Capitulo Três



Capítulo três:

Sendo praticamente arrastado por Lucio Malfoy, Harry se preparava para, uma vez mais, confrontar seu inimigo. Pro longos minutos eles caminharam entre árvores e capim selvagem. A cada passo que dava o garoto sentia que se aproximava mais do seu destino. Sabia que seria impossível para ele derrotar Voldemort. Mesmo que Harry fosse um bruxo poderoso como Dumbledore, seria impossível. Apenas duas de suas Horcruxes haviam sido destruídas. Assim, Voldemort continuava de fato, imortal.
O som de vozes despertou Harry de seus devaneios. Mais à frente, em uma ampla clareira, estava um grande grupo de Comensais da Morte. No alto, mais afastados do grupo como abutres esperando pela oportunidade de comer, havia vários dementadores fazendo o ar ficar frio e o ambiente mais tenebroso. Mais afastado do grupo. Sentado em uma grande pedra lisa estava o líder. O homem antes conhecido como Tom Ridle esperava pacientemente. Mesmo escondido parcialmente pelo capuz, era possível ver que suas feições eram horrendas. A pela estava pálida como a de um cadáver. Os as narinas em nada se assemelhavam com as de um ser humano. Mais pareciam as fossas nasais de uma serpente. Os olhos, de uma vermelhidão sanguínea, eram capazes de tirar a coragem de um homem. Aquele era Lord Voldemort. O ser que havia matado os pais de Harry. Que havia tomado parte na morte se seu padrinho. Que havia conspirado para a queda de Alvo Dumbledore e que agora esperava a chegada se Harry para enfim terminar o que havia começado dezesseis longos anos antes.
O garoto olhou diretamente para onde estava seu arquiinimigo, e desejou do fundo do coração que a situação fosse diferente. Cercado por mais de vinte Comensais da Morte e de frente para o próprio Lorde das Trevas, Harry pensou que o seu fim finalmente havia chegado.
Voldemort encarou o garoto que ousou desafiá-lo com uma expressão de escárnio. Depois de tantos anos, ele finalmente vencera. A profecia enfim se mostrara uma piada. Não havia aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas. Deixaria que o garoto morresse com um pouco de dignidade, mas desta vez não o subestimaria. Harry Potter já havia escapado antes e desta vez Voldemort não se daria ao luxo de permitir que seu inimigo escapasse por entre seus dedos.
– Olá Harry – falou Voldemort, com sua voz fria e sem emoção – Que bom que resolveu se juntar a nós.
Empurrado violentamente por Lucio Malfoy, Harry quedou-se de joelhos no chão. Olhou em volta enquanto Voldemort falava. Tentava encontrar uma possível rota de fuga. Ele era corajoso, mas não era estúpido ao ponto de tentar enfrentar sozinho, mais de vinte oponentes ao mesmo tempo. Isso sem contar com o bruxo de feições ofídicas parado logo em frente e que muitos consideravam o bruxo das trevas mais poderoso que já existiu.
– Não é o tipo de festa que me atrai, mas não é de toda ruim, Tom – falou Harry com um amplo sorriso cínico no rosto.
Voldemort olhou com fúria para Harry e o garoto sabia muito bem o motivo. Acabara de chamá-lo pelo nome real. Um nome trouxa que ele repudiava. A ironia da situação não deixou Harry ficar serio. Ele tinha que sorrir. O bruxo que pregava sobre a pureza de sangue, que desprezava os nascidos trouxas, era na verdade ele mesmo, um nascido trouxa.
– Lucio, poderia ensinar ao senhor Potter um pouco de boas maneiras? – Disse Voldemort com os olhos coléricos.
De pronto, Malfoy sacou sua varinha e apontou para Harry. O jovem mal ouviu as palavras sendo pronunciadas. Sabia o que estava por vir. Fechou os olhos e como previra a onda de dor veio avassaladora. Era como se cortassem com uma lâmina cega cada pedaço do seu corpo e depois o jogassem em uma bacia de álcool. Mas ele não gritou. Jamais daria esse prazer novamente ao homem que matou seus pais. Harry agüentou firmemente o máximo que pôde.
– Você se acha valente não Potter? – Lucio Malfoy estava colérico.
– Se eu me acho valente? – Harry sorriu – Não é preciso valentia pra resistir ao feitiço de um fracassado como você.
– Ora seu... – o bruxo loiro aplicou um potente tapa com as costas da mão no rosto de Harry. O golpe machucou a gengiva do garoto fazendo o sangue escorrer em um filete por seus lábios.
– Isso é o melhor que pode fazer Malfoy? Um golpe ao melhor estilo trouxa que você tanto odeia?
– Chega Lucio – disse calmamente Voldemort – devolva a varinha dele e vamos ver do que o jovem Potter é feito. Sim Harry, estou lhe dando uma chance de duelar com um de meus Comensais. Espero ver então uma prova cabal de que em seu corpo corre sangue bruxo de qualidade.
Com uma reverencia para seu mestre, Belatriz jogou desleixadamente a varinha de Harry próxima aos joelhos do jovem. O mais rápido que pôde, ele pegou o objeto e apontou para Malfoy gritando:
– Expeliarmus!
O feitiço de desarme foi rebatido por um “Protego” de ultimo instante do Comensal.
– Jogando sujo Potter? Pois saiba que vai precisar mesmo se quiser vencer este duelo. Você nem mesmo sabe usar um feitiço não-verval – Malfoy ria com escárnio.
Harry sabia que não tinha muitas chances de ganhar este duelo. Talvez tivesse se estivesse em perfeitas condições já que Lucio Malfoy não era nem de longe, um dos bruxos mais talentosos que ele conhecia, mas a dor causada pela maldição imperdoável ainda debilitava seu corpo, impedindo-o de se concentrar.
Fazendo movimentos rápidos com a varinha, Malfoy lançou um feitiço totalmente desconhecido para Harry. Seu espanto aumentou quando filetes negros irromperam da ponta do fetiche mágico. Os movimentos eram semelhantes ao de serpentes no momento do bote e as pontas eram afiadas como navalhas. Harry nada pôde fazer pra se defender do ataque. Seus braços e pernas foram feridos e a dor aumentou ainda mais. Outro ataque veio e cortou seu rosto na altura da bochecha fazendo o sangue escorrer. Era como se um veneno percorresse cada vaso sanguíneo de seu corpo causando uma onda de dor excruciante. E ao mesmo tempo vieram as imagens. Cada momento de sofrimento e solidão emergiu com vivacidade redobrada em sua mente. O som da morte de seus pais, Hermione petrificada pelo olhar do basilisco, a morte de Sirius, Rony envenenado por acidente, a morte de Dumbledore, o fim do namoro com Gina. E quando o rosto da garota surgiu em sua mente, ele a olhou pálida, morta. E seu sangue escorrendo pelo chão frio enquanto uma figura de manto escuro se afastava lentamente. Seu desespero atingiu um nível insuportável e ele gritou. O efeito colateral do feitiço das trevas era terrível.
– Sofrendo Potter? – disse Lucio Malfoy se aproximando com um sorriso frio no rosto – Experimente mais.
Mesmo sabendo que a dor viria ainda mais potente, Harry levantou a cabeça. Precisava ficar de cabeça erguida. Agüentar firmemente tudo o que estava por vir. Tinha que ser forte e resistir. Pois se não o fizesse muitos mais ainda iriam sofrer nas mãos de Voldemort e seus capangas. Olhou diretamente para o rosto de seu agressor e esperou pela tortura.
Malfoy levantou a varinha e apontou, mas o feitiço nem chegou a ser formulado. Uma figura alta e ameaçadora surgiu de cima, como se estivesse voando e pousasse. A ponta brilhante de sua varinha mostrava seu rosto e provava que era humano, mas a ferocidade com que a pessoa atacou, pôs em dúvida sua civilidade.
Harry olhou incrédulo enquanto era salvo pelo inesperado bruxo. Mesmo de costas pra ele era possível reconhecer quer era seu pretenso salvador. A postura, a estatura avantajada e os longos cabelos ruivos brilhantes sob a luz da lua revelavam sem sombra de duvida quem era o homem à sua frente. Seu melhor amigo ha seis anos, Rony Wesley.
Com um aceno violento da varinha, Rony derrubou Lucio Malfoy, desacordando-o. Foi um combate rápido. Bastou um único feitiço e tudo estava terminado. Harry viu Rony se virar para ele e sorrir. Depois viu incrédulo cinco Comensais da Morte tombarem desacordados com um único e poderoso feitiço estuporante.
Aquilo tudo era estranho demais. Só podia ser um tipo de brincadeira. Rony nunca fora um bruxo tão poderoso assim. Era talentoso de fato, isso Harry sabia, mas a falta de confiança em si mesmo o impedia de que explorar todo o seu potencial. Hermione havia falado isso para ele durante todos os anos que se conheciam e mesmo assim não houve resultado. E agora o jovem olhava seu melhor amigo derrubar sem muita dificuldade, bruxos das trevas perigosos que mesmo aurores treinados teriam receio de enfrentar. E não era apenas ele que estava impressionado. Voldemort levantava lentamente da pedra onde estava sentado e olhava para a situação como se visse algo alienígena. Um produto de alucinações. Um jovem bruxo que lutava com ferocidade e derrubava seus servos com facilidade não era algo que se via com frequência.
Com um aceno, o Lorde das Trevas convocou os dementadores para o ataque. Não queria se envolver nesse combate desnecessário, mas não podia deixar que ele se prolongasse. Incontinenti ao comando de seu mestre, os dementadores desceram e avançaram para sua presa, como predadores que percebem uma suculenta presa. Seus longos e esqueléticos dedos esticavam-se ávidos para enroscar no pescoço do alvo.
O ar ficou ainda mais frio. A névoa aumentou perceptivelmente. Harry ficou de pé e conjurou se patrono. Não podia deixar que aqueles monstros sugassem a alma de seu amigo. O cervo prateado irrompeu na noite iluminado a clareira da floresta. Mas sua presença não era o suficiente para afastar as criaturas famintas. Alguns dementadores recuaram, mas a grande maioria continuou a investida. Harry gritou em negativa tentando com todas as suas debilitadas forças impedir, mas ele sabia que não seria o suficiente. Rony estava terminando de vencer mais dois comensais quando percebeu os dementadores.
A reação do ruivo assustou a Harry mais do que os inimigos naquela noite incomum. O ruivo sorriu diante da morte certa. Sorriu e acenou a varinha. Então ao seu lado surgiu a pequenina e bela figura prateada de um cão. Um filhote de terrier alegre e peludo que imediatamente pôs-se a correr em direção aos inimigos. Como se a cena se passasse em câmera lenta, Harry viu o patrono de Rony lançar sua luz por entre os dementadores, correndo como se tudo não aquilo fosse uma brincadeira divertidíssima. Harry podia jurar que viu a língua do cachorro balançando prazerosamente ao vento e sua calda agitada apontas para todas as direções, contagiada pela alegria de um trabalho bem feito.
Um a um, os dementadores fugiram. A luz do patrono era tão intensa e pura que se eles pudessem gritar de dor, o som seria ensurdecedor para qualquer um que estivesse perto. Muitos de arrastavam em desespero tentado sair dali, outros voavam para o alto numa clara tentativa de manter a maior distancia possível da dor. O valente cão protetor parou de correr somente quando estava próximo aos pés do líder dos inimigos. Voldemort olhou para o patrono incrédulo. Nunca em sua vida ele tinha visto um ser tão pequeno e infantil fazer algo tão impressionante. E isso o assustava. Aquele bruxo ruivo o assustava. Alguém que pudesse fazer coisas como aquelas era um perigo em potencial e devia ser eliminado. Imediatamente.

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