Capítulo seis: Profecias.
Encostando o corpo em uma árvore, Rony esperou Harry se sentar, o que não demorou a acontecer. Tentou organizar os pensamentos de forma coesa para não deixar escapar nenhum detalhe. Seria uma longa história. Durante anos imaginou se este momento chegaria. Em sua mente as mais diversas versões se desenrolaram para este momento, mas nem mesmo em seus mais absurdos devaneios, ele imaginara contar toda a verdade para seu amigo desta forma.
Rony respirou fundo e olhando para Harry começou seu relato:
– No começo eu não era muito diferente de uma criança normal. Era exatamente igual aos meus irmãos: ruivo, sardento e curioso. As coisas só começaram a mudar para mim no dia do nascimento da Gina.
– Eu tinha pouco mais de um ano na época. Mas lembro perfeitamente daquele dia. Foi quando minha percepção do mundo mudou. Eu estava nos braços do meu pai enquanto aguardávamos a curandeira terminar seu trabalho. Papai estava muito nervoso. Como eu estava sonolento em pouco tempo fui posto em meu berço, que em breve não seria mais meu. É claro que essa parte me foi contada por meu pai, mas os acontecimentos imediatamente posteriores ao nascimento de minha irmã menor, eu conheço melhor que ninguém.
À medida que falava, Rony ia adquirindo mais confiança para continuar.
– Eu acordei sobressaltado com o choro da Gina. Qualquer criança normal teria chorado naquele momento devido ao susto e a percepção de estar sozinho. Eu não. Assim que acordei, eu senti uma onda de calma me envolvendo. Senti minha percepção se aguçando e meus sentidos se aperfeiçoando. Algo em minha mente dizia que tudo estava bem que eu poderia descansar sem preocupações. E foi o que eu fiz afinal ninguém está acostumado a ignorar uma mensagem da própria cabeça.
– Com o passar do tempo eu deixei que as coisas se desenrolassem naturalmente. Desenvolvi um carinho especial pela minha irmã que era diferente para com meus irmãos mais velhos. Eu me sentia ligado à Gina. Sentia que deveria protegê-la de qualquer coisa. Percebi muito cedo que aprendia o que me era ensinado com muito mais facilidade que as outras crianças. Eu poderia me gabar de minhas habilidades, mas uma vez mais, algo em minha mente me aconselhava a tomar uma atitude contrária ao senso comum. Mantive segredo durante anos das coisas que podia fazer. Menti até mesmo para os meus pais Harry, e você não pode nem imaginar como isso era difícil pra mim.
– Os anos se passaram. Gina e eu nos tornamos cúmplices em meu segredo. Confiava somente nela e em mais ninguém. Foi quando recebi a carta de Hogwarts, e tudo mudou. Fiquei muito feliz por finalmente estar ingressando na escola de magia, mas Gina ficou triste por se distanciar de mim pela primeira vez na vida.
– Dias depois de receber a carta. Eu estava brincando coma Gina perto do bosque quando recebemos a visita surpresa de Dumbledore. Ele nos olhava com profunda admiração e ao mesmo tempo com um pesar tamanho que eu percebi imediatamente algo errado. Nós dois já conhecíamos Dumbledore. Ele visitava a Toca com uma pequena freqüência. Coma a voz embargada de emoção pediu para falar comigo e com Gina a sós. Disse que era uma conversa secreta que não poderíamos contar a ninguém.
– Tenho que confessar que em vez de assustado eu fiquei curioso. Gina se escondeu atrás de mim e tremia. E Dumbledore começou a conversa mais importante de toda a minha vida até então.
– Naquela tarde eu enfim tomei conhecimento de toda a verdade sobre minhas habilidades. Dumbledore me contou sobre a profecia que anunciava o nascimento da Gina.
Abrindo os braços como se quisesse dar maior importância às palavras que diria, Rony fez uma pequena pausa, olhou para Harry, certificando-se de que o amigo prestava atenção tudo que ele dizia e depois continuou:
“Aquele que escolheu as trevas vai retornar.
Para novamente o terror espalhar.
Um novo embate contra o escolhido haverá.
Poder, coragem, lealdade, conhecimento e amor serão suas armas.
A criança de nobre e longa linhagem logo virá.
Sétima nascida do sétimo nascido.
Seu poder guiará o escolhido.
Para protegê-la haverá o guardião.
Nascido com talentos de bruxo ancião.
O lorde das trevas irá perecer.
Quando o amor da herdeira o escolhido, conhecer.”
Rony respirava com dificuldade. A emoção evidente em suas feições jovens. Cada sarda acentuada na luminosidade na manhã. Olhava fixamente nos olhos de Harry agora. Apreensivo, esperando uma reação negativa, como frustração ou escárnio.
Harry se levantou e caminhou para perto do ruivo. Seu rosto era duro.
– O que é a “Herdeira”? – perguntou o garoto de cabelos arrepiados.
Um pouco surpreso Rony respondeu quase que por reflexo, pois era um conhecimento que ele detinha há muito tempo.
– A Herdeira é a criança especial que se acredita nascer quando o mundo precisa de proteção. A sétima criança, filha de uma sétima criança. As lendas dizem que ela tem o poder de devolver a ordem para os acontecimentos, equilibrar a balança do universo.
Harry sorriu de forma estranha. Estava começando a entender.
– E o “Guardião”? – continuou com as perguntas.
E novamente Rony respondeu de imediato.
– O Guardião é aquele que precede a Herdeira. Ele é seu protetor. De acordo com as lendas é sempre um Bruxo poderoso. Dotado de inteligência e poder comparáveis ao de bruxos experientes e antigos.
Uma vez mais Harry sorriu.
– Você é o guardião – não era um pergunta.
Rony assentiu com a cabeça.
– Dumbledore contou tudo a vocês e os instruiu a manter isso em segredo até que o momento certo chegasse – outra afirmação confiante.
Rony assentiu novamente.
– Diga a verdade Rony. Nossa amizade começou por um pedido de Dumbledore?
– Não Harry. No fim, uma das únicas coisas verdadeiras em minha vida é a nossa amizade. Você é como um irmão pra mim.
Harry pareceu refletir sobre essa afirmação por um breve instante. Virou-se e caminhou em direção ao bosque próximo. Rony apenas ficou parado esperando. Os minutos passavam lentamente. Harry desapareceu de vista entre as árvores. Meia hora depois voltou com uma expressão indefinível
– O modo como você está me olhando agora é idêntico a Dumbledore. A mesma expressão sabia e paciente. Fico me perguntado se é assim que todos os grandes bruxos ficam quando lidam com assuntos importantes.
Rony riu pelo nariz.
– Não me considero um grande bruxo Harry. Sou apenas alguém que teve o azar de nascer numa época de grandes temores e fazer parte de uma profecia agourenta.
– Você pode ser meu amigo, mas eu gostaria de ver como vai lidar com a Hermione quando contar a verdade para ela – e Harry sorriu de forma muito marota para o outro.
Franzindo o cenho, Rony ficou calado por alguns instantes. Harry, percebendo que o outro não entendia o que ele queria dizer de verdade, resolveu falar.
– Está perdoado Weasley.
Sem acreditar, Rony olhou para Harry como se ele fosse uma criatura aberrante.
– Assim, tão fácil?
– Não é nem um pouco fácil Rony – repreendeu Harry – Na verdade isso foi muito difícil pra mim. O tempo que eu passei sozinho agora a pouco serviu para colocar idéias no lugar. No começo eu queria trucidar você. Transformá-lo em um sapo ou coisa do tipo, mas depois me lembrei que você aparentemente pode se transformar em animais e parei para refletir sobre tudo isso. Conheci Dumbledore melhor que muitas pessoas. E posso afirmar que nada do que ele fazia tinha objetivos mesquinhos ou malignos. Se ele pediu para você guardar segredo, então tinha seus motivos. E esses motivos deviam ser muito relevantes. Infelizmente não podemos perguntar a ele pessoalmente, mas acredito que ele queria o meu bem estar e o bem estar do mundo bruxo.
Meio sem graça Rony sorriu. Harry entendera muito melhor do que ele esperava.
– Mas obviamente isso não muda o fato de que você precisa me contar algumas coisas – continuou Harry – Pra começo de conversa eu nunca ouvi falar de bruxos que conseguem se transformar em múltiplos animais. Mas você consegue. Isso tem relação com o fato de ser o guardião?
Imaginando se conseguiria dar uma explicação a altura das expectativas de Harry, Rony começou:
– Não verdade, se você estudasse mais sobre essas coisas, saberia sobre antigos relatos que explicam muito bem isso. O que você presenciou é algo que no passado foi chamado de multi-animago. Um bruxo que possui tamanho entrosamento com as forças mágicas da natureza, que consegue adquirir a forma de toda a fauna existente. Seja ela mágica ou não. Sim Harry, eu consigo me transmutar em qualquer animal. A magia flui através de mim, e me dá habilidades extras para cumprir minha missão.
– E que missão seria essa?
Parecendo pesar cada palavra, Rony respondeu:
– Eu devo proteger a Herdeira e o Eleito, preparando-os para enfrentarem o Lorde das Trevas.
Sem saber que dizer diante dessa afirmação, Harry apenas ficou calado. Várias coisas se passaram em sua mente, mas ele não conseguia encontrar palavras para expressar suas emoções. Ficou parado por uns segundos olhando para o nada quando um raio de sol incidiu diretamente em seus olhos. A manhã avançava cada vez mais.
– Ainda preciso de tempo para assimilar tudo que descobri nas ultimas horas Rony, mas quero que saiba que apesar de tudo, nossa amizade ainda permanece.
Rony sorriu de forma sincera, como nos tempos em que os dois eram apenas crianças e não sabiam como o mundo poderia ser sombrio. Ou pelo menos Harry não sabia. Os dois jovens amigos caminharam lado a lado, indo em direção a uma colina. Algumas centenas de metros e vários feitiços de proteção depois ficava a Toca. E lá, depois de Hogwarts, era com certeza o lugar mais seguro para se estar naqueles tempos sombrios.
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