Quebrando tudo
No fim do banquete, Alvo estava morrendo de sono. Mesmo estando curioso para conhecer os arredores do castelo, suas pálperas estavam pesadas.
- Por aqui, alunos do primeiro ano... Por aqui. Façam uma fila para termos organização – Disse Roberto Patil, e vários alunos se amontoaram a direita do monitor – Por favor, organização, ou demoraremos um ano até chega a Torre oeste.
- Torre oeste ? – Perguntou Alvo, cochichando para a amiga
- É. Lá fica a nossa sala comunal, Alvo. Nunca leu Hogwarts, uma história ?
- Não...
Rosa bufou.
- É, bem que mamãe disse que quase ninguém leu.
Seguiram a fila indiana, passando por vários lugares do castelo. O garoto levou um susto, quando uma armadura endireitou-se e quando um quadro deu boa noite para ele. Mas Rosa, que já estava acostumada, simplismente cumprimentou o quadro de volta.
Chegaram, finalmente, em frente a uma estátua em forma de águia. Assim que a mesma viu os alunos, virou para o monitor e perguntou.
- O que se podem ser os espelhos da alma ?
Roberto estufou o peito, tentando mostrar superioridade e segurança aos alunos.
- São os olhos, pois refletem nossa áurea e sentimento. Impossível de se romper a ponte com o coração.
A águia assentiu, e abriu passagem para todos. O monitor começou a explicar.
- Para passarem pela águia e entrarem em suas comunais, precisarão responder a pergunta feita. Se não souberem, terão que esperar até alguém acertar.
- E se ninguém souber ? – Perguntou uma garota.
- Se virem, durmam na biblioteca ou com o Barão Sangrento – Mas diante do olhar assustado da aluna, corrigiu – Hehe, brincadeira. É só me chamar, ou chamar qualquer um dos professores.
Alvo, de repente, se deu conta de que estavam na sala comunal.
Era tudo perfeito. Era grande, circular, e as paredes eram enfeitadas com tecidos de seda azul e bronze. O teto era ornamentado com estrelas, e as janelas em forma de arco davam uma bela vista para as montanhas.
- É lindo, não é ? – Perguntou Rosa para Alvo.
- Perfeito.
A lareira estava acessa, dando um ar completamente acolhedor ao ambiente. O monitor se prostou em frente aos alunos e apontou para os dormitórios.
- Meninas, por favor, dormitório a direita.. Meninos, a esquerda, e suas coisas já estão em suas respectivas camas. Agora, tenham uma boa noite. A primeira aula dos alunos do primeiro ano é Defesa Contra a Arte das Trevas, e será as 13:OO. Mais aulas, no mural.
Rosa deu um beijo na bochecha de Alvo.
- Boa noite. E até amanhã !
- Até... – Disse o garoto, corando feito um pimentão. Dizendo isso, se enfiou por meio da massa de alunos que entrava no dormitório masculino, a fim de que Rosa não reparasse no tom rosado que tomava conta de seu rosto.
* * *
Assim que desceu do dormitório e foi para a sua sala comunal, a primeira coisa que fez foi procurar Rosa. Se sentia muito dependente da menina, e sua presença transmitia segurança.
Encontrou a garota saindo de sua comunal. Ainda deu tempo de correr até ela e lhe dar um carinhoso tapa na cabeça.
- Que susto Al...
- Como foi sua primeira noite aqui ? – Perguntou, passando pela estátua de bronze da Águia.
- Não consegui dormir muito bem até uma hora da manhã. Umas duas meninas vizinhas à minha cama estavam muito compenetradas discutindo sobre que garoto elas beijariam.
- Nossa...
- Uma delas falou de você e do Thiago – E dizendo isso, Rosa corou levemente.
Al tropeçou. Um grupo de garotinhas passou, dando risinhos e cochichando, olhando para ele. Algumas até acenaram.
- Como assim, o que eu tenho a ver com elas ?
- Elas te acham bonito, Al.
Era agora ou nunca.
- Você também acha ?
Nisso, Thiago veio correndo em direção aos dois, e Rosa assumiu uma expressão de alívio no rosto.
- E aí, Al ? Feliz de ter ido pra Corvinal ? Ui, acho que mamãe e papai vão te deserdar, sabia ?
- Claro que não ! – Respondeu Alvo, mostrando mais segurança do que sentia – Ele vai compreender.
- Ah, não sei não Al. Lílian provavelmente vai para a Grifinória também, tão corajosa... Você é o único covarde.
- Ele não é covarde ! – Disse Rosa, ameaçadoramente.
Thiago desviou os olhos do irmãos, e pousou-os sobre a menina que estava ao seu lado. Seus rosto adotou um sorriso zombeteiro.
- Que bonitinho. Defendendo o namorado...
- Não é meu namorado – Disse, vermelha.
- Ah, porque não deixa os dois em paz ?
Essa última pergunta veio de uma garota atrás de Thiago. Tinha as bochechas coradas levemente, uma boca carnuda e pequena. Seus cabelos eram castanhos, mas conforme chegando nas pontas, iam clareando até ficar loiro. Seus olhos escuros assumiam uma expressão de desafio, e seus braços estavam cruzados. Thiago engasgou.
- Julia ? Eu... Eu não estava zoando eles.
- Sei. É seu irmão, Thi ?
- É-é.
Julia sorriu e olhou para Alvo.
- Você deve ser o famoso Al. Já você, lindinha, deve ser a Rosa.
Os dois assentiram, e sorriram para a garota.
- Bem, eu tenho que ir. E você também, Thiago, temos aula de Poções.
- Tem razão. Quer que eu carregue seus livros ?
- Não, não precisa Thiago, eu to bem.
- Não, eu carrego – Disse, e se debruçou sobre a garota para pegar alguns livros que carregava.
- Ata... Obrigado – Disse, sorrindo e corando – Agora vamos. Tchau Al, tchau Rosa !
Os dois acenaram e, quando Julia e Thiago se encontravam distantes, começaram a rir.
- Eu... Não acredito ! – Disse Alvo, depois de passar longos minutos rindo com Rosa, e se encaminhando até o salão principal. – Eu não acredito que o Thiago tem uma namorada !
- Bem, não parece ser namorada. Mas ele com certeza gosta dela.
- E ela, dele.
Nisso, Alvo olhou para Rosa, e sua mãe esbarrou na mão da garota.
Reparou que ela tinha os olhos mel, muito claros, e hipnotizantes. Ficou os olhando, parado no meio do corredor. Não queria fazer mais nada, pensar mais nada. Só olhava para os olhos dela, e ela para os olhos dele.
Rosa se aproximou. Alvo também. Foram se aproximando.
- Tão malucos ? – Perguntou Roberto Patil. O casal deu um pulo, assustados e ofegantes – Vão perder o almoço, ficando parados aqui no meio do corredor. Vamos, vamos... – Disse, colocando as mãos nos ombros dos dois, e empurrando até o Salão Principal – Daqui a uma hora e meia vocês tem aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, e eu quero que a Corvinal ganhe a taça das casas esse ano.
Nenhum olhou para a cara do outro até chegarem no salão. Rosa ficou de um lado da mesa, e Alvo, do outro.
Depois de longos minutos calados, sem se encararem nos olhos de tanta timidez, Rosa tomou a iniciativa. Olhou para o menino e falou.
- É melhor esquecermos essa história, ok ?
Ele demorou para responder. Não queria esquecer a história coisa nenhuma.
- Ok – respondeu, seco, e sem concordar por inteiro.
- Quero continuar sendo sua amiga.
- Só amiga ?
Ela também demorou para responder. Mas sua decisão foi firme.
- Só.
- Ok então. Er... Amiga.
Para quebrar o gelo, começaram a conversar sobre a primeira aula dos dois, em como seria, se dariam bem ou mal. Só que Alvo não conseguia esquecer ainda aquela cena, e não conseguia abandonar a vontade de espancar o monitor.
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