Refúgio



N/A: Obrigada a Karla Dumbledore, Leeh, Mariana, Ana Te, pelos comentários *-* Olha, consegui postar antes de HP6 estreiar!


Cap. 20 – Refúgio

"Arrepender-se do passado, aborrecer-se no presente, temer o futuro: assim é a vida. Só a morte, a quem está confiada à renovação sagrada das coisas, me promete a paz."
(Ugo Foscolo)

Não existiam meios de trazê-lo de volta, eu sabia perfeitamente daquilo. Um momento com o qual o silêncio tomou conta da minha mente me fez perceber que eu era um vazio completo. Parecia que o mundo corria enquanto eu me mantinha imóvel, sentado, sem pensar, sem sentir, apenas observando a movimentação que me cercava, o peso do mundo nas minhas costas.

Primeiro o pressentimento, o acontecimento, logo por último a verdade. Diziam que ele não voltaria, mas garantiam que ainda estaria comigo. Isso não fazia sentido. Nada fazia sentido. O que fazia sentido? A morte fazia sentido? Nem mesmo a vida fazia sentido.

A última vez que eu o vi ele estava deitado, com um terno preto que costumara usar durante a vida, e todos que chegaram a conhecê-lo – mesmo que minimamente – estavam lá, no seu enterro. “Scorpius, sinto muito pelo seu pai”, diziam... Foi silencioso, foi ligeiro, restara apenas sua lápide em um campo, e uma ferida na minha alma que, como diziam, cicatrizaria com o tempo. Deixei minha mãe chorar no meu ombro até que não houvesse mais lágrimas em seus olhos, nem mais palavras em sua voz, nem mais nada, apenas a sensação de perda infinita, inalcançável. Minha avó, desesperadamente, chorava tanto que meu avô chegou a acompanhá-la. E eu fiquei lá, petrificado, e o vazio era tão grande que as lágrimas nem existiam.

Eu queria ter reparado mais no que os outros sentiam evidentemente, mas fui incapaz. Dei as costas a tudo quando não havia mais nada para resolver, mais nada para anular.

Coloquei as mãos no bolso enquanto me afastava da multidão ali perto. Olhava para o chão, não conseguia olhar para frente. Depois uma mão segurou meu ombro, Ronald Weasley andava na mesma velocidade e me acompanhava. Eu o encarei. Mas nada foi dito. Ele hesitou ao me olhar, talvez não esperasse que eu conseguisse encará-lo. Assim que percebi que ele estava sendo incapaz de formular alguma coisa, eu falei:

– Ele só estava esperando alguém ouvir o que ele tinha para dizer. Só vocês sabem da verdade, eu presumo.

– E não vamos ocultar isso para as pessoas, Scorpius – o sr. Weasley garantiu. – Draco Malfoy vai ser lembrado por todos, pode contar com isso.

– Pena as lembranças não serem boas.

– Bem, não importa agora. Pelo menos Draco deixou uma coisa no mundo, que ocultará essas lembranças.

– O que seria?

– Ora, o próprio filho, não acha? – Parou de andar, e eu fiz o mesmo. Ele tirou o chapéu que estava na cabeça, e assim apontou para alguém que se aproximava. O sr. Weasley fez uma expressão aflita na direção de Rose. – Ah... meu Deus, ela está péssima por você.

Ele se afastou para se aproximar dos meus avós, mesmo que hesitante, quando Rose chegou. Ela ficou próxima de mim, olhando-me com curiosidade, o vento sempre soprando em seu rosto. Linda, como sempre... maravilhosa. Foi numa calma extraordinária que deu um passo em minha direção, envolveu seus braços silenciosamente no meu corpo, apoiando sua cabeça no meu peito, apertando-se contra mim, e que esperou que eu retribuísse o aperto, sem temer.

Minhas mãos afogadas nos cachos ondulados de seu cabelo ruivo, eu inalei aquele cheiro. Lembrava do medo que senti ao ver meu pai caído a minha frente, do medo que senti ao ver minha mãe, meus avós entendendo o que acontecera, eu lembrava do medo que eu senti ao ver que não havia mais volta, ao perceber que não teria como mudar, que não havia mais esperanças de mantê-lo vivo, que a família Malfoy estava incompleta sem ele. “Desculpe, Scorpius”, ele dissera por fim, nunca mais diria outra coisa.

Eu fechei os olhos. Nos braços de Rose parecia que não havia como sentir um vazio. Ela me transmitia sensações que eu era incapaz de sentir quando estava sozinho. Aquele vazio imenso de perda foi preenchido com aquele desejo irrevogável de chorar como uma criancinha perdida em seus braços, se render completamente ao destino, e ficar esperando o tempo passar para apagar a tristeza.

Sabíamos que não precisávamos dizer absolutamente nada. Só um gesto se prende ao pensamento, à memória; nunca esqueci daquele abraço, eu nunca esqueci do ombro que Rose me ofereceu, e nem mesmo esqueceria que eu dependia dela para chorar, para temer, para amar, e até para continuar ali, vivendo.

Assim como minha mãe fez com meu pai, Rose me ensinou. Se não houvesse Rose, toda a bondade toda sua tolerância, eu ainda estaria congelado e seria aquele garoto inútil e orgulhoso, que nem mesmo lamentaria a morte do próprio pai, o chamaria ainda de lorde das trevas, estaria perdido, estaria desesperado a procura de um refúgio para se esconder. Sem Rose eu não seria o mesmo.

Meu coração se afundou de alívio, por saber daquilo.

– Se depender de mim, isso não vai durar para sempre – ela murmurou, como um aviso. – Eu não vou tirá-lo do meu caminho... eu estava mentindo quando disse que se as coisas dependessem de mim eu tiraria você do meu caminho... Toda essa sua mágoa, essa sua tristeza, me impede de tirar você da minha vida, eu me sinto obrigada a fazer você sorrir, eu não vou descansar até saber quando tudo ficará bem de novo...

Oh!”, exclamei. “Estou impedindo sua passagem? Se depender de mim, Weasley, você ficará aqui.”

Mas, como todo mundo sabe”, ela olhou para mim, “as coisas não dependem de você.”

Eu sorri de novo.

E se as coisas dependessem de você?”, perguntei a ela.

Eu tiraria você do meu caminho.”

O que está impedindo que o faça?”

Ela abriu a boca e a voz não saiu.
¹

Era outra resposta revelada. Imaginei que, aos poucos, pelo menos futuramente eu encontraria as respostas para outras perguntas que não foram respondidas na hora que as fiz.

– Obrigado – eu disse a ela, sem pensar no tempo que ficamos ali, abraçados. Só sei que foi terrível o momento em que ela teve que ir embora.

***

Era difícil não entrar no terreno da mansão sem me lembrar... “Desculpe, Scorpius.” Era impossível. Assim que coloquei os pés na sala pela primeira vez depois do velório, meu avô segurou atrás do meu pescoço e me levou até um corredor escuro, sem dizer nada. Foi uma caminhada bem longa, mas eu nem fiz questão de perguntar para onde estávamos indo.

Meu avô me levou a uma sala que, durante dezessete anos da minha vida, eu nunca entrara. Era um grande aposento, inteiramente vazio, desconhecido. Quando acendeu as luzes verdes, então eu vi que só havia uma coisa lá. E era bem estranha, mas que ocupava as quatro paredes largas.

Presa à parede do fundo, havia um tronco de uma árvore, no topo dela formavam os galhos – de verdade – que iam se espalhando pelas outras duas paredes. Consegui ver de perto, logo tive consciência de que era a árvore genealógica da família. Identifiquei alguns nomes cravados nos galhos, bruxos de sangue-puro que não cheguei a conhecer mas que possuíam o sobrenome Malfoy. Alguns – ou a maioria – dos galhos estavam sendo envolvidos – ou enforcados – por pequenas cobras, escondendo assim os nomes.

– As cobras envolvem os nomes daqueles que morreram – disse meu avô, sua voz baixa e monótona, respondendo a minha pergunta.

– Como vou saber os nomes se estão escondidos?

– Pegue sua varinha.

Estava no meu bolso. Obedeci. Depois meu avô sacou a própria e apontou-a em direção a uma cobra, logo em seguida dando dois toques fracos no corpo enrolado no galho. A cobra, que parecia petrificada, se desenrolou rapidamente, e saltou em direção ao meu avô. Sem hesitar, ele a agarrou com força.

– São verdadeiras? – perguntei, observando-o balançar o réptil para baixo.

– Está com medo?

– Não. Cobras não me dão medo.

– Veja... – ele murmurou, com os olhos para o galho que a cobra em sua mão envolvera. – Abraxas Malfoy.

– Meu bisavô.

– Sim. Agora veja... – ele apontou para o nome ao lado. – Lucius Malfoy. E veja... Draco Malfoy... e o seu logo ali...

Assim que fez a cobra voltar ao seu lugar de origem, meu avô ficou olhando para o nome do meu pai.

– A cobra deveria envolver meu nome primeiro que o dele – não havia emoção na sua voz, era tão baixa que parecia estar conversando com ele mesmo. – Nem a natureza parece ser perfeita... eram os velhos que deviam morrer primeiro.

– Por que estamos aqui? – eu só queria saber daquilo.

– O feitiço com a sua varinha vai poder invocar uma cobra especialmente para o nome do seu pai – respondeu. – Vamos, diga Cobriacto em voz alta na direção dessa raiz.

Mirei a varinha onde ele apontou. A raiz grossa invadia o chão e eu conjurei “cobriacto!” da maneira como deveria ser feito. Eu fiquei esperando me surpreender com alguma coisa.

– O que está acontecendo? – perguntei.

– Magia...

Uma cobra se revelou graciosamente de dentro da raiz onde o feitiço atingira. Rastejando numa velocidade lenta, mas urgente, a cobra percorreu um caminho longo entre os galhos e chegou ao nome do meu pai, para em fim envolvê-lo. Eu engoli em seco quando a cobra se petrificou no lugar, e minha mão começou a tremer.

– O que significa a cobra? – perguntei, sentindo minha voz trêmula acompanhar meu corpo.

– Proteção. Para a morte o veneno da cobra é como perfume.

Eu guardei a varinha, olhando para a cobra.

– E agora?

– Chega de perguntas. Você precisa arrumar suas malas para viajar.

– Para onde? – eu me tomei pelo susto daquela idéia ridícula.

– Para um outro país. Começará a viver sua própria vida. Já tem idade para isso, Scorpius.

– Mas Hogwarts... o meu pai...

Ele se irritou.

– Está morto, eu sei! Mas acha que ele ia querer que você ficasse parado feito um vagabundo, só porque ele se recompôs dessa vida? Você ainda está aqui, e deverá seguir uma posição nesse mundo para depois não se lamentar dos erros no leito de morte!

Alguma coisa crescia em mim naquele momento. Raiva, talvez.

– Eu realmente não vou me lamentar no leito da minha morte – disse, quase com desprezo. Ele poderia ter ficado calado, guardado a frieza e demonstrado algum tipo de humanidade pelo menos uma vez na vida, ele estava demonstrando até aquele último minuto. Por que era tão difícil manter-se bom? – Não, eu já lamento tudo o que eu fiz para o meu pai, ou para o senhor, ou para qualquer pessoa. Eu já lamento a raiva que estou sentindo, eu já lamento o desprezo da minha voz, está vendo? Não vou esperar saber que estou nos últimos suspiros para tentar me redimir. Não porque foi o que meu pai fez, mas porque eu vi o quanto ele se arrependeu de ter esperado justamente os últimos dias da vida dele para se desculpar! Então – eu fiz uma pausa –, então... eu sei perfeitamente bem que não vou ser um fracasso, e que se me derem chances eu vou aproveitá-las, da melhor maneira possível. Minhas escolhas? Eu mesmo vou decidir, por isso terminarei meu último ano em Hogwarts, o que acha dessa idéia, vovô?

Meu avô ficou olhando para mim. Os olhos dele estavam brilhando.

– É uma idéia brilhante, Scorpius Malfoy. O que mais pretende na sua vida, além de não ser um fracasso?

– Mesmo sendo esse um mundo injusto, eu vou tentar fazer algum bem a ele.

– Ajudará os Elfos Domésticos a se libertarem?

– E por que não? Posso até dar aula de Estudo dos Trouxas, fiquei sabendo que é muito útil. Vai me desprezar por isso? Eu sou sua família... O senhor nunca vai me deserdar, nunca. Eu sou a única esperança de levar o nome dessa família para um lugar realmente bom. E eu sei que o senhor também quer isso.

– Quem disse a você? – perguntou suavemente.

– Acha que estou me iludindo? Não... Foi o próprio Weasley que disse isso, sabe... o pai da minha namorada. Garanto que farei Harry Potter também acreditar nisso. Eu poderei ser bem útil para ele, não foi o senhor que disse todo esse tempo que devemos a nossa existência ao Potter? Pois bem, aqui estamos nós.

Meu avô soltou um suspiro, e olhou para o chão. Aproximou-se de mim, o rosto contraído numa seriedade extraordinária. Eu estava tremendo violentamente, mas ainda continuei olhando para o meu avô, que segurou meu ombro, ele se recusava a me encarar. Imaginei que fosse me levar para fora daquela sala, mas foi algo muito diferente que isso.

Ele me puxou para um abraço.

***

– Mãe?

Minha mãe se virou assustada. Estava em seu quarto, provavelmente mergulhada em lágrimas... virou-se da cama e olhou para mim perto da porta.

– Precisaria voltar para a escola agora, já se passaram uma semana desde o recomeço das aulas... – eu lhe disse. – Mas eu não quero deixá-la sozinha.

– Oh, filho, não se preocupe. Faça isso! Seus amigos estão lá... esperando por você, não me deixará sozinha. Estarei com seus avós.

– E se precisarem da minha ajuda?

– Vá, Scorpius... encontrarei o meu refúgio, não fique preocupado com isso. Agora que tem o seu, Scorpius, vá ao encontro dele. E está em Hogwarts, onde o conheceu... onde o amou, não é? Você a ama não é mesmo?

– Eu posso viajar semana que vem, não fará diferença. – A Diretora McGonagall permitiu que eu ficasse três semanas de repouso, para recuperar o choque e continuar a fazer companhia para a família.

– Pense em você agora, meu filho. Eu estou bem... Na verdade, não estou. Mas ficarei, assim que souber que estará feliz no seu lugar preferido. Por favor. O meu refúgio é a sua felicidade... entenda isso?

Sentei ao lado dela na cama e lhe dei um beijo na testa.

– Sabe o que Draco me falou antes de, bem... você-sabe-o-quê? – perguntou minha mãe. – Estávamos deitados aqui... e ele disse que queria ter sido mais feliz, e que se descobrisse que ainda teria tempo para isso ele não perderia tempo e demonstraria o quanto nos ama; ele disse que era tarde demais. Depois... ele me pediu uma coisa. “Deixe-o ser feliz, não o tranque nessa casa”, e eu respondi que sim, então está na hora de cumprir a promessa.

E naquele dia eu voltei para Hogwarts, disposto a fazer qualquer coisa para tudo ficar bem. Eu sei que demoraria, as coisas não cicatrizariam tão rápido. Haveria ainda muita tristeza, como sempre acontece quando perdemos alguma coisa, ou pior, alguém que amamos. Mas nenhuma magia, nenhuma palavra, nenhuma façanha, poderia trazer aqueles que se foram da nossa vida de volta para nossos braços, isso não era pessimismo ou algo parecido, – poderia ser azar – mas era uma verdade, não podíamos contestar verdades e fatos, não podíamos lutar contra a morte e suplicar pelo ente querido. E por esse pensamento, muitas vezes desejei que voltasse a acreditar em tudo e não saber de nada, voltar para o campo da inocência, às vezes sentia que meu pai só estava dormindo, e eu queria que fosse só isso.

Mas se eu continuasse me enganando, mudaria alguma coisa?

Naquele fim de tarde, estava guardando minhas coisas no dormitório da Sonserina quando ouvi uma batida na porta. Como se meu desejo se realizasse, Rose aparecera. Sempre no momento em que eu mais precisava.

– Oi – ela murmurou, entrando no quarto. – Precisa de ajuda? – Percebi que ela trancou a porta.

– Sim... – eu já estava muito próximo dela, e acariciava seu rosto. – Só você pode me ajudar.

– Qualquer coisa, Scorpius... eu farei qualquer coisa para roubar a sua dor – a última coisa que disse antes de me beijar.

Só podia sentir de novo os seus lábios movimentando nos meus, tão desesperadamente procurando por segurança, por respostas, que precisaram da ajuda de mãos distraídas para fornecer mais calor, nos guiar na cama, ao momento que era preciso, que era necessário, desabotoando dois ou três ou todos os botões sem pressa, mas com ansiedade. Os dois corações batendo em sincronia, cada um com sua certeza, com sua vontade, com seu impulso. De repente o corpo delicado e quente embaixo do meu, pronto para conhecer e ser explorado, de repente um gemido no ouvido, o sussurro do meu nome, anunciando desejo e tudo o que eu precisava. Eu realmente sabia que a voz dela salvaria minha vida, e era o que estava fazendo... eu tinha certeza daquilo, ela implorou para que eu não a soltasse – eu não ousaria. Mesmo que rápido, um encaixe perfeito entre duas almas que se pertenciam, aquele momento de loucura, de ternura, tão certo, e proibido, verdadeiro, real... tão esperado, infinito... Estávamos lá, ofegando um colado no outro, a incerteza do futuro sugada pelo doce aroma no ar que apenas eu e ela presenciávamos. Era um primeiro momento, uma sensação nova... era conforto, refúgio. Eu esperava que estivesse fazendo a coisa certa, ela também esperava que estivesse tudo bem, que estava sendo o suficiente, eu percebia no modo como sua pele roçava na minha suavemente; meu cabelo fazendo cócegas no seu rosto, enquanto seus olhos azuis permaneciam exaltados observando os meus, sem romper nenhum contato, tanto de sentimentos quanto de corpo. Não tínhamos visão para o mundo lá fora, não importava mais nada, nem o que aconteceria amanhã, porque assim que as unhas dela arranharam lentamente minhas costas e eu afoguei meu rosto ao lado do seu pescoço, arfando incondicionalmente, Rose disse que me amava, e eu disse que aquilo era o suficiente.

Ao fim, não só aquecidos pelo corpo, mas pelo cobertor, Rose encostara sua cabeça no meu ombro, e pousou a mão sobre o meu peito, deitada ao meu lado. Não sei por quanto tempo ficamos assim, só sabia que havia muito silêncio. Parecia que o mundo tinha desaparecido.

A voz dela, baixinha, foi a primeira a se pronunciar:

– Percebe que o nosso coração bate no mesmo ritmo. Parece música.

– É justo isso?

– O quê?

– Agora... eu me sinto tão vivo.

– Claro que é justo.

– E ele lá... morto.

Ela levantou sua cabeça para me olhar.

– Pare com isso.

– Com o quê?

– Sua expressão. Sua expressão de culpa é pior do que a tristeza nos seus olhos. Escuta... eu não estou pedindo, de jeito algum, para que ignore, ou esqueça. Isso será impossível. Mas você está aqui agora, Scorpius, e mesmo não podendo mudar o destino do seu pai você continua com a sua vida, você tem pessoas que se importam com você. Eu tenho certeza que ele preferiria muito mais que você se preocupasse com a sua vida agora.

– É... eu pensei nisso também.

Rose sentou-se, levando a coberta para cobrir seu corpo. Ficou um minuto assim, pensando, e olhando para baixo, talvez para as roupas ali no chão. E passou as mãos no cabelo, jogando-os para trás, suavemente.

– Algum problema? – eu perguntei, preocupado.

Ela lentamente virou sua cabeça para mim.

– Você acabou de perder seu pai, e pergunta se há algum problema comigo? Ainda mais depois do que acabamos de... vivenciar aqui?

– Você parece pensativa, e quando fica com a sobrancelha franzida é sinal de que alguma coisa a está preocupando. Você costuma mexer no seu cabelo também. Eu nunca disso isso, mas foi sexy demais para passar despercebido agora.

Só que ela não reagiu como esperava que reagisse diante daquele comentário – ela não ficou corada nem nada. Ela continuou com os olhos pregados nos meus, ainda segurando o cobertor ao redor do corpo. Daquele corpo.

– Você sorriu... – ela comentou como se eu tivesse feito a coisa mais emocionante do dia, e como se ela tivesse esperado presenciar aquilo por muito tempo.

Então eu lhe disse, percebendo como aquilo soava verdadeiro:

– Você sempre soube como roubar a minha dor, Rose. Você sempre vai conseguir. E, para ser sincero, não precisava nem ter tirado a minha roupa para isso. Mas já que preferiu essa oportunidade...!

Ela ergueu as sobrancelhas.

– Foi você que começou – exclamou, sentindo-se meio envergonhada.

– Será? Por que outro motivo trancaria a porta? Você já estava pensando em fazer isso.

– Mas eu não faria nada se você não tivesse começado a tirar a sua blusa...

– Eu sou tão irresistível assim? – ela soltou um riso aflito e assentiu com a cabeça, colocando a coberta para tampar o rosto corado.

– Até com roupa. – Depois ela soltou uma exclamação: – Ah! Eu não acredito que eu disse isso! Olha... é melhor sairmos logo daqui antes que percebam nossa falta.

– Antes que você perca o controle, você quer dizer? – eu não deixei de sorrir mais um pouco. Ela suspirou. Eu a observei levantar da cama, agora se envolvendo com um lençol, e pegar suas roupas do chão. Eu fiz menção de puxá-la para perto de novo, só que ela já foi impedindo:

– Na... na... vai ter que agüentar. Vai ser fácil pra você, já que eu não sou tão irresistível. – Depois acrescentou ao ver minha expressão: – Se você puder entender, meu amor, eu preciso ficar comigo mesma agora.

Depois correu até o banheiro ali no dormitório.

– Você vai demorar?

– Eu não vou fugir – ela assegurou. Mas sempre havia limites quando Rose decidia quebrar as regras, uma hora ela voltaria a ter a consciência e sua sensatez de sempre. Mas eu, sinceramente, não achava que ela tivesse maluca quando disse que faria qualquer coisa para roubar a minha dor. Ela pareceu mais que decidida, preparada, e ciente dos seus desejos quando deixou tudo acontecer. Eu nunca a obrigaria a fazer nada só por mim, para o meu bem. Aquilo aconteceu por nós dois... O momento pôde dizer por si só.

A batida da porta do banheiro me fez despertar, e eu fiquei sentado na cama, prendendo o cinto da calça enquanto esperava o tempo passar.

Mesmo que tudo parecesse difícil de aceitar, de acreditar, eu estava me esforçando. Eu ficava satisfeito que não precisaria fingir uma risada; assim como o que duas pessoas faziam quando se amavam, sorrir um para o outro era natural. E não havia mais dúvida de que eu seria feliz, se conservasse a chance que eu tinha para conseguir. Eu estava convicto de que não cometeria os mesmos erros do meu pai, que, anos depois, se arrependeu de ter feito. E se eu cometesse algum erro, eu sabia que lembraria forçadamente do que aconteceu a ele, dando a mim mesmo motivos para engolir o orgulho. Eu faria a coisa certa, eu faria minhas escolhas. Sem deixar de ser um Malfoy.

Como meu próprio pai já me disse, uma vez Malfoy, sempre Malfoy. E então entendia que amar uma Weasley não mudaria meu sobrenome.





¹-Fato ocorrido no Capítulo cinco – “Atenção”


N/A: Gente, eu tentei! Espero que tenham gostado desse capítulo, que tenha sido pelo menos razoável, que eu não tenha decepcionado vocês. Quero dizer, é uma conquista chegar a uma parte da fic que, como autora, tanto esperei para acontecer, desde o minuto em que comecei a escrever “Uma vez Malfoy, sempre Malfoy” no primeiro capítulo, e só graças a vocês, é claro! Outras coisas vão acontecer ainda. E, garanto, recompensará o destino que dei ao Draco. Assim espero! Agoraaaa... Quero ver reviews explodindo. Comentem mesmo! A postagem do próximo capítulo dependerá de vocês. Comentários são esmolas sem preço, apenas ganho a ansiedade de saber o que acham cada vez mais de Sangue & Veneno!


Boas férias a quem já entrou, (eu entrei =D)
Boa viagem a quem vai viajar (eu não vou =D)
E até logo!
Belac Inkheart.


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Comentários (2)

  • Mariana Berlese Rodrigues

    SIMPLISMENTE P-E-R-F-E-I-T-O ESSE CAP. A-M-E-I *.*#MORRI A-M-E-I <3 <3 <3 MUITOOOOOOOOOO LINDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA *.*CHOREI AQUI :)OMG! QUANTAS EMOÇÕES EM?! MTO PERFEITO ESSE CAP. E AMEI O MALFOY SE ARREPENDENDO DAS COISAS :)

    2013-02-06
  • Lana Silva

    Acho que foi lindo a Rose dizer que queria roubar a dor dele *-* muito lindo...

    2012-02-17
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