Capítulo quatro.
Capítulo quatro:
Rony deu alguns passos para trás coma varinha ainda apontada para os inimigos. Seu patrono ainda estava ativo próximo a Voldemort e estava em posição de defesa, pronto para atacar se houvesse perigo. O ruivo olhou diretamente para o líder dos Comensais, demonstrando que não tinha a menor intenção de se deixar ser intimidado por ele.
– Mande seus servos se afastarem, Voldemort – disse Rony com um tom calmo de voz.
Voldemort riu, mas de forma muito parecida com o ressoar de uma serpente.
– Acredita mesmo que vai conseguir escapar daqui garoto?
– É claro que acredito que tenho chances de fuga. Agora se você não acredita, eu tenho que dizer que você tem a péssima mania de subestimar garotinhos, cara de cobra – Rony se aproximou mais ainda de Harry. Pôde sentir seu cotovelo tocar o amigo – Fique atrás de mim – ele sussurrou.
Harry estava confuso. As coisas estavam se desenrolado de forma estranha diante de seus olhos. Rony enfrentando Voldemort de frente? Derrubando Comensais e dementadores com facilidade? E mostrando uma confiança absurda diante de um inimigo que poderia matá-lo como se fosse um inseto? Tudo estava de pernas para o ar e ele não sabia o que fazer.
Harry sentiu os pelos de sua nuca eriçarem quando viu Voldemort sacar sua varinha e aproximar-se passando por seus Comensais. Seus lábios pálidos estavam crispados de fúria que ele tentava esconder.
– Imagino que você se considera digno de enfrentar Lorde Voldemort em um duelo, não é mesmo garoto?
Rony riu com desdém, mas manteve a postura de combate. Harry já havia visto o amigo sorrir desse jeito. Sempre que a situação era perigosa ele ria. Harry sabia que essa era uma atitude de defesa. Sabia que o riso era de nervosismo, ou pelo menos achou que era isso nos últimos seis anos.
– Não importa se eu me acho digno ou não – falou o ruivo – Não é meu o papel de enfrentá-lo no fim disso tudo. Hoje eu apenas vou garantir que as coisas ocorram da maneira correta – e girou a varinha fazendo com que um raio vermelho cortasse o ar em direção a Voldemort.
O homem outrora conhecido como Tom Ridle não se surpreendeu com o ataque. Na verdade já o esperava. Um “Protego” bem aplicado bastaria para impedir o feitiço, e assim foi feito. O que Voldemort não esperava era que o feitiço lançado por Rony tivesse tanta potência que o arrastasse por quase um metro antes do efeito se dissipar totalmente.
Os olhos vermelhos de Voldemort arregalaram de surpresa. A energia que usou para bloquear o feitiço por pouco não foi suficiente. Imaginou que apenas uma parcela de sua essência magia seria suficiente para parar um feitiço lançado por um adolescente, mas estava enganado. A potência da magia era elevada de tal forma que beirava o absurdo. Tamanho poder mágico era incomum, para não dizer, impossível em alguém com tão pouca idade. Algo estava acontecendo naquele lugar que ia além dos conhecimentos de Voldemort e isso não poderia ser tolerado. Finalmente depois e muitos anos o bruxo das trevas duelaria a sério.
Harry segurava sua varinha firmemente na mão direita. Apesar de estar aturdido com os acontecimentos diante de seus olhos, ele não era o tipo de homem que ficava parado enquanto outros agiam. Mesmo percebendo claramente que Rony dava conta da situação se ela se restringisse aos Comensais, ele sabia que quando o mestre dos mesmos resolvesse se manifestar seriamente a situação mudaria. Precisava ajudar da melhor maneira que descobrisse. Foi então que ouviu uma voz dentro de sua mente. Uma voz familiar e confiável.
“Não se espante com o que vai acontecer. Quando o momento chegar, eu quero que você dispare quantos feitiços puder para desestabilizá-los. Confie em mim.” Harry não encontrou motivos para duvidar daquela voz, afinal era seu amigo Rony falando. É verdade que era espantoso o fato de ele estar falando dentro de sua mente, mas essa era uma questão que poderia ser respondida em outra ocasião.
Rony estava nervoso. Seu tempo estava acabando e ele estava ficando sem recursos. Sabia que Voldemort era poderoso, mas não fazia idéia do quanto. Não poderia dar-se ao luxo de um combate aberto senão ele e Harry morreriam. Só restava uma opção, e ela era arriscada demais. Talvez por isso mesmo funcionasse.
Com um sorriso nos lábios, o jovem ruivo abriu os braços e curvou o corpo para frente. Todos no local viram espantados quando seu corpo começou a mudar de forma. Belatriz Lestrange correu para perto de seu mestre buscando apoio. Dolohov quedou-se de joelhos. Voldemort estava estático, sem esboçar qualquer emoção, como se esperasse pra ver o que aconteceria em seguida. Harry sentiu uma imensa vontade de correr, fugir para um lugar seguro, mas no momento crucial que divide os covardes dos heróis, lembrou-se das palavras de seu amigo. Ele tinha que ficar.
No lugar onde antes estava Rony Wesley, agora um imponente dragão abria as asas. As escamas eram rubras como sangue, os olhos amarelos eram como o ouro brilhante, as garras e saliências ósseas eram como navalhas afiadas prontas para desmembrar quem por azar estivesse no caminho da criatura. Harry apenas olhava para a fera, ao mesmo tempo admirado e espantado. Sabia que ali estava na verdade seu melhor amigo de anos, mas em nenhum momento ele poderia imaginar que Rony fosse um animago. Um bruxo que podia tomar a forma de um animal. Na verdade Harry nunca tinha ouvido falar de um animago que pudesse assumir a forma de um animal mágico antes, aquela era a primeira vez que via algo do tipo.
O dragão olhou para os Comensais e estufou o peito. Mesmo alguém que não fosse especialista em dragões saberia o que aquele gesto significava. Voldemort levantou a varinha e conjurou o feitiço protetor com o máximo de potência que conseguiu.
O fogo veio como uma cachoeira vermelha. As labaredas eram mortais. As árvores em volta tornaram-se incandescentes de imediato. Os Comensais não morreram carbonizados apenas por causa da proteção de seu mestre. Alguns poucos estavam fora da barreira protetora erguida por Voldemort, e antes que eles pudessem agir Harry os derrubou com feitiços estuporantes como fora instruído a fazer. Harry não corria perigo, protegido pela imensa massa que era a própria criatura. O sopro de um dragão era uma das mais poderosas forças destrutivas do mundo bruxo. As chamas não se apagavam mesmo com magias poderosas e mesmo o mais resistente dos metais poderia se tornar liquido se exposto diretamente.
Rony Wesley sabia disso, como sabia de muitas outras coisas que guardava apenas para si. Aquelas chamas eram a distração que ele precisava. O tempo extra que obtivera para fugir. Sem perda de tempo, voltou para sua forma humana e correu. Tinha que ser rápido. Passou por Harry puxando-o pelo braço.
– Temos que ser correr. Não temos muito tempo – gritou o ruivo.
Harry correu por puro reflexo. A mente trabalhando incessantemente. Cada informação nova sendo absorvida e armazenada.
– Como você fez isso? – perguntou o menino que sobreviveu.
– Não temos tempo para isso agora Harry. Falamos disso depois.
– Mas...
– Depois – gritou Rony encerrando a questão.
A fumaça começava a tomar conta do lugar. Harry podia ouvir os gritos de fúria de Voldemort dezenas de metros atrás deles. O bruxo tentava sem sucesso apagar as chamas que envolviam quase toda a clareira. Harry correu como nunca em sua vida.
– Rony! Existem feitiços anti-aparatação neste lugar – disse para o ruivo.
– Eu sei Harry, mas precisamos apenas ganhar alguma distância.
Rony não olhava para traz em nenhum momento. Depois de alguns instantes ele parou repentinamente. Olhou em volta e depois para o local de onde eles tinham saído. O forte clarão vermelho iluminava a noite densa, ofuscando até mesmo a lua prateada no céu.
– Aqui já está bom – disse Rony. Venha Harry, não podemos perder tempo – e uma vez mais seu corpo mudou. Harry esperava ver outra vez o imponente dragão vermelho sangue, mas para sua surpresa em vez de escamas, surgiram penas. Em vez de presas afiadas, um bico curto e curvado. Em vez de olhos amarelo-ouro flamejantes, belas órbitas brilhantes como o céu. Rony havia tomado a forma de um majestoso hipogrifo acaju.
O animal olhou para Harry e inclinou a cabeça respeitosamente. Aquela situação não era em nada normal para o moreno. Ele sabia que aquele era seu melhor amigo, mas tudo que sabia sobre os animagos, estava caindo por terra ali, naquela floresta desconhecida. Animagos tomavam a forma de um único anima e jamais a alteravam. Se o bruxo escolhesse a forma de uma serpente, sua transformação seria em uma serpente até o fim de seus dias. Mas Rony mudara de forma duas vezes para feras distintas e ainda por cima feras mágicas, o que teoricamente não era possível.
O hipogrifo arranhou a terra com a pata dianteira, nervoso e impaciente. Harry saiu de seu torpor momentâneo perceber a intenção do outro. Montou no dorso do animal e se segurou na região perto do pescoço.
Assim que percebeu que o cavaleiro estava firmemente apoiado, Rony abriu as potentes asas de sua forma animal. Tomou impulso com as patas traseiras e começou a correr. Harry quase pôde esquecer-se da tensão de momentos antes quando sentiu o vento no rosto e nos cabelos. A velocidade aumentava cada vez mais até que o solo começou a se distanciar. Harry olhou para traz e viu as formas vorazes das labaredas impedindo os avanços dos bruxos das trevas. Conseguiu enfim respirar traquilo ao constatar que na velocidade que avançavam, ele e Rony não poderiam ser alcançados. Ainda conseguiram ouvir o grito frustrado de Voldemort metros abaixo de si.
Harry sorriu, aliviado por mais uma vez ter escapado do assassino de seus pais, mas logo lembrou que teria que se confrontar diretamente com ele muito em breve se quisesse que o mundo que tanto amava sobrevivesse. A guerra estava de fato declarada.
Voaram por mais de uma hora antes de Harry mostrar sinais de cansaço. Os ferimentos em seu corpo começaram a doer novamente depois que o nível de adrenalina abaixou.
– Precisamos descer – disse para o amigo – meu corpo está doendo.
Incontinenti, o hipogrifo abaixou a cabeça e inclinou o restante do corpo. Eles estavam a uma grande altitude, mas em poucos instantes o chão estava próximo. Assim que pousaram, Harry desmontou e sentou na grama úmida da madrugada. Ficou olhando enquanto o hipogrifo mudava de forma para novamente ser Rony Wesley. Nunca antes o rosto de seu melhor amigo pareceu tão desconhecido para Harry. Era como se só o estivesse conhecendo agora. Ele estava diferente em vários sentidos. Observando mais atentamente era possível perceber uma diferença singular de postura. Rony estava mais altivo. Os ombros não estavam mais caídos e relaxados. O modo como ele andava não era desengonçado como antes e os olhos mostravam uma seriedade que não combinava com o Rony que Harry conhecia. Aquele na sua frente era outra pessoa. Tinha que ser, porque senão a verdade seria dolorosa demais para Harry suportar.
Reunindo forças as profundezas de seu ser, Harry falou:
– Precisamos conversar Rony.
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