Capitulo Cinco



Capítulo cinco: Deceiver.

Iluminada pela lua cheia a floresta ganhava proporções romanescas. O vento frio da madrugada dava calafrios em Harry, mas ele procurava disfarçar. Seu olhar estava firme, focado na figura alta para na sua frente.
– Agora não é o melhor momento para essa conversa Harry – disse Rony em um tom de voz cansado – Vamos descansar apenas alguns minutos e depois voltamos a voar.
– Não me interessa se esse não é um bom momento Rony – Harry gritou furioso. Toda a sua raiva finalmente aflorando – Não importa se dezenas de Comensais da Morte estão atrás de nós e o próprio Voldemort está na dianteira. Nada disso importa agora. Eu quero a verdade Rony. Eu preciso da verdade.
– A verdade Harry, é que não temos tempo para isso agora. Em outro lugar e em outro momento e eu explicarei tudo.
Harry queria gritar. Sua vontade era socar o nariz comprido de Rony até que ele desmaiasse. Mas algo nos olhos do ruivo o fez mudar de idéia. O olhar de Rony era triste e cansado. Havia também uma sabedoria implícita que era inegável. Ele parecia estar, naquele instante, décadas mais velho que realmente era.
Um pensamento veio à mente de Harry. Uma lembrança de outro olhar parecido. Ao perceber a profunda onda de tristeza e seriedade de Rony, Harry o achou parecido com Dumbledore. De fato os dois bruxos tinham suas semelhanças. Ambos eram altos e magros, com narizes compridos, de olhos azuis perspicazes e brilhantes. E, claro, ruivos. Isto é, ao menos na juventude, Dumbledore fora ruivo mesmo que em um tom de cor diferente dos cabelos de Rony.
– Você mentiu pra mim Rony – Harry falou sem muita emoção na voz – Não sei há quanto tempo está mentindo, mas não posso confiar em você.
De fato Harry não sabia mais o que pensar. Cada segundo que passava perto do Rony o deixava mais confuso. A raiva veio como um vulcão rompendo as camadas de da crosta terrestre. Raiva do amigo pela certeza que agora abatia seu ser. Raiva de seu inimigo que mais uma vez estragara sua parcela de felicidade. Se Voldemort não houvesse atacado, Rony não teria se revelado e Harry talvez nunca descobrisse que a mentira estava do seu lado desde o inicio.


You've been caught in a lie!
You can't deny it!

So let the war begin
You're far from innocent
Just don't know where
You are the one to blame
You've made a habit of
Fucking up my life. (OW!)


Mas ainda assim nada justificava a atitude de Rony. Eles eram amigos desde o primeiro ano em Hogwarts. Enfrentaram juntos todos os desafios. Sempre lado a lado como irmãos. E agora ele descobria que o ruivo era o contrario do que sempre demonstrou. Não havia falta de confiança ali. Nenhuma incerteza, nada de gestos atrapalhados ou mesmo preguiça moderada. O homem alto na sua frente era um estranho. Outra mentira em sua vida que ele não poderia suportar.


Another fallacy
Is laid in front of me
Now I just don't know
What to believe
Another animal
Sent to devour what-
ever's left inside


– Quem mais sabe? – Harry não desistiu. Não desistiria nunca enquanto não ouvisse tudo.
Rony encarou o chão suspirando. Depois olhou para o alto, vendo a lua, tentando evitar encarar Harry. Aquele momento não era nada fácil para ele. O ruivo sabia que nunca seria perdoado pelo que fez, mas também sabia que não poderia mais esconder a verdade. Virou a cabeça para onde Harry estava e disse simplesmente:
– Gina.
Harry tremeu. Sentia o chão falhar sob seus pés. A garota que amava também estava mentindo para ele? No fim tudo era uma mentira?
– Não Harry – falou novamente Rony como se estivesse lendo os pensamentos do amigo – nem tudo era mentira. Minha irmã realmente ama você. Ela escolheu você.
Pego de surpresa por mais estas palavras, Harry tentou se afastar com passos vacilantes, mas tropeçou em uma raiz e caiu. Rony estava de fato lendo sua mente? Ou percebera o rumo de seus pensamentos apenas por conhecê-lo como nenhuma outra pessoa. Em vista da recente demonstração de habilidades mostradas pelo rapaz, Harry deduziu que era com certeza Legilimência que estava sendo empregada.

I don't know!
And it's all been a lie
And I'll never come to know why
Awoke to discover
You're leaving me now

It's all been a lie
I don't ever want to know why
You've mastered the art of
Deceiving me now.


–Eles estão se aproximando neste instante Harry – Rony tornou a falar – temos que sair daqui agora.
Mesmo em dúvida se devia ou não confiar totalmente em Rony, o moreno se levantou e se aproximou. Enquanto o fazia, olhou mais uma vez Rony mudar de forma para um hipogrifo. Harry não tinha tempo de admirar a beleza do animal e sabia disso, mas ainda não estava acostumado com as informações novas e estava impressionado demais com a facilidade com que Rony mudava de forma.

A mortal enemy
Has been revealed to me
How come I wasn't able to see
Another vampire
Getting their fix from
sucking up my life (OW!)
An evil entity
Had taken hold of me
Ripped out my heart and started to feed
I still remember when
I thought that all you were
Eating was my pride

Estavam em pleno voo. Harry sentia mais uma vez a sensação de liberdade que apenas o ar frio das grandes alturas podia proporcionar. O restante do caminho foi silencioso em demasia. Rony parecia saber exatamente aonde ir, nunca diminuía a velocidade. Voavam a tal velocidade que as vezes as paisagens mais próximas eram como borrões. Depois de quase cinco horas voando por florestas e planícies desertas eles pousaram em uma estrada rústica por onde passavam carroças e quase nunca automóveis. Os primeiros raios da aurora iluminavam os rostos dos dois bruxos. Harry reconheceu o lugar. Era próximo d’a Toca.
– Agora é um bom momento pra me contar a verdade? – Harry perguntou de costas para Rony.
Com um profundo suspiro Rony começou a falar:
– Eu não nasci assim Harry. Assim como você eu sou marcado por uma profecia. Por favor, não me interrompa. E não faça essa cara de espanto. Profecias não são tão incomuns quanto você pensa – Harry que estava de boca aberta prestes a dizer alguma coisa apenas se calou – Assim como você, eu fui marcado quando tinha apenas um ano de idade, mas não da mesma maneira. Você foi marcado por Voldemort com a morte de seus pais, o sacrifício de sua mãe. Comigo foi diferente.
O queixo de Harry caiu. O nome de Voldemort falado através dos lábios de Rony soava alienígena. Em todos esses anos Harry nunca ouvi o outro dizer aquele nome. E agora Rony estava pronunciando aquela palavra sem nenhum traço de medo ou repulsa. Não havia vestígio de nenhum sentimento em seu rosto. Bom ou ruim.
– Como você foi marcado? – perguntou Harry sem se conter. A curiosidade já tomando conta.
– Fui marcado pelo inicio da vida. Calma, eu explico. Como disse antes, a minha marca foi colocada quando tinha um ano. O que me marcou foi o nascimento da Gina.
– Da Gina? Como assim?
– Na verdade é tudo bem estranho sabe? Uma coisa bastante mística. Minha vida é marcada por um número Harry. Um número muito poderoso.
– Não estou entendendo.
– É só pensar Harry. Qual é o número mágico mais forte? Aquele que pode desprender o maior poder? Eu sei que você sabe. Já ouviu sobre isso antes.
– 7 é o numero mais poderoso – respondeu Harry.
– Exato – disse Rony. Logo depois sorriu em tom de vele escárnio, olhando em volta como se esperasse algo.
– O que isso tem a ver com a Gina, Rony? – Harry estava perdendo a paciência. O que era cada vez mais comum nos últimos tempos.
– Tudo Harry. Não percebe? Ela é a sétima filha depois de sete gerações sem mulheres na família Weasley. O nome e o sobrenome dela possuem sete letras. Ela foi a sétima integrante do nosso time de quadribol... Enfim, diversos fatores que tornam a Gina um ponto crucial em tudo isso.
Harry estava cada vez mais confuso. Já tinha ouvido falar sobre o poder dos números, mas até onde sabia isso não influenciava a vida dos bruxos de forma considerável. Começou a achar que Rony estava apenas tentando usar um artifício para não contar a verdade.

I don't know!
And it's all been a lie
And I'll never come to know why
Awoke to discover
You're leaving me now

It's all been a lie
I don't ever want to know why
You've mastered the art of
Deceiving me now.

A paciência de Harry atingiu seu limite. Ele queria respostas e não superstições tolas. Aquilo tudo era infundado demais. Se Hermione ouvisse aquela inicio de história, sairia de perto de Rony proferindo adjetivos que denegriam o nível intelectual do ruivo. Harry não possuía um vocabulário tão articulado quando a amiga, mas conseguia passar uma boa mensagem com as palavras que conhecia.
– Se você acha que vai me distrair com essa história mal contada Weasley, pode tirar o hipogrifo da chuva – o sorriso sarcástico em seu rosto não deixava duvida do ceticismo de Harry. Rony olhou para o amigo com tristeza maior. Aquilo não estava caminhando com boas pernas.
Virando-se de costas, Harry começou a se afastar com passos apresados. Estava com uma fúria crescente no peito. Os pensamentos perdendo o rumo lógico. Sua vontade era de gritar com toda a força de seus pulmões. Queria sacar a varinha e azarar Rony. Queria enfrentar dezenas de Comensais da Morte ao mesmo tempo apenas para conseguir extravasar sua frustração. Gritar não adiantaria muito. Enfrentar bruxos das trevas seria fatal para ele agora devido ao cansaço e duelar com Rony seria humilhante sob diversos aspectos depois de descobrir as habilidades dele. Harry se sentia impotente diante de tantos acontecimentos importantes em menos de doze horas. Sua cicatriz estava formigando há algumas horas, mas ele preferiu guardar segredo, não queria revelar nada a Rony. A cada minuto a raiva aumentava e junto com ela a dor na cicatriz. Era como se a ligação que ele tinha com Voldemort aumentasse conforme seus sentimentos negativos se fortaleciam. Harry podia sentir a raiva de Voldemort como se fosse dele próprio. A frustração de seu inimigo o consumia e se confundia com sua. Ele se afastou de Rony a passos lentos de vacilantes. Nem mesmo percebeu o olhar preocupado do amigo. Alguns poucos metros depois se quedou de joelhos. A dor vinha como uma faca cega cortando sua carne. Voldemort estava gritando. Seus berros de indignação ecoavam por um grande salão de pedra. Harry viu nitidamente os Comensais se afastarem amedrontados. A fúria de seu senhor não era algo que gostariam de sentir. Voldemort se sentia ultrajado, impotente. E isso era algo que ele não admitia. Falou em destruir a vida de seu inimigo e em sua arrogância jamais colocaria a culpa pela fuga do garoto em si mesmo.
Foi quando a idéia veio a sua mente. A ligação que tinha com Harry poderia ser útil uma vez mais. Voldemort sentou-se em sua opulenta cadeira de madeira estofada, com um gesto mandou que seus servos se retirassem e fechou os olhos. Se o garoto ainda tivesse a mente fraca isso não demoraria muito. Harry sentiu a dor em sua cicatriz diminuir enquanto seu inimigo se concentrava. Ele sabia o que viria em seguida e seu desespero aumentou. Tentou com todas as suas forças fechar a mente, mas não conseguiu. Oclumência nunca havia sido o seu forte.
Harry gritou. A dor não era novidade para ele, mas a intensidade era maior desta vez. Ele podia sentir Voldemort vasculhando sua mente, tentando descobrir seus pensamentos. Era como se seu cérebro estivesse sendo violentado por um objeto pontiagudo. A escuridão tomou conta da visão de Harry. O mundo desapareceu. Restava somente a dor, mais forte que uma maldição “Cruciatus”. Ele sabia que desmaiaria se não resistisse. E foi isso que fez. Reunindo todas as forças que lhe restavam, Harry tentou formar uma barreira mental, tal qual lhe ensinara Snape. Mesmo sem a prática adequada, essa medida se mostrou eficaz. A dor diminuiu significativamente.
Em outro lugar, a quilômetros de distância, Voldemort recuou em suas investidas. Como antes no Ministério da Magia, algo na mente e na alma do garoto o impedia de controlá-lo. Desta vez o Lorde das Trevas estava preparado. Mesmo tendo que confrontar uma dor excruciante ele dominaria o seu adversário.

*Don't let me die*
This idiot won't let me go
Slowly penetrating the mind
I tell you now, my little puppet
You'll suffer me
You don't want to let me go
Till iv'e taken over your life
I'll ensure you survive
Little puppet don't die
Let me, let me die
Little puppet don't die
Let me, let me die
Little toy don't die

Foi apenas um breve momento de alívio. Logo em seguida veio uma nova investida mental, mais forte e incisiva que antes. Harry gritou novamente. Não resistiria por mais tempo, embora soubesse que perderia o controle sobre si mesmo. Voldemort também sofria. A pureza no coração de Harry o feria profundamente. Ele precisava ser rápido senão ficaria com sequelas graves.
O lorde penetrava as defesas da mente do garoto sem piedade, causando dor sem hesitação. Logo faltava apenas um ultima barreira por cair. Um sólido muro formado por imagens de Harry com seus amigos em momentos variados e cheios de amor fraternal. Voldemort hesitou em se aproximar. Uma intensa aura branca irradiava dali. Ele sabia que era perigoso, mas se conseguisse vencer a vitoria seria dele de forma completa. Mas logo no primeiro passo foi impedido.

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Deceiving me now.
Atrás de sua parede de memórias, Harry viu Voldemort se aproximar. Ele sentiu medo, pois se não resistisse ali, todos que amava sofreriam. Mas ele não tinha mais forças para resistir. Seu corpo estava cansado e ferido, sua mente desgastada demais. E Voldemort mais uma vez se aproximava. Em sua mente Harry sempre achou que pudesse estar seguro, Mas agora sabia que por suas habilidades extraordinárias em Legilimência, Voldemort tinha total vantagem nesta luta em particular e em qualquer peleja futura que poderia ocorrer se Harry sobrevivesse por algum milagre. O homem de face ofídica deu mais um passo em sua direção quando parou de súbito. Harry sentiu uma mistura de alívio, surpresa e raiva ao ver o que deteve o avanço de Voldemort.

Mesmo dentro da própria mente, Harry não estava sozinho. Seja de forma boa ou ruim ele tinha companhia naquele momento. A única coisa que impedia seu inimigo de dominar completamente sua mente era a resistência ínfima de suas melhores lembranças com seus amigos e Gina. Voldemort aparentemente não se importava muito com essas lembranças. Harry estava preparado para lutar até o fim. Então veio a luz vermelha e de repente lá estava ele. Seu melhor amigo por seis anos e também um completo mentiroso: Rony Weasley. Como ele havia conseguido entrar em sua mente sem ser percebido Harry não sabia, mas era obvio para qualquer um que pudesse observar a cena, que o ruivo estava ali para proteger o amigo.
– Sinto muito cara de cobra, mas desta vez você não vai vencer – disse um confiante Rony.
Voldemort recuou frustrado. A raiva mais uma vez se apoderando de sua face. Quase cuspindo as palavras ele falou:
– Quem é você garoto? Como pode fazer tantas coisas e passar despercebido por mim durante todos esses anos?
Rony riu. E esse gesto provocou uma retorcida nos músculos da face de Voldemort.
– Já parou para pensar que talvez você tenha escolhido matar a criança errada? – e então com um gesto firme, empurrou Voldemort para trás sem tocá-lo. Uma força invisível atuava ali – Aqui não é seu lugar. Saia!
O bruxo das trevas ainda tentou resistir, mas já não podia suportar por mais tempo a dor de estar na mente de Harry. Decidiu não tentar essa estratégia futuramente. Haveria outras formas de vencer. Ele tinha tempo, e sabia disso. Por enquanto se preocuparia em eliminar o bruxo jovem de cabelos vermelhos que mais uma vez o atrapalhara.

Harry abriu os olhos e constatou que estava seguro. O sol iluminava a paisagem e as folhas espalhadas pelo chão moviam-se com o suave vento matinal. Virou um pouco a cabeça e viu Rony sentado ao seu lado fitando alguma coisa entre as árvores.
– Está melhor? – perguntou o ruivo sem se virar para Harry.
Mesmo fraco Harry se levantou. Seu coração estava cheio de dúvidas e ele precisava se livrar delas antes de continuar seu caminho.
– Estou bem o suficiente para ouvir sua história Rony.

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