Idéias e Cartas



Cap. 17 – Idéias e Cartas


“...Não há um único bruxo ou bruxa no mundo cujo sangue não tenha se misturado ao de trouxas...”
Alvo Dumbledore, em um de seus comentários em Os Contos de Beedle, O Bardo

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Senti minhas entranhas arderem quando Rose me perguntou se eu gostaria de passar as férias com ela.

Aconteceu numa manhã uma semana antes do Natal. Já havia acabado os esforços inesgotáveis para preparar aquele time de Quadribol da melhor maneira possível para o próximo jogo, que seria depois das férias do Natal, e já havia acabado as preocupações escolares. Então passeávamos, juntos, sozinhos, pelas estradas de Hogsmead. Eu esperava por tudo, mas nada na minha cabeça pareceu me preparar para aquela pergunta, aquele convite.

Com cautela eu fiquei em silêncio, esperando que ela decifrasse aquela pausa. Eu estava pensando.

– Tudo bem – ela soltou a minha mão que segurava e ficou de frente para mim, parando abruptamente de andar. – Se você não quiser, eu vou entender. Mas você sabe...

Eu a beijei antes que entendesse outra coisa.

– Eu nunca negaria o tempo que você me oferece para ficar ao seu lado, nunca – eu respondi. – Mas seus pais estão preparados para terem consciência disso?

– Meus pais precisam entender uma hora – ela parecia desesperada. – Eu penso nisso dia e noite, noite e dia, eu não quero ficar longe nas férias, eu não vou me contentar com cartas agora.

– Mas...

– Scorpius, eu não quero obrigá-lo a isso, mas se os problemas são nossos pais nós vamos resolver isso. Eles precisam saber que estamos namorando, que eles perderão na tentativa de tentar nos separar. Eles precisam nos ver juntos, porque... – de repente falou baixinho: – eles precisam acreditar no que eu sinto por você, e que não é bobagem de adolescente nem nada.

Tudo indicava que Rose ficaria comigo para sempre se continuasse implorando daquele jeito para me ter em suas férias naquele ano.

– Indispensável, Rose – eu segurei seu rosto e ela me deu um beijo com seus lábios úmidos e quentes, tudo o que eu precisava para relaxar. – Indispensável. Eu não consigo dizer não para isso.

Eu senti um desespero novo naquele beijo, como se Rose tivesse medo de que eu não entendesse o que ela sentia quando introduziu sua língua na minha boca de uma maneira tão docemente que eu nunca achei que ela seria capaz antes. Diante de tanto frio, eu senti calor.

– Já entendi – eu envolvi todo meu braço ao redor de seu corpo assim que paramos, sem fôlego algum para respirar –, já entendi, não se preocupe. Você me terá em suas mãos.

No dia seguinte Rose entrou correndo na sala comunal da Sonserina, interrompendo o jogo de baralho que eu estava tendo com Alvo, e enfiou a carta de seu pai no meu rosto.

Ela estava bufando sem parar.

– Mandei uma carta falando sobre isso com meu pai, mas olha o que ele respondeu!

Peguei a carta de sua mão e li em voz alta na segunda vez:

Rose Jane Weasley,

Por um acaso eu falei grego? Ou russo? Ou alemão? Ou a língua dos elfos? Que parte do “não seja muito amigável com ele” você entendeu? Isso inclui evitar convidá-lo para passar as férias com nossa família, em minha casa!
Sem mais delongas,

Ronald Weasley, seu pai, seu protetor, seu herói... E DIGA ISSO AO SEU, o que vocês costumam chamar mesmo? Ah, NAMORADO!

Aqueles três pontos foram tão acalcados que até perfurou o papel.

– Ele nunca vai entender! – ela apontou, zangada. Alvo se levantou meio assustado, pois era muito difícil ver Rose daquele jeito.

– Vai dar certo, Rose – eu disse rapidamente. – Só... acho melhor vocês dois conversarem primeiro, pessoalmente.

– Ótimo! Meu pai realmente sabe botar insegurança em você – ironizou ela, dando as costas. – Em nós dois! Ótimo mesmo.

– Espere, espere – eu a abracei antes que saísse de lá com passos largos. Rose já estava começando a falar coisa sem sentido. – Não fique nervosa, Weasley. Estamos juntos, não estamos? Alvo se acostumou com isso, seu pai vai se acostumar também.

– Improvável – assobiou Alvo. Quando percebeu o olhar de Rose, ele olhou para o relógio. – Mas como o tempo passa! Bem – ele caminhou até a porta – vou para o corujal, vocês acabaram de me lembrar que eu estava esperando uma carta.

Duas horas mais tarde, numa tentativa de deixar Rose mais calma, eu a levei para o Três Vassouras. O irmão de Rose entrou lá enquanto tomávamos cerveja amanteigada. Ele, ofegante, parecia ter percorrido vários quilômetros. Carregava um pergaminho na mão direita e tirou a neve do cabelo.

– Acabei de receber uma carta da mamãe – disse, jogando no centro da mesa.

Rose olhou para Hugo, com esperança.

– Será que mudaram de idéia? – depois encarou Hugo com outra expressão, o garoto se encolheu. – Você leu?!

– Não, não! – apressou-se a dizer. – A mãe provavelmente colocou um feitiço aí, não consegui abrir o envelope de jeito algum.

Resposta errada, Hugo.

– Então você tentou abrir?!

Mas Hugo não hesitou ao dizer: – E daí? Eu estava curioso, ela usou a minha coruja, achei que era para mim.

– Tudo bem, tudo bem, pode nos dar licença agora? – perguntou, ansiosa.

Finalmente Hugo percebeu minha presença. Às vezes achava que ele tinha medo de mim, mas era impressão. Ele me encarou, só que nada disse.

Hugo foi o único que não ficara surpreso ao saber que alguém da sua família – justamente a própria irmã – estava namorando um Malfoy. E em pensar que eu já o salvei de um balaço no ano passado, nunca falei com ele na vida.

– Certo. Tchau.

Assim que Hugo saiu, Rose pegou a varinha e conjurou um feitiço. O envelope da carta de sua mãe abriu e ela começou a ler para si mesma.

Tomando a cerveja, eu a observava. Ocorreu um momento em que ela soltou uma risada em meio à aflição. Depois encostou o cotovelo na mesa, segurando a carta com a mão direita, e a outra arrastara seu cabelo para trás, para tirar a franja que a incomodava nos olhos, sem desviar a atenção para a carta. Deu um suspiro e franziu a testa. Olhou para mim como se estivesse conferindo se eu ainda estava ali.

– Você não vai acreditar – ela falou baixinho. – Minha mãe... ah, leia.

Rose me passou a carta, arrastando-a na mesa. A peguei com cuidado, então absorvei as linhas preenchidas com a letra da sra. Weasley. Eram parecidas com a de Rose, dava detalhes ao pingo do “i”.

Eis o que escrevera:

Querida,

Conhecendo perfeitamente seu pai, percebi que havia alguma coisa o incomodando. Meu aborrecimento aumentou tanto quando descobri que ele tinha escondido sua carta, que fiquei o dia inteiro tentando procurá-la (e nem jantei só para ele ficar ressentido, mas não adiantou nada pois me ignorou durante horas). Assim que encontrei a carta, e a li e refleti sobre tudo o que você escreveu, entendi porque Ronald tinha guardado-a no baú velho e mofado atrás de um sofá do porão de casa. Como já conversamos sobre seu relacionamento com Scorpius Malfoy e o modo paciente e compreensivo como reagi diante das suas afirmações sobre esse rapaz, ele provavelmente achou que eu aceitaria essa idéia de tê-lo em nossas férias no Natal. Ele provavelmente ficou com medo de que eu o impedisse de dizer não. Porque, como sabemos, Ronald Weasley precisa de muitos argumentos e outras demonstrações que comprovem que as intenções do seu namorado são nada além de boas. Porém, eu, como tenho o direito de opinar mais sobre esse namoro do que seu pai (e sou racionalmente ética e recuso qualquer tipo de agressão aos namorados da minha filha, independente se são Malfoys ou herdeiros de qualquer outra família cujo pai e avós tenham se aliado a Lord Voldemort no passado), sugiro que tenhamos, todos juntos, uma conversa produtiva e civilizada assim que chegarmos em casa, em Londres. Como ainda não sei se os pais de Scorpius vão aceitar isso, o que tenho para dizer é que estarei, em todo o caso, esperando pela presença dele na Estação King’s Cross ao seu lado. Não posso dizer como seu pai ficará, Rosie, mas... eu darei um jeito se ele perder o controle, o que duvido que faça isso na minha presença quando estou realmente zangada com ele. Gostaria de acrescentar que não acho tão ruim o fato de conhecer Scorpius, pois só de saber que conseguiu conquistar minha princesinha dessa maneira, minhas opiniões desse rapaz apenas serão boas por inteiro se você me disser que ele já chegou a ler Hogwarts, uma História. Só isso.

Carinhosamente,

Mamãe.

A carta da mãe de Rose transformou minhas últimas noites em longas noites, pois, deitado na cama do dormitório, com os olhos abertos na escuridão, eu tentava imaginar o que deveria fazer para que ela não duvidasse de mim assim que me conhecesse. Mas eu agi com maturidade o suficiente para aceitar sugestão, e consegui com êxito esconder minhas preocupações diante de Rose, para ela ficar calma e segura quanto a isso. Eu teria que conversar com os pais de Rose para conseguir ficar ao lado dela nas férias, teria que aceitar esse desafio mesmo que parecesse impossível. E esse desejo de conquistar os pais delas, fazê-los acreditarem que eu era diferente daquele Draco Malfoy que eles tinham em mente, virou um dos meus maiores princípios.

Porque, quando nos encontramos finalmente com os Weasley na Estação King’s Cross, eu descobri que, mesmo fazendo magia ou qualquer outra coisa, ninguém conseguiria tirar da cabeça de Ronald Weasley que eu era um sangue-puro, um Malfoy, filho e neto de ex-comensais da morte, e que Rose não deveria ter sido amigável comigo.

A sra. Weasley me cumprimentou primeiro, um pouco séria demais, mas sem deixar de transparecer a educação e simpatia, o que me ajudou a tratá-la igualmente. O sr. Weasley, no entanto, quando viu Rose saindo do trem com suas malas, ele passou por mim como se eu fosse uma barata morta no chão, e abraçou a filha tão apertado e exageradamente que os dois chegaram a bambear. Ele falava o quanto sentira falta dela, e Rose dava tapinhas nas costas largas dele.

– Pelo amor de Deus, Ronald – exclamou a sra. Weasley. – Você está atrapalhando a passagem dos outros alunos.

Ele se separou de Rose assim que Hugo também apareceu, e o garoto pareceu ter recebido um abraço mais forte, pois tossira sufocado. A sra. Weasley e Rose se abraçaram perto de mim e eu reparei o quanto elas eram parecidas, exceto pela cor do cabelo. Tinham até a mesma altura.

Para que o pai de Rose olhasse para mim – o que, estranhamente, eu estava esperando bastante por isso – ele teve de abraçar Alvo e Lily antes, e cumprimentar animado todos os outros alunos que o conheciam. Rose olhou para mim e ia dizer alguma coisa quando seu pai se aproximou, calando-a rapidamente.

– Então, você parece mesmo com o Draco – ele disse, examinando-me como se suspeitasse de alguma coisa. – Ninguém seria incapaz de negar a sua identidade. Ahn... – ele olhou para sua mulher e voltou os olhos para mim – seus pais estão cientes dessa maluquice?

– Eles permitiram que eu tomasse uma decisão – respondi da forma mais relaxada que pude, mas ele tinha uma expressão cujo olhar parecia uma luz ofuscante que, caso eu dissesse uma mentira ou respondesse incorretamente, poderia me queimar.

– Decidiu se misturar aos traidores, eh?

– Pai... – Rose reclamou baixinho.

– Nós temos um problema, devo constatar – disse Ronald pegando as malas de Hugo. Percebi, logo depois, que os pais de Alvo estavam ali pertos, estupefatos. – Terá que passar por alguns sacrifícios, já que não temos quarto para hospedá-lo.

– Ele pode dormir na sala – comentou a sra. Weasley. As orelhas do sr. Weasley ficaram vermelhas de repente.

– Nada disso. O porão está abandonado, talvez você se divirta com as ratoeiras de lá, Malfoy. – Ele lançou um olhar a sua mulher e ela ficou calada, abanando a cabeça como se fosse loucura.

E era, mas eu não estava me importando com as ratoeiras.

– Scorpius Malfoy – uma voz me chamou. Eu já vira Harry Potter várias vezes quando acompanhava meus pais ao Ministério, aos doze anos. Eu me virei para vê-lo e sua mão estava estendida, logo a apertei. Havia uma expressão nele, que eu não conseguia decifrar, que me dizia que aquele homem não seria capaz de me desprezar tanto quanto o pai de Rose. – Realmente impossível não reconhecer.

– Então, está aí uma novidade! – comentou a sra. Potter, do nosso lado. Ela se virou para Rose e disse alguma coisa para ela que a fez rir.

O sr. Weasley se revoltou, zangado.

– Solenidades para últimos casos, por favor! Nos veremos no Natal, Harry. Tchau, Gina. Vamos logo, Hermione. Hugo, carregue sozinho suas malas!

Olhei para as malas que Rose estava carregando. Eu pensei que, se me ouvissem perguntando se ela gostaria que eu carregasse por ela, eles achariam que eu estava me mostrando e achariam que era tudo uma maneira típica e grotesca de conquistá-lo. Eu não queria que eles pensassem naquilo por enquanto, e não era isso o que eu queria fazer. Só que, por outro lado, a mãe de Rose acharia meu cavalheirismo abaixo de zero. Mas quem se importava com cavalheirismo no século em que estávamos?

Lembrei que, todas as vezes que me oferecia para carregar os livros de Rose, ela simplesmente negava e alegava que ela não era suficientemente fraca e tão quebrável para ser incapaz de carregar livros no colo sem ajuda.

– Algum problema? – a sra. Weasley perguntou, percebendo a minha demora.

– Nenhum. – A família Potter já tinha desaparecido, e o sr. Weasley e Hugo já estavam adiantados. Rose segurou meu braço quando a mãe deu as costas e seguiu a família para o carro ali no estacionamento.

– Scorpius, meu pai geralmente não é assim.

– Tudo bem, eu não esperava que ele me oferecesse chocolate ou bolo e perguntasse como vai a minha vida. Eu sou um Malfoy, esqueceu?

Ela não disse nada, segurou com firmezas as malas e foi até a carro. Esses negócios de trouxas... meu avô me mataria se soubesse que eu estava me envolvendo com aquilo. E iria me esquartejar com gosto se soubesse que eu ia passar as férias numa cidade trouxa, de costumes trouxas, tudo trouxa, com a família Weasley, tão traidores de sangue quanto nós éramos sangue puros. E, com certeza, fritaria meus ossos assim que tivesse consciência de que eu estava passando por aquilo só para ficar ao lado da filha deles.

Mas eu só estava preocupado com o pai de Rose e o que ele seria capaz de fazer comigo caso eu fizesse alguma besteira.

As malas já estavam no porta-mala. Hugo entrou no carro, e Rose o acompanhou. Eu fui o último a entrar, mas o sr. Weasley depois perguntou antes que eu me sentasse:

– Não vai se arrepender da sua decisão?

– Não, senhor.

– Nem que tenha que dormir com ratoeiras por aí?

– Não.


– Bom, e você acha que...

– Deixamos isso para depois, Rony – falou a sra. Weasley, interrompendo-o numa voz calma assim que também percebeu a expressão de Rose. – Assim que estivermos em casa.

– Está bem – ele ligou o carro e o rádio.

Hugo cruzou os braços.

– Isso vai ser muito estranho.

E a viagem até a casa de Rose foi apenas abafada pelas melodias das músicas que tocavam no rádio.

***

N/A: E aí gente?! O que acharam?  Não esqueçam de comentar, preciso muito ser motivada a continuar, sigam o exemplo dessas pessoas: Larissa, Pollita, Jamii Altheman, Leeh, Brenda, Claudiomir, Ana Te, que comentaram ao longo da fic, e agradeço como sempre por isso! →  Infelizmente para aqueles que esperavam, não vou dar muita ênfase ao Quadribol nos próximos capítulos, vocês vão entender por quê.

Meus sinceros e unânimes agradecimentos!

Belac

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Comentários (2)

  • Mariana Berlese Rodrigues

    SIMPLISMENTE P-E-R-F-E-I-T-O ESSE CAP. A-M-E-I *.* #MORRI  A-M-E-I <3 <3 <3  MUITOOOOOOOOOO LINDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA *.* CHOREI AQUI :)ELE É REALMENTE LOUCO POR ELA E O RON TAH PERCEBENDO ISSO kkkkkkkkkkkkkkkk'MTO LINDOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO O SCORPIUS :) 

    2013-02-06
  • Lana Silva

    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK Eu tive que rir com esse capitulo. Scorpius vai sofrer coitado...Quer dizer se depender de Hermione não mas...Rony não vai dar treguas.

    2012-02-16
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