Capítulo Onze: Hogwarts



Capítulo Onze: Hogwarts.


 


Rony segurava o jornal com o punho serrado. Tinha lido a matéria completa ainda no inicio do caminho para a estação de trem.  Agora ele tentava disfarçar sua raiva olhando a paisagem que rapidamente mudava na janela do carro ministerial. Mas seus amigos e irmã, que estavam com ele no carro percebiam claramente seus sentimentos. O papel amassado era prova mais que satisfatória. Mas eles não precisariam de nenhuma evidência para entender o que se passava na mente do ruivo, pois os outros três sentiam a mesma coisa: raiva e frustração.


No dia anterior eles tinham lutado contra um grupo de Comensais da Morte e vencido. Rony usou de suas habilidades da melhor maneira que conseguiu, mas foi descuidado. Cada uma de suas ações tinha sido planejada para expor-se o mínimo possível. No fim tudo tinha dado errado. De alguma forma, Rita Skeeter, uma vez mais tinha conseguido fazer da vida deles um inferno. Rony se culpava pelo descuido. Sabia que se tivesse sido mais inteligente e menos arrogante na hora de agir, tudo aquilo teria tomado outros rumos. Detestava admitir para si mesmo, mas ainda não estava pronto. Se abraçasse de forma definitiva o caminho do Guardião, ele não poderia dar-se ao luxo de cometer erros tão banais, como se deixar ser observado.


Sentiu a mão de Hermione segurar-lhe o ombro. Ele olhou para a garota de forma triste e contida. Não queria que ela sentisse a intensidade de seus sentimentos negativos naquele momento.


– Vai dar tudo certo Rony – ela disse timidamente.


– Explique-me como Hermione, pois eu não consigo ver como as coisas vão melhorar.


Ele estava com muita raiva, pensou Hermione. Se essa reação de Rony havia sido verdadeira em todos os anos, então ele estava segurando a vontade de pulverizar alguma coisa. Rony só descontava sua frustração na amiga se estivesse a ponto de explodir.


– O que essa maluca escreveu não muda nada. Você não tinha mais motivos para esconder suas habilidades. Não depois que mostrou para o próprio Você-sabe-quem o patamar em que você se encontra.


Ele sorriu. Ela estava tentando mantê-lo alegre. Estava falhando miseravelmente também, mas isso era um mero detalhe. Ele adorava a forma como ela agia. Sempre responsável e sábia. Uma companheira fiel e gentil. Alguém para dividir uma vida.


– Infelizmente você está enganada Hermione – falou depois de algum tempo – Eu tenho, ou melhor, tinha alguns bons motivos para querer manter certos detalhes em segredo. Um deles era manter Voldemort em total confusão sobre os fatos. Agora isso vai ser mais difícil. E ainda tenho que me preocupar com a imprensa. Tenho certeza que isso vai ser um inferno. Não posso nem imaginar como você aguentou tudo isso por tanto tempo Harry.


Harry o encarou ainda receoso sobre o que dizer. Na verdade ainda não tinha conseguido assimilar tudo o que tinha acontecido desde o dia anterior. À bem da verdade, neste exato momento, ele se lembrava claramente apenas de ter beijado Gina e fazer juras de amor. Antes disso e depois disso nada era mais importante. Ele sabia que tinha uma missão importante e também sabia que estava perdendo tempo, mas os momentos que passava com a namorada eram tão mágicos que o mundo e seus problemas ficavam em segundo plano. Harry sabia que isso era egoísmo, mas não tinha mais forças para resistir aos encantos de Gina. Agora, enquanto eram levados para o Ministério da Magia, os dois estavam de mãos dadas e tentavam dar apoio mútuo um ao outro.


Os Aurores tinham chegado cedo naquela manhã. Quando Harry acordou, Rony já estava de pé, coma varinha em punho e olhos fixos na porta. Concentrado ao extremo. Harry ficou parado um tempo, com medo de quebrar a concentração do amigo. Rony virou para ele e disse:


– Aurores do Ministério. Querem que nossa presença lá para explicar algumas coisas. Um deles não tira da cabeça lembranças recentes sobre uma matéria do Profeta Diário. Aparentemente tem relação conosco.


Harry assentiu. Não estava gostando muito do rumo que os acontecimentos estavam tomando.


– E Gina e Hermione?


– Estão na sala, nos esperando.


Não havia sido uma conversa agradável e muito menos fácil. Depois de muita discussão e argumentações da senhora Weasley, bem como palavras de baixo calão dos gêmeos, os quatro foram levados ao carro preto que tantas vezes usaram antes.


 


O grande átrio do Ministério nunca deixava de fazer Harry ficar impressionado. Bruxos indo e vindo, sempre em movimento acelerado. O som de tantas histórias que passavam depressa. Ele segurou a mão de Gina e caminhou com passos incertos. O calor da mão dela era como um porto seguro em meio a uma tempestade. Ele olhou diretamente para os olhos dela e viu todo o seu futuro ali. Por mais que fosse perigoso, Harry estaria ao lado dela. Não podia mais suportar a distancia, era como uma ferida profunda e aberta.


O Auror que os levava não cansava de olhar para traz, como se quisesse ter a certeza que conduzia a pessoa certa. Era um dos que lutaram ao lado de Harry no dia anterior. De rosto gentil e jovem, ele parecia ter adentrado há pouco tempo na profissão. Um pouco mais baixo que Harry e de compleição forte. Cabelos castanhos e olhos da mesma cor. Estava sempre sorrindo e falava depressa.


– Espero que vocês possam nos ajudar com esse caso. Aquele maluco do Malfoy fica o tempo todo falando coisas sobre o Lorde das Trevas vir aqui para buscá-lo e não sabemos se isso realmente é possível sabe? Nossas proteções estão mais fortes e colocamos feitiços que muitos nem sabem da existência, mas ainda assim fico apreensivo.


Definitivamente ele era novo no trabalho, pensou Harry. Mas ao menos era bom no que fazia e parecia confiar que Harry era uma boa pessoa, diferente da grande maioria dos funcionários do lugar.


Passando por grandes corredores, eles foram se aproximando de uma sala que Harry conhecia muito bem. A sala dos julgamentos. Onde tantos bruxos das trevas e tantos inocentes foram condenados a perder sua sanidade e felicidade nas celas escuras de Azkaban.


Com Gina sempre ao seu lado Harry se aproximou da porta. O jovem Auror agora estava serio e parecia preocupado.


– O que houve? – perguntou Gina.


Ele a olhou e piscou diversas vezes antes de responder.


– Bem... Esses são tempos difíceis. E eu ainda não sei se estou preparado para toda essa luta. Em alguns momentos fico com medo do que pode acontecer com as pessoas que amo.


Harry colocou as mãos no ombro do rapaz. Entendia perfeitamente os medos dele e suas razões. O jovem olhou espantado, mas depois sorriu.


– Qual o seu nome? – perguntou.


– Christopher Pryce. Mas meus amigos me chamam de Chris.


– Todos nós temos medo Chris. Assim como você. Mas eu acredito que enquanto você estiver lutando para proteger aqueles que ama, tudo vai ficar bem.


Ele sorriu de volta para Harry. Depois olhou para Rony como se quisesse falar alguma coisa, mas não tivesse coragem.


– Vamos lá – disse o ruivo – Pode perguntar. Sei que esperou por isso desde que me viu pelo inicio da manhã.


Chris engoliu em seco de nervosismo, mas perguntou assim mesmo.


– Como você conseguiu mudar de forma daquele jeito? Que eu saiba animagos tem somente uma forma de transformação.


Rony revirou os olhos. Mas não parecia com raiva. Na verdade estava muito parecido com Hermione, quando tinha que explicar algo que para ela geralmente era óbvio.


– Pesquise sobre multi-animagos – disse num sussurro – Vai ser mais proveitoso do que se eu lhe responder aqui.


Chris parecia estar fazendo uma anotação mental. Assentiu e depois abriu a porta ficando do lado para dar passagem a os quatro.


– Acha que serei investigado por isso? – perguntou Rony de forma zombeteira.


– Acredito que não – respondeu o Auror – O chefão está mais preocupado em trazê-los para o nosso lado que investigá-los e se tornar alvo de sua aversão.


– Entendo... Isso faz bastante sentido.


 


O tribunal estava cheio. Todas as cadeiras eram ocupadas por bruxos de várias idades. Harry e seus amigos sentaram no ponto mais distante do centro, na orla exterior, quase que diretamente em frente à cadeira do ministro. Não podiam ver o rosto do acusado, mas suas mãos, amarradas por correntes encantadas eram perfeitamente visíveis. Mãos delicadas, mão de um homem que nunca teve que se esforçar fisicamente na vida. Um bruxo de grande riqueza e nenhum traço de caráter.


A sentença estava sendo promulgada pelo juiz. O julgamento estava finalizando.


– Lucio Malfoy – falava Scringour, com sua voz arrastada – o senhor é acusado de se unir às forças das trevas e praticas suas artes. É também acusado da morte de diversos bruxos e trouxas. Este tribunal ouviu diversas testemunhas que o identificaram. De posse dessas informações, este tribunal o condena a passar o resto de seus dias na prisão, sem direito a condicional. Os Aurores vão levá-lo e sua pena será cumprida imediatamente. Tem alguma coisa a dizer?


Malfoy apertou os punhos e tentou se levantar, mas não conseguiu. Flexionou os dedos e depois falou.


– O Lorde das Trevas não permitirá que eu apodreça na sua prisão, Scringour. Como antes ele me libertará, e você sabe disso – Harry imaginou que ele estava sorrindo de forma cínica para o Ministro. Scringour não parecia ter se abalado com a provocação. Dirigindo-se diretamente ao acusado, falou:


– Sou perfeitamente ciente das falhas anteriores na segurança de Azkaban, senhor Malfoy. Entretanto, em nenhum momento eu disse que o senhor iria para lá.


Harry não teve reação. Se o ministro não mandaria Malfoy para Askaban, então ele seria mandado para onde? Olhou para Hermione e depois para Rony esperando ver nas expressões deles algo que denunciasse uma resposta para sua pergunta muda. Hermione estava tão confusa quanto ele, mas Rony olhava para frente de modo cansado. Parecia mais velho do que realmente era naquela penumbra. Ele com certeza sabia de algo. Gina segurou a mão de Harry com um pouco mais de força e ele se voltou para ela. Gina apontou com a cabeça para o ministro.


Scringour colocava alguns papeis em uma pasta e depois pegou um pequeno martelo de madeira.


– Declaro agora encerrado o caso que concerne a Lucio Malfoy. A pena será imediatamente posta em pratica nas muralhas de Berzelt. Aurores! – e bateu com o martelinho, bem ao estilo trouxa.


Ao ouvir o nome do lugar, Malfoy deu um grito. Alguns bruxos, bem poucos, cochicharam entre si. Esses bruxos pertenciam ao alto escalão da sessão de assuntos mágicos sigilosos. Os Aurores levaram Malfoy ainda berrando, dizendo impropérios. Scringour se levantou e saiu. Mas antes olhou diretamente para Harry e seus amigos. Isso era claramente um aviso de que o assunto deles não estava longe de ser esclarecido.


Os bruxos foram se levantando e saindo. Rony movia os dedos em claro sinal de nervosismo. Harry o chamou pelo nome, mas ele não se virou. O ruivo caminhou para porta a passos apressados.


 


Do lado de fora do tribunal, Rony se encostava à parede e tentava respirar normalmente. Ouvir o nome Berzelt falado em voz alta tinha causado um grande efeito nele. Harry vinha se aproximando, junto com Gina e Hermione. Rony tentou manter a aparência mais normal possível, e ele era realmente muito bom em fingir. Qualquer um que olhasse seria convencido de imediato pela atuação do jovem. Mas Gina desta vez não deixaria que isso acontecesse.


– Não adianta fingir irmãozinho, queremos saber o que você sabe.


Rony suspirou, sabendo que não conseguiria fugir deles.


– Aqui não. Quando voltarmos para casa. O ministro vai nos chamar em breve.


Harry olhou em volta e viu que Percy, irmão de Rony e Gina vinha se aproximado. O rapaz tinha brigado coma família anos antes e ainda não reatara os laços. Percy não era muito parecido com seus irmãos. Todos eram de certa forma desleixados e irreverentes, enquanto ele era disciplinado o tempo todo. Assim como todos os homens Weasley, Percy era alto. Não tanto quanto Rony, mas ainda assim, maior que Harry. Entretanto ele era mais magro e tinha certa palidez que mostrava o quanto se expunha ao sol. O trabalho burocrático não parecia ajudar a saúde do jovem.


Quando Percy chegou até eles, empertigou-se e esperou todos olharem o olharem. Rony o encarou sem muita emoção e Gina revirou os olhos. Harry e Hermione não tinham de fato nada contra Percy, pois apesar de não aprovar as atitudes do jovem, sabiam que não era má pessoa.


– O ministro deseja vê-los agora – ele falou.


– E podemos saber qual o assunto? – Gina não estava disposta a ser educada com o irmão.


Percy fingiu não prestar atenção e fez um gesto para que o seguissem. Mesmo contrariada Gina deu um passo e resolveu que seria melhor não discutir ali. Seguiu com Percy enquanto olhava de soslaio para os três amigos que vinham logos atrás. Harry não estava com uma expressão de muitos amigos. Rony tentava aparentar indiferença e Hermione apenas estava absorta em seus próprios pensamentos, como era seu costume.


Eles usaram o elevador e Harry não soube dizer se subiram ou desceram. Quando as porta se abriram, eles olharam para um escritório muito bem arrumado e limpo. Cada item ali presente parecia perfeitamente alinhado. Cada peça de decoração escolhida a dedo e depois colocada de forma simétrica. As cortinas, de um marrom sem vida e sóbrio aumentavam o tom sério do lugar. No centro, uma ampla mesa de madeira com complexos entalhes e arabescos. Papeis empilhados de forma organizada formavam pilhas altas. E na cadeira reclinável em estilo antigo estava sentado o ministro.


Scringour levantou e quase deu um sorriso. Estendeu a mão para Harry de forma cordial e, verdade seja dita, não se surpreendeu quando o rapaz demorou a apertá-la. Sabia que conquistar a confiança que nunca teve levaria bastante tempo. Olhou para os outros três jovens e mais uma vez os avaliou. As duas moças eram praticamente mulheres. Ambas muito bonitas e de olhares fortes.  Já o outro rapaz estava diferente da ultima vez que o ministro o encontrou. Mais alto, aparentemente devido ao fato de não estar mais levemente encurvado, certamente também mais intimidador e decididamente mais parecido com Dumbledore. Isso incomodava Scringour. Mas não era importante neste momento. O que realmente importava era se de fato Harry Potter e seus amigos tinham lutado contra Comensais da Morte no Beco Diagonal como afirmavam tantas testemunhas. E o Ministro precisava tomar uma atitude totalmente nova se os quatro afirmassem os fatos como verdadeiros.


– Sentem-se, por favor – disse o ministro – Temos muito que conversar.


Os quatro sentaram e Harry não tirava os olhos do homem que tantas vezes pediu que ele traísse seus ideais.


– Serei breve. Os senhores devem estar a par das noticias matutinas, correto?


A voz de Scringour não denunciava qualquer arrogância que não fosse característica dos políticos, então Harry resolveu falar.


– Sim estamos informados quanto a isso.


– Ótimo. Então devem saber que como Ministro da Magia, tenho o direito de detê-los para investigações aprofundadas neste caso.


– Somente se ainda houver investigações quanto ao referido caso. O que obviamente não há, já que o senhor proferiu a sentença final há poucos minutos. – Rony não estava com muita paciência neste momento. Diversas coisas importantes passavam por sua mente e ele precisava desesperadamente de um modo com que pudesse se aliviar.


Scringour o olhou surpreso. Realmente, grande semelhança esse jovem tinha com Alvo Dumbledore.


– Está correto, mas esse não é o real motivo para eu chamá-los aqui.


Harry revirou os olhos. Sempre era a mesma coisa. Em breve viria a proposta indesejável habitual e ele recusaria enojado como sempre.


– Diversas testemunhas os viram lutando contra os Comensais na tarde anterior. Meus Aurores confirmaram tal fato. Então o que eu proponho, na verdade senhor Potter, é uma aliança.


Harry bufou, cheio de sarcasmo.


– Mas em termos diferentes desta vez.


A expressão no rosto do rapaz mudou. Por essa ele não esperava. Scringour interpretou isso como um incentivo para continuar.


– O ministério vai agir senhor Potter. E desta vez precisamos de todo o poder e talento que pudermos conseguir. Precisamos da ordem da Fênix e também da Armada de Dumbledore. Precisamos de Harry Potter, acima de tudo. Não quero que apenas seja uma imagem positiva para o meu gabinete, meu jovem. Quero que seja um agente que salva bruxos, mas desta vez de forma oficial.


– E o que o senhor ganha com isso? – perguntou Hermione.


– Nada, a não ser o único bruxo com vasto conhecimento sobre o inimigo. O único bruxo que já o enfrentou de frente e sobreviveu. Ou melhor, pelo que ouvi dizer, existe outro que confrontou Você-sabe-quem e voltou com vida – e ele olhou diretamente para Rony – Sim senhor Weasley. Esse é o boato que corre pelo ministério e outros lugares secretos. E cada uma das palavras ditas antes ganhou maior força depois da matéria desta manhã. Sua manobra incomum, ao destruir dezenas de dementadores aumentou as esperanças das pessoas. E também há o nascimento do primeiro multi-animago em séculos.


Rony engoliu em seco.


– Está consciente de que é um animago ilegal, senhor Weasley?


Harry não conseguiu manter a calma por mais tempo.


– Escute ministro, se pretende chantagear meu amigo...


Com um gesto enérgico de mão o ministro o interrompeu.


– Por quem me toma senhor Potter? De que adiantaria prender o jovem Weasley por essa transgressão? Semanas atrás nós libertamos o jovem de que me falou, pelo simples fato que não tínhamos provas que o incriminassem. Somos o Ministério da Magia. E enquanto eu for o ministro, faremos o que é certo. Espero que acredite em mim meu caro rapaz e como prova de minha sinceridade eu quero que você, senhor Weasley, aceite isso – E estendeu um papel timbrado com o selo ministerial.


Rony leu e ficou agradecido, espantado e desconfiado ao mesmo tempo. Em suas mãos estava sua licença de animago, com um anexo de caso “Especial e Singular”. A assinatura de Scringour autenticava o documento totalmente.


– Não seria proveitoso para o ministério que o melhor amigo de Harry Potter fosse detido depois de derrotar dementadores e Comensais da Morte, além de salvar dezenas de Bruxos indefesos.


– Não sei se devo aceitar – Rony estendeu o documento de volta.


– Não estou tentando suborná-lo. Minha atitude é apenas o reflexo da minha política. Não me traria vantagens e tão pouco, simpatias, deixá-lo apodrecendo em Azkaban. E o Ministério precisa mais do que nunca do apoio do povo. Eu decidi que devemos agir com total dedicação no que concerne ao quesito fazer o certo. Temos que derrotar Você-sabe-quem o quanto antes e se para isso eu devo buscar alianças com um jovem que ainda nem mesmo terminou seus estudos, então eu o farei. O senhor é a maior esperança do mundo bruxo, Potter. Eu, como ministro, tenho o dever de ajudar o eleito.


Harry custava a acreditar. Aquele não parecia o mesmo Scringour que ele vira antes. Ele sempre aparentara ser um homem de opiniões inteiramente voltadas para a política apesar de seu antigo cargo como chefe dos Aurores. Não foram poucas as vezes que os dois discordaram em suas ideologias. E agora, depois de tudo ele parecia estar disposto a ajudar. Realmente muito difícil de acreditar.


Scringour sentou em sua mesa e com um gesto simples pediu que se retirassem. Era perfeitamente visível que o homem estava cansado. Harry não pôde deixar de imaginar a situação pelo ponto de vista do ministro. Pessoas morrendo e uma guerra prestes a explodir. Bruxos das trevas bradando as frases segregativas de seu senhor. Qualquer homem que estivesse à frente das operações passaria seus dias na mais constante pressão. Scringour, neste momento parecia mais velho do que realmente era de fato. A guerra contra Voldemort tinha despertado o pior das pessoas, isso Harry percebia agora. Em outros tempos, Scringour teria sido um aliado valoroso e importante. Agora, ele estava preso ao papel de um homem frio e manipulador que tinha planos e mais planos para vencer seus oponentes. Ou pelo menos era isso que Harry achava até agora. Hermione puxou o amigo pelo braço e indicou a saída. Era melhor que eles deixassem o ministro sozinho.


Os quatro estavam perto da porta quando Scringour voltou a falar:


– Eu não quis em nenhum momento que as coisas tivessem acontecido deste modo senhor Potter. Mas acredito que o senhor pode fazer algo que o ministério não pode, então com total sinceridade eu peço para sermos aliados num futuro próximo.


Harry assentiu com a cabeça e saiu. Não tinha mais nada a dizer e precisava falar com Rony com certa urgência. Os quatro saíram da grande construção a passos apressados, sob os olhares admirados de alguns bruxos, olhares assombrados de outros e olhares desconfiados de alguns tantos. Nada que fosse fora do normal para Harry.


 


Os ventos do jardim da toca eram agradáveis ao extremo. E estar na companhia de pessoas que amava era ainda mais estimulante. Entretanto neste momento nenhum deles estava sentindo nenhuma sensação agradável.


Gina olhava para o irmão, sabendo que os momentos seguintes seriam difíceis para todos. Rony estava de olhos fechados, parado no mesmo lugar, como que sentindo o ambiente. Postura preocupada, a garota pensou.


– Comece a falar Rony – Harry disse de repente.


Rony abriu os olhos lentamente. As mãos fechadas em clara mostra de tensão. Ele olhou para Hermione e ela estava o encarando com olhos de preocupação. Sempre uma grande amiga, ele pensou. Sempre isso e nada mais. Rony imaginava se ela se interessaria por um homem como ele, marcado e perigoso. Depois afastou esse pensamento tolo. Garotas se interessavam por Harry a todo instante e o próprio lorde Voldemort não era empecilho para tanto interesse.


– Controle-se Rony – disse para si mesmo – Hermione não era nem de longe uma dessas garotas. Era inteligente demais para tanta bobagem. Ela se interessaria por uma pessoa de verdade e não pela cortina da fama. – Seus pensamentos vagavam. Ele não conseguia pensar direito e perdia fios de idéias importantes. Precisava realmente de uma penseira.


– Acorde Rony – Harry falou novamente, desta vez sem paciência.


O ruivo parecia realmente ter acordado agora. Sacudiu a cabeça e afastou seus pensamentos para os recantos mais fechados de sua mente.


– O que você quer saber?


Harry suspirou – O que é Berzelt?


As garotas e aproximaram. Hermione por sua curiosidade natural e a vontade estranhamente grande de ver Rony mostrar novos conhecimentos. Isso vinha acontecendo muito nos últimos tempos.


– Berzelt é a verdadeira prisão dos bruxos das trevas. Ela e secreta até para alguns Aurores. E mesmo entre os que sabem de sua existência, o número de bruxos que sabem a localização é ínfimo.


Hermione, não agüentando mais, falou.


– Mas Malfoy ficou mais lívido que o normal quando foi informado que seria mandado para lá. O que tem em Berzelt para até um bruxo das trevas como ele temer?


– Forças que vão além do controle de qualquer ser bruxo comum. Criaturas que tem poderes com os quais muitos só podem sonhar. Em Berzelt existe uma raça de seres mágicos que há muito se separou de seu lado bom. Eles por pouco diferem de feras sanguinárias. Mas ainda assim são poderosos. Ao contrario dos dementadores, esses seres não seguem ordens de ninguém que não considerem no mínimo digno. E os horrores que fazem seus prisioneiros passar, em muito supera as habilidades dos dementadores.


– Como assim? – perguntou Gina.


– Dementadores sugam suas boas lembranças e sua felicidade. E em casos mais extremos, sua alma. Os seres de Berzelt não fazem isso. Lá eles tiram os piores sofrimentos de sua vida e fazem você revivê-los com dez vezes a intensidade original. Depois usam isso como combustível para destruir sua mente e sua sanidade e então, fazem você voltar a ficar lúcido novamente apenas para recomeçar o processo.


Harry deu alguns passos para trás. Seu estomago estava dando voltas e ele sentia que poderia vomitar a qualquer instante. Aquilo era doentio. Os dementadores eram seres malignos por natureza, se isso era possível, mas pelo que Rony estava dizendo, existiam seres piores. O ministério mais uma vez tinha sido tolo e imprudente a ponto de se aliar a tão terríveis criaturas?


– Como Scringour pode ser tão tolo? – foi apenas o que conseguiu dizer sem que seus sucos estomacais sofressem refluxo.


– Não foi culpa dele desta vez Harry. Scringour foi praticamente forçado por seus conselheiros a fazer isso. Aquelas criaturas precisavam ser domadas de qualquer jeito e era a única forma de prender Comensais sem que Voldemort os soltasse em menos de uma semana. Nem mesmo o cara de cobra tem coragem de pisar naquele lugar, acredite.


Hermione ficou entre dos dois rapazes. Sua face expressava medo e preocupação.


– O que são de fato essas coisas Rony? – a voz dela era apenas um filete. Rony desejou que pudesse afastar os temores do coração da amiga, mas sabia que isso nem mesmo ele poderia fazer. Ia além de sua capacidade. Poções e feitiços não tinham efeito na alma, apenas no corpo e na mente e com o passar do tempo perdiam a força. Não, ele tinha que ajudar Harry a acabar com aquela loucura. Apenas assim Hermione poderia ficar em paz verdadeira.


– São seres mágicos corrompidos pelas artes das trevas a há milênios atrás. Não queira saber mais que isso. Tudo o que posso dizer é que eles não obedecem ao ministério. Querem apenas almas para torturar em troca de manter certo nível de paz. De outra forma logo estariam saindo de seu covil para perseguir pessoas, tanto trouxas quanto bruxos. Temo que quando essa guerra acabar teremos que arrumar uma forma de satisfazê-los para não começarmos outra confusão pior.


Harry havia sentado no chão, digerindo as informações. Então se lembrou de uma coisa importante que havia visto dias antes e esquecera completamente.


– O que era aquele feitiço branco que vi você fazer na antes Rony?


Gina olhou de Harry para o irmão sem entender o que estava acontecendo. Então, sem querer sua ligação com a mente do irmão lhe deu a resposta: destruir o mal. E ela conseguiu isso apenas por Rony estar fragilizado no momento. Nos últimos tempos a mente do irmão era nada mais que um grande muro intransponível.


– Harry eu... Bem... – Rony parecia embaraçado. Suas orelhas estavam vermelhas quase se fundindo aos cabelos.


– Não tente enrolar desta vez Rony. Se você não contar eu conto – Gina lançou um olhar decidido ao irmão.


Rony não sabia se ficava com raiva da irmã ou de si mesmo. Brilhante guardião você está se saindo Ronald Weasley. Todos os bruxos do passado agora devem estar desesperados pensando que o mundo vai acabar por sua culpa. Não eram pensamentos muito otimistas.


Ele olhou para Hermione e sua voz falhou. Então ouviu a voz dela falando com ele.


– Você prometeu Rony. Sem mais segredos.


E com essas palavras ele resolver falar sobre o feitiço secreto.


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– Como assim não está pronto? – Harry quase berrou.


Rony olhou para os lados e fez um gesto para o amigo se acalmar. Hermione revirava os olhos diante da atitude impaciente de Harry. Ela entendia que ele se sentia frustrado por sempre esconderem informações importantes e também entendia que agora que sabia do projeto de Rony, ele querer a todo custo resultados. Entretanto Hermione estava consciente que eles deveriam ter paciência.


– Acalme-se Harry – Rony estava parado em se mover. Apenas sentindo o vento no rosto.


– Como você quer que eu me acalme depois de soltar uma informação dessas?


– Eu entendo que esteja frustrado...


– Frustrado? Rony você é meu melhor amigo. Eu achei que todos os segredos tinham acabado entre nós e de repente você aparece com esse tipo de informação? Isso com certeza faz com que me sinta mais que frustrado. Você mentiu pra mim mais uma vez Rony. Como posso continuar confiando em você?


– Droga Harry, eu não menti de fato. Apenas não contei...


– Então me diga qual a diferença pratica! – Harry estava com as faces rubras de raiva. Se Hermione não fosse rápida e lançasse um feitiço de silêncio, todos dentro da casa ouviriam os berros do rapaz.


Rony respirava de forma rápida e descompassada. As mãos não paravam de se mover quase que por vontade própria. Gina conhecia o irmão melhor que qualquer outra pessoa no mundo e mesmo assim tinha serias dúvidas sobre o que ele estava sentindo agora. Durante anos ele se martirizou por ter mentido e temeu o que aconteceria se seus amigos descobrissem a verdade. Agora que esses medos caíram por terra, Rony enfim parecia ter encontrado um momento de paz interior apesar do clima de tensão constante promovido pelas ações de Voldemort. E agora, depois de um deslize, tudo parecia estar ruindo.


Gina sentiu pena de Rony. E isso acontecia com certa freqüência ultimamente. Ela se culpava pelo destino do irmão. Se não tivesse nascido, ele não seria o Guardião e poderia ter uma vida normal e quem sabe até mesmo feliz. O que aconteceria dali para frente? Ela entendia os motivos de Rony não contar sobre as coisas que fazia, mas ainda era errado manter segredos dos amigos. Isso ele sabia muito bem. Não era algo saudável. Gina olhou mais uma vez para as mãos de Rony e viu que elas estavam trêmulas. E isso não era comum.


– Vamos Rony. Responda-me qual a diferença. Ou você não sabe mais? – Harry estava com raiva. Sempre era deixado no escuro e por isso pessoas sempre se machucavam. Estava farto de ser excluído. Será que Rony não o julgava digno de confiança? Justo ele, o rei de todas as mentiras? Não, Harry definitivamente não aceitaria mais ser tratado como se fosse criança.


 


As palavras do amigo bateram forte no espírito de Rony. Ele não queria continuar com aquela discussão sem sentido, mas ao poucos suas forças estavam sumindo. Ele tremia e não conseguia falar. Usou de toda sua força de vontade para fingir compostura, mas estava fraquejando.


Essa era a fraqueza do Guardião. Com o tempo, seus imensos poderes começavam a cobrar o preço. Ser o portador da magia e conhecimento de vários grandes bruxos do passado não era animador em nenhuma hipótese. As fortes dores de cabeça, o cansaço repentino, as vozes clamando justiça. Harry era atormentado pelos gritos da mente de seu insano inimigo e pelos pesadelos com pessoas mortas. O medo de perder aqueles a que amava. Rony era atormentado pelas vozes dos mortos e clamores de justiça. Todas as noites ele mergulhava em um mundo de escura solidão e depois era arremessado nas mais inumanas reentrâncias da própria psique. E lá nunca estava sozinho.


Neste exato momento ele ouvia as vozes. Todos falavam a mesma cantilena irritante sobre como Harry não era digno. Todos diziam que ele não estava pronto. Horas e horas de incessante estresse. Rony lutava mentalmente com eles durante todo esse tempo. Defendendo Harry. Enquanto isso seu amigo o empurrava contra a parede, completamente alheio a toda aquela situação. Rony entendia o que se passava na mente de Harry, mas era pedir demais que o outro entendesse o que se passava na dele. Ele olhou para as próprias mãos. Estava tremendo. Tentou controlar a sensação de descontrole, mas era difícil. Precisava manter a calma. Por Gina, por Hermione, por Harry, por sua família, seus outros amigos e por ele mesmo.


Rony sabia o quanto era poderoso e por isso mesmo perigoso. Não alimentava esperanças ou ilusões de uma vida fácil. Desde cedo perdera esse tipo de inocência. Mas agora, com uma forte dor de cabeça e pessoas o pressionando de tantos lados, ele não sabia o que fazer. Antes tinha seu mestre para dar conselhos, para apaziguar a dor. Quando Dumbledore estava por perto, as vozes se calavam. Pois sabiam quem era aquele bruxo. Mas agora, depois de sua morte, as coisas estavam piorando para Rony. E cada segundo era como um século de luta. Ele precisava sobrepujar as vozes e seguir seu caminho. Determinar seu modo de agir como atual Guardião da Herdeira.


– Fale comigo! – Harry gritou mais uma vez. Era muita raiva contida esperando por uma oportunidade de extravasar.


– Pare! – Gina alteou a voz e se pôs entre Harry e Rony – Não vê que ele está sofrendo?


E só então Harry percebeu a tensão do corpo do amigo. Isso não era comum em Rony, não importando o período. Fosse antes de ele saber a verdade ou depois.


Gina continuou falando, ao perceber a expressão de ignorância no rosto de Harry.


– Você não faz idéia do que é. Não pode nem imaginar. Tudo o que você vem sofrendo, ele tem aguentado muito mais forte. Ser o Guardião é mais uma maldição que um privilégio. Todos os dias desde que tinha um ano, o meu irmão ouve o lamento dos fracassados. Todos os bruxos do passado que falharam em proteger o que lhes era caro. Todos os Guardiões anteriores que não podem aceitar nenhuma chance de falha. Desde que ele te conheceu Harry, as coisas tem piorado. Eu vi as imagens na mente do meu irmão. Eles acham que você é o elo fraco Harry. Acham que o Eleito vai falhar. E por isso ordenam ao Rony que seja enérgico. Que use táticas extremas. O Rony tem feito o seu melhor e espero que você possa entender isso. Você mais que ninguém sabe o preço que se paga por estar envolvido em uma droga de profecia.


Harry não sabia mais o que pensar. Estava se sentindo culpado. Abraçou Gina que estava com lagrimas nos olhos e desejou ter todas as respostas paras as duvidas em seu coração. Dumbledore dissera uma vez que o grande poder que faria a diferença na luta final seria a capacidade de Harry amar.


Por Merlin, ele amava. Amava com cada fibra de seu ser. Com todas as suas forças. Mas não sentia a confiança de que isso o faria vencer Voldemort. Por isso perdeu a cabeça quando Rony dissera estar trabalhando em um novo feitiço que pudesse destruir horcruxes e ajudá-los na futura guerra. Entretanto o ruivo havia sido categórico em não compartilhar a fórmula do feitiço com os amigos. Segundo Rony a magia não estava pronta e poderia ser perigosa. Foi nesse ponto que Harry estourou de vez.


Sem ser notada Hermione foi se aproximando e segurou nas mãos de Rony, que apenas estava parado observando o amigo. Ao sentir o toque da garota, ele se arrepiou. Era como sentir dezenas de fracos raios elétricos passando pelo braço e aumentando gradativamente de potencia até que o cérebro simplesmente desligava. E logo em seguida ligava a toda potência. No caso de Rony o efeito foi quase literal. Em questão de segundos os tremores pararam e as vozes se calaram. Era como se Hermione fosse a luz de um farol apontando o caminho de segurança para ele. Como resistir a tanto encanto?


Hermione sentiu que as mãos de Rony já não mais tremiam. Desejou poder encostar-se ao peito do amigo e jurar que tudo ficaria bem. Queria que ele encontrasse a paz e se isso fosse possível ao lado dela, tanto melhor.  Mas depois de descobrir tantas coisas novas sobre o garoto que gostava Hermione não sabia exatamente o que pensar. E a palavra “pensar” despertou uma aviso e um conhecimento.


O aviso era de que Rony apesar de não aparentar, possuía a rara habilidade de ler pensamentos e lembranças. Ela agradeceu ter aprendido tudo o que podia sobre oclûmencia, senão tinha acabado de fazer algo que poderia envergonhá-la totalmente.


O conhecimento novo tratava sobre a pessoa eu ele realmente era. No caso, a dúvida sobre quem ele realmente era. Rony podia perfeitamente não corresponder aos sentimentos de Hermione. Afinal, depois de tanto anos, eles não deram qualquer passo adiante somente por ele não tomar a iniciativa. Existia a possibilidade de todas as pessoas estarem enganadas quando disseram a ela que o rapaz nutria sentimentos diferentes da simples amizade. Hermione não sabia bem o fazer se isso fosse verdade. Embora Gina tenha dito que ele a amava. E Gina era a pessoa que conhecia melhor o verdadeiro Rony Weasley.


– Vamos deixar esse assunto para outro dia – falou Harry ainda abraçado a Gina – Neste momento eu não tenho animo pra isso.


 


 


Os dias passaram rapidamente. E durante todo o período antes da volta a Hogwarts eles treinaram. Rony não podia voltar a ser condescendente com o amigo, por isso desta vez não regulou muito suas habilidades. E Harry melhorava dia após dia. Uma nova motivação parecia morar em sua alma. Um novo brilho em seus olhos. Ele percebia o motivo da mudança de Harry. Vez por outra Rony olhava para Gina e seu amigo e sentia uma pontada de inveja. Ele não era um legítimo grifinório quando estava sento tão medroso. Mas sabia que um relacionamento com Hermione, em um momento como este não era o mais lógico e tão pouco o mais seguro. Agora não era apenas Harry que era alvo das perseguições de Voldemort. Rony, desde a luta na floresta, despertara as atenções do bruxo e sabia disso.


Agora, os quatro estavam na estação 9½ com seus malões, esperando o momento de embarcar. Harry não gostaria de admitir, mas estava com saudades da escola. As únicas coisas que realmente estavam incomodando o rapaz eram a sua missão inacabada e mal começada e obviamente, as pessoas que o olhavam como se ele fosse de outro universo. Mesmo depois de tantos anos, Harry não conseguia se acostumar como esse tipo de tratamento. Agora, mais do que nunca desejava ser alguém normal, que se preocupava apenas com as notas escolares apertadas e agradar a namorada. Mas a triste realidade era bem mais cruel.


Os estudantes passavam de um lado para outro, conversando sobre amenidades. O clima não era dos melhores, já que no ano anterior o diretor da escola havia sido assassinado dentro dos limites do castelo. O corpo de Dumbledore caindo para o vazio não saia dos pesadelos de Harry. Por várias noites ele acordara sobressaltado e suado. A respiração ofegante.


Rony puxava seu malão na frente de todos. A senhora Weasley não parecia muito animada com a partida dos jovens, mas depois de muita conversa com o marido acabou aceitando que agora Hogwarts era o lugar mais seguro para estarem durante o período difícil. Gina caminhava de mãos dadas com Harry e parecia muito feliz, embora não o demonstrasse com sorrisos ou pulinhos. Ela apenas lançava olhares cheios de amor para o rapaz.


Mais atrás vinha Hermione que olhava preocupada para os lados. Alguns rapazes olhavam para ela de forma cobiçosa, mas a garota preferia ignorar isso. Eles começariam o sétimo ano em breve e precisavam de toda a sua concentração. Mas para ela isso seria mais difícil que o normal. Agora que tinha mais informações importantes sobre a guerra e sobre o garoto que gostava. Para Hermione seria muito complicado se concentrar sempre que ele estivesse ao seu lado. Ela sabia que não devia pensa essas coisas num momento como aquele, mas não conseguia controlar.


Um grupo de estudantes estava conversando animadamente em um ponto perto dos vagões centrais da locomotiva. Neville Longboton, Simas Finnigan, Dino Thomas, Lilá Brown, Parvati Patil, Padma Patil, Anna Aboot, Colin Crewey, Denis Crewey, Romilda Vane, Justino Flint-Fletcher e alguns que Harry não reconheceu. Rony diminuiu os passos e foi ficando para trás. Gina bem sabia a razão dessa atitude. Alguns daqueles alunos tinham estado na batalha do Beco Diagonal e viram Rony lançar feitiços e mudar de forma. Depois da maldita matéria de Rita Skeeter, as coisas não seriam fáceis para ele.


– Oi pessoal – disse Gina se aproximando.


Todos olharam para Harry de forma diferente que o normal. Não que o normal não fosse constrangedor o suficiente, mas desta vez era como se ele estivesse pelado, sujo e com o próprio Voldemort correndo em seu encalço. Apenas Neville não olhava como um ser de outro mundo. Harry desejou que o amigo sempre fosse daquele jeito. De todos Neville era o único que tinha consciência da dor que consumia o coração de Harry, pois ele também sofria de uma dor parecida. Assim como o outro Neville teve a família destruída pelas ações tenebrosas de Voldemort.


– Olá Gina – respondeu Neville.


– Aparentemente o relacionamento de vocês está muito bem – falou uma voz feminina vinda detrás do grupo. Harry esticou o pescoço para ver a dona daquela voz e constatou que ali estava Luna Lovegood.


Com seus cabelos loiros em desalinho e vestes estranhas, sempre segurando um exemplar do Pasquim, ela parecia estar muito bem. Se bem pudesse ser descrito como estranho. Mas Harry já havia se acostumado com as idiossincrasias da amiga.


– Sim Luna – Harry falou segurando a mão de Gina mais alto – Estamos muito bem agora.


Hermione não queria falar com Luna. Na sua visão, a outra não seguia a lógica normal do mundo e isso tornava a conversa entre elas muito difícil. Apenas acenou e sorriu para ela. Não é que não gostasse de Luna, apenas preferia não arriscar uma conversa sem lógica e coisas inexistentes.


Rony aparentemente resolveu encarar seus medos e veio logo atrás dos amigos. Cumprimentou a todos e recebeu um olhar mais longo das garotas, embora não tenha entendido a razão.


– Ronald Weasley – falou Luna, sorrindo pela primeira vez – Você está diferente.


– Diferente como Luna? – falou Gina querendo provocar o irmão.


Luna pareceu pensar um pouco, mas seu olhar não desviou de Rony em nenhum momento. Isso já seria perturbador normalmente, mas o fato da garota não parecer piscar, tornava o ato muito bizarro.


– Bem, acho que isso tem algo relação com os Morfosorridentes que vez por outra passam perto dele. Dizem que eles só se aproximam de bruxos com o dom da mudança.


Todos riram da explicação da garota, menos Rony. Hermione, mesmo sorridente revirava os olhos impaciente. Sempre que estavam com Luna, uma nova espécie de criatura mágica surgia.


– Por favor, Luna – falou a garota – não vai querer que nós acreditemos nisso certo? Essas coisas não existem. Logo vai querer que nós acreditemos que também são invisíveis.


– E são mesmo – falou Rony calmamente.


Hermione olhou para ele espantada. E não foi a única a fazer isso.


Morfosorridentes é o nome genérico de uma espécie de espírito natural. Não é comum vê-los na cidade ou em áreas cheias de bruxos ou trouxas. E a característica principal deles é poder mudar sua aparência sempre que desejarem. Em raras ocasiões uma pessoa viu um deles duas vezes do mesmo modo. Claro que por sua aversão aos grandes seres perigosos que nós somos, eles costumam manter a si mesmos, invisíveis por medida de segurança.


– Serio? – perguntou Simas de boca aberta.


– Onde você aprendeu isso? – Hermione não conseguia deixar de manter os olhos arregalados – Eu não me lembro de ter visto nada sobre esse assunto nos livros da biblioteca.


Rony sorriu para ela e o coração de Hermione deu uma pequena parada.


– Não acredite que algo não existe apenas por não ter lido sobre isso. A propósito Luna, pelo que posso perceber você tem uma excelente visão para essas coisas. Conseguir ver os Morfosorridentes em sua forma camuflada não é fácil. Mas acredito que eles estão aqui não por minha causa.


– Então estão aqui por causa de quem? – ela perguntou.


Rony apontou para o fim da estação, onde um grupo de Aurores vigiava os passos dos estudantes. Logo ao lado desse grupo, uma jovem de cabelos rosa-chiclete com roupas de estranha composição entre couro e jeans abraçava um bruxo de cabelos castanhos com fios grisalhos. O homem era magro e sua pele era relativamente pálida. Todos reconheceram imediatamente o ex-professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, Remo Lupim.


 


A viagem correu tranquila, sem grandes acontecimentos. A ausência de Draco Malfoy causou um leve entorpecimento nas provocações por parte da Soncerina, mas fora isso, poucas coisas mudaram na escola. Os amigos quiseram perguntar a Harry e Rony o que tinha acontecido no Beco Diagonal. Indagaram sobre as transformações de Rony e sobre o artigo de Skeeter, mas diante da quase fuga desesperada do ruivo eles resolveram desistir.


Harry, sentado na cabine com Gina ao seu lado e Neville e Luna no outro banco, esperava pela volta de Rony e Hermione da reunião dos monitores.


– O Ronald realmente está diferente – falou a loira repentinamente e seu razão aparente – Como se apenas agora estivesse sendo ele mesmo.


Harry nunca deixava de se espantar com a incrível percepção de Luna.


– Qual a razão de achar isso Luna?


– Bem, ele não anda mais curvado e cabisbaixo. Os passos estão mais soltos e confiantes. As mãos se movem com grandes toques de nervosismo aparente, diferente de antes e ele parece estar com um grande peso nas costas agora.


– Apenas esses detalhezinhos? – perguntou Gina com uma expressão estranha no rosto. Uma fusão de careta com sorriso.


– Eu sempre reparei nele, mas como a Hermione Granger sempre esteve ao seu lado, eu simplesmente ficava olhando. Agora eu nem penso mais tanto nisso.


Harry quase engasgou com essa informação. Luna gostava do Rony? Quantas outras garotas gostavam dele e nunca falaram nada? O que havia nesses Weasleys que chamava tanta atenção? Olhou para Gina como se perguntasse “você sabia?”. A ruiva apenas deu de ombros assentindo sem muita empolgação.


 


Na cabine dos monitores, as coisas não estavam muito bem para o pobre Rony. Agora como monitor-chefe, as responsabilidades aumentavam de maneira proporcional aos tempos difíceis. Ele não sabia se teria tempo para desempenhar todas as suas novas funções se o ritmo não diminuísse. De que adiantava ter o conhecimento de grandes bruxos se nada valia na vida escolar? Olhava os papeis na sua frente e desanimava.


Hermione olhava para ele, incrédula. Sabia que Rony podia ser preguiçoso, mas aquilo era demais. Merlin, ele era o Guardião. Um dos bruxos mais inteligentes e poderosos do mundo. Talvez o segundo mais inteligente e poderoso. E ficava desanimado ao ter que preencher papéis e formulários? As monitoras das outras casas davam rizinhos agudos achando a atitude dele interessante e engraçada. Mas não era como se Rony estivesse jogando charme. Céus será que o Guardião recebia o charme acumulado de todos os grandes bruxos também?


– Quero comer. – gemeu Rony com se estivesse em grande sofrimento.


– Pensei que isso era fingimento seu para me irritar – ela sussurrou no ouvido dele.


– É claro que não – ele sussurrou de volta – Minha fome é bem real e dolorosa. Efeito colateral de tudo o que eu sou. Experimente conviver com tantas pessoas dentro de si sem sentir a fome delas.


Hermione sorriu. Mas não foi um sorriso feliz. Ela sabia que ele estava apenas tentando descontrair o clima. Não queria que ela percebesse a dor que ele sentia o tempo todo. Mas dias antes ela tinha notado o grau de gravidade que a situação estava. Ser o guardião não era fácil.


 


A cerimônia de seleção das casas não foi das mais alegres. O chapéu seletor fez um discurso sobre união e confiança entre os estudantes. Harry não podia deixar de expressar um semblante sisudo. E Rony mantinha a postura de desleixamento. As únicas coisas agradáveis em tudo aquilo era ver Lupim sentado, ainda que desconfortavelmente, na mesa dos professores e quando Harry diferenciou a garotinha chamada Mary sentou no comprido banco de madeira escura para a seleção das casas. Harry a tinha conhecido no dia do ataque ao Beco Diagonal. Esperou atento enquanto a garota era avaliada pelo chapéu. Depois do que pareceu um tempo maior que o normal, o acessório falante gritou:


– Grifinória!


Mary caminhou confiante para mesa. Em seu rosto um sorriso de satisfação. Quando avistou Harry sorriu e acenou.


A Professora McGonagall posicionou-se no púlpito do diretor e começou a falar.


– Olá a todos e bem vindos a Hogwarts. Eu sou a diretora Minerva McGonagall. Este ano teremos algumas mudanças de regras e em nosso corpo docente. Venho agora esclarecer essas mudanças. Muito disso era vontade de nosso amado ex-diretor Alvo Dumbledore e, por conseguinte será acatado.


Ela fez uma breve pausa, como se as palavras fossem difíceis de pronunciar.


– O posto de professor de Defesa Contra as artes das Trevas voltará a ser ocupado pelo nosso antigo professor e muito querido amigo Remo Lupim. Ele passa também a ocupar o cargo de diretor da Grifinória.


Aplausos por parte dos alunos da Grifinória em geral. Alguns um tanto tímidos por parte da Lufa-Lufa e Corvinal e nenhum por parte da Soncerina.


– A vaga de transfigurações, antes ocupada por mim agora será ocupada pelo professor Matthew Stonehard. Ele será de grande ajuda para aqueles que desejarem se tornar animagos um dia.


Um bruxo jovem e loiro se levantou. Harry não pôde deixar de comparar o jeito pomposo dele ao de outro professor. Ao seu lado ouviu Rony resmungar algo que lembrava “Lockhart segundo”. O homem passou o olhar pelas mesas das casas e deteve-se mais que o normal na Grifinória. Mais precisamente em Hermione. A garota percebeu isso, mas preferiu contar quantas linhas tinha a madeira da mesa.


– Em vista dos recentes acontecimentos e com aprovação do próprio Ministério da Magia, a Armada de Dumbledore voltará à ativa de forma oficial.


Harry ficou pasmo. O mesmo podia ser dito de Gina e Hermione. Apenas Rony não estava demonstrando muita surpresa.


– Você sabia – disse Hermione para ele.


– Sim. Eu falei que aqui teríamos mais tempo para treinar.


A diretora continuou a falar.


– Todo aluno que deseja se inscrever deve falar com o representante de sua devida casa e depois diretamente com o senhor Harry Potter. Ele é o presidente e líder da organização – Harry perdeu a ordem dos pensamentos Por um instante. A AD além de ser legitimada ainda permanecia sob o comando dele?


– Como a grande maioria aqui bem sabe o professor Lupim é vítima da maldição da licantropia – burburinhos de espanto por parte dos alunos do primeiro ano foram ouvidos – mas eu devo salientar que isso não torna o professor Lupim menos capaz ou menos confiável que qualquer outro candidato ao cargo. Na verdade poucos são tão capazes de ensinar como ele. Entretanto, devido a seu estado de saúde debilitado, o professor terá que se ausentar da escola em períodos regulares de tempo, que correspondem ao ciclo lunar. Quando isso acontecer, o substituto designado pelo professor Dumbledore e aceito por mim, ocupará o cargo. O substituto do professor Lupim será o senhor Ronald Weasley.


Todos sem exceção no salão principal olharam espantados na direção de Rony. E o próprio não estava com uma expressão diferente no rosto.


– Entendo a surpresa dos senhores, afinal tratas-se de um aluno da escola. Mas devo deixar claro que o senhor Weasley obteve crédito suficiente para se formar com louvor há dois anos e está apto a lecionar nesta instituição. Essa era a vontade de Dumbledore e concordo com a decisão dele.


– Mas eu discordo! – Rony gritou de sua cadeira pondo-se imediatamente em pé.


McGonagall o olhou com uma das sobrancelhas arqueada. Isso não era bom sinal.


– E Posso saber a razão de discordar?


Rony não sabia bem o que dizer. Falara por impulso. Dumbledore nunca tinha falado nada sobre aquele assunto com ele.


– Diretora, eu... Eu não me sinto capaz para essa tarefa...


– Senhor Weasley, Alvo Dumbledore o julgava mais que capaz de desempenhar esta função e eu tenho orgulho de dizer que concordo plenamente com ele – e sorriu de forma terna para Rony, o que não era muito comum na velha professora.


 


Acompanhando os primeiranistas e ouvindo Hermione passar as instruções da escola Rony parecia desolado. Apenas em seus devaneios de grandeza ele imaginava a si mesmo como um professor prodigioso em Hogwarts, ensinando antes mesmo de ter idade para isso. E agora Dumbledore o jogava direto na boca do dragão. Já seria difícil preparar Harry para a difícil tarefa que teriam que cumprir. Mas passar todo o período da lua cheia ensinando aos outros poderia comprometer o êxito deles. Ele nem mesmo se importou com os olhares espantados dos outros alunos da escola enquanto passava. Apenas pegava fragmentos de conversas como: “como assim ele obteve credito para se formar? O Weasley sempre foi um péssimo estudante.”, ou “deve ser brincadeira de Dumbledore, o velhote era brilhante, mas um pouco louco”.


O grupo passou pelo retrato da Mulher Gorda e Hermione começou um rápido discurso sobre a disposição dos dormitórios, o toque de recolher e frisou mais algumas regras da escola. Harry e Gina, sentados um pouco mais adiante sentiam penas dos jovens novatos. As crianças estavam com expressões entediadas no rosto e pediam ajuda silenciosa a todos que passavam. Rony havia se encostado-se à parede próxima e fingia ver ouvir e o que se passava.


– Ele não está feliz – falou Gina de onde estava.


– Hum? – Harry virou o rosto para a namorada.


– Meu irmão. Ele está triste. Está fechando sua mente para tudo e todos. Detesto quando ele não me deixa entrar.


– Err... E isso tem acontecido com frequência? – Harry não sabia bem como agir e o que falar quando o assunto era a ligação entre os dois.


– Nos últimos anos, mais do que eu gostaria.


 


Os corredores estavam vazios. Os estudantes tinham se recolhido aos seus dormitórios há pouco mais de uma hora. O vento frio fazia as folhas das árvores dançarem de forma sincronizada. Dentro de duas semanas a lua atingiria sua plenitude de forma no céu escuro.


O zelador Argo Filch também não se encontrava nos corredores naquele horário. E isso era incomum. Em todos os anos que trabalhava na escola, o home jamais deixou de patrulhar os corredores, sempre desejando capturar algum aluno desobediente. O zelador Filch gostava de destilar medo. Isso lhe dava certo prazer. Mas nos últimos tempos ficar patrulhando em companhia de sua gata de estimação não era mais uma idéia prazerosa. Com o retorno daquele-que-não-deve-ser-nomeado e seus servos e a morte do Dumbledore, nenhum lugar era mais seguro. Neste momento, o zelador estava em seu quarto, agradecendo por poder usar os monitores das casas como vigias em seu lugar. Outra pessoa também estava agradecendo a covardia de Filch. Caminhar pelos corredores sem os olhos treinados de Madame Norrra vigiando era muito mais fácil.


A figura alta dava passos ligeiros. Tinha pressa. Mas não caminhava com cuidado ou se escondia. Sabia que isso seria tolice. Anos antes tinha aprendido como se tornar invisível se o auxilio de uma capa de invisibilidade. O feitiço não era tão eficiente que não tivesse suas falhas, mas era perfeitamente útil neste momento.


Ele parou no fim de um comprido corredor, próximo a uma grande escultura em forma de águia que guardava a passagem. Respirou fundo e falou:


– Tortinha de limão.


A águia de pedra começou a se mover, permitindo a visão de uma escadaria circular. Ele pisou no primeiro degrau, respirou fundo uma vez mais e criou coragem.


Cada degrau era vencido a passos vacilantes. Ele não queria estar ali e não deveria estar. Mas não tinha escolha. A porta de madeira, velha e sem cor o separava de seu objetivo. Segurou a maçaneta e abriu.


– Pensei que não viria mais – disse Minerva McGonagall sentada na cadeira do diretor. A velha senhora fez um gesto mostrando a parede próxima. Vários quadros dos antigos diretores e diretoras olhavam diretamente para ele como se estivessem vendo perfeitamente. E em um lugar central estava o quadro que ele procurava: Alvo Dumbledore. O ex-diretor sorria e seus olhos por detrás dos óculos de meia-lua tinham o mesmo brilho alegre de sempre.


– Vou deixá-los a sós. Deve ter muito a falar. Correto senhor Weasley?


Rony sorriu tristemente para ela e desfez o feitiço de ilusão. Há anos McGonagall sabia de sua verdadeira condição e ele sempre achou que por isso mesmo ela era tão dura quando cometia deslizes. Assim que ela saiu que começou a falar com o quadro.


– Temos muito que conversar.


Dumbledore levantou uma sobrancelha intrigado.


– Imaginei que meus desejos tivessem sido bem claros, meu caro Ronald.


O jovem deu um muxoxo.


– Me colocar como professor substituto de Defesa Contra Artes das Trevas? Não acha que foi longe demais?


– Não eu não acho – e sorriu – Veja bem Ronald. Acredito que você possa ajudar mais pessoas se ensinar parte do que sabe antes da guerra estourar de verdade. E além do mais, diga verdade: passar mais este ano na escola fingindo que é um estudante comum seria justo com você?


– O senhor sabe muito bem que eu deixei de me importar com essas coisas.


– Sei também que jamais poderá ter uma vida normal. Sei que tem se restringido tanto que agora não sabe mais o que fazer. Sei que as vozes em sua mente estão a ponto de impor sua vontade. Sei ainda que você considera a felicidade de sua irmã mais importante que a sua própria e está dando o melhor de si para preparar o Eleito. Vamos ser sinceros um com o outro. Eu cometi muitos erros em minha vida e uma parcela significativa deles tem relação com a omissão de informações. Por isso pergunto: você contou a verdade para Harry e a senhorita Granger?


Ele olhou para o retrato de seu mentor e não pôde sustentar o olhar. Lagrimas molharam os olhos de Rony.


– Imagino que isso seja um não.


– Professor eu... Eu não posso contar ao Harry.


– Infelizmente está sozinho agora Ronald. As decisões são suas. Acredito que vai sempre escolher seu caminho visando o bem daqueles que ama.


– O senhor confia demais em mim.


– Você é o bruxo mais poderoso que tive a oportunidade de conhecer e falo isso sem reservas. Nem mesmo Tom Ridlle tinha o talento e os poderes que você possui e mesmo agora ele está pouco acima de você em capacidade. Quando tudo isso acabar Ronald, você envelhecerá e se tornará o mais poderoso do mundo. Mas como você mesmo disse, eu confio demais em sua pessoa e acredito que apenas me deixará orgulhoso.


As lágrimas continuavam a vir, molhando as bochechas sardentas do rapaz. Rony conhecia Dumbledore toda a sua vida acadêmica. Tinha muitas lembranças do velho bruxo o instruindo nos desígnios da magia. O preparando para defender as pessoas contra as forças das trevas. As vozes em sua mente eram os resquícios das almas do passado. Davam-lhe grande capacidade e poder, além de facilidade para aprender, mas isso era tudo. Seu verdadeiro mestre era Dumbledore. Aquele que ensinava sempre com um sorriso no rosto cansado.


As lembranças vieram como a corrente de um rio. Era impossível controlar. Sem que percebesse Rony conjurou seu patrono. As lembranças felizes eram abundantes demais naquele escritório.


– Voldemort deve ter ficado intrigado com o seu patrono e até mesmo eu admito achar irônica a forma dele.


– Por qual razão professor?


–O patrono mais poderoso do mundo, capaz de destruir dementadores e parar maldições imperdoáveis tem a forma de um agradável filhote de cãozinho domestico.


Rony gargalhou prazerosamente.


– Sim. Deve ser bastante irônico.


– Está tarde jovem Ronald. Acredito que deva voltar para seu dormitório e descansar. As aulas começam logo após o café.


– Sim Professor. Mas eu queria...


– Se despedir?


Rony concordou com a cabeça.


– Acredito que isso não seja necessário. Nós dois sabíamos que aconteceria, mas não tínhamos certeza de como aconteceria. Mas eu estou feliz que as pessoas tenham a esperança em seus corações. Acredito que você, a senhorita Granger e Harry terão êxito em destruir as Horcruxes de Voldemort e trazer a paz novamente para o nosso mundo.


 


Enquanto caminhava pelos corredores, novamente invisível, Rony desejava que Dumbledore estivesse certo uma vez mais. Esperava que eles vencessem a guerra. E esperava que Harry o perdoasse por não contar a verdade. Mas era necessário.


O Guardião era o protetor da Herdeira. O Eleito era o protetor da esperança. Por seus próprios motivos Rony não lutaria ao lado de Harry no final. Forças e regras antigas o impediam.


E o menino-que-sobreviveu teria que cumprir sua própria profecia, totalmente sozinho.

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