Capítulo Treze: Coragem e sabe
Estava tentando postar este capítulo há mais tempo, mas sempre mudava de ideia sobre algumas coisas. E claro, a falta de tempo também não ajudava (na próxima vida vou lembrar de passar bem longe da área de Publicidade).
Enfim... Aí está. Espero que gostem, pois eu gostei muito de escrever. Comentem, mandem dicas e se alguém quiser, pode criticar também (críticas construtivas, óbvio).
Obrigado mais uma vez por acompanharem minha Fic. Vou tentar demorar menos tempo para postar o próximo capítulo.
Boa leitura.
Capítulo Treze: coragem e sabedoria.
Harry estava ofegante. Tinha que admitir que estava há cada dia mais habilidoso desde que começara a treinar com Rony na Toca. Agora percebia que precisava realmente de treino intensivo e poderia superar seus oponentes se tivesse bastante tempo para isso.
Ele tinha meses pela frente. Meses para se tornar ao menos um bruxo que pudesse sobreviver por mais de um minuto diante de seu mais odiado inimigo. Os treinos mostravam gradativamente seu avanço. Agora conhecia mais feitiços e diferentes maneiras de manter o fluxo mágico. E seu melhor amigo, um jovem com o poder de todos os grandes bruxos do passado era seu instrutor. Ele desta vez se dava ao luxo de ter esperança.
Rony esta sendo rígido e irredutível com Harry, mas isso era necessário. Senão o avanço das habilidades seria mais lento. Rony disse pouco tempo antes que Harry poderia dominar seu espírito mágico e sua aura suprema, mas para isso precisava que o controle de suas próprias suas habilidades atuais fosse real e incontestável. Hermione apenas observava atentamente como se cada palavra dita fosse de suma importância. Como de fato era.
– Como é a sensação? – perguntou Harry entre uma respiração profunda e outra.
– Qual sensação? – Rony parecia desconfortável quando as palavras saíram de sua boca.
Harry fungou e limpou o suor com as costas da mão.
– Como é dominar esse poder antigo? A sensação de controlar completamente cada fagulha mágica existente dentro de si? – ele agora sorria, apesar de respirar lentamente.
A verdade ou mais uma mentira? A dúvida ainda corroia as entranhas de Rony. Ele olhou para a garota bonita, sentada há alguns metros dele e suspirou. Perto dela ele só poderia escolher a verdade de agora em diante. E foi o que fez.
– Está se referindo à sensação de olhar para o mundo de um patamar superior, como se nada fosse importante o bastante? De ver os outros bruxos como seres inferiores? Pois é isso que se sente no inicio. Harry escute com atenção: poder corrompe. Poder absoluto corrompe absolutamente. Voldemort cedeu aos seus desejos assim que despertou a aura primordial. E mesmo com seu espírito (sua alma se assim preferir) dividido por causa das horcruxes, ele foi capaz de evoluir.
Sem saber bem o que dizer diante das palavras do ruivo, Harry abaixou a cabeça. Patamar superior? Olhar os outros como se não fossem seus iguais? Será que nada era realmente como parecia ser?
– Você disse que ensinaria como despertar esse poder para os alunos – Harry falou. A voz rouca pelo repentino e crescente rancor – Como pôde prometer algo tão bizarro?
Rony não pareceu se abalar muito com essa declaração.
– Em nenhum momento eu disse que eles despertariam o poder. Acho que fui bem claro em dizer que apenas ajudaria e serviria de guia. Mas, mesmo na longínqua hipótese de algum aluno desta escola despertar estas habilidades enquanto eu e o professor Lupim ministrarmos esta matéria... Bem, se isso acontecer eu só posso rezar para que a pessoa em questão não deixar que as influências inerentes o desviem do caminho correto. Harry, eu não sou o tipo de pessoa que fica no caminho das decisões de outros. Todos são livres para escolher o caminho que quiserem. Eu não vou me intrometer nisso, a não ser que as decisões de alguém interfiram em meu caminho.
Fechando o pesado livro que estava lendo, Hermione se levantou. Bufou impaciente e se aproximou dos dois amigos. Rony ficou mais ereto assim que ela ficou perto o bastante. Harry não olhou para a garota. Estava em seu próprio mundo de pensamentos. Hermione colocou a mão no ombro de Harry e falou:
– Olhe pra mim.
Ele levantou o rosto relutante e a encarou. Ela sorriu de uma forma única e inimitável. Um sorriso que sempre acalmava Harry. Se ele não a considerasse como sua irmã, teria se apaixonado por ela há anos.
– Pare e pense Harry – continuou Hermione – De acordo com as palavras do Rony, despertar esses poderes não é de forma alguma fácil. Eu realmente acredito que o treinamento durante este ano vai servir somente para disciplinar o corpo e a mente de alguns deles. E isso é algo que o professor Lupim também pode fazer perfeitamente enquanto leciona. Mas agora, o Rony está aqui. Treinando você. Em particular e sem nenhuma influência. Pense nisso antes de falar alguma coisa que pode se arrepender depois.
Harry sorriu para ela relutantemente. Depois virou para falar com Rony, mas o ruivo não estava por perto. Olhando em volta ele percebeu que o amigo se encontrava alguns metros afastado, apoiado em uma bacia de pedra com símbolos entalhados. Harry não teve dúvida em afirmar que aquilo era uma penseira.
Com a ponta da varinha, Rony extraiu de sua têmpora um filete prateado de textura aquosa. Logo em seguida, depositou-o no liquido puro da penseira. Remexeu o conteúdo e suspirou. Harry o achou muito cansado, como se fosse um velho. Como se fosse Dumbledore.
A lembrança do antigo diretor e mestre deixou o coração de Harry apertado. Dumbledore, que havia lutado durante anos para impedir a vitória de Voldemort. Dumbledore que tinha elaborado planos em cima de planos e usado de toda a sua inteligência para impedir as trevas. Dumbledore que havia sido traído por uma das pessoas que mais confiava.
A raiva emergiu como a lava vulcânica. Snape tinha traído Dumbledore. Snape tinha dado a Voldemort a informação sobre a profecia que acabou matando seus pais. Snape, que odiava Harry com todas as suas forças. E a erupção de raiva aumentou, consumindo o corpo de Harry. Ele tentou se controlar, manter a calma, mas de alguma forma, isso era impossível. Ele precisava extravasar e se libertar. Então Harry sentiu um estalo. Um clarão de iluminação. Metaforicamente era como se algo tivesse quebrado em sua mente. Uma pequena trava que o impedia de passar por certos limites.
Rony dissera mais cedo naquele dia para usar os sentimentos negativos. Transformá-los em força em vez de fraqueza. Raiva e depois sua evolução: ódio. Se essa era a chave para Harry despertar o poder então Voldemort logo teria que ficar muito preocupado. Raiva não era de forma alguma um sentimento desconhecido para Harry.
– Pare Harry – a voz de Rony se fez ouvir.
Ele não entendeu de imediato. Piscou algumas vezes e focou o ruivo.
– Eu pensei ter dito para você não ler minha mente – a raiva continuava tão latente quanto antes, mas agora o alvo estava se tornando outro.
– No seu caso não será a raiva que despertará o Poder – tornou a falar Rony como se não tivesse ouvido Harry.
Harry sorriu com sarcasmo.
– Foi você quem disse para usarmos nossos sentimentos negativos.
– Desde que eles fossem suplantados por sentimentos mais importantes no fim. Ter poder apenas por ambição não é algo bom Harry. Tanto para aquele que busca quanto para o mundo. A história já provou que as pessoas erradas que conquistaram poder tornaram o mundo um lugar péssimo. Você é diferente. Você não quer poder. Quer algo mais. Você quer paz. Amor, felicidade e paz. Eu conheço você Harry e sei que o que mais quer é que tudo isso acabe. Pois eu lhe digo que isso é o que todos queremos. Mas eu não posso permitir que você seja consumido pela sua raiva. Lembre-se da sua profecia: um poder que o Lorde das trevas desconhece.
– Não estou entendendo Rony.
–Voldemort conhece o poder pela raiva e pelo medo. A violência despertou suas habilidades superiores. Isso ocorreu com ele. Mas você é diferente. Você não pode trilhar o mesmo caminho se quiser vencer. Você tem que ter um poder diferente. Suas habilidades mágicas têm que despertar por outros motivos. Motivos mais nobres – Rony parecia quase desesperado enquanto falava.
Harry respirou fundo antes de falar.
– Que motivos mais nobres?
Rony sorriu.
– Você já sabe a resposta.
E o entendimento veio como chuva refrescante em um dia quente de verão. Harry se lembrou de um dialogo antigo, de anos antes. Uma conversa reveladora que tivera com seu mentor Dumbledore sobre semelhanças e diferenças. Sobre escolhas e claro sobre um sentimento. O mais importante dos sentimentos.
Harry sorriu e olhou para os amigos de forma significativa.
– Sim claro. Eu sei a resposta. Um poder que ele desconhece e que dentre nós dois, apenas eu posso ter. Desculpe não ter percebido antes Rony.
O ruivo deu de ombros apesar de parecer muito aliviado.
Hermione não suportou ficar de fora do assunto e sua curiosidade natural mais uma vez falou mais alto:
– Sem querer parecer enxerida, mas um de vocês poderia me dizer qual a reposta que o Harry já sabe?
Harry olhou para ela e depois para Rony e novamente de um para o outro antes de responder.
– Amor, Hermione. Simplesmente amor.
Dois dias tinham se passado desde o inicio do treinamento de Harry e Rony e ambos pareciam esgotados. Harry mais ainda depois de se dar conta que teria que fazer uma nova seleção de integrantes do time de quadribol. Deu um suspiro aliviado ao lembrar que Cormaco Maclaggen não estava mais entre os pretendentes ao cargo de goleiro. O crânio de Harry agradecia. Jogar com Cormaco poderia ser mais perigoso que enfrentar Voldemort.
O salão comunal da Grifinória estava tão cheio como de costume. Estudantes repassando as matérias do dia e alguns outros tentando namorar. Harry e Gina faziam parte do segundo grupo. Hermione do primeiro. Rony estava sentado entediado e pouquíssimo acessível. Entre um beijo e outro com a namorada Harry olhava para o amigo e sentia pena, mas logo depois tentava tirar esse sentimento da cabeça. Rony não necessitava de pena e sim de apoio e esforço. E era isso que Harry daria a ele.
Gina percebeu que os carinhos de Harry não eram como antes e olhou para ele interrogativa. Ao perceber que ele não estava totalmente concentrado sentiu uma pontada de frustração.
– O que aconteceu? – Ela perguntou.
Despertando de seus devaneios, Harry sorriu e falou um pouco envergonhado.
– Bem... Você sabe Gina. É difícil falar...
– Tente – a garota parecia seria demais. Será que ele teria desistido novamente? Estaria tentando arrumar uma forma de terminar tudo entre eles outra vez?
– Certo. Hum... Ok olhe para eles dois – e gesticulou com a cabeça para Rony e Hermione – A situação está mais parada que antes.
Gina não pôde segurar o suspiro de alivio que Harry não entendeu, mas preferiu não perguntar.
– Bem você sabe, eu poderia perguntar a ele de maneira totalmente segura como se sente com tudo isso. Afinal pela nossa ligação ele não é capaz de mentir.
– Não! – Harry quase gritou, mas tornou a baixar o tom quando percebeu o deslize.
– Certo Harry eu entendi. – mas o sorriso que Gina mostrava não dava a menor confiança.
– Harry, já fez sua redação sobre a correlação entre magia e estado de espírito? – Hermione perguntou depois de alguns minutos.
As costas de Harry se enrijeceram. Tinha esquecido completamente daquilo.
– Bem Hermione. Eu não tenho andado com muito tempo de sobra sabe...
– Harry Potter, isso não é motivo para você se tornar relapso com seus estudos – ela falou em seu tom autoritário natural, o que fez Rony parecer interessado na conversa pela primeira vez naquela noite – Se eu consigo conciliar minhas atividades escolares como aulas, redações e minhas funções como monitora além de ajudar você a preparar as aulas da AD, então é perfeitamente possível que você possa fazer suas tarefas sem que seja necessária minha intervenção de ultima hora.
Harry estava um pouco mais encolhido na poltrona que antes e Gina fazia força para não rir.
– Deixa ele Hermione – Rony falou com uma voz calma – Acho que posso deixar passar essa. Afinal é por minha culpa que ele não tem tanto tempo sobrando pra gastar se atracando com minha irmã mais nova.
Gina não demonstrou ter se importado como o tom irônico das palavras do irmão. O mesmo podia ser dito de Harry, que até olhou para o amigo como se ele fosse seu salvador em armadura prateada.
– Rony! – Hermione o olhava como se ele tivesse uma verruga gigante na testa – Você não pode fazer isso. Dar ao Harry tratamento especial não vai ajudá-lo em nada.
– Não é bem um caso de tratamento especial Hermione. Só estava pensando em dar uma forcinha...
– Nem pensar!
– Shhh! Calma garota, não precisa fazer todo esse escândalo.
Hermione revirou os olhos.
– Por Merlin Rony, você não pode ter um mínimo de responsabilidade? Você agora é um professor. É sua obrigação formar mentes.
– Mione, seja razoável...
– Não me venha com choramingos Rony. Se eu não for rígida o bastante nem sei o que pode acontecer com você, a Gina e o Harry.
– Hermione...
– Mesmo sendo amigo do Harry você não pode se esquecer das suas obrigações. Seja como aluno, professor ou Guardião...
– Eu conheço minhas obrigações perfeitamente bem, Hermione Granger – Rony interrompeu com uma voz fria – Eu tenho várias vozes insistentes em minha mente que não me deixam esquecer.
A garota, vendo que tinha cometido um erro, pôs as mãos na boca, como se tentasse parar quaisquer palavras que poderiam sair novamente sem controle. Seus olhos rapidamente ficaram lacrimosos. Pensou em pedir desculpas, mas viu que isso era inútil agora. Tentou estender o braço e tocar o ombro dele, mas faltou-lhe coragem. Diante dela não estava o garoto de quem gostava. Aquele parado era o bruxo que lutava todos os dias para não cair vítima dos próprios poderes. Aquele que nasceu para proteger a Herdeira da Magia da luz.
Rony deu alguns passos para traz e se virou. Parecia destruído. Hermione esse aproximou, mas ele fez um gesto brusco para ela não continuasse.
– Eu preciso ficar sozinho – ele disse com a voz rouca – Gina, cuide de tudo aqui para mim – e antes que algum deles pudesse falar qualquer coisa, Rony já tinha se transformado em uma pequena coruja vermelha e em poucos instantes tinha saído do castelo voando.
Os outros estudantes olharam para a janela, impressionados vendo a coruja se afastar. Hermione correu para o dormitório chorando. Gina foi atrás dela. Harry apenas abaixou a cabeça e sentou na poltrona. Todos os que vieram falar com ele depois disso foram sumariamente ignorados.
– Ele me odeia Gina – falou Hermione entre lágrimas – Se não odiava antes, odeia agora.
Gina revirou os olhos.
– Claro que o idiota do meu irmão não te odeia Hermione. Se fosse assim, a atitude dele seria completamente diferente esta noite.
– Como assim?
A ruiva não sabia bem se devia responder com sinceridade àquela pergunta. Mas também não queria mentir, então decidiu pela omissão de informações.
– Bem, você não entenderia se eu dissesse, então vamos deixar desta forma: o Rony está numa batalha interna contínua desde que salvou o Harry naquela noite na floresta. E cada dia essa batalha fica mais intensa e difícil. Se ele não gostasse de você, com certeza iria explodir em um ataque de raiva pelo que ouviu.
– Então você admite que eu falei coisas que não deveria...
– Certo, não vou mentir Hermione. Você pegou pesado e cutucou um corpo castigado. A reação dele foi bastante civilizada para falar a verdade. Meu irmão até preferiu ficar sozinho pra não ter que continuar com isso. Ele não queria brigar com você, então se afastou.
– Não sei se entendo tudo que você está tentando dizer Gina. Parece que há mais coisas por trás disso que você não quer falar. Não precisa me olhar assim. Eu já falei coisas demais que não deveria por uma noite então se você não quer falar, não vou forçar. Boa noite Gina. Acho que também quero ficar sozinha agora.
– Boa noite Hermione.
O vento frio da noite passando por cada uma de suas penas. A sensação de liberdade em cada batida de asas. Nada para impedir ou atrasar, a não ser as próprias limitações auto-impostas. Poucos bruxos podiam dizer quer tinham sentido isso. Ele sentia cada vez que voava sozinho, sem a ajuda de uma vassoura.
Rony voava. E mudava de forma constantemente. Experimentando cada uma de suas formas animais voadoras. Primeiro como coruja, depois como hipogrifo, trestálio, morcego, pegáso, ave-do-paraíso e tantas outras, mas no fim ele voava como a ave de seu mestre: uma fênix.
Rony gostava de usar a forma de Folkes. Podia usar todas as habilidades inerentes a esse ser mágico como se fossem suas e isso era bastante útil. Como quando Dumbledore tinha escapado dos Aurores do ministério durante o quinto ano dele e Harry. Rony sabia que o velho bruxo precisaria de ajuda e se metamorfoseou em fênix para tirá-lo de lá. Todos pensaram que tinha sido a própria ave do professor, mas a mesma estava entregando uma mensagem importante longe dali naquele momento. Harry nunca soube e não precisava saber. Isso não era importante.
Movimento na floresta logo abaixo.
Rony desceu e voou rasante desviando das copas das árvores. Mudou para a forma de uma águia e ficou observando enquanto avançava. Então ele viu o vulto correndo metros mais à frente. Mudou novamente para fênix e subiu. Pressentiu, mas que viu o ataque que se seguiu.
Uma flecha artesanal, rudimentar. Naquele lugar isso só podia significar uma coisa: centauros.
Voou para perto de uma arvore alta e mudou para a forma de um macaco aranha. Pequeno, mas ágil. Saltou de galho em galho e viu que era seguido. Podia escapar simplesmente subindo mais alto que as flechas podiam alcançá-lo, mas isso não responderia sobre o motivo do ataque.
Os centauros estavam correndo próximos a ele. Eram por volta de dez, todos com arcos e flechas. Um maior estava na frente. Musculoso e escuro como a noite. Rony já o tinha encontrado antes, uma única vez. Quando Dumbledore o tinha ensinado sobre a sabedoria dos centauros. Isso havia acontecido anos antes.
Descendo a galhos mais baixos, ele mudou para a forma de um leão das montanhas e saltou. Seu corpo pesado caiu no chão com impacto, mas cheio de graça animal. Os centauros pararam de correr. Lentamente foram cercando seu alvo, com as armas ainda em punho prontas para disparar se fosse necessário. Rony afiou suas garras na pedra debaixo das patas. Lançou um olhar direto e feroz para o centauro escuro e ficou esperando uma explicação.
– Não reprime mais seus poderes, filho da natureza? – o centauro perguntou em tom de desagrado.
Rony voltou à sua forma humana e encarou seu interlocutor. O ruivo era alto, mas ainda tinha que olhar para cima se desejasse olhar nos olhos do centauro.
– O que significa isto, Agouro?
Distraidamente Harry olhava para a noite. O ciclo da lua estava acabando e logo Lupim retornaria para a escola. O professor parecia muito melhor nesses últimos tempos. Talvez a companhia de Tonks estivesse lhe fazendo muito melhor do que ele tinha vontade de admitir.
Harry sorriu diante dessa possibilidade. Remus Lupim era uma pessoa que precisava muito de felicidade. E se o caminho para isso fosse agüentar as trapalhadas de Tonks, então era um preço razoável a se pagar. E por mais que fosse difícil para qualquer pessoa admitir, essas trapalhadas tinham seu charme.
Sentiu duas mãos macias acariciando suas costas. Não precisava se virar para saber quem era. Reconheceria aquele cheiro em qualquer lugar. Flores campestres. Não havia nada como aquele cheiro em nenhum outro lugar do mundo. E mesmo que houvesse, não teria o mesmo encanto. Nada poderia afetá-lo tanto quanto a mulher que amava.
– Sonhando acordado? – perguntou Gina.
Harry se virou e segurou as mãos dela. Macias e quentes.
– Estava esperando seu irmão voltar de sua excursão noturna. Queria conversar com ele e deixar claro que a Hermione nunca quis magoá-lo.
– Ele sabe disso Harry. Acredite em mim.
Ele sorriu amarelo.
– Claro. Afinal você é a pessoa que mais conhece o Rony certo?
– Harry não precisa agir assim. E se serve de consolo, ninguém conhece o Rony inteiramente.
– Desculpe. Eu apenas não gosto muito dessa idéia. Vocês dois ligados e com destinos predefinidos por causa de uma profecia... Isso é horrível.
Gina acariciou o rosto dele. Como gostava de sentir o calor de Harry.
– Você está preocupado conosco? Harry, o Rony é tão poderoso que nem sei se Voldemort teria chance se o enfrentasse. E além do mais, eu posso fazer alguma diferença não é? Afinal ser a herdeira não deve ser apenas ficar parada enquanto meu Guardião derruba todos os perigos...
–Não! – Harry quase gritou
Ela estranhou a súbita mudança de tom.
– Harry...
– Gina você não vai lutar! Eu não estou treinando como um obcecado para no final você ter que lutar. Isso é a ultima coisa que eu quero...
De repente ela se aproximou e o calou com um beijo. Gina não conseguia controlar os lábios quando Harry começava com sua conversa de herói.
– Pare. Você sabe que eu não vou me machucar.
Sem saber se concordava com aquela afirmação, Harry apenas ficou calado.
– Vamos dormir. Meu irmão vai falar com todos pela manhã.
A garota foi se afastando a passos lentos. Ainda sorrindo chegou aos pés da escada. Harry a olhava embevecido. Ela estava feliz. Tinha seus amigos, seu irmão dedicado e o amor de sua vida, todos ao seu lado. Sabia que no fim tudo daria certo.
E como um apagão elétrico, tudo sumiu. Sentiu as forças sumirem. Sentiu um aperto no peito como se a esperança estivesse morrendo. Sentiu o perigo se aproximando. Mas não dela, ou de Harry, nem Hermione. O perigo estava em volta de seu guardião. Seu irmão de sangue.
Com as mãos buscou apoio. Só então percebeu que estava no chão. Ouviu a voz de Harry chamando. Ele parecia preocupado. Gina se concentrou, como tinha sido ensinada a fazer. Como Rony a ensinou a fazer. Expulsar as distrações e focar. Usar sua capacidade. Mas a sensação de perigo continuava. Abriu os olhos e viu o olhar preocupado de Harry. Seus brilhantes olhos verdes molhados de lagrimas que desejavam sair.
– O que houve Gina?
– Rony... Eu quero vê-lo. Eu preciso vê-lo Harry...
E algo na voz da garota fez com que seu desejo se tornasse realidade. Os olhos de Gina começaram a brilhar intensamente. E o salão comunal começou a se retorcer e quebrar. Cada um dos tijolos de pedra despencava de seu lugar e desaparecia como se jamais tivesse existido.
Harry segurava as mãos da namorada, mas não conseguia entender o que estava acontecendo. A luz estava estranha e mesmo as coisas escuras não pareciam normais. E então eles não estavam mais no salão comunal, dentro do castelo. Árvores começaram a nascer e ficaram adultas em segundos. As estrelas brilhavam intensamente no céu e as pedras eram selvagens e intocadas. Aquela era a floresta proibida, Harry sabia bem. Não conhecia aquela parte, mas sabia. Então figuras de quatro pernas e troncos humanóides entraram em foco. Centauros, vários deles, todos em volta de um único alvo. Um jovem alto e ruivo que não pareia muito intimidado. Harry e Gina conseguiram ouvir o jovem dizer:
– O que significa isto, Agouro?
O centauro Agouro retesou mais os braços musculosos. Não daria uma brecha para aquele quase filhote de humano. Sabia bem com quem estava lidando e não demonstraria medo.
– Você estava em nossas terras humano.
– Voando acima delas, você quer dizer – Rony não havia puxado sua varinha – Isso não viola nenhum tratado, pelo que eu sei.
– O tratado não se aplica a seres como você – bufou Agouro.
– Seres como eu? Explique-se.
– Não ouse falar comigo como se eu fosse um ser inferior humano! – o centauro gritou. Rony percebeu que ele estava com muita raiva reprimida. Se ele não fosse cauteloso, poderia se tornar uma válvula de escape para a fúria de Agouro. Mas Rony também estava com raiva e naquela noite desejava se libertar de seus temores. E no fim, poderia ser Agouro a servir como válvula de escape.
O ruivo puxou sua varinha e segurou com firmeza, mas sem pressão, como sempre fazia.
– Seres como eu? – repetiu, desta vez acentuando cada silaba – Explique-se – e apontou a varinha para o centauro.
Agouro soltou um som muito parecido com um relincho. Incontinenti todos os centauros dispararam suas flechas. E todas não atingiram seu algo, pois Rony já estava preparado e desviou todas com um gesto rápido.
– Responda! – ele gritou para o centauro.
– Traidores – respondeu Agouro.
Rony ficou sem entender. Então sem permissão ele entrou na mente do centauro. Jamais fazia isso se não fosse necessário, mas nesta noite não desejava agir com cautela. Mas a mente de Agouro era uma barreira impenetrável. Honra e respeito para com sua raça. Desprezo para com todos os bípedes. Um muro impossível de derrubar.
– Sempre faz isso humano? Foi isso que seu mestre lhe ensinou? Que o grande espírito nos ajude se esse for seu verdadeiro caráter – o centauro estava ofegante, mas mantinha sua postura petulante.
Rony deu dois passos para trás. Ele estava certo. Dumbledore não o tinha treinado e ensinado para se tornar alguém que machuca outro sem motivos. Rony tremeu com o pensamento. Ele não podia sucumbir ou se tornaria outro Voldemort. E o mundo não podia agüentar dois bruxos das trevas disputando o poder.
– Você me chamou de traidor. Explique.
O centauro sorriu de forma maligna.
– As estrelas mostraram seu destino, filhote de humano. Antes do fim, você vai trair aqueles que acreditam em você.
– Eu não sou um traidor!
– Mas vai ser. Por isso o atacamos hoje. O que está em jogo é mais importante que seu amor pela outra humana.
– O que?
Agouro sorriu triunfante.
– No fim, filhote, você vai trair a tudo e todos para salvar aquela humana de pêlo castanho. Vai se voltar contra seu amigo. Aquele que as estrelas chamam de Eleito. Vai apunhalar o coração da Herdeira, mesmo você existindo somente para protegê-la. Você VAI ser um traidor. E tudo por causa da humana de pêlo castanho. Não importa a posição privilegiada dela. Pouco importa o valor de seu caráter. As estrelas disseram. E as estrelas nunca se enganam.
Rony segurou sua varinha com força. Não podia acreditar naquilo. Era impossível. E num ataque de raiva deixou toda sua magia sair. Cada fagulha e filamento. Tudo na forma de uma grande esfera brilhante que arrastou tudo próximo. Os centauros correram, mas Agouro, que estava mais próximo, não teve a mesma sorte. Foi atingido e jogado a metros de distancia.
Harry e Gina assistiram a tudo, mesmo não estando naquele local de verdade. E a luz da magia de Ron os ofuscou por milésimos de segundo. Harry estava agora dentro da esfera de magia sentindo as fagulhas passar por sua pele. Ainda segurava nas mãos de Gina. Viu e ouviu o grito de fúria de Rony. E sentiu pena quando constatou que mesmo em sua ira ele chorava. As lagrimas rolavam pelas bochechas do rapaz e evaporavam antes de chegar ao chão. Então Rony se transformou em um imenso dragão e alçou voo. Em sua nova forma ele urrava e seu berro podia ser ouvido a quilômetros de distância.
O salão comunal voltava as se formar em volta de Harry e Gina. Antes de a floresta desaparecer completamente, ainda foi possível ouvir o dialogo dos centauros.
– Acha que isso realmente era necessário Agouro? – perguntou um centauro cinzento.
– Hunf... Para salvar este mundo de um bruxo louco, eu diria que foi um preço pequeno. Ele vai tentar manter distância da humana de pêlo castanho. E o destino de destruição não vai acontecer. A Herdeira deve prevalecer.
– É apenas uma possibilidade. Ele pode jamais sucumbir...
– Uma possibilidade é mais que suficiente. Não deposite fé demais nos bruxos.
Gina chorava nos braços de Harry. O salão comunal estava deserto, o que se provou ser muito bom naquele momento. Eles tinham presenciado um confronto estranho e terrível entre Rony e os centauros.
– Eu sou a culpada Harry.
Ele não entendeu de imediato. Como ela podia ter culpa em tudo aquilo? O verdadeiro culpado era Voldemort. Por sua ambição desmedida, forças antigas fizeram nascer uma nova Herdeira da Magia para equilibrar tudo.
E então a ficha caiu. A Herdeira tinha nascido para equilibrar a balança. Fazer o lado correto ter chances de vencer. Mas toda vez que a Herdeira nascia, o poder antigo criava um novo Guardião. E o Guardião não existia para mais nada a não ser proteger a Herdeira. Se Rony estava em maus lençóis, Gina obviamente se sentiria culpada. Ela tinha nascido para que o mundo tivesse chance. Rony tinha nascido para que Gina tivesse segurança. Rony não tinha objetivo ou propósito se Gina não estivesse em segurança. Mas o Guardião ainda possuía livre arbítrio. Podia escolher seguir um caminho diferente.
E se Rony escolhesse outro caminho? E se Voldemort usasse Hermione para vencer? E se no fim Harry tivesse que lutar contra Rony? Ele teria alguma chance? Ele venceria seus inimigos? Venceria seu melhor amigo?
– Você não é culpada de nada Gina. Se algo acontecer, será unicamente uma escolha mal feita. Nunca mais se culpe por coisas que não aconteceram e talvez nem mesmo aconteçam.
– Mas você viu. Os centauros disseram que pode acontecer. Se ele escolher o caminho errado tudo acaba. Você é o Eleito e eu sou a Herdeira, mas o Guardião é a chave.
– Como assim? – Harry estava ainda mais confuso que antes, quando estava na visão de Gina.
– O Rony não contou, mas os Guardiões do passado nunca se afastavam da Herdeira. Viviam por ela e unicamente para ela.
Harry estava começando a compreender. Rony era diferente dos outros Guardiões. Os outros eram guerreiros poderosos e devotados. Talhados exclusivamente para servir sua senhora. Vivendo e morrendo pelos desígnios da Herdeira. Mas não Rony. Ele vivia por outras razões também. Ele tinha outros desejos. Ele amava.
– Eu entendo Gina, mas temos que colocar fé no Rony. Ele não vai fazer nada errado. E você não pode se sentir culpada por algo que ninguém pode controlar. Destino é como as forças da natureza.
Gina franziu o cenho.
– Como assim?
Harry sorriu. Gostava dessa expressão no rosto de Gina. Na verdade gostava de todas as formas que o rosto dela era capaz de tomar. Raiva, dúvida, alegria e até mesmo tristeza.
– Nem mesmo magia muito poderosa pode parar a fúria do mundo. Nada é mais poderoso que a natureza. Mas nós continuamos a viver nossas vidas, fazendo chuva ou sol. Viver, mesmo nas mais sombrias perspectivas. Isso é força. Isso é garra.
Ele fez uma pausa e respirou fundo.
– Não importa se o nosso destino não é favorável. Vamos dar o nosso melhor. É nisso que eu acredito. Não em culpa.
Ela estava com os olhos cheios e lágrimas. Parecia impossível, mas amava Harry ainda mais neste instante. Ele era sua força, seu farol na escuridão. Quando estava com ele era difícil se sentir sozinha no escuro. Harry era uma luz que espantava todas as trevas.
– Eu acredito em você Gina. E acredito nos meus amigos. Portanto pare de se martirizar. Tudo vai ficar bem.
– Tem razão Harry. Eu tenho que parar de me preocupar com esse tipo de coisa e focar em algo mais importante no momento.
– Tipo o que? – ele perguntou inocentemente.
– Tipo, descobrir o que aconteceu. Eu nunca fui capaz de fazer coisas como aquela. Mostrar algo que está acontecendo em outro lugar? E ainda ser capaz de fazer outra pessoa enxergar o mesmo que eu? Eu apenas desejei ver o que estava acontecendo com meu irmão e de repente tudo mudou.
– Temos que falar com o Rony quando ele voltar. Não, quando ele voltar pode não estar animado para ter uma conversa como essa. Acho melhor esperarmos pelo café da manhã. Ele é a única pessoa que pode esclarecer algumas coisas agora.
Rony não estava mais em sua forma de dragão. Voava agora como um poderoso falcão peregrino. Precisava descarregar toda a raiva que estava sentindo e cansar o corpo parecia um bom caminho.
Agora voltava para o castelo, pois de nada adiantara sua jornada solitária pela noite. Seus pensamentos ainda estavam desordenados e seu coração estava pesado. Mas não era dele que vinham a agonia e a incerteza. Eram de Gina.
Sua irmã estava sofrendo. E não era nada parecido com qualquer desconforto que ela sentira antes. Ele tentou acelerar seu avanço, mas seu corpo estava realmente cansado. Se não parasse e recuperasse as forças poderia cair e se ferir.
Logo abaixo dele a cabana de Hagrid surgiu como se fosse um Oasis no deserto. Os bolinhos do Guarda-caça podiam não ser macios como a maioria das guloseimas doces, mas seu chá era agradável ao paladar.
Descendo gradativa e suavemente, Rony mudou para sua forma humana pouco antes de tocar o chão. Tinha pressa, mas se corresse agora, não chegaria ao castelo. Caminhou o mais firme que conseguiu até a cabana e bateu na porta. Em menos de meio minuto, a gigantesca figura de Hagrid abriu a porta.
Mesmo Rony sendo muito alto, com quase dois metros, ainda parecia uma criança perto do corpulento meio-gigante. A massa de pêlos que era a cabeça de Hagrid se inclinou ao ver quem estava parado e depois ele sorriu.
– Entre Rony – ele falou – Não é comum visitas a esta hora, mas sempre é bom ver que sou lembrado. Onde estão o Harry e a Hermione?
Ao ouvir o nome da garota, Rony se encolheu sobre si mesmo. Ainda não estava pronto para pensar nisso. Tinha pressa. Pediria somente alguma coisa para comer e beber e depois partiria ao encontro de sua irmã.
– Bem... Eu estava caminhando sozinho e acabei com fome. Tenho que ser rápido para poder voltar ao castelo sem ser notado. Por isso Hagrid, você não teria algo para comer, teria?
– Claro Rony. Entre e vamos ver o posso conseguir pra você. Não acha muito perigoso caminhar sozinho por aí?
– Na verdade não acho, Hagrid. Hogwarts é talvez o lugar mais seguro do país. Nenhum Comensal da Morte se atreveria a por seu nariz perto deste lugar.
O ruivo sentou-se em uma cadeira rústica e muito grande, mesmo para ele. Seu corpo mal podia se mover, mas ainda assim ele tinha pressa. Sempre o Guardião, sem importar a ocasião. Ele não seria um traidor. Jamais poderia ser.
– Não venha – Rony ouviu dentro de sua mente – Sei que pode me ouvir, mesmo não querendo responder, mas não venha. Não é necessário ainda esta noite. Preciso de tempo para descobrir como me sinto com algumas coisas que descobri. Pela amanhã conversaremos.
Pelo tom de voz, Gina estava tentando fazê-lo ficar calmo. O que significava que realmente ela não queria que Rony se aproximasse esta noite. Rony tentou se sentir melhor por não ter mais que se apressar, mas ainda estava preocupado com sua irmã. Tentou fazer contato mental, falhando consecutivamente. Gina estava incomunicável. Restou-lha a chance de provar um pouco do chá de Hagrid e torcer para Harry estar cuidando bem se sua irmã.
Hermione desceu as escadas apressada. Tinha dormido demais na noite anterior e perdido o horário. Tinha poucos minutos antes das aulas começarem e teria que tomar café da manhã quase correndo. Detestava sair de seus planos. Havia sido educada para seguir as normas, fazer o que era certo e manter sempre a organização e planejamento visando foco na vida. Desde que entrara em Hogwarts e conhecido Harry e Rony, tinha infringido diversas regras, mas jamais deixado de fazer o que era certo. E quase sempre tinha esquecido o foco em seus planos. Mas ainda assim, continuava a ser a mesma garota estudiosa e amável de antes, sem jamais perder seu caráter.
Ao longo dos anos apenas um aspecto de sua pessoa mudou drasticamente. O aspecto sentimental.
Quando resolveu ajudar um garoto de rosto redondo a achar um sapo, Hermione jamais imaginaria que encontraria a pessoa com quem gostaria de partilhar uma vida. No começo ela duvidou de seus sentimentos. Achava que era coisa de criança, mesmo já sendo madura demais para sua tenra idade. Depois percebeu que quanto mais tentava ignorar esses sentimentos, mais intensos eles ficavam. Em seu quarto ano na escola resolveu tentar mudar e ser mais enérgica. Obteve resultados lastimáveis.
Ronald Weasley era obtuso. Brilhante, mas completamente obtuso. Ela desconfiava que ele tivesse mais capacidade do que realmente demonstrava, mas em nenhum momento imaginou a verdade. Achava que a timidez dele e a falta de confiança em si mesmo eram as razões de tantas trapalhadas. Como poderia imaginar que ele escondia um segredo antigo e poderoso que podia abalar toda a sociedade bruxa?
Enquanto caminhava apresada pelos corredores, Hermione pensava.
Ela o amava. Disso não tinha duvidas. Tinha também relativa certeza de que era correspondida. Embora as coisas não saíssem nunca como o planejado. Se fosse pela vontade dela, Rony seria seu namorado há pelo menos três anos. Entretanto como são necessários dois indivíduos para se iniciar uma relação desse tipo, as coisas não andaram.
E estavam paradas até agora.
As aulas de Defesa Contras as Artes das Trevas nunca foram tão animadas. A não ser nos tempos do professor Lupim. Os alunos estavam quase que sorridentes diante da possibilidade aprender, e obviamente isso não era algo comum. A incrível capacidade de Rony ensinar devia ter alguma contribuição para a fome de saber dos estudantes. Quando Lupim voltasse, na semana seguinte, talvez encontrasse alguma resistência novamente. A não ser que pudesse ensinar tão bem quanto o seu substituto temporário.
Hermione respirou aliviada por não estar tão atrasada quanto imaginava. Harry já estava sentado em sua cadeira e guardava um lugar para ela. Apesar de pensar constantemente em Rony e na discussão da noite anterior, ela não pode deixar de notar que Harry estava tenso naquela manhã. E também estava com olheiras. Se ela desse um palpite, diria que ele passou a noite inteira sem dormir.
– O que houve Harry? – Hermione perguntou.
Ele olhou para ela com evidente desconforto. E ao perceber que tinha deixado suas emoções totalmente transparentes, soube que seria inútil tentar enganar a amiga.
– Gina não teve uma boa noite. Bem acho que nenhum de nós teve.
Hermione arqueou uma sobrancelha.
– Como assim não teve uma boa noite? O que aconteceu?
– Nós... Ela teve... Bem NÓS tivemos uma visão. Vimos algo que estava acontecendo em outro lugar, acontecer na nossa frente como se estivéssemos lá.
– Como?
– Vamos conversar sobre isso em outro lugar Hermione. Quando for mais propício. Isso envolve você também.
A aula foi interessante e proveitosa. Rony estava mais articulado que antes, embora parecesse distraído, assim como Harry. Perto do almoço, Gina apareceu e também parecia abatida. Se Harry não tivesse explicado uma parte do ocorrido, ela teria deduzido sozinha que havia uma ligação entre os fatos.
Rony não se juntou a eles durante a refeição, o que intrigou ainda mais Hermione. Estava se sentindo culpada até horas antes, mas depois das novas informações, não sabia mais o que pensar. E era inteligente demais para fazer conjeturas sobre uma possível causa.
As aulas da tarde ocorreram normalmente. E o clima pesado continuou pairando sobre eles. Harry estava mais calado que o habitual. Quando estava se dirigindo ao salão comunal para descansar depois das aulas, Hermione desistiu de esperar.
– Comecem a falar a gora – ela quase esbravejou – Eu simplesmente não aquento mais esse ar misterioso que ficou entre nós o dia todo.
Harry olhou para Gina e depois de volta para Hermione.
– Não aqui. Vamos para a Sala Precisa.
– O Rony já está lá – falou Gina parecendo aliviada por este momento chegar.
Os três caminharam silenciosamente. Hermione sentia medo daquela situação. Harry nunca agia dessa forma. Em mais de uma ocasião ele resolveu guardar segredos apenas para si, mas desta vez era diferente. Minutos depois eles se encontravam diante da Sala Precisa. Gina tomou a dianteira, se concentrou e depois de alguns minutos uma porta surgiu. Eles entraram com uma cautela incomum, pois sabiam quem estava dentro daquelas paredes.
Dentro da sala, trovões e relâmpagos irrompiam de todos os lados. Hermione percebeu que naquele momento, o Guardião conjurava uma verdadeira tempestade. Que nível de magia era esse que um bruxo podia controlar as forças da natureza e dobrá-las à sua vontade? Seria assim a batalha entre eles e Voldemort?
Ao perceber que não estava mais sozinho, Rony parou o que estava fazendo e recolheu a varinha. Deu as costas para os amigos e a irmã e foi se sentar em uma poltrona confortável nos fundos da sala. Havia outras três iguais espalhadas em forma de circulo próximas a ele.
– Então, o que aconteceu de grave para minha ilustríssima irmã fechar sua mente e não compartilhar suas experiências comigo até este momento? – o sarcasmo em sua voz era quase palpável.
Gina suspirou e deu um passo adiante, mas quando abriu a boca para falar, foi interrompida por Harry.
– Nós vimos você ontem na floresta. Sabemos tudo o que aconteceu lá.
Rony descruzou os braços. Sua expressão mudou de sarcástica e entediada, para séria e ligeiramente constrangido.
– Vocês me seguiram?
– Não maninho – Gina respondeu antes de Harry. – nós vimos o que aconteceu, mas não saímos do castelo. Nem mesmo saímos do salão comunal.
Rony assim como Hermione, estava muito confuso.
– Como assim? – Se pronunciou Hermione – Vocês conseguiram ver coisas que aconteciam a quilômetros de distância sem precisar sair do castelo?
Silenciosamente Rony levantou da poltrona e se aproximou dos amigos. Parou ao lado da irmã e acariciou sues cabelos suavemente. Desde que eram crianças, esta era uma forma de acalmar os nervos da garota: saber que sempre poderia contar com alguém, mesmo em momentos de pouca bondade e muito egoísmo. Gina respirou fundo e começou:
– Noite passada, quando o Rony saiu, eu fiquei conversando com o Harry durante algum tempo. Depois do que pareceram muitas horas, eu senti um grande perigo se aproximando do Rony. E nesse momento, eu desejei com todas as minhas forças que pudesse ver meu irmão. E foi isso que aconteceu. Quando nos demos conta estávamos na floresta proibida observando o desenrolar dos fatos.
Com um gesto brusco, Rony virou para Harry e perguntou:
– E você? Sentiu a mesma necessidade, ou foi arrastado pela onda de poder?
Pego de surpresa, Harry ficou sem respostas.
– Bem... Hum... Na verdade eu não senti nada errado com meu corpo. Foi mais como uma viagem levemente desconfortável. A Gina desejou e eu a acompanhei.
Todos sem exceção estranharam a reação de Rony. No ritmo dos últimos acontecimentos, o natural seria ele ficar pensativo e preocupado. Talvez um rápido ataque de raiva por não ser comunicado antes. Em vez disso o ruivo se afastou novamente e apoiou os braços no encosto de uma das poltronas. Seus ombros subiam e desciam rapidamente. Demorou alguns segundos até que todos percebessem que ele estava dando risinhos.
Risinhos nervosos, ou mesmo raivosos, mas não de alegria.
– Rony? – Harry se aproximou do amigo relutantemente – Tudo bem com você?
Ele esticou o corpo e suspirou. Olhou para o amigo e ainda sorrindo de forma sinistra falou:
– Finalmente aconteceu Harry. Ela começou a despertar seus poderes. Eu sabia que este dia chegaria, mas agora não estou preparado. Droga eu tinha que estar preparado.
Com uma expressão confusa, Harry retirou os óculos e limpou-os com um lenço. Depois de verificar se as lentes não estavam mais sujas, encaixou as hastes da armação nas orelhas.
– Não estou entendendo Rony.
– Nem eu – falou Gina.
– Muito menos eu – Hermione finalmente se pronunciou.
Ele não respondeu de imediato. Em vez disso, fez um gesto para que eles se sentassem nas poltronas e só voltou a falar depois que ele também se sentou, depois dos amigos.
– Um dos poderes que definem a Herdeira é a sua “visão”, por assim dizer.
Gina se sobressaltou. Olhou para o irmão com muita intensidade. Seus olhos transmitiam um misto de emoções tamanho que era difícil definir o que ela estava sentindo nesse momento.
– Você nunca me contou nada disso.
Rony olhou diretamente para ela antes de responder.
– Isso teria feito com que seus poderes tivessem despertado antes? Faria alguma diferença substancial nos eventos atuais? Obviamente não. E eu queria que você tivesse a oportunidade de viver uma vida mais normal, sem a sombra das grandes responsabilidades que ainda teria pela frente. Mas agora você está mais madura e seu corpo é capaz de suportar seus verdadeiros poderes.
– E quais são meus verdadeiros poderes?
Sem pestanejar, Rony respondeu:
– Logo você será capaz de enxergar mais longe que qualquer criatura no planeta. Com a devida concentração, mesmo paredes grossas e distância física serão irrelevantes. Com o passar do tempo, o futuro se revelará para você na forma de sonhos. Seu toque será capaz de curar. Sua voz será capaz de acalmar. Seu elo mental vai perder a restrição que tem comigo e vai se estender para os privilegiados que você escolher. E ainda será capaz de mais. Será... Bem...
– O quê? – Gina perguntou com os olhos arregalados. Estava surpresa com as descobertas. Ela tinha tanto poder assim? Então era essa a força da herdeira. Era assim que ele traria o equilíbrio?
Rony permaneceu calado, parecendo pesar as palavras.
– Vamos Rony responda – Gina insistiu.
– Não sou eu quem deve falar.
– Como assim?
– Não serei seu mestre nesses assuntos.
Gina piscou várias vezes antes de falar novamente.
– Não estou entendendo Rony... Você não vai me ensinar? Por quê?
– Inferno sangrento, Gina! Isso não é fácil.
– Não pragueje Rony – advertiu Hermione.
Ele suspirou e olhou para Harry e Hermione. Demorou mais tempo em Hermione desta vez.
Harry estava perdendo a paciência com tudo aquilo. Ele tinha entendido a parte que os poderes de Gina tinham despertado. Também tinha ficado impressionado com a quantidade de poderes que ela tinha. Cada um diferente do outro. Mas a forma como Rony mantinha o silencio por tempo mais que o necessário era realmente irritante. Ele tinha curiosidade em relação a tudo aquilo. Era quase uma necessidade. Se soubesse o que esperar das habilidades de Gina, poderia impedir que ela lutasse quando o momento chegasse. Poderia antecipar os movimentos dela e planejar uma forma de protegê-la até de si mesma.
– Rony – Gina insistiu – não fique calado.
Como que despertando de um transe, Rony olhou para a irmã e passou a língua nos lábios secos. Dizer aquilo não seria fácil, ele bem sabia.
– A Herdeira não deve ser treinada pelo Guardião. Isso pode gerar um grande conflito, pois a vontade dela sempre vai prevalecer. Desde os tempos antigos, uma pessoa especial era designada pelo destino. Alguém com grande sabedoria que saberia guiar a portadora do poder...
– Quem? – interrompeu Gina.
– ... E a ajudaria a não perder o foco em nenhum momento. – continuou Rony como se não tivesse ouvido.
– QUEM? – Gina gritou. As bochechas vermelhas de irritação. E algo em sua voz estava diferente. Mais imperativo que um grito normal. Como se as palavras dela fossem um ordem de total prioridade. Era impossível ignorar. Harry e Hermione ficaram assustados com aquilo. Não era de forma alguma normal.
Com a voz fraca, Rony voltou a falar.
– Tente entender, minha senhora. Eu acho melhor nos dois tratarmos disso em outro momento. A sós – ele deu ênfase a ultima palavra. Mas era impossível não notar seu tom servil ao falar com Gina. Com se ela fosse uma rainha e ele um súdito da classe mais inferior.
– NÃO. AGORA RONY – novamente o tom de poder na voz. E então como se percebesse o que estava fazendo, ela piscou e balançou a cabeça, parecendo tentar acordar. Viu que Rony estava de cabeça baixa e Harry e Hermione a olhavam assustados. Tentando organizar os pensamentos, a ruiva se concentrou. E as imagens vieram. Os dois comandos autoritários para seu irmão. Seu amado irmão e protetor.
Para os outros foram apenas segundos, mas para ela foram várias horas sem ligação com a realidade. O tempo nada significava quando se estava preso dentro da própria mente. E tinha acontecido isso com Gina. Ela tinha apagado, perdido a consciência, como em seu primeiro ano. Como se outra pessoa tivesse tomado o controle de seu corpo e roubado sua liberdade deixando-a inconsciente.
– Desculpe Rony – ela falou em tom desesperado e suplicante – Por favor, não foi minha intenção. Eu não sabia o que estava fazendo. Você entende agora? É por isso que você tem que me dizer logo o que devo fazer. Isso está me assustando.
Ela caminhou para os braços de Harry e ele a abraçou. Não podia fazer mais nada. Queria dar apoio para a namorada, mas também estava no escuro. Hermione passou uma mão suavemente pelos cabelos de Gina e sentiu o quanto ela estava tremendo. Pelo que conhecia da amiga, sabia que ela era uma garota forte, como nenhuma outra. Se agora estava tremendo, assustada e frágil, a situação era realmente seria.
O ruivo abaixou a cabeça e suspirou. Nos últimos tempos ele suspirava demais. Deu mais uma olhada nos amigos e novamente demorou mais tempo em Hermione. Depois se levantou e pegou sua varinha. Fez gestos com ela e uma fina linha luminosa apareceu no ar. Foi mudando até assumir a forma de letras.
Harry não pode deixar de lembrar-se de seu segundo ano ao ver isso. Dentro da Câmara Secreta, enfrentando uma versão do passado de Voldemort trazida de volta pelo poder de seu diário, que mais tarde acabou sendo descoberto como uma de suas Horcruxes.
Na frente dos três jovens surgiu uma palavra. Harry não conhecia e tão pouco Gina, mas pela expressão de Hermione, ela parecia saber o que significava. Harry tentou se concentrar em suas lembranças, pensando talvez ter deixado passar algo, mas realmente aquilo era desconhecido para ele.
Σοφία
– Sofía? – Hermione perguntou arqueando uma sobrancelha – Esse é o nome da mulher que vai ensinar Gina?
Rony negou com a cabeça.
– Não é um nome. Imagino que você saiba o significado da palavra em si não?
Ela respirou fundo antes de falar novamente.
– Do grego, Sofía quer dizer “sabedoria”, “conhecimento”.
– Dez pontos para a Grifinória – Rony falou sem entusiasmo.
Ainda abraçada a Harry Gina fazia uma expressão mais confusa que antes. Mesmo Hermione não parecia muito esclarecida sobre aquilo. Harry estava impassível, esperando Rony se explicar melhor. Sabia que ele estava procurando as palavras certas, pois o assunto era muito serio desta vez. Fato que estava se tornado constante na vida dos quatro.
– Nesse caso, Sofía é mais que um nome ou simplesmente uma palavra. Quando entrelaçada ao nosso destino, Sofía é um título, uma posição. Como Herdeira, Guardião ou Eleito. Você será ensinada pela Sofía desta geração. A detentora da sabedoria e conhecimento. A Sábia, se preferir.
– Você não tinha me contado nada disso antes – Gina falou em tom zangado.
– Dumbledore e eu achamos melhor agir dessa forma, afinal tudo estava encaminhado nesse sentido.
– Como assim? –a ruiva perguntou, mas imediatamente se arrependeu com medo da resposta.
Rony parecia prestes a desabar, tamanho era o peso das coisas que dizia. Ele respirava com dificuldade e passava a mão nos cabelos bagunçados.
– Gina, eu... Não sei... Bem eu... Hum... Não sei bem como dizer isso.
– Diga de uma vez! – ela alterou a voz uma oitava.
Ele olhou para Harry, como se estivesse pedindo algo e o amigo pareceu entender, pois segurou Gina com muito mais carinho e atenção.
– A Sábia está ao seu lado há anos. Ensinando, guiando e dando conselhos. Mostrando os caminhos por onde sua mente e seu coração devem ir. Cuidando da sua plenitude. O Guardião é encarregado de proteger você fisicamente, mas a Sábia protege sua mente, impedindo que você se desvie de seu caminho. Ela é sua melhor amiga, sua irmã, sua companheira.
Gina enrijeceu o corpo e Harry ficou com medo dela entrar em choque. Ele mesmo estava espantado com as palavras de Rony. Desejava ter entendido errado o que ele queria dizer. Não queria que mais uma pessoa amada fosse trazida para seu círculo de profecias destrutivas.
Rony sentou na poltrona parecendo estar exausto e colocou as mãos no rosto, mas não parou de falar.
– A Sábia estava lá ensinando você a não sofrer. Aconselhando com agir. Fazendo você aprender sobre paciência. Dando lições sobre nobreza. Ouvindo seus lamentos e dividindo histórias. Ela é a professora, mas também é a confidente.
Ele levantou a cabeça, mas desta vez não olhou para Gina ou Harry. Agora ele olhava diretamente nos olhos de Hermione. E sem desviar o olhar continuou a falar.
– A Sábia estava lá, guardando seus segredos. Dizendo para você sair com outros garotos enquanto seu amado não correspondia aos sentimentos. Brigando com seu irmão, quando ele agia errado. Lutando ao lado do Eleito e do Guardião, sempre visando o que era correto. Dando forças para que todos um dia pudessem estar ao seu lado.
Hermione havia esquecido como se respirava.
Parecia estar com um bolo de carne entalado na garganta, impedindo de falar qualquer coisa útil e racional. Seus olhos estavam lacrimosos, mas até as lagrimas não eram úteis ali e tratavam de não sair plenamente. As palavras eram inúteis, como todo o resto. Por um instante ela desejou correr dali, mas as pernas não obedeciam. Depois pensou em brigar com Rony por não ter contado a verdade logo, mas viu que isso também era inútil. No fim ela optou pela única coisa que julgou apta fazer:
– Inferno sangrento.
Ps: no próximo capítulo eu vou pegar pesado com alguns personagens (mais ainda). O nome será: "o treinamento verdadeiro."
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