Sangue Puro e Traição
cap.18 - Sangue Puro e Traição
"Atiramos o passado ao abismo, mas não nos inclinamos para ver se está bem morto."
(William Shakespeare)
Ele lembrava, não fizera questão nenhuma de esquecer. Por mais que as memórias fossem remotas, eram nítidas além de tudo, e ele as lembrava com um fulgor nos olhos, obrigando minha atenção a fixar-se completamente nas palavras dele. Tudo o que Ronald Weasley relatava sobre a época mais sombria da história da magia não era novidade para mim, mas sua perspectiva sobre os fatos era tão diferente da que eu ouvira há dez anos atrás, contada pelo meu pai, que achei que ele estava se lembrando de outra história, já que nela não havia Comensais da Morte, não havia maldições imperdoáveis, não havia ordens de Voldemort. Mas sim estragos, perdas terríveis, um último sorriso, a última batalha, varinhas quebradas, fuga, medalhões. A única semelhança de ambas as lembranças era que, tanto minha família quanto a família Weasley, em meio a tudo isso, haviam sentido medo e aflição. Apenas o caminho, a estrada, a aventura fora diferente, porque, como o sr. Weasley mesmo afirmara, as escolhas que minha família fizera foram completamente diferentes das escolhas da família Weasley.
– Enquanto lutávamos para proteger as pessoas, sua família decidiu se aliar a Voldemort. Acharam que venceriam, mas devo dizer, como Harry diz, que foram tão ignorantes...
A sra. Weasley, sentada ao lado dele no sofá enquanto a história era contada, pigarreou.
– Não vou hesitar em dizer a verdade – reclamou o sr. Weasley olhando para mim, e percebendo o que sua mulher quis dizer com aquela interrupção. – Você já sabia disso, não sabia?
– Até demais... – respondi. – É uma verdade que não pode ser ignorada, eu acho.
– Exatamente – ele concordou.
Rose permaneceu ao meu lado num silêncio estranho, de frente para seu pai e ao meu lado. Momento algum abriu a boca para falar ou comentar, apenas ouvia e observava. O sr. Weasley preferiu o momento em que coloquei os pés na sala de estar repleta de enfeites de Natal, para conversar. Então foi aí que começou a contar seu passado que achou que provavelmente eu não conhecia. Parecia que estava preocupado que talvez eu não soubesse a rivalidade que existia entre Malfoy e Weasley. Entre um sangue puro e um traidor de sangue.
– Essa história não pode dar certo, entendam – ele disse, quase desesperado.
Esse comentário então fez pela primeira vez em duas horas Rose falar:
– O que o senhor está tentando fazer também não.
– O que estou tentando fazer?
– Nos separar.
A sra. Weasley suspirou, também calada em seu canto ao lado do marido.
– Não fiz nada para separá-los até agora – exclamou Ronald, indignado. – Nada.
– Só ao dizer que não pode dar certo já é alguma coisa – Rose falou, com a voz firme. – Os tempos mudaram, pai. As pessoas não são mais as mesmas, nem os sentimentos. Posso alegar infinitamente que a culpa não é nossa, mas se aconteceu por que é tão difícil aceitar isso?
– Querida, não é questão de aceitar – disse a sra. Weasley. – Vocês podem ficar juntos pois ainda são adolescentes, mas... na minha opinião, vocês estão se apressando demais com essa história de ficarem juntos até nas férias.
Rose olhou inconformada para a sua mãe.
– É o que eu desejo, é o que Scorpius também deseja, então não é apressarmos as coisas! Estamos fazendo algo que queremos juntos. Mas isso só vai acontecer quando a gente decidir nos casar!
O sr. Weasley segurou com força o sofá e engasgou.
– Merlin... vocês pensam sobre isso? – perguntou a sra. Weasley realmente chocada.
– Não! – Rose respondeu, zangada. – Só estava dizendo que isso seria apressar as coisas. Mas estamos apenas aproveitando o tempo que resta. Pois caso ainda não tenham reparado, estamos a ponto de sair de Hogwarts para encontrar algum futuro profissional e não haverá outros anos, mãe.
Um silêncio. A sra. Weasley falou baixinho:
– Entendi. Vocês não querem perder tempo, tem receio pelo que pode acontecer assim que saírem de Hogwarts. Ótimo – ela exclamou, meio sarcástica, mas se levantou e deu um tapinha no ombro do marido. – Vamos, Ronald, a conversa já acabou.
– Rose, ainda quero falar com você.
– Pai, eu não...
– Por favor.
Rose não objetou mais, então seguiu seu pai até a cozinha. A sra. Weasley ficou olhando para mim assim que eu também me levantei.
– Eu vou colocar as minhas coisas no porão – avisei.
– De jeito algum – ela falou, alarmada. Por dois terríveis segundos achei que ela ia me expulsar ou me mandar embora. Por dois terríveis segundos nunca desejei tanto poder dormir num porão, nunca desejei tanto ser aceito em um lugar. – Você não acha que vai dormir no porão mesmo, acha? A sala é uma idéia melhor.
– Eu não quero dar mais razão para o sr. Weasley ficar zangado. Já basta a minha presença.
A sra. Weasley quis dizer alguma coisa, mas foi interrompida quando Rose voltou. Sem mais conversas, ela decidiu me guiar até o porão.
Atravessamos a sala e Rose abriu a porta que ficava ao lado de uma estante cheias de livros. Quando empurrou a porta enferrujada, havia uma escada que descia para um aposento empoeirado e espaçoso. Algumas caixas de papelão estavam espalhadas pelo chão.
Assim que entramos no porão Rose disse:
– Achei que meu pai não seria tão frio com você. E você não vai dormir nesse porão, seria genioso se eu aceitasse.
– Por que estamos aqui então?
– Talvez essa seja a última chance de ficarmos sozinhos de verdade. Meu pai vai ficar de olho na gente toda hora, não porque você é um Malfoy, mas porque você é meu namorado.
Eu tirei uma mecha de cabelo dos olhos dela.
– Ele acha que eu estou obrigando você a ficar aqui – ela falou.
– Acha mesmo?
– Mas se você se achasse obrigado você não iria continuar aqui, iria? – ela parecia insegura.
– De maneira alguma – eu concordei. – Agora... eu vou dormir no porão mesmo. Não se preocupe, isso pode fazer seu pai gostar.
– Quer ajuda para arrumar tudo então? – ela suspirou, ainda abominando a idéia de ficar no porão.
– Por favor.
Em dez minutos tudo estava limpo e aconchegante. Coloquei minhas malas num canto e quando voltamos para a sala, vi Hugo assistindo à televisão ao lado de sua mãe.
– Que estranho – eu comentei ao ver aquelas imagens. Rose apenas riu diante do meu comentário.
A sra. Weasley ouviu e falou:
– Não vai demorar a se acostumar, estamos numa cidade trouxa onde tudo é trouxa. Então, só para avisar, não é bom ficar fazendo magia por aqui. Temos vizinhos que adoram observar.
– Na realidade, eu já cheguei a conhecer um pouco sobre isso. Mas nunca vi nada de perto.
– No primeiro ano os bruxos são obrigados a assistirem um mês de aula de Estudos dos Trouxas, não é? – ela disse. – A nova lei do Ministério!
– Meus avós não ficaram muito felizes com isso.
– Eu imagino...
O sr. Weasley apareceu, ninguém sabe de onde:
– Onde vocês estavam? Porque demoraram tanto?
Devia imaginar que aquele tipo de desconfiança seria constante nos próximos dias.
– Eles estavam arrumando o porão, Rony – disse a sra. Weasley para tranqüilizá-lo.
– Aham, aham... – depois mudou de assunto drasticamente: – Hermione, não vamos passar o Natal na Toca amanhã. – Aquilo foi um choque para mim, já que eu ouvia falar que os Weasley sempre passavam as férias n’A Toca. Logo fui percebendo que a culpa era minha. – Meus pais vão passar com o Harry e a Gina. Vamos ficar aqui na cidade mesmo então, não quero viajar.
– Não acredito! – exclamou Hugo se levantando. – Fala sério, nunca tem nada para fazer aqui, e agora eu vou ter que ficar no Natal em casa com ele?
Apontou o dedo para mim.
Depois que ninguém respondeu, Hugo subiu as escadas e bateu a porta do quarto.
– Hugo ainda acha que o papai Noel só leva presente para ele quando está na casa da vovó! – disse Rose em voz alta para o irmão escutar.
– Rose, não irrite o Hugo agora – suplicou a mãe. Depois ela se virou para o marido. – Querido, por que você não vai comprar algumas coisas para que eu comece a fazer a comida de Natal esta noite?
– Você vai fazer a comida? – deu para perceber a decepção na voz do sr. Weasley.
A sra. Weasley ficou completamente magoada e começou a discutir com ele. Aproveitando o tempo de distração dos pais, Rose pegou minha mão e me conduziu para a escada, onde me apresentou todos os cantos da casa do segundo andar, inclusive seu quarto.
Eu observei o aposento. Era a cara de Rose. Livros, livros, livros e livros. Tanto de bruxos quanto de trouxas. Lá embaixo, o sr. e a sra. Weasley discutiam. Comecei a caminhar, enquanto via as fotos e os quadros pregados na parede, pelo quarto dela.
De repente eu percebi que havia alguma coisa diferente.
– Por que essas fotos não se movimentam? – eu perguntei tentando não parecer um retardado, mas era inevitável.
– Foram meus avós que tiraram. Meus avós trouxas – ela respondeu paciente, me seguindo com as mãos no bolso da calça jeans. Senti que em nenhum segundo ela desviou o olhar de mim. Parecia estar pensando, refletindo sobre o fato de que eu estava ali no quarto dela.
– Que livro é esse? – perguntei. Peguei o livro na mão e li o título: – “Os Contos de Beedle, o Bardo”?
– Traduzido das runas originais pela minha mãe – teve o orgulho de acrescentar.
– Sua mãe traduz livros?
– Em tempos livres, enquanto não fica ocupada com essa história de liberação dos elfos domésticos. Prepare-se para ouvir falar muito disso aqui em casa.
Sorri para ela, garantindo que ia me preparar. Ficamos em silêncio por alguns segundos, depois Rose decidiu quebrá-lo:
– É melhor voltarmos para a sala. Acho que eles acabaram de discutir.
– É sempre assim? – eu perguntei, enquanto caminhávamos pelo corredor.
– O quê? Discussões? Sinceramente, se você conhecesse meu pai e minha mãe você acharia muito estranho se eles não discutissem um com o outro.
Chegamos na sala no momento em que a sra. Weasley avisou que ia fazer o jantar do Natal fosse o que fosse. Ainda alegou que se o sr. Weasley reclamasse ficaria sem a sobremesa. Desse modo, ele não fez mais questão de protestar.
***
Assistíamos à televisão enquanto esperávamos pela janta. Assim que a sra. Weasley chamou todo mundo, entrei na sala de jantar e sentei ao lado de Rose na mesa, de frente para o pai dela que me olhava da mesma maneira de sempre. Eu não me incomodava com isso, mas Rose sim.
– Pai, pegue um garfo para mim ali no outro lado da mesa – ela pediu como se assim pudesse fazê-lo desviar a atenção sobre mim.
– Claro, filhinha, aqui está. – Depois voltou a olhar, como se não tivesse sido interrompido. – Quantos anos tem, Scorpius? Treze?
– Dezessete.
A sra. Weasley sentou a mesa depois que colocou toda a comida ali no centro. Chamou Hugo, mas ele não apareceu em nenhum momento.
– Quais são suas intenções com a minha filha?
– Boas...
– Como eu posso acreditar em você?
– Rose sabe que são boas, senhor.
Ele me olhou com desprezo.
– Senhor. Tome, coloque mais pimenta na sua comida – disse como se me oferecesse um cálice cheio de veneno e me entregou o pote antes de começar a comer. Mas isso não o fez esquecer quem estava presente na mesa. – Você é filho de Draco Malfoy.
– Ele sabe disso – falou Rose, sem deixar de transparecer a impaciência. – Será que podemos mudar de assunto? É Natal...
Ele a ignorou. Mas antes que perguntasse outra coisa, eu disse:
– Rose significa mais do que imagi-
– Você é apenas um namorado – retrucou antes que eu terminasse. – Namorados se separam!
– Isso jamais vai acontecer... – Saiu da minha boca involuntariamente, nem eu soube como. Mas já era tarde, o sr. Weasley escutara.
Tanto que ele alfinetou o bife com o garfo bruscamente.
– Não use esse tom de convicção – apontou o bife espetado em minha direção. – Não se deve confiar no que acha que vai acontecer no futuro, assim ficará decepcionado. É bom que saiba disso.
– Podemos falar sobre a escola? – perguntou a sra. Weasley, parecendo um pouco sem-graça. Olhou para Rose e perguntou: – Como é que está o Neville?
– A matéria dele está mais difícil que Poções – comentou Rose, feliz com a chance de desviar aquele assunto. – Muito mais difícil, até Alvo concorda comigo.
– Alvo! – exclamou o sr. Weasley parecendo animado de repente. – Vamos falar do Alvo. Scorpius não se importa, não é? É outro rapaz bonitão que anda por aí com a Rose. É primo dela também.
Como se eu não soubesse.
– Bem – hesitou Rose. – Alvo está ocupado com os testes, e até deixou o Quadribol de lado. Não estou mais... falando tanto com ele. Além disso, acho que Alvo está namorando uma garota da Corvinal.
– Mas o que é isso?! Só me falta dizer que a Lily também está namorando!
– Ela tinha um namorado, mas os dois terminaram antes do Natal, você sabe... ela não gosta de ficar presa a alguém – respondeu Rose distraída, enrolando o macarrão no garfo.
– A Gina também era cheia de namorados – relembrou a sra. Weasley.
– Mas a Rose nunca ficou saindo assim aproveitando a boca dos outros, não é? – disse o sr. Weasley. – Só é esse aí, não é?
Dessa vez ele apontou a faca que estava segurando na minha direção. Eu espreitei, imaginando se ele estava desejando que o objeto escorregasse de seus dedos.
Rose franziu a testa, exasperada.
– É, pai... só esse daqui.
Depois quem decidiu fazer as perguntas foi a sra. Weasley. Talvez ela se preocupasse mais com o meu nível de inteligência do que com outra coisa, ao contrário do sr. Weasley. Ela me perguntou sobre Hogwarts, uma História – livro que nunca cheguei a encostar o dedo e ela pareceu decepcionada quando soube disso –, fez algumas perguntas dos N.I.E.M’s, e quis saber mais sobre minha opinião sobre Elfos Domésticos. No fim da janta, Rose estava mais aliviada sabendo que pelo menos sua mãe não desejava me ameaçar com perguntas. Não que eu achasse que a sra. Weasley gostasse de mim, mas era bom saber que eu não teria que enfrentar dois pares de olhos duvidosos e furiosos. Apenas o do sr. Weasley já era o suficiente.
E, se ele me desse uma chance, entenderia porque eu estava ali.
E não era porque eu queria encher o saco deles ou irritá-los, era porque, mesmo com o sr. Weasley prestando atenção, Rose me enviava uma expressão de intensa felicidade e satisfação. Eu estava lá porque não suportaria ficar distante daquilo, da sua presença. E parecia que ela também não suportaria.
– Já é Natal! – exclamou Hugo, que meia-noite desceu a escada para avisar. O sr. Weasley tinha saído da mesa logo que acabou a comida e apenas ficou Rose, eu e a sra. Weasley conversando na mesa naquela hora.
– Feliz Natal a todos! – ela disse, levantando para pegar os pratos.
– Eu... faço isso, sra. Weasley – tive que ter um pouco de esforço para oferecer tirar as coisas da mesa, mas valeu a pena porque ela olhou para mim com uma expressão de puro agradecimento e até me desejou feliz Natal.
Hugo e a sra. Weasley se abraçavam, então Rose me ajudou a tirar as coisas da mesa e quando entramos na cozinha ela largou as coisas na pia, e aproveitou para ficar na ponta do pé, jogando os braços ao redor do meu pescoço. Eu ainda segurava dois pratos.
– Feliz Natal – ela falou bem baixinho. – Agora eu sei que eu tive sorte, apesar de tudo.
– Por quê?
– Ninguém seria capaz de agüentar a minha família da maneira como você está agüentando. Não sei, mas acho que cada vez que meu pai lembra que você é um Malfoy, mais apaixonado eu fico por você. – Assim que eu sorri para ela, Rose me deu um beijo de alguns segundos e depois me soltou calmamente.
– Você sabe que é tudo por você – eu disse da forma mais displicente que consegui, enquanto colocava o prato na pia.
– Embora eu saiba, de alguma forma gosto quando você diz.
– Ter certeza das coisas nunca é demais, afinal – eu comentei.
– Nunca...
– E você sabe que eu te-
– Vamos abrir os presentes, Rose! – exclamou o sr. Weasley antes que eu terminasse de dizer. Eu ia dizer, eu ia dizer o que nunca disse a ninguém na vida se o pai dela não tivesse interrompido e entrado na cozinha. Foi um aviso de que aquele ainda não seria o momento ideal para revelar diretamente a ela que eu a amava, para ela ter certeza daquilo. – Vamos, vamos!
Eu os acompanhei até a sala então, e fiquei observando, sentado na poltrona um pouco distante, a família reunida naquele Natal. Estavam sentados no chão perto da lareira e da árvore de Natal maravilhosamente colorida e cheia de presentes ao redor. Hugo deu a Rose um livro trouxa que se chamava “Para Ser Uma Irmã Legal” e Rose deu ao irmão uma luva de Quadribol profissional, deixando-o um pouco arrependido por ter dado aquele livro a ela. Mas Rose garantiu que ia ler, e se fosse interessante como dizia na capa, ela ainda garantiu que tentaria ser uma irmã mais legal.
– Uau! – exclamou Hugo ao abrir o segundo presente, que era um violão acústico preto. Ele ficou sem palavras ao ver o quanto a madeira brilhava diante das chamas da lareira acesa ali perto. – Mãe... pai...
– Foi o vovô Granger que deu – disse a sra. Weasley, sorrindo.
Hugo ajeitou o violão no colo e ficou concentrado para ver se saía algum som interessante de seus dedos.
– E esse é para Rose – falou o sr. Weasley entregando a ela um pequeno embrulho. Era uma pulseira inteiramente de ouro. Rose ficou olhando para o objeto durante um bom tempo, parecendo petrificada no lugar. Franzi a testa quando ela mordeu os lábios, estranhando que em seus olhos havia um brilho diferente.
– Era da vovó – a sra. Weasley falou baixinho, passando as mãos no cabelo dela. – Um dia ela disse a mim que queria que você o tivesse.
– É maravilhoso – Rose murmurou. – Eu queria ter chance de agradecê-la agora.
Finalmente compreendi. A avó materna de Rose havia falecido há algum tempo atrás e como presente guardou a pulseira para que Rose a recebesse no Natal, como uma herança. Rose agradeceu a mãe, sabendo que não tinha como agradecer sua avó. Ela guardou com cuidado a pulseira e esperou pelo próximo presente.
Enquanto eu assistia aquele momento familiar, uma sensação estranha invadiu meu peito. Aquela sensação de que eu não deveria estar observando-os, aquela sensação de que minha presença era desnecessária e que eu não passava de um intruso. Eu observava as trocas de presentes, escutava Hugo tocando violão como se quisesse criar uma trilha sonora a cada presente que abriam, e ficava sentindo que aquela família tinha todas as razões para me tratar com a indiferença que faziam.
Só que Rose olhou para mim num momento que eu também a olhava. E sorriu como se ela mostrasse que não havia me esquecido ainda. E o efeito era forte demais para que assim toda aquela sensação se dissolvesse. No fundo, só com aquele sorriso, eu podia achar que Rose me incluiria na sua família, se tudo dependesse dela.
– Vem cá – ela mexeu os lábios, apalpando o chão ao seu lado. Ela ainda abria os outros presentes, dos amigos e dos outros Weasley. Ignorando os olhares do sr. Weasley, fui até ela e me sentei ao seu lado.
Eram tantos presentes que a ajudei abri-los. Hugo acabou levando o violão para seu quarto e ficou lá durante um bom tempo depois que viu todos os seus presentes. A sra. Weasley disse alguma coisa para o sr. Weasley, mas eu não prestava atenção, só percebi logo depois que eles tinham se levantado e entrado na cozinha.
Rose se virou para mim, provavelmente percebendo que estávamos quase sozinhos.
– Você ganhou alguma coisa dos seus pais?
– Não, mas eu ganhei dos seus.
– O quê?
– Você.
Um riso saiu de sua voz e ela ficou corada. Mas quando eu levei a minha mão para acariciar seu rosto, sua expressão se contorceu numa seriedade nervosa. Talvez o coração dela estivesse mais acelerado que o meu.
Impossível.
– Às vezes seu pai tem razão por não permitir que você fique comigo – eu falei.
– Scorpius... – ela me repreendia toda vez que eu dava algum sinal de que não me achava bom o bastante para ela.
Mas não era isso. Eu achava que se outro cara estivesse daquela maneira, olhando para ela como se ela fosse única, não seria justo e nada certo. Eu achava que ninguém teria espaço no coração para possuir tanto sentimento por Rose, como eu tinha. Ninguém seria perfeito o bastante para isso. Mas eu sentia que todo o controle que Rose tinha sobre ela mesma se esvaziava totalmente quando eu ficava perto, quando eu a tocava. E era isso que me deixava cada vez mais convicto de que ela pertencia a mim, e eu a ela.
E apesar de todos os beijos, todas as aproximações, ainda seria muito difícil acostumar com aquela bomba dentro do peito, daquela sensação esquisita no estomago e daquele desejo incontestavelmente proibido de encontrar alguma felicidade quando sentia o gosto da boca dela na minha. E tudo isso parecia estranhamente duplicado naquele momento. Porque os pais de Rose estavam no outro lado da sala.
– É que – eu sorri – você perde tanto a sua respiração comigo que chega a ser perigoso, para falar a verdade.
– O estranho – ela sussurrou, ajeitando-se no chão para poder explicar – o estranho é que toda vez que eu perco o fôlego, sabe... mais viva eu me sinto. Então não é perigoso, chega até ser saudável.
– Como um veneno pode ser tão saudável? – eu questionei mais para mim mesmo do que para ela.
– Entenda, Scorpius – Rose suplicou – que o seu amor nunca foi e nunca vai ser um veneno. Só porque seu nome é escorpião não quer dizer que você realmente seja um.
– Mas o seu nome é rosa e você tem o perfume mais doce, como as rosas de verdade.
Ela ficou me olhando por uns três bons segundos.
– Só você enxerga isso – ela disse, aflita. – Rosas não são perfeitas, elas têm seus espinhos.
– Todo mundo tem espinhos. Não apenas rosas, mas...
– Scorpius – ela soltou outra risada, encostando sua testa na minha por um segundo. Parecia cansada. – Que acha você decidir apenas parar de se preocupar com isso, e ir ao que interessa?
– Seus pais estão ali na cozinha – eu cochichei, sem me conter –, não podemos ir ao que realmente interessa aqui. Maluca...
Causei outra risada nela. Aquilo me deixava tão satisfeito.
Mas, seriamente, eu não saberia se conseguiria me controlar se Rose continuasse ali na frente, e decidisse me beijar. Aquilo seria perigoso.
E Rose parecia estar pensando na mesma coisa, porque ela desviou sua atenção de mim, começando a procurar alguma coisa entre os embrulhos amassados dos presentes.
– O que você está...?
– Aqui. Olha. – Rose pegou um embrulho pequeno, e intacto. Ficou novamente de frente para mim, mais perto que antes. E me entregou um presente. – Feliz Natal, Scorpius.
– Eu não preciso de nada, Rose, eu-
– Por favor...
Então lá estava a medalha verde e luzente. Olhei para ela, esperando alguma explicação.
– É completamente ridículo o presente, tudo bem – lamentou Rose. – Eu mesmo fiz, usando um pouco de magia, como sempre. Mas... só para mostrar que, mesmo que você tenha perdido o jogo contra a Corvinal, ou até perdido os únicos amigos que achou que tinha, em meio a tudo isso, a tantas perdas, você conseguiu me conquistar. Eu me rendi completamente. Você venceu. Então... honra ao mérito.
Eu não acreditei que ela tinha pensado naquilo. Analisei a medalha e então descobri que havia algumas palavras gravadas nela: “Por me conquistar”
E eu só perguntei:
– Como pode dizer que as rosas não são perfeitas, Rose?
Ela colocou o cabelo atrás da orelha, sorrindo. Eu lhe dei um beijo e ela suspirou, movendo seus lábios inevitavelmente contra os meus.
– Agora é minha vez – eu disse, afastando-me gentilmente. Rose ficou me olhando. Peguei do bolso um embrulho, o presente que eu comprei a ela há algum tempo. – Feliz Natal...
– Scorpius – ela murmurou quando viu o colar. – Por q...
Aproximei calmamente perto do seu ouvido e envolvi o colar no pescoço dela, assim ela se calou. Enquanto o fechava, eu disse só para que ela escutasse:
– Isso é para você jamais esquecer desse Natal.
Porque, em nenhum momento da minha vida, eu esqueceria daquele... Principalmente porque, naquela noite de Natal, eu dormira no sofá de um porão. E a cada segundo que eu permanecia naquela casa sentia que eu estava traindo meu sangue, aos poucos. Mas, a cada segundo que eu permanecia naquela casa, meu coração acalmava, e meu desejo de conquistar a confiança da família Weasley aumentava. Aos poucos, mas aumentava. Simplesmente porque eu dependia deles para continuar tendo Rose o mais perto possível.
N/A: E aí pessoal!? O que acharam dessa vez? Quero avisar que me esforcei bastante para escrever esse capítulo, sério mesmo! E ficou grande também o_o HSAHAU Tem tantas coisas inexplicáveis aí no meio, que não foram vistas na observação de Scorpius com muita clareza, mas vou deixar que vocês tentem imaginar. Como, por exemplo... O que o Rony falou para Rose quando eles foram conversar? Por que de repente o Rony deixou os dois sozinhos na sala depois dos presentes? Por que ele resolveu não viajar pra Toca? E assim por diante... Razões para essas coisas o Scorpius não conhece, ele apenas vê acontecendo. Talvez, nos próximos capítulos, algumas explicações apareçam pelo caminho, veremos!
Pra finalizar, respostas aos comentários:
Larissa, você tem razão. Eu, como escritora da fic, fui a culpada. Realmente, Rose poderia ter usado a inteligência melhor! SAHIUASHUIAS Eu fiquei mais ansiosa que a própria Rose, loucura. ASHUASH Agora, o que se tem a fazer é rezar (de novo) pro Lucius nao descobrir nada, ok? aehueahauehae brigada pelo comeentSSS
camila silva martins, mto obrigada pelo comentário, e pelo elogio da narração. Confesso que também fico me cobrando mais diálogo!
Pollita, não aguentei, acabei postando antes de chegar aos 60 ¬¬' ahuahua será que a fic conquistaria suas amigas mesmo? *-* Mesmo assim, eu agradeço imensamente pela tentativa de espalhar sangue&veneno pra elas! Milvezesobrigada.
Claudiomir, bem que vc podia dar uma dica pro Scorpius conseguir acalmar o Rony! =D ahuahuaa
Natália, brigaaaaaaaaaada!
viviane cipriano, obrigada pelo seu comentário e elogio, espero que ainda continue acompanhando; é sempre bom saber as opiniões! Bjss
Leeh, MESMO COM 57 comentários, eu acabei postando. Olha como sou legal ahuahuaa =P E agora está aí o capítulo 18, espero que tenha curtido. Beijoss.
Até a próxima, galera. Bjs.
belac inkheart.
p.s desnecessário: se alguém tiver uma palavra que substitua o "obrigado" e o "agradeço", para não ficar mto repetitivo, fale por favor. Nesses últimos tempos, nunca agradeci tanto as pessoas e sempre é bom renovar vocabulários =)
Comentários (2)
OWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNN Q LINDOOOOOOOOOOOOOOOOSIMPLISMENTE P-E-R-F-E-I-T-O ESSE CAP. A-M-E-I *.* #MORRI A-M-E-I <3 <3 <3 MUITOOOOOOOOOO LINDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA *.* CHOREI AQUI :)ESSE RON EM?! NÃO DA TREGUA kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk'
2013-02-06Awwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwww *-* amei o capitulo. Não faço a minima ideia porque eles deixaram os dois sozinhos nem nada, só sei que o capitulo foi lindo.
2012-02-16