Irrevogável



“(...) Mas se tudo isso era predestinado, será que nossas escolhas têm mesmo alguma importância? Ou será que devemos aprender a aceitar nosso destino?”. Eragon, Christopher Paolini


Um dia depois do Ano Novo, encontrei o sr. Weasley lendo um jornal na varanda, de frente para o jardim e para a rua, sozinho apenas na companhia de um passarinho ao seu lado do banco. Às vezes, quando eu achava que ele estava se acostumando com a minha presença, o sr. Weasley sempre perguntava mais coisa sobre mim; se eu sabia duelar, se eu havia aprendido alguma maldição imperdoável, imaginando se eu seria algum tipo de amante das artes das trevas. Eu dizia que eu tinha os mesmos conhecimentos de Rose em magia, ele ficava mais sossegado. Embora sempre duvidoso, e apesar de tudo mesmo, ele parecia satisfeito com uma coisa: meu silêncio. Pelo visto, o sr. Weasley considerava isso como sendo uma das poucas qualidades que eu tinha, já que eu pouco falava.

– O que está achando desses últimos dias aqui? – perguntara a mim.

– Diferentes.

– Sente-se – expulsou o passarinho do banco. Era um convite... ou uma ordem?

Mesmo assim, ele queria que eu agisse como se fosse uma ordem.

Sentei ao lado dele. Depois foi um silêncio muito estranho. Ele ficava lá, acompanhando a notícia do jornal trouxa naquela manhã gélida de dezembro, tomando chocolate quente. E eu ficava na minha, só medindo a estranheza daquele momento.

– Vou pedir uma coisa, Scorpius – o sr. Weasley disse, girando outra vez o jornal.

– Já posso até adivinhar – eu disse, quase impaciente. – Que eu não magoe a Rose, que se eu o fizer, o senhor me liquidará até os ossos. E que eu a respeite sinceramente, que eu não me aproveite dela em nenhum sentido... ou apenas quer que eu faça as malas e vá embora para vocês viverem em paz novamente no Natal junto com o resto da sua família.

– Não – ele disse calmamente depois de uma breve pausa. – Isso é o que Alvo pediria. Eu só peço a você que não me decepcione.

– Com o quê?

O sr. Weasley olhou para mim.

– Conversei bastante com Rose, com a minha mulher. Tirei a conclusão, em meio a isso tudo, que mesmo que você pareça terrivelmente com o Draco, eu ainda não tenho motivos para expulsá-lo daqui. Não há Malfoy no mundo que aceitaria passear pela cidade repleta de trouxas, e só porque quer ficar ao lado da minha filha. Mas parece que você é uma exceção.

Não disse nada, talvez se eu dissesse alguma coisa poderia estragar tudo. Apenas assenti, garantindo que não o decepcionaria. Ele voltou a ler seu jornal mais satisfeito. Decidi perguntar, então, depois de alguns minutos:

– Meu pai sempre foi assim tão odioso como o senhor diz?

– Ele nunca foi um amigo – respondeu o sr. Weasley, secamente.

– Às vezes acho que por isso ele não espera mais ser reconhecido na rua por ninguém – eu disse, sem saber exatamente por que estava dizendo aquilo para o pai de Rose. – As pessoas apontam, expressando a surpresa que sentem ao saber que ele ainda está vivo.

– É inevitável – se eu tivesse enganado, ele pareceu estar se lamentando. – As pessoas sempre saberão quem ele foi. Mas agora, eu espero que ele tenha se arrependido.

O sr. Weasley voltou a ler o jornal, e eu fiquei pensando naquilo durante os dias em que estive ali, com Rose, conhecendo a cidade, e conseqüentemente, sendo cada vez mais incapaz de sentir aversão pelos trouxas, não do jeito que meu avô dizia que eu sentiria se me envolvesse com eles.

Era difícil não gostar dos lugares que Rose estava, então eu não podia constatar nada.

Foi então, quando achei que tudo estava indo bem, que meu pesadelo voltara à tona. Um pesadelo que há muito tempo não tinha. Agora toda vez que fechava meus olhos para dormir, avistava o rosto do meu avô, apenas seu rosto ancião e extremamente magro. Eu sentia toda sua fúria, sua raiva por mim.

Você é uma vergonha, Hyperion. – Sua voz era tão baixa que saía num sussurro inaudível, assustador. Desrespeitou o sangue da família, preferindo passar os dias fervendo no sol imundo do universo trouxa. Eu não esqueci quem você é. Uma vergonha para o resto da sua vida, você é um traidor de sangue. O primeiro traidor dos Malfoy. Eu tenho vergonha da sua presença...”

E meu nome era proferido a cada segundo por uma legião de vozes. Às vezes eram vozes calmas, ocultas, desconhecidas. Às vezes eram vozes grossas, que suplicavam a atenção. Outras vezes eram as vozes dos professores de Hogwarts, repreendendo-me. Todos gritavam e sussurravam meu nome. Scorpius... Scorpius...

De repente todas as vozes dissolveram-se no ar, restando apenas uma.

– Ei, Scorpius... acorda...

Eu não sabia para quem olhar, não conhecia a origem da voz.

Desesperado, abri os olhos, acordando profundamente. Sentia mãos gélidas agarrarem meu rosto, fiquei olhando para Rose, que me encarava de volta no mundo real. Estava sentada na beirada do sofá, e suas mãos soltaram-se do meu rosto.

– Por que você não me escuta quando peço para não dormir no porão?

Percebendo que eu não falava nada, pelo choque da lembrança do pesadelo, da voz do meu avô, da sua fúria, Rose perguntou baixinho:

– O que foi?

– Nada... nada... é só... – depois sorri fracamente. Quando Rose ficava preocupada comigo, eu precisava de todas as maneiras apagar aquela expressão dela, demonstrando que não era nada demais. – Acabei de ter um pesadelo. Meu avô dizia o quanto eu sou uma vergonha, essas coisas de sempre. Por que você me acordou hoje?

Rose não respondeu imediatamente. Ela suspirou quando fiz a pergunta, e mordeu os lábios, notável era sua preocupação. Mas... por quê?

– Scorpius, meu pai precisou ir ao Ministério hoje, e voltou agora...

– E daí?

– Sua mãe estava lá, e pediu para que meu pai lhe entregasse essa carta.

Estendeu o objeto em minha direção. Eu o agarrei, e abri o envelope.

Meu filho,

É preciso que volte para casa imediatamente. Os motivos, não sei como contar por carta. Apenas faça o que estou mandando. O mais rápido que puder.

Com amor,
Astória.


Assim que terminei de ler, voltei-me para Rose. Ela me olhava ansiosa pela notícia.

– Ela quer que eu volte para casa – respondi ao seu olhar.

– Mas... agora?

– O mais rápido possível.

– O que aconteceu?

– Vou descobrir assim que estiver na mansão.

Levantei-me do sofá, mais preocupado do que imaginava. Eu não queria nem pensar no que poderia ter acontecido. Mas era praticamente impossível deixar de imaginar. E se o meu pesadelo fosse um pressentimento? E se meu avô sabia, naquele instante, onde eu estava? E se ele estivesse me esperando apenas para dizer o que dissera no meu sonho?

Rose me seguiu pelo porão, enquanto eu colocava as roupas na mala usando a magia.

– Scorpius... – ela percebeu a minha pressa. Fechava a mala, cada vez mais a preocupação e o presságio me atingiam.

– Não que eu deseje isso... Mas eu acho que devo obedecer minha mãe dessa vez.

Quando me virei para vê-la, ela estava com uma expressão triste, mas mesmo assim concordava. Concordava com a decisão.

– Não, não, não... – eu logo apressei a dizer, me adiantando para poder abraçá-la. – Não fique assim, Weasley. Parece que você não vai conseguir sobreviver sem a minha presença!

Ela riu, apertando-se contra meu peito. Depois levantou sua cabeça e me encarou, e eu ainda estava com meus braços ao redor da sua cintura.

– Esses últimos dias não foram tão ruins... – ela comentou. – Meu pai conseguiu demonstrar um pouquinho de dignidade, você não foi espancado. Hugo gostou quando você o elogiou com o violão. Felizmente, não houve problemas com a minha mãe.

– Foi um pouco difícil elogiar o Hugo.

– Você estava mentindo?!

– Não, não. Você sabe que eu não costumo elogiar as pessoas.

– E você fez esse esforço... só para ser aceito?

– Acho que vale a pena. Sua família é muito boa, Rose. Vocês conversam na hora do almoço e da janta, estão sempre se abraçando, e mesmo com tantas discussões, você são unidos...

– E você ficou observando isso?

– Ah, é... eu esqueço que a senhorita acha que eu só tenho olhos para você! – disse sarcasticamente. Ela girou os olhos, e depois sorrindo, afaguei seu rosto com um dedo. – Rose, eu não tenho como não deixar de observar, nem você, nem sua família.

Então eu a beijei.

E aquele beijo foi diferente, a ansiedade começava a tomar conta do meu corpo. Eu senti isso, Rose também. Começou no intuito apenas de despedida, mas acabei levando-a para o sofá, e ela ofegou quando passei a beijá-la no pescoço, sem protesto algum, e deitei meu corpo sobre o dela. A mão dela estava passeando pelo meu braço, minhas costas, enquanto voltou a me beijar na boca. A pele macia... minhas mãos dentro da sua camisa, sua barriga... eu ficava imaginando o que ela estava sentindo com ao meu toque, no entanto não cheguei a passar dos limites. Parei, então, o beijo. Olhei para ela, tentando descobrir sua expressão, ainda com as mãos dentro da sua camisa de lã.

Eu percebi que a pulsação dela estava mais acelerada que a minha. Muito mais. Talvez ninguém encostara nela daquele jeito... seu nervosismo a denunciava. Desvencilhei minhas mãos. Eu voltei a ficar de pé, tirando meu corpo sobre o dela. Não sabia que eu era capaz de ser tão racional num momento daqueles.

– Eu preciso ir embora...

Às vezes eu ficava surpreso com a minha capacidade.

Rose não respondeu, estava tentando raciocinar – ou prever – o que aconteceria se eu não estivesse com pressa, com um pressentimento ruim, e precisasse ir embora logo. Eu não queria continuar aquilo, sabendo que alguma coisa ia acontecer assim que eu chegasse na mansão.

– Desculpe – apressei-me a dizer. – É que... foram vários dias sem um beijo como esse... eu precisava.

Rose estava corada quando também ficou em pé.

– Vou pedir a minha mãe para acender a lareira para você usar o pó de flu, ok?

Eu assenti rapidamente. Ela começou a andar em direção a porta. Assim que subia as escadas, corri até ela, e disse. Simplesmente disse. Precisava dizer. Ela precisava saber:

– Eu amo você, Rose.

Só havia surpresa em sua expressão. Apostava que nem imaginava que eu diria aquilo naquele momento. Quando fez menção de falar, eu logo a interrompi, dando um simples e fraco beijo nos lábios.

– Não fale nada agora... se não eu não vou resistir e ficarei aqui para sempre.

Ela fez que sim, sorrindo. Pegou minha mão, sem tirar os olhos de mim. Assim que chegamos até a sala, o sr. Weasley nos esperava. Ele entendeu quando apareci com a mala ao seu lado. A lareira já estava acesa, o fogo rugia calmamente, inofensivo.

– Não acha melhor aparatar? – perguntou o sr. Weasley quando eu disse a minha idéia. – Pó de Flu é desnecessário para essa ocasião.

– Minha casa está interditada, não vou conseguir chegar até a mansão aparatando.

– Tem certeza que a lareira da mansão está interligada a Rede de Flu? Se não será um belo fracasso se tentar...

– Eu tenho certeza, sr. Weasley.

– Então está bem. Rose, traga o frasco ali na última gaveta.

Rose o obedeceu. Depois estendeu o frasco na minha direção, e apanhei o pó com uma mão, sem desviar minha atenção de Rose.

Despedi do sr. Weasley. Rose ficou nas pontas dos pés e me abraçou, sussurrando no meu ouvido, para que ninguém mais escutasse: “Eu também amo você...” Sorri ao encará-la, como se quisesse gravar aquele momento na memória. Pedi para que agradecesse a sua mãe pela hospedagem, e então avancei até a beira do fogo.

– Escreva para mim – ela disse. Eu garanti que sim. – Tchau.

Meu último pedido foi “Mansão dos Malfoy” depois que as chamas do fogo ficaram verde-esmeralda com a influencia do pó brilhante. Então vieram as sensações e em fim voltei para a casa.

***

O silêncio despertava minha curiosidade. A mansão parecia mais vazia, abandonada. A sala estava escura, fechada, não havia nenhuma janela aberta. Chamei minha mãe em voz alta. O eco da minha voz ficou no ar durante alguns segundos.

Deixei minha única mala em um canto e caminhei até a escada. Os quadros pregados nas paredes dos corredores estavam calados, mas olhavam-me com uma frieza que chegou a me dar calafrios. Negavam com a cabeça, simplesmente como se negassem, assim, a minha presença.

Ignorando, apenas segui a direção até o quarto dos meus pais. Aproximei da porta, que se abriu com um rugido, revelando uma criaturinha pequena. Era um elfo doméstico, daqueles que ajudavam os médicos bruxos no hospital St. Mungus. Carregava uma bandeja, nela estava meia dúzia de poções coloridas, a fumaça no frasco oscilando para o ar. O elfo deu um passo para trás e fez uma reverência exagerada.

– Quem... você é? – perguntei

– Chamam-me de Derx, senhor.

– E o que o traz aqui?

– Seu pai. Um homem teimoso, ele é...

A porta se abriu de novo, dessa vez revelando a minha mãe. Ela ofegou ao me ver.

– Ah, Scorpius! Meu filho...

– O que está acontecendo? – perguntei, simplesmente notando que ela estava trêmula. – O que esse elfo está fazendo aqui?

O elfo já tinha descido as escadas.

– Devo contar-lhe tudo – a voz dela também estava trêmula. – Eis a solidão que Draco se encontrava, depois de brigar com seu avô.

– E por que o motivo da briga?

– Draco o defendeu, quando Lucius soube onde você esteve nas férias. A defesa foi o limite e então começaram a discutir. Uma briga feia e vergonhosa, eu estava por perto. Se eu não estivesse, os dois poderiam se atacar, não só com os punhos mas também com as varinhas. Mas já passou, já passou. Venha... seu pai quer vê-lo.

Entrei em seu quarto. Lá estava meu pai, deitado na cama, não se mexia. Meu coração disparou como uma bomba relógio. Pisquei ao vê-lo ali, pálido, imóvel, a respiração dele era ofegante, imperfeita.

– Pai?

Lentamente, virou a cabeça para mim. Sorriu. Nunca o vi sorrir daquele jeito. Era um sorriso verdadeiro estancado naquele rosto magro.

– Ora, ora... veja quem chegou. Venha cá, Scorpius. Quero vê-lo de perto.

Obedeci. Estendeu sua mão para mim. Aquilo estava sendo estranho, muito estranho. Segurei a mão dele. Puxando-me para perto do seu rosto, meu pai disse com a voz alta:

– Ordene para que eles me tirem dessa cama, eu não suporto ficar assim.

– O que aconteceu?

– Ah... eu meio que não me sentia bem nesses últimos dias – respondeu, displicente. – Masoquismo de minha parte. Você deve achar que eu sou um fraco, não agüento nem uma pontada de dor no coração.

– Eu não acho que é fraco, pai.

O sorriso dele desapareceu.

– Mas eu sou... fisicamente sou mais fraco do que eu mesmo imaginava.

– Não é não.

– Eu não quero que sofra por minha causa, Scorpius. Você não merece nada disso. Saiba que se eu pudesse voltar ao tempo, eu mudaria tudo. Devo dizer, agora, que o passado está me infligindo de tal forma que chego por muitas vezes perder a respiração.

– O que o senhor tem?

– Acho que não chegarei a vê-lo se casar com a srta. Weasley.

Olhei para minha mãe, que estava atrás de mim, com as palmas das mãos grudadas uma na outra, na altura de seu rosto, num evidente sinal de apreensão e surpresa. Meu pai estava dizendo coisas sem sentidos. Meu coração, a cada maldito segundo, explodia contra meu peito. Aquele pressentimento...

– Eu não vou me casar com ela.

– Por que não? Vocês formam um belo casal! Malfoy e Weasley! Porque não juntam logo o nome dessas famílias de uma vez por todas e acaba com tudo isso?

Meu pai começou a tossir exageradamente. Soltei a mão dele, virei-me para o bruxo de branco que estava parado ao lado da porta.

– Ele não está bem – avisei debilmente.

– Sabemos disso – respondeu o médico bruxo, aproximando-se da cama para dar um gole da poção que estava segurando. – A princípio achamos que era psicológico, mas já descobrimos. Não há nada que poções ou ervas possam fazer para mudar o destino do seu pai, sr. Malfoy.

– Que destino?

– Eles ficam aí dizendo que eu não tenho muito tempo – exclamou meu pai, por um mero momento rindo. – Uma besteira atrás da outra. Eu vou ficar bem, até parece que sou tão velho assim...

– A questão não é essa, se está velho ou não, é o seu coração que não está saudável, Draco – ele falou. – Entenda, para que eu não fique repetindo isso.

– Eu sei melhor do que você como meu coração está, obrigado. Não são vocês que irão decidir o que vai acontecer comigo.

– Nunca decidimos isso, Draco. A decisão é do destino...

– Pare de falar sobre o destino! – gritou meu pai, simplesmente fora de si. – O que diabos você entende sobre destino, Mcmillan? Nada! Nada! Se dependesse do destino eu já estaria morto há muito tempo. Há muito tempo!

Ele respirou com dificuldade, colocou as mãos disfarçadamente no peito e fez uma careta de dor. O bruxo lançou um olhar para mim que eu entendi como “está vendo, ele não está bem mesmo...”.

– Sabem porque ainda estou aqui? Por causa dele.

E apontou o dedo para mim.

– Deram-me duas chances quando a última guerra acabou, sabia? A chance de poder amar a minha esposa e ensinar ao meu filho. Essas duas chances me ajudaram a viver, entendeu? Eu não posso ter, de jeito algum, perdido essas chances assim... do nada. Estava eu tomando meu café da manhã sossegado, Scorpius – veja que ridículo –, de repente desmaio e perco a respiração! Agora ficam inventando essa estória que eu não vou ter tempo de conhecer o seu futuro... As coisas não podem acontecer assim, de supetão!

– Às vezes acontece – murmurou o médico. – Infe-

– Não tão cedo. Estão pregando uma peça em mim. Eu não estou doente de verdade, isso vai passar... Diga a eles que tudo vai passar, Scorpius... Agora que você está aqui, com a sua bondade, com a sua esperança... Eu sei que você é bom, Scorpius, você não é fraco... você vai me salvar.

Meu pai estava com medo.

Medo de ir embora, de me deixar. Ou simplesmente com medo da morte.

O doutor Mcmillan segurou meu ombro e me levou para fora do quarto. Foi então, ali no corredor da mansão, numa manhã de janeiro, que soube que meu pai estava morrendo.

– Faça alguma coisa – eu ordenei. – Ele vai ter que ficar bem. Ele quer ficar bem.

– Há certas coisas inevitáveis...

Aquele tom de voz meloso deixava-me extremamente enjoado. Aquela expressão de falsa pena, de sentimento, eu conhecia exatamente esses tipos de pessoas. Não desejava nada além de pagamento pelo que estava fazendo pelo meu pai.

– Nada é inevitável – eu me afastei do doutor. – Isso tem que ser evitável. Pelo menos isso. É só uma dor, ele diz que vai passar.

– Seu pai é teimoso, Scorpius. Não faz pouco tempo que está se sentindo assim, fraco e vulnerável... Semana passada, sua mãe o levou, a todo custo, para o hospital St. Mungus. Assim que ele descobriu a doença que o infligia, Draco se recusou a passar a noite para ser diagnosticado no St. Mungus. Simplesmente quis ficar aqui na mansão.

– O senhor é um bruxo, faça alguma coisa.

– Não posso fazer nada mais além de poções para curar as dores instantâneas. Mas a doença está no sangue dele, e não tem nada a ver com doenças mágicas ou algo do gênero. O tempo fez isso, eu diria.

– Ele tem alguma chance?

– Acho que Draco já... aproveitou todas que tinha. Mas é bom que tenha esperanças, Malfoy. Ele vai precisar de você.

– É um mundo injusto, sabia?

Eu só queria saber por que tudo estava conspirando contra mim. Por que, quando achava que eu teria um pouco de sossego, as coisas mudavam? Por que, quando eu conquistava uma coisa, descobria que logo perderia outra? Eu depositara todas as esperanças para ser aceito pela família de Rose, agora eu não sabia se ainda tinha mais alguma para poder salvar o meu pai daquele destino. Mas precisava haver... para isso deveria haver esperança.

Assim descobri que uma vida era capaz de mudar como se precisasse apenas de um aceno com a varinha. Apenas uma sacudida na varinha, as coisas mudavam. Você quebrava os óculos ou um vidro, logo proferia “Reparo!” e os objetos ficavam intactos. Mas, também, descobri que não era possível usar magia para arrumar as coisas quebradas em relação a uma vida. Talvez a única magia para concertar era a esperança que existia dentro da gente...

Então eu decidi, naquele mesmo instante, enquanto via meu pai se enganando, que eu não ia desistir dele. Eu passei por muita coisa por ele e com ele, e ainda queria passar, mas que fossem momentos bons, momentos em que nos abraçávamos por qualquer coisa, como Rose e Hugo faziam com os seus pais. Eu ainda tinha esperança, sabia disso, de que não havia acabado, de que seriamos felizes. Eu imaginava que ainda diria ao meu pai o quanto ele tinha importância para mim.

Não consegui olhar para minha mãe quando a via pela mansão. Era mais dor para suportar. Ela estava tentando demonstrar algum tipo de otimismo, mas eu sabia que ela mesma não queria se enganar. Minha mãe conhecia meu pai melhor do que ele mesmo. Vivia com ele, sempre disposta a amá-lo, e o seu pressentimento era mais forte. Eu temia perder as esperanças se eu enxergasse a tristeza dela. Nem me esforcei para tentar fazer as coisas melhorarem, porque não havia nada que eu podia fazer, apenas segurar a mão do meu pai e conversar com ele ao lado da cama.

– Diga, Scorpius – ele pedia, uma animação em sua voz que tentava apagar a aflição da minha –, como foi passar o Natal e o Ano Novo com os Weasley? Eles foram legais com você?

– Foram – eu respondia. – O sr. Weasley é um...

– É o quê?

– Não é melhor do que você – eu completei, vendo em seguindo um outro sorriso. Será que era tão fácil sorrir naquele estado de vida? Se olhassem para Draco Malfoy naquele instante, as pessoas não se perguntariam até quando ele continuaria a respirar.

– Muito bem, Scorpius, está aprendendo. Está aprendendo... Eu sabia que não se surpreenderia com ele, assim como se surpreende comigo! Agora me diga – sua voz ficou baixa – mais sobre essa tal de... Rose Weasley. Ela é mesmo parecida com a Hermione Granger como dizem que ela é?

Eu fiz que sim.

– Hum. Será que eu devo perdoá-lo por gostar de uma traidora de sangue? – eis a questão.

– Por gostar sim, pai, e se por amar...

Ele me interrompeu.

– Não diga que você a ama. Sabe o que é amor, pelo menos? Aposto que nem sabe...

– O senhor sabe?

Ele ficou calado, um tempo pensando, a respiração irregular. De modo apreensivo, eu comecei a dar muita atenção a pulsação dele. Às vezes meu pai falava ofegando, outras com a voz normal. Dependia do dia, dependia do assunto. Ao perguntar aquilo a ele, meu pai falou ofegando:

– Demorei um tempo para descobrir, Scorpius – ele contou. – Na sua idade, eu nem sabia se ia sobreviver para descobrir. Você sabe como foram tempos como aqueles, pareciam sugar toda a minha vontade de viver. Seriamente, eu estava sendo obrigado a viver, e não queria. Tinha que fazer as coisas por Voldemort. Sabia que eu fui encarregado de assassinar Alvo Dumbledore? Pois bem, nunca lhe disse isso. Mas acho que você deve saber agora... Deve saber também que fui incapaz, completamente incapaz de matá-lo... Eu achei que conseguiria... mas eu não era um assassino. Eu era um desesperado, sacrificando tudo para conseguir manter orgulho na família. E com isso, não havia tempo para amar.

– Precisou haver tempo para isso?

– No meu caso, sim. E só depois que todo o pesadelo terminou, eu encontrei um tempo. Tentei redimir os pecados, cheguei a pedir desculpas a Harry Potter, mas ele tinha coisas a mais para se preocupar.

– O senhor e mamãe estavam casados?

– Sim. Sim. Foi um casamento rápido, eu só queria ficar com Astória para o resto da vida. Ela me amou primeiro, a sua mãe, ensinando-me a compreender o quanto era importante sentir isso pelo menos uma vez nada vida. Eu tentei, pergunte a ela. Tentei com todas as forças amá-la como ela me amava.

– E conseguiu?

– O desejo que eu tinha de possuí-la era tanto, que quando Astória se afastava, eu voltava a sentir aquela frieza minha, aquela raiva do mundo... e achava que estavam querendo tirá-la de mim... Aí ela aparecia, com aquele tom arrogante, irresistível, só me fazendo desejá-la para mim. Amar, eu acho, é ser egoísta. Não compartilhar com mais ninguém o que deseja. E ao mesmo, pensar em todas as formas de nunca soltá-la, apenas de protegê-la... pensar que é o único que pode fazer isso por ela...

– O senhor... chegou a ter medo de amar?

Ele não respondeu imediatamente. Tomou fôlego, e disse:

– Medo? É claro que já tive medo. Amar é tão perigoso quanto qualquer outra coisa no mundo, exceto odiar é claro. Você chega a fazer tudo quando ama, até o que não deve, até o que não pode. E raramente se arrepende disso.

O assunto foi terminando por ali... Duas vezes naquele dia meu pai tentara se levantar da cama. Mas sabia que não agüentaria por muito tempo, então voltava a se deitar. Ele pedia para que eu não fosse embora, contava algumas histórias sobre sua vida no colégio antigamente, e tentava, como bônus, falar sobre os Weasley, pela primeira vez, sem desprezá-los.

Como indicara o doutor bruxo Macmillan, eu precisava fazer meu pai engolir três goles de uma poção estranha. Minha mãe me ajudava com várias coisas, e meu pai reclamava com razão que estávamos agindo como se ele fosse uma criança que precisasse de cuidados especiais. Uma vez chegou até a berrar com a gente, e ainda dissera: “Ficam me falando que eu não tenho mais chances, e ficam me enchendo de remédios nojentos! Deixem que o tempo vai saber a hora que eu devo parar!”.

Na noite seguinte, minha mãe resolveu ficar sozinha com ele. Eu ia passar para desejá-los boa-noite, mas parei abruptamente. Eles estavam chorando. Alguma coisa se formou na minha garganta, só que eu me recusei a chorar. Eu não ia. Não, aquilo seria sinal de que estava tudo perdido, eu não ia deixar isso passar pela minha cabeça. Voltei para meu quarto, numa postura rígida.

Rose me mandara uma carta naquele dia, fazendo perguntas. Eu não ousei responder, dizer tudo o que estava acontecendo por meio de cartas seria grotesco demais. Eu precisava vê-la, eu precisava sentir paz, eu precisava dela, conversar com ela. Mas eu não queria me distanciar do meu pai. Cada vez mais parecia estar chegando perto, perigosamente perto do fim.

Meu avô estava em um canto da mansão. Há tempos que não ouvia sua voz. Ele estava sentado em uma poltrona, com a bengala no colo, olhava para frente, para o nada. Eu tentei conversar com ele algumas vezes, mas minha avó segurava meu ombro assim que eu sentava no sofá ao lado da poltrona dele, e negava com a cabeça dizendo docemente:

– Deixe-o, assim será mais fácil. Não se deve interromper um homem de seus pensamentos.

Era minha avó que estava me dando forças. Abraçara-me do seu jeito, dissera que eu podia chorar se quisesse. Mas chorar era um sinal de fraqueza, e naquele momento fraqueza era a última coisa que eu deveria ter.

– Nada aconteceu com meu pai ainda – eu dissera a ela.

Estava começando a sentir que eles queriam que eu me contentasse. E não havia mais nada dentro de mim, apenas raiva por causa disso. Como podiam me fazer contentar com o fato de que meu pai estava indo embora? Eu estava furioso com o pessimismo, que por dois dias deixei de me pronunciar naquela mansão.

No fim das férias, eu fiquei deitado na minha cama analisando as exatas dez cartas que Rose me mandara. Eu respondi, naquele dia, explicando os motivos que me levaram a não responder. Explicando tudo o que estava acontecendo. Rose não deveria ficar na angustia, suas cartas denunciavam esse sentimento.

O silêncio, como sempre reinava a mansão. Eu acordei no meio da noite, depois do pesadelo que mostrara que o pior havia acontecido. Eu queria me certificar de que não era verdade. Apressei-me a andar, abri o quarto dos meus pais. Lá estava minha mãe, deitada no peito do meu pai. Fiquei mais aliviado quando ouvi a voz dele.

– Vai ficar tudo bem, Astória! – ele parecia irritado. – Eu não vou abandonar vocês! Amanhã vou me levantar dessa cama.

E foi o que fez. Ele pediu minha ajuda para isso.

– Quero ver o céu hoje – disse como se fosse uma das maiores decisões.

– O céu?

– É. Eu sonhei com o céu hoje, quero ver ele.

– Caramba, pai...

– Sem enrolação, Scorpius, me leve para fora dessa casa. Na realidade, tire suas mãos de mim. Eu vou andar sozinho.

– Por que o senhor não consegue?

– Essa dor ridícula tira minha força pra isso. Mas eu estou me sentindo bem hoje.

Assim, ele foi andando calmamente até a sala, descendo as escadas. Lá em sua poltrona, estava meu avô, na mesma posição.

– Bom dia, pai! – Draco deu um tapinho fraco na nuca do meu avô que lentamente se virou para nos ver.

– Aonde vão?

– Viver. Quer nos acompanhar também?

Por um segundo, achei que meu avô o ignoraria. Mas se levantou e nos acompanhou até o terreno aberto da mansão.

– Uauu... – exclamou meu pai ao ver o céu claro daquela manhã. – Vamos sentar naquele banco ali.

Meu avô assentiu. Eu sentei entre os dois, e tudo ficou calmo de repente.

– Por que será que parece que estou em Hogwarts? – perguntou meu pai, sem tirar os olhos do céu. Meu avô não respondeu.

– Sei lá – eu respondi.

– Voltará quando para a escola, filho?

– Devo ir amanhã.

– Já sabe o que vai fazer da vida depois que se formar?

– Não...

– É hora de começar a pensar. Problemas com nota você nunca teve, não é? Aposto que superou a srta. Weasley em todos os exames.

– Não, infelizmente não.

– Pelo menos ficou em segundo.

– Quantos pontos já fez para a Sonserina, Hyperion? – meu avô perguntou.

– Perdi até a conta – respondi.

– Isso é bom – os dois comentaram em uníssono.

– Sabe – suspirou meu pai –, se um dia eu for para lá – e apontou o céu – eu vou ficar satisfeito em saber que criei um homem como você, Scorpius. Pelo menos disso eu não me arrependo mais. Não vou embora infeliz, de jeito algum. Eu andei pensando nessa semana muito mais do que alguém seria capaz de pensar em uma vida inteira. É um rapaz bom, Scorpius... se assim não fosse não conquistaria uma Weasley, não é verdade?

Ele olhou para meu avô, como se o “não é verdade” fosse dirigido a ele. Lucius, no entanto, apoiou a bengala no chão e se levantou para ir embora. Meu pai encostou suas costas no banco e relaxou.

– É um homem difícil – comentou. – Ele sabe que não pode mais mudar o caminho que essa família vai seguir.

Naquele momento, avistamos duas pessoas entrando pelo portão de ferro. Meu pai se levantou lentamente, surpreso ao ver um homem moreno e outro ruivo. O sr. Weasley e o sr. Potter.

– Por que eles estão aqui? – murmurou meu pai, andando em direção a eles, perto do jardim.

– Oi, Draco – exclamou o sr. Potter, logo apertando sua mão. – Espero, sinceramente, não atrapalhar.

– É – ele olhou para o chão –, não estão.

Pela primeira vez na minha vida, eu vi meu pai e o pai de Rose apertarem as mãos.

– O que os trazem aqui tão cedo? – meu pai perguntou. Eu me aproximei deles, cumprimentando-os também.

– Decidimos visitá-lo – respondeu o sr. Potter. – Espero que tudo esteja bem.

– Estão sabendo o que está acontecendo? Pois é claro, não viriam por motivos bobos como só para dizer oi. E sim, adeus, não é?

Potter e o Weasley se entreolharam.

– Estamos aqui nem para lhe dizer oi, nem para lhe dizer tchau nem nada – respondeu o sr. Weasley. – Simplesmente para ver como está.

– Eu estou extremamente bem. Mais do que podem imaginar, eu estou com meu filho.

– Isso é muito bom, Draco – disse o sr. Potter. Depois ele analisou a mansão. – Sabe, não tenho boas lembranças da última vez que estive aqui.

– É – concordou o sr. Weasley. – Mas podemos entrar na mansão?

Meu pai ficou olhando para eles, eu faria de tudo para saber o que passava em sua cabeça naquele momento. Será que ele estaria feliz em vê-los? Ou apenas confuso? Não sabia.

– Não acho que seja uma boa idéia – disse meu pai. – Minha mulher não está muito convidativa nesses últimos dias, estou pensando por ela.

– Entendo, entendo – colocou o sr. Potter. – Rony ainda é um intrometido, não devia ter feito essa pergunta. Podemos ficar aqui fora mesmo.

O sr. Weasley cruzou os braços, as orelhas ficando vermelhas. Meu pai os convidou para se sentar nas cadeiras que tinha ao redor de uma mesa redonda. Quando o sr. Potter e ele se sentaram, o sr. Weasley olhou para mim durante alguns segundos.

– Rose anda muito preocupada com você. Ela insistiu em vir.

– O senhor não a deixou?

– Ela sabe que viemos pelo Draco, então ficou lá em casa – disse o sr. Potter. – Mas espera ver você amanhã em Hogwarts.

Logo depois, os dois homens mais importantes da história da magia viraram-se para o meu pai. O sr. Potter perguntou:

– Conte-nos, Draco, toda a sua história.

Pelo visto, ninguém jamais fez aquela proposta. Meu pai ajeitou seu casaco, e respirou firme. Eu sabia que ele andara muito tempo sem conversar com alguém que estivesse interessado na sua história. E pareceu extremamente satisfeito quando começou a falar. Satisfeito que pelo menos podia contar sua história justamente aos homens que ele estivera durante a vida tentando se desculpar.

Assim que terminou seu relato, o sr. Potter e o Weasley se levantaram, e se despediram. Assim que foram embora, meu pai se virou para mim, as pálpebras caídas, soltou um suspiro.

Rapidamente, algo me avisou que aquele seria o último.

– Eu não me sinto bem. – Ele colocou as mãos no peito, e cambaleou. – Desculpe, Scorpius.

– Pai! – eu gritei ao vê-lo cair na minha frente.


*****


N/A: J.K Rowling falou que ele não terá uma vida muito fácil! hum... eu não tenho muito o que dizer. Posso ter despertado vários comentários com esse capítulo. Sei que fui má, justamente agora quando Draco estava tentando se redimir. Não queria que Scorpius realmente sofresse tanto... mas quando eu comecei a escrever a fic, eu estava ciente de que isso aconteceria. Eu disse a mim mesma: “Scorpius vai passar por muita coisa, mas não vai desistir, ele vai ser forte.” Então não é o fim! Eu ainda acredito que ele vencerá muitas coisas, espero que vocês também acreditem *-* Por isso, nãoo parem de ler a fic por ficarem com raiva do que aconteceu!! ._.

Obrigada à brenda moreira, Pollita, Leeh, Larissa, viviane cipriano, Ana Te, Mimi Potter, Karla Dumbledore pelos comentários.

Até a próxima,
Belac.

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Comentários (3)

  • Mariana Berlese Rodrigues

    SIMPLISMENTE P-E-R-F-E-I-T-O ESSE CAP. A-M-E-I *.* #MORRI  A-M-E-I <3 <3 <3  MUITOOOOOOOOOO LINDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA *.* CHOREI AQUI :)MUITO LINDOOOOOOOOO ESSE CAP. O + LINDO ATE AGORA *.*O HARRY E O RON INDO VER O DRACO?? ADOREI ESSA :)

    2013-02-06
  • Nikki W. Malfoy

    Eu não fiquei com raiva, mas juro pra vc que chorei quando a ultima linha do cap., eu adoro o Scorpius, mas saber o que o Draco não vai mais estar presente no enredo me deixa um pouco triste... estou amando a fic até aqui. ParabénsP.S:Eu sei quem vc é...MUAHAHAHHA  

    2012-05-31
  • Lana Silva

    Acho que o que não teve assim de tão triste nos outros capitulos valeu por esse :( fiquei muito triste serio :(

    2012-02-16
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