Chocolate Vomitado





O balconista levantou a sobrancelha para Draco.
-A sua esposa?
-Sim, quero um quarto para mim e minha esposa!
-Não vejo nenhuma esposa, Sr.
Estava numa espelunca de quinta categoria, e agora se lamentava por isso. Era incrível como esses atendentes de merda não eram discretos! Se fosse num hotel cinco estrelas poderia pedir dezoito quartos para seus filhos que nem uma palavra seria dita contra ele.
-Ela está no carro!
O rapaz mal vestido olhou desconfiado, mas a resposta era satisfatória. Pegou uma chave velha e meio enferrujada e entregou a Draco.
Draco resmungou qualquer coisa e levou as malas para o quarto 201.
-Ah não...
O quarto tinha uma cama velha, forrada com o que parecia uma colha de retalhos. Havia um criado-mudo vagabundo do lado esquerdo da cama. Havia uma pequena janela numa parede lateral, que tinha o que parecia ser uma cortina suja e surrada cobrindo. No chão de tacos de madeira mostrava um lugar onde alguém arrastara os móveis várias vezes, devido ao quão arranhado o chão estava.
Colocou as malas no chão e antes de buscar Cho resolveu conferir o banheiro, só por precaução.
Uma pia azul com um espelho mínimo em cima, um chuveiro e um vaso sanitário. Cerâmica comum, muito estampada e de baixa qualidade. Não estava muito limpo, mas quebraria um galho se fosse para ficar pouco tempo ali dentro.
Desceu as escadas se irritando com o modo como essas rangiam quando ele pisava nos degraus, mas tentou ficar calmo, tinha muito que pensar para perder as estribeiras por uma escada de hotel.
O corpo morto estava na cadeira ao lado do motorista, com os olhos fechados e o pescoço pendido para o lado do motorista. Para quem visse de fora pareceria que a mulher estava dormindo.
Abriu a porta e novamente aquele cheiro horrível lhe deixou enjoado. Como se não bastasse o cheiro de carne podre, o perfume que encharcara nela estava misturado deixando aquele pequeno automóvel fechado um lugar irrespirável. Prendeu a respiração e ajeitou o vestido dela, cobrindo bem as partes do corpo dela, que já mostravam estar um pouco diferentes do normal. Pegou-a no colo, empurrou com o pé e fechou a porta do carro. O mais rápido que pôde a levou para o quarto.
-É impossível ficar assim...
Tirou a camisa e a calça, morrendo de raiva. Agarrou o corpo e o arrastou até o banheiro, teria que dar banho nela de novo, não dava para ficar respirando aquela inhaca.
-Vê se pode... Eu não tomo um banho decente desde ontem à tarde e essa vadia morta já tomou dois banhos desde então!
Esfregou a bucha com força pelo corpo dela, para ver se a podridão diminuía. Quando terminou de a secar e vestir o cheiro estava suportável. Colocou uma camisola nela e a largou na cama, numa posição como se estivesse dormindo.
Já ia tomar banho quando reparou que ela não dormia de barriga para cima. Deu um passo em direção a ela para consertar.
-Que se dane, Draco. Ninguém aqui sabe disso!
Voltou para o banheiro e ligou a água do chuveiro, mas saiu e consertou o corpo, deixando na posição certa. Antes que voltasse para ducha sentou-se ao lado dela. Estava cansado e triste.
A morte que tanto tinha apreciado agora era um estorvo, e isso não era legal. Tinha que dar um jeito logo de se livrar dela de uma vez por todas, mas de um modo que ninguém pudesse suspeitar dele. E para que isso acontecesse só tinha um jeito: várias pessoas teriam que vê-la “morrer”.
Levantou-se e foi para o banheiro. Enquanto deixava a água cair no seu corpo tentava imaginar como ela morreria. Cairia de um prédio alto? Seria atropelada? Engasgaria com uma ervilha do sanduíche? O certo era que muita gente tinha que o fato.
Saiu do banho, trocou de roupa e se deitou ao lado dela, já não exalava nenhum cheiro ruim. Fitou o rosto oriental dela. Algumas mechas de cabelo tinham caído sobre seu rosto, ela estava com uma expressão calma, e ali mesmo, tão de perto, parecia que ela só estava dormindo.
Ele se assustou quando ela abriu os olhos, pensou em gritar e sair correndo, mas ela lhe tomou a mão e sussurrou calma.
-Não tem problema, Draco. Está tudo bem.
Ele sentiu o toque suave da mão dela e de repente não precisou entender a situação só a queria por perto, a puxou e lhe beijou com vontade. Ela separou o beijou com um rosto grave.
-Por que não nos casamos, Draco? Por quê?
Ele quis dizer algo, mas ela ficava gritando alto, não lhe deixava falar! Ele a pegou pelo braço e a tacou da janela, ela gritou.
Ele gritou.
Acordou suado e ofegando, ao seu lado, para sua felicidade, ela continuava morta.
-Maldita, vadia, cadela...
Passou a mão pela cabeça, estava pingando de suor. Sua respiração ofegante lhe mostrava o quanto o sonho tinha sido perturbador. Estranho, ele gostava tanto da sensação de matá-la.
Ficou de pé, não queria voltar a dormir com ela ali, do seu lado. Pegou o lençol e estendeu no chão, era desconfortável, mas melhor que dormir abraçadinho com a defunta.
Deitou no chão, mas não foi por causa da falta de conforto que não conseguiu dormir. Tinha uma coisa que martelava na sua cabeça. Espiou em cima na cama, o corpo imóvel estava lá, deitando calmamente, repousando.
Um sorriso maldoso lhe passou pelos lábios.
Por que tinha que simular uma morte quando podia fazer isso acontecer de verdade? Por que ter todo o trabalho de fazer os outros pensarem que ela estava viva para então morrer se ela podia morrer de verdade *i*mais uma vez*/i*?
-Draco, Draco, Draco... Você é in-crí-vel!
Nem precisaria pensar muito em como matá-la, ela era tão precipitada e tão louca que acabaria se matando sozinha, de qualquer forma. Só iria coordenar para que isso acontecesse na frente de muita gente.
Lembrou do pensamento que tivera na noite em que passara com Galaxy. Tinha se sentido como alguém numa rigorosa dieta que comera um suculento chocolate, e apesar de ser errado nada lhe tirava o prazer do doce. Naquela noite concluíra que o seu chocolate ele só poderia comer uma vez, porque não se matava alguém duas vezes, mas... ele iria vomitar o chocolate, para então comê-lo novamente.
-Argh, que nojo.
Bom, a comparação era nojenta, mas a idéia era sensacional.
Olhou para Cho estirada na cama, abriu a mala dela e tirou o vestido mais bonito que encontrou. Ela iria querer estar arrumada quando acordasse.

A campainha tocou.
Ela abriu os olhos com custo e olhou para o relógio, duas da madrugada. Levantou irritada e colocou um robe.
A campainha tocou de novo.
Calçou as pantufas de cogumelo e desceu as escadas, tinha dois homens lá fora. Abriu a porta irritada.
-Vocês não têm relógio?!
-Desculpe, Sra. Lackshame, mas nós dois somos Aurores, queremos confirmar o caso Malfoy.
Ela ajeitou o cabelo e mandou os dois entrarem. Um deles tinha o cabelo castanho e olhos verdes o outro era ruivo dos olhos castanhos. Abriu um pouco o robe para que seu colo ficasse amostra.
-Em que posso ser útil?
-Eu sou Harry Potter e este é Ronald Weasley, nós queríamos que a Sra. confirmasse que Draco Malfoy matou Cho Chang.
Ela sentou no sofá vermelho com as pernas cruzadas, tendo o cuidado de deixar suas pernas bem à vista.
-Não posso fazer isso. Dei uma queixa que Draco Malfoy *i*poderia*/i* ter matado a companheira. Não tenho provas.
-Mas o que foi que fez com que a Sra. pensasse isso?
-Você, por favor. Sra. está no céu.
Ela deu um riso que nenhum dois dos respondeu. Meio sem graça ela voltou a falar.
-Draco disse que ele tinha se livrado dela, porque ela estava o irritando muito e nunca o deixaria por vontade própria. Só que absolutamente todas as coisas dela continuavam lá: roupas, jóias... até o gato que Draco detestava. Quando você parte de um lugar, você leva suas coisas.
Harry sorriu discreto para Rony, os dois pareciam ter ganhado o presente antes do natal.
-Mas não havia nada mais que fizesse você pensar que ela foi assassinada?
-Tirando a situação estranha e o modo como ele sempre ria quando falava dela, de como ela se foi... não. Mas eu quero saber, por que esse interrogatório agora?
-Bom, Malfoy foi visto saindo de casa acompanhado de Chang. Ela não falou nada, não fez movimentos bruscos, nem sequer parecia normal, mas era ela.
-Sinto muito, mas não posso afirmar nada.
Os dois se levantaram, mas ela se adiantou.
-Vocês não gostariam de tomar uma xícara de café?

Ele pagou o hotel e entrou no carro. Ela estava maquiada e perfumada, seu cabelo estava arrumado e um batom vermelho estava em seus lábios. Suas unhas estavam pintadas de roxo e ela usava várias jóias. Cho estava sorrindo.
-Ora, ora, meu amor. Em breve você vai estar acordada novamente... Breve, breve.
Depois de algumas horas dirigindo encontrou uma mercearia pequena, comprou os poucos ingrediente que precisava para fazer uma poção que faria as células dela reviverem.
A poção em si era usada comumente na medicina bruxa, servia para manter forte os órgãos de pessoas que tinham sofrido mordidas graves de animais mágicos ou para não deixar que evaporasse a pele de alguém que foi atingido pelo feitiço corrosivo. O que era ilegal ali era somente o feitiço de magia negra que ele executaria. A combinação da poção dentro do corpo dela com o feitiço animador que a traria de volta.
Estava tão contente como nos primeiros dias em que tinha se livrado dela. Aquilo era tão emocionante! Iria matar Cho de novo! Era mais do que podia imaginar ou querer. Ria descontrolado e toda hora se pegava cantando uma musiquinha besta.
-Eu tinha uma amiguinha que se chamava Cho Chang. Um dia, fiquei muito puto e matei a Cho Chang...
Parou o carro numa rodovia deserta e começou a preparar a poção, a todo momento olhava para os lados, para ter certeza de que não fora localizado. Apesar de toda a calma que estava sentindo não se esquecera que havia Aurores atrás dele. Mas era tudo uma questão de tempo, talvez amanhã a noite já estivesse com o nome limpo e com a alma em paz novamente.
-Pois é, tanta gente diz que viver é difícil... No seu caso, Cho, morrer também é.
Assim que a poção ficou pronta ele fez todo o líquido passar pela garganta dela, assim que ela bebeu tudo ele retocou o batom e se posicionou à frente dela.
-Hora de acordar, querida. Corporato!
Uma nuvem negra foi a envolvendo da cabeça aos pés. O corpo dela ficou transparente e pode ver os ossos do braço dela, e via toda a poção circulando pelas veias já não tão mortas. Ela tossiu.
-Vamos, vamos. Abra os olhos, amor.
Então o corpo dela voltou a ter a cor pálida de sempre, ele prendeu sua respiração quando ela inspirou o ar. Ele começou a suar frio, mas então ela abriu os olhos. Ele sorriu.
-Bem vinda volta, Cho. Aproveite a breve estadia.

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