Propostas




"Me interessa o futuro porque é o lugar onde vou passar o resto da minha vida.
"
(Woody Allen)




Dois meses haviam se passado desde aquele dia.

A cada dia eu percebia que as coisas poderiam estar melhorando. Meu pai ficaria orgulhoso de saber que eu estava treinando o time de Quadribol da Sonserina, eu não tive tempo de dizer isso a ele, e me arrependia profundamente de nunca ter contado aquele detalhe. Eu também não podia explicar para ninguém a falta que sentia dele, aquela dor aguda no peito só de pensar que quando chegasse na mansão novamente eu não o veria, ainda ficava me torturando durante a noite. Minha mãe, no entanto, durante aqueles dois meses mandara-me cartas contando tudo o que estava acontecendo, e sentindo. Até que no fim de abril ela contou que estava visitando os seus pais, meus outros avós, e a minha tia, na Irlanda. Comecei a ficar mais tranqüilo quanto a ela.

Não era possível medir a dor que ela sentia com a minha, ambas eram fortes demais para serem comparadas, mas sabia que ela não tinha ninguém para conseguir roubar sua dor, e eu sentia muito por aquilo. Sua única chance de melhorar era ficar esperando tudo se dissipar, o que parecia tornar as coisas mais difíceis.

Mas numa de suas cartas ela assegurou que ficaria bem, ela estava com a sua família Greengrass, minha mãe precisava deles. Então eu sabia que ela ficaria bem.

Recuperei rapidamente a parte dos estudos que perdi nas primeiras três semanas de aula. Alvo Severo me ajudou com aquilo, e quando lhe perguntei a razão da sua ajuda ele acabou dizendo:

– Rose prometeu que me enforcaria se eu não ajudasse você em poções, pelo menos. Se ela não tivesse se matriculado em tantas matérias extras, além dos N.I.E.M’s, ela poderia fazer esse trabalho por você, mas fica aí achando que eu devia ser seu amigo e ajudá-lo...

– Sinceramente, se não está disposto a isso – e apontei para suas anotações do caderno – sou capaz de me virar sozinho.

Depois ele me encarou e preferiu dizer a verdade:

– Fala sério, você perdeu seu pai. Eu tenho que fazer alguma coisa por você.

Mas ninguém me surpreendera tanto quanto Zabini naqueles tempos. Ele se encontrou comigo depois de um ou dois anos sem encarar-me nos olhos realmente. Entrou no vestiário quando terminou o treino de Quadribol naquela semana, e me chamou:

– Ei, Scorpius.

– Travis – falei, guardando o uniforme num armário.

– Sinto muito pelo seu pai.

– Hum.

– Olha – ele se aproximou. – E me desculpe por ter chamado você de covarde um dia.

Assenti com a cabeça, e fiz menção de caminhar mas ele impediu, dizendo:

– Eu não sabia de nada. Nem que você gostava da Weasley. Jamais suspeitei disso.

– Espero que em fim perceba.

Ele estendeu sua mão direita para eu apertá-la.

– O que significa isso? – perguntei, analisando-a com uma sobrancelha erguida.

– Para você confiar em mim de novo. Eu não vou mais decepcioná-lo.

– Muito admirável da sua parte, Zabini.

– Não vai apertar?

– Não que eu dependa da sua confiança agora – disse, apertando-lhe a mão. – Mas não quero deixá-lo no vácuo.

Ele franziu a testa.

– Oh, entendo – Zabini disse. – É tanto rancor assim?

– Do quê?

– De mim, do que eu disse, do que eu fiz. Não tem mais como voltarmos a nos falar como antigamente? Ou você está satisfeito com a companhia dos Potter e dos Weasley e não precisa de um companheiro sangue-puro?

– Talvez um dia, Travis, não se preocupe, nós vamos rir do que dissemos um para o outro.

– E por que não fazer isso agora?

Olhei para o relógio.

– Estou esperando envelhecer mais uns trinta anos.

Zabini ficou impassível. Eu não conseguia decidir se deveria agir daquela forma, sarcasticamente, mas não tinha muita certeza se seria prudente ser amigável com ele depois de tudo.

– Tudo bem – ele falou. – A escolha é sua agora. Pois escolhi pedir desculpas, algo que nunca fiz a alguém na vida. Se quiser confiar em mim, você que decida.

– Isso é por que meu pai está morto e está com pena de mim? – eu não falei secamente, mas nem dei a entender que estava sendo educado.

– Uma hora e de algum jeito eu tinha que perceber que eu estava errado.

Ele acrescentou aquilo com uma expressão séria. Eu assenti com a cabeça, devagar, outra vez.

– Não prometo que voltaremos a nos falar como antigamente – eu lhe disse. – Mas podemos evitar brigas. Ou ressentimentos.

E sem querer saber o que ele falaria, ou perguntaria depois, eu fui embora para me encontrar com Rose.

Ela andara um pouco diferente desde aquela tarde no dormitório – como costumava dizer – e revelara que tomava uma poção, aquela para que nada acontecesse, para que não ocorresse perigo de engravidar. Eu perguntara a ela desde quando desconfiava que aconteceria nossa primeira vez, e ela, de uma forma bem tímida contara: “No porão, em casa, nas férias, antes de voltar para sua casa, quando você me beijou daquele jeito... abriu um espaço na minha mente que uma hora ou outra aconteceria. Minha mãe sempre ficou falando, ainda mais depois que eu comecei a namorar você, da importância de se prevenir, e ela, bem, me falou que eu já deveria me preocupar com essas coisas, que precisava tomar cuidado, não que eu já não soubesse, mas acho que podemos ficar tranqüilos quanto à prevenção...”. Eu pedia para ela não se sentir tímida em relação a isso comigo, e que podia confiar em mim. E ela sorria e ainda comentava: “Eu posso não ter vivenciado um perfeito primeiro beijo, mas sei que com você vivenciei pela primeira vez a melhor experiência da minha vida.”

E eu não deixava de concordar com ela. A lembrança do que fizemos no dormitório da Sonserina era a melhor que eu tinha depois da morte do meu pai.


***

– Bom... – eu olhei para a diretora McGonagall de esguelha, temendo ver a repreensão estancada nos olhos dela. – Bom, eu ainda não sei qual ambição seguir.

Ela me analisou através dos óculos. Depois da páscoa, os alunos do sétimo ano deveriam conversar com a diretora para preencher alguns formulários que seriam levados a um campo de trabalho de qualquer parte do mundo da magia, dependendo da ambição que o aluno gostaria de seguir. Eu, no entanto, não fazia nenhuma idéia. Talvez trabalhar no ministério em algum cargo que valesse a pena. Mas, profissão eu não sabia.

– Não sabe sua ambição, sr. Malfoy? Disse á mim ano passado que gostaria de ser auror.

– Todo mundo queria ser auror naquela época, mesmo quem não entrou na classe dos N.I.E.M’s – eu respondi. – E como passei em todas as matérias, resolvi dizer que era isso o que eu queria. Quero dizer, minhas matérias favoritas são as que dependem para ser tornar auror. Mas não tenho certeza se é isso o que eu quero mesmo, se eu tenho vontade ou até mesmo capacidade.

– O senhor possui ótimas expectativas, vejo aqui, em cinco anos nas aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas, Transfiguração, Poções... Asseguro-lhe que tem capacidade. Agora, devo dizer que se não tem vontade deve tentar escolher outra ambição.

Eu fiquei calado. Era difícil pensar naquilo depois de tanta coisa, mas eu estava tentando. Sabia que eu dependeria de uma profissão no futuro, ou até mesmo em três meses, quando acabariam as aulas, acabaria tudo, e estaria no momento de seguir uma vida e ganhar próprio dinheiro, não só a herança da família.

– Hum... – foi só o que eu disse. – Não tem outra chance, tenho que resolver isso agora mesmo?

A diretora não respondeu imediatamente. Tirou os óculos lentamente e o pousou na mesa.

– Não é apenas o senhor que está na dúvida sobre o futuro, sr. Malfoy. Muitos ainda preferem escolher a ambição quando já estiverem fora da escola. Mas terá mais chances de conseguir um emprego rápido e preciso se preencher esses formulários agora.

– Só que o problema é que não há profissão que me fascine.

– Receio que deveria ter feito mais pesquisas. Impossível não se fascinar por alguma profissão, ainda mais com as suas notas. Altas demais, só que me parece que o senhor não tem muito interesse.

– A senhora podia me dar alguma solução.

– Solução para o quê exatamente?

– Para ficar interessado. Para encontrar alguma ambição, para não ser um vagabundo.

A diretora McGonagall espreitou em minha direção por um momento, mas por causa da falta dos óculos no olho. Ela colocou-os de volta no rosto. Suspirou, talvez ao ver minha expressão de desespero.

– Sr. Malfoy – disse claramente. – Não dou essa idéia há um bom tempo, gostaria de deixar os alunos se interessarem sozinho. Mas simplesmente pelo seu desejo de se interessar, me levará a lhe dar um conselho.

Continuei olhando para ela, esperando.

– Viajar.

– Hum?

– Viajar para muitos países, conhecer bruxos e admirar os trabalhos deles.

– OK – eu falei calmamente. – E depois?

– Depois, assim que descobrir sua ambição e o que realmente quer fazer, não haverá problemas para se tornar um profissional. Fique satisfeito e orgulhoso de ter notas tão boas durante os sete anos escolares aqui em Hogwarts.

Era uma boa idéia, e a minha única chance. Conhecer bruxos, admirar trabalhos, viajar, sair do país. E ao constatar que assim o faria, a diretora assentiu e me desejou boa sorte. Eu ia realmente precisar.

No almoço, Alvo perguntou o que eu estava pretendendo fazer e contei. Ele tinha um desejo de se tornar auror, e pelo visto não seria tão difícil para ele já que toda sua família admirava aquela ambição, o próprio pai era um auror. E mesmo sabendo os riscos que essa profissão garantia, Potter estava altamente qualificado para isso, de alguma forma.

– Mas vai começar a viajar quando? – perguntou, meio interessado.

– Depois que finalizar o sétimo ano, Potter, isso é óbvio.

– Estou dizendo... quando, que dia, que mês, que ano?

– Vou aproveitar as férias de verão para isso.

– E o que acha que Rose vai achar disso?

– Ela vai comigo, achei que também fosse óbvio.

– Mas já falou com ela?

– Não, vou falar mais tarde. Ela está na sala da diretora provavelmente contando tudo o que ela quer fazer, porque, ao contrário de mim, ela está na dúvida entre cinco profissões e não sabe qual decidir. Todas a fascinam.

“Queria ensinar Transfiguração” uma vez ela contou a mim, sonhadoramente. “Ou melhor, poderia trabalhar no Ministério em Departamento de Execução das Leis da Magia! Já vi minha mãe trabalhando e parece fascinante. Mas eu queria renovar um pouco, todos da família fazem praticamente a mesma coisa... Mas sabe o que eu mais gostaria, gostaria mesmo? Sair do país, entende? Não só porque tive avós que moraram na França, tios na Romênia, depois outros até na Escócia e na Inglaterra, mas ficar conhecendo as outras culturas é incrível, é interessante... E contando com isso eu bem que podia ficar para o Departamento Internacional de Cooperação Mágica no Ministério! Ah, na realidade vou perguntar a McGonagall qual a melhor opção, o que pode valer a pena... ela vai saber me dizer.”

Logo no final da tarde, nos reencontramos na ponte de Hogwarts para compartilhar as novidades. Rose chegou toda aflita exclamando:

– Scorpius, McGonagall disse que todas são ótimas opções! O que eu faço, meu Deus?

– Mas você ainda não decidiu? – eu fiquei pasmo.

– Eu já descartei a possibilidade de ensinar Transfiguração. Acho que definitivamente vou ter algum futuro em um dos departamentos do Ministério. Mas e se... e se eles não me aceitarem?

Eu só consegui rir, da forma engraçada como soava a preocupação dela.

– Ridículo você se preocupar com isso. É o de menos agora, Rose.

– Só que... eles vão analisar o meu currículo como a diretora diz, e só daqui três meses vou descobrir para que departamento estarei trabalhando!

– Você se sairá bem em qualquer um, não importa qual.

– E você?

– O que tem eu?

– Conseguiu se garantir em alguma coisa?

– Não. Mas vou, se depender de você.

– Como assim?

– Nas férias vou viajar, você sabe, conhecer bruxos e admirar os trabalhos dele, essa é a solução que a diretora deu. Mas eu só vou viajar se você quiser ir comigo.

Rose me olhou, incrédula.

– Escuta, – logo fui argumentando antes que pensasse em alguma resposta –, eu passei metade das férias passadas com sua família, agora eu só quero ficar com você. E é minha vez de convidá-la.

Ela abriu o maior sorriso que já vi estancado no seu rosto. Só que ela ainda ficou sem dizer nada, porque eu não estava deixando:

– Lembra quando você disse que queria sair do país? É uma ótima oportunidade antes de receber a resposta do Ministério para começar a trabalhar de verdade. E aí, Weasley, vai me deixar roubá-la por um ou dois meses nas férias? Isso, pela primeira vez, nem dependerá dos seus pais, apenas da sua resposta.

– Passar as férias com você? Sozinhos? Em outro país? Sem Ronald atrapalhando ou bisbilhotando?

– Em outro país, não – eu a corrigi, satisfeito com a empolgação crescente na voz dela. – Nós vamos viajar pelo mundo, se você quiser. Não ficaremos apenas em um país. Poderá beneficiar a mim, a você, a nós dois. O que acha?

Ela tomou fôlego, mordendo os lábios para se conter da felicidade e disse, então toda equilibrada:

– Isso parece admiravelmente tentador.

– Eu sei que você quer saltitar por aí, Rose. Vai, não se prenda a essa vontade doida de pular como uma criancinha que acabou de saber que vai passar o dia inteiro em um parque de diversão.

Mas ela não saltitou. Ela pulou em minha direção e chapou um beijo tão forte na minha boca que chegou a me fazer bambear no lugar. E eu soube que aquela tinha sido sua resposta.

No dias depois daqueles não havia mais como se entristecer com a idéia de que a cada entardecer e amanhecer faltaria, assim, poucos meses e dias para finalizar o que os professores chamavam de “mais uma etapa”. Os alunos do sétimo ano decidiam comentar sobre os futuros que desejavam em suas vidas, e a cada semana pareciam ansiosos – e temerosos – para o último teste de Hogwarts.

Mas o que animava os alunos era a chegada do jogo Grifinória-Sonserina. A Grifinória vencera Lufa-Lufa e se vencesse o próximo jogo, eles disputariam a final contra o time da Corvinal.

– Escutem – eu dissera ao time, como sempre meia hora antes do jogo começar. – Mesmo se vencermos essa partida, não teremos chances de ganhar a taça. Isso não é pessimismo, é realidade. Mas não importa, desde que se concentrem para tornar as coisas meio complicadas para a Grifinória no campo. Então enquanto faço meu trabalho tentando capturar o pomo, vocês terão que conquistar o maior números de pontos possíveis. Entenderam?

– Certo – disse Olivier, o primeiro a se levantar. – Não vamos facilitar para eles.

– E, Scorpius – comentou Jane. – Você realmente não combina com esse tom de voz tão paciente e calmo.

– É – concordou David, ao meu lado. – Acho que está andando muito com a Weasley ultimamente. Vou ficar mesmo preocupado se você decidir ser paciente com o irmão dela, enquanto estiverem atrás do pomo para a vitória.

– Fiquem tranqüilos.

E, daquela vez, independente da Grifinória ter vencido, os elogios que os torcedores fizeram para os nossos jogadores, ajudara na idéia de que mesmo perdendo, valera a pena ter jogado. Não foi como aquele jogo em que se não fizesse a coisa certa parecia que o mundo inteiro ia cair sobre o meu ombro. Eu vira suor nos rostos dos grifinórios, expressão de cansaço e desespero por chegarem a achar que iam perder.

Como em todo jogo de Quadribol, poucos jogadores saíram ilesos. Olivier arremessara um balaço em direção a Hugo – mesmo depois afirmando que não era o que pretendera –, que acabou quebrando uma parte de sua vassoura. Mas antes que brigassem um com outro, como os torcedores na arquibancada sugeriam “briga! Briga!” Hugo deixou de lado e continuou na tentativa de agarrar o pomo. E quando conseguiu, uma multidão de grifinórios correra para o campo parabenizar o Hugo. E ele se sentia tão satisfeito com o resultado que eu mesmo pude perceber que não havia nada mais incrível para ele do que ser o alvo de muitas atenções.

Eu ia saindo do campo com o time quando ouvi a voz dele me chamar, sempre pelo sobrenome. A multidão da Grifinória ficou olhando para nós dois, estática. Hugo era mais alto, – Rose chegava à altura de seu ombro enquanto alcançava meu queixo, então eu sabia – mas me aproximei sem hesitar. Eu era mais velho.

Naquele instante, no meio de campo, o time e os torcedores da Grifinória estavam de um lado e os da Sonserina de outro, como se fossem começar uma batalha ou algo parecido.

Só que Hugo estava pensando em outra coisa, e parecia não se importar com a repreensão de nenhum outro jogador.

– Vocês podem comemorar com o nosso time, se quiserem. Não tiveram perdedores no jogo.

– A Sonserina nunca comemorou com a Grifinória – eu o lembrei.

Então Alvo, que apareceu ao meu lado, segurou meu ombro e disse:

– Exatamente, assim como um Malfoy nunca se misturou com um Weasley, ou como um Potter nunca entrou para Sonserina. Mas veja como estamos agora.

Observei o uniforme de Alvo com atenção. Ele realmente era um Potter, mas vestia uma gravata da Sonserina. Depois vi Rose, que estava se aproximando com sua prima Lily. Ela realmente era uma Weasley, mas segurou meu rosto com as duas mãos e me beijou rapidamente na frente todos, como se estivesse me dando os parabéns pelo jogo que eu havia perdido.

– Sabe, comecei a achar que só existimos para mudar um pouco as coisas – comentou Alvo, logo depois. – Não vale a pena continuar na mesma, Sonserina com Sonserina, Malfoy com sangue-puro, Weasley com traidores de sangue. Nem Potter para a Grifinória.

– Alvo já vai começar a filosofar – riu Rose cruzando os braços.

– Mas é, ué! – ele disse, parecendo ofendido. – Não é verdade?

– É sim, Alvo, você tem razão – disse Hugo apoiando o braço no ombro do primo, amigavelmente. Eles começaram a andar em direção ao castelo, e o time da Grifinória com seus torcedores estava logo atrás, seguindo-os.

David se aproximou de mim, meio duvidoso, quando Rose e Lily os acompanharam.

– Você vai? – ele perguntou, observando Lily de trás.

Eu estava vendo a multidão se afastando.

– Vou. E você? – Ele ficou calado, parecia ainda pensar na possibilidade. – A Potter vai estar lá – eu o lembrei.

– Como se atreve a...

– Eu só estou dizendo! Quem ainda não percebeu que você vive babando por ela?

– Eu não babo por ninguém – falou, meio com desprezo, ou envergonhado. – Muito menos por uma Potter.

– Decida por você, David – eu lhe disse. – Pois eu já tenho a Weasley.

Se o resto do time me seguiria isso seria da escolha deles. Estava evidente qual teria sido a minha escolha quando me apressei a andar e caminhei ao lado de Rose, com seus primos, e amigos. Ela procurou meus dedos com os seus e eu segurei então a sua mão. Com um sorriso pregado no rosto, nós acompanhamos os torcedores até a sala comunal da Grifinória, juntos, e daquela vez ninguém reclamara que havia três, quatro ou cinco sonserinos naquela sala.

Como Alvo dissera, não valia a pena continuar na mesma. Uma hora as coisas tinham que mudar. E era na nossa geração que as mudanças estavam acontecendo.


***


– Calem a boca vocês dois, a professora quer falar! – exclamou Rose virando-se bruscamente para mim e para Alvo na carteira atrás dela e de sua amiga Anna.

– Obrigada, srta. Weasley – agradeceu a professora Elinor, de transfiguração, quando eu e Alvo paramos de conversar.

– Puxa-saco – eu murmurei para Rose, assim que a professora voltou a falar. Ela não se virou para mim.

– Irritante – apenas disse, olhando sempre para a professora.

– Certinha.

– Imaturo.

– Não vai olhar para mim?

– Quero prestar atenção na aula.

– Sabe que eu adoro quando me ignora?

Ela me ignorou de novo.

– Quer ir ao baile de formatura comigo? – Como se ela já não fosse.

– Scorpius, preste atenção na aula!

– Eu prometo que não farei nenhuma aposta estúpida para conseguir beijar você.

– Vai continuar mesmo? – ela cochichou, irritada. Odiava quando alguém fazia isso com ela no meio de uma aula importante como de Transfiguração.

Mas ela ainda ficava com a cabeça virada para frente.

– Eu paro se você decidir olhar para mim.

E ela realmente não olhou. Cutuquei Anna ao lado dela.

– Troca de lugar comigo.

Assim que me levantei, quando Anna assentiu, a professora parou de falar para a turma e me encarou.

– Onde pensa que vai, sr. Malfoy?

– Potter quer ficar ao lado da Holls, não posso deixá-lo na vontade de ficar com ela antes da festa – eu apontei. Alvo me fuzilou com os olhos, e Anna ficou vermelha. Rose afundou as mãos no rosto.

– Relembrando... – eu joguei minhas coisas sobre sua mesa – os velhos tempos. O que acha, Weasley? – e me sentei ao lado dela.

– Que eu gostaria de tampar sua boca.

– E você pode usar a sua para isso agora!

Rose finalmente riu. E se virou para mim.

– Engraçadinho.

– Pronto! – eu exclamei. – Custava só ter feito isso?

Ela abanou a cabeça, exasperada, e voltou a escrever.

No final da aula, minutos antes de sairmos para o almoço, a professora Elinor chamou nossa atenção para uma conversa importante.

– Alunos, fiquem aqui! – ordenou quando todo mundo se levantou. – Sei que estão ansiosos para saírem, já que hoje é o último dia de aula. Mas quero lhes informar sobre o baile que sempre acontece para os alunos do sétimo. Sei que antigamente não era assim, mas desta vez os professores e a diretora McGonagall decidiram que os pais e todos os alunos desde o terceiro serão convidados para a festa de despedida.

Todo mundo começou a cochichar. Algumas pessoas exclamavam inconformadas “os pais?!”. E a sensação que durante aqueles últimos tempos ficou emergida dentro de mim, saltou inesperadamente na ansiedade de martelar o meu peito. Eu, que guardava o material na mochila, parei de forma abrupta e relembrei.

“Desculpe, Scorpius.”

Enquanto aquelas pessoas ficavam decepcionadas com a notícia de que os pais também participariam da festa, eu estava tentando adivinhar como eu ia me sentir ao ver minha mãe aparecer desacompanhada. A verdade que meu pai nunca chegaria ver seu filho finalizar Hogwarts doía tanto que eu tive o desejo de sair da sala e me esconder. Eu sempre desejava me esconder, quando lembrava que eu não teria pai para nem ao menos sentir vergonha, como a maioria daqueles meus colegas parecia ter com os seus.

Mas eu continuei guardando os livros, como se nada tivesse me atingido. Eu só não consegui ouvir mais nada do que a professora dissera. O sentimento de perda era constante, ninguém podia fazer nada para que desaparecesse. Não ia desaparecer, eu só não deixava durar por muito tempo.

O baile aconteceria no dia seguinte. O céu esteve nublado durante o dia todo, até que o sol se pôs e, às oito horas, eu já me via na frente do espelho com um daqueles smokings que apertavam o pescoço com o auxilio do nó da gravata.

– Você acha que Anna vai gostar? – perguntou Alvo, ajeitando a própria gravata e também se olhando no espelho.

– Isso é conversa de menininha, Potter – eu debochei. – Aposto que ela está fazendo a mesma pergunta. “Ai, será que Alvo vai gostar?”.

– Do que você ta falando? Você ficou aí se olhando no espelho durante duas horas.

Eu pisquei. Tiveram motivos para isso. E eu resolvi comentar.

– Às vezes eu me vejo parecido com o meu pai, só isso.

Ele fez uma expressão que apagou o deboche em seu rosto.

– Vocês dois eram iguais mesmo – falou.

– Potter? Posso fazer uma pergunta?

Alvo sentou na sua cama para colocar os sapatos e assentiu com a cabeça.

– Quando o chapéu seletor o escolheu para a Sonserina, como a sua família reagiu?

Ele me olhou, com a testa franzida, estranhando a minha curiosidade. Demorou um segundo para em fim começar a dizer:

– Meu pai ficou orgulhoso de mim.

– Orgulhoso? – eu não acreditei. – Ele não esperava que o próprio filho fosse da Grifinória também?

– Ele disse que não faria diferença para eles se eu entrasse na Sonserina.

– E como você reagiu ao ouvir o chapéu seletor dizer “Sonserina!” na sua cabeça?

– O Chapéu Seletor apenas atendeu ao meu pedido.

Fiquei olhando para ele, sem acreditar.

– Como assim? Você escolheu a Sonserina?

– Sim, e porque as pessoas duvidavam que eu teria coragem de ser um sonserino.

– Você escolheu ser da Sonserina para mostrar que você não tinha medo? – ele assentiu. – Arrependeu da sua escolha, Alvo?

Ele negou com a cabeça.

– Sei que seria o mesmo que sou agora, se entrasse para a Grifinória, assim como você também seria o mesmo se não fosse um sonserino. A única coisa que muda – ele me mostrou sua gravata – é a cor desse uniforme. E essa cobra aqui – apontou para o desenho. – Mas quer saber... eu sempre me considerei um grifinório, apesar de tudo. Tem dias que me orgulho se ser um sonserino, outros que desejaria estar na Grifinória, com a Rose, a Lily, o Hugo e o resto da minha família. Mas eu aprendi a não me importar com isso, porque jamais me separaria deles, independente do que acontecesse.

Ele se levantou e me acompanhou para a sala comunal, que estava cheia de alunos com seus trajes formais. Depois que cumprimentamos quase todo mundo, saímos logo das masmorras e caminhamos em direção ao saguão de entrada, onde os alunos do sétimo ano se encontrariam para organizarem uma fila e depois desfilarem em pleno salão. Mas ainda era cedo, e só havia uma dúzia de alunos de cada casa ali esperando provavelmente os seus pares, ou o resto da turma.

– E aí – falou David, se aproximando. – Dá pra imaginar? Acabou. Já acabou. – Ele olhou para mim. – Fiquei sabendo que você deu o título de capitão ao Olivier, é verdade?

– É, é sim.

– Quem se importa com o time agora? – ele riu depois. – Não vamos mais estar em Hogwarts depois dessa noite!

– Eu vou sentir saudades – comentou Alvo. – De sair pela escola à noite, levar detenções, bater em idiotas como Zabini e Beaumont...

– É – falei enquanto eu, David e Alvo olhávamos para a mesma direção. Zabini estava com Parkinson isolados dos outros, e Beaumont sozinho em outro canto, olhando desagradavelmente para aqueles dois.

Então duas garotas apareceram ali perto. Era Lily, que mesmo sendo um ano mais nova que a gente, era o par de David naquela noite; ao lado estava Anna, que logo se direcionou a nós e cumprimentou educadamente Alvo, eu e David. Eu perguntei a Lily:

– E a Rose?

– Já está vindo, Scorpius, não se preocupe. Ela saiu da sala com a gente, mas ficou enrolando pelos corredores, falando tchau para todos os quadros que encontrava pelo caminho, e ainda ficou conversando com o Nick-Quase-Sem-Cabeça...

– Ela é tão maluca assim? – perguntou Alvo.

– Não, não sou não.

– Uou! – exclamou Alvo, vendo Rose se aproximar. – Pelas barbas de Dumbledore, você está maravilhosa.

– Não é para mim que tem que fazer elogios, Al – ela disse, embora sorrisse. – É para a Anna.

Alvo pareceu super sem-graça, mas Anna riu, porque não havia como discordar dele naquele momento.

Não era porque o cabelo dela estava preso, sobressaltando as poucas sardas que haviam espalhada ao longo da maçã de seu rosto, não exageradamente maquiado, mas ainda assim atraente da sua maneira. Não era porque o seu vestido deixava seu corpo em um aspecto irresistível. Era por outro motivo que as palavras que eu ia usar para elogiá-la ao vê-la fugiram imediatamente, como se tivessem percebido a insuficiência que tinham. O sorriso dela, antes acanhado quando alguém fazia um elogio, estava iluminando seu rosto com sinceridade e segurança naquela noite; sua postura, o seu andar... suspenderam minhas palavras porque simplesmente eu esperava ter que elogiar a garota Weasley naquela noite, não uma... mulher?

Eu pisquei, provavelmente sorrindo como um idiota, enquanto Rose olhava para mim.

– Okay – ouvi a voz de Alvo ao nosso lado. – Que acham de entrarem na fila com a gente antes de continuarem babando um pelo outro?

Fizemos o que ele sugeriu. A professora Elinor se estendeu lá na frente e pediu silêncio.

– Os convidados e suas famílias já estão lá dentro, e os senhores logo terão que passar pela pista e se posicionarem no altar, onde a diretora McGonagall fica. Cadê a srta. Weasley com o discurso?

Rose ofegou e só naquele momento percebi que ela segurava um pergaminho. Ela correu lá na frente para entregá-lo a professora. Depois que voltou, eu perguntei:

– Por que não me disse que estava escrevendo o discurso?

Ela me olhou incrédula.

– Eu disse todos os dias que eu estava escrevendo o discurso!

– Foi pra mim, Rose – respondeu Alvo. – Você não parava de falar isso para mim.

Quando a porta do salão principal se abriu, Rose apertou meu braço. Então começamos a andar. A primeira coisa que eu percebi foi que havia muito barulho no salão. Talvez palmas. Senti Rose se encolher ao meu lado quando ela ouvia sua mãe exclamar, assim que passamos perto da família Weasley:

– Ai, meu Deus! É a nossa Rosie! É a nossa filha, Ronald! Oi, filha! AQUI!

Rose acenou rapidamente para eles. Ao lado de sua mãe, estava a minha. Ela pousou os dedos nos lábios e me mandou um beijo. Por dois ou três segundos eu espreitei para ver se não haveria mais alguém com ela. Por dois ou três segundos tive alguma esperança de que meu pai poderia estar ali também.

– Scorpius? – cochichou Rose, olhando para mim, enquanto ainda caminhávamos. – Você está bem?

– Não se preocupe. Olha, o sr. Potter está acenando pra gente!

Os alunos do sétimo ano inteiro ocuparam o altar. A professora McGonagall se levantou da sua cadeira, gerando assim um longo silêncio. No salão, as mesas das casas haviam sido tiradas, e havia pista de dança e apenas as mesas para dar lugares aos convidados e as famílias.

Então McGonagall disse:

– Mais uma turma que irá finalizar seus estudos em Hogwarts. Gostaria de agradecer, primeiramente, a presença de pais e de amigos. É com grande honra que chamo para ler o discurso dos formandos, a senhorita Rose Weasley.

O primeiro a bater palma foi o sr. Weasley.

– Essa é minha filha! – ele exclamava. – Vai lá, Rose, mostre que você herdou a inteligência da sua mãe!

Ela o ignorou, embora não tirasse o sorriso – agora nervoso – do rosto. Rose se adiantou para então começar a ler o discurso, assim que os aplausos cessaram.

O discurso que Rose escrevera foi esse:

“Como ninguém se candidatou a escrever este discurso, eu fui obrigada a aceitar a proposta da nossa professora Elinor, que teve o orgulho imenso, assim espero, de nos ensinar Transfiguração todos esses anos no lugar da diretora McGonagall. Eu até deixei de fazer uma lição
(ela acrescentou na hora que lia: “e me desculpe por isso, professor Longbottom!”) para encontrar um tempo de escrever o que vocês terão o prazer, ou o cansaço, de ouvir aqui esta noite. O que coloco nas linhas agora não será por mim, mas, acredito, por todos nós, alunos do sétimo ano. Eu joguei no lixo três vezes o rascunho desse discurso, porque eu não achei correto escrever para todos, sei pouco do que os colegas passaram na vida durante os sete anos, por isso pedi ajuda da minha amiga Anna Holls e do meu primo Alvo Severo Potter. Então se vocês odiarem o discurso, culpem o filho de Harry Potter por isso!

A primeira vez que ouvimos falar de Hogwarts foi numa data que desconhecemos. Desde que me entendo por gente, ou por bruxa, tudo o que eu sabia era que havia um castelo em algum lugar, e que magia existia. Eu cresci sabendo da existência de Hogwarts. Mas lembramos do dia que recebemos a primeira carta, quando soubemos que estudaríamos na escola onde nossos pais estudaram, e tanto comentaram. Impossível descrever a emoção. Mas assim que primeiro de setembro ficava cada vez mais próximo, um novo sentimento se aproximava. E não era de ansiedade, nem de alegria. Era temor. Medo de não sermos aceitos pelas nossas escolhas, medo de não encontrarmos amigos leais e confiantes, e o maior medo de todos: o do Chapéu Seletor nos selecionar para a casa indesejada.

É claro que o temor desaparecera, assim que entramos em Hogwarts. Colocamos o pé pela primeira vez no salão principal, e concordamos com o que diziam: Hogwarts era o lugar seguro, não havia o que temer. Era um lugar extremamente alucinante, prometia aventura e diversão; e acima de tudo, conhecimento. Os professores, os funcionários, os monitores, embora sempre na disposição para estuporar os que desrespeitassem as regras, para isso eles tinham o objetivo de nos disciplinar. E isso era o mais importante.

Aposto que estão pensando que não esperava outra coisa vindo de uma aluna sabe-tudo e mandona e certinha como eu. Mas se eu não agradecesse primeiro aos professores, a quem mais agradeceria?

Mas não foi apenas conhecimentos em magia que obtivemos durante esses anos em Hogwarts. Porque nem tudo que passamos nessa vida estava solucionado em livros, nenhum professor disse nada sobre como não ter medo de ser deserdado pela família, como não ficar triste quando nossos amigos nos traíram no momento que mais precisávamos deles, nem como não ficar com raiva quando perdíamos um jogo de quadribol. Nenhum professor, pelo que estou lembrada, nos ensinou a superar a perda daqueles que se foram, nem ao menos falaram que feitiço usar contra as dores no peito, e a vontade de chorar.

E não era porque os professores não sabiam como nos ajudar. Para encontrar as soluções que tão desesperadamente precisávamos, tivemos que passar sete anos no mesmo lugar com nossos amigos e inimigos, com nossos colegas, e não lendo livros didáticos. Em todos os testes de Hogwarts eu nunca vi uma questão que pedia: “assinale qual dos feitiços abaixo poderá ajudar com os problemas da sua vida.” Porque se tivesse, eu ia deixá-la em branco!

Quero dizer, apesar de tudo existe uma das coisas mais belas do mundo e essa é o que chamamos de amor. Há pessoas que nem acreditam nisso, e são aquelas que sofrem mais. Amor não é só sentir o coração acelerar com impetuosidade dentro do seu peito quando está beijando alguém. Talvez amor seja aquilo que admiramos, aquilo que nos deixa na vontade, no desejo de sempre manter essa pessoa feliz. Talvez amor é o que sentimos quando precisamos amar, ou quando precisamos de alguém para corresponder. Talvez. Porque eu nem sei na realidade se é amor. Acho que é até mais que isso. Eu só não sei o nome. Não damos nome a sentimentos, eu acho. Tristeza poderia se chamar alegria, ou medo poderia se chamar coragem, ou ódio poderia se chamar amor. O nome não mostra o que aquilo é, o que aquilo faz, apenas dá a identidade para a coisa ser reconhecida.

Eu não quero continuar, posso dar as respostas aos formandos do próximo ano. E seria mais prudente e necessário se eles descobrissem assim como nós: vivendo. E viver foi a nossa maior aventura em Hogwarts.”

Rose tomou fôlego, esperando alguma reação. O sr. Weasley foi o primeiro a bater palma, e ela riu gostosamente daquilo. De longe, dava para saber que ela estava tremendo de nervosismo.

– Essa é minha filha! – exclamou Ronald em meio às palmas. – Mas graças a Deus você herdou a inteligência da sua mãe!

Rose correu para o seu lugar e abraçou Alvo Severo com todas as forças, enquanto o agradecia.

– Obrigada pelo quê? – ele riu ao soltá-la. – Você só não queria que o crédito fosse seu, porque não tem nenhuma coisinha minha no seu discurso. Nem o que eu disse sobre as lições que foram cansativas!

– Minha voz estava estranha?

– Fica tranqüila, Rose – pediu Anna. – Foi excelente!

Um momento depois que as palmas terminaram, a McGonagall anunciou que ia começar a entrega do Pergaminho Dourado, o que todos os alunos que finalizaram o sétimo ano recebiam. Chamando nome por nome, até todos recebessem, ela liberou a festa.

Ao sair do altar com todos os outros, eu me aproximei da minha mãe que me esperava para dizer alguma coisa, só que apenas recebi um abraço cheio de orgulho.

– Meus parabéns, filho – ela exclamou. – Você era o mais lindo ali na frente.

Eu sorri, mais por alívio de vê-la sorrindo, do que por alegria de ter completado todos os meus anos em Hogwarts.

– Como estão as coisas, mãe? – eu perguntei.

– Muito melhores agora do que imagina. – Ela ficou um minutinho olhando para mim. Eu fiquei aflito ao perceber que os seus olhos começaram a lacrimejar.

– Ah, mãe, não chora! – eu pedi, em vão, pois já havia recebido outro abraço.

Música começou a tocar, anunciando oficialmente o começo da festa. Minha mãe encontrou um lugar para sentar, perto da mesa dos Weasley. Ela não ficou sozinha, pois a mãe de Rose foi ao seu encontro e as duas começaram, estranhamente, a conversar. O pai de Rose a abraçava com tanta força que a deixou sem fôlego quando eles se soltaram, e Rose sorria como nunca a vira sorrir antes.

Mas eu não estava com pressa de ficar com ela. Esperei Rose cumprimentar toda a sua família, que não era nada pequena, enquanto pegava um copo de wisky. O sr. Weasley chegou ao meu lado, e também se serviu de wisky.

– Como vai, Scorpius? – ele perguntou.

– Bem, e o senhor?

– É um ótimo momento para sentir-se feliz.

Eu assenti, concordando.

– Rose me contou a idéia de vocês – comentou o sr. Weasley depois de um tempinho. – De viajarem. Infelizmente, não posso contestar nada. Vocês tomam conta da vida de vocês agora em diante.

– Mas se o senhor pudesse contestar, o que falaria?

Ele não respondeu. Pareceu surpreso.

– Você realmente se preocupa com o que penso agora que vocês dois têm idade o suficiente para se decidirem sozinhos, sem a minha interferência?

– Não adianta – eu lhe disse – ter uma pessoa na sua vida, e não ganhar a confiança da família dela.

– Ora – o sr. Weasley me analisou. – Eu não sabia que pensava dessa maneira.

Ele segurou meu ombro. Ficamos em silêncio, então eu decidi que seria agora ou nunca.

– Sr. Weasley, Rose vai se casar comigo.

Se o copo dele não estivesse pousado na mesa, já estaria em cacos no chão. Não existiam palavras na voz dele. Ele encheu o copo de wisky e tomou tudo de uma vez.

– Não sei quando, mas caso Rose disser ao senhor que ela passará o resto da vida comigo, não fique surpreso.

Eu me levantei, já que agora eu sabia. Ninguém mais seria capaz de nos separar, de dizer que não ia dar certo, afirmar que não podíamos ficar juntos. Nem mesmo o pai dela, nem mesmo a família dela.

Coloquei o copo de wisky numa mesa e me aproximei de Rose, que estava conversando com Alvo na pista.

– O que acha de uma dança? – eu falei em seu ouvido.

Ela se virou para mim, jogando os braços ao redor do meu pescoço, ignorando seu primo ali do lado, que nos encarou na extrema indignação já que eu havia interrompido a conversa deles.

– Você não sabe dançar.

– É só me ensinar, eu aprendo.

– E porque acha que eu saberia dançar?!

Pensei por alguns segundos, e falei:

– Certo. Tenho uma idéia melhor então. E garanto que essa nós dois sabemos.

Pressionei meus lábios nos dela. Rose ainda sorria quando correspondeu. Ela sempre correspondia. Eu senti a presença de Alvo ali do lado, exclamando alguma coisa, mas a boca de Rose movimentava-se contra a minha e era impossível saber o que ele estava falando. Mas sabia que era para nós dois, isso era evidente. Quem se importava? Sem interromper o beijo, Rose tirou um braço do meu pescoço para expulsar Alvo dali como se ele fosse uma coisa desnecessária no momento.

– Ah, desisto! – foi só o que deu para ouvir.

Quando paramos de nos beijar, de repente ao som da música lenta começamos a dançar um colado no outro.

– Como é que você se preparou para esse fim? – perguntei.

– Que fim?

– Sei lá. Não somos mais alunos de Hogwarts.

– Isso não é o fim, Scorpius – ela assegurou, enquanto a música fazia o trabalho de nos guiar a uma dança frouxa e lenta. – Todo fim de uma história é o começo de outra. Ainda temos uma longa vida pela frente.

– E o que você acha de passá-la comigo, não só na nossa viagem?

– Eu não vejo outro caminho no meu futuro – Rose sorriu – a não ser esse. Ao seu lado.

– Ah, então quer dizer que você aceita.

– O quê?

– Se casar comigo, por exemplo – eu respondi displicente. Rose ia ficar imóvel, mas eu impedi: – Não pare de dançar.

– Scorpius... Nós temos apenas dezessete anos. Você não quer aproveitar a vida, como todo rapaz da sua idade gostaria de fazer?

– Não estou dizendo que será esse ano o casamento, ou ano que vem. Eu só quero saber se você aceitaria ter esse futuro comigo. Eu não me vejo vivendo a vida com mais ninguém, só com você, Weasley.

Rose já estava chorando de emoção. Mas conseguiu se conter, e disse:

– Parece uma idéia admiravelmente tentadora, Scorpius Malfoy.

Sorrimos, e ela me abraçou com força. Vários minutos se passaram, ainda dançávamos no ritmo da música, abraçados. Assim que a música parou, Rose disse, e mesmo que ainda rindo, parecia preocupada:

– Eu só espero que meu avô me perdoe por isso.

Mas não havia com o que se preocupar. A batalha mais difícil foi conquistar a confiança do pai dela, e eu estava conseguindo. Só de saber que não haveria mais problemas com ele, nada seria tão impossível.


***


N/A: Esse capítulo ficou maior do que eu imaginava, e não tem muitos pensamentos do Scorpius como nos outros. Enquanto terminava de escrever, fiquei com a mesma sensação que fico quando sei que faltam poucas páginas para terminar de ler um livro. Então não se surpreendem caso eu aparecer falando alguma coisa sobre “Epílogo”, ou, o que seria mais certo dizer: o Epílogo do Epílogo!


Respostas e agradecimentos aos comentários:


Leeh: Ai meu Deus, o melhor capítulo? *-* Muito obrigada! E por saber que a fic te conquista cada vez mais, me faz tão feliz contente e essas sensações legais. Pelo visto foi chocante o lucius abraçando o Scorpius! Sério, os seus comentários são tão bem-vindos que postei DOIS capítulos antes de HP6 só pra recompensar! Mais uma vez obrigada. Pollita: Não me importo nadinha com os seus comentários grandes, muito – mas muito mesmo – pelo contrário! eles são como combustíveis pra escrever! (?) você é a Maria-dos-Comentários-Que-Fazem-o-dia-De-Uma-Autorinha-feliz. *-* Muito obrigada, e... EU TENHO UMA FÃ! Saltitei! Sério, isso me encheu de alegria. Eu não fazia idéia que minha fanfic despertaria comentários como os seus! Aquele momento do Scorpius e da Rose eu escrevi com tanta cautela, e eu realmente não queria constranger ngm, SHAUASHUSA o_o fiquei aliviada por saber que isso não aconteceu! Mil obrigadas! Vou parar por aqui, se não daqui a pouco serei chamada de Ana-Resposta-Grande-para-Maria-Comentário-Grande O.O hauahsa brincadeira! Em fim, valeu mesmo. Larissa: JESUS APAGA LUZ – euri. Aii, não se preocupe, fico agradecida por você já ter lido e por isso já merece meus agradecimentos empolgados. Rose não tão santa e Ron compreensivo é quase a mesma coisa né? ASHUSAHSAUHSA Obrigada pelo comentário, Larissa! Beijos! P.S: Boa viagem pra você, e seus comentários me farão falta até o dia 28 ._.uahuahuahau Claudiomir José Canan: Ahh, Nem posso acreditar que tive a capacidade de fazer as pessoas chorarem. Não sei se fico com pena e ressentida, ou se realmente fico orgulhosa por ter feito os acontecimentos dos capítulos despertarem essa emoção. De qualquer maneira, obrigada! Karla Dumbledore: Muito obrigada pelos comentários, e elogio! E sei que deixei muita gente “p” da vida com a morte do Draco!, mas é algo que eu planejava desde os primeiros momentos dessa fic, espero que compreenda! Ahhh, e tomara que esse capítulo tenha recompensado os “mais três” que você esperava ler assim que voltasse shausahsuahsa. Bjs! Ana Te: Obrigada pelo comentário! Eu ainda consegui postar o capítulo antes da estréia de HP6! Heuehuehe.

Pois bem, críticas e comentários são bem-vindos! Se tiverem alguma dúvida, comentem e responderei aqui no próximo capítulo.

Uma ótima semana e uma – ou quantas vezes assistirem – ótima sessão de Harry Potter e o Enigma do Príncipe para vocês

Até a próxima,
Belac.

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Comentários (2)

  • Mariana Berlese Rodrigues

    SIMPLISMENTE P-E-R-F-E-I-T-O ESSE CAP. A-M-E-I *.* #MORRI  A-M-E-I <3 <3 <3  MUITOOOOOOOOOO LINDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA *.* CHOREI AQUI :)ESSE RON ME MATA DE RIR kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk'CASAMENTO?? ESSA HORA REALMENTE O RON PIROU kkkkkkkkkkkkkkkkkk' 

    2013-02-07
  • Lana Silva

    Awwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwww *-* lindo eles dois. Muito mesmo flr *--*

    2012-02-17
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