Capítulo Dezesseis: Entrego a
Capítulo Dezesseis: Entrego a ti meu coração
Era noite.
A névoa espessa dificultava a visão.
Ela estava parada no alto de uma pequena elevação de terra e ao seu redor, corpos de alguns bruxos.
Todos mortos.
Tudo era silencio naquele lugar. Nada a não ser o farfalhar das folhas das árvores. Ela caminhou com dificuldade na grama molhada, tentando evitar qualquer contato com os corpos. Desceu a pequena colina, saltou por cima de um bruxo particularmente corpulento e ouviu um som do alto de outra colina.
Que lugar era aquele final? Por causa da névoa era impossível descobrir. Mesmo a lua cheia não ajudava. Indo na direção do som, ela se apressou. Foi quando ouviu passos vindos de trás.
Um jovem passou correndo por ela. Não pareceu perceber sua presença. Ela conseguiu diferenciar os cabelos negros e desalinhados dele e uma armação de óculos.
– Harry?
Ela tentou correr. Não era fácil naquela situação. Ouviu o som de pequenas explosões onde antes tinha ouvido o primeiro som. Menos de um minuto depois ela também estava no alto da colina. E então percebeu onde estava.
Na sua frente estavam os portões de Hogwarts. Mas estavam completamente destruídos. Os muros também estavam em ruínas, enegrecidos pelo efeito de feitiços destrutivos poderosos. Ela passou pela entrada com dor no coração. Quem teria feito aquilo com a escola? Será que Voldemort havia encontrado um meio de burlar as defesas do lugar?
Chegando ao pátio principal ela viu. Harry estava lutando com um bruxo alto, vestido com um manto negro e máscara. Um Comensal da Morte sem dúvida. Aquela não era uma luta qualquer. Era de fato impressionante. Muito acima do nível normal dos bruxos. Quem quer que fosse aquele Comensal, era muito poderoso.
– Por quê? – ela ouviu Harry perguntar de forma desesperada
O outro nada respondeu, apenas continuou a lançar feitiços sem proferir nenhuma palavra. Harry se defendia com habilidade invejável, mas quando atacava não conseguia obter grande êxito em atingir o oponente.
O comensal retesou o braço e lançou um feitiço ofensivo muito peculiar. Um relâmpago reluzente que atravessou a distância entre os dois com se a mesma não existisse. Harry girou sua varinha no ultimo instante e com se fizesse uma espiral com os braços, girou em trono de si mesmo, controlando a carga elétrica letal. Quando completou uma volta inteira deixou a energia voltar a fluir, desta vez com quase o dobro da potencia.
Ela percebeu horrorizada, o poder incrível ali contido. Harry havia se tornado um bruxo extremamente habilidoso. Talvez ainda mais poderoso que Dumbledore.
O Comensal estendeu o braço com a varinha e ficou parado. Quase toda a imensa carga energética parou seu fluxo na ponta do fetiche. Apenas cargas menores atravessaram, rasgando o manto e a máscara. O rosto do Comensal surgiu sorridente. Ele era jovem e bastante bonito, com várias sardas espalhadas pelas suas bochechas e nariz comprido. Olhos azuis confiantes e ao mesmo tempo intimidadores. Os brilhantes cabelos ruivos não deixavam negar sua origem.
Aquele era Ronald Weasley.
– Você realmente melhorou Harry – ela ouviu Rony falar com certo escárnio – Estou impressionado.
Harry apontou a varinha para o amigo. Parecia transtornado.
– Você matou aquelas pessoas. Por quê?
Rony olhou para ele como se não entendesse.
– Matei pessoas? Não seja tolo Harry. Qual seria a razão para eu matar aqueles vermes? Eles não representavam ameaça pra mim. Quem os matou foram os servos do meu senhor. Se quiser culpar alguém, culpe aqueles cães descontrolados.
– Você se aliou a Voldemort! Destruiu a escola! Acabou com Ordem da Fênix e a armada de Dumbledore! Você nos traiu! VOCÊ TRAIU A MIM, SEU DESGRAÇADO!
– Claro que sim. De que outra forma eu poderia garantir a segurança dela? – a voz de Rony não se alterava em nenhum momento. Ele estava totalmente calmo.
– A segurança dela? Tudo isso aconteceu por causa da Gina? – Harry estava verdadeiramente confuso.
Rony revirou os olhos, como se estivesse entediado.
– É claro que foi por causa dela. Olhe em volta Harry. Veja o caos do mundo. Os trouxas dominando quase tudo. Nossa raça obrigada a se esconder como se fossemos aberrações. Meu senhor pode trazer paz para todos. A Herdeira existe para trazer equilíbrio ao mundo. Pois bem, eu equilibrei o mundo. Eu acabei com a guerra. Eu trouxe vitória.
– PARA O LADO ERRADO, SEU IDIOTA! – Harry gritou desesperado.
– O mundo não tinha sentido em existir do modo como estava. A violência tinha que acabar. As coisas precisavam mudar – Então, com um gesto rápido, ele conjurou um patrono.
Ela percebeu, com profunda dor, que o patrono não era mais o filhote terrier de antes. A energia branca agora tomava uma forma diferente. A forma humanóide de uma belíssima jovem de cabelos ondulados e rosto gentil, inteligente e amável. O novo patrono de Rony tinha a mesma forma da mulher que ele mais amou em toda a sua vida. Era Hermione.
– Depois que ela se foi, nada mais fazia sentido – ele tornou a falar se aproximando do patrono – Como eu poderia viver em um mundo onde ela não existia mais? Então eu decidi. Faria um mundo totalmente novo. Um mundo sem guerras.
– Seu grande tolo! Você fez tudo errado! Como os outros Guardiões puderam permitir uma coisa tão deturpada?
– Os outros não estão mais aqui Harry. Eu superei todos eles. Eu superei tudo! Voldemort apenas me mostrou a direção, mas o resto eu fiz sozinho. Agora a Herdeira reinará em um mundo de equilíbrio.
Harry segurava sua varinha com grande tensão. Era clara a sua revolta: seu melhor amigo tinha enlouquecido e deturpado a si mesmo.
Silencio total. Eles apenas se encaravam. Alguns minutos de silenciosa batalha interna. Harry estava no seu limite. Isso era bastante evidente. Rony aparentemente percebeu isso, pois sorriu mais uma vez.
– Vamos lá, velho amigo. Você é barreira final que eu preciso derrubar antes de fazer meu mundo novo.
E os dois conjuraram o mesmo feitiço, ao mesmo tempo. Um feitiço que ambos abominaram durante suas vidas inteiras e juraram nunca usar. O grito de ambos ecoou pelos corredores vazios do castelo e pelos arredores infestados de cadáveres. O grito que determinava o fim de uma era.
– AVADA KEDAVRA!
Gina acordou em sua cama. Estava ensopada se suor e terrivelmente assustada. Olhou em volta e percebeu que estava em seu dormitório de Hogwarts. Tudo não havia passado de um pesadelo. Mas tinha sido tão realista que era difícil pensar não se tratar da realidade. Uma terrível realidade.
Hermione morta. Rony se entregando aos poderes das trevas por causa disso e usando a herdeira como desculpa. Traindo o mundo que jurou proteger por não poder controlar a dor de perder seu amor. Traindo a todos, assim como havia dito o centauro Agouro.
Era verdade então, pensou Gina. No fim Rony destruiria a todos por causa de sua dor. Por isso os outros Guardiões não podiam permitir que ele amasse Hermione. Ela era mais importante para ele que a Herdeira.
O amor que ele sentia era totalmente proibido e até mesmo perigoso para o mundo. Perigoso de tal forma que o Rony do sonho tinha até mesmo suplantado os outros Guardiões em seu estado de angustia.
Que tipo de sentimento era esse que destruía a espírito de um homem tão virtuoso? Poderia a dor de perder alguém amado ser tão terrível assim? Ela desejou jamais ter que saber.
Gina levantou de sua cama e calçou as pantufas com estranho formato de um hipogrifo. Um presente que Harry havia lhe dado antes de eles voltarem para a escola. Silenciosamente ela caminhou para fora do quarto e desceu para o salão comunal. Não ficou de fato surpresa ao constatar que ele não estava totalmente vazio.
Uma grande coruja acaju estava empoleirada no encosto de uma das poltronas e parecia muito confortável ali. Quando Gina se aproximou, a coruja virou a cabeça lentamente e abriu o bico demonstrando satisfação. A garota se sentou na poltrona e acariciou as penas do topo da cabeça da ave.
– Não, eu não comi doce demais no jantar – Gina começou a falar como se estivesse respondendo a pergunta de alguém – Claro que eu posso responder apenas em pensamento, mas quero falar em voz alta desta vez. Algum problema nisso? Não tem ninguém aqui pra achar essa atitude estranha.
A coruja piou e abriu um pouco as asas.
– Não precisa voltar para sua forma humana – Gina voltou a falar – Eu gosto quando você fica numa forma menor que a minha.
A ave ameaçou bicar a mão da garota, mas logo voltou a ficar parada.
– Acho que você deveria ensinar o Harry a se defender sem usar a varinha. Não sabemos que tipo de situações ele pode enfrentar... Ah por favor! Você sabe muito bem que um soco bem dado pode ser mais eficiente que muitas magias de atordoamento... Sim, é isso mesmo que eu estou sugerindo... Ora vamos! É claro que não existe nenhum problema nisso... Você não vai machucar o Harry. Ele aguenta muita coisa, você sabe bem... É eu sei que você não vai pegar leve com ele se iniciarem esse tipo de treinamento, mas acho que meu namorado vai se sair muito bem.
A coruja abriu as asas e voou até a janela. Parecia chateada com alguma coisa. Pousou no parapeito e olhou para trás então alçou voo em direção indefinida. Gina correu para a janela e falou antes que a distância aumentasse o suficiente que fosse necessário gritar:
– Quando voltar, trás um pacote de feijões de todos os sabores.
Ela se sentiu triste por esconder seus pensamentos mais profundos daquela maneira. Mas certamente não seria um bom momento para revelar coisas tão importantes. Gina queria antes de tudo, falar com Harry e Hermione sobre o sonho e apenas depois disso contar para Rony. E tudo tinha que ser feito da maneia correta. Afinal era o destino do mundo bruxo que estava em jogo.
– Já pode sair debaixo da capa, amor – Gina falou olhando exatamente na direção específica onde Harry se encontrava.
Sem entender muito bem o que estava acontecendo, Harry retirou a cobertura de sua capa de invisibilidade. Olhou para a namorada tentando descobrir como ela sabia que ele estava ali durante todo aquele tempo.
Gina se aproximou e beijou Harry com muito carinho. Depois o abraçou e encostou a cabeça em seu peito. Olhando daquela forma, ela parecia uma garota comum sofrendo de dúvidas comuns a qualquer adolescente.
– O que está preocupando você? – ele perguntou cheio de genuíno interesse.
Ela piscou algumas vezes antes de responder. Harry não costumava ser tão preceptivo com relação aos sutis sentimentos de uma garota. Muito pelo contrário até.
– Ei, não me leve a mal – tornou a falar o rapaz – Eu realmente gosto quando você fica tão carinhosa comigo, mas agora tudo parece ter um peso diferente.
“Está certo mais uma vez, Harry Potter”, pensou Gina. Tudo tinha um peso diferente agora. O amor que ela sentia por Harry, a amizade de Hermione e claro, a confiança em seu guardião. Nada era igual. E tudo tinha mudado por causa de um sonho. Uma ilusão de sua cabeça que ela nem mesmo sabia se realmente era uma visão do futuro.
– Harry... Não se preocupe comigo. Na verdade você devia se preocupar com os seus próximos treinos – Gina falou e deu um sorriso maroto para o namorado.
– É eu ouvi. O que você quis dizer com “lutar sem a varinha”?
– Você vai ver – e deu um selinho nos lábios de Harry, para logo em seguida subir de volta ao dormitório feminino.
– Gina? – Harry chamou quando ela estava quase no topo da escada – Como você sabia que eu estava aqui?
Ela pareceu pensar um pouco antes de responder.
– Eu estou começando a sentir sua presença não importando o quão longe você esteja. Uma das coisas que estou treinando com a Hermione. Boa noite Harry.
E com isso Gina entrou no dormitório. Harry teve que contentar com essa resposta, pois a garota não parecia disposta a conversar mais sobre o assunto.
Quando Harry desceu para o salão principal do castelo, todos já estavam sentados para o desjejum e comiam avidamente. Ele sorriu a ver Gina com um pacote de feijões de todos os sabores e Rony ao seu lado não parecendo muito feliz em vê-la comendo os doces. Onde ele teria ido durante a madrugada para conseguir aquele pacote visto que todas as lojas das redondezas estavam fechadas?
Hermione estava absorta na leitura de um exageradamente grosso volume sobre magias antigas e lendárias. Assim que ele se sentou, a morena levantou a cabeça, deu um sorriso e fechou o livro.
– Esse exemplar é fascinante. Ele contém diversas magias cujas fórmulas místicas que foram perdidas com o tempo.
– Na verdade algumas dessas fórmulas foram destruídas e não perdidas – falou Rony – Alguns bruxos simplesmente não conseguem entender o significado de “passar para a próxima geração”.
– Como você sabe? – perguntou Hermione cheia de interesse.
– Já li esse livro, conheço a maioria das magias que estão nele e tenho acesso ao conhecimento dos mais poderosos bruxos de eras passadas. – ele respondeu pausadamente, mas Harry percebeu uma pontada de desconforto em sua voz.
– Você leu? Mas quando eu o encontrei, estava cheio de poeira, como se não fosse usado há anos...
– Li esse livro ainda no nosso segundo ano em Hogwarts... – Rony agora parecia estar ficando levemente envergonhado – E depois o larguei de volta na biblioteca. Nunca mais voltei a consultá-lo. Por isso a poeira...
Hermione ficou pensativa por alguns instantes e depois deu de ombros, dando a entender que o assunto deixava de ter importância.
– Vamos treinar hoje? – perguntou Harry para o amigo – Andei pesquisando umas coisas e gostaria que você me ensinasse.
– Que tipo de coisas? – perguntou Rony sem desviar os olhos de Hermione.
Harry não sabia se aquilo era uma boa idéia, mas como não tinha outra maneira de aprender, decidiu ir em frente. Retirou de dentro da bolsa um livro de capa vermelha e mostrou para o ruivo.
Rony arqueou uma sobrancelha, desconfiado. Olhou para Harry e deu um longo suspiro.
– Temos um professor que poderia perfeitamente ensinar isso pra você. Não é necessário que eu lhe ensine.
– Não gosto do nosso professor. A meu ver, o Sr.Stonehard gosta demais de atenção e coloca seus interesses em primeiro lugar, quando deveria prezar mais a vontade de aprender de seus alunos. Isso fora o fato dele agir como um idiota presunçoso na maior parte do tempo.
– Mas ele realmente é muito bom no que faz – falou Hermione.
– Disso eu não duvido Hermione. O problema é: acho que ele adoraria dar aulas particulares para “o grande Harry Potter” e deixar essa noticia se espalhar como poeira no vento por toda escola e por alguns jornais também. Ele adoraria ter alguns minutos de fama, isso é certeza.
Rony pegou o livro vermelho da mesa e tornou a examiná-lo. Leu o título em letras cor de bronze, já desgastadas pela ação do tempo: “Animagos e sua história: o guia definitivo para referência”.
– Está bem Harry. Eu vou lhe ensinar a se tornar um animago. Depois da Gina, acho que você vai dar muito menos trabalho.
Harry virou para o amigo com uma expressão repleta de surpresa.
– “Depois da Gina”? A Gina é um animago? – e virou para a namorada que terminava o pacote de feijões. – Quando você pretendia me contar?
Ela sorriu meio envergonhada para Harry e com alguma dificuldade falou:
– Hoje à noite?
Harry sentou no parapeito da grande janela no salão comunal e não parecia muito feliz. Descobrir dessa maneira mais um segredo que estavam escondendo dele, não era de forma alguma agradável. Mas ele tinha que acalmar. Gina tinha garantido que contaria naquela noite de qualquer maneira se ele não tivesse descoberto. Ele tinha que confiar nas palavras dela. Ele a amava e sabia que era amado de volta. Deu um pequeno sorriso e olhou para o lado de fora do castelo. Naquela noite ele aprenderia algumas coisas novas para a grande missão de sua vida.
Assim que Harry entrou na Sala Precisa, percebeu algo diferente no lugar. Os costumeiros equipamentos de treino não se encontravam em nenhum lugar. No centro da sala havia um grande ring de luta como Harry muitas vezes tinha visto na TV dos Dursleys. Duda adora assistir aos campeonatos e não sobrava muita opção para Harry. Havia também uma estranha coluna de madeira com diversas hastes espalhadas em toda a sua superfície. E Rony estava parado no centro do ring, sem camisa e aparentemente preparado para uma luta.
– O que é isso tudo? – perguntou Harry confuso.
Rony fez um gesto para o amigo entrar no ring e relaxou os braços.
– Gina pediu para eu ensinar você a lutar sem uma varinha. Bem, eu poderia ensinar como fazer magia sem uma varinha, mas isso levaria muito tempo. Anos talvez. E talvez você nunca aprendesse. Então eu decidi que um pouco de luta trouxa desarmada poderia ser útil.
– Como é? – Harry continuava confuso – Você vai me ensinar como lutar no modo trouxa? Você sabe lutar como os trouxas?
– Um dos guardiões anteriores era chinês. Um poderoso bruxo que viveu há quase quinhentos anos. Sabia muitos feitiços feitos em verbalização asiática e também diversos estilos de artes marciais.
Harry assobiou surpreso. Enquanto subia ao ring imaginou como seriam esses feitiços asiáticos. Ele mesmo só sabia fazer feitiços com verbalização em latim e os feitiços não verbais que conseguia fazer tinham que ser formulados em sua mente usando as mesmas palavras.
– Estou surpreso Rony. Quer dizer... Eu sabia que você podia fazer coisas impressionantes, mas feitiços em outras línguas que não sejam o latim foi mesmo inesperado.
– Você deveria realmente ficar surpreso. Se visse uma única vez todas as coisas que nós somos capazes de fazer, com certeza sua limitada noção da magia mudaria completamente jovem Potter – Rony falou com uma voz estranha, diferente de seu tom habitual. Um timbre mais grosso e firme.
– Rony? O que você quis dizer com isso?
Como se estivesse acabado de acordar Rony balançou a cabeça piscando diversas vezes.
– O que eu quis dizer? Como assim Harry?
– Você acabou de dizer se eu visse sua real capacidade minha... ahn.. limitada noção de magia mudaria completamente. E completou me chamando de “jovem Potter”.
Rony arqueou as sobrancelhas e arregalou os olhos, mas rapidamente mudou de expressão, tentando esconder ao que se passava em sua mente, deduziu Harry.
– Esqueça isso. Não é nada importante. Venha. Hoje você vai aprender como derrubar um oponente sem usar a varinha. As garotas ainda devem demorar uma hora pra chegar aqui, então temos um tempo relativamente bom. Tire a camisa e se prepare Harry.
E Harry se preparou. Mas não se deixou enganar pela mudança de assunto do amigo. Aquilo tinha sido algo importante e de certo modo, preocupante. Não poderia ser esquecido facilmente, afinal Rony tinha referido a si mesmo como “nós” e não “eu”.
Hermione corria tentando acompanhar o ritmo de Gina pelos corredores do castelo. A ruiva estava particularmente animada esta noite. Ou pelo menos era isso que tentava demonstrar. Mas Hermione conhecia a amiga a tempo demais para se deixar enganar de maneira tão fácil. Algo preocupava Gina, e não era de forma alguma um assunto trivial.
Assim que dobraram a ultima esquina viram a parede que dava acesso à Sala Precisa. Harry e Rony deviam estar Lá dentro há pelo menos uma hora inteira.
– Então? – perguntou Hermione ofegante assim que pararam em frente à parede.
– “Então”, o quê? – Gina perguntou parecendo surpresa.
– Vai me contar o que aconteceu, ou vou ter que descobrir sozinha?
O olhar da garota não deixava dúvidas de que ela realmente acabaria descobrindo sozinha. Gina sabia que não deveria subestimar Hermione. Ela era simplesmente brilhante. E isso não tinha nenhuma correlação com profecias ou poderes ancestrais.
– Num outro momento eu te conto. Pode ser? – responder tentando ser convincente.
Hermione revirou os olhos. Já esperava outra resposta evasiva.
– Tudo bem Gina – falou desanimada – Sabe... Em muitos momentos, você é simplesmente igual ao Rony: nunca compartilham de suas preocupações. Tudo bem, eu não vou insistir no assunto, mas deixe-me apenas frisar que gostaria muito de ajudar se você me desse alguma brecha. Ajudar aos dois.
– Sei bem quais são as maneiras que você gostaria de usar pra ajudar meu irmão – Gina falou com um sorriso cínico.
– Gina! – Hermione fingiu-se e ofendida.
Assim que entraram na sala, perceberam as diferenças. E ambas não conseguiram reprimir a expressão de surpresa ao ver Harry caído de costas no chão. Quase totalmente imóvel. Rony estava em pé cerca de dois passos de distancia do amigo. Não parecia muito interessado na situação atual do mesmo.
– O que aconteceu aqui? – perguntou Hermione espantada.
Sem esperar por uma resposta correu para ajudar Harry a levantar. Gina não proferiu uma palavra sequer, mas caminhou até o namorado sem desviar os olhos do irmão.
Ele está diferente, ela pensou. Conhecia o irmão como ninguém e conhecia cada mudança em sua expressão. Cada alteração de humor. Mas agora, Gina percebia uma sutil sombra nos olhos de Rony. Um peso diferente em suas costas.
Será que ele sabia do sonho? Ela tinha se saído muito bem em esconder seus pensamentos, então não poderia ser isso. Mas Rony era inteligente e poderia de alguma forma já saber de algo por outras fontes. Ela tinha que agir de forma diferente daquele momento em diante.
– Eu estou bem Hermione – Gina ouviu Harry falar com uma voz relativamente fraca – Sério, eu estou bem. Apenas um pouco dolorido, mas nada que mereça grande atenção.
Com um suspiro de alivio ela ajudou o namorado a levantar. E apenas naquele momento percebeu que não tinha corrido preocupada quando viu Harry caído. Será que estava tão imersa em seus próprios problemas que não conseguiu demonstrar nenhuma emoção? Ou será que confiava cegamente que seu irmão não machucaria o homem que ela amava?
– Se já está em condições, – Rony falou enquanto pegava uma toalha e se dirigia para o banheiro criado pela sala – então tome um banho relaxante e descanse por quinze minutos. Depois continuaremos com o treino. Ou melhor, iniciaremos as lições de animagia.
Enquanto Rony se afastava, Hermione não conseguiu deixar de notar como os músculos dele estavam desenvolvidos. Estava sendo muito difícil se acostumar com o desenvolvimento dele. Todas as vezes que se viam, ela mal conseguia controlar a vontade de se jogar nos braços dele. Aquele garoto magricela não existia mais. Agora restava somente um dos bruxos mais poderosos da história da magia. O homem que ela amava.
No fim, quando tudo acabasse, como seriam as coisas entre eles? Ela não conseguia deixar de se perguntar: Conseguiriam ser felizes? Poderiam finalmente ficar juntos? Ela balançou a cabeça tentando afastar os pensamentos. Eles não ajudariam em nada.
Gina tentava a todo custo não encarar Harry, mas era difícil. Ele não tirava os olhos dela, como se estivesse cobrando alguma coisa. Estavam sentados a pouco mais de dois minutos e ninguém falava nada. Rony sorvia calmamente uma xícara de chá, sendo acompanhado por Hermione. E Harry assim que voltara do banho, olhava para ela daquela forma.
– O que houve Harry? – ela indagou entre aborrecida e encabulada.
Harry arqueou uma sobrancelha demonstrando surpresa.
– Vo... Você esqueceu?
– O que?
Com um longo suspiro, Harry abaixou a cabeça. Pensou um pouco e quando ia falar foi interrompido por Rony.
– Esta tarde você disse que mostraria a ele sua forma de Animaga.
Gina bateu com a mão na testa decepcionada consigo mesma. Levantou e estendeu a mão para Harry.
– Desculpe. Eu estive distraída o dia todo. Mas vou te compensar.
Puxou o namorado par o centro da sala onde não havia qualquer móvel que atrapalhasse e se concentrou. Harry observou surpreso, as formas exuberantes de Gina mudaram rapidamente e radicalmente. Quase num piscar de olhos, onde antes havia uma bela mulher, agora se encontrava um belíssimo exemplar de unicórnio em toda a sua exuberante pelagem branca perolada.
Harry piscou diversas vezes enquanto o unicórnio se aproximava. Quase por reflexo, ele pousou sua mão no alvo focinho equino. Era quente. Da temperatura ideal ele arriscaria dizer. Um calor que convidava a acariciar. E o toque transmitia confiança e serenidade. Ele se sentia capaz de realizar grandes façanhas.
– Eu achei que não era possível se transformar em um animal mágico... – ele conseguiu dizer olhando diretamente nos olhos do unicórnio.
– Um bruxo comum não consegue – Rony falou de onde estava – Mas você com certeza já percebeu que a Herdeira não é de forma alguma... “comum”. Nenhum de nós é.
Gina voltou para sua forma humana, mas manteve a mão de Harry em seu rosto. Não falou nada, apenas apreciou este momento. Gostava do toque dele, de sua ternura. De seu amor. E não perderia nenhuma dessas coisas por nada.
Deu um passo pra trás e se virou para Rony. Respirou fundo antes de falar, como se nada de errado estivesse acontecendo.
– Hora de treinar pessoal.
Harry acordou naquela manhã como se não tivesse dormido. Seu corpo estava terrivelmente cansado por causa dos dois treinamentos do dia anterior. Primeiro treino de auto defesa a artes marciais e depois treino de Animagia. Nesse ritmo, ele não sabia se aguentaria até fim do ano.
Levantou-se com esforço e foi tomar um banho. Naquela manhã teriam aulas difíceis e ele precisava recompor-se. Tinha que estar sempre disposto, para não decepcionar ninguém. Rony, Hermione e principalmente Gina. Ele precisava estar pronto quando o momento chegasse. Precisava ficar mais poderoso para iniciar a busca pelas horcruxes e enfim derrotar Voldemort.
Harry tomou seu banho, desceu as escadas e se encontrou com Gina e Hermione. Estranhou a falta de Rony, mas nada disse. Estava se acostumando ao fato do amigo raramente dizer quando ia fazer algo. Assim como fazia Dumbledore. Os três foram tomar café da manhã e Rony também não estava lá. Assim como em nenhuma das aulas da manhã ou da tarde. De fato naquele dia o ruivo não foi visto por ninguém em qualquer lugar da escola. Nem mesmo durante a noite quando ele e as duas garotas se encontram na Sala Precisa para treinar.
O mesmo aconteceu no dia seguinte. E nos dois dias após o segundo.
Na tarde do quinto dia, Harry tentou falar com a diretora.
Não foi a recepção que ele esperava. McGonagall estava realmente atarefada em sua sala e quase não prestou atenção ao rapaz. Harry teve que esperar por quase dez minutos antes de ser devidamente atendido.
– Diga Potter, o que poso fazer por você nesta tarde cansativa? – falou a velha professora em tom impessoal.
– O Rony desapareceu da escola quatro dias atrás, professora. Eu estou preocupado com ele.
McGonagall o olhou de modo inquisitivo antes de tornar a falar.
– E não lhe ocorreu informar o desaparecimento de seu melhor amigo antes Potter?
Harry pigarreou, mas manteve a compostura.
– Eu imaginei que poderia ser um assunto relacionado aos Guardiões ou mesmo a Voldemort. Por isso não falei nada antes. Mas agora estou preocupado. Não sei onde ele está ou mesmo o que pode estar fazendo.
– Ele está preparando o terreno para você jovem Potter. E isso á o máximo que posso dizer neste momento. Agora se puder se retirar, eu agradeceria, pois tenho diversos assuntos inerentes à escola que preciso resolver agora.
O modo como ela falou não deixava dúvidas de que a conversa estava encerrada, então ele sequer tentou replicar. Harry se retirou da sala e caminhou pelos corredores do castelo.
“Preparando o terreno para você”. O que será que isso queria dizer? Foi quando se lembrou de Gina. Ela não parecia muito preocupada como o irmão e mesmo já tendo dito que antes que não se preocupava porque confiava cegamente nele, isso parecia estranho agora. Ela devia saber de alguma coisa.
Correu para o salão comunal e encontrou a namorada conversando com Hermione. As duas aparentemente estavam a discutir um assunto sério, pois Hermione parecia prestes a derramar lagrimas.
– O que houve? - ele perguntou ao se aproximar.
Gina deu um pequeno sorriso e falou:
– Hermione está quase implorando para que eu diga onde está o Rony, mas agora mesmo que estava dizendo que não precisamos nos preocupar com ele.
– Você disse a mesma coisa dois dias atrás e ele ainda não deu noticias – cortou Hermione.
– Ele deve ter seus motivos – defendeu-se Gina.
– Ele pode estar machucado!
Gina suspirou e segurou na mão de Harry antes de falar.
– Meu irmão está bem. Se algo de errado tivesse acontecido, eu saberia. Acredite em mim. E se quer saber, eu estive observando atentamente todos os movimentos dele nos últimos quatro dias e sei que logo ele retornará.
– Você sabia onde ele estava o tempo todo? – Harry afastou a mão - Por que não nos contou?
– O Rony pediu para não contar.
– Simples assim? Ele pede e você mantém segredo? Parece que é bem fácil pra você esconder as coisas de mim.
– Não começa Harry. Não é nem um pouco fácil manter segredos de você. Mas não posso simplesmente negar quando meu irmão me faz um pedido. Ele raramente me pede alguma coisa.
– E que foi que ele pediu? Isso você pode dizer?
– Ele pediu para não falar que eu sabia onde ele estava indo até o momento certo. E que quando vocês descobrissem, eu não deveria falar nada até que ele voltasse. O Rony é esperto e sabe que eu ficaria observando atentamente e que se alguma coisa desse errado eu contaria para você imediatamente.
– Mas você não pode manter esse tipo de segredo dessa forma Gina!
É claro que ela pode Harry. Ela é a Herdeira.
Aquela voz. Dentro de sua mente. Isso não era legilimencia. Era algo mais poderoso.
Estou voltando. Encontrem-me esta noite na Sala Precisa.
– Bem, parece que logo as dúvidas serão esclarecidas – Gina falou.
Quando os três entraram na sala, as coisas pareciam diferentes. As luzes não eram tão acolhedoras como antes e as sombras pareciam mais acentuadas. Rony estava sentado em uma das poltronas e não deixava dúvida a nenhum observador sobre o estado cansado de seu corpo.
Hermione foi a primeira a se aproximar. Estava genuinamente preocupada com ele e quase não tinha dormido nos últimos dias.
– Rony? Onde você esteve? Estávamos preocupados...
Repentinamente ele se moveu e segurou na mão da garota. Mas não de forma bruta, muito pelo contrário. Assim que sentiu a maciez da pele de Hermione o toque de Rony se tornou suave. Era mais para uma caricia.
Sem se importar com nada ele trouxe a mão que segurava para perto e encostou a face. Hermione arregalou os olhos e ficou estática. Não sabia como reagir diante daquilo. Os dois tinham decidido que não se envolveriam até que tudo estivesse acabado e agora ele simplesmente a tocava em busca de alguma intimidade. Ainda assim estava feliz. O sentir o calor do rosto de Rony era algo que ela queria sentir a muito tempo. Assim como também queria sentir a maciez de seus cabelos e o sabor de seus lábios.
– Rony... – forçou-se a dizer – O que é tudo isso?
Ele piscou os olhos diversas vezes antes de levantar o rosto e encará-la. Não parecia ter se dado conta de que Harry e Gina também estavam no local.
– Hermione... Eu... Não... Na verdade... Esqueça. Este não é o momento. Quando tudo acabar, então poderemos falar abertamente.
A garota arregalou os olhos, já marejados pelas lagrimas que tentava reprimir. Era obvio que ele estava tentando dizer algo para ela, e somente para ela. Algo importante para os dois.
– Rony... Falando abertamente agora e não depois... Meu coração é apenas seu. Então não se preocupe com nada.
Ele se virou de costa para ela e com certa dificuldade, falou.
– E o meu coração é seu. Para todo o sempre, assim que o mundo estiver em paz.
Aquelas palavras fizeram o peito de Gina ficar apertado. “o mundo em paz”. Exatamente como em seu sonho.
“Depois que ela se foi, nada mais fazia sentido. Como eu poderia viver em um mundo onde ela não existia mais? Então eu decidi. Faria um mundo totalmente novo. Um mundo sem guerras”.
Mas ela tinha que confiar. Aqueles dois entregaram seus corações um ao outro e, portanto estavam ligados por laços tão poderosos que nem mesmo Voldemort podia romper. E por isso mesmo, tudo era tão perigoso. O destino podia ser cruel às vezes.
Harry pigarreou tentando chamar a atenção. Depois de quatro dias ausente, Rony tinha que dar uma explicação.
– Onde você esteve durante todo esse tempo? – ele perguntou ao amigo.
Rony o encarou por alguns segundos antes de responder.
–Estava preparando o caminho pra você.
Novamente as mesmas palavras. Isso estava ficando cansativo. Mesmo sem entender completamente o sentido daquela frase, Harry teve a certeza que não gostaria da explicação que Rony.
Comentários (3)
Uma ótima história como s muito não li. Por favor não desistas da bela história que tens aqui espero seriamente que continues a fic está fabulosa
2016-04-28AMEEEEI O CAP! MAL POSSO ESPERAR PELO PROXIMO!
2013-07-29AMEEEEI O CAP! MAL POSSO ESPERAR PELO PROXIMO!
2013-07-29