois que liguei, ela tentou me ligar de volta milhares de vezes, mas ignorei todas as ligações. Tentei parecer menos ridícula possível, mas não dava. Esse uniforme era mesmo uma merda.

Abri a porta do quarto e saí. O pátio estava lotado. Todos usavam a mesma roupa. Meninas: vestido preto, blusão branco, meia e sapato horrível. Meninos: blusão branco, paletó preto, calça preta e sapato social. Quem foi o idiota que escolheu esse uniforme? Sério, isso é muito bizarro.

- 'Licença – uma garota chegou com uma voz doce perto de mim. – Você é Lily Evans? A garota nova?

- Sim, sou eu – respondi grossa e saí de perto. Uma coisa que não queria era me juntar com esses alunos puritanos. Andei pelo pátio e finalmente encontrei o escritório da Madre.

- Olha só, Madre – comecei, entrando no escritório. – Eu vou sair desse colégio, já avisei a minha mãe – só então percebi que tinham três garotos sentados me olhando. – Ah, não vi que tinha gente – eles eram até bonitinhos. Mas puritanos. – Mas mesmo assim, a senhora está avisada – sorri e saí do escritório.

Voltei direto para o quarto para bolar minha fuga na calada da noite. Quando entrei, tinham duas garotas sentadas, conversando. Uma era loira e outra morena. As duas eram lindas, mas estavam simplesmente acabadas naqueles uniformes.

- Olá – sorriso falso.

- Oi – uma delas respondeu, enquanto eu pegava minhas roupas. – Sou Marlene e essa é a Emmeline.

- Prazer – nem olhei na cara delas.

- Lily Evans, não?

- É.

- Bom, seja bem vinda – uma outra voz, provavelmente da outra garota, disse.

- Bom, adeus – suspirei, sentando na cama e olhando para elas.

- Como assim? – A morena perguntou.

- Qual seu nome?

- Marlene.

- Bom Lene, eu vou embora daqui.

- Desculpe, mas meu nome é Marlene – ela sorriu sem graça.

- É, mas seu apelido é Lene a partir de agora – retruquei.

- Não gosto de apelidos.

- Não perguntei se você gosta ou não.

- Pode me chamar de Emme – a loirinha sorriu, tentando parecer amigável. – Meu pai costumava me chamar assim.

- Atá – dei de ombros. – Bom, o que vocês fazem de bom por aqui? Festas? Onde estão bebidas? Vocês devem se pegar tanto por aqui – sorri.

- Nós rezamos – Emme disse.

- Vocês fazem o que?

- Rezamos – ela repetiu.

- Faça-me rir - disse descrente. - Até parece. A maioria das pessoas que se fazem de santas, definitivamente não são. Vocês bebem?

- Água e suco – a Lene sorriu. – Bebida alcoólica é pecado.

- BEBIBA ALCOÓLICA É O QUE? – Gritei. Estava chocada.

- Pecado.

- E nós não temos namorados – Emme disse. – É proibido esse tipo de relacionamento na escola.

- E aqui só fazemos festa no Natal. Passamos o dia inteiro rezando e depois fazemos a Ceia – Lene disse.

- Okay, respira – tentei me acalmar. – Quantos anos vocês tem?

- 17 anos - Lene respondeu.

- E vocês são virgens?

- É claro que somos! – Emme exclamou chocada, como se tivesse acabado de dizer a pior coisa do mundo.

- Meu Deus – sussurrei. – Vocês nunca beijaram na boca?

- Beijos e maiores intimidades só depois do casamento – Lene disse. – O que você pensa que somos?! – Ela exclamou.

- Talvez pessoas normais? – Perguntei, me jogando na cama. – Eu vim parar no inferno e vocês são o diabo, só pode ser. Vocês e aquela Madre mal-amada – sussurrei.

- Ô meu Deus! – Lene exclamou. – O que você disse que nós somos?

- Vocês ouviram – murmurei.

- Você precisa de salvação, Lily. Imediatamente – Emme disse e as ouvi saindo do quarto reclamando e dizendo que precisava de salvação. Sim, eu precisava. Precisava sair desse lugar.

Olhei no relógio. Sete da noite. Esperaria até umas onze para poder tentar sair daqui. Virei-me na cama e resolvi dormir um pouco, afinal de contas, ainda estava um pouco sobre o efeito da ressaca. Quando acordei, Lene e Emme já estavam dormindo. Eram onze e meia da noite. Peguei minha bagagem de mão com as coisas mais importantes – documentos, celular, notebook, etc. – e saí do quarto tentando não fazer barulho.

O pátio estava vazio. Estava um pouco frio, mas nada que impedisse minha fuga. Caminhei até o grande portão de ferro tentando não fazer barulho e observando para ver se vinha alguém. Cheguei ao portão e joguei minha mala no chão. O portão tinha o dobro ou, se bobear, o triplo do meu tamanho. Parei, tentado pensar em um modo de passar por ele. Só veio a minha cabeça uma coisa: escalada.

Peguei minha mala e passei a alça pelo meu ombro – não podia jogá-la do outro lado. Comecei a escalar o portão. Detalhe: não tinha nada para apoiar meu pé e cada vez que tentava subir, caía um pedaço. Quando cheguei na metade, o peso da mala começou a fazer com que eu descesse. Fiz força e finalmente alcancei o topo do portão – as escalas que fiz com meu pai há anos atrás serviram para alguma coisa. Mas o peso continuava a me atrapalhar e eu começava a cair. O tombo seria feio e provavelmente quebraria alguma coisa.

- AAAAH! – Gritei, quando escorreguei um pedaço. – SOCORRO! SOCORRO! – Comecei a gritar.

Tentava segurar no ferro do portão, mas não adiantava, cada vez que caia mais. Puta que pariu, já vi que vou ter que ficar nesse colégio. Minhas mãos já estavam doendo. Tentei subir mais uma. POFT! Caí de bunda no chão. Esse foi a cena mais ridícula, mais patéticas e mais desesperadora de toda minha vida. Levantei com a bunda e as mãos doendo. Esfreguei a mão no vestido para tirar a terra e peguei minha bagagem. Precisava ligar imediatamente para mim mãe. Quando virei para voltar pra o dormitório, a Madre estava de pé me olhando.

- Boa noite, senhorita Evans – ela disse com um risinho na voz. Não respondi nada, continuei andando. – Será que a senhorita poderia me responder uma coisa?

- Fala – murmurei.

- Você sabia que quando mais subimos, mais dolorosa é a nossa queda? – Minha vontade foi dar o dedo do meio a ela e mandá-la para aquele lugar. Mas não fiz.

- Não sabia, obrigada por avisar. Da próxima vez tento algo mais baixo.

- Ah, não – ela riu. – Não haverá próxima vez, senhorita Evans. Boa noite – ela sorriu e saiu andando.

Velha idiota! Eu estava com uma enorme vontade de ir mandá-la tomar naquele lugar ou então voar minha bolsa bem na cabeça dela, como se brincasse de tiro ao alvo. Com a bunda doendo e com a cabeça quase explodindo de raiva, voltei para meu monótono quarto. Me joguei na minha cama e senti algo vibrando no meu bolso. Mãe.

- Oi mãe – disse, com voz derrotada.

- Até que enfim você me atendeu! Como assim voltar pra NY? – Ela perguntou, um pouco nervosa e surpresa. Suspirei.

- Ia fugir do colégio – disse e continuei antes que ela falasse alguma coisa. – Pra falar a verdade, estava fugindo nesse exato instante. Tive a brilhante idéia de escalar o portão – me sentia tão burra ao pensar em meu plano patético.

- AH, Lily, pelo amor de Deus! – Minha mãe exclamou, enquanto eu fazia um cálculo mental para saber que horas eram em NY. – Seu pai mandou você para aí pra ver se você se ajeitava e você continua fazendo merda!

- Mãe, isso daqui É UM INFERNO! – Gritei e uma das meninas se mexeu; voltei a falar quando me certifiquei que não tinha a acordado. – Isso é um inferno, mãe! Eu conversei com as garotas que dividem quarto comigo e elas ainda são virgens! Com 17 anos!

- Nem todas as garotas são maníacas por sexo, Lily – se estivesse do lado da minha mãe, poderia ver seus olhos revirando.

- Eu sei, mas isso é tão estranho! Elas não namoram e quando disse que isso aqui era um inferno, o que realmente é, elas saíram do quarto dizendo que eu precisava de salvação! – Exclamei e minha mãe soltou uma gargalhada.

- Também acho que você precise de salvação – ela riu mais ainda.

- Sabe do que eu preciso? Um garoto, uma garrafa de uísque e um quarto vazio. É disso que preciso – disse emburrada.

- Você precisa crescer, Lil. Se você não melhorar, não vejo previsão de volta para NY – ela me alertou.

- Tudo bem, eu gosto de Londres – sorri para o teto bege sem graça. – Mãe, será que a velha deixa eu pintar o quarto?

- Velha?

- A Madre Superiora rabugenta que me viu fugindo. Acho que tomarei minha primeira advertência – ri sozinha.

- Lily, Lily, fique sabendo que tudo que acontece aí é informado ao seu pai. Continua assim que provavelmente ano que vem você irá ser mandada para ficar com Dalai Lama – nós duas rimos. Minha mãe apesar de vez em quanto fica chateda comigo – tenho certeza que ela se chateou com o acontecimento da festa - mas ela é um pouco mais light. Já o meu pai. Bom, ele é o stress em pessoa e até hoje não está acostumado com o meu jeito. 

- Mãe, eu quero sair daqui.

- Desculpe, Lil. Essa é uma decisão que eu não posso voltar atrás – dava para perceber o quanto ela queria voltar atrás.

- Tudo bem, mãe – sorri novamente para o teto. – Se a garota não se adapta ao colégio, então vamos fazer o colégio se adaptar a garota.

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