Inevitável



“Purifica teu coração antes de permitir que o amor se assente nele, já que o mel mais doce azeda num copo sujo.” Pitágoras.



Devia haver alguma verdade nas afirmações das pessoas ao constatarem que tudo acontece em Hogsmead. De fato, eu não tinha tanta certeza se deveria acreditar nisso, portanto segui meu caminho ao lado de Travis para as extremidades da aldeia sem esperar que alguma coisa acontecesse por lá.

Estava nevando fracamente e, no entanto, a neve que se acumulara nas noites de nevascas tomava conta de todo o caminho, e foi preciso bastante esforço para conseguir caminhar com o volume de neve até os joelhos.

Mal prestei atenção no que Travis dizia, da maneira que o vento uivava em nossos ouvidos e como eu perdia na tentativa de me concentrar arduamente na conversa dele e caminhar sem quase cair de rosto do chão. Por fim, encontramos a loja favorita de Travis, a Dedos de Mel.

– Não acho uma boa idéia entrarmos lá – comentei enquanto via, através da vitrine, Weasley e sua prima Potter. Travis seguiu meu olhar e bateu palma.

– Se for ela o problema, caro Scorpius, terei de suspeitar que esteja com medo.

O problema, evidentemente, era outro. Eu fazia de tudo para tentar evitá-la, e todos os meus olhares de desprezo para tirá-la do meu caminho não funcionavam. Ela sempre estava na visão mais ampla que podia alcançar, por mais que também tentasse fugir de mim.

E isso me irritava. Porque tudo parecia inevitável.

– Prefiro esperar aqui fora e morrer de frio do que entrar na loja e ferir o meu orgulho.

Zabini me olhou, cético, mas depois não disse mais nada. Eu me virei para sentar numa bancada de tijolos cobertos pela neve e esperar meu amigo comprar os doces. Logo o tempo ia passando, imaginei que uma hora ou outra teríamos que nos ver, pois ela e sua prima sairiam da loja.

Foi o que aconteceu no minuto em que pensei na suposição. Ela acabou que me vindo e desviou o olhar rapidamente como se minha figura fosse uma luz ofuscante. De repente uma bola de neve a atingiu em cheio e ela se virou, assustada.

– Hugo! – gritou ao ver o irmão segurando um montinho de bolas de neve e rindo desgraçadamente. Assim que se virou de novo, um colega do Weasleyzinho atirou outra bola de neve na cabeça dela, fazendo-a perder a paciência.

– Vocês acordarão sem cabelo amanhã se continuarem com isso!

– Esse não é o espírito do Natal – comentou o irmão, rindo.

Ela fungou e, com passos pesados, começou a caminhar sem esperar que sua prima a alcançasse. Nunca tinha reparado na Weasley zangada, mau-humorada com os outros. Só comigo. De qualquer modo, lamento ter sentido decepção por não ser mais o único alvo de sua fúria. Considerava que a expressão zangada e irritada dela era uma exclusividade minha, que só eu recebia.

– Está de mau humor hoje, Weasley!

Disse aquilo por pura inveja. Eu queria vê-la zangada comigo. É um sentimento estranho, na realidade. Mas meu desejo não foi concebido. Ela tinha percebido a provocação propositada.

Weasley é sensata demais a ponto de pensar nas razões que me levam a atormentá-la. E, se não encontra nenhuma, ignora-me simplesmente. Lamento, também, dizer que reparo em tudo o que faz. Até hoje nunca se rebaixou a mim, nunca acreditou em propósitos, e sim em fatos. Até hoje ela nunca mostrou fragilidade – talvez o medo de aranhas – mas eram essas pequenas coisas que a tornavam humana, entre tanta cautela, bom senso e perfeição.

Para ela eu era um desprezível, detestável e egocêntrico – insignificante. Enquanto para mim ela era como uma estrela entre todas outras do céu – desculpe o modo clichê das palavras, mas essa é a única maneira de entender – a qual bastou ousadia para olhar nos meus olhos ciente das conseqüências, para que se tornasse única e diferente.

Fui incapaz de conter tal pecado dos meus desejos – ou o que se tornara depois, necessidade – de me tornar significante em algum aspecto para ela. Sendo assim, cansado, mas decidido, levantei-me e caminhei em direção ao seu mesmo caminho. Eu não esperava que a Potterzinha a deixasse sozinha tão cedo, mas quando as duas postaram-se à frente da porta da Zonko’s, um rapaz alto e moreno chamou as meninas para se juntarem a ele. Weasley recusou; contudo sua prima adiantou-se até o rapaz, deixando-a completamente só.

Quando me viu aproximando pareceu que ia fazer um escândalo, mas só girou os olhos e perguntou cansada:

– O que você quer?

– Quanta grosseria, Weasley. Se eu fosse você com certeza teria mais modos comigo.

Cruzando os braços e olhando para um grupo de pessoas ao nosso lado, ela bufou. Pensativa, era como ela estava naquele instante. Tão entretida em um pensamento que tive curiosidade de conhecê-lo.

– O que você quer? – perguntou de forma educada, embora fosse evidente que estava sendo sarcástica.

Fiz a única coisa que apareceu na minha cabeça: dar de ombros.

– Então queira sair da minha frente. Tenho coisas mais importantes do que esperar você se decidir – respondeu com tanta frieza que fiquei impressionado.

Assim que continuei parado, olhando surpreso para ela, Weasley deu as costas para mim. No entanto, coloquei as mãos no bolso enquanto a seguia.

– Não vai escapar de mim tão facilmente – garanti a ela.

Sem se virar, ela continuou andando mais apressada. Fez um sinal de indiferença com a cabeça em relação a minha pergunta. Como que dissesse “não há outra escolha, mesmo”.

– Tenho uma dúvida – disse a ela. – Por que recusou aquele convite?

– Não recusei.

– Sim, recusou. Eu estava observando você.

– Diga uma coisa que eu não saiba, Malfoy.

Ao ouvir aquilo, eu trotei de modo que pudesse olhar pelo menos o seu perfil. Quando fiz isso, meu rosto colidiu com um poste e eu senti uma pancada na cabeça, que começou a latejar.

Weasley só continuou andando, enquanto eu massageava a testa.

– Isso foi ridículo – ela disse quando a alcancei. Imaginei que ela fosse rir, gargalhar, porém seu rosto se contraía em seriedade.

Às vezes eu me perguntava quando a Weasley sorria.

– Venha – eu ordenei, pegando com firmeza o braço dela.

Nunca tinha feito aquilo e isso não passou despercebido por nenhum de nós. A garota tentou arrancar minha mão, suplicando para que eu a soltasse. Enquanto ela se distraia nas tentativas, acabei levando-a para o Três Vassouras, onde abri com violência a porta e forcei para que se sentasse na primeira mesa vazia que avistei.

– O que diabos pensa que está fazendo?! – gritou, mas depois tampou a boca como se quisesse abafar a voz.

– Tarde demais, todos ouviram! – eu sorri com satisfação, enquanto arrastava uma cadeira para sentar a sua frente.

Ela me encarava, fervendo de raiva. Foi uma sensação agradável vê-la fazendo o que mais me divertia.

– Comporte-se, Weasley – eu disse. Ela se levantou bruscamente, mas eu me debrucei para segurar o braço dela outra vez e impedi-la que fizesse isso. Ainda acrescentei: – Sei como detesta quando seguro o seu braço, então se realmente quer evitar que isso aconteça outra vez, fique aqui para tomar uma cerveja amanteigada comigo.

– Solte. O. Meu. Braço – sibilou.

– Diga que vai ficar aqui.

– Solte o...

– Diga, ou quebrarei seu braço.

Ela riu. Um riso totalmente falso e desdenhoso. Não foi agradável ouvi-lo.

– Não é por ameaça que conseguirá o quer, Malfoy – ela me garantiu.

– Por muitas vezes, é assim que consigo.

– Desista desta vez, pois as coisas não funcionam comigo da maneira que imagina.

– Ora, então como funcionam as coisas para você? – Eu estava ficando furioso que mal consegui apreciar o rubor da face dela.

Ela fez um movimento rápido com o braço, desvencilhando-os de minhas mãos e se afastou de mim. Com os dentes cerrados ela disse:

– Se não sabe, não sou eu que vou lhe dizer. Descubra sozinho!

Irritado, comecei a xingar em pensamentos. Descobri que ela não tinha nem idéia, nenhuma idéia do que conseguia fazer comigo. Por isso e por outros milhares de motivos eu tentava evitá-la, mas quando ela aparecia no meu caminho era, de fato, inevitável conseguir tal proeza.

Ela saiu, fechando a porta com estrondo no final. Passado alguns segundos, Zabini me encontrou. Ele vinha apressado até mim, e estava surpreso.

– Você estava com a Weasley? – perguntou e eu assenti. – Foi o que imaginei. Não parecia muito contente quando saiu daqui. Sinceramente, Scorpius, por mais que tente nunca vai se dar bem com essa garota.

Ele socou meu ombro como se quisesse me acordar para a realidade.

– E o Natal só é amanhã para quem espera por um milagre.

– Não estou esperando milagre algum – retruquei.

Pois eu ia conseguir o que queria. Por mais que isso ferisse meu orgulho mais do que já estava ferido, a Weasley ofereceu-me um desafio e eu não podia negá-lo, de modo algum.




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Comentários (3)

  • Mariana Berlese Rodrigues

    SIMPLISMENTE P-E-R-F-E-I-T-O ESSE CAP. A-M-E-I *.*#MORRI A-M-E-I <3 <3 <3 MUITOOOOOOOOOO LINDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA *.*CHOREI AQUI :)ESSA ROSE EM?! DIFICIL É POUCO PRA ELE kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk' 

    2013-02-05
  • Lana Silva

    Nossa a narração dele é perfeita *-* O jeito com que ele fala dela. Acho que a Rose já sente algo por ele tanto que quer que ele descubra e agora ele deve ficar mais tentado ainda a descobrir!

    2012-02-15
  • Keriane

    Eu já falei que adoro o Scorpius?Pois é,eu adoro o Scorpius^^ O jeito que você narra como se fosse ele,é muito perfeito e a parte em que ele sente inveja do irmão dela por ela está irritada com ele,é incrível.Afinal,ele só quer a atenção dela e isso é tãaao lindo.Achei perfeito e volto a dizer que você escreve muito bem. Indo para os próximos capítulos*-*

    2011-09-06
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