Capítulo Quatorze:O treinament
Capítulo pronto há quase uma semana. Despulpem pelo atraso. Definitivamente tenho que encontrar uma nova profissão na próxima vida.
Estou tentando postar uma imagem como capa da fic. Alguem me ensina? Tenho que usar uma imagem hospedada online? posso usar a deviant art pra isso? Valeu.
Obrigado pela paciência e compreenção. E claro, obrigado a todos por acompanharem minha fic.
Próximo cápitulo terá algumas surpresas. Aguardem.
Capítulo Quatorze: o treinamento verdadeiro.
– Há quanto tempo você sabe? – perguntou Hermione depois de alguns minutos calada.
Ela estava sentada em uma das poltronas e parecia lutar contra a vontade de sair dali correndo. Coisas demais tinham sido reveladas e nenhuma delas era agradável para os quatro presentes na sala. Sem qualquer exceção.
Parado ao lado da amiga, Harry apenas lhe afagava os cabelos cheios, mas lançava a Rony um olhar que misturava raiva e ao mesmo tempo desprezo. E mesmo o mais ingênuo dos seres sabia que isso não era uma boa combinação. Gina por outro lado caminhava de um lado para outro resmungando coisas que ninguém conseguia discernir bem. Vez por outra lançava olhares para os outros três e tornava a andar e resmungar.
Sabendo que não podia mais dar respostas evasivas, ou mesmo mentir, Rony resolveu responder sem rodeios a pergunta de Hermione. Isso não seria fácil, mas já que ele tinha contado o mais difícil, as coisas não tinham como ficar piores.
– Desde nosso terceiro ano. Dumbledore me contou.
Hermione arregalou os olhos, vermelhos pelas lágrimas.
– Terceiro ano? Como pôde guardar um segredo desses? – então, como se percebendo o que acabara de dizer, ela sacudiu a cabeça revirando os olhos numa clara atitude sarcástica – Esqueça. Ninguém entende mais sobre guardar segredos que você Rony.
As últimas palavras tinham sido proferidas com escárnio. A garota estava começando a exteriorizar sua raiva. E o algo desse ataque era Rony, que não parecia intimidado com a posição. Na verdade o ruivo parecia mais estar completamente destruído. Ele não parecia ter forças nem mesmo para se defender. Rony estava sofrendo a olhos vistos.
Harry retirou a mão dos cabelos da amiga e caminhou para junto de Rony. A cada passo que dava ele apertava mais os punhos, devido à raiva que sentia. Seu melhor amigo mais uma vez estava mentindo e escondendo coisas importantes. Isso tinha que acabar. Ou acabaria a amizade entre eles.
Com um empurrão de Harry, Rony foi para trás. O ruivo olhou surpreso para o outro sem saber ao certo o que estava acontecendo.
– Harry? – Rony perguntou com voz fraca.
– Ela está certa. Você é o mestre de todas as mentiras. Esconder de mim é uma coisa Rony, mas esconder da Hermione algo assim é loucura. É maldade. Se ela é tão importante quanto você diz, não acha que seria melhor ter contado tudo há mais tempo? Será que você e Dumbledore não se importam com a opinião dos outros? Os planos que vocês dois traçam são mais importantes que as pessoas?
As perguntas raivosas de Harry estavam fazendo um péssimo efeito em Rony. Ele colocou a mão direita na cabeça e fez uma careta de dor. Recuou mais um pouco e se apoiou com a outra mão na parede.
– Droga Rony! Responda!
Com a cabeça abaixada Rony ficou calado. Suas mãos tremiam levemente. De onde estava Gina parou de andar. Ela sabia o que significavam os tremores do irmão. Ela olhou para Hermione, que ainda estava de cabeça baixa e soluçava. Harry, em seu ímpeto de defender Hermione, não percebia o que estava fazendo.
– Pare... – Rony disse quase num sussurro. Sua voz mais fina que o normal.
– Parar o quê? Droga, não se finja de fraco. Pois isso é algo que você nem de longe é – se aproximando ainda mais, Harry colocou as mãos nos ombros de Rony, e então voltou a falar – Olhe pra mim!
Permanecendo de olhos fechados, Rony tentou afastar o outro, mas foi lento e fraco demais. Estava tentando manter o autocontrole e aos olhos de qualquer pessoa que não soubesse ler os sinais sutis, parecia apenas um homem se encolhendo diante de uma reprimenda bem aplicada. Harry parou e ficou observando por alguns instantes. Julgou erroneamente que seu amigo estava se acovardando diante das palavras dele.
– Nunca pensei que diria isso de você Rony, mas vendo suas atitudes agora eu o considero um covarde. Você e Dumbledore foram covardes por tempo demais e as coisas acabaram dando errado.
Com um grito de raiva Rony se empertigou. Virou-se e com olhos literalmente flamejantes, cruzou a distância que separava os dois. Segurou os braços de Harry com tanta força que não parecia humano. E antes que Gina pudesse falar algo para impedir, ou Hermione percebesse o que estava acontecendo, tudo brilhou vermelho. O corpo de Rony mudou de forma rapidamente para um pássaro magnífico e lendário. Uma fênix garbosa e soberba. Então, com um bater de asas poderosas, as velas se apagaram e chamas vermelhas envolveram tanto homem quanto ave. E a luz ficou mais intensa até cegar todos os presentes.
Quando Gina e Hermione recuperam a visão, perceberam que estavam sozinhas. Rony e Harry tinham sumido.
– Mas como? – falou Hermione de olhos arregalados – É impossível aparatar em Hogwarts!
Gina respirou bem profundamente antes de responder.
– As fênix não estão restritas aos limites da magia dos bruxos. Podem atravessar grandes distâncias através de seus poderes...
–... Embora não usem essa habilidade com frequência por ser muito cansativa – completou Hermione – Pra onde eles foram?
– Eu não sei. A mente do meu irmão está fechada pra mim agora. E mesmo que não estivesse, tudo o que eu poderia ouvir seriam várias vozes em coro dizendo as mesmas ladainhas. Estou preocupada com os dois.
Hermione levantou e falou com urgência.
– Então use seu poder.
Gina fez uma careta para a amiga.
– Meu poder? Mas eu nem mesmo sei como usar isso.
Revirando os olhos Hermione bufou impaciente. Não tinha tempo para nada disso. Ela também estava preocupada. Com Harry e principalmente com Rony. Por mais que as revelações de Rony fossem cruéis e o peso da mentira dele ainda pressionasse se coração, ela tinha que admitir que muita coisa agora fazia sentido. E ela não era mais uma pessoa comum que tentava ajudar os amigos extraordinários. Fazia parte de algo maior. Maior e mais importante que qualquer magoa que ainda tivesse em seu coração. Eles estavam em guerra contra um inimigo tão poderoso que exércitos inteiros de bruxos treinados não poderiam vencer. A única esperança era o poder da Herdeira e a coragem do Eleito.
– Ouça Gina – Hermione falou em um tom de voz que sempre usava quando queria que Harry ou Rony aprendessem uma lição – acredito que você tenha que focar na pessoa que quer ver. Sua ligação com seu irmão pode tornar o uso desse poder mais fácil então tente se concentrar unicamente nele, e assim poderá ver o Harry também.
– Eu... Eu não sei se consigo Hermione...
– Claro que consegue. Não vá dar uma de menininha frágil agora. Concentre-se no seu irmão e apenas nele. Depois deseje do fundo do seu coração ver o que está acontecendo com ele. Faça isso e tenho certeza que vai funcionar.
– Como você sabe de tudo isso? Nem mesmo teve tempo de pesquisar na biblioteca sobre o assunto.
– Não acho que será possível encontrar livros sobre os poderes da Herdeira na biblioteca. Estou trabalhando aqui com base apenas em suposições. Não é muito, mas é o que temos no momento. Agora se concentre.
Gina sorriu. Apesar da gravidade da situação não podia deixar de achar agradável aquela sensação.
– O que houve? – perguntou Hermione.
– Rony estava certo. Você sempre esteve ao meu lado, me aconselhando e mostrando o caminho correto. Mesmo agora, você me ensina.
– Muito interessante e bonito. Quase comovente, mas agora não temos tempo de discutir isso. Concentre-se. Mais tarde nós duas vamos resolver tudo.
Gina fechou os olhos e se concentrou na mente de Rony. Estava distante e confusa. Rodeada por diversas vozes poderosas. Ela se concentrou mais e as vozes deram passagem. Quase com reverência, ela não pôde deixar de notar.
Então como no dia anterior, a realidade começou a mudar. As paredes começaram a sumir, tijolo por tijolo, pedra por pedra. O chão se transformava de pedra trabalhada para pedra crua e selvagem, coberta de musgo. Árvores antigas e retorcidas, escuras e quase sem vida compunham o cenário. Troncos enegrecidos pelo tempo. E logo em frente a ela estavam Harry e Rony. Harry deitado no chão tossindo e remexendo os braços lentamente. Rony estava sentado a menos de um metro do amigo e olhava em volta desconfiado.
– Está vendo? Perguntou Gina para Hermione.
– Não. Nada.
– Que estranho. O Harry viu tudo o que eu vi, mas você não vê nada?
– Tenho uma teoria sobre isso, mas acho que deve ficar para depois. Por agora acho que posso pensar em alguma coisa para reverter esse entrave – e colocou a mão no ombro de Gina – Tente abrir sua mente para mim. Deixe que eu veja o que você vê.
– Isso vai funcionar?
– Não sei. Mas até agora eu estou acertando, então me dê um voto da confiança.
Durante todo o ano anterior Hermione estudou secretamente oclumência e legilimência. Não tinha tido tempo e nem oportunidades de testar suas habilidades, mas acreditava ser capaz de usar ambas de forma satisfatória. Talvez sua legilimência não fosse tão sutil quanto a de Rony, mas seria suficiente para não machucar Gina.
Assim que recebeu permissão, ela viu. Seus dois amigos em algum lugar isolado e escuro da floresta proibida. Harry estava se recuperando do choque e tina acabado de se por de pé. Rony permanecia sentado, mas olhava sempre de um lado para outro, tentado se manter alerta.
– Vai ao menos explicar a razão de ter feito isso? – vociferou Harry.
Sacando a varinha, Rony fez uma barreira em volta dos dois. Camadas de energia azulada formavam uma abobada perfeita e semitransparente encobrindo tudo num raio de cinco metros de onde eles estavam. Em nenhum momento Rony olhava para Harry. Tudo em volta parecia ser mais interessante que encarar o outro jovem.
– Rony? – Harry tornou a falar mais impaciente que nunca. Não havia percebido a postura rígida de Rony, numa clara amostra de tensão. Como o ruivo não respondeu, ele se aproximou e segurou em seu ombro.
O que aconteceu em seguida foi rápido demais para Harry entender de imediato. Sua visão em um instante estava focada em Rony, e logo em seguida ele estava vendo o mundo girar fora de foco. Seu ombro bateu contra o chão e ele sentiu algo se partir. A dor invadiu seu copo instantaneamente. Ele gritou. Ajeitando os óculos tortos com o braço intacto ele olhou para seu agressor.
Rony estava agachado com as mãos na cabeça. Seu corpo inteiro tremia e ele parecia reprimir um forte desejo de gritar. Centelhas de magia pura saiam de seu corpo. Faíscas de poder bruto não controlado. Por um instante Harry esqueceu a dor no ombro. Aquilo era muito mais importante que qualquer dor que ele sentisse. A culpa mais uma vez tomou conta de sua mente. Assim como antes ele, em sua ignorância e imaturidade tinha provocado um estado deplorável em seu melhor amigo. Mais uma vez Harry tinha despertado os Guardiões do passado.
– EU SEI! – gritou Rony – DROGA, EU SEI! EU NÃO VOU FALHAR! – uma breve pausa de silêncio e ele voltou a gritar – SAIAM DA MINHA MENTE! NÃO! ESTÁ É A MINHA MENTE, NÃO NOSSA! É O MEU CORPO! E ELE É MEU AMIGO! EU NÃO VOU FAZER ISSO! ELES MERECEM SER FELIZES!
Harry tentou se levantar, mas a dor aguda fez seu corpo tombar. Com o som do corpo batendo no chão, Rony pareceu despertar de um transe profundo. Cerrou o punho segurando sua varinha, o que não era de forma alguma seu estilo. Era visível seu esforço para manter o controle. Ele caminhou até Harry a passos trêmulos e vacilantes. À medida que caminhava, ele usava de toda a sua força de vontade para controlar os pensamentos dos espíritos. Não podia ceder aos desejos deles agora. Não quando estava tão perto de conseguir realizar seus planos.
– Você está bem? – foi só o que conseguiu dizer.
Rony levantou a mão, num gesto para que Harry se calasse e esperasse. Respirou fundo diversas vezes e permaneceu quase o tempo todo de olhos fechados. Em nenhum momento a abobada de energia azul enfraqueceu em sua intensidade. Depois de alguns minutos Rony olhou para Harry. Não parecia totalmente calmo, mas estava melhor que antes.
– Agora é a minha vez de falar – ele disse.
– Bem...
– Minha vez Harry.
Harry fungou, mas ficou calado. Era difícil não obedecer quando o outro usava um tom de voz que inspirava tanto respeito. O que o fazia parecer anos mais velho do que realmente era.
– Você acha mesmo que eu não me importo com ela? Acredita mesmo que eu escondia isso por covardia? – havia emoção demais na voz dele para tentar disfarçar, embora essa não fosse a intenção – Droga Harry, eu fui covarde em diversos outros pontos importantes de minha vida, mas quando se trata dela, eu não posso me dar ao luxo de ser covarde. Eu me atiraria na frente de um “Avada Kedrava” por ela e morreria sorrindo se soubesse que a vida dela estaria a salvo. Você sabe disso! Você é meu melhor amigo!
Rony respirou fundo uma vez mais. Aquilo estava sendo muito difícil para ele.
– Você entende agora a razão de nós dois estarmos em uma situação difícil? Eu tentei por anos não envolvê-la nisso. Queria que ela fosse feliz. Ainda quero – colocou as mãos no rosto abafando um grunhido – Ah, pelas ceroulas de Merlin, eu a amo! Amo tanto que não posso conceber a idéia de vê-la lutando e se machucando. Ela tem escolhas. Pode simplesmente se negar a assumir seu papel. Então se isso tiver que acontecer, eu aceitaria de bom grado. Mas me pedir para envolver a mulher que eu amo em algo tão perigoso? Isso é demais. É por isso que eu não me declarei antes. Ela merece alguém melhor que eu. Alguém com um futuro. Eu estou destinado a outros caminhos. Por mais que meu coração doa, eu jamais tirarei essa liberdade dela.
– Posso falar agora? – Harry interrompeu. Diante do silêncio de Rony ele encarou como um encorajamento – Eu entendo perfeitamente o seu ponto de vista. Afinal eu me separei da Gina pelo mesmo motivo. Não posso imaginar um mundo em que ela sofra por minha culpa. Mas eu a amo e não sou forte o suficiente para afastá-la. Ela é minha força e minha maior fraqueza. E sei que o mesmo ocorre com você. Por isso decidiu jamais se envolver com ela e afastá-la. Mas está esquecendo-se de algo que eu também esqueci Rony: essa decisão não cabe somente a você. Se eu conheço bem a Hermione (e devo dizer que conheço), não importa que tipo de argumentos você use. Se ela souber a verdade sobre os seus sentimentos, não há nade no mundo que a impeça de tratar desse assunto diretamente com você. E se ela estiver determinada, não vai ser uma conversa muito longa.
– O que quer dizer com isso? – Rony estava visivelmente mais calmo agora – Ela sabe como eu me sinto e ambos sabemos o quanto ela gosta de conversar.
– Correção: ela realmente sabe como você se sente. Sabia antes mesmo de você perceber o que sentia. Mas você não tem que entender que seus sentimentos são correspondidos. É por essa razão que ela não vai conversar muito com você. Depois de tantos anos, ela simplesmente vai partir para a ação, por assim dizer.
– Você não tem certeza do que está falando...
– Quer apostar que tenho?
Rony franziu o cenho e depois deu de ombros. Estava visivelmente mais relaxado.
– Como você ficou tão maduro?
Harry riu de forma bizarra para o amigo. Um riso com certa pitada de sarcasmo.
– Experimente passar os anos de sua adolescência sendo perseguido por um bruxo das trevas psicótico. Acrescente a isso, o fato de ser obrigado a desistir da própria felicidade em prol de outras pessoas. Depois coloque doses fartas de amor pela irmã do seu melhor amigo. E não se esqueça, amor é o ingrediente mais importante. E claro, uma pitada de empatia para dar sabor. Acredito que seja uma boa receita de amadurecimento emocional.
– Alguns ingredientes são meio indigestos e um em particular eu não vou poder obter.
– Qual?
– Você não tem irmã. Assim sendo eu não poderei amá-la.
– Muito se engana Weasley. Eu considero a Hermione a irmã que nunca tive. E você mesmo falou que a ama. E falou em voz alta. Só peço que nunca magoe minha irmã, Rony. Pois se fizer isso, não vai importar se você for o Guardião, ou o a forma terrena de um deus. Se magoá-la, eu vou quebrar o seu nariz e depois arrastá-lo por todos os corredores de Hogwarts.
– Não se preocupe com isso. Jamais ficaremos juntos, então jamais irei magoá-la.
Harry revirou os olhos, impaciente.
– Tanto poder e sabedoria, mas você não entende nada sobre garotas. Você precisa aprender uma coisa: vai indubitavelmente magoá-la, se não ficarem juntos.
Os olhos de Hermione estavam marejados pelas lagrimas que voltavam a correr. Mas desta vez não eram geradas pela tristeza ou pelo medo. Ela estava chorando pela felicidade de descobrir que o homem que amava, nutria o mesmo sentimento em relação a ela.
– Ele me ama Gina! Ele realmente me ama!
– Isso não é realmente uma surpresa para você. Correto?
– De fato não, mas ele finalmente falou em voz alta.
– Sim ele falou. Não te incomoda o fato de não ter sido na sua frente?
– Mas foi na minha frente.
– Tecnicamente você não estava ouvindo isso. E ele não sabia que você estava interagindo magicamente com a situação. Francamente Hermione, você se contenta com tão pouco.
– Gina! Você tem que concordar que vindo do Rony isso foi equivalente em dificuldade a gritar os sentimentos em praça publica com um feitiço de ampliação vocal. E eu achei fofo, apesar do lugar sombrio e da interferência dos outros Guardiões.
– E o Harry claro. Nunca pensei que ele fosse dar conselhos sentimentais para alguém. Parece que o garoto ficou mesmo no passado. Vamos continuar observando, Hermione. Agora que estou começando a dominar esta habilidade quero ver o que consigo fazer com ela.
Sentado em uma pedra particularmente menos pontiaguda que as outras, Harry observava a floresta. Entretanto, era impossível ignorar as ondas cintilantes em tons semitransparentes de azul. Nada se aproximava de onde eles estavam. Nenhum animal. Nenhum eventual grupo de centauros preparados para alvejá-los com dezenas de flechas mortais. Para Rony isso não seria problema. Mas ele era talvez o bruxo mais poderoso do mundo, então qualquer feito mágico deveria seria simples.
Ainda assim aquela traquilidade não era agradável aos instintos de sobrevivência do rapaz. Havia alguma coisa errada. Harry levantou caminhou até perto de Rony que estava em é, parado no mesmo lugar, como se estivesse profundamente concentrado. Os olhos do ruivo estavam fechados. Harry reparou na velocidade da respiração do amigo. O peito inchava e retraia em um ritmo lento e controlado. Se alguma coisa estava errada ali, Rony não sabia o que era, ou simplesmente não considerava uma ameaça mortal.
– O que é essa coisa à nossa volta Rony? – Harry perguntou.
– Uma redoma de proteção – Rony respondeu entre uma respiração e outra – Tem diversos efeitos diferentes. Impede qualquer ser vivo que esteja passando de nos ver. Afasta animais e algumas pessoas com intenções hostis. Já que estamos fora dos limites da escola, torna impossível para quem está dentro, ser localizado por meios mágicos. Isso mesmo Harry. Aqui dentro nem mesmo Voldemort pode encontrar você. Achei que seria útil caso ele percebesse que estamos em local desprotegido. Mas você está realmente habilidoso em oclumência, então acredito que minhas medias de segurança sejam desnecessárias.
Harry arqueou uma sobrancelha, desconfiado. Aquilo iria mais longe ainda.
– Mas qual a verdadeira razão para me trazer aqui?
Rony abaixou a cabeça, como se estivesse envergonhado e falou:
– No começo foi mais pela raiva e descontrole. Você está me irritando. Mas depois que comecei a pensar com mais clareza, percebi que o momento de ensinar algo muito importante para você finalmente tinha chegado.
– Como assim? Algo importante?
– Certo. Preciso que preste muita atenção. Não sei se terei muitas chances de repetir e talvez eu não possa completar seu treinamento. Então peça ajuda para a Hermione se eu não estiver “disponível”, por assim dizer.
– Não estou entendendo Rony? Pode ser mais claro? – Harry estava ficando nervoso com o tom acanhado do amigo. Aquilo não era um bom sinal.
– Lembra da magia que eu estava desenvolvendo? Aquela que poderia nos ajudar a destruir as Horcruxes?
Os olhos de Harry se arregalaram e surpresa. Claro que ele lembrava. Durante dias não conseguiu pensar em outra coisa, mas como Rony estava sendo muito reservado nesse assunto, ele não insistiu, e depois, a vida alegre e despreocupada com Gina acabou suplantando sua necessidade de entender esse assunto. Mas agora aquilo voltava para a superfície. O corpo de Harry deu leves tremores de excitação. Uma chance de destruir as Horcruxes. Era mais do que ele poderia esperar em menos de um mês de aula. Era mais do que podia esperar em anos enfrentando seu inimigo. Uma chance de vencer afinal.
– Sim, eu me lembro Rony.
Rony sorriu. Secou mais uma vez sua varinha e apontou para uma árvore próxima.
– Levante sua varinha Harry. Preste atenção em cada movimento meu e em cada palavra que eu disser. Do começo ao fim.
Harry obedeceu e decidiu desta vez usar uma postura mais parecia com a do amigo. Segurou a varinha com a mesma delicadeza que Rony e percebeu que era mais fácil fazer os movimentos mágicos dessa forma. Se não segurasse com tanta firmeza, ele tinha maior liberdade para girar o punho e consequentimente, podia lançar magias mais rápidas. Bastava aprender a dominar a técnica de magia silenciosa e ele poderia estar em vantagem contra a maioria dos inimigos. A velocidade adquirida com a nova postura, não era absurdamente maior, mas era útil. Em um duelo de bruxos, a diferença de tempo entre um piscar de olhos podia diferenciar um cadáver de bruxo sobrevivente.
– Sim você está certo. Essa postura é melhor para duelos – falou Rony depois de quase meio minuto de silencio.
– Está lendo minha mente? – Harry franziu o cenho.
– Não – apressou-se em responder Roy – Como eu disse antes, sua oclumência está muito melhor que antes. Eu apenas deduzi a corrente de seus pensamentos, pelo modo que você imitou meus movimentos e depois começou a analisar a própria varinha. Estou surpreso quer você tenha percebido essa vantagem em tão pouco tempo. Isso só prova que eu deveria lhe dar mais credito no futuro. Venha, vamos começar.
Os dois ficaram parados lado a lado em postura de ataque. Ambos encarando a velha árvore.
– Lembre-se sempre disso Harry. Não sabemos quantas chances vamos ter então não podemos errar. Gire a varinha sempre coma ponta para o alvo. Meia volta em torno da ponta e depois uma leve estocada. Então diga a formula mágica: Memento Mori.
– Só isso?
– Não. Claro que não. Você deve pensar como se estivesse conjurando um patrono. Deve focar um pensamento feliz ou o encanto não vai funcionar. E claro, depois vem a parte mais difícil.
Harry olhou para ele intrigado. Tinha medo da resposta antes mesmo de seus lábios terminarem de formular a pergunta.
– Que pior parte?
Os dedos de Rony moveram-se agilmente, girando a varinha em várias direções. Harry teve a impressão de que ele estava apontando para diversas coisas e demorou certo tempo para perceber que estava certo em sua suposição.
Rony apontava para as árvores. Todas elas, sem exceção. Depois apontou para Harry e em seguida para si mesmo.
– Vida. Essa é a chave. Use sua vontade de viver. Use o poder da vida. Quando conjurar esse feitiço, tenha em mente que o poder necessário para vencer está dentro de você. Esse feitiço faz com que tudo aquilo que vive contra as leis naturais, encontre seu devido fim. Cada ser abominável que enganou a morte e tem uma vida falsa.
– Espere. Rony você está dizendo que esse feitiço pode não só destruir Horcruxes, como também o próprio Voldemort?
– Sim Harry. Horcruxes nada mais são que extensões da alma do bruxo que as criou. Admito que seja algo poderoso e tentador, mas é um preço alto demais para se pagar pela imortalidade. Existem meios mais nobres de sobrepujar a morte. Como você sabe bem.
– A Pedra Filosofal?
– Sim. Embora o usuário da pedra não se torne imortal de fato. Eu particularmente considero uma vida prolongada melhor que a eternidade se o preço for minha alma dividida.
– E como exatamente esse feitiço funciona?
Rony sorriu, gostando de ver o interesse de Harry. Eles não tinham muito tempo. Com sorte até o final do ano letivo, antes da guerra começar definitivamente. Voldemort não pouparia esforços para vencer e Harry precisava estar preparado.
– Menos de um ano – pensou Rony – É esse o tempo que eu tenho. Vou dar tudo de mim para o Harry se tornar poderoso o suficiente para enfrentar você Tom Ridle. E todos aqueles que você matou vão receber a devida justiça.
Meneando a cabeça, como se quisesse organizar os pensamentos, Rony ficou um segundo calado entes de responder.
– O Memento Mori é um feitiço perigoso e poderoso justamente por usar a própria força vital do usuário como catalisador. Você coloca sua vontade de viver, sua força vital no feitiço. A energia gerada é tão pura que nada mantido vivo por magia das trevas pode resistir. As Horcruxes são parte da alma de Voldemort, então estão vivas assim como ele.
Remexendo em suas lembranças, Harry se lembrou de um fato que não podia deixar em branco.
– Quando eu o vi usando esse feitiço a primeira vez, você destruiu algumas rochas no terreno da Toca. Pelo que sei pedras não estão vivas.
– Aquilo é outra parte do feitiço. Se o usuário usar muito sua força vital e dominar perfeitamente o feitiço, o passo seguinte é destruir não somente os seres mantidos vivos pelas forças das trevas. O feitiço passa a agir como uma extensão do bruxo. Com a diferença de ser uma extensão mais poderosa, falando em termos físicos é claro.
Harry riu diante das palavras de Rony. Sabia que não era um momento adequado, mas não conseguiu resistir.
– Você poderia falar menos como a Hermione e usar termos mais leigos? Eu estou perdendo detalhes importantes aqui.
Rony fez uma careta de desconforto antes de continuar.
– Falando em termos leigos, se você dominar perfeitamente esse feitiço e tiver controle suficiente sobre seu poder e força de vida, poderá destruir praticamente qualquer coisa solida. O impacto é tão potente que esmigalhas pedras, como você mesmo viu. Infelizmente é muito cansativo também.
Ajeitando os óculos, Harry assentiu com a cabeça. Era muita coisa para ser absorvida rapidamente. Ele precisaria de algum tempo para absorver tudo.
– Vamos dormir Harry. Eu estou muito cansado e amanhã amos começar a treinar de verdade.
– “Começar”? O que estivemos fazendo até agora?
– Você eu não sei – Rony respondeu sorrindo – Eu estava pegando leve esse tempo todo.
Hermione não sabia bem como agir na manhã seguinte. Quando Rony e Harry tinham retornado de sua excursão noturna, ela e Gina já estavam em seus dormitórios. Ambas decidiram não contar ainda para os garotos sobre o avanço do controle de Gina sobre seus poderes. As duas conversaram sobre diversas coisas na cama de Hermione, depois de um feitiço anti xeretagem. Gina tinha revelados coisas importantes eu Rony se recusava a contar.e depois de algumas horas, as duas foram deitar. Na manha seguinte, Hermione não parava de pensar em duas coisas.
A primeira era sobre o quanto ela tinha ajudado a amiga a progredir durante os anos em que se conheciam. Mesmo sem conhecer seu papel ela tinha tentado ajudar. Dava conselhos e por diversas vezes mais parecia uma professora severa que uma amiga, mas aparentemente ela estava tão atrelada ao seu papal de “Sábia”, que nem mesmo a ignorância poderia mudar seu destino. Gina estava progredindo. Isso era fato. Se Rony estivesse correto, no ritmo que as coisas andavam logo ela seria capaz de se comunicar com quem quisesse e outras coisas. E seria Hermione quem a treinaria. Ela treinaria a Herdeira. Era responsabilidade demais para alguém de apenas dezessete anos.
Bobagem. Idade pouco importava se a mente era bem estruturada. Harry lutava contra as forças das trevas que tinha onze anos de idade e mesmo dez anos antes, seus feitos eram lembrados e idolatrados. E claro havia Rony. Aquele que por toda a vida tinha suportado o peso de diversos segredos e esse fardo estava cobrando seu preço.
A segunda coisa que Hermione não conseguia parar de pensar era justamente em um dos segredos de Rony. Um segredo que ele tinha revelado para seu melhor amigo na noite anterior. Ele tinha dito que amava sua melhor amiga. Ela, Hermione Granger, era amada por Ronald Weasley. Era bom demais para acreditar.
Desde os tempos de menina ela imaginava que seu príncipe encantado a salvaria de um monstro ameaçador. Mas jamais poderia aceitar que no fim, seria realmente salva nessas circunstâncias. Claro, aqueles eram tempos em que ela não sabia de sua origem mágica e nem mesmo acreditava em magia.
Ela tinha uma vez dito ao seu pai com ares sonhadores de menina romântica que seu príncipe teria olhos brilhantes e azuis como o céu, cabelo da cor do fogo, para representar sua coragem, seria mais alto que a maioria dos homens e sempre seria leal aos que amava. Sonhos de criança. Ilusões da inocência. Ilusões que no fim, foram o berço da realidade. Rony Weasley existia e a amava. E era correspondido.
Agora eles estavam sentados na mesa de refeições e ela não conseguia dizer nenhuma palavra útil. Patético.
Era difícil se acostumar a uma cena estranha como a que estava acontecendo naquele momento. Rony encontrava-se concentrado em um texto longo de um pergaminho velho e empoeirado. E fazia anotações frequentemente. Quase não tocava na comida. Nos tempos antigos, quando eles ainda viviam a mentira, algo assim seria inimaginável. Até mesmo Parvati Patil e Lilá Brown, que estavam a algumas cadeiras de distancia não conseguiam desgrudar os olhos da cena. Na verdade todos que conheciam Rony, mas não sabia a verdade estavam olhando.
– Rony – falou Hermione hesitante – Não vai chamar muita atenção agir assim na frente de todos?
Ele levantou a cabeça e sorriu para ela. Um sorriso de dentes brancos e perfeitos, acompanhado de lábios convidativos.
– Mais do que nos últimos tempos? Duvido muito Mione.
Ele tentava agir como se a noite anterior não houvesse existido. Com se as palavras ditas pudessem morrer e esconder a verdade. Mas não podiam. Hermione Granger não era pessoa de desistir daquilo que queria. E o que ela mais queria, com todas as suas forças era a felicidade ao lado dele. Do seu ruivo amado.
– Você parece estar encarando bem tudo o que aconteceu – Rony voltou a falar. Harry estava sentado ao lado com algumas mechas do cabelo de Gina entre os dedos fazendo movimentos circulares. Ele parou o que estava fazendo e prestou atenção na conversa dos dois amigos.
– Muitas coisas aconteceram Rony. Sobre qual delas você esta falando?
– Bem... Sobre o seu papel na profecia... – Rony não estava muito relaxado para falar sobre aquele assunto, mas parecia estar se esforçando para esclarecer qualquer dúvida que Hermione tivesse.
Ela não podia deixar de perceber o quanto ele era atencioso.
– Ah, isso? Veja bem, eu não estou “encarando bem” essa situação. Eu estou “deixando acontecer”. Sei que não é comum da minha personalidade fazer isso, mas acho que é a melhor maneira de lidar com todas essas coisas.
Com um gesto da varinha, Rony fez o pergaminho se enrolar e fechar. Pegou as folhas de anotações e se levantou.
– Então você é mais forte que eu. Jamais vou conseguir fazer algo tão difícil quanto “deixar levar”.
Hermione também se levantou e segurou no braço dele. Não sabia bem a razão de fazer isso, mas não poda deixá-lo sair assim, sem dizer alguma coisa. Rony parou e olhou para ela com um brilho diferente nos olhos, como se quisesse fazer algo e não conseguisse.
– Você deveria tentar qualquer dia desses. Eu percebi que “deixar levar”, pode ser bastante gratificante às vezes.
– Como você disse antes Hermione, eu tenho diversas responsabilidades. Não posso fazer algo assim, por mais que queira.
– E vai fazer o que? – Gina se pronunciou, também levantando da cadeira. Parecia estar com raiva dele. Harry também levantou e passou o braço pelos ombros da namorada. Ela o afastou impaciente – Vai ficar parado deixando que as coisas aconteçam na sua frente? Droga Rony, nem mesmo você pode parar o tempo e deixar as coisa como estão. Ela vai acabar se afastando de você.
– Do que está falando Gina? – e então, como se algo se iluminasse em sua mente, ele entendeu – Você estava vendo ontem? Durante o tempo todo? E não me falou nada?
A ruiva parecia agora estar constrangida. Abraçou Harry com força e escondeu o rosto no peito dele.
– Eu estava preocupada com você – falou com a voz abafada – Precisava ver se estava bem. O que mais eu devia fazer?
– CONFIAR EM MIM! – Rony explodiu. Ele mesmo não entendia o súbito ataque de raiva. Sabia que a irmã o procuraria, mas não achava que ela usaria sua habilidade recém descoberta. Como poderia imaginar que ela dominaria algo assim em tão pouco tempo? E um novo estalo ocorreu. Gina era inteligente, mas até mesmo ela não perceberia como dominar suas habilidades em tempo recorde. Ela havia sido ensinada. E somente uma pessoa tinha capacidade para ensiná-la.
Rony voltou a encarar Hermione. E não parecia nada feliz.
– Você mostrou a ela como fazer – não era um pergunta.
Hermione arregalou os olhos diante da expressão de fúria que ele fazia. Aquilo não acabaria bem.
– Controle-se Rony – ela disse em um sussurro – As pessoas estão começando a prestar atenção demais ao que estamos fazendo.
Rony bufou. Bufou de raiva e frustração. Ele não tinha se libertado de uma prisão afinal. Apenas ganhou alguns minutos de liberdade por dia. Deu passos decididos em direção aos corredores. Não falou nada durante todo o percurso. A diretora McGonagall levantou e estendeu um braço para ele, mas desistiu no meio do caminho. Ele precisava ficar sozinho.
Da mesa de sua casa, Carmela Dashwood observava a cena, parecendo bastante interessada. Rony Weasley discutindo com Hermione Granger de forma alguma era algo inédito, mas ele discutir com a irmã era anormal. Rony podia ser implicante com o comportamento da irmã, mas isso era normal em se tratando de relacionamentos familiares. Demonstrava que ele se importava com a felicidade dela. Mas hoje os olhos dele tinham tanta tristeza e rancor que ela chegou a pensar que Rony atacaria Gina. E se isso acontecesse, Harry Potter teria que intervir para defender a namorada. E toda a escola sabia que Harry era imbatível quando enfrentava situações sérias.
Mas este ano todos tiveram uma surpresa quando o jovem ruivo revelou habilidades antes desconhecidas. Mudança de forma, grande inteligência, poder mágico impressionante, entre outras. Então se os dois amigos tivessem que duelar quem venceria? Carmela não gostaria de pensar nisso. Dois homens tão fantásticos não podiam ficar um contra o outro. Se isso acontecesse poderia significar a vitória de Você-sabe-quem. E ninguém queria isso.
Rony subiu dois andares e vários lances de escada. Enfim encontrou um corredor vazio e se se encostou à parede. Seu corpo tremia. As vozes voltaram e estavam piores que nunca.
– Esse não sou eu! – ele falou baixo – Eu não teria falado aquilo para a Gina. O que estão fazendo comigo?
O Guardião existe somente para defender a Herdeira.
A voz chegou como o som do vento, reverberando pelos mais obscuros recantos da mente de Rony. Uma voz conhecida e agradável. Quase o som das palavras de um irmão querido.
– Eu sei disso!
A Sábia existe para ensinar a Herdeira.
Outra voz, mais velha que a anterior e mais hostil também.
– Eu também sei disso! – ele quase gritou.
E mesmo assim você insiste em amá-la.
Uma terceira voz, agora mais calma e parecendo mais sábia que as duas anteriores.
– Eu não posso evitar. Ela é atraente demais pra mim. Ela é tudo que eu sempre sonhei.
É claro que é. Ela é a única mulher que pode se comparar ao Guardião. A única que está perto do patamar da Herdeira.
– E mesmo assim eu não posso tê-la.
Chega! Esqueça a Sábia, garoto insolente. Seu dever é proteger a Herdeira. Sua força existe somente para ela e por ela.
– Rony? – uma conhecia e agradável voz feminina o chamou timidamente.
Rony pôde sentir os outros Guardiões ficarem calados. Virou para encarar a garota que o chamava, esperando que não fosse quem ele pensava.
– Rony, nós precisamos conversar.
Hermione era linda, ele pensou. Não conseguia pensar em mais nada quando estava com ela. Mas sabia que não devia.
– Conversar sobre o quê?
Ela o olhou como sempre olhava quando tinha que explicar algo óbvio. Ele adorava o modo como o rosto dela se retorcia em um esgar de reprovação. Mas nem mesmo aquilo a fazia ficar feia. Nada poderia fazer.
– Conversar sobre o que aconteceu ontem.
– Você viu tudo o que aconteceu ontem na floresta?
Ela piscou algumas vezes antes de responder.
– Sim, eu vi...
– E percebeu a profundidade de minhas palavras?
– Claro que sim...
– Captou perfeitamente a profundidade de meus sentimentos?
Hermione o olhou impaciente.
– Aonde quer chegar?
– Por favor, responda minha pergunta Hermione, e logo vai entender.
Ela arfou, tentando recuperar o ar dos pulmões.
– Sim Rony, eu captei.
Ele abaixou a cabeça, forçando os membros a não tremeram.
– Sendo inteligente do modo que é você deve ter percebido que o que eu sou impossibilita qualquer relacionamento futuro e duradouro. Eu sou um homem sem futuro Hermione. Tudo o que eu sou é focado em prol de um único objetivo. Não sobrou espaço para mais nada. Você merece coisa melhor. Você merece sempre o melhor. Então escolha sempre o melhor e esqueça o que ouviu...
– Cale-se! – ela continuava a arfar. Os olhos marejados e inchados – Não me importa se eu mereço algo melhor. Meus pais disseram isso pra mim a vida inteira. “Escolha com sabedoria Hermione. Escolha o que há de melhor e nunca se contente com menos.” Bem, eu digo agora que eu segui o conselho deles e também sigo o seu Rony. Eu escolhi o melhor. Eu escolhi você.
Rony recuou para longe dela, mas acabou esbarrando na parede. Estava encurralado. A mulher que amava tinha acabado de dizer que correspondia aos seus sentimentos. Mas amaldiçoado como era, nada podia fazer a respeito. Tinha que ficar afastado.
– Harry ou Gina lhe contaram sobre o que aconteceu na floresta? Sobre o que os centauros disseram?
Ela respirou fundo antes de responder. Aquilo era mais fácil. Afinal a parte difícil já tinha sido dita.
– Sim. Gina me contou tudo.
– Então sabe que eu posso acabar me desviando de meu caminho se ficar com você. Se Voldemort usar você para me pegar ou pegar o Harry, eu não sei o que serei capaz de fazer para protegê-la, Hermione. Tenho medo que acabar me corrompendo para salvar sua vida. Tenho medo dos meus pensamentos, pois eu me corromperia de bom grado se isso poupasse sua vida.
– Você é mais forte que isso Rony. É mais forte que o medo. Vai encontrar um caminho, um meio de vencer sem precisar descer ao nível dele...
– VOCÊ NÃO ENTENDE! EU NÃO POSSO CONCEBER A IDÉIA DE VOCÊ SENTINDO DOR, MACHUCADA POR AQUELES DESGRAÇADOS! – ele se encolheu dobrando o corpo sobre si mesmo. Ajoelhou no chão abraçando a si mesmo como se esse ato pudesse trazer conforto. Parecia mais como um bebe desamparado. Aquele era o retrato de um home destruído - É demais pra mim. No fim, Agouro estava certo. Eu serei um traidor se escolher seguir meu coração. Eu sou um hipócrita. Fico dando extensos discursos ao Harry sobre o poder do amor e sobre como vencer usando isso, mas eu mesmo não posso desfrutar de meus ensinamentos. Merda! Porque eu tinha que ter esse destino? Eu só queria ajudar todos, mas não posso ajudar nem a mim.
Hermione se aproximou e o abraçou. Sentiu os músculos de corpo dele ficarem rígidos e depois relaxarem. Percebeu que o tecido de seu ombro estava ficando molhado. Deduziu pelos espasmos do corpo dele que era lagrimas. O homem que era talvez o mais poderoso bruxo do mundo estava chorando como um garoto assustado. Ela o amou por isso também, pois agora conhecia mais um lado dele. O lado que podia fraquejar.
– Vai tudo ficar bem Rony. Eu amo você e tudo vai ficar bem.
Ela se afastou dele e segurou seu rosto entre suas mãos. Viu os olhos azuis que tanto adorava. Olhos brilhantes e gentis. E antes que pudesse pensar no que estava fazendo, o beijou. Sentiu o sabor de seus lábios. E Rony correspondeu quase que imediatamente. Foi um beijo urgente e sem muita delicadeza, mas era cheio de paixão.
Não era naquele lugar e nem daquela forma que ela imaginou que aconteceria seu primeiro beijo com Rony, mas ainda assim estava acontecendo e era bom. Sentiu a língua dele pedindo passagem e não ofereceu resistência. Queria aquilo, precisava sentir o calor dele.
Ela mudou de posição e sentou no colo dele. Passou os braços em volta de seu pescoço, sem nunca parar de saboreá-lo. Foram muitos beijos, todos repletos de amor e necessidade. Ela passava as mãos pelas costas e braços dele, explorando seus músculos trabalhados pelo esporte. Ele sentia a maciez de cada curva do corpo jovem e sensual dela.
O coração de Hermione estava acelerado. Trasbordando de felicidade. Foi quando ele repentinamente a afastou. Repeliu-a com urgência, sem chegar a ser rude. Rony levantou de onde estava e ajeitou as vestes. Estendeu a mão para Hermione que ainda estava sentada no chão olhando incrédula para ele.
– Eu amo você demais para expô-la a tanto perigo. Ficar comigo vai machucá-la Hermione. Vamos esquecer o que aconteceu aqui. Vamos continuar como se nada tivesse acontecido.
Hermione largou a mão dele e se afastou um passo. As lagrimas embaçando novamente sua visão como antes.
– Você é um idiota. Não percebe que nós não podemos mais agir como se nada tivesse acontecido entre nós? Você diz que não consegue conceber a idéia de me ver machucada, mas ainda assim está quebrando meu coração.
Rony virou e saiu andando a passos ligeiros. Estava resistindo a um impulso potente de abraçá-la e confortá-la. Queria demais sentir novamente o calor e a maciez da pele dela. Sua textura delicada e tentadora.
Hermione gritou antes que ele dobrasse o corredor, pois não sabia se teria coragem de dizer aquilo em outro momento.
– Levicorpus!
O corpo de Rony levantou no ar alguns centímetros do chão. Ele falou algum impropério, mas Hermione não entendeu.
– Você não estava atento. Em condições normais, teria bloqueado meu feitiço com facilidade. Mas agora, neste exato momento, você é apenas um bruxo medíocre que não consegue se concentrar naquilo que realmente importa. E por mais que seja brilhante em diversos assuntos acadêmicos e mágicos em geral, ainda está engatinhando nos assuntos do coração. Então aqui vai um grande aviso: eu conheço o pior e o melhor de você e não me importo. Eu não vou desistir de nós assim Rony. Não sou o tipo de pessoa que desiste fácil. Faz parte do conselho dos meus pais. “Não se contente com menos”
E com um gesto, desfez o feitiço, guardou a varinha no bolso das vestes escolares e saiu sem olhar para trás em nenhum momento.
Rony sentiu-se fraco de repente, mas sabia que isso nada tinha a ver com os Guardiões do passado. Ele estava fraco por causa daquela situação. Continuou a caminhar para longe dali e quando percebeu que estava sozinho e distante o suficiente para que ninguém ouvisse, colocou as mãos na cabeça e se apoiou na parede, deslizando lentamente. Quem olhasse para seu rosto naquele momento veria a própria encarnação da dor. Em meio a tremores ele apenas sussurrou:
– Eu sei. Eu sei.
As semanas foram passando lentamente dentro as paredes do castelo. As aulas ficavam cada vez mais difíceis e nos poucos momentos vagos entre as aulas, os alunos sentavam na beira do lago e jogavam conversa fora. Um assunto freqüente nos últimos dias era a próxima visita a Hogsmead, desta vez monitorada por Aurores do Ministério.
Harry e Gina tentavam entender a razão de Rony nunca ficar no mesmo aposento que Hermione por mais de cinco minutos. Desde o incidente no refeitório e depois que ela saiu para falar com ele, as coisas não estavam nada bem. Mas desta vez era Rony quem evitava a conversa. Inventava desculpas sobre estar atarefado demais, ou sobre precisar terminar alguma coisa pendente.
Hermione apenas olhava na direção dele e esperava pacientemente que ele terminasse de recolher suas coisas e saísse. Sempre que se encaravam, lançava para ele um olhar neutro e indecifrável. Qualquer coisa que estivesse tramando, seria segredo até o momento que decidisse pôr seu plano em prática.
O único momento em que os quatro conversavam, era quando Harry encontrava com Rony na Sala Precisa para treinar. Mesmo na reunião da AD, eles evitavam diálogos com mais de duas palavras. Harry suspirava e pesarosamente tentava servir de mediador, como sempre. Entretanto estava falhando terrivelmente, como sempre também.
Sempre que podia Rony depositava filetes aquosos de lembranças dentro da penseira na Sala precisa. Harry, Gina e Hermione nunca perguntavam que lembranças eram aquelas, pois devia ser algo de grande importância que Rony não revelaria até o momento certo.
O primeiro mês de aulas finalmente estava chegando ao fim e com isso, o dia do primeiro passeio a Hogsmead se aproximava. Em tempos passados, esses momentos representariam um pesadelo parA Harry, mas agora que estava com Gina tudo se tornava mais fácil. Nada de convites humilhantes e recusas dolorosas. Ele iria com a garota de seus sonhos e se divertiria muito. Pena que o mesmo não podia ser dito de seus melhores amigos.
Vários garotos tentavam de modo aparvalhado convidar as garotas que eles achavam interessantes para acompanhá-los. Durante o intervalo de uma das aulas, um jovem da Corvinal pediu para falar com Hermione a sós. Harry estrategicamente ficou entre o rapaz e Rony que estava de cabeça baixa logo atrás. Gina vinha caminhando ao lado de Luna, conversando amenidades e assim que viu o namorado deu uma corridinha e o abraçou. Luna mais parecia dançar enquanto se aproximava, pois aparentemente não prestava atenção em nada e em tudo ao mesmo tempo.
Harry tentou não parecer tão direto nos seus sentimentos naquele momento, enquanto Hermione iniciava a conversa com o aluno de outra casa. O corredor estava lotado de alunos. De todas as casas e de vários anos diferentes.
– Sinto muito Lawrence, mas não posso ir com você. Eu prometi ir com outra pessoa – a voz de Hermione estava em um tom diferente do habitual. Era imperceptível para quem não a conhecesse bem, mas seus amigos perceberam a pontada de provocação.
– Com quem você vai? – perguntou o rapaz com uma expressão triste
Rony levantou a cabeça e tocou no ombro de Harry. O amigo e virou para ouvir.
– Acho melhor eu ir...
– Eu vou com o Rony – respondeu Hermione mais alto que o normal. Era como se quisesse que todos ouvissem o que tinha a dizer – Ele me convidou há algumas semanas e eu aceitei.
O jovem Lawrence fez uma careta de derrota, agradeceu pela atenção de Hermione e se afastou polidamente dali. Sabia que não deveria permanecer naquele lugar por muito tempo, pois as habilidades daquele Weasley e seu temperamento explosivo não eram grandes estimulantes. Isso sem contar sua estatura intimidadora.
Rony se aproximou da garota e se abaixou para falar em sussurros. Ele parecia desconfiado de alguma coisa.
– Por que fez isso? Eu não convidei você.
Ela sorriu de forma tão anormal para ele que Rony se afastou um pouco instintivamente.
– Mas você me convidou. Quando decidiu que eu não podia ficar ao seu lado. Você me convidou a mostrar que você pode estar errado. Ou vai dizer que não agiu de modo egoísta e covarde tomando uma decisão importante dessas por nós dois? – e se aproximou do ouvido dele para também sussurrar – Admita Rony, você quer isso tanto quanto eu. E como eu disse antes, não vou desistir. Para mim não importa se você é o Guardião. Eu só consigo vê-lo como o homem que eu amo.
Rony engoliu em seco, pois sabia que se aquela situação continuasse, ele não poderia resistir.
– Você não percebe o quanto isso pode ser perigoso? Não lhe explicaram o que Agouro disse?
O burburinho de pessoas passando e cochichando estava começando a irritá-lo. Ele apontou a varinha para o chão e murmurou:
– Abaffiato! Pronto, agora podemos conversar apropriadamente.
– A única conversa apropriada que vamos ter Rony, será em Hogsmead – Hermione desdenhou.
– Eu não irei a Hogsmead...
– É claro que irá. Como pode proteger Gina e se ficar dentro do castelo?
Ele pensou em argumentar, mas não achou nenhuma resposta adequada para a afirmação dela. Aquele era um ponto sem retorno. O final da questão. E Rony tinha agora a certeza sobre a dúvida que tinha consumido sua mente por dias: ele era de fato, totalmente inútil no quesito discussão com uma mulher.
– Você não acha nada disso estranho demais? – perguntou Gina naquela mesma noite sentada na cama de Hermione enquanto a amiga escovava os cabelos cheios. As duas tinham lançados feitiços de privacidade em praticamente todo o perímetro da cama e penteadeira.
Hermione se virou para ela e levou o dedo indicador aos lábios fingindo pensar profundamente.
– Não – respondeu depois de algum tempo.
Gina revirou os olhos e jogou o corpo para trás, abraçada ao travesseiro.
– Francamente Hermione, depois de anos de silêncio você resolve do nada atacar de frente? Isso não é meio radical demais para você?
– Você acha? Com tudo que está acontecendo, eu deduzi que se não fizesse nada, minha felicidade escaparia pelos meus dedos como água. Não acho que seria uma sensação agradável.
– Sei exatamente o que quer dizer.
– Mas o Harry acabou voltando. O Rony sempre foi mais cabeça-dura.
– Completamente.
Hermione suspirou e deitou-se ao lado de Gina.
– Nós nos beijamos.
Com uma velocidade anormal, Gina ficou sentada encarando Hermione de olhos arregalados.
– E quando a senhorita decidiria me contar sobre um assunto tão importante quanto esse?
Ela cobriu o rosto com o travesseiro antes de falar. As mãos não paravam de amassar o tecido branco.
– Aconteceu há algumas semanas atrás. E não foi de modo romântico como eu esperava. Ele estava fragilizado e eu... Bem eu...
– Não resistiu ao olhar carente e brilhante dele e decidiu se aproveitar.
– Não eram essas as palavras que eu usaria, mas não está longe da verdade – ela sorriu envergonhada.
Movendo o corpo com leveza, Gina se aproximou o suficiente para fitar cada detalhe dos olhos castanhos da amiga. Hermione agora entendia porque Harry uma vez comentou que os movimentos dela era rápidos e graciosos como uma corça.
– E foi bom?
Outro suspiro e mais pressão no travesseiro antes da resposta.
– Por Merlin! Sim! Foi maravilhoso. Ele era delicado ao mesmo tempo em que demonstrava masculinidade. As mãos dele eram mágicas e os lábios... Eu poderia me perder naqueles lábios. Lembre-me de agradecer à Lilá. Acho que ela ensinou muito bem o oficio para seu irmão.
– Me poupe de tantos detalhes. É do meu irmão que estamos falando. E depois, o que aconteceu?
Hermione ficou muda e tentou imaginar uma forma de responder aquilo.
– Esqueça. Não precisa mais me dizer como aconteceu. Sem querer acabei vendo tudo em primeira pessoa.
– Gina!
A ruiva levantou as mãos com as palmas voltadas para Hermione e disse em tom culpado:
– Desculpe. Mas entenda, você passou as últimas duas semanas me ensinando como melhorar meu elo mental. Eu tentei usar com você e como sua mente estava descuidada eu entrei. Ainda não consigo controlar muito bem isso, então acabou acontecendo.
As duas ficaram mudas por alguns minutos. Lá fora, as corujas batiam suas asas e piavam agudamente. Uma coruja menor que um punho fechado entrou pela janela, dando voltas acrobáticas enquanto se aproximava. Piou alegre para Gina e depois de mais algumas firulas, pousou em seu ombro, onde continuou a bater as asas e esfregar o bico na pele da garota.
– Olá amiguinho. O Rony sabe que você está aqui?
Hermione estendeu o braço para a coruja e como se já esperasse isso, a ave deu um pequeno voo, que mais pareceu um pulo e empoleirou-se nos dedos da garota.
– Ele gosta de você Hermione. O Pichí simplesmente adora você, assim como o dono. Meu irmão acredita realmente que está fazendo o melhor para protegê-la, mas não vai demorar a perceber que você não precisa de nenhuma proteção. Pouco importa o que aquele centauro carrancudo falou. O Rony é a pessoa mais leal que eu conheço e nada o faria se tornar um traidor.
– Eu o amo Gina. Amo tanto que chega a doer pensar que ele está sofrendo.
– Sinceramente não sei o que você viu nele. O Rony não passa de um garoto alto, sardento, cheio de charme e esforçado que faria de tudo para proteger aquilo que ama. O fato de ser bonito e inteligente tem pouca relevância. Você deve ser cega para gostar de algo assim.
– Como se eu fosse a única – ela respondeu sorrindo.
– Bem, você pode ter alguma concorrência, mas no fim, pode ficar tranquila, pois nenhuma das outras garotas chega aos seus pés. Afinal você é Hermione Granger. Agora vamos dormir para que você possa sonhar coisas indecentes com meu irmão.
Gina saiu correndo do quarto enquanto um travesseiro era lançado em sua direção.
Hermione demorou a dormir, embora estivesse com o espírito mais leve. Sabia que quando acordasse, seria em um novo dia, e as possibilidades eram infinitas.
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