Capítulo Quinze: Hogsmead



Pessoal, quero primeiramente pedir desculpas por ficar mais de cinco meses sem postar um capítulo novo. Sinto que estou em débito com as pessoas que acompanham minha fic e esperam pelas novidades na história.


Bem... Aqui está o capítulo novo. Em breve postarei o próximo e antes que alguem pergunte: não, eu não vou demorar tanto desta vez


 


 


 


 


Capítulo Quinze: Hogsmead


Encostado na parede da entrada do castelo, Harry esperava pacientemente que Gina chegasse. Ele não sabia se era normal uma garota demorar duas horas se arrumando para um passeio. No dia do casamento ele entendia que ela queria ficar ainda mais bonita que o de costume e por isso usou de todas as horas que tinha sobrando para se produzir. Mas agora não era necessário tanto esmero.


– Será que ela ainda vai demorar mais? – ele perguntou para Hermione, que estava sentada em uma pedra ao lado do amigo.


A garota fechou o livro que estava lendo e olhou para Harry quase com incredulidade.


– Existem momentos que eu chego a duvidar da sua maturidade. Será que você não entendeu o motivo da demora da Gina?


Harry não sabia bem como responder a isso. Os motivos ele conhecia, mas acreditava que eram desnecessários tantos cuidados. Gina era linda e sabia disso. Todos sabiam disso.


– Ela está caprichando no visual hoje... – Harry respondeu sem muita convicção.


– E sabe a razão de todo esse capricho?


– Hum... Bem, acho que não...


– Este é o primeiro encontro que vocês terão depois que voltaram a namorar. Entende o quanto isso é importante para ela? A Gina quer... Não, ela precisa que tudo seja perfeito. Então se puder ser um pouco mais compreensivo eu agradeceria.


Harry puxou a amiga pelo braço com delicadeza e falou baixo em seu ouvido, em tom levemente zombeteiro:


– E você? Eu não sou cego. Posso perceber que também está mais produzida que o de costume. Mas você não está nos atrasando.


Hermione sorriu de forma marota para ele.


– Eu comecei a minha sessão de embelezamento uma hora antes da Gina e terminei meia hora atrás.


– Caramba! E desperdiçou todo esse tempo para o Rony?


– Muito engraçado Potter.


Os estudantes subiam nas carruagens e seguiam para a vila próxima ao castelo. Neville e Luna, junto de Parvati e Simas foram juntos na mesma carruagem.  Estavam sorridentes e provavelmente conversando amenidades. Harry notou o quanto Neville tinha mudado no decorrer daqueles anos. Antes ele era pouco ativo socialmente e um péssimo duelista. Mas agora conseguia se relacionar sem problemas com os outros e suas habilidades em feitiços e combate melhoravam a cada dia.


E quanto a Luna, bem... Qualquer pessoa que conseguisse enxergar além do festival de excentricidades passaria imediatamente a gostar da garota. Era simplesmente impossível não ser amigo de Luna Lovegood depois que abria as portas para ela.


– Harry – Hermione falou interrompendo seus pensamentos – Você... Você acha que vale à pena tudo isso? Quer dizer, eu amo o Rony e sei que quero passar o resto da minha vida com ele. Mas essa recusa irredutível me faz duvidar da veracidade dos sentimentos dele.


Ele pareceu pensar por alguns segundos e depois falou:


– Agora que nós sabemos a verdade e ele nos contou todas as coisas que teve de sacrificar para manter seu segredo a salvo, me diga Hermione, não seria interessante olhar as coisas por este ângulo: o Rony é o tipo de pessoa que abdica da própria felicidade em prol dos amigos. Machuca a si para que ninguém mais tenha que se machucar e faz o que está ao seu alcance para que este mundo seja melhor. Então, agora responda com sinceridade: acredita que ele faz isso por qualquer um, ou apenas por aqueles a quem ama de verdade?


– Não sei bem como responder essa pergunta. O Rony não parece do tipo heróico clássico, que sai em jornada para espalhar o bem. Ele faz o que faz por uma razão mais forte e dura: nasceu para isso, literalmente. As duas opções que você me deu podem levar a caminhos estranhos pelas respostas subsequentes a elas. Não posso responder a isso assim.


Harry não sabia bem se tinha entendido as palavras da amiga e seu rosto demonstrava essa dúvida, mas procurou manter a compostura e falou:


– Mas eu posso responder com muita clareza essa pergunta. Entretanto, quero que você encontre sua resposta. E para ajudá-la a entender algumas coisas vou lhe dar uma dica. A primeira opção faz dele um homem admirável e invejável. A segunda opção torna você, a mulher mais amada do planeta.


 


As ruas do vilarejo estavam cinzentas pela fina camada de neve espalhada de forma irregular. O inicio do inverno tinha abaixado significativamente a temperatura. Um Harry alegre e sorridente caminhava de braços dados com Gina. A ruiva estava deslumbrante. Uma maquiagem esmerada e suave tornava seu rosto mais belo que nunca. Alguns garotos paravam o que estava fazendo para olhar para ela, mas logo desviavam o olhar com medo da reação do namorado. Afinal qual bruxo gostaria de ser alvo da fúria de Harry Potter?


Alguns passos atrás, uma não menos bela Hermione caminhava ao lado de um Rony ensimesmado e pouco sociável. Os mesmos garotos que antes olhavam para Gina, agora fixavam seus olhos nela, mas Rony parecia não notar.


Hermione bufou frustrada, mas não falou nada para ninguém. Perto do Três Vassouras alguns estudantes da Grifinória se agrupavam, como se quisessem espantar o frio. Pelo clima alegre, deviam estar conversando sobre coisas típicas de adolescentes. Gina arrastou Harry até eles e o rapaz foi, mas com uma careta de desaprovação. Hermione parou e olhou para Rony, esperando que ele dissesse algo. O ruivo aparentemente havia decidido que o céu cinzento era mais interessante que as pessoas ao seu lado, pois não parava de olhar para cima.


Ela deu um pigarro e Rony abaixou o olhar.


– Pois não? – ele perguntou com aparente naturalidade.


– Sério Rony, acha mesmo que eu vou me deixar iludir por essa falsa indiferença?


– Você se deixou iludir por muitas outras coisas... Por anos – ele rebateu sem emoção.


Ela o olhou espantada. Rony nunca era tão seco dessa forma. Nos últimos tempos ele de fato tentava afastá-la, mas jamais de forma tão incomum. Mesmo nos devaneios e sonhos mais cruéis, Rony ainda era simplesmente Rony, e ele jamais era frio.


– O que há com você?


Ele levantou uma sobrancelha, parecendo genuinamente intrigado.


– Você sabe o que há de errado comigo Hermione. Eu falei isso diversas vezes para você. Infelizmente minhas palavras foram ignoradas por completo. Mas tudo bem, isso não importa mais.


– Não me trate dessa forma Rony. Sabe que esse tipo de tática não funciona comigo.


Com um profundo suspiro, ele girou o corpo e continuou caminhando dando a entender que o assunto estava encerrado.


– Por que está fazendo isso? – Hermione gritou com uma voz trêmula de tristeza, chamando a atenção de vários estudantes próximos a eles incluindo Harry e Gina.


Rony gemeu, como se a tristeza dela o fizesse sentir dor física. Ele tornou a virar e caminhou a passos relutantes para perto dela. Olhou em volta e quase num sussurro, falou:


– Porque estar perto de você sem poder demonstrar tudo o que sinto está consumindo meu corpo, minha mente e minha alma. Então eu prefiro não sofrer mais e me afastar completamente. Sei que é uma atitude completamente egoísta.


– Eu ainda não consigo entender – Hermione tinha os olhos cheios de lágrimas – Como pode ser tão errado que nós fiquemos juntos? O que os outros guardiões fizeram com as suas vidas? Nenhum deles viveu sem ser preso ao seu dever?


Rony não respondeu nenhuma das perguntas. E Hermione percebeu espantada que esse silêncio era a resposta para todas elas. Nenhum dos guardiões tinha amado alguém que não fosse a Herdeira.


– Ela é tudo para nós – Rony falou como se estivesse lendo sua mente, o que poderia ser verdade – Nada importa mais que a Herdeira. A segurança dela, a felicidade dela. Isso é o mais importante. Se essas coisas estiverem asseguradas o mundo estará, por conseguinte em segurança também.


Um vento frio soprou por entre as árvores, fazendo cair as últimas folhas de uma delas. No alto de uma colina, a Casa dos Gritos se erguia macabra como sempre. Há vários anos não se ouviam gritos vindos da casa, mas as pessoas evitavam passar perto dali. Principalmente nesses tempos sombrios.


Harry não sabia se interrompia a conversa entre seus dois amigos ou tomava uma atitude neutra. Gina apenas segurava seu braço, com uma suavidade incomum. Pela delicadeza do toque, ele poderia jurar que ela não estava minimamente preocupada com os rumos daquela conversa. Harry se pôs a pensar se a namorada não sabia de algo que os demais ignoravam.


– Os outros estão olhando demais em nossa direção – Rony começou a falar com certo esforço – Acho melhor terminarmos esta conversa aqui.


– Esta conversa pode terminar aqui, mas vai continuar em outro lugar – Hermione respondeu com firmeza – Esteja certo disso.


 


Harry pediu desculpas para os colegas e lançou um olhar suplicante para Gina, esperando que ela entendesse o que ele ia fazer. A garota apenas sorriu de um jeito tão doce que ele teve a certeza não apenas da compreensão dela, mas também de seu amor. Ele sorriu de volta e se afastou, seguindo Rony por entre as lojas do vilarejo. Passou por Hermione e preferiu não falar nada, pois sabia que ela compreenderia. Era inteligente demais para não compreender. Poderia não aceitar, mas certamente compreenderia.


Rony caminhava a passos lentos e braços tensos. Não parecia muito à vontade. Não olhou para trás nenhuma vez, mas parecia saber que estava sendo seguido, e não se importava.


Depois deixar as lojas e casas para trás e chegar perto do bosque cinzento, ele parou e esperou até o amigo se aproximar. Harry tirou os óculos e limpou, encaixou no rosto e começou a falar:


– Não vai dar certo sabe? Essa sua estratégia simplesmente vai falhar. Ela é mais teimosa e perseverante que qualquer outra que eu conheço. Talvez com exceção da Gina.


– Eu sei.


– Então me esclareça: se sabe que não vai dar certo mantê-la afastada, qual a razão de ainda tentar?


– Manter a segurança dela pelo máximo de tempo possível. Eu não sei por quanto tempo terei forças para ficar longe dela, assim como não sei o que os outros guardiões podem fazer se resolverem que ela é uma ameaça para a missão.


– Mas ela é a Sábia – Harry falou um pouco espantado – isso não quer dizer que ela faz parte da missão?


– Hermione é útil somente enquanto puder ensinar e guiar a Herdeira. Se chegar um momento que Gina não precise mais dela, ou decidam que os ensinamentos não são mais necessários, então, bem... Você pode imaginar.


– Isso é desumano!


– Você mais que ninguém sabe o quanto profecias podem ser cruéis.


– Mas é o seu corpo Rony! Eles não podem fazer isso!


Roy sorriu de forma triste.


– Diga Harry, você consegue lutar contra vários dos bruxos mais poderosos de todos os tempos, sozinho? Consegue fazer isso tendo como agravante o fato de que eles vão usar como arena a sua própria mente? O único lugar do planeta de onde é impossível fugir?


Um trovão se fez ouvir estrondosamente quebrando a linha da conversa. Harry olhou em volta como se estivesse procurando inimigos. Rony pegou a varinha no bolso tão rápido que parecia que ela já estava em sua mão o tempo todo. Segundo depois do primeiro, outro trovão rasgou o silêncio do bosque, mais intensamente que o primeiro. Mas nenhum dos dois foi precedido por um relâmpago.


– Algo está errado Rony – Harry sacou a varinha e girava em torno de si mesmo.


– Seus instintos estão mais aguçados. De fato algo está muito errado.


Sem mais explicações Rony foi caminhando cautelosamente para o vilarejo, fazendo sinal para Harry o seguir. Acima deles, as nuvens começaram a mover-se de forma estranha. Várias delas foram se agrupando e afunilando-se. O funil começou a descer em grande velocidade para o chão, como um tornado, as inteiramente de cor enegrecida. Rony parou de andar e ficou olhando para cima, esperando.


– O que está fazendo? – gritou Harry – Temos que sair daqui!


– Não dá mais tempo. É melhor lutarmos aqui e impedir que ele chegue mais perto do vilarejo e das pessoas.


– “Ele”? Como assim “ele”?


O tornado negro atingiu o chão e tudo que estava à sua volta foi consumido. O barulho era ensurdecedor e o vento poderosíssimo. Rony fez um gesto mágico complexo e uma linha dourada saiu da ponta de sua varinha. Com grande velocidade, essa linha correu pelo chão formando o largo desenho de um círculo que continha em seu interior os dois jovens e a estranha e desconhecida força negra.


– Voldemort libertou uma força antiga e poderosa usando de sua magia das trevas.


– Como assim?


– Um filho do Vento Noturno. Algo tão antigo que a maioria dos bruxos simplesmente esqueceu que existia. Pertence ao povo feérico.


– Pertence ao quê?!


– O povo das fadas! Merda! Eu sabia que aquele maluco acabaria indo longe demais. Essa coisa é incontrolável Harry. Voldemort deve ter usado de magia proibida para fazer dele um escravo. Ótimo! Perfeito! Bem amigo, agora vai ser uma boa hora para testar seu treinamento, já que eu nos tranquei aqui com essa coisa.


– Você fez o quê?


O vento oscilava em intensidade e direção, mas era sempre gélido como a noite. O tornado se desvanecia lentamente e no seu centro uma gigantesca forma emergia envolta em espessa névoa negra.


– Que escolha eu tinha? Se não fizesse isso as pessoas do vilarejo seriam machucadas. Prepare-se. Quando ele estiver em sua plena forma vai nos atacar. Aparate com velocidade e use seus feitiços mais potentes. Sempre os mais potentes.


– Os Aurores estenderam o feitiço anti-aparatação para Hogsmead também, esqueceu?


– Não dentro deste círculo mágico. Aqui podemos lutar sem restrições. Mas dentro deste espaço, ninguém entra ou sai. É agora. Lembre-se, Harry: sempre os feitiços mais potentes.


E então tudo se passou em câmera lenta. Harry viu uma imensa forma humanóide se formar dentro da névoa negra. Uma massa de músculos superdesenvolvidos cobertos por uma grossa pele de ébano. Uma massa negra apavorante. Apenas os olhos e as presas eram de cor diferente. Amarelados de forma estranha.


Olhos diferentes de tudo o que Harry tinha visto antes. Eles tinham um brilho único, descontrolado. Sedento até. E as presas eram apavorantes não apenas pelo tamanho avantajado. Eram pontiagudas e sujas. Era impossível não imaginar que deveriam rasgar com facilidade a carne de um bruxo.


Harry pulou para o lado imediatamente antes de o ataque vir. Agradeceu mentalmente pelos anos de treino com quadribol e depois partiu para o contra-ataque. Um feitiço estuporante rápido e preciso. Não se surpreendeu quando não fez muito efeito. A criatura apenas ficou mais enraivecida. Com grande velocidade virou-se novamente de frente para o jovem e desferiu um potente golpe com suas garras. Harry não teve mais que meio segundo antes de decidir o que fazer. Aparatou quase que por reflexo.


Antes mesmo que se percebesse, estava do lado de Rony que apontava sua varinha para o monstro.


Bombarda! – gritou o ruivo.


Harry tentou dizer alguma coisa. Aquele era um feitiço quase tão mortal quanto uma maldição imperdoável. Era feito para destruir objetos sólidos resistentes como pedras ou paredes. Não era aconselhável usá-lo contra seres vivos. De nenhuma espécie.


Foi como ver uma bola de demolição atingir uma parede de aço em vez de concreto. A parede tremeu, mas não cedeu. A criatura urrou colérica. E então que Harry entendeu o que Rony quis dizer com usar somente os feitiços mais potentes. Nada menos potente que aquilo seria inútil. Com o olhar espantado, ele se perguntou do que era feito aquele monstro.


Aquela criatura era rápida e mortal. Harry quase não conseguiu evitar o ataque. E então percebeu que havia aparatado. Apenas uma vez tinha visto algo assim. Anos antes quando dois dos mais poderosos bruxos da história tinham lutado um contra o outro no Ministério da Magia. Ambos usavam de poderosas magias e ambos usavam a aparatação para não serem atingidos. Naquela época, Harry achou impossível algum dia conseguir fazer algo parecido, mas agora lá estava ele usando da mesma forma de combate. Rony estava certo em treiná-lo daquela maneira. E o treinamento surtia incrível resultado.


E naquele momento Harry pensou se a potencia de suas magias também não teria evoluído.


Bombarda Maxima! – ele gritou apontando a varinha. Incontinenti uma onda de energia varreu o campo de batalha e atingiu o oponente.


A criatura foi arremessada pelo menos cinco metros de distância do ponto onde estava. E certamente havia sido abalada pelo impacto. Com visível dificuldade o monstro se levantou e então urrou uma vez mais. E logo depois do urro, de sua imensa boca aberta, um turbilhão de vento negro emergiu. Tudo em seu caminho era atingido e engolido com violência.


Rony deu um pequeno sorriso que não passou despercebido por Harry. Com um gesto rápido conjurou um escudo mágico em volta dos dois. O tornado negro bateu-se com grande choque contra a parede mágica.


– Ao meu sinal Harry – Rony falou – Aparate do lado dessa coisa e ataque com tudo.


Harry assentiu.


E tudo continuava a passar em câmera lenta aos olhos de Harry. Rony esperando o momento em que o Filho do Vento diminuiu o fluxo de seu ataque e o sinal quase imperceptível com os olhos. Harry agiu por instinto. Aparatou e tão logo sentiu o chão novamente sob os pés, atacou. Estava agora ao lado da criatura.


O feitiço tornou a ferir o monstro, mas ainda não era suficiente para derrubá-lo. E uma vez mais Harry aparatou para escapar das garras que vinham sedentas em sua direção.


Por diversas vez fez isso. Atacava em um ponto diferente e depois aparatava evitando ser atingido. Algumas vezes não surgia no nível do chão. Mais de uma vez desaparatou na altura dos olhos do adversário e depois do ataque sumia de novo. E fazia isso com tamanha velocidade que nem parecia real.


Alguns metros atrás, Rony sorria orgulhoso. Seu melhor amigo e também discípulo agora mostrava a grande evolução que obtivera. Mas eles não podiam perder tempo. Aquela criatura estava enfraquecida e invariavelmente cairia ante os ataques de Harry, mas Rony não podia dar chance ao azar. Girou o corpo em volta de si mesmo enquanto reunia uma carga potente de energia com os braços. Depois de uma volta de 360 graus, deixou o poder correr livre.


Das mãos do ruivo, um relâmpago surgiu. Percorreu com grande velocidade todo o caminho que separava bruxo e criatura e então houve o estrondo. Como se um raio tivesse caído exatamente ali. O Filho do Vento tombou sem reação. Seu peitoral corpulento e maciço desprendia uma fumaça espessa no local onde fora atingido. Não houve urro de dor ou raiva. Nenhum som adicional a não ser o do impacto no chão. Quase no mesmo instante Harry tornava a surgir, ao lado de Rony. Estava ofegante, mas sem nenhum ferimento.


 


– Você não precisava da minha ajuda – Harry falou entre uma respirada profunda e outra – Podia ter acabado com essa coisa sem nenhum problema.


Rony se ajoelhou e tocou no solo molhado. A neve havia derretido dentro do campo de batalha. O ruivo não fez nenhuma menção de que iria dar alguma explicação ao amigo. Então se levantou e com um estalar de dedos, desfez a barreira de proteção que erguera minutos antes.


As vozes irromperam no ar de forma tão estrondosa que Harry se assustou. Olhou em volta e percebeu que quase todos os estudantes de Hogwarts que estavam no vilarejo se encontravam em volta dos dois amigos. Alguns davam urros de incentivo. Outros soltavam monossílabos de admiração ou alivio. Mas os olhos de Harry estavam focados apenas em uma única pessoa.


Ela permaneceu parada enquanto todos corriam de encontro aos dois heróis. Estava sorrindo de forma diferente. Com se soubesse o tempo todo que aquilo aconteceria. Harry franziu o cenho diante dessa atitude de Gina. Assim que se livrasse da multidão de estudantes falaria com a namorada.


 


Cerca de trinta minutos depois, todos estavam de volta às paredes do castelo. Alguns expressavam sua frustração pelo encerramento do passeio. Uns poucos entendiam que os Aurores precisavam tirar todos dali, pois se houvesse um novo ataque, algo grave poderia acontecer.


Harry e Rony ficaram calados durante todo o caminho. Assim como Hermione e Gina. Somente quando estavam dentro do salão comunal é que puderam respirar com alguma tranqüilidade. Harry sentou-se em uma poltrona e Gina aconchegou-se em seu colo acariciando-lhe o cabelo desalinhado. Ele estava com uma expressão tão séria que todos os outros Grifinórios se sentiam intimidados em tentar uma aproximação.


Sem nenhum aviso ele segurou a namorada pela cintura, inclinou seu corpo junto ao dela e a beijou. Achava incrível que, não importando o tempo que estivam juntos, sempre se surpreendia com sua delicadeza. A maciez da pele. O sabor de seus lábios. O cheiro floral agradável que sabia ser impossível esquecer.


– Eu amo você – ele sussurrou em seu ouvido.


Gina sorriu, deu um rápido beijo nos lábios do namorado e disse:


– Eu sei. Assim como sei que tem algo incomodando você.


Harry fez uma careta de desconforto. Rony vivia dizendo que ele era fácil de interpretar, mas seria de fato assim tão fácil saber quando algo acontecia dentro de sua mente? Gina precisou apenas de uma rápida analisada e podia dizer com certeza absoluta que algo estava errado. A atitude correta agora seria contar a verdade.


– Quando lutamos com aquela coisa, você não parecia preocupada. Por um instante achei que sabia o tempo todo o que iria acontecer...


– E sabia mesmo.


Harry ficou sem fala. Ficou parado, com a boca aberta tentando convencer a si mesmo que tinha escutado errado. Gina sorriu e tornou a falar.


– Ei! Não confunda as coisas. Eu não sabia que aquele monstro apareceria. Mas eu sabia que vocês venceriam a luta. Eu falei antes que confiava em você e no meu irmão. Isso não mudou. Mesmo que você não fosse capaz de lutar naquele nível com a criatura, o Rony simplesmente poderia desintegrá-la se fosse necessário.


– Eu gostaria de ter a mesma confiança em mim quer você tem...


– Harry... Acorda! Não houve nenhuma vez em que você tenha me desapontado. Sempre correspondeu às minhas expectativas.


Ele levantou uma sobrancelha.


– Mas eu demorei seis anos pra perceber que sentia algo por você...


Gina suspirou divertida.


– Bem... Isso não foi contra as minhas expectativas. Eu nunca imaginei de nós ficaríamos juntos de verdade. Quer dizer... Eu desejei isso e fantasiei isso, mas nunca achei que todos os meus sonhos fossem se tornar realidade. Sempre foram devaneios de criança. E agora nós estamos aqui. Juntos. E eu posso sentir o calor do seu corpo e a delicadeza do seu toque e ainda não acredito que seja verdade.


– Um sonho? Como pode achar que eu seja tudo isso? Gina, eu sou apenas um cara muito azarado que não tem nenhuma grande habilidade pra mostrar ao mundo.


Gina riu prazerosamente. E alguns estudantes viraram a cabeça para ver o que estava acontecendo. Algumas garotas soltaram olhares invejosos para a ruiva que beijava os lábios do namorado com grande alegria.


– Como pode não enxergar a si mesmo como a pessoa maravilhosa que é? Você é igual ao meu irmão nesse sentido. Agora entendo como podem ser tão amigos.


 


Hermione suspirou na poltrona onde estava sentada. Ver a relação de Harry e Gina se tornar cada vez mais solida e duradoura conseguia criar sentimentos conflitantes dentro dela. Por um lado se sentia feliz pela amiga. Sabia o quanto Gina tinha esperado pacientemente que Harry a notasse e agora eles estavam junto, mesmo contrariando todos os perigos. Mas também sentia inveja e certo rancor. Ela também tinha esperado pacientemente. Ela também queria sua dose de felicidade.


Com uma determinação que não sabia de onde tinha tirado, Hermione levantou da poltrona e caminhou a passos firmes para a janela onde Rony estava encostado admirando a paisagem. Tocou no ombro dele e assim que o ruivo se virou, puxou-o pela gola do casaco. E antes mesmo de pensar se aquilo era certo, os dois estavam se beijando.


Foram instantes mágicos para Hermione. Aquele era o segundo beijo deles e mais uma vez não era como tinha imaginado, mas ainda assim era bom. Sentir os cabelos da nunca dele entre seus dedos, as mãos fortes que acariciavam suas costas, ou mesmo os músculos dos braços deles em volta de sua cintura delicada. Tudo isso era mágico por um momento ela imaginou que ele não corresponderia ao beijo, mas não houve resistência nenhum por parte de Rony.


Quando o fôlego de Hermione estava chegando ao fim, ela desgrudou os lábios. Ainda de olhos fechados, saboreou a sensação. Sabia que não haveria nenhum outro homem para ela enquanto vivesse. Pois nenhum outro seria capaz de dar-lhe a sensação que plenitude total depois de um simples beijo apaixonado.


– Você me assustou hoje – ela falou ainda de olhos fechados.


– Hum? – foi o que Rony conseguiu dizer.


– Fiquei com medo de você se machucar enfrentando aquela coisa.


Rony a puxou para junto de si e a abraçou com urgência. Hermione não esperava essa atitude dele. Rony nunca a abraçava. Sempre era o contrario.


– Um Filho do Vento Noturno jamais me machucaria Hermione. Pra mim é mais perigoso ficar aqui, dessa maneira, com você.


Ela tentou se desvencilhar, mas ele a segurou mais forte.


– Eu amo você. Isso eu já falei antes. Mas agora digo na sua frente. Entretanto estou reunindo todas as minhas forças pra não fugir daqui. Eles não vão permitir Hermione. Eles vão me forçar a seguir com meu caminho e nenhum outro. Por isso não podemos ficar juntos.


– Eles não controlam seu coração Rony.


– Mas podem controlar minha mente e meu corpo se tentarem com afinco.


– Então seja forte. Pela Gina, pelo Harry, por mim e principalmente por você mesmo.


Rony suspirou cansado. Cheirou os cabelos da garota e acariciou sua nuca.


– Preciso de tempo. Para acertar tudo, me preparar. Preciso cumprir minha missão


– Eu estarei aqui, esperando por você.


– Você está acima de tudo o que eu mereço Hermione.


– E você é tudo o que eu desejo Rony. Por isso não posso simplesmente abandonar esse sentimento. Eu sou sua desde a primeira vez que nos vimos. E se eu esperei sete anos para finalmente saber de seus sentimentos, posso esperar o tempo que for necessário para você cumprir sua missão e então ficarmos juntos.


– O amor pode enfraquecer as pessoas. Mas somente aqueles que entendem a fraqueza, podem obter o verdadeiro poder. Obrigado Hermione, por ver minhas fraquezas e não se importar com elas. Obrigado por permitir que eu veja o verdadeiro poder.


– Que verdadeiro poder?


– Amar você.


 


Duas semanas passaram desde o acontecimento em Hogsmead e tanto Rony quanto Hermione agiam entre si como se nada tivesse acontecido. Harry não estava completamente favorável com a decisão dos dois amigos, mas sabia que eles tinham decidido assim por diversas razões. E ele simplesmente não tinha nenhuma vontade de ouvir os argumentos eloquentemente elaborados por ambas as partes para justificar a decisão.


Neste momento estavam na Sala Precisa treinando e Harry gostaria de estar em qualquer outro lugar. Todas as partes de seu corpo estavam suadas e doloridas. Ele e Rony tinham treinado durante duas horas seguidas e arrego era a única palavra que vinha à mente do rapaz.


– Vamos tomar banho e comer alguma coisa Harry – Rony falou enquanto tirava a camisa e se dirigia ao banheiro nos fundos da sala.


Nesse momento a porta se abriu e as figuras curvilíneas de Gina e Hermione entraram. Hermione não conseguiu deixar de corar ao ver o torso desnudo e suado de Rony. Ele de fato estava muito mais forte que antes.


– Eca! – Gina falou quando se aproximou do namorado – Harry, você tá fedendo!


O rapaz revirou os olhos diante disso, mas logo em seguida sorriu.


– Então espere alguns minutos enquanto nós tomamos banho. Prometo voltar com um cheiro agradável e pronto para cobrir você de beijos.


Assim que os dois garotos entraram nos banheiros mágicos da Sala Precisa, Gina virou para Hermione e falou toda eufórica:


– Como eu sou sortuda! O Harry está cada dia mais lindo Hermione!


A morena se limitou a sorriu pelo canto da boca e encarar a amiga com um olhar que dizia claramente: “ok, mas não precisa pular de felicidade por causa disso”.


– E como está sua história com o meu irmão?


Hermione suspirou e deu de ombros.


– Nós decidimos esperar. Foi uma decisão mútua. Não me olhe assim Gina! Sabe muito bem que não existe coisa que eu deseje mais neste momento que ficar nos braços do Rony e beijar a boca dele. Mas existem coisas demais envolvidas. Profecias demais. Papeis importantes demais nessas mesmas profecias. Bruxos das trevas psicopatas, loucos pelo sangue de um adolescente. Poderosos bruxos do passado emergindo cheios de fúria, acusando o Rony de falhar em sua missão. Enfim, essas pequenas coisas que qualquer jovem normal enfrenta.


– Será que algum dia nós quatro poderemos simplesmente curtir uma tarde de primavera sem nos preocuparmos com algum tipo de perigo imediato?


– Se tivermos fé em nós mesmos e naqueles que nos acompanham, com certeza um dia teremos sim.


A ruiva deu um leve tapa no ombro da amiga e comentou em seguida:


– Sempre com bons conselhos na hora certa heim?


Hermione colocou as mãos na cintura e estufou o peito antes de falar.


– E você tinha alguma dúvida? Esse é o meu papel e eu o aceito com todas as honras.

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